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HERMENÊUTICA BÍBLICA
Um estudo de alguns princípios e métodos
de interpretação da Escritura
PREFÁCIO
Este trabalho de HERMENÊUTICA BÍBLICA foi organizado visando atender
aos alunos do SEMINÁRIO TEOLÓGICO GILGAL, órgão educativo oficial da
CONVENÇÃO BATISTA CONSERVADORA (CBC), no Curso de Bacharel em
Teologia.
Trata-se de um trabalho de pesquisa bibliográfica, pois a Hermenêutica é uma
disciplina largamente estudada nos meios acadêmicos. No campo teológico é vasta
a literatura disponível, pois é uma ciência indispensável, sem a qual não seria
possível compreender o profundo e verdadeiro significado da Escritura.
A Bíblia, objeto de estudo deste trabalho, é um livro que exige do exegeta um
conhecimento básico das regras gerais da Hermenêutica. Porém, é lícito dizer que a
Hermenêutica geral não é suficiente para interpretar a Bíblia. Não se trata de
desprezar a erudição acadêmica que tanto bem tem legado à humanidade, mas sim
de reconhecer que a Escritura é um livro especial, a única revelação de Deus para o
homem e, como tal, depende de uma compreensão do texto e do próprio Autor
divino.
Para satisfazer esta necessidade, a Hermenêutica Bíblica torna-se um capítulo
especial da Hermenêutica Geral, dispõe de regras especiais, adotadas
exclusivamente à interpretação da Escritura, sem as quais a Bíblia seria um livro
ininteligível.
Por desprezar este princípio elementar é que muitos teólogos renomados tem
entrado por um caminho perigoso, fazendo afirmações incompatíveis com o
verdadeiro pensamento divino, desviando-se do projeto original de Deus para suas
próprias vidas, a Igreja e a humanidade em geral. Esta atitude tem causado muitos
prejuízos, tais como: concepções erradas a respeito da natureza de Deus, da Igreja
e do processo de salvação; comportamento relapso e escandaloso de muitos
cristãos; desvio dos verdadeiros objetivos do cristianismo; risco de perder a salvação
eterna.
É para dirimir estes problemas instalados na Igreja que o Seminário incluiu em
seu currículo de Bacharel em Teologia esta matéria. Através de um estudo sério das
regras básicas de interpretação da Escritura, é possível evitar erros já instalados e
combater as heresias deles decorrentes.
SUMÁRIO
PREFÁCIO 01
SUMÁRIO 03
INTRODUÇÃO 05
CONCLUSÃO 100
BIBLIOGRAFIA 101
ANEXO 1 103
ANEXO 2 108
QUESTIONÁRIO 113
INTRODUÇÃO
Por ser um livro especial - a inspirada, única e inerrante Palavra de Deus - a
Bíblia exige um capítulo especial na Hermenêutica, aplicada exclusivamente às suas
verdades singulares. É certo que algumas regras gerais de interpretação, que são
geralmente usadas na literatura secular, também podem ser-lhe aplicadas. Porém,
mais do que regras ou sabedoria humana, a Escritura exige do hermeneuta um
conhecimento espiritual, oriundo da experiência pessoal do Autor do Livro.
As regras mais importantes e definitivas, que podem ser estudadas e
dominadas mesmo pelos cristãos menos instruídos, se encontram no próprio texto
sagrado. Principalmente os ministros de Deus, que já têm formação teológica e
dominam a exegese, certamente que terão mais facilidade na compreensão destas
regras e poderão fazer melhor aplicação nas próprias leituras devocionais ou com a
finalidade de preparar mensagens e estudos bíblicos.
Este texto é voltado principalmente aos alunos do Curso de Bacharel em
Teologia do Seminário Teológico Gilgal, da Convenção Batista Conservadora (CBC),
aos quais procura-se dar um texto simples, porém suficiente para que tenham um
conhecimento básico desta matéria e sejam capacitados para fazerem uma
interpretação correta do texto bíblico. Como futuros teólogos, cooperadores nas
Igrejas, professores de Bíblia e Teologia ou Ministros do Evangelho, principalmente
diante da onda avassaladora de doutrinas heréticas emergentes no mundo,
precisam andar com passos firmes, trilhando os bons caminhos da verdadeira
interpretação bíblica.
Partindo destes princípios elementares, porém, basilares para uma
compreensão plena da Revelação divina, estudaremos esta matéria dividida em seis
tópicos principais que, acredito, servirão de passo inicial na grande caminhada do
conhecimento desta importante ciência.
O texto fundamental para esta pesquisa será a própria Escritura Sagrada,
também objeto principal do estudo.
Pr. Jairo Gonçalves Martins
Pelotas, RS, agosto de 2017.
PRIMEIRA PARTE
DEFINIÇÕES
Neste capítulo estudaremos alguns tópicos importantes à compreensão da
ciência denominada HERMENÊUTICA BÍBLICA, que introduzirão o aluno de forma
natural no conhecimento da matéria.
I. HERMENÊUTICA
O Dicionário a Língua Portuguesa Larousse Cultural traz a seguinte definição:
“HERMENÊUTICA s.f. (gr. Hermeneutike). 1. Interpretação do sentido das palavras.
2. Interpretação dos textos sagrados. 3. Arte de interpretar leis.”
A. Almeida apresenta as seguintes definições, na página 11 de seu livro:
”Hermenêutica é a ciência e arte de interpretar. É ciência porque postula princípios seguros e
imutáveis; é arte porque estabelece regras práticas.” “Hermenêutica bíblica ou sagrada é o
estudo metódico dos princípios e regras de interpretação das Sagradas Escrituras.”
Segundo Roy B. Zuck, página 20, após relacionar a origem do termo ao deus
grego Hermes como intérprete dos deuses, sendo “ele quem descobriu a linguagem
2. Exegese: Sobre este tema, Roy B. Zuck, página 21, assim escreve:
“A exegese pode ser definida como a verificação do sentido do texto bíblico dentro de seus
contextos histórico e literário. (...) A exegese é a interpretação propriamente dita da Bíblia, ao
passo que a hermenêutica consiste nos princípios pelos quais se verifica o sentido.”
A. Almeida, escrevendo sobre o mesmo termo, página 11, assim o define: “... a
Hermenêutica se distingue da Exegese em que esta é a aplicação dos princípios e
regras estabelecidos por aquela. O exegeta ou intérprete serve-se dos
conhecimentos que lhe fornecem a Crítica e a Hermenêutica ...”
SEGUNDA PARTE
HISTÓRICO DA HERMENÊUTICA BÍBLICA
É importante que façamos um inventário sucinto da História da Hermenêutica,
abrangendo a esfera secular e a bíblica.
Conforme o próprio nome indica, a HERMENÊUTICA é uma ciência muito
antiga. Se procede do nome do deus mitológico grego Hermes, sua origem remonta
aos tempos da filosofia grega antiga, ou mesmo a um período anterior. Na verdade,
desde que algum leitor tentou entender o sentido exato da literatura que chegou às
suas mãos, ali estava implícito o início da Hermenêutica como princípio de
compreensão textual. Assim, podemos admitir uma Hermenêutica arcaica na
Babilônia, na Grécia, na Pérsia, no Egito, na China e em outros países de cultura
milenar, que tiveram sua própria literatura.
Mas aquelas tentativas particulares e arcaicas de compreensão textual
diferiam, naturalmente, da Hermenêutica científica e da bíblica, conforme aplicadas
modernamente.
2. Judeus Alexandrinos:
Os rabinos alexandrinos eram mais tolerantes em sua interpretação da
Escritura, especialmente pela influência e o uso da Filosofia Grega. Os principais
expoentes desta corrente foram os judeus Aristóbulo (160 a.C.) e Filo (20 a.C. a 54
d.C.).
1
Veja anexo 1.
3. Judeus Cabalistas:
O movimento cabalista entre os judeus surgiu por volta do século XII d.C.
Embora fizessem uso do método alegórico, baseavam-se principalmente no método
literal de interpretação, porém de forma extremista e equivocada. Atribuíam aos
“versos, as palavras, letras, vogais e acentos” um poder sobrenatural, místico.
L. Berkof, página 18, cita os seguintes métodos dos quais se valeram:
“(1) Gematria, de acordo com o qual podiam substituir certa palavra bíblica por outra que
tivesse o mesmo valor numérico;
(2) Notarikon, que consistia em formar palavras pela combinação de letras iniciais e finais,
ou por considerar cada letra de uma palavra a letra inicial de outras palavras; e
(3) Temoorah, que indicava o método pelo qual se conseguia nova significação das palavras
por meio do intercâmbio de letras.”
graciosa, sem prescindir das normas de interpretação racionais que podem ser
entendidas, aceitas e usadas por todos aqueles que desejam compreender a Sua
vontade (Romanos 12.1-3).
1. Igreja Apostólica:
No período da Igreja primitiva, os apóstolos escolhidos pelo Senhor Jesus
Cristo, assessorados por outros Ministros do Evangelho igualmente ungidos e
inspirados, foram os intérpretes da Escritura do Antigo Testamento, bem como os
instrumentos usados pelo Espírito Santo para legarem à posteridade o Novo
Testamento. Em resumo, seguiram os métodos interpretativos estabelecidos pelo
Senhor Jesus Cristo, subordinados à sua autoridade no que se refere às novas
revelações exclusivas à Dispensação da Graça.
Encontramos exemplos de interpretação escriturística – Hermenêutica – no
apóstolo Pedro, ao pregar sua primeira mensagem em Jerusalém, esclarecendo aos
ouvintes trechos da Escritura obscuros até àquela ocasião (Atos 2.14-36); em Filipe,
quando evangelizou o mordomo africano no deserto (Atos 8.26-35); em Paulo,
quando discutia nas sinagogas com os judeus, diante das autoridades romanas e
quando escrevia para a Igreja (Atos 13.14-41; 26.1-26; Romanos 10.1-11.32) e nos
escritores dos Evangelhos (Mateus 2.15; 8.17).
2. Pais da Igreja:
Após o falecimento dos apóstolos – o último foi João, por volta do ano 96 d.C. –
o próprio Senhor se encarregou de chamar, ungir e usar outros Ministros, para
darem continuidade à Sua grande obra.
Nos primeiros séculos do cristianismo, principalmente após o fim das
perseguições do Império Romano, a Igreja experimentou vertiginosa atividade
intelectual, legando à humanidade grandes sábios que construíram os alicerces da
Teologia Ortodoxa, que viria a nortear o caminho dos cristãos e do mundo posterior.
A postura destes homens relacionada à Hermenêutica foi importante, pois foi através
destes princípios estabelecidos, que puderam manter a verdade divina em evidência
na Igreja. Saliente-se, porém, que nem sempre adotaram os melhores métodos de
interpretação, pois a Teologia de uma forma geral estava sendo reorganizada no
seio da Igreja.
“Agostinho cria que a Escritura tinha um sentido quádruplo – histórico, etiológico, analógico,
alegórico.”
3. Idade Média:
O período da Idade Média foi muito pobre em termos de desenvolvimento da
Hermenêutica. Em suma, os teólogos se limitaram a adotar as idéias herdadas dos
Pais da Igreja, principalmente de agostinho. Até porque a maioria dos clérigos nunca
chegou a ler toda a Bíblia e era completamente ignorante em conhecimentos
teológicos.
Foi na Idade Média – em História da Igreja denominada de Idade das Trevas –
que o catolicismo romano se desenvolveu e assumiu sua verdadeira identidade.
Sendo que a maioria dos teólogos eram desta denominação e os mosteiros foram os
responsáveis pela conservação e o desenvolvimento da Teologia, a Hermenêutica
também sofreu influências que culminaram na necessidade da Reforma do século
XVI. Foi neste período que a tradição da Igreja ganhou força e transformou-se me
método hermenêutico, i.é, tinha autoridade no mesmo nível da Escritura. Também
predominou o sentido alegórico de interpretação, com base no sentido quádruplo de
Agostinho.
H. A. Virkler, página 46, assim escreve:
“Estes quatro níveis de significação (...) eram tidos como existentes em toda passagem
bíblica:
A letra mostra-nos o que Deus e nossos pais fizeram;
A alegoria mostra-nos onde está oculta a nossa fé;
O significado moral dá-nos as regras da vida diária.
A anagogia mostra-nos onde terminamos nossa luta.”
Mas Deus sempre tem os seus luzeiros para brilharem nas trevas do mundo.
Nicolau de Lyra (1270-1340 d.C.), mesmo tendo vivido na Idade Média, quebrou as
cadeias do pensamento corrente em seu tempo e deu preferência ao método literal
de interpretação da Escritura. Sua influência sobre Lutero foi muito importante, sem
a qual talvez não houvesse reforma.
João Wycliff (1330-1384 d.C.), um pré-reformador, também rejeitou a tradição
da Igreja como fonte doutrinária e, segundo R. B. Zuck, página 51, “acentuava
fortemente a legitimidade das Escrituras como fonte de doutrinas e de vida cristã.”
4. Reforma Protestante:
A Reforma Protestante marcou o retorno da Igreja Cristã à Escritura,
baseando-se principalmente no método literal de interpretação.
Martinho Lutero (1438-1546 d.C.), foi o grande instrumento que Deus usou
para enfrentar as trevas e dar início à Reforma. Rejeitou com veemência o método
alegórico de interpretação, o sentido quádruplo de agostinho e a autoridade da Igreja
para interpretar a Escritura.
Alguns dos princípios defendidos por Lutero são:
Fé e iluminação do Espírito Santo, pois a Bíblia é diferente de outras literaturas;
Retorno ao estudo da Bíblia nas línguas originais;
Interpretação baseada no sentido literal do texto;
Aceitava e aplicava alegorias, mas sem abandonar o método literal;
Devem ser consideradas as condições históricas de quando o texto foi escrito;
O contexto é indispensável na interpretação;
As passagens obscuras devem ser entendidas com base nas de sentido nítido;
Sustentava que o Antigo e o Novo Testamentos apontavam para Cristo;
Fazia nítida distinção entre Lei e Evangelho;
Cria que a Escritura é simples e qualquer cristão no mundo pode compreendê-la.
João Calvino (1509-1564 d.C.), o reformador Suíço, de Genebra, a princípio
concordava com a maioria dos princípios defendidos por Lutero. Citado por R. B.
Zuck, página 55, declarou que “a primeira preocupação do intérprete é deixar o autor
dizer o que realmente diz, em vez de atribuir-lhe o que achamos que ele deveria
dizer.”
A mesma linha de pensamento foi seguida por Philip Melanchthon (1497-1560
d.C.), discípulo de Lutero e Ulrich Zuínglio (1484-1531 d.C.), discípulo de Calvino,
William Tyndale (1494-1536 d.C.) e os precursores do movimento anabatista, a
origem primeva dos Batistas.
5. Pós-Reforma ou Confessionalismo:
Este período também é conhecido como Confessionalismo devido aos dogmas
que surgiram e nortearam a Igreja pós-reforma e influenciaram diretamente na
Hermenêutica e na interpretação bíblica.
Enquanto o catolicismo romano agia através da Contra-Reforma e, através do
Concílio de Trento reunido várias vezes de 1545 a 1563 d.C., elaborou a dogmática
da igreja contrária ao movimento protestante, os protestantes também definiram a
sua dogmática, não menos autoritária do que a oposta. Nas palavras de L. Berkhof,
página 32, neste período “a exegese se tornou serva da dogmática, e degenerou em
mera busca de textos-provas.”
O movimento calvinista elaborou a Confissão de Westminster que, segundo R.
B. Zuck, página 67, mantinha a seguinte postura com relação às Escrituras:
“A regra infalível de interpretação bíblica está nas próprias Escrituras; portanto, quando
houver dúvida sobre o significado verdadeiro e completo de qualquer passagem (que é
apenas um, e não muitos), deve ser pesquisado e conhecido em outros trechos que sejam
mais claros.”
teológico sustenta que a razão pode descobrir verdades espirituais e que somente as verdades
assim descobertas deveriam ser aceitas.”
Tanto Thomas Hobbes (1588 a 1679 d.C.), filósofo inglês, como o judeu Baruch
Spinoza (1632 a 1677 d.C.), filósofo holandês, ambos não cristãos, defenderam a
idéia de que a Bíblia deve ser interpretada à luz da razão. Assim, as narrativas dos
milagres bíblicos foram rejeitadas, pela impossibilidade de seguirem os critérios da
razão humana. Como veremos, estes conceitos exerceram grande influência na
interpretação da Bíblia nos séculos posteriores.
6. Período Moderno:
O Período Moderno foi marcado por intermináveis controvérsias no campo
teológico, sendo que o próprio desenvolvimento das idéias teológicas
protagonizaram o surgimento de heresias na metodologia de interpretação bíblica.
Como fruto direto do Racionalismo surgiu o Liberalismo Teológico. Este
segmento teológico-filosófico inserido no campo religioso moderno enfocava a
autoria humana das Escrituras, em detrimento da autoria divina. Sendo assim, a
Escritura não passava de um livro como outro qualquer, sendo interpretado pelas
regras literárias normais, inclusive os elementos sobrenaturais relatados. A
inspiração foi relegada a graus diferenciados na própria Escritura e a razão humana
era a única capaz de determinar onde havia inspiração, se é que havia, e qual o
grau contido em cada texto bíblico. Tudo o que não estivesse de acordo com a razão
– diga-se: capacidade de compreensão do intérprete – deveria ser rejeitado como
Palavra de Deus. Foi por este motivo que os milagres passaram a ser rejeitados
como inverídicos, e.g., a concepção, o nascimento virginal de Jesus Cristo e a
ressurreição, bem como curas de pessoas, milagres sobre a natureza e as
experiências espirituais dos cristãos.
O elemento profético do Antigo e do Novo Testamento também foi rejeitado. A
fim de justificarem suas teorias, os expoentes desta corrente transformaram alguns
livros do Antigo Testamento numa verdadeira colcha de retalhos. Por exemplo: o
livro de Isaías, por conter profecias futuristas, que se cumpriram em séculos
posteriores – e outras ainda aguardam cumprimento – teve sua autoria questionada
e foi dividido em três. Segundo G. L. Archer Jr, página 264:
“... Professor Bernard Duhm (1847-1828), trouxe a lume uma teoria de três Isaías, nenhum
dos quais vivia na Babilônia. Segundo sua análise, os capítulos 40 – 55 (Deutero-Isaías) foram
escritos cerca de 540 a.C., nalguma parte da região do Líbano (...) Os capítulos 56-66 (Trito-Isaías)
foram compostos em Jerusalém no período de Esdras, cerca de 450 a.C.”
O teólogo Julius Wellhausen (1844 a 1918 d.C.) foi outro exemplo desta
categoria de interpretação. Em sua teoria denominada “hipótese documental”,
afirmou que o Pentatêuco (os primeiros cinco livros da Bíblia escritos por Moisés) é
um “trabalho de vários autores”. R. B. Zuck, página 61, assim escreve sobre suas
teorias:
“... um autor chamado ‘J’, elablorou as partes onde Deus é chamado de ‘Jeová’ (daí ‘J’), o
autor ‘E’ compilou os trechos que dizem ‘Eloim’ (daí ‘E’), ‘D’ foi o deuteronomista e ‘P’ – o
último – representa o regimento sacerdotal [priestly, em inglês]. Wellhausen acreditava que o
povo do Antigo Testamento evoluiu do politeísmo para o animismo, e daí para o monoteísmo.”
2
Para melhor compreendermos a Alta Crítica, é conveniente fazermos uma comparação com outra
ciência ligada à exegese, denominada Baixa Crítica, ou, Crítica Textual. G. L. Archer Jr., pg. 54, faz o
seguinte comentário: “Em contradistinção com a alta crítica, que trata de questões de autoria e da
integridade do texto dos livros bíblicos, a ciência da baixa crítica (ou crítica textual) se preocupa na
tarefa de restaurar o texto original na base das cópias imperfeitas que chegaram até nós. Procura
selecionar evidências oferecidas pelas variações, ou leituras diferentes, quando há uma falta de
acordo entre os manuscritos sobreviventes, e pela aplicação dum método científico chegar àquilo que
era mais provavelmente a expressão exata empregada pelo autor original.”
caráter relativo, i.é, não é definida por si mesma, deixa de ser divina para ser
humana. O perigo desta corrente é sua dependência da experiência e das emoções
humanas, nem sempre estáveis e sujeitas a erros e contradições.
Sobre esta corrente R. B. Zuck, página 63, afirma o seguinte:
“Na nova hermenêutica, o texto bíblico pode ter o sentido que o leitor desejar. (...) A verdade
existe no campo existencial, ou seja, é uma experiência, não uma proposição escrita.
Portanto (...) não devemos tentar descobrir o sentido dos textos bíblicos. Devemos apenas
deixá-los falar conosco, permitir que modifiquem o entendimento que temos de nós mesmos.
Assim sendo, a hermenêutica é o processo de entender a si mesmo.”
7. Hermenêutica Ortodoxa3:
Enquanto nos detemos analisando os princípios hermenêuticos surgidos e
adotados no decorrer dos séculos e que forjaram a História desta ciência na Igreja,
aparentemente o que se destaca são os erros de interpretação, pouco espaço
sobrando para a verdadeira Hermenêutica. Em parte isto é verdade, pois grandes
segmentos do cristianismo conhecido adotou um sistema antibíblico e perigoso,
tanto para a fé pessoal, quanto para o destino das ciências teológicas. É o caso do
catolicismo romano, dando mais ênfase às tradições da Igreja do que aos textos
sagrados; também de segmentos protestantes, engendrando, adotando e expondo
como verdadeiros certos princípios igualmente perigosos, como temos estudado.
Mas o Deus da Bíblia, que revelou Sua Palavra ao homem, com a finalidade de
conduzir a Igreja e a humanidade pelos caminhos da verdade, jamais ficou sem
testemunho (Atos 14.17). Homens consagrados e compromissados com a verdade
defenderam princípios norteadores da interpretação correta da Escritura, legando
bases firmes para uma Hermenêutica segura para a Igreja pós-moderna.
Alguns destaques podem ser citados, como: Lutero, Calvino, os seguidores de
ambos e os anabatistas. S. Gundry, página 35, referindo-se aos defensores da
ortodoxia naquele período obscuro, escreve:
3
Segundo M. J. Erickson: “ORTODOXO – Literalmente, ‘correto’ ou ‘adequado’, que está de acordo
com a doutrina ou prática correta como estabelecida por uma autoridade.”
“... há, nas grandes tradições protestantes, uma corrente ininterrupta de teólogos ortodoxos,
desde os tempos da grande ortodoxia protestante do século XVII até o presente, por mais
incômodo que seja para os teólogos liberais confessar este fato. Havia alguns esforços
especiais no século XIX, dignos de menção específica, no sentido de fortalecer a ortodoxia.”
A seguir, cita:
“... o Movimento de Oxford (...) o líder foi John Henry Newman (1801-90). (...) E. B. Pusey
(1800-82), cujos comentários eram modelos de erudição bíblica britânica. (...) H. P. Liddon
(1829-90), publicou uma das melhores defesas da divindade de Cristo na totalidade da
literatura teológica.”
“Na Holanda (...) Abraham Kuyper (1837-1920). (...) Quando foi para sua primeira paróquia,
descobriu que somente os membros ortodoxos realmente sabiam em que acreditavam, e por
quê.”
“Nos Estados Unidos (...) escola de Princeton fundada sob a liderança de Archibald Alexander
(1772-1851). (...) Seus nomes mais famosos eram os dos Hodges (Charles, Archibald, e
Caspar), de William Green (...), B. B. Warfield (...), e J. Gresham Machen ...”
“P. T. Forsyth (1848-1921) (...) Embora fosse treinado na teologia liberal, progrediu em
direção de uma teologia mais evangélica à medida que avançava pela vida. O impacto básico
dos seus escritos posteriores era defender uma versão evangélica, cristocêntrica e
experimental do cristianismo. (...) e procurou dar à doutrina da autoridade um caráter mais
centralizado no Evangelho e mais orientado em direção à experiência, sem abrir mão da
prioridade da Palavra divina.”
Depois da análise sucinta dos tópicos expostos, resta deduzir que a melhor
escolha para o cristão verdadeiro, que deseja bem compreender a Escritura e os
propósitos divinos para sua vida, é a Teologia Conservadora Evangélica. No dizer de
S. Gundry, é a melhor “opção.” Ele mesmo explica o sentido deste termo e sua
aplicação à Teologia que deriva da interpretação bíblica correta:
“Derivada do latim optio ‘livre vontade’ ou ‘livre escolha’, opção originalmente designava o
poder de exercer escolha consciente e deliberada dentre várias possibilidades. Levava
consigo a implicação que a opção é a escolha correta, não meramente uma seleção aceitável
entre muitas. Neste sentido, é correto falar da teologia conservadora evangélica como sendo
a opção do cristão.”
TERCEIRA PARTE
MÉTODOS DE INTERPRETAÇÃO
Existem vários Métodos de Interpretação da Escritura, alguns antigos e outros
modernos, conforme pudemos ver na História da Hermenêutica. É importante
salientar que nem todos os métodos são realmente escriturísticos. Por isso, é
necessário que o intérprete fiel da Escritura escolha com muito cuidado o método
que adotará. O ideal é seguir a linha adotada pela CBC.
I. MÉTODOS ERRADOS:
Salientaremos aqui apenas os principais. Mesmo que detenham uma aparência
de verdade, estes métodos são extrememante prejudiciais à Teologia Ortodoxa e
Conservadora, pois desvirtuam o verdadeiro sentido da Escritura.
1. Método Supersticioso: foi o método por excelência dos hereges dos tempos
bíblicos4 e continua sendo dos judeus cabalistas. Neste Método, o intérprete não se
contenta com o sentido exato do texto, ou com o pensamento do autor, mas procura
sempre algo mais profundo, mais espiritual, caindo em superstição infundada. Pode
acontecer também com alguns cristãos despreparados que procuram espiritualizar
todos os textos da Bíblia, inclusive aqueles que são literais. Exemplo: Mateus 17.20.
4
Os gnósticos abusaram deste método, autoproclamando-se os únicos iluminados, conhecedores de
mistérios espirituais ignorados pelos outros, chegando ao ponto de desprezarem os cristãos comuns,
que permaneciam fiéis aos ensinos apostólicos.
5
É necessário diferenciar entre Método Alegórico e a figura de linguagem denominada Alegoria. O
primeiro é um Método que abrange toda a Escritura, sem importar-se com o sentido literal do texto
sagrado; o segundo é uma figura de linguagem perfeitamente normal, usado apenas quando o
próprio texto o admite (esta figura será estudada mais detalhadamente em capítulo posterior).
6
É importante não confundir com o Método Histórico apropriado, que situa a Escritura dentro de uma
perspectiva correta da História.
QUARTA PARTE
REGRAS DE INTERPRETAÇÃO
Quando isto não for suficiente, deve analisar o fundo histórico, o autor, os
destinatários, fatores geográficos, propósitos e outros itens que sejam necessários e
relevantes para uma boa exegese.
7
Para maiores esclarecimentos, leia a Décima Regra: A Linha Teológica Adotada.
vigorava a Lei de Talião (Êxodo 21.23-25). Visto que Jesus cumpriu toda a Lei, pode
substituí-la pela lei do amor, que é a retribuição ao contrário (Mateus 5.17, 38-42;
Romanos 12.14,17).
Ezequiel 34.2,10,23: algumas seitas8 usam os dois primeiros versos para
condenar a existência de pastores nas Igrejas, ignorando o texto onde Deus mesmo
declara que suscitará um pastor para cuidar de suas ovelhas. Estes versos devem
ser analisados à luz de Efésios 4.11 e I Pedro 5.1,2. Em suma, o que Deus condena
é a postura dos pastores negligentes ou dos mercenários9. Os vocacionados e fiéis
ao Senhor são agraciados como foram os primeiros apóstolos.
Mateus 19.6-12: segundo o ensino claro de Jesus, a vontade original de Deus
é que o matrimônio seja indissolúvel. Porém, o contexto posterior próximo abre uma
exceção para o caso de quebra do vínculo matrimonial por um dos cônjuges através
da prática de pornéia. Os discípulos foram sábios ao se referirem aos escritos
contextuais de Moisés a respeito do divórcio (Deuteronômio 24.1-4), que eram a
regra vigente para todos os judeus até àquele tempo. O resultado positivo foi
receberem de Jesus uma normatização do ensino para a Igreja, incluindo a novidade
dos eunucos por amor ao Reino de Deus.
8
A denominação Congregação Cristã do Brasil (Igreja do véu) é a principal expoente desta doutrina.
9
Segundo a Online MBE: “MERCENÁRIO: Aquele que trabalha apenas pelo salário (Jo 10.12,13).”
10
Segundo o Dicionário Larousse Cultural da Língua Portuguesa: “SINÓTICO ou SINÓPTICO adj. (gr.
Sinoptikós). 1. Relativo à sinopse. 2. Que permite ver concisamente as diversas partes de um
conjunto; resumido, sintético.” M. J. Erickson define assim: “EVANGELHOS SINÓTICOS – Os três
evangelhos de Mateus, Marcos e Lucas. Muito embora cada um tenha ênfases diferentes, a vida de
Cristo é, no entanto, apresentada de forma semelhante.”
11
Se a informação não procede, pelo menos serve de ilustração para a importância das diferenças de
linguagem, principalmente para o intérprete ocidental, que fala uma língua de origem latina.
afasta de Deus: não receberam mais a visita divina como acontecia antes da queda
e perderam o direito ao paraíso (3.23,24); gera sofrimentos: o homem teria que
granjear o pão à custa do suor do rosto e a mulher daria à luz filhos com dor (3.14-
19); condena; não poderia mais voltar ao paraíso, conheciam o bem e o mal,
necessitavam de reconciliação com Deus através de sacrifícios sangrentos (4.24).
Salvação: é uma necessidade humana: todos os descendentes de Adão e Eva
estão condenados, pois o pecado passou a ser hereditário. Observe que os
primeiros filhos deles foram gerados fora do paraíso (Gênesis 4.1); exige o
pagamento de um preço: inicialmente pelo sacrifício sangrento de animais inocentes,
até que chegasse a hora do Cordeiro de Deus tirar o pecado do mundo (3.21); é
concedida pela misericórdia de Deus: a primeira profecia do Salvador foi
pronunciada pelo próprio Deus (3.15).
Segundo texto para consulta geral: Gênesis 12.1-3:
Israel: nação fundada por vontade divina: Abrão foi escolhido e chamado
enquanto vivia no pecado e entre pecadores (v. 1); abençoada pelo Senhor (v. 2):
detentora de muitas promessas: terra, semente e bênção (vs. 1,2); medida para as
nações: “abençoarei os que te abençoarem e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem”
(v. 3); fonte de bênçãos para o mundo: “em ti serão benditas todas as famílias da
terra” (v. 3).
É interessante observar que os textos posteriores, que versarem sobre o
mesmo assunto, jamais poderão revelar algo em contrário, mas apenas
confirmarem ou complementarem o que foi revelado na primeira menção.
Os exemplos poderiam ser multiplicados, mas estes servem de ponto de
partida para que o intérprete analise outras verdades que vão surgindo no decorrer
da Escritura, inclusive no Novo Testamento.
Lição: com esta atitude, Deus provou que não aceita a mentira em sua Igreja, pois o
diabo é o pai da mentira.
12
Esse tema será analisado com mais detalhes posteriormente.
13
Para os judeus do Antigo Testamento, mesmo que a idéia da Trindade estivesse implícita nos
textos sagrados, somente o fato de pensar num Deus trino era considerado um ato de idolatria
imperdoável. Havia uma idéia marcante de unicidade no Antigo Testamento, que impediu muitos
eruditos de aceitarem a divindade de Jesus Cristo (João 10.33; Mateus 23.63-66).
14
Os hebreus do Antigo Testamento não possuíam a mesma fé na glória da eternidade com Deus
que a Igreja hoje tem. Para aqueles antigos crentes, a morte e a descida ao sheol (lugar dos mortos)
era um momento de tristeza indizível e a consequente entrada nas trevas de um mundo
desconhecido. Segundo A. R. Crabtree, página 274, “Cortada da ‘terra dos vivos’, a mera existência
da pessoa quase não tinha mais significação.”
Dentro de uma correta aplicação deste método, o intérprete pode usar livros
inteiros, ou colher textos distribuídos por todo o Livro Sagrado.
No primeiro caso, temos o estudo exegético/temático, ou Teologia Bíblica,
restrita a alguns livros da Bíblia, que são orientados por uma linha principal de
raciocínio e corroboram a aplicação deste método. Exemplos:
Gênesis: o livro de todos os começos;
Cantares: o livro do amor conjugal;
Daniel: o livro das revelações no Antigo Testamento;
Isaías: o evangelho do Antigo Testamento;
Mateus: o evangelho do Rei;
Marcos: o evangelho do Servo de Deus;
Lucas: o evangelho do Homem perfeito;
Romanos: o evangelho da graça de Deus;
Gálatas: conflitos entre Lei e Graça;
I e II Timóteo e Tito: cartas ministeriais;
Apocalipse: profecias do fim do mundo e da vitória da Igreja.
No segundo caso, temos a Teologia Sistemática, que é o estudo geral das
grandes doutrinas da Bíblia. No geral são dez as principais doutrinas: Bibliologia,
Teologia, Cristologia, Pneumatologia, Angelologia, Antropologia, Hamartiologia,
Soteriologia, Eclesiologia, Escatologia (Mateus 7.28; Atos 2.42; I Coríntios 14.26).
Além destas que são as principais, ainda podem ser feitos inúmeros estudos
temáticos na Escritura, usando termos chaves, que estão distribuídos no Antigo e no
Novo Testamento. Embora não formem doutrinas como as anteriores, servem de
orientação e reforço para a vida cristã normal.
Exemplos de pessoas: Anjo Gabriel, Diabo, Adão, Noé, Abraão, Moisés,
Débora, Miriã, Maria, Paulo, Pedro, etc.
Exemplos diversos: graça, justificação, redenção, união, oração, ministério,
evangelização, batismo, santa ceia, dons espirituais, etc.
Ao empreender este tipo de estudo, o intérprete deve procurar conhecer
preferencialmente todos os textos da Escritura referentes ao tema em foco. Este
procedimento evitará o uso de textos isolados, que servem para defesa de idéias
particulares e preconcebidas. Somente após um detido e minucioso exame de
todos os textos relacionados ao tema, o intérprete poderá fazer uma
declaração doutrinária segura.
15
A Igreja Ortodoxa Grega não está sendo considerada para os fins deste estudo.
16
A Crítica Textual adota a Regra Áurea, visto que usa o próprio texto da Escritura na busca de
explicações e soluções de aparentes discrepâncias. G. L. Archer Jr, página 54, assim a define: “Em
contradistinção com a alta crítica, que trata de questões de autoria e da integridade do texto dos livros
bíblicos, a ciência da baixa crítica (ou crítica textual) se preocupa na tarefa de restaurar o texto
original na base das cópias imperfeitas que chegaram até nós. Procura selecionar as evidências
oferecidas pelas variações, ou leituras diferentes, quando há uma falta de acordo entre os
manuscritos sobreviventes, e pela aplicação dum método científico chegar àquilo que era mais
provavelmente a expressão exata empregada pelo autor original.”
17
A título de esclarecimento, esta inspiração não pode ser comparada com a inspiração poética, que
é basicamente emocional, ou com a investigação filosófica, que é essencialmente racional. Enquanto
estas têm sua origem e fundamento no homem, em suas limitadas experiências e capacitação, a
inspiração da Bíblia veio diretamente de Deus para os autores humanos que lhe aprouve usar.
18
No original grego: “” (panti rêmati). Segundo Taylor: = “em tudo’, em todos os
respeitos, em toda maneira.”
19
O Texto grego é “” (pãsa grafê). Segundo F. W. Gingrich et. ali, “” é “todo, toda,
cada”, etc.
Cremos, com base na própria Escritura, que ela é auto suficiente em matéria
de fé e teologia, pois é divina em essência, sendo cada texto uma parte da
revelação divina geral e escrita. Os originais comprovam que toda a Escritura deve
ser valorizada pelo intérprete.
Dentro desta linha, duas observações importantes devem ser consideradas
pelo intérprete:
É necessário fazer a diferença entre as palavras divinas registradas na
Escritura e aquelas que são apenas relatos inspirados. Neste caso, duas
situações se destacam: as palavras de pessoas ímpias (Gênesis 4.8,9; Êxodo
2.13,14; 5.2; I Reis 18.17,26; 19.2; 21.7-14,20; Mateus 27.20-29) e as do maligno
(Gênesis 3.1,4,5; Mateus 4.3,6,9). Quando os respectivos autores destas
expressões falaram, é evidente que não estavam sob inspiração divina, mas os
autores humanos da Bíblia, quando as registraram, é que estavam sob plena
inspiração do Espírito Santo. Por isso são denominadas de relatos inspirados.
O texto original da Escritura está completo e ninguém está autorizado a
diminuir ou acrescentar nada. Conforme revelação da própria Bíblia, quem
desobedecer esta regra, está correndo o risco de perder a salvação e ser
condenado ao fogo eterno (Apocalipse 22.18,19).
QUINTA PARTE
INTERPRETAÇÃO BÍBLICA ESPECIAL
Este capítulo da Hermenêutica tratará de temas basilares revelados na
Escritura, alguns peculiares à interpretação bíblica, que abrirão as portas da
compreensão textual e teológica ao estudante.
I. AUTORIA
Antes de tudo, deve-se distinguir entre o Autor Divino e os autores humanos da
Bíblia.
1. Autor Divino: a Escritura declara que Seu verdadeiro Autor é Deus. O Espírito
Santo – terceira Pessoa da Trindade – inspirou os autores humanos sobre quais
assuntos deveriam registrar e quais palavras deveriam usar (II Timóteo 3.16; II
Pedro 1.20; I Tessalonicenses 2.13). Então, a Bíblia é a Palavra de Deus
outorgada para orientação do homem.
2. Autores humanos: a Bíblia foi escrita por cerca de quarenta autores humanos,
em sua maioria judeus. Talvez Lucas fosse o único gentio.
Mesmo sendo a singular e inerrante Palavra de Deus, o Senhor filtrou sua
mensagem através das características particulares de cada um, como: origem,
personalidade, cultura, grau de instrução, localidade, fundo histórico, etc. Alguns
autores foram homens simples, pobres, exercendo profissões comuns, enquanto
outros foram altamente letrados, vivendo na elite ou fazendo parte da oligarquia da
nação.
O conhecimento da história particular e das características de cada autor
humano da Escritura pode fazer a diferença na interpretação, esclarecendo ao
intérprete o verdadeiro sentido da palavras escritas, principalmente dos textos
originais.
Alguns exemplos:
a. Moisés: nos primeiros dois anos de vida, foi instruído pela própria mãe no
conhecimento de Deus. Certamente que as orações e os ensinos daquela mãe
piedosa foram uma semente divina plantada no coração daquele grande homem.
Após ser levado à casa de Faraó, foi considerado filho da rainha/princesa
Hatsepsute, sendo instruído em todas as ciências do Egito, como se fosse assumir o
trono da maior nação do mundo contemporâneo. Alguns autores chegam a acreditar
2. Livros Históricos: é uma coleção de doze livros inspirados: Josué, Juízes, Rute,
I e II Samuel, I e II Reis, I e II Crônicas, Esdras, Neemias e Ester. São relatos
fidedignos da História de Israel na Antiga Aliança, desde a entrada na Terra
Prometida até o cativeiro sob o império Persa.
Observa-se que o fundo histórico da História dos Hebreus antigos é saturada
de informações sobre outros povos igualmente históricos, como: heteus, egípcios,
4. Livros poéticos: coleção que abrange cinco livros: Jó, Salmos, Provérbios,
Eclesiastes e Cantares. Esta categoria de literatura em Israel revela as
circunstâncias da nação em geral, ou do poeta em particular. Por vezes há vibrante
euforia diante da grandeza de Deus ou das bênçãos Dele recebidas. Em outras
ocasiões, há um fundo de tristeza pelos reveses sofridos pelo pecado e pelos
3. Número Três: este número representa a Trindade divina por excelência e sua
marca em todas as coisas criadas, como se fosse uma assinatura do Criador,
comprovando que nada surgiu do acaso, ou por mãos estranhas a Ele.
a. É um número excelente na Escritura, pois representa prioritariamente a
Trindade divina: Pai, Filho e Espírito Santo (Mateus 28.19; II Co 13.13).
b. Também está relacionado ao ser humano (criado à imagem e semelhança
do Deus Trino) que, em sua natureza completa, é espírito, alma e corpo (I
Tessalonicenses 5.23).
c. A família nuclear também está representada por este número: pai, mãe e
filhos (Gênesis 4.1; 20.12; Eclesiastes 4.12; Mateus 2.13,20).
d. Também tem algumas representações ligadas à natureza: cientificamente,
mas comprovado pela Bíblia, temos os três reinos: mineral, vegetal e animal
(Gênesis 1.1,2,11,12,20-25); sol, lua e estrelas (Gênesis 37.9; Deuteronômio 4.19);
céu, terra e mar, incluindo os animais cujo habitat está relacionado a estes: aves,
mamíferos ou répteis e peixes (Deuteronômio 5.8; Neemias 9.6; Salmo 8.7,8;
Ezequiel 38.20; Apocalipse 5.13; 10.6; 21.1).
e. Profeticamente representa a tríade maligna que governará temporariamente
o mundo, por permissão de Deus, durante a grande tribulação: o dragão, a besta e o
falso profeta (Apocalipse 12.3; 13.1,2,11,12). Neste caso há uma exceção, pois o
inimigo tenta copiar tudo o que Deus criou. Mas seu plano fracassará e somente a
verdadeira Trindade prevalecerá no fim de tudo.
20
Neste comentário não foram consideradas as teorias da contagem de eras prolongadas, no lugar
da semana de sete dias. Também não é importante se Deus criou originalmente ou apenas
reorganizou a criação original, como afirmam alguns teólogos. Para nosso estudo, a presença do
número sete na criação é mais importante, pois determina o princípio e o fim da existência de todas
as coisas como originadas e dependentes de Deus.
contagem do tempo sobre a terra, Deus planejou uma semana de sete dias (Gênesis
2.1-3)21.
c. A História da Salvação, ou do projeto divino para a humanidade antes e
depois da queda, também se resume em sete fases distintas e completas. São
conhecidas como As Sete Dispensações: Inocência, Consciência, Governo Humano,
Patriarcal, Lei, Graça e Milênio. Estudaremos mais profundamente estes temas
posteriormente.
d. A nação de Israel foi marcada pela presença do número sete na contagem
do tempo e do serviço a Deus. A semana de sete dias foi estabelecida pela Lei
divina: seis dias para o trabalho e o sétimo para o descanso e o serviço a Deus
(Êxodo 20.8-11). Deveria ser contada uma semana de anos, i.é, deveriam trabalhar
e produzir durante seis anos, mas o sétimo ano inteiro, deveria ser de descanso
absoluto, tanto para os homens como para os animais (Êxodo 23.10,11). O ano de
jubileu foi estabelecido após sete semanas de sete anos, i.é, no ano quinquagésimo
todos os escravos hebreus deveriam ser libertos, as terras devolvidas e ninguém
deveria trabalhar, pois era um ano de júbilo e serviço a Deus. Considerando-se que
o quadragésimo nono ano deveria ser um ano sabático, toda a nação ficaria por dois
anos ininterruptos dedicada ao Senhor22 (Levítico 25.8-22).
e. A Igreja do Senhor também está representada neste número em todos os
sentidos: geograficamente, como aquela que está em todos os quadrantes da terra;
espiritualmente, pois o Espírito de Deus que enche toda a terra o faz também
através da Igreja; profeticamente, pois os acontecimentos que envolveram aquelas
primeiras sete Igrejas da Ásia Menor, estendem-se de forma gradativa por toda a
História, até chegar ao presente. Hoje, no período final da Igreja e da Era da Graça,
estamos vivendo prioritariamente duas situações: Filadélfia e Laodicéia (Apocalipse
2.1-2.22).
f. Em sentido meramente completo, também representa a Besta apocalíptica,
que é um símbolo profético de todos os reinos pagãos que dominaram o mundo
desde a antiguidade: Egípcio, Caldeu, Assírio, Babilônico, Medo-Persa, Grego e
21
Segundo alguns historiadores, alguns cientistas da antiga URSS, uma ditadura ateísta, tentaram
organizar uma semana de onze dias, mas fracassaram. Permanece a contagem do tempo como Deus
determinou desde o princípio.
22
Esta Lei foi ordenada à nação de Israel e somente é possível sua aplicação dentro de um regime
teocrático e perfeitamente ajustado ao plano divino.
7. Número dez: este é um número que tem muitos significados, mas indica
principalmente algo completo ou perfeito, conforme a origem. Pode ser
estudado em sentido negativo ou positivo.
a. Em sentido negativo: geralmente ligado às obras e pecados humanos.
Pressa: após dez anos de peregrinação na terra prometida, Sarai cometeu o
erro de entregar sua serva egípcia Agar, como concubina de Abrão, para obter filhos
através dela. Era um costume perfeitamente normal para a sociedade da época, o
fato de uma senhora estéril entregar uma de suas servas ao marido. Os filhos deste
relacionamento eram considerados seus filhos. Porém, Sarai adiantou-se aos planos
de Deus e gerou um problema que tumultuou os relacionamentos familiares e
nacionais do povo escolhido por muito tempo (Gênesis 16.3-6; 21.9,10).
Engano: Jacó foi enganado dez vezes por Labão, seu sogro, mesmo tendo
trabalhado por quase vinte anos em suas propriedades. Labão sobrepujou Jacó em
qualquer matéria de esperteza e pretenções enganosas (Gênesis 31.6,7,38-41).
Castigo: o Egito foi ferido com dez pragas terríveis, por causa da dureza do
coração de Faraó. Mas as pragas também eram um duro golpe na crença dos
egípcios em deuses da natureza, que naturalmente eram falsos. No final, o Egito
ficou arrasado e nunca mais se levantou como um grande reino (Êxodo 12.29,30).
Perda: dez anos foi o período que Noemi ficou na terra de Moabe, onde perdeu
seu marido e seus dois filhos. Ao voltar, pediu que lhe chamassem Mara, i.é,
amarga, tamanho foi o seu sofrimento naquele período (Rute 1.3-5,20).
Juízo: após a loucura de Nabal, Deus lhe concedeu apenas dez dias de vida,
exercendo juízo severo, a tal ponto de executá-lo sumariamente. Em toda a
Escritura, a idéia de juízo está relacionada ao número dez (I Samuel 25.36-38).
Revolta, abandono, incesto, guerra, morte: por ocasião da revolta de
Absalão contra o rei, seu pai, Davi deixou dez concubinas cuidando da casa ao fugir.
Quando Absalão ficou preso entre os galhos de um carvalho, Joabe, o comandante
do exército, afirmou ao soldado que trouxe a notícia, que lhe daria dez moedas de
prata se tivesse matado o jovem. Quando Absalão foi morto, dez guerreiros,
auxiliares de Joabe, o cercaram e executaram (II Samuel 15.6; 18.11; 18.15).
Divisão: a divisão da nação de Israel também está representada pelo número
dez. Enquanto a nação do sul, Judá, ficou com duas tribos, a do norte, Efraim, ficou
com dez, segundo o plano de Deus revelado pelo profeta Aías (I Reis 11.30).
Retrocesso: os dez graus que o sol voltou no relógio de Acaz indicam
retrocesso, um tempo perdido (II Reis 10.10,11).
Poder maligno: dez chifres representam a totalidade do poder maligno que
atuará no final dos tempos, durante a GT (Daniel 17.7; Apocalipse 13.1).
Crentes despreparados: dez era o número de virgens aguardando o Noivo.
Porém, nem todas estavam preparadas, indicando que nem todos que se dizem
cristãos estão prontos para a volta do Senhor Jesus Cristo (Mateus 25.1-13).
Perseguição, tribulação, prisão: a fiel Igreja de Esmirna passaria por uma
tribulação de dez dias, representando um período completo de lutas, dores e
sofrimentos por amor a Cristo. Talvez seja um tipo das perseguições e sofrimentos
que a Igreja tem passado no decorrer destes dois milênios de História (Apocalipse 2.
8-10).
b. Em sentido positivo: principalmente no que se relaciona à obra de Deus.
Direção de Deus e virtude humana: o servo de Abrão Eliézer levou consigo
dez camelos carregados de riquezas, quando partiu para Harã em busca da esposa
de Isaque, o filho da promessa. Rebeca, demonstrando grande virtude, deu água a
todos os dez camelos, merecendo os presentes e a grande missão de entrar na
linhagem do povo eleito (Gênesis 24.10-22).
Mandamentos: Deus concedeu a Israel os dez mandamentos, através de
Moisés, que deveriam ser cumpridos integralmente. Eram um modelo da vontade
divina para a vida nacional, que sintetizavam todos os demais estatutos revelados
pelo Senhor (Êxodo 20.1-17; Deuteronômio 10.4).
pois demonstrou fidelidade ao valor recebido. É uma clara alusão à totalidade dos
talentos e dons recebidos pela Igreja nesta Dispensação (Lucas 19.13,24-26).
10. Número vinte e quatro: este é um número especial, pois representa as duas
alianças de Deus com a humanidade, através dos dois povos especiais: Israel no
Antigo Testamento e a Igreja no Novo Testamento. A nação de Israel foi originada
dos doze patriarcas, filhos de Jacó e a Igreja teve os doze apóstolos como seus
primeiros líderes, todos profeticamente representados no céu, diante de Deus
(Apocalipse 4.4; 5.7-10).
IV. DISPENSAÇÕES
São períodos distintos da História da Humanidade e da Salvação, quando
Deus se revela de forma especial, ou quando trata de forma diferente com o
mundo inteiro e com certas pessoas envolvidas.
1. Dispensações da Trindade: nesta primeira categoria, Deus se revela de forma
especial, em três períodos distintos da História. Mesmo que a Trindade sempre
tenha agido em conjunto, os períodos de revelação são distintos e progressivos.
a. Do Pai: no Antigo Testamento, Deus sempre revelou-se como Trindade,
mas de forma velada, pois os judeus não conseguiam distinguir corretamente entre o
mistério da Trindade e os falsos conceitos da idolatria reinante no mundo pagão. Por
este motivo, permaneceu a idéia de um Deus único, mas subsistente numa única
Pessoa divina. Quando Jesus revelou-se como Filho de Deus e igual ao Pai, foi um
motivo de escândalo para a mentalidade da época, a ponto de desejarem apedrejá-
lo. Por isso, o Antigo Testamento é conhecido como sendo a Dispensação do Pai,
YHWH (Êxodo 20.1-6; 22.20; Josué 24.14; Juízes 17.1-13; Sofonias 2.11; Ezequiel
37.21-23).
b. Do Filho: a vinda de Jesus Cristo sempre foi o ponto mais alto do
planejamento de Deus para a humanidade. Jesus foi a revelação pessoal de Deus
ao homem, tornando-se verdadeiramente humano através da encarnação. Jesus
nasceu, viveu e morreu no Antigo Testamento e, com sua morte, inaugurou o Novo
Testamento. O plano não compreendido pelos homens do Antigo Testamento, foi
revelado integralmente nos quatro Evangelhos, cada um cobrindo um aspecto
diferente, mas complementar, da vida de Cristo. Durante os cerca de trinta e três
anos de vida terrena de Jesus Cristo, temos a Dispensação do Filho, um marco de
passagem da Velha para a Nova Aliança (Ler os quatro Evangelhos).
c. Do Espírito Santo: dez dias após a ascensão de Cristo, desceu o Espírito
Santo sobre a Igreja em Jerusalém, batizando os primeiros cento e vinte discípulos
fiéis, que permaneceram na cidade orando e aguardando conforme a ordem do
Senhor. A partir daquele dia memorável, teve início a Dispensação do Espírito. É Ele
quem convence o pecador, o leva aos pés do Salvador, sela, batiza, unge, ensina,
guia, etc. Esta obra maravilhosa Ele fará até o dia do Arrebatamento da Igreja,
quando entregará a Noiva ao Senhor Jesus (Atos 2.1-4; Ef 1.13,14; João 14.26; I
João 2.20,27; João 3.29).
V. CONCERTOS
Concertos são pactos, ligações, contratos feitos entre Deus e os homens.
Existem duas categorias de Concertos: aqueles em que Deus assume sozinho o
compromisso, chamados incondicionais (Gênesis 9.11,12) e aqueles em que o
homem também deve assumir responsabilidades, chamados condicionais (Levítico
20.8; Ezequiel 20.19).
Os Concertos revelados na Bíblia são oito e pertencem às duas categorias
mencionadas.
1. Concerto Edênico: este Concerto foi feito ainda no Éden, antes da entrada do
pecado no mundo, enquanto Adão e Eva viviam no paraíso.
a. Texto chave: Gênesis 1.28-30; 2.15-17.
b. Conteúdo: o homem deveria multiplicar-se e encher a terra; dominar sobre
todos os seres viventes; alimentar-se de vegetais (os humanos eram vegetarianos e
os animais eram herbívoros); cultivar o jardim, transformando a terra num paraíso;
jamais comer do fruto da árvore proibida, sob risco de morte.
c. Categoria: pacto condicional. O homem tinha compromissos sérios diante
de Deus.
d. Resultado: o homem desobedeceu a Deus, comendo do fruto proibido e
perdeu o paraíso.
3. Concerto Noeico: este concerto foi estabelecido entre Deus e Noé, e entre Deus
e toda a carne sobre a terra, após a saída da arca. É importante que Deus se
preocupa também com os animais e com eles empenha Sua Palavra.
a. Texto chave: Gênesis 8.20-9.17.
b. Conteúdo: a terra jamais será amaldiçoada com outro dilúvio; haverá
produção de alimentos enquanto a terra existir; as estações do ano serão mantidas;
dia e noite continuam delimitando a contagem do tempo; a humanidade deve
continuar se multiplicando; o homem continua dominando a natureza e os animais; o
homem pode alimentar-se de carne de animais; é proibida a ingestão de sangue; é
proibido terminantemente o homicídio; foi estabelecida a pena capital; o arco celeste
foi criado para que haja lembrança e confirmação deste Concerto.
c. Categoria: pacto incondicional, pois tudo depende da fidelidade de Deus.
d. Resultado: Deus continua cumprindo Sua Palavra, basta comparar o
conteúdo do Pacto com a situação vigente no mundo.
4. Concerto Abrâmico: pacto feito diretamente com Abrão, quando este foi
chamado de Ur dos Caldeus para peregrinar na Terra Prometida.
a. Texto chave: Gênesis 12.1-3; 15.1-21.
b. Conteúdo: Deus prometeu para Abrão três coisas: terra, semente e bênção.
O pacto da terra foi confirmado numa segunda aparição, quando lhe foi revelado
quais seriam os termos geográficos da Terra Prometida; a promessa de semente
referia-se à descendência humana de Abrão, mesmo tendo uma esposa estéril.
Seus descendentes constituiriam uma grande nação (mais tarde Israel), mas haveria
uma descendência especial, que Paulo mais tarde identifica como sendo o Senhor
Jesus Cristo (Gálatas 3.16-19); a bênção refere-se a tudo o que Deus pode fazer
pela humanidade através de Abrão, sua fé e sua descendência. Todas as famílias
da terra estão incluídas neste pacto divino (Gálatas 3.8-15).
c. Categoria: mais um pacto incondicional de Deus com o homem. Quando
Abrão preparou o sacrifício segundo a orientação do Senhor, o próprio Deus,
representado pela tocha de fogo, passou sozinho entre as metades. Em lugar de
passarem os dois envolvidos, Deus assumiu sozinho o compromisso de manter vivo
o pacto, levando-o até que tudo seja realizado (Hebreus 6.13-18).
d. Resultado: Deus continua honrando seu pacto com Abrão, fazendo
acontecer os passos seguintes, que complementam o que foi prometido, através da
revelação progressiva.
5. Concerto Mosaico: este concerto foi feito através de Moisés no Monte Sinai,
quando Israel saiu do Egito. Era destinado à nação de Israel, exclusivamente, pois
haviam Leis que somente uma nação Teocrática poderia adotar e outras que faziam
parte de um projeto maior, para salvação da humanidade.
a. Texto chave: Êxodo 20.1-17; 21.1-23.33; 25.1-31.18.
b. Conteúdo: o primeiro texto mencina os dez mandamentos, a Lei Espiritual e
Moral, que sintetizava tudo o que os judeus podiam ou não fazer diante de Deus; o
segundo refere-se à Lei Civil, que regia o comportamento do povo escolhido na vida
pessoal, familiar, social, econômica, nacional, etc.; o terceiro refere-se à Lei
Cerimonial, desde a construção do Tabernáculo com seus utensílios, até o sistema
de culto que deveria ser prestado a Deus.
c. Categoria: este Concerto foi condicional. Deus exigia o cumprimento de Sua
Lei integralmente, tanto pelos judeus, como pelos estrangeiros que residissem na
Terra Prometida. Foi o estabelecimento de um regime de governo Teocrático, onde o
próprio Deus seria o Rei da nação, exercendo o governo através de líderes
escolhidos por Ele.
7. Concerto Davídico: foi um Concerto divino feito diretamente com o Rei Davi,
profeticamente extensivo à sua descendência.
a. Texto chave: II Samuel 7.8-17; Salmo 89.1-3, 19-37.
23
Os primeiros cativos foram levados por volta de 605 a.C. e a destruição cabal de Jerusalém
aconteceu em 586 a.C., apenas concluindo o que havia sido iniciado anteriormente. Visto que Ciro,
rei da Pérsia expediu o primeiro decreto para o retorno dos judeus cerca de 538 a.C., os setenta anos
profetizados para o cativeiro se cumpriram nesta data.
VI. PROFECIA
O estudo da Profecia é por demais importante na arte da interpretação bíblica.
Esta importância é demonstrada pelo percentual de profecias contidas no texto da
Escritura. H. A. Virkler, página 147, declara que “... dos 31.124 versículos da Bíblia,
8.352 (27%) são material preditivo à época em que foram proferidos ou escritos.”
Porém, a consciência de um percentual tão significativo de profecias na Bíblia, não
garante uma correta interpretação. É necessário conhecer alguns parâmetros
básicos das linhas escatológicas adotadas, bem como outros recursos de
interpretação que assegurem tranquilidade ao estudioso.
Muitos princípios gerais estudados e outros a seguir, devem ser adotados
integralmente ao estudo da Profecia, visto que se trata de um tema dentro de um
contexto maior. Outros, porém, são exclusivos, conforme veremos.
1. Origem: assim como toda a Escritura, as profecias são oriundas da inspiração
divina sobre homens santificados (II Pedro 1.19-21). Esta compreensão é importante
para o intérprete, visto que algumas linhas teológicas ignoram o valor das profecias
bíblicas, como se elas nunca fossem acontecer, enquanto outras desprezam
24
Esta profecia de Cristo cumpriu-se no ano 70 da Era Cristã, quando o general romano Tito destruiu
a cidade de Jerusalém e o Templo. Até hoje o Templo não foi reconstruído, restando somente o Muro
das Lamentações.
25
No Brasil, surgiu o polêmico “Inri Cristo”, um catarinense da cidade de Indaial, autoproclamando-se
a reencarnação de Jesus, mesmo depois de ter vivido na prática do pecado por longos anos; mais
recente, o bispo José Luis de Jesus Miranda, de fala espanhola, se autoproclama “Jesus Cristo
Homem”, usa o número 666 e detém um grande número de seguidores apaixonados.
26
O Império Romano perseguiu ferozmente os primeiros cristãos. Entre os principais imperadores
que se opuseram ao cristianismo e martirizaram a muitos, constam: Nero (54-68 d.C.), Domiciano
(81-96 d.C.), Trajano (98-117 d.C.), Adriano (117-138 d.C.), Antonino, o Pio (138-161 d.C.), Marco
Aurélio (161-180 d.C.), Sétimo Severo (193-211 d.C.), Maximiano (235-238 d.C.), Décio (249-251
d.C.), Valeriano (253-260 d.C.), Diocleciano (284-305 d.C.).
O catolicismo romano, sob as ordens do papa Inocêncio III (1198-1216 d.C.) instituiu a
Inquisição, um tribunal encarregado de julgar supostos feiticeiros e hereges, levando ao martírio
milhares de cristãos verdadeiros. Após a Reforma Protestante, o catolicismo romano instituiu a
Contra-Reforma, julgando e matando cristãos fiéis à Palavra de Deus.
As ditaduras comunistas, embasadas nas utopias de Carl Marx, instaladas na extinta URSS, na
China, na Coréia do Norte e em Cuba, a pretexto de manterem o povo sob o controle do Estado
ateísta, mataram milhares de cristãos e ainda perseguem outros.
Os Estados governados pelas ditaduras muçulmanas perseguem abertamente os cristãos,
incendiando casas, escolas, Igrejas cristãs e matando quem se opuser, impondo a sua ideologia
particular pela força. Mas tudo isto é o cumprimento das profecias do Senhor Jesus Cristo.
27
A velha imoralidade, hoje com a alcunha de Nova Moralidade, tem solapado as bases do
casamento, da moralidade juvenil e adulta, incentivando a prática do aborto, do homossexualismo e
da criminalidade. Tudo embasado numa filosifia relativista.
salvos recolhidos pelo Senhor. Portanto, esta teoria é infundada segundo os textos
bíblicos.
b. Pós-Tribulacionista: esta teoria adota a crença na volta de Cristo em glória,
mas no final dos sete anos de Grande Tribulação. Neste caso, todos os cristãos fiéis
ao Senhor passariam pelos sofrimentos e castigos enviados diretamente aos
pagãos. Esta teoria confunde o Arrebatamento da Igreja com a volta de Cristo em
glória, que serão dois acontecimentos distintos, embora complementares.
Texto bíblico base: Mateus 24.26-31.
Esclarecimentos: a volta de Cristo em glória será um acontecimento distinto do
Arrebatamento da Igreja. É impossível que o Senhor permita que seus filhos passem
pelos mesmos sofrimentos reservados aos ímpios. A categoria de sofrimentos
permitidos aos crentes é restrita às provações da fé, às tentações limitadas do
maligno, perseguições dos ímpios, enfermidades físicas naturais, pressões sociais,
problemas econômicos e dificuldades psicoemocionais. Porém, os castigos
apocalípticos estão reservados como um derradeiro castigo aos perversos,
categorizados como um sofrimento jamais visto na face da terra (Marcos 13.19).
c. Pré-Tribulacionista: esta posição teológica defende que a retirada da Igreja
deste mundo acontecerá antes do início da Grande Tribulação. Será um
acontecimento restrito aos crentes fiéis, enquanto os infiéis e os ímpios
permanecerão na terra para sofrerem os castigos divinos. Os sofrimentos que
alcançarão a Igreja serão “o princípio das dores”, sinais do fim, mas jamais a GT.
Textos bíblicos: Mateus 24.8,14; I Tessalonicenses 4.13-18; Apocalipse 7.9-17.
Duas coisas se destacam:
Primeira: os mortos salvos ressuscitarão primeiro28, em corpos glorificados,
preparados para sua morada eterna no céu, junto com Deus.
Segunda: os crentes fiéis vivos terão seus corpos miraculosamente
transformados e serão arrebatados juntos com os ressurretos. Todos encontrarão o
Senhor nos ares e serão conduzidos ao céu, ao encontro de Deus. Esta é a primeira
etapa da primeira ressurreição; a segunda acontecerá quando o Senhor voltar
definitivamente em glória.
28
Alguns intérpretes entendem que serão apenas os mortos da Igreja, excluindo os salvos do Antigo
Testamento. Particularmente entendo que todos os salvos, de todas as eras, ressuscitarão juntos.
sistema; conclui o plano divino de salvação, desde o paraíso perdido, até ao paraíso
recuperado (Gênesis 3.23; Ezequiel 36.33-38); estabelece o domínio divino sobre a
terra, conforme deveria ser desde o princípio (Êxodo 9.29; Zacarias 14.9; Mateus
28.18).
b. Sua divindade:
Isaías 9.6: menino ... Deus. Mateus 17.5: Meu Filho amado.
Salmo 2.7: Tu és meu Filho. João 10.30: Somos um. Eu e o Pai.
Zacarias 13.7: Meu companheiro. Filipenses 2.6: igual a Deus.
c. Sua linhagem:
Gênesis 12.3: de Abraão. Gálatas 3.16: posteridade de Abraão.
Gênesis 21.12: de Isaque. Lucas 3.34: linhagem de Isaque.
Gênesis 28.14: de Jacó. Mateus 1.2: descendência de Jacó.
Gênesis 49.10: de Judá. Hebreus 7.14: procedente de Judá.
Isaías 11.1: de Jessé. Mateus 1.5: família de Jessé.
II Samuel 7.14-16: de Davi. Lucas 1.31-33: filho de Davi.
d. Seu precursor:
Malaquias 3.1: preparador do caminho. Lucas 1.76: preparar os caminhos.
Malaquias 4.5: o profeta Elias. Lucas 1.17: no espírito e virtude de Elias.
Isaías 40.3: que clama no deserto. Mateus 3.3: clama no deserto.
e. Seu nascimento:
Isaías 7.14: uma virgem. Mateus 1.18-21: Maria ainda virgem.
Miquéias 5.2: em Belém. Lucas 2.4-7: vão a Belém.
f. Suas funções:
Profeta: Deuteronômio 18.15; Isaías 61.1,2. Lucas 9.35; 4.16-20.
Sacerdote: Salmo 110.4; 40.11. Hebreus 5.5,6; João 10.14.
Rei: Zacarias 9.9; Miquéias 5.2. Mateus 1.1-9; 2.1,2.
g. Sua humilhação:
Zacarias 13.6,7: o Pastor ferido. Mateus 26.31; Lucas 23.33: ferido.
Salmo 69.8: estranho aos irmãos. João 7.5: não criam nele.
Isaías 53.2: sem atrativos. Marcos 6.3: Filho do carpinteiro.
Isaías 53.3: desprezado. João 19.15: ‘Tira, crucifica-o.’
Isaías 53.3: Varão de dores. Marcos 15.33,34: ‘Porque me desamparaste?’
Isaías 53.7: em silêncio. Mateus 27.12: ‘Nada respondeu.’
Isaías 50.6: esbofeteado e cuspido. Mateus 26.67: ‘Cuspiram ... esbofeteavam.’
Isaías 50.6: açoitado. João 18.1: ‘E o açoitou.’
Isaías 52.14: sem parecer. Marcos 15.17: ‘Vestiram-no de púrpura.’
Isaías 52.14: desfigurado. Lucas 22.63,64: olhos vendados.”
7. Interpretação do Apocalipse:
Talvez o livro de Apocalipse seja o livro profético de mais difícil interpretação.
Em parte é compreensível, pois a maioria dos vaticínios são futuristas e dependem
de comprovação empírica. Mas é possível traçar algumas diretrizes básicas,
seguindo regras aplicadas a toda a Escritura, bem como outras que são exclusivas à
interpretação dos livros proféticos.
a. Interpretação literal: como todos os livros da Bíblia, a interpretação do
Apocalipse deve ser Literal. Mesmo sendo um livro profético, carregado de
linguagem simbólica, a interpretação precípua deve ser literal, pois Deus o concedeu
para que a Igreja o entenda. Se o intérprete primar pela interpretação alegórica do
Livro, perderá o verdadeiro sentido da revelação. A interpretação Literal produz
segurança e, mesmo textos aparentemente obscuros, se tornam claros com este
Método (Daniel 12.9,10; Apocalipse 1.1).
b. Linguagem Figurada: o Livro de Apocalipse é saturado de simbolismos.
Por isso, é importante compreender o lugar e o valor da linguagem figurada, o que é
diferente do Método Alegórico de interpretação. Linguagem figurada é o uso de
tipos, símbolos e outros recursos, para que o leitor/intérprete compreenda o sentido
e a amplitude da mensagem divina.
SEXTA PARTE
FIGURAS DE LINGUAGEM
A Bíblia é um livro que usa sobejamente as Figuras de Linguagem em sua
composição, no Antigo e no Novo Testamento. São recursos que tornam mais
compreensível, rica de significado e de emoções a mensagem divina.
H. A. Virkler, página 122, denomina as figuras de linguagem de “métodos
literários especiais”:
“... hermenêutica especial, que estuda a interpretação de formas literárias especiais. Os bons
comunicadores empregam uma variedade de dispositivos para ilustração, esclarecimento,
ênfase, e manutenção do interesse do auditório. Os escritores e os oradores bíblicos também
usam esses esquemas.”
I. PRIMEIRO GRUPO
1. Tipos: R. B. Zuck, página 197, assim escreve: “O termo ‘tipo’ deriva do grego
typos, que aparece 15 vezes no Novo Testamento.”
W. G. Stitt, página 42, define: “Um tipo é uma ilustração divina de uma verdade
biblicamente espiritual.”
Textos bases: Colossenses 2.17; Hebreus 10.1.
Algumas características especiais do Tipo:
- Todo o Tipo possui obrigatoriamente um Antítipo;
- O Tipo geralmente encontra-se no Antigo Testamento; o Antítipo no Novo;
- O Tipo aponta para o futuro; o Antítipo cumpre o passado;
- O Tipo é imperfeito e incompleto; o Antítipo é perfeito e completo;
- O Tipo é a sombra; o Antítipo é a realidade.
Alguns exemplos de Tipos e Antítipos:
a. Pessoas:
Adão: Tipo de pai da raça humana, a primeira criação, perdida; Jesus Cristo:
Antítipo, pai da raça humana restaurada, a segunda criação, redimida (Romanos
5.14-19; I Coríntios 15.21,22,45-49).
Enoque: Tipo dos salvos que serão arrebatados no final da Era da Graça;
Igreja: Antítipo que aguarda o dia do Arrebatamento (Gênesis 5.21-24; I
Tessalonicenses 4.15-17; I Coríntios 15.51,52).
Abraão: Tipo de todos os que creem, que são salvos e abençoados pela fé no
Senhor; crentes: Antítipos que repetem os atos de fé de Abraão e são abençoados
(Gênesis 15.6; Gálatas 3.6-9; Hebreus 11.12,13,39,40).
Melquisedeque: Tipo do sacerdócio de Cristo no futuro, pois foi escolhido por
Deus sem ser da linhagem de Arão; Cristo: Antítipo que desempenhou o sacerdócio
perfeito, superior ao arônico (Gênesis 14.18-20; Salmo 110.1-4; Hebreus 5.1-10;
6.19,20; 7.1-28).
b. Instituições:
Sábado: Tipo do descanso físico, mental e espiritual concedido por
mandamento de Deus, mas terreno; salvação: Antítipo de todas as bênçãos
espirituais, mentais, físicas e eternas concedidas por Cristo (Gênesis 2.2,3; Êxodo
20.8-11; Levítico 25.1-22; Mateus 11.28-30; Hebreus 3.11-4.10).
Páscoa: Tipo da libertação, quando Israel estava cativo no Egito; Cristo:
Antítipo da salvação perfeita e eterna, oferecida ao homem cativo pelo pecado
(Êxodo 12.1-51; Mateus 26.2; I Coríntios 5.7).
Sacrifícios: Tipos de um inocente que morre como oferta a Deus, derramando
seu sangue para que um pecador seja perdoado; Jesus: Antítipo que ofereceu o
sacrifício perfeito para a salvação de todos os pecadores que Nele crerem (Levítico
1.1ss; 17.11; Hebreus 10.1ss; João 1.29,36; Atos 8.32-35; Apocalipse 5.6-14;
22.14).
c. Ofícios:
Profeta: Tipos de alguém que fala em nome de Deus, Seu representante.
Moisés foi um Tipo especial de profeta de Deus, exercendo um ministério singular;
Jesus: Antítipo de todos os profetas, principalmente de Moisés, exercendo um ofício
singular no Novo Concerto (Deuteronômio 18.15-18; Atos 7.37,38; João 6.14).
Sacerdote: Tipos de representantes de Deus, que apresentavam o povo ao
Senhor através dos rituais estabelecidos. Somente os escolhidos de Deus poderiam
exercer este ofício; Jesus: Antítipo, o Sacerdote por excelência, escolhido por Deus
para exercer um sacerdócio singular e eterno (Êxodo 28.1ss; Hebreus 3.1; 5.1-10;
8.1-5).
Rei: Tipos do governo de Deus sobre a nação de Israel, um reino Teocrático. O
principal foi o Rei Davi, um homem segundo o coração de Deus; Cristo: o Antítipo
perfeito, descendente do Rei Davi, designado por Deus para exercer o governo
eterno sobre Israel e o mundo (Deuteronômio 17.14-20; I Samuel 8.4-22; 16.1-13;
Salmo 89.19-37; Atos 13.22; Lucas 1.32,33).
d. Acontecimentos: Texto base: I Coríntios 10.11.
Dilúvio: Tipo da destruição do mundo e dos pecadores; Juízos: Antítipos da
destruição profética que virá sobre o mundo que não se arrrepender (Gênesis 6.1ss;
II Pedro 3.3-7).
Maná: Tipo do sustento que Deus concede ao Seu povo; Jesus: Antítipo do
alimento espiritual do cristão (Êxodo 16.4ss; João 6.31-35, 48-58).
Água da Rocha: Tipo da água que sacia a sede do povo e mantém a vida;
Jesus: Antítipo que satisfaz a necessidade interior e mantém a vida espiritual do
crente (Números 20.7-13; João 4.10-14; I Coríntios 10.1-4).
e. Coisas:
Serpente de bronze: Tipo de solução divina hasteada que tira o veneno da
morte; Jesus: Antítipo que soluciona definitivamente o problema do pecado
humano, para todos os que creem em sua morte na cruz (Números 21.5-9; João
3.14,15).
Arca: Tipo de oportunidade e meio de salvação para os condenados ao juízo
divino; Jesus: Antítipo de meio e oportunidade perfeita de salvação espiritual aos
perdidos e condenados ao juízo eterno (Gênesis 6.13-16; I Pedro 3.18-22).
Tabernáculo: vários Tipos são encontrados no Tabernáculo: material especial
da construção; divisões (pátio, lugar santo e santíssimo); objetos, a disposição e a
finalidade de cada um; sacrifícios diversos e em ocasiões especiais; ofícios
sacerdotais e levíticos, etc; Antítipos: o principal é o Senhor Jesus Cristo: sua
pessoa e obra; também encontramos Israel, a Igreja e o Céu; ministérios, etc.
(Êxodo 25.1ss; João 2.18-22; Mateus 27.50,51; Hebreus 8; 9; 13.9-13; I Coríntios
3.16,17; 6.19,20; Efésios 2.19-22).
W. G. Stitt, página 45, escreve que: “Um símbolo usualmente denota algo além
de si mesmo.”
Em síntese, um símbolo é uma uma comparação que se faz entre duas coisas
distintas. Para que uma coisa seja símbolo de outra, é necessário que existam
algumas características que as identifiquem e representem com certo nível de
perfeição.
Exemplos de símbolos:
a. Objetos:
Pedras preciosas simbolizando as tribos de Israel (Êxodo 28.15-21).
e. Ações:
O profeta Isaías despiu-se das vestes de profeta e dos calçados por um longo
tempo, prefigurando o sofrimento dos judeus do exílio (Isaías 20.1-6).
O profeta Jeremias recebeu ordem de comprar e usar um cinto de linho;
posteriormente o escondeu e, quando foi buscá-lo, para nada mais prestava,
representando a qualidade espiritual do povo de Israel (Jeremias 13.1-11).
O profeta Oséias tomou uma mulher de baixa índole moral, foi traído e
abandonado, mas recebeu ordem de Deus para perdoá-la e aceitá-la novamente
como esposa, mediante promessas de fidelidade. O profeta representava Deus e
seu perdão para com Israel, a esposa infiel (Oséias 1.1-7; 3.1-5; 14.1-9).
f. Gerais:
Pomba representando o Espírito Santo (Mateus 3.16).
Fogo representando o Espírito Santo (Lucas 3.16; Atos 2.1-4).
Cordeiro representando Jesus Cristo (João 1.29,36).
Leão representando Jesus (Apocalipse 5.5).
Estrela da manhã (alva) representando Cristo (Apocalipse 22.16).
Corpo humano representando a Igreja (I Coríntios 12.27; Efésios 4.12-16).
Noiva representando a Igreja (II Coríntios 11.2,3; Apocalipse 22.17).
“Parábola vem do grego para (‘ao lado’ ou ‘junto a’) e ballein (‘lançar’). Assim, a história é
lançada com a verdade para ilustrá-la.”
a. Exemplos de símiles:
Deus compara a si mesmo com dois animais carnívoros prontos a devorar
Israel devido aos pecados da nação que O abandonara (Oséias 13.7,8).
Jesus compara seus discípulos com cordeiros pacíficos enviados ao meio de
lobos cruéis (Lucas 10.3).
Pedro compara a brevidade da carne com a erva e a glória da carne com a flor
da erva, que logo secam e morrem (I Pedro 1.24).
5. Metáforas: W. G. Stitt, página 40, define: “Tropo em que a significação natural de
uma palavra é substituída por outra, em virtude de relação e semelhança
subentendida.”
29
Seguiremos a classificação de J. D. Davis, uma das melhores, extraída do verbete “Parábola”.
H. A. Virkler, página 122, define: “... é uma comparação não expressa. (...) O
sujeito e a coisa com a qual ele é comparado estão entrelaçados.”
R. B. Zuck, página 174, define: “É uma comparação em que um elemento é,
imita ou representa outro (sendo que os dois são essencialmente diferentes). (...)
Uma pista para identificar uma metáfora é que os verbos ‘ser’ e ‘estar’ sempre são
empregados.”
A diferença básica entre uma símile e uma metáfora, é que a primeira sempre
usa a expressão como ou outras designações semelhantes; ao passo que na
metáfora a comparação é feita como se uma coisa, ou pessoa, seja realmente a
outra ou tenha as mesmas características.
Uma das principais características da metáfora, é que trata-se de uma
sentença curta, como uma símile ou um provérbio, mas nem por isso menos
importante em significado ou profundidade.
a. Exemplos de metáforas:
Jeremias compara Israel com uma vide excelente plantada por Deus (usando
uma símile). Em seguida, usando três metáforas seguidas, a denomina de planta
degenerada, dromedária ligeira e jumenta selvagem (Jeremias 2.21-24).
Isaías compara os homens com a natureza perecível, declarando que o homem
é erva (Isaías 40.6,7).
Jesus declarou que é a luz do mundo (João 8.12), o pão da vida (João
6.35,48,51), a porta do reino dos céus (João 10.7,9), o caminho (João 14.6).
Jesus declarou que a Igreja é o sal e a luz do mundo (Mateus 5.13-16).
Terceiro: não devem ser confundidas com as “Teofanias”, que são revelações
ou aparições pessoais de Deus ao homem.
Quarto: particularmente, entendo que o antropomorfismo e o antropotatismo
são mais do que figuras de linguagem, expressando realidades da pessoa e do
caráter de Deus. A diferença é que os homens são imperfeitos e finitos, enquanto
Deus é perfeito, infinito e eterno.
1. Antropomorfismo: figura de linguagem que atribui características humanas a
Deus. Sabemos que Deus não se limita às características dos seres humanos finitos
e imperfeitos, mas através destas comparações, o intérprete poderá entender as
ações divinas em favor dos homens.
a. Exemplos:
Face de Deus (Êxodo 33.20-23; Levítico 10.1; Jó 33.26; Salmo 24.6;
Apocalipse 22.3,4).
Olhos de Deus (Êxodo 33.12-17; Levítico 10.19; Números 11.11-15; Atos 7.20;
I Pedro 3.12).
Boca de Deus (Levítico 24.12; Deuteronômio 8.3; Jó 15.30; Miquéias 4.4).
Ouvidos de Deus (Números 11.1; Isaías 37.29; Tiago 5.4).
Narinas de Deus (Gênesis 8.21).
Dedos de Deus (Êxodo 8.19; 31.18; Lucas 11.20).
Mãos de Deus (I Samuel 5.11; II Crônicas 30.12; Esdras 8.18; I Pedro 5.6).
Braços de Deus (Êxodo 6.6; Salmo 77.15; 98.1; João 12.38; Atos 13.17).
Pés de Deus (Êxodo 24.10; II Samuel 22.10; Salmo 60.12; Mateus 5.34).
2. Antropopatismo:
O Dicionário Aulete Digital assim define o termo “antropopatia”: “s.f. || atribuição
das paixões e sofrimentos humanos aos deuses. Este processo foi usado
principalmente pelos fabulistas. F. gr. Anthropos (homem)+pathos (sofrimento,
paixão)+ia.
No dizer de W. G. Stitt, página 40: “... atribui emoções, paixões e desejos
humanos a Deus.”
a. Exemplos:
Arrependimento (Gênesis 6.6).
Ciúme (Ezequiel 8.3; Zacarias 8.2; Tiago 4.5).
L. Berkhof, página 96, escreve: “Há casos na Bíblia em que a ironia passou a
sarcasmo.”
R. B. Zuck, explica a diferença entre ironia e sarcasmo:
“Os termos ironia e sarcasmo costumam ser usados indistintamente, porque a ironia em geral
apresenta um tom de sarcasmo. Mas normalmente o sarcasmo é mais forte. Por ser mais
ácido, é próprio de ofensas, da crítica mordaz. Já a ironia é uma forma mais sutil de
ridicularizar.”
a. Exemplos de ironia:
Jó 12.2; II Samuel 6.20; 22.15; II Coríntios 11.19.
b. Exemplos de sarcasmo:
I Reis 18.27; I Coríntios 4.8,10.
“E, vendo eles a estrela, alegraram-se com grande e intenso júbilo.” (Mateus
2.10 RA).
“Sendo, pois, ele profeta e sabendo que Deus lhe havia prometido com
juramento que do fruto de seus lombos, segundo a carne, levantaria o Cristo, para o
assentar sobre o seu trono,” (Atos 2.30 RC).
“E acrescentou: Em verdade, em verdade vos digo que vereis o céu aberto e
os anjos de Deus subindo e descendo sobre o Filho do Homem.” (João 1:51 RA).
No Evangelho de João esta expressão se repete por mais vinte e quatro vezes
(3.3,5,11; 5.19,24,25; 6.26,32,47,53; 8.34,51,58; 10.1,7; 12.24; 13.16,20,21,38;
14.12; 16.20,23; 21.18.
11. Paranomásia: R. B. Zuck, página 187, assim define: “Consiste no emprego das
mesmas palavras ou de palavras de sons semelhantes para produzir sentidos
diferentes. Uma paranomásia às vezes é chamada de ‘jogo de palavras’ ou
‘trocadilho’.”
a. Exemplos:
“Deixa aos mortos o sepultar os seus próprios mortos” (Mateus 8.22).
Em vez de Davi fazer casa para o Senhor, este é que faria casa para ele (II
Samuel 7.5,11).
No Antigo Testamento (Hebraico) e no Novo Testamento (Grego) as idéias são
oriundas da semelhaça das palavras nas línguas originais (Miquéias 1.10-15; Isaías
5.7; Lucas 21.11; Romanos 1.29; Filipenses 2.15; I Coríntios 15.58).
CONCLUSÃO
Ao concluirmos o estudo desta matéria, é importante que o aluno entenda
alguns princípios importantes que, sendo corretamente observados, acrescentarão
subsídios positivos ao seu processo de aprendizado.
Primeiro: esta apostila não extingue o grande cabedal de conhecimentos
relacionados à Hermenêutica Bíblica. Aqui foram dados apenas os princípios
básicos, para que o aluno começe a entender esta ampla ciência. É necessário
continuar estudando, pesquisando e aprendendo com os colegas mais experientes.
Somente assim poderá chegar a um nível satisfatório de conhecimento, que lhe
assegurará firmeza total na interpretação da Escritura.
Segundo: é necessário ser abnegado, humilde e espiritual na interpretação da
Escritura. Qualquer atitude de preguiça, autosuficiência ou carnalidade será
prejudicial e tolherá a mente do estudante de alcançar os tesouros mais valiosos na
pujante tarefa de pesquisar a Palavra de Deus. Muita oração e submissão à vontade
do Senhor são ingredientes indispensáveis aos Seus fiéis discípulos. Há coisas na
Bíblia que se entende somente pela maravilhosa iluminação do Espírito Santo.
Terceiro: o ato de repartir os conhecimentos adquiridos propicia crescimento
pessoal e intelectual. Didaticamente falando, servirá como reforço ao próprio
aprendizado, relembrando e colando definitivamente no cérebro os conhecimentos
adquiridos; espiritualmente, Deus se alegra com aqueles que repartem os dons
recebidos e acrescenta ainda mais, pois “a todo o que tem se lhe dará, e terá em
abundância” (Mateus 25.29a).
Que todos os nobres alunos alcançem um elevado grau de conhecimento
bíblico, teológico e hermenêutico na presença de Deus.
Pr. Jairo Gonçalves Martins.
BIBLIOGRAFIA PRINCIPAL
ALMEIDA, A. Manual de Hermenêutica Sagrada. S. Paulo, Casa Editora
Presbiteriana, 1985. 2ª edição. 110 p.
BERKHOF, L. Princípios de Interpretação Bíblica. R. de Janeiro, Juerp, 1994. 5ª
edição. 173 p.
ERICKSON, M. J. Conciso Dicionário de Teologia Cristã. R. de Janeiro, Juerp, 1991.
180 p.
STITT, W. G. Hermenêutica Bíblica. Apostila. M. das Cruzes, ABECAR, s.d. 49 p.
VIRKLER, H. A. Hermenêutica. Princípios e Processos de Interpretação Bíblica.
Editora Vida, 1990. 2ª impressão. 197 p.
ZUCK, R. B. A Interpretação Bíblica. S. Paulo, Sociedade Religiosa Vida Nova,
2005. 6ª reimpressão. 356 p.
BIBLIOGRAFIA DE APOIO
ALMEIDA, A. Tratado de Teologia Contemporânea. R. de Janeiro, CPAD, 1980. 2ª
edição. 208 p.
ARCHER, G. L. Merece Confiança o Antigo Testamento? S. Paulo, Vida Nova, 1986.
4ª edição. 516 p.
CRABTREE, A. R. Teologia do Velho Testamento. R. de Janeiro, JUERP, 1991. 5ª
edição. 310 p.
DANA, H. E. O Mundo do Novo Testamento. R. de Janeiro, JUERP, 1980. 215 p.
DAVIS, J. D. Dicionário da Bíblia. R. de Janeiro, JUERP, 1987. 13ª edição. 660 p.
FRIBERG, B. & FRIBERG, T. O Novo Testamento Grego Analítico. S. Paulo, Vida
Nova, 1987. 860 p.
GINGRICH, F. W. & DANKER, F. W. Léxico do N. T. Grego/Português. S. Paulo,
Vida Nova, 1993. 3ª reimpressão. 228 p.
GUNDRY, R. H. Panorama do Novo Testamento. S. Paulo, Vida Nova, 1987. 4ª
edição em Português. 446 p.
GUNDRY, S. Teologia Contemporânea. S. Paulo, Mundo Cristão, 1987. 2ª edição.
374 p.
HALLEY, H. H. Manual Bíblico. S. Paulo, Vida Nova, 1970. 752 p.
TAYLOR, W. C. Dicionário do Novo Testamento Grego. R. de Janeiro, JUERP, 1986.
8ª edição. 247 p.
ANEXO I:
HILEL, O ANCIÃO
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
parte da mãe. Nada definitivo, no entanto, é conhecido sobre a sua origem, nem em
qualquer lugar ele é chamado pelo nome do seu pai, que talvez tenha sido Gamliel.
Quando Josephus ( "Vita", § 38) fala do bisneto de Hillel, Rabban Shimon ben
Gamliel I, como pertencente a uma família muito célebre (γένους σφόδρα λαμπροῦ),
ele provavelmente se refere à glória que a família teve devido à atividade de Hillel e
Rabban Gamliel Hazaken. Apenas o irmão de Hillel Shebna é mencionado, ele era
um comerciante, enquanto que Hillel se dedicou a estudar a Torah, ao mesmo tempo
que trabalha como um lenhador.
Ética
Ele é popularmente conhecido como o autor de duas frases: "Se eu não sou
por mim mesmo, que será de mim? E quando eu sou para mim, que sou eu? E se
não for agora, quando?" e a expressão da ética da reciprocidade, ou "regra de ouro":
"Não faças aos outros aquilo que não gostarias que te fizessem a ti. Essa é toda a
Torá, o resto é a comentário; agora ide e aprendei."
SHAMAI
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Halachá. Lá, Shammai diz: “Cumprimente cada homem com um semblante alegre e
um sorriso”. Os preceitos morais da Halachá estão associados aos sábios que não
só ensinavam, mas viviam daquela maneira. Aqui, Shammai era um homem com um
sorriso radiante e pronto, que seus colegas e discípulos conheciam tão bem.
Então, como compreender Shammai? Porque ele mesmo não seguia seus
ensinamentos? A resposta encontrada é que Shammai não é o homem dos
“pedidos”. Ele acreditava, assim como na história da conversão do homem apoiado
em um pé só, que, para aprender a Torá não se podia ter pressa, e, se um candidato
a conversão tem pressa, é porque não a merece.
No Talmud se diz: "Que o homem seja sempre humilde e paciente como Hillel e
não exaltado como Shamai.". Isso soa como uma condenação, mas, na verdade,
como um conselho: “Se você é como Shammai, e suas motivações são puramente
por uma questão do Céu e do bem de Israel, então se pode ser tão severo com os
outros como ele era.”. Entretanto, mesmo se não compreendermos Shammai por
completo, podemos compreendê-lo um pouco, Shammai, O Entendido.
ANEXO II:
HERMENÊUTICA JURÍDICA:
Alguns aspectos relevantes da hermenêutica constitucional.
Renata Coelho Padilha Gera
Juíza Federal Substituta no Espírito Santo; Mestre em Direito
Constitucional; Especialista em Direito Civil e Processual Civil;
Professora de Cursos de Graduação e Pós-graduação em
Direito no Espírito Santo.
SUMÁRIO: 1. Introdução; 2. Hermenêutica Jurídica; 2.1. Distinção dos termos
hermenêutica e interpretação; 2.2. Funções da interpretação; 2.3.
(Im)Prescindibilidade da interpretação; 3. Hermenêutica constitucional; 4. Conclusão;
Referências.
1 INTRODUÇÃO
A atividade hermenêutica permeia todo o exercício dos operados do direito,
principalmente, a atuação do magistrado, que é o responsável pela função de “dizer
o direito”, ou seja, de aplicar a norma jurídica ao caso concreto.
O magistrado durante a sua atuação para encontrar a solução do conflito
existente no mundo dos fatos, aplica a norma jurídica, mas para isso deve buscar o
sentido das normas. Como afirma Tércio Sampaio Ferraz Júnior 30, “a determinação
do sentido das normas, o correto entendimento do significado dos seus textos e
intenções, tendo em vista decibilidade de conflitos constitui a tarefa da dogmática
hermenêutica”.
Com isso verifica-se a relevância do tema relacionado à hermenêutica,
principalmente, quando especificada em relação à hermenêutica constitucional.
Entretanto, antes da abordagem dos conteúdos especificamente relacionados à
hermenêutica constitucional, é preciso verificar alguns assuntos que dizem respeito
à hermenêutica jurídica: distinção entre interpretação e hermenêutica, funções da
interpretação e imprescindibilidade da interpretação.
2 HERMENÊUTICA JURÍDICA
2.1 DISTINÇÃO DOS TERMOS HERMENÊUTICA E INTERPRETAÇÃO
30
FERRAZ JÚNIOR, Tércio Sampaio. Introdução ao Estudo do Direito: técnica, decisão,
dominação. São Paulo: Atlas, 3ª Ed, 2001, p. 252.
31
NUNES, Pedro dos Reis. Dicionário de tecnologia jurídica. Rio de Janeiro: Editora Freitas
Bastos, 12ª Ed rev amp e atual, 1990, p. 469 e 513.
32
DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro: teoria geral do direito civil. São Paulo:
a
Saraiva, vol. 1, 18 Ed, 2002, p. 64.
33
GRAU, Eros Roberto. Ensaio e discurso sobre a interpretação/aplicação do direito. São Paulo:
a
Malheiros Editores, 3 Ed, 2005, p. 35.
34
DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro: teoria geral do direito civil. São Paulo:
a
Saraiva, vol. 1, 18 Ed, 2002, p. 63.
35
GRAU, Eros Roberto. Ensaio e discurso sobre a interpretação/aplicação do direito. São Paulo:
a
Malheiros Editores, 3 Ed, 2005, p. 24 e 34.
36
DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro: teoria geral do direito civil. São Paulo:
a
Saraiva, vol. 1, 18 Ed, 2002, p. 62.
a
37
BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constitucional. São Paulo: Malheiros Editores.. 13 Ed.
rev. atual., 2003, p. 437 e 438.
38
GRAU, Eros Roberto. Ensaio e discurso sobre a interpretação/aplicação do direito. São Paulo:
a
Malheiros Editores, 3 Ed, 2005, p. 29.
Vênus de Milo), mas não são as mesmas estátuas. Esse também é o resultado da
interpretação, sendo distinta de acordo com o seu intérprete.
Além do intérprete, a realidade do mundo dos fatos também influencia
diretamente a interpretação constitucional. Konrad Hesse 39 afirma que “A norma
constitucional não tem existência autônoma em face da realidade”. Pode-se concluir
que a hermenêutica constitucional procura a concretização da norma constitucional,
ou seja, a interpretação constitucional considera os fatos do mundo real além objeto
do texto (relevância da realidade concreta do mundo).
A tarefa de hermenêutica constitucional trará conseqüências para toda a
sociedade. Em que pese a afirmação de controle abstrato de constitucionalidade,
ainda assim, haverá o peso dos fatos sobre a interpretação, note-se que a Lei 9.886
trata da possibilidade de realização de perícia e de audiência pública, bem como,
solicitação de informações aos juízos inferiores sobre as conseqüências fáticas de
aplicação da norma.
A importância dos fatos na tarefa de interpretação constitucional é reforçada
pela existência do instituto da modelação dos efeitos da decisão que reconhece a
inconstitucionalidade. O STF pode determinar em que momento no tempo a
inconstitucionalidade começa a produzir efeitos.
A interpretação deve alcançar o objetivo de atualização do texto constitucional.
Quando o intérprete considera os fatos do mundo real, o texto constitucional vê-se
com aplicação a casos diversos. Conforme afirma Paulo Bonavides 40, “interpretar a
constituição normativa é muito mais do que fazer-lhe claro o sentido: é sobretudo
atualizá-la”.
Conforme afirma Konrad Hesse41, é necessária a aplicação de uma
“interpretação construtiva” para garantir a força normativa do texto constitucional,
garantindo a “consolidação e preservação da força normativa da Constituição”.
Entretanto, essa interpretação deve considerar os “fatos concretos da vida”, para o
autor “a interpretação adequada é aquela que consegue concretizar, de forma
39
HESSE, Konrad. A força normativa da Constituição: Die normative Kraft der Verfassung.
Tradução de Gilmar Ferreira Mendes. Porto Alegre: Sérgio Antonio Fabris, 1991, p.14.
a
40
BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constitucional. São Paulo: Malheiros Editores.. 13 Ed.
rev. atual., 2003, p. 483.
41
HESSE, Konrad. A força normativa da Constituição: Die normative Kraft der Verfassung.
Tradução de Gilmar Ferreira Mendes. Porto Alegre: Sérgio Antonio Fabris, 1991, p. 22 e 23.
QUESTIONÁRIO
PRIMEIRA PARTE:
1. Faça um resumo do significado da palavra Hermenêutica:
2. O que é Crítica Textual?
3. O que é Exegese?
4. O que é Homilética?
SEGUNDA PARTE:
1. Quem foi o verdadeiro Autor da Hermenêutica Bíblica? E quando?
2. Qual foi a missão dos profetas relacionada à Hermenêutica?
3. Fale sobre as Sinagogas e sua importância na Hermenêutica Bíblica:
4. Cite algumas características dos judeus palestínicos relacionadas à
Hermenêutica:
5. Cite as sete regras do rabino Hillel para a interpretação bíblica:
6. Cite algumas características dos judeus alexandrinos relacionadas à
Hermenêutica:
7. Cite e explique os quatro tipos principais de exegese judaica antiga:
8. Fale sobre a exegese dos judeus cabalistas:
9. Cite e explique as cinco características da Hermenêutica de Jesus Cristo:
10. Qual o método hermenêutico adotado pelos cristãos da Igreja primitiva?
11. Cite as doze regras agostinianas de interpretação da Escritura:
12. Cite o sentido quádruplo de Agostinho na interpretação bíblica:
13. Quais as características da Hermenêutica na Idade Média?
14. Cite as normas de João Wucliff para a interpretação bíblica:
15. Cite as dez regras de interpretação de Lutero:
16. Quais os perigos hermenêuticos que surgiram no período do confessionalismo?
17. Cite os perigos hermenêuticos surgidos no período moderno:
18. O que significa o termo Ortodoxo?
19. O que significa ‘opção’ em Hermenêutica?
TERCEIRA PARTE:
1. Cite os métodos errados de interpretação da Bíblia:
2. Cite e explique o método correto:
QUARTA PARTE:
1. Cite e explique a Regra Áurea:
2. Cite e explique a Segunda Regra:
3. Cite e explique a Terceira Regra:
4. Cite e explique a Quarta Regra:
5. Cite e explique a Quinta Regra:
6. Cite e explique a Sexta Regra:
7. Cite e explique a Sétima Regra:
8. Cite e explique a Oitava Regra:
9. Cite e explique a Nona Regra:
10. Cite e explique a Décima Regra:
QUINTA PARTE:
1. Fale sobre o Autor divino das Escrituras e cite um texto bíblico:
2. Fale sobre os autores humanos das Escrituras e cite um texto bíblico:
3. Fale sobre o fundo Histórico/Geográfico da Escritura:
4. O que é numerologia bíblica?
5. Faça um resumo do significado dos números estudados na apostila e cite um
texto bíblico para cada um:
6. O que são Dispensações?
7. Quais as duas categorias de Dispensações bíblicas?
8. Faça um resumo da primeira categoria:
9. Quais são as Dispensações da segunda categoria? Em qual estamos?
10. O que são Concertos?
11. Quais as categorias de Concertos bíblicos?
12. Cite os Concertos bíblicos:
13. Quais as categorias de profecias bíblicas?
14. Fale sobre as profecias com relação ao tempo:
15. Quais as linhas escatológicas relacionadas à volta de Cristo?
16. Quais as linhas escatológicas relacionadas ao Milênio?
17. O que são profecias messiânicas? Cite três exemplos:
18. Qual o método mais adequado para a interpretação do Apocalipse? Por que?
SEXTA PARTE:
1. O que são figuras de linguagem? Faça um resumo:
2. O que são Tipos?
3. Quais as características principais dos Tipos?
4. O que são Antítipos?
5. Quais são as categorias de Tipos bíblicos?
6. O que são Símbolos?
7. Quais as categorias de Símbolos bíblicos?
8. O que são Parábolas?
9. Faça um resumo dos principais cuidados na interpretação das Parábolas?
10. O que são Símiles?
11. O que são Metáforas?
12. O que são Alegorias?
13. Faça um gráfico das figuras estudadas:
14. O que é Antropomorfismo?
15. O que é Antropopatismo?
16. O que é Zoomorfismo?
17. O que é Prosopopéia?
18. O que é Hipérbole?
19. O que é Litotes?
20. O que é Metonímia?
21. O que é Sinédoque?
22. O que é Apóstrofe?
23. O que é Ironia?
24. O que é Paradoxo?
24. O que é Interrogação?
25. O que é Pleonasmo?
26. O que é Paranomásia?