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(1)Thayná Alexandre Eloy Lins; (2)Maylla Fernanda Araújo Ferreira; (3)Wagner Dmitry Gueiros
Cavalcante; (4)Renan Gustavo Pacheco Soares; (5)Romilde Almeida de Oliveira; (6)Arnaldo
Manoel Pereira Carneiro.
Resumo
Prazos curtos, inobservância normativa, materiais de baixa qualidade, fiscalização ineficaz e processo
executivo inadequado são alguns dos fatores que contribuem para o surgimento e propagação de
problemas patológicos em edificações de programas habitacionais. Como consequência, o desempenho em
serviço e vida útil das edificações são comprometidas. O presente artigo tratou da análise de quatro
edificações residenciais unifamiliares de programas habitacionais, objetivando a caracterização das
patologias, bem como propor soluções para cada problema. A inspeção predial realizada se enquadrou no
Nível 1, com a identificação das anomalias e falhas aparentes. Também foi adotado o critério de análise de
riscos e o sistema de ordem de prioridades das falhas (IBAPE, 2012). Os resultados encontrados
destacaram que em 100% das edificações, as fissuras em alvenaria e afundamento de piso estiveram
presentes. Problemas na instalação elétrica, degradação do revestimento e mofo foram identificados em
75% dos casos. Em elementos estruturais e instalações hidrossanitárias, 50% e 75%, respectivamente.
Destaca-se que algumas das patologias são de ordem contínua, visto que a concepção adotada, aliada a
vícios construtivos, fragilizaram as edificações, selando a necessidade de reparos corretivos contínuos.
Abstract
Short deadlines, lack of compliance, poor quality materials, ineffective supervision and inadequate executive
process are some of the factors that contribute to the emergence and spread of pathological problems in
housing program buildings. As a result, the in-service performance, shelf life of buildings are compromised.
The present article dealt with the analysis of four single-family residential buildings of housing programs,
aiming to characterize the pathologies and propose solutions for each problem. The building inspection was
carried out at Level 1, with the identification of anomalies and apparent faults. We also adopted the risk
analysis criterion and the system of order of priority of the failures (IBAPE, 2012). The results found that in
100% of the buildings, the cracks in masonry and floor sinking were present. Problems in electrical
installation, coating degradation and mold were identified in 75% of cases. In structural elements and
hydrosanitary installations, 50% and 75%, respectively. It should be noted that some of the pathologies are
of a continuous nature, since the adopted design, coupled with constructive vices, weakened the buildings,
sealing the need for continuous corrective repairs.
2 Patologias
Juntamente com a modernidade que a Construção Civil obteve nos métodos construtivos,
é visto que o índice das patologias nas edificações cresceu. Isso ocorre devido o fato de
atualmente buscarem uma rápida execução e uma maior economia, o que pode interferir
na qualidade do material a ser utilizado como também a redução da segurança que tal
estrutura necessitaria ter. Com isso, o menor erro durante a execução será gerado
diversas patologias na edificação (SOUZA, 2008).
HELENE (2003) afirma que as manifestações patológicas não acontecem sem motivo,
geralmente estão ligadas a algum erro cometido nas fases de concepção do
empreendimento, sendo importante o conhecimento da origem do problema e também o
histórico de construção para que se possa apontar de onde veio o problema.
VIEIRA (2016) diz que a identificação das patologias é o primeiro passo e principal passo
para se obter um tratamento adequado para o problema, pois com isso se consegue obter
um método corretivo ideal para cada tipo de manifestação patológica, onde será levado
em consideração a sua funcionalidade na estrutura e assim servido de base para peritos
determinarem nos laudos técnicos os possíveis culpados pelo aparecimento das
patologias. PROPSTER (1981 apud Vieria, 2016) apresentou uma tabela onde mostra o
comparativo de países europeus, mais desenvolvidos que o Brasil, que mostra onde estão
as principais causas das patologias.
Tabela 1 – Incidências de problemas segmentadas conforme a origem principal, em pesquisa desenvolvida
em países europeus.
Fase Alemanha Bélgica Dinamarca Romênia
Projeto 40,1% 49,0% 36,6% 34,0%
Materiais 29,3% 22,0% 22,2% 24,2%
Execução 14,5% 15,0% 25,0% 21,6%
Uso 9,0% 9,0% 8,7% 12,2%
Outro 7,1% 5,0% 7,5% 8,0%
A fase de concepção dos projetos, como apontado em vários estudos, é de onde deriva a
maior porcentagem de falhas que causam as patologias nas edificações, sendo assim é
de extrema importância que sejam seguidos os critérios citados nas normas, como na
NBR 6118 (ABNT, 2014), que mostra alguns cuidados na hora de se projetar.
OLIVEIRA (2013) diz que na etapa de projeto são determinadas soluções que tem grande
impacto em toda a sequência da obra e na qualidade final do produto que será entregue
ao cliente, pois é nessa parte que se define os detalhes construtivos e especificações que
vão facilitar ou não o processo construtivo e também que vão afetar nos custos de
produção. SOUZA e RIPPER (1998) elencam alguns problemas que podem acarretar com
o surgimento de patologias na edificação devido aos erros de projetos, são eles:
A compatibilização de projetos é uma das coisas que mais vem sendo discutidas e cada
vez mais sendo obrigatória em todas as formas de construção, pois com a
compatibilização, se consegue identificar os possíveis problemas que possam ocorrer
antes mesmo de estar em fase de execução, fazendo com que se otimize o tempo e
reduzam-se os custos de possíveis reparos.
SOUZA e RIPPER (1998) dizem que os 3 primeiros apontamentos acima são de fácil
identificação, mas no caso de instalações elétricas e hidráulicas, é difícil identificar os
problemas, onde só serão constatados depois de algum tempo de uso. Também, não se
pode deixar de lado a reponsabilidade de quem está gerenciando toda essa etapa de
execução, pois cabe ao responsável fiscalizar e orientar sobre os processos que devem
ser feitos, afim de que seja feito de maneira correta para não haver problemas futuros.
De acordo com VIEIRA (2016), a falta um conhecimento preciso do que vai ser
executado, pode contribuir para o surgimento de diferentes tipos de patologias. Diante
disso, o construtor não pode se descuidar sobre os métodos de execução e o sobre o
controle contínuo de todas as operações envolvidas.
De acordo com MOLIN (1988), as manifestações patológicas que surgem durante o uso
da edificação, normalmente são decorrentes do mau uso e da falta de manutenção da
edificação, mas não pode eximir de culpa os empreendedores e os responsáveis técnicos
pela estrutura, pois na maioria das vezes não é fornecido um manual técnico com
recomendações de uso. PIANCASTELLI (2005 apud PINA, 2013) cita alguns problemas
derivados da má utilização do usuário:
a) Fissuras: De acordo com MOLIN (1988), a fissura é uma das patologias mais
antigas da construção civil, a qual pode ocorrer a longo, médio ou curto prazo. A
fissuração está diretamente ligada ao baixo nível do controle de qualidade nas
etapas do processo da construção civil.
b) Corrosão de armaduras: Entre as formas de degradação da estrutura, a corrosão
de armaduras é a mais comum. A qual compromete não só a estética do elemento
estrutural, como também sua estabilidade e a segurança que o mesmo deve
oferecer. A corrosão de armadura pode ocorrer devido a falta de espaçadores e
também pela alta porosidade do concreto (DÓREA et al, 2010).
c) Eflorescência: De acordo com SOUZA (2008), a eflorescência ocorre em qualquer
elemento da edificação, a qual pode trazer prejuízos meramente estéticos como
também pode degradar a estrutura. De forma simples, a eflorescência consiste no
armazenamento salino, na presença de água na estrutura e na pressão
hidrostática.
d) Bolor: Bastante comum em regiões tropicais, o bolor é uma patologia causada por
a existência de umidade. O bolor traz alterações na superfície, levando-a a
necessidade de reparo ou até mesmo de refazer o revestimento do local afetado
(SOUZA, 2008).
3 Materiais e métodos
O presente estudo de caso atendeu todos os requisitos necessários e exigidos pela
norma de Inspeção Predial Nacional (IBAPE, 2012), pelas recomendações do OT-
003:2015 do Instituto Brasileiro de Auditoria de Engenharia (IBRAENG, 2015) e pela NBR
13752 (ABNT, 1996). Todos os dados foram condicionados à abrangência das
investigações, confiabilidade e adequação das informações obtidas quanto à qualidade
das análises técnicas, sendo a inspeção predial realizada enquadrada no Nível 1
(Identificação das anomalias e falhas aparentes, elaborada por profissional habilitado), de
acordo com a norma de Inspeção Predial Nacional do IBAPE.
Seguindo às sugestões das normas citadas acima, foram visitadas quatro edificações
residenciais, que não tem muitos anos de comercializadas. As edificações foram
construídas por quatro construtoras diferentes (A, B, C e D). As visitas aos locais tiveram
como intuito fazer uma investigação sobre as patologias existentes e fazer registros
fotográficos, assim como entrevista com os moradores, para ter uma maior quantidade de
informações. Esses registros fotográficos foram estudados e comparados com a literatura
existente e constatadas as causas e possíveis soluções para os problemas. Também foi
feito o levantamento de dados das patologias que mais estiveram presentes nas
edificações investigadas.
ANAIS DO 60º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2018 – 60CBC2018 6
A determinação das origens das anomalias construtivas foi orientada por uma sequência
lógica de vistoria, exames, análises e interpretações, cuja ordem foi a seguinte: Inspeção
dos imóveis; Verificação das condições naturais e meio ambiente local; Verificação das
atividades de conservação e manutenção, bem como a análise da documentação técnica
correspondente; Exame das edificações vizinhas aos imóveis; Interpretação de todos os
dados técnicos apurados, para então se expender a conclusão indicativa das origens das
anomalias em geral.
Para a análise das anomalias e falhas detectadas na inspeção predial, foi adotado o
critério da Análise de Risco, que tem por finalidade o estudo das detecções,
vulnerabilidades, impactos, ameaças, contingências e ações fundamentais para garantia
da condição essencial de habitação. Com esse critério, a administração dos riscos é
realizada com a detecção dos pontos que possibilitam a redução, transferência ou
eliminação dos riscos, por meio de ações e estratégicas econômicas e viáveis.
As falhas foram classificadas de acordo com o GUT (gravidade, urgência e tendência).
Esta classificação permite que se possa priorizar os problemas que forem encontrados e
assim analisados e resolvidos (SOTILLE, 2014).
Para COLENGHI (2007), quando uma falha construtiva é classificada quanto a sua
gravidade ela deve considerar o grau desta, que pode ser: total, alta, média, baixa ou
nenhuma. Cada grau possui um peso, respectivamente 10, 8, 6, 3 e 1. Se considerada
total, significa que as perdas serão irreparáveis, podendo ser de vidas humanas, do meio
ambiente e até da própria edificação. Quando alta, quer dizer que causará ferimentos em
pessoas, danos ao meio ambiente ou a edificação. Quando média, expressa desconforto,
deterioração da edificação ou do meio ambiente. Se baixa, representa pequenos
problemas, insignificantes incômodos e remete prejuízos financeiros pequenos.
Quando classificada pela urgência, define que o propósito desta é o de saber avaliar
quando um problema deve ser corrigido após a sua identificação. Onde o grau e peso são
iguais aos anteriores. Se total, o evento está em ocorrência, se alta está prestes a ocorrer,
se média sua ocorrência está prevista, se baixa está adiante e quando nenhuma, este
problema não foi previsto.
Por fim, determina que classificar quanto a tendência, se deseja saber o grau de
desenvolvimento do problema encontrado caso nenhuma medida seja tomada. Se total, o
problema terá um desenvolvimento imediato. Quando alto, a evolução será a curto prazo.
Se determinado grau médio, o seu progresso será a médio prazo. Caso seja baixo, o
avanço será a longo prazo. Quando o problema não for evoluir, o grau deve ser nenhum.
De acordo com o IBAPE, (2012), quanto ao grau de risco oferecido as pessoas, ao meio
ambiente e ao bem material, este pode ser classificado em crítico, regular e mínimo.
Quando um dano causa um impacto irremediável que põem em risco a saúde, a
seguridade das pessoas e do meio ambiente e ainda tem excessiva perda de
desempenho resultando em prioridade máxima de reparo, este é considerado grau crítico.
Para um impacto que pode recuperado quando compromete parcialmente a
funcionalidade do ambiente e seu desempenho, necessitando uma intervenção a curto
prazo, este deve ser classificado como um grau regular. Por fim, o grau mínimo refere-se
a pequenos e recuperáveis impactos, onde se pode fazer interferências a médio prazo,
pois não oferece risco em evoluir para os riscos regular e crítico.
Seguindo as análises das residências construídas por quatro construtoras diferentes (A,
B, C e D), foram constatadas, nos resultados, patologias em comum, como fissuras em
ANAIS DO 60º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2018 – 60CBC2018 13
paredes de alvenaria, afundamento de piso, mofo/bolor e problemas em elementos
estruturais.
Em 100% das edificações, as fissuras em alvenaria e afundamento de piso estiveram
presentes. Em 75% das edificações, patologias no forro, mofo/bolor, problemas na
instalação elétrica e degradação do revestimento foram identificados. Patologias nos
elementos estruturais foram encontradas em 50% das edificações. Problemas em
instalações hidrossanitárias em 25%. Dentro da análise, as residências B, C e D foram
classificas em Grau Crítico, com necessidade de intervenção imediata. A residência A
apresentou um Grau Regular, podendo evoluir para critica se não tratado imediatamente.
5 Conclusão
COLENGHI, V., M.. O&M e Qualidade Total: uma integração perfeita. 3ª ed. Uberaba:
VMC, 2007.
VERÇOZA, E., J.. Patologia das edificações. Porto Alegre: Editora Sagra, 1991.