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Manifestações patológicas em edifícios de paredes de concreto

moldadas in loco
Pathological manifestations in buildings with cast-in-place concrete walls
Abrahão Bernardo Rohden (1); Karina Keunecke (2); Gustavo Gutierrez De Oliveira Rodrigues (3);
Natália Salamoni (4); Luis Carlos Seelbach (5)

(1) Professor Doutor, Departamento de Engenharia Civil da FURB; (2) Engenheira Civil, FURB; (3)
Doutorando, PPGEA-FURB; (4) Mestranda, PPGEA-FURB; (5) Professor Mestre, Departamento de
Engenharia Civil da FURB.
Endereço para correspondência: Rua São Paulo, 3250 – Itoupava Seca Blumenau/SC – CEP
89030-000 e-mail: arohden@furb.br

Resumo
As manifestações patológicas que surgem em obras entregues são vistas como um incomodo aos moradores
que residem nos empreendimentos. Além de ser uma situação desagradável em pós-obras, certos problemas
podem ser perigosos aos seus moradores, devendo sempre atentar-se a elas. As manifestações patológicas
podem estar relacionadas a diversos fatores. O objetivo deste trabalho foi analisar quantificar as
manifestações patológicas em obras habitacionais de paredes de concreto moldadas in loco. Para isso
analisou-se os chamados abertos pelos clientes de três edifícios (obra A, obra B e obra C) junto a assistência
técnica de uma construtora. Após a obtenção dos dados, percebeu-se que 26,56% dos apartamentos da Obra
A abriram chamados, 51,11% dos apartamentos da Obra B também tiveram problemas e 66,39% dos
apartamentos da Obra C continham manifestações patológicas. Os resultados, apontaram para vários grupos
de problemas, como instalações elétricas e hidráulicas, problemas em esquadrias, problemas em paredes,
pisos e tetos e problemas com infiltrações. O principal nas três obras foram manifestações em paredes, pisos
e tetos. Ao todo foram analisados 15 tipos de manifestações patológicas que fizeram os clientes abrirem
chamados. Foi perceptível a falta de acompanhamento e conferências na execução, a possível existência de
uma mão de obra sem conhecimentos prévios e defeitos em materiais da construção civil. Como contribuição,
presumiu-se que a identificação e a caracterização das manifestações apresentadas possam promover o
conhecimento, as correções e a prevenção em obras semelhantes.
Palavra-Chave: manifestações patológicas; paredes de concreto moldadas in loco; habitação popular

Abstract
The pathological manifestations that appear in works delivered are seen as a nuisance to residents who reside
in the projects. In addition to being an unpleasant situation in post-construction work, certain problems can be
dangerous for its residents, and they should always be taken into account. Pathological manifestations can be
related to several factors. The objective of this work was to analyze and quantify the pathological
manifestations in housing works with concrete walls molded in loco. For this purpose, the calls opened by the
clients of three buildings (work A, work B and work C) were analyzed with the technical assistance of a
construction company. After obtaining the data, it was noticed that 26.56% of the apartments in Construction
A had open tickets, 51.11% of the apartments in Construction B also had problems and 66.39% of the
apartments in Construction C had pathological manifestations. The results pointed to several groups of
problems, such as electrical and plumbing installations, frame problems, wall, floor and ceiling problems and
problems with infiltration. The main feature in the three works were manifestations on walls, floors and ceilings.
In all, 15 types of pathological manifestations that caused customers to open tickets were analyzed. It was
noticeable the lack of monitoring and conferences in the execution, the possible existence of a workforce
without prior knowledge and defects in civil construction materials. As a contribution, it was assumed that the
identification and characterization of the manifestations presented can promote knowledge, corrections and
prevention in similar works.
Keywords: pathological manifestations; cast-in-place concrete walls; popular housing

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1 Introdução

Ao longo do tempo, a construção civil tem evoluído constantemente com várias inovações,
métodos e tecnologias que visam dispor de construções de edifícios que envolvam o seu
usuário e supram as suas necessidades. Porém, tem-se percebido que o desempenho dos
mesmos não tem apresentado altos graus de satisfação (LICHTENSTEIN, 1986). Tal razão
tem consistido, principalmente, no percentual crescente de surgimento de manifestações
patológicas, que levam a desconfortos para seus usuários, gerando críticas e
descontentamento na habitabilidade.
O surgimento das manifestações patológicas pode estar relacionado a diversos fatores,
sendo de grande importância conhecer as eventuais razões para o aparecimento, com o
intuito de promover as correções propícias (TUTIKIAN; PACHECO, 2013). Em geral, estas
inconsistência surgem em detrimento de falhas originadas durante os procedimentos
executivos das atividades de construção civil. Para que se obtenha um diagnóstico para a
realização das intervenções necessárias é necessário observar os locais de surgimento das
manifestações e o agente causador desses problemas.
Dentre as formas disponíveis para realizar o levantamento das manifestações patológicas
em pós-obras, o levantamento através das insatisfações demonstradas pelos moradores,
surge como uma importante saída para promover melhoria nas edificações e reduzir os
efeitos adversos estas ações (BRITO; FORMOSO; ECHEVESTE, 2011).
De acordo com o PROCON-SP (2013) houve um crescimento no percentual de
reclamações de 71% em relação ao ano de 2012, tendo destaque para a área da habitação,
sendo 8% das reclamações. As principais queixas foram sobre prazos de entrega de obra,
cobranças indevidas e defeitos nas construções.
Decorrente da evolução dos métodos construtivos, diversas técnicas têm sido
desenvolvidas com o intuito de propiciar construções mais enxutas, reduzir custos
executivos e, também, minimizar os tempos gastos para execução das atividades. Desta
forma, o uso de paredes de concreto ganhou destaque no cenário executivo nos últimos
anos, principalmente pelo reduzido tempo demandado para execução das atividades.
Entretanto, por se tratar de um método inovador, desafios devem ser superados à medida
que a sua expansão de aplicação é ramificada. Atrelado a isto, percebeu-se que esta
técnica tem apresentado diversos problemas de habitabilidade e, é importante que sejam
realizados monitoramentos e propiciem-se soluções para reduzir estes efeitos negativos.
Com estes fatores, o levantamento das principais manifestações patológicas mostra
problemas recorrentes nas edificações de paredes de concreto. A busca pelas causas que
tornaram o problema evidente é importante, pois além de serem inconvenientes ao usuário,
geram retrabalhos a empresa e podem ser problemas perigosos. Deve-se atentar-se a
essas manifestações, e procurar as possíveis causas e boas práticas para que evitem de
se repetir em edificações residenciais futuras.
O presente estudo teve como objetivo levantar e analisar as principais manifestações
patológicas em edifícios com paredes de concreto, nas cidades de Blumenau e Joinville, do
estado de Santa Catarina. Através desta análise, obteve-se o conhecimento acerca das
manifestações observadas e suas consequências, com o intuito de minimizar a ocorrência
de possíveis falhas nas edificações, desde a fase construtiva até a entrega, com a finalidade
de proporcionar segurança e conforto aos seus usuários.
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2 Sistema de paredes de concreto

Tratando-se de um país com vastidão territorial e populacional, um dos graves problemas


enfrentados pelo Brasil é o déficit habitacional. Ainda que os programas governamentais
tenham incentivado e promovido a redução deste dado, ainda se estima que este número
permeie a casa de 6,1 milhões de habitações (FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO, 2018).
Baseado na necessidade de serem promovidas ações e promover o desenvolvimento de
tecnologias e sistemas construtivos que possibilitem a redução do déficit habitacional, além
de disponibilizar de edificações serem construídas em menor tempo hábil, diversas
inovações têm sido utilizadas para suprir estas demandas.
Dentre estas, o uso de paredes de concreto passou a ser identificado como uma das mais
importantes inovações para construção em grandes volumes de habitações. Desde 2007,
houve um aumento de unidades construídas com paredes de concreto, influenciando o
mercado da construção brasileira. O foco em diminuir o déficit, estimula o uso desse
sistema. Se aplicado corretamente, proporciona uma produtividade alta e menores custos
em relação a outros métodos construtivos (BRAGUIM, 2013).
O uso deste sistema é indicado para construções em grandes escalas, que tenham alto
índice de edificações repetidas, sendo mais utilizado em obras residenciais, porém não se
limitando somente a elas (CORSINI, 2011).
Dentre as razões para o uso ser indicado, principalmente, para edificações nas quais
apresentam singularidade, consiste na necessidade de serem utilizadas fôrmas para
inserção do concreto e das armaduras. Tratando-se de arquiteturas ‘iguais’, a produção das
fôrmas pode ser realizada de forma mais progressiva e a sua reutilização é mais efetiva.
Um dos principais proeminentes no uso desta técnica é o Programa habitacional Minha
Casa, minha vida, que executa casas populares através de incentivos do governo.
Programas como esse trouxeram nos últimos tempos, uma demanda muito grande de
construção em larga escala, com mais de mil unidades habitacionais (CORSINI 2011).
Semelhantemente as edificações em alvenaria, os sistemas realizados com paredes de
concreto são constituídos por paredes autoportantes e lajes maciças de concreto armado.
A sua moldagem é realizada in loco com o uso de fôrmas removíveis em tempos pré-
determinados em que o concreto apresenta resistência propícia de suportar esta remoção.
Tratando-se de um sistema que se espalhou por todo o Brasil, foi elaborado uma normativa
para especificar os requisitos e os procedimentos necessários para a construção de
edificações de paredes de concreto moldadas no local para a construção de edificações, a
NBR 16055 (ABNT, 2012). Ressalta-se que as paredes são moldadas em única etapa e
após a desforma, os vãos necessários já devem conter em seu interior. Instalações com
tubos de grandes diâmetros não são embutidas nas paredes, mas sim alojadas em shafts.
Para alojar o concreto e as armaduras, utiliza-se fôrmas, e estas podem ser metálicas,
metálica com compensado e plásticas. Em geral, utilizam-se fôrmas metálicas,
principalmente pelo alto poder de reutilização destas.
Tratando-se de concretagens com altos volumes de concretos e utiliza-se armaduras nas
paredes, recomenda-se a utilização de concreto autoadensável, em conta da sua grande
fluidez e plasticidade, características que eliminam a necessidade de vibrar o concreto
(BRAGUIM, 2013).

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3 Manifestações patológicas

De acordo com Granato (2002) a patologia é uma ciência que estuda a origem e o sintomas
de problemas ocasionados na estrutura. Deve-se atentar acerca das inspeções e
diagnósticos das manifestações patológicas, devendo-as verificar periodicamente.
Mediante as inspeções e diagnósticos, o desempenho da edificação pode ser melhorado
não somente com manutenções e melhoria dos materiais utilizados, mas também no
procedimento executivo, bem como na compatibilidade de projetos e na fiscalização dos
serviços, evitando quaisquer intercorrências indesejadas.
Olivari (2003) comenta que o processo de construção de uma edificação tem diversas
fases, sendo as principais: o projeto, a execução e a devida utilização após a entrega. Erros
nessas fases podem gerar defeitos na estrutura, podendo comprometer a segurança e a
durabilidade do empreendimento.
Dentre os principais que decorrem, principalmente, da etapa de projeto, destaca-se a falta
de detalhes ocasionando erros de dimensionamentos, divergência entre projetos,
sobrecargas não previstas e especificações incorretas. Além destas, a má execução pode
propiciar não atendimento as especificações de projeto, cobrimento reduzido de armadura,
além do não adequações aos traços pré-estabelecidos, reduzindo, assim, a vida útil das
estruturas e permitindo a redução do desempenho e geração de manifestações patológicas.
Tratando-se de estruturas de concreto armado, uma das principais ocorrências de
manifestações patológicas são as fissuras. Existem diversas causas para as fissuras que
aparecem nas paredes de concreto. O local onde elas aparecem e o padrão das fissuras,
pode evidenciar e explicar a possível causa das mesmas, possibilitando o devido
tratamento. Acerca das prováveis causas, considera-se os efeitos de cargas de sujeição
(variação de temperatura, recalques de fundação), sobrecarga na estrutura e fixação de
portas e janelas (THOMAZ; CARNEIRO, 2013).
Wendler (2018) comenta que esse sistema construtivo (paredes de concreto) é muito rígido
e possui alta restrição a variação volumétrica. Gera grandes tensões se submetida a
imposição de deformações, como a retração. A retração é um fenômeno pertencente ao
material concreto. Existem alguns tipos de retração, como a retração plástica inicial, que
decorre da perda de água com o concreto ainda não endurecido; retração química,
apresenta menor volume dos cristais formados na reação do cimento; e, também, a retração
hidráulica, que manifesta a perda de água com o concreto endurecido.
A NBR 6118 (ABNT, 2014) estabelece que fissuras de até 0,3 mm não causam nenhum
problema na estrutura. Wendler (2018) comenta que retrações acima do normal citado
podem ser causadas por concreto autoadensável mal dimensionado, cura do concreto mal
realizada e desforma em prazos fora do estipulado.
Além das manifestações citadas, as estruturas podem sofrer interferências acerca de
infiltrações, estas podendo ser por capilaridade (ascenção da água do solo pelas paredes),
uso de materiais com excesso de água e por precipitação (CECHINEL et al., 2011).
Percebe-se que as manifestações patológicas podem ocorrer das mais variadas formas e
que estas devem receber tratamentos específicos para cada problema. Com isso, é
necessário que sejam realizadas análises, elaborados diagnósticos e as eventuais
manutenções com o intuito de prolongar o tempo de vida útil das edificações.

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4 Metodologia

A pesquisa realizada neste trabalho teve como foco analisar as principais manifestações
patológicas em 3 obras residenciais com sistema construtivo de paredes de concreto e se
levantar as mais recorrentes por meio de informações disponibilizadas por uma construtora.
Os dados que foram disponibilizados são os chamados de clientes a central da assistência
técnica da empresa, tendo como base os principais problemas que ocorrem após a
ocupação dos empreendimentos.
Baseado na Figura 1, foi elaborado o roteiro executivo de atividades para aquisição dos
dados, em seguida categorização e caracterização das edificações, análise dos dados,
manifestações patológicas apresentadas em detrimento do tempo, possíveis causas e, por
fim, as intervenções necessárias.

Figura 1 – Fluxograma metodológico

Os dados para a execução deste trabalho foram disponibilizados pela empresa responsável
pelas ações. Foram disponibilizadas informações a respeito das três obras em questão,
onde todas possuem o mesmo método construtivo e são residenciais. Os dados se baseiam
em chamados à assistência técnica dos clientes que residem no local. Estes chamados
possuem informações como data da solicitação, problema relatado, tipo de chamado,
número da ordem e local do problema.
Além dos dados de chamados a assistência técnica, a empresa disponibilizou informações
acerca dos edifícios analisados. Foram coletadas informações como: idade dos
empreendimentos, cidades em que as obras estão inseridas, quantidade de apartamentos,
o método construtivo utilizado e imagens das manifestações observadas.

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4.1 Caracterização e análises

Com o intuito de propiciar maior facilitação de entendimento, as obras foram divididas por
letras, sendo estas: A, B e C. As três obras utilizaram o método construtivo de paredes de
concreto.
A primeira obra (A), localizada em Blumenau-SC, foi entregue em janeiro de 2020, e
possuía 128 apartamentos. Os dados utilizadas para estas análises foram recolhidos nas
chamadas correspondentes a 3 e 6 meses.
Já a obra B, situada em Joinville-SC, possuía 360 apartamentos e foi entregue em 03 de
dezembro de 2018 e os chamados analisados foram de 3, 6 meses e 1 ano.
A obra C, também localizada em Joinville-SC, possuindo 360 apartamentos e entregue em
outubro de 2017, sendo a obra mais antiga entre as três. Os dados analisados
corresponderam a 3, 6 meses e 1 ano, semelhantemente a obra B. Todos os chamados
analisados contam exatamente a partir do dia de entrega, quando o cliente já tem acesso
ao portal de chamados.
Após a análise de cada dado das obras, efetuou-se a categorização das chamadas que
correspondiam as manifestações patológicas. Foi necessária a correção de alguns
chamados, que mostravam problemas hidráulicos em outras classificações, como
problemas em revestimentos. Desta forma, todos os chamados foram analisados e
corrigidos/descartados conforme o foco da pesquisa.
Para inserção dos dados ao sistema, o cliente é direcionado a área específica na qual
deseja realizar a sua tratativa de informação. Ou seja, quando o cliente abre um chamado
relatando um problema, inicialmente descreve-se a área de abrangência, em seguida do
local e, posteriormente, o problema que o local apresenta, alguns exemplos podem ser:
a) Instalações hidráulicas → Registro → Vazamento. Identifica-se que existe um
vazamento em um registro do apartamento.
b) Esquadria → Janela de Alumínio → Infiltração. Identifica-se que existe uma
infiltração na janela do apartamento.
c) Instalações elétricas → Tubulação → Obstruída. Identifica-se que há uma tubulação
elétrica que está obstruída/sem passagem no apartamento.
Os primeiros dados analisados e comparados da pesquisa foram os mais abrangentes, para
identificar os principais grupos de problemas que ocorreram. Todos os chamados foram
contabilizados após a entrega dos empreendimentos. Os cinco grupos abrangentes de
dados são:
a) Parede/piso/teto: Contemplam todas as manifestações patológicas que vem a
aparecer em paredes, pisos e tetos. Alguns exemplos podem ser fissuras em azulejos,
fissuras em paredes e problemas em pinturas.
b) Instalações hidráulicas: São problemas relacionados as instalações hidráulicas.
Possíveis vazamentos, funcionamentos indevidos, entre outros.
c) Instalações elétricas: Pode-se relacionar aos acerca de disjuntores, falhas na fiação,
entre outros.
d) Esquadrias: Envolvem manifestações patológicas nas esquadrias de madeiras e
alumínio (portas e janelas). Relaciona-se ao mal funcionamento, vidros fissurados ou
infiltrações.

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e) Instalações complementares – gás: São os problemas que apresentam vazamentos
de gás ou algum problema relacionado ao gás.
Foi realizada uma comparação de tempo entre as obras. Para cada obra, analisou-se as
principais manifestações patológicas que ocorreram acumuladas em 3 e 6 meses e em 1
ano. A comparação entre elas, pôde-se observar as intercorrências mais evidentes, até com
a comparação da própria obra ao longo dos meses. Um gráfico do número de chamados
por mês de cada obra foi feito, a fim de perceber a incidência de chamados ao longo do
tempo.
Após comparações, os dados dos gráficos de 1 ano de obra foram utilizados para as obras
B e C e os dados do gráfico de 6 meses foi utilizado para a obra A. Com os gráficos
mencionados, foram escolhidos os grupos que mais apresentaram problemas. Desses
grupos, foram desenvolvidos gráficos mostrando quais os principais problemas dentro
deles, a fim de chegar nas principais manifestações encontradas em cada obra.

5 Resultados

Ao analisar as obras, foi necessário não somente avaliar o número de chamados, mas
também levar em consideração quantas unidades do empreendimento abriram uma
ocorrência. Pois uma mesma unidade, pode abrir diversos chamados ao longo do tempo
com problemas diferentes.
Analisando a Obra A, foram abertos 171 chamados em um período de 6 meses. Destes, 34
apartamentos de um total de 128, foram responsáveis pelas respectivas aberturas. Logo,
26,56% dos apartamentos apresentaram problemas.
Para a Obra B, foram abertos 572 chamados. Com a análise de 1 ano de chamados, 184
apartamentos de 360 indicaram transtornos em suas unidades, resultando em cerca de
51,11% dos apartamentos, sendo mais da metade que apresentaram alguma manifestação
patológica.
Na Obra C foram abertos 750 chamados. Em um ano de pós-obra, foram relatados 239
apartamentos com problemas de um total de 360, ou seja, cerca 66,39% dos apartamentos
apresentaram alguma irregularidade.
Pode-se observar que em relação aos chamados abertos, a Obra C apresentou o maior
índice de apartamentos que apresentaram problemas. Salienta-se que, dentre as obras
analisadas, esta é a mais antiga. Correlacionando este fator temporal, o efeito de redução
no índice de chamados à medida que as obras evoluíram foi perceptível, a considerar que,
o entendimento acerca das manifestações antes demonstradas, propiciou a redução dos
eventuais efeitos adversos nas novas edificações.
Dentre os fatores importantes de serem observados ao longo do tempo é acerca da
frequência e recorrência mensal da abertura de chamados. Decorrente disto, para cada
obra e o seu respectivo tempo de análise, foram elaborados levantamentos de reclamações
ao longo de cada mês, observando os maiores e menos quantitativos de chamados abertos.
Para a Obra 1, pôde-se constatar que o mês com maior número de incidência de chamados
foi o mês 4, conforme pode ser visto na Figura 2.

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80
68
70
Quantidade de chamados

60

50

40

30 27 26
23
20 16
11
10

0
1 2 3 4 5 6
Tempo (mês)
Figura 2 – Quantidade de chamados por mês - Obra A

Dentre os fatores que devem ser ponderados com os dados apresentados (Figura 2) é que,
a partir do primeiro mês de habitação, nesta respectiva obra, já foram realizadas 23
notificações de inconsistências acerca da qualidade propícia para a edificação. Um dos
fatores que pode ter contribuído para estas iniciais críticas, pode-se correlacionar aos
possíveis atrasos na entrega das chaves dos imóveis, causando, assim, insatisfação por
parte dos clientes.
Decorrente destes fatores, e tratando-se de um escopo de possibilidade de realização de
reclamações, foram categorizados os dados de reclamação para 3 e 6 meses da Obra A
(Figura 3).

8%
12%
24% Instalações hidráulicas
34%
Parede/Piso/Teto

Esquadria
36% 4%

Instalações complementares - Gás

6% 21% 39% Instalações elétricas


16% (a) (b)
Figura 3 – Percentual de chamados conforme reclamações específicas para 3 (a) e 6 meses (b) - Obra A

Percebe-se que as manifestações patológicas que mais ocorreram relacionaram problemas


inerentes as parede/piso/teto, instalações elétricas e esquadrias.
Ao analisar os chamados em 3 meses e em 6 meses, houve uma redução nos problemas
elétricos e um aumento nos problemas de esquadrias, instalações hidráulicas e em

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parede/piso/teto. As instalações complementares de gás, tiveram um quantitativo pequeno
comparado com os outros sistemas.
Constatou-se as mais variadas porcentagens acerca dos problemas causados durantes os
6 meses analisados. Com isto, viu-se a importância de identificar quais os principais
causadores das insatisfações por parte dos clientes para cada um dos itens maiores
identificados.
Em relação as reclamações feitas com direção as esquadrias, mais de 40% dos chamados
constaram problemas nos vidros, sejam estes quebrados, trincados ou riscados. Também
se identificou problemas acerca de mal funcionamento, portas e esquadrias empenada,
fechadura com mal funcionamento e infiltração.
As instalações elétricas representaram um importante percentual de reclamação para
ambas as fases observadas. As principais reclamação permearam sobre falta de pontos de
iluminação, ausência de cabos, disjuntor, tubulação obstruída e, principalmente,
destacaram-se tomadas e interruptores sem funcionamento.
Diante do exposto na Figura 3, notou-se que parede, piso e teto representaram um grande
percentual de reclamação ao longo do tempo. Dentre as principais observadas, foram mais
recorrentes a presença de fissuras, superfícies irregulares, infiltrações, argamassas de
revestimento sem aderência, cerâmica cerâmico com pouco poder de aderência.
Em relação a Obra B, foram constatados 572 chamados abertos, e estes foram
categorizados e divididos ao longo dos 12 meses de observação, conforme pode ser visto
na Figura 4.
70
64 63
61
60 56 55
Quantidade de chamados

52
50 45 44
42
40 36
30
30
24

20

10

0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
Tempo (mês)
Figura 4 – Quantidade de chamados por mês - Obra B

Observou-se um efeito crescente do número de chamados abertos até o terceiro mês, este
que representou o maior dado de reclamações realizadas. Constatou-se que maior parte
dos meses apresentaram reclamações superiores a 40, sendo este, um dado de grande
importância, haja vista a quantidade de apartamentos dispostos da edificação.
Para este caso em questão, o monitoramento ocorreu durante 1 ano e foram elaborados os
perfis de reclamação para 3, 6 e 12 meses, com os respectivos percentuais para cada eixo
de uso, conforme pode ser visto na Figura 5.
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22% 21% 20% 20%

2%
3%

28% 28%
26% 30%

(a) (b)
19% 21%
Instalações hidráulicas

6% Parede/Piso/Teto

Esquadria

Instalações complementares - Gás


28%
26%
Instalações elétricas
(c)
Figura 5 – Percentual de chamados conforme reclamações para 3 (a), 6 e 12 meses (c) - Obra B

Ao categorizar a média ao final dos 12 meses, observa-se que as principais reclamações


foram em torno de inconsistências apresentadas nas paredes, pisos e tetos dos
apartamentos. Os percentuais das esquadriais também apresentaram importantes dados
de reclamações ao longo do tempo, semelhante ao que foi visto na Obra A.
Semelhantemente ao que foi visto de reclamações específicas para cada eixo, a
identificação dos principais causadores de reclamações foi inerente as esquadrias, bem
como o mal funcionamento, portas com dificuldades de abertura e esquadrias com defeitos
técnicos, além de fechadura com problemas e infiltrações em meados das esquadrias.
Em relação a instalações hidráulicas, foram perceptíveis vazamentos com grande
recorrência nas prumadas de esgoto dos blocos, e em menores intensidades nas prumadas
de água fria, além dos vazamentos e mal funcionamento das torneiras.
Acerca das instalações elétricas, as principais reclamações foram consistentes ao ponto de
diversos pontos de tomada e interruptores não apresentarem funcionamento propício.
Atrelado a este fator, os disjuntores demonstraram inconsistência e manifestaram
acionamentos em fases não propícias para as suas ativações.
Por fim, para a Obra C foram constatados 750 chamados abertos por clientes no período
de um ano. Acerca do quantitativo de aberturas ao longo dos meses, observa-se altos
valores nos primeiros meses de análise (Figura 6).

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100
90
90
79
Quantidade de chamados

80 75
71 71
70 66
62
60 56 57
48
50
40
40 35

30
20
10
0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
Tempo (mês)
Figura 6 – Quantidade de chamados por mês - Obra C

O efeito crescente dos dados apresenta o maior número de chamados no quarto mês com
90 aberturas de reclamações. A partir de então, apresentam-se efusivas reduções e
oscilações crescentes e decrescentes até os décimo segundo mês.
Tratando-se de altos índices de aberturas de chamados ao longo dos meses, viu-se a
necessidade de se realizarem as categorizações específicas para cada chamado por
divisão percentual para as classes analisadas para 3, 6 e 12 meses (Figura 7).

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22% 22% 23%
28%

2% 3%

8%
8%

44%
40%
(a) (b)
20%
26%
Instalações hidráulicas

Parede/Piso/Teto

3% Esquadria

7%
Instalações complementares - Gás

44% Instalações elétricas


(c)
Figura 7 – Percentual de chamados conforme reclamações para 3 (a), 6 e 12 meses (c) - Obra C

As principais manifestações patológicas observadas em um ano após a entrega das chaves


foram problemas nas instalações elétricas e hidráulicas e em paredes, pisos e tetos.
Ao levantar os principais motivos de abertura de chamados em parede/piso/teto, conclui-se
que maior parte dos chamados consistiram em reclamações acerca de infiltrações e
azulejo/cerâmica/piso desplacados foram os principais apresentados.
Instalações elétricas foram responsáveis por 26% dos problemas apresentados. Diversos
itens apresentaram problemas, sendo disjuntor desarmando e tomadas sem funcionamento
os mais recorrentes.
Nas instalações hidráulicas, novamente os vazamentos estiveram presentes. Embora
vários itens com vazamentos foram abertos, o item de maior porcentagem de vazamento
(36%) foi analisado, identificando vazamentos em locais diferentes dos outros que constam
nas duas primeiras obras. Além dos vazamentos, o retorno de mau cheiro também teve
uma porcentagem alta, representando 20% dos chamados.
Ao analisar os locais dos vazamentos, ficou evidente que tanto as prumadas de esgoto e
de água fria apresentaram muitos problemas. Porém o mais recorrente foram as prumadas
de água fria, representando 55% dos chamados para vazamentos em instalações
hidráulicas.

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Em todas as três obras foi possível perceber que problemas em parede/piso/teto foram os
mais recorrentes nos períodos analisados, sendo o principal grupo de problema que o
cliente encontrou em seu apartamento. Tanto na obra A quanto na B, as fissuras em
paredes tiveram números expressivos, porém na obra C esta quantia não foi muito
relevante. Além das fissuras, as três obras apresentaram problemas de infiltrações, porém
em lugares diferentes, diferenciando entre tetos, paredes internas e impermeabilizações
(que contemplam áreas molhadas).
Problemas em esquadrias foram relevantes somente nas Obras A e B, não atingindo uma
porcentagem significante na Obra C. Em ambas as obras, um problema em comum que
foram as portas empenadas.
Ao analisar problemas nas instalações elétricas, somente as Obras A e C apresentaram
essa manifestação como uma das mais recorrentes, sendo comum o item DR/Disjuntor
desarmando, indicando algum problema no quadro de energia do apartamento.
Já nas instalações hidráulicas, somente as Obras B e C tiveram porcentagens significativas
desses problemas. Os problemas foram semelhantes, envolvendo vazamentos,
entupimentos e retornos de mau cheiro.
Nenhuma das obras apresentou porcentagem significante para o grupo de problema de
instalações complementares – gás, embora todas demonstraram conter alguns chamados
direcionados para o grupo. As baixas porcentagens demonstram que esse sistema teve
poucas falhas, é provável que a execução e os devidos testes de estanqueidade de gás
surgiram resultados, embora ainda exista alguns problemas, não são os principais motivos
de abertura de chamados dos moradores.

6 Conclusões

Toda entrega de obra deve garantir que seus sistemas irão funcionar perfeitamente. Fica
claro que muitos chamados foram abertos em todas as obras, com vários problemas
distintos. Muitos interferem no bem-estar do cliente, trazendo desconfortos e preocupações
quanto a seu lar novo.
A pesquisa, após levantar os principais grupos de manifestações patológicas, avaliou 15
diferentes problemas que mais estavam presentes nas edificações.
Em vários casos, sentiu-se a falta das devidas conferências na época da execução das
obras. Muitos casos poderiam ser evitados se a conferência da execução de todas as
etapas da obra estivesse presente. Além das conferências diárias, a qualidade dos
materiais utilizados deve ser compatível com o sistema, e não apresentar problemas como
as janelas e portas com problemas técnicos.
Outro item de extrema importância são os testes das instalações hidráulicas, que evitam os
problemas relatados. Recomenda-se que esses testes sejam feitos antes dos fechamentos
dos das alvenarias de vedação ou de quaisquer outros sistemas de vedação.
Em todas as três obras, percebeu-se que os problemas com maiores recorrências foram os
encontrados em paredes, pisos e tetos. Se, hipoteticamente, todos esses chamados fossem
evitados e não acontecessem, seriam 39% menos chamados na Obra A, 28% menos
chamados na Obra B e 44% menos na Obra C. Somente uma diminuição nessas
manifestações patológicas iriam diminuir uma boa parte dos problemas relatados nos
chamados. Se uma maior atenção na fase de obra for dada aos itens comentados neste
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trabalho, os chamados teriam uma diminuição significativa, trazendo ao cliente uma
experiência de pós-obra com muito mais satisfação e alegria de ter comprado seu lar.
Por fim, percebeu-se que o sistema de parede de concreto está se consolidando aos poucos
na construção civil brasileira, sendo necessário que as empresas que decidam adotar o
sistema tenham consciência das prováveis patologias que podem vir a apresentar. É
necessário ter sempre em mente que se precisa de materiais de qualidade, mão de obra
adequada e principalmente acompanhamento das atividades executadas, sendo de
extrema importância para o bom desenvolvimento do sistema e, consequentemente, a
satisfação esperada do cliente.

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