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 Grande capacidade de articular conceitos e uma escrita bastante clara, ainda que em

certos momentos razoavelmente prolixa

 Excelente apanhado teórico-metodológico, arcabouço teórico muito sólido. Domínio


bastante consciente dos elementos que conformam o texto literário, com ótima
interpolação entre escolha do autor e realização na leitura, construção da narrativa,
uso da linguagem, todo o andamento do texto ficcional e o jogo do real com o
fantástico

 Boa apresentação do conceito de “numinoso” na esteira do intangível, do não


completamente experienciável, que não pode ser subjetivado, do incognoscível. E, em
grande medida, apesar dos símbolos e analogias, também incomunicável.

 Um detalhamento do conceito que acaba por adiar o encontro com o texto literário,
conduzindo o trabalho, por um tempo considerável, mais à pesquisa teológica que
prontamente literária.

 P. 13 “possam traduzir da melhor forma possível o que sejam os aspectos


irracionais do numinoso e, ao mesmo tempo, sem enveredar pelo caminho da
racionalização total deste numinoso, haja vista que por ser algo desconhecido,
não é passível de ser conceituado completamente”. Também em relação à arte,
à literatura, não é possível abordar nunca completamente, nunca finalmente.
Há sempre algo impassível de racionalização, algo inabordável que segue
pulsando e, portanto, vivendo ali.

 P. 13: “Portanto, ainda que de forma panorâmica, entender cada uma dessas
características se faz premente para que se possa vislumbrar como a narrativa
fantástica é sustentada pelo numinoso no conto “Natal na barca”, de Lygia
Fagundes Telles e, para tanto, faz-se necessário seguir a trilha dos aspectos
racionais que Otto nos apresenta ao longo de sua principal obra.”. É sempre
preciso cuidar para que a teoria não se sobreponha ao objeto artístico. Da
maneira como está colocado, parece que a única maneira possível de ler e
entender e experimentar este conto é a partir da chave do numinoso,
especificamente o sustentando por Rudolf Otto

 P. 21: “o fantástico é percebido então como um lugar de incerteza em que se


fronteiriça o estranho e o maravilhoso”. Essa definição é muito boa por não
estabelecer uma dicotomia, mas um amálgama entre conceitos díspares, coisa
muita comum no âmbito artístico, a convergência de contrários.

 P. 22: essa “vacilação” do próprio texto literário, que instabiliza o leitor em sua leitura,
é algo também bastante característico dos objetos de arte em geral, que tiram o
espectador do seu lugar de segurança e de certezas. É interessante notar que, no texto
de literatura fantástica, essa característica, embora facultativa, em geral é destacada,
causando uma dificuldade de definição última para a trama.
 P. 23 – a ameaça à realidade trazida por Roas também me parece um efeito bastante
característico da arte em geral, porém ressaltado pela literatura fantástica: esse
questionamento que leva a certa insegurança sobre aquilo que se tinha como lei e real.
Ameaça à realidade do real.

 P. 24: “Portanto, a literatura seria esse lugar em que o desconhecido - batizado


por Goethe de demoníaco - poderia repousar e ser aceito como um dado
factual da vida, ainda que inalcançável pela compreensão humana”. Aqui você
chega a afirmar isso, a partir de Goethe

 A partir da metade do trabalho você começa a tratar mais frontalmente o conto. No


entanto, ainda acho que a entrada em suas questões parece um pouco tímida, você
segue trazendo aportes teóricos e se dedicando a eles de maneira mais ampla que ao
próprio texto literário em si

 Muito bem demarcada a situação vacilante do conto, que reitera a ideia de


indecidibilidade que esse conto carrega, em que nem a personagem-narradora, nem o
leitor, têm certeza sobre as coisas que são contadas, nessa partilha da incerteza

 Interessante leitura do título com a dualidade – eu diria, mais que dicotomia, já que o
conto amalgama os dois e, como já apontado, torna indecidível e, na verdade,
impossível a existência de um sem o outro – nascimento e morte.

 Interessante, também, o encadeamento entre experiência sobrenatural e experiência


sagrada, que você constrói ao longo de todo o seu texto

 É preciso ter cuidado para não circunscrever um texto literário a uma decantação
última, a uma expressão de qualquer quadro fenomenológico ou simbólico, como se as
palavras empregadas ali, no conto, fossem redutíveis a certas enunciações estanques

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