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Teologia Bíblica do Novo Testamento 111

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO / 2
SOBRE A NATUREZA DA BÍBLIA / 3
SOBRE A CONSTRUÇÃO DA TEOLOGIA BÍBLICA / 3
CRITÉRIO METODOLÓGICO NO ESTUDO DO NOVO TESTAMENTO / 4

1ª – ETAPA:
AS AÇÕES DE DEUS NO NOVO TESTAMENTO / 6

1. CONTEXTO CULTURAL / 7
1.1. Contribuições vindas do império Greco-Macedônio / 7
1.2. Contribuições vindas do império Romano / 9
1.3. Contribuições vindas dos hebreus / 9
1.4. O ambiente cultural do Novo Testamento / 10

2. CONTEXTO POLÍTICO / 13
2.1. Política governamental israelita: registro veterotestamentário da ascensão e queda / 13
2.2. Política governamental na Judéia sob o domínio dos povos: do período interbíblico ao primeiro século / 14
2.3. Política governamental na Judéia: o primeiro século / 17

3. CONTEXTO ECONÔMICO / 20

4. CONTEXTO RELIGIOSO / 22
4.1. Religiões pagãs: principais características / 22
4.2. Judaísmo: principais características / 23

5. CRISTIANISMO: A RAZÃO DE SER DO NOVO TESTAMENTO / 27


5.1. As diversas origens do Cristianismo / 27
5.2. As primeiras comunidades cristãs / 29

6. TIPOS DE PRODUÇÃO LITERÁRIA CRISTÃ / 32

2ª – ETAPA:
INFORMAÇÕES HISTÓRICAS, HERMENÊUTICAS E DOGMÁTICAS EXTRAÍDAS DO ISOLAMENTO DO NOVO
TESTAMENTO / 37

7. O COMEÇO DA SISTEMATIZAÇÃO TEOLÓGICA / 38

3ª – ESTAPA:
AÇÕES DE DEUS NO CONTEXTO GERAL DAS ESCRITURAS A PARTIR DO NOVO TESTAMENTO / 40

8. PROPÓSITO CÓSMICO DE DEUS / 41

9. DOUTRINAS EXTRAÍDAS NO NOVO TESTAMENTO COM USO DO ANTIGO TESTAMENTO / 43

10. FINALMENTE... A CONSTRUÇÃO TEOLÓGICA: É POSSÍVEL? / 46

CONCLUSÃO / 47

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA / 48
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INTRODUÇÃO

Assim como no caso do Antigo Testamento, não é tarefa das mais fáceis escrever sobre Teologia do Novo
Testamento. Quando falamos em Novo Testamento estamos diante de todo um contexto, uma série de
acontecimentos que só redundaram para a plenitude dos tempos, quando o Salvador encarnou.

Se o significado da palavra “Teologia” é ciência ou estudo que se ocupa de Deus, de sua natureza, de seus
atributos e de suas relações com o homem e com o universo; enfim uma tentativa de estudo sobre as coisas
divinas.

Define-se teologia como uma “tentativa” porque Deus possui atributos que nos possibilita reconhecermo-nos
como sua imagem e semelhança, como por exemplo, o fato de Deus ser uma pessoa, ser Deus pessoal, o
que o torna próximo de nós; mas também possui atributos que parecem torná-lo distante de nós, quase
impossível de nos relacionarmos como Ele, como por exemplo, o fato de que nós somos finitos, Ele é infinito,
nós criaturas, Ele criador. Daí, conclui-se que qualquer informação que o estudioso quiser saber acerca de
Deus, terá que assumir um relacionamento saudável com Ele e receber dele mesmo sua auto-revelação.

Tanto o Antigo quanto o Novo Testamento não apresentam Deus, de uma perspectiva científica, como se
fosse um objeto que pode ser estudado, ao contrário, a Bíblia apresenta histórias que se tornaram um “mega
testemunho” das ações de Deus, de sua iniciativa em relacionar-se com o ser humano por meio de sua auto-
revelação. Portanto, , quando se propõe o desenvolvimento de uma teologia bíblica do Novo Testamento,
todas as conjunturas que fizeram parte da formação desse Novo Testamento precisam ser consideradas, isso
inclui a história, a política, a economia, a cultura de um modo geral e as religiões, até então, existentes.

Daí se deduz que, na verdade, a Teologia Bíblica veterotestamentária e neotestamentária se esmeram na


“tentativa” de interpretar essas ações divinas deixadas como depoimentos de experiências poderosas.

Não há uma teologia do N.T. pronta no sentido de ser o padrão interpretativo, muito pelo contrário, existem
“teologias” que tentam responder às necessidades do contexto de onde surgem, isto é, ao redor do teólogo,
significando que qualquer dessas teologias é fruto de leituras, releituras, interpretações e reinterpretações das
ações de Deus dentro do Novo Testamento e que se estendem até nós.

Em se tratando do Novo Testamento, seu estudo conduz à compreensão de que houve a continuação da
revelação de Deus ao povo hebreu em Jesus Cristo. E foi no próprio Jesus que todo o propósito divino foi
trazido às claras, de modo que o resultado disso foi uma compreensão mais ampla não apenas da auto-
revelação de Deus, como de seu desejo de relacionar-se conosco em eterna comunhão; o que já acontece
entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo.
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Como já ressaltei na introdução da disciplina Teologia Bíblica do Antigo Testamento1, independente de quais
e quantas teologias bíblicas foram, são e serão ainda produzidas, aqui se tratando da Teologia do N.T., o que
une as teologias elaboradas, mesmo com suas particularidades, é a fé como fundamento de todas.

Para não incorrer em alguma injustiça, deixando de apresentar alguma outra proposta teológica cujas
informações sejam mais completas e também por não ser interessante optar apenas por uma interpretação
dentre as várias outras possíveis sobre ações de Deus, nesse material, você estudante, encontrará alguns
dos vários princípios que servem de base para a construção de uma Teologia propriamente dita.

Portanto esse conteúdo objetiva, não exaustivamente, sugerir alguns pressupostos que podem contribuir para
o estudo, desenvolvimento e construção de uma teologia do Novo Testamento. As noções preliminares
necessárias à pesquisa bíblica também o são, e, igualmente, seguem prefaciadas nos próximos tópicos.2

SOBRE A NATUREZA DA BÍBLIA

A Bíblia é ao mesmo tempo humana e divina; é a palavra de Deus dada nas palavras de pessoas na história.3
Como Palavra de Deus possui relevância incontestável para nós, os que cremos, e é capaz de “falar” para
toda a humanidade em todas as culturas, em todas as épocas. Como palavra humana se caracteriza por suas
particularidades históricas, de modo que cada tradição gera sua narrativa oral, que por sua vez se transforma
em texto, que posteriormente se torna documento; e esses documentos são condicionados pela cultura,
língua e época em que originalmente foram escritos; e se caracteriza por suas particularidades literárias, que
foram utilizadas por Deus para fazer-se conhecido. São elas: histórias em narrativas, genealogias, crônicas,
leis e poesias de todos os tipos, provérbios, oráculos proféticos, enigmas, dramas, esboços biográficos,
parábolas, cartas, sermões e apocalipses.

Entender as ações de Deus se torna mais fácil se o estudante compreender que o Soberano escolheu revelar
suas verdades eternas dentro das circunstâncias e eventos específicos da nossa história. Portanto a Bíblia
não é uma série de proposições a serem cridas e imperativos a serem obedecidos como se fossem regras
dadas de forma diretiva e ditatorial vindas da parte de Deus.

SOBRE A CONSTRUÇÃO DA TEOLOGIA BÍBLICA

A principal dificuldade existente nos estudos desenvolvidos na teologia bíblica é o distanciamento


cronológico, de pensamento e cultural entre nós e o homem bíblico. Por isso a tarefa de interpretar as ações

1 Vide apostila da disciplina Teologia Bíblica do Antigo Testamento escrita pelo mesmo autor desta apostila.
2 A proposta é de se usar as mesmas noções preliminares como ferramentas que auxiliam na interpretação e, por conseguinte, na construção
teológica tanto para Antigo quanto Novo Testamento, de modo a desenvolver conteúdos que apresentem estruturas similares. Todavia, isto é de
prerrogativa do autor, o que significa que nem sempre as construções teológicas de outros autores usarão os critérios aqui mencionados, muito
menos com exclusividade para o Antigo ou Novo Testamento.
3 FEE apud LADD, p.17.
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de Deus envolve dois procedimentos: o primeiro é procurar entender o que foi “dito” ao homem bíblico lá; o
segundo é adequar a revelação dada no aqui e agora.4 Para que essas tarefas aconteçam é preciso lançar
perguntas ao contexto, que dizem respeito às características históricas e literárias deste, e ao conteúdo,
buscando respostas nos significados das palavras e nos relacionamentos gramaticais nas frases.5 O
resultado esperado é sempre a descoberta ou a proximidade da intenção original juntamente com uma
sugestão de aplicabilidade à nossas próprias situações.

CRITÉRIO METODOLÓGICO NO ESTUDO DO NOVO TESTAMENTO

Em se tratando da construção de uma teologia do Novo Testamento, basicamente o procedimento de


pesquisa é o mesmo que seria usado se tratasse do Antigo Testamento. Aqui o estudo volta-se para a
compreensão da história e da formação do N.T, seguida da percepção das ações divinas. Portanto saber
definir o critério metodológico é imprescindível. São eles o caminho e o método. No caminho a ser tomado
para a pesquisa teológica do N.T. o estudante pode:

1º- Interpretar as ações de Deus nas Escrituras;


2º- Interpretar isoladamente as ações de Deus no Novo Testamento;
3º- Reunir as informações históricas, hermenêuticas e dogmáticas (se houverem) e inseri-las no contexto das ações
de Deus em todas as Escrituras;

Ou

1º- Interpretar isoladamente as ações de Deus no Novo Testamento;


2º- Reunir as informações históricas, hermenêuticas e dogmáticas (se houverem);
3º- Interpretar as ações de Deus nas Escrituras inserindo as informações reunidas do N.T.

O método ou os métodos fazem parte da contribuição dada pela hermenêutica, que é a ciência ou técnica que
tem por objeto a interpretação de textos religiosos ou filosóficos. No que diz respeito à interpretação das
Escrituras Sagradas, usam-se métodos, e os mais conhecidos na árdua tarefa da construção teológica são: o
histórico-gramatical e o histórico-crítico. A tarefa de ambos é a tentativa de estabelecer, com o máximo de
esforço e fidelidade possível, o teor original do texto a ser estudado, de modo a se aproximar do texto
definitivo. Para isso os métodos levam em conta até as possíveis alterações textuais involuntárias e as
voluntárias, incluindo possíveis acréscimos, modificações e/ou omissões de palavras na comparação dos
textos atuais com o que pode vir a ser o texto original.

E mesmo que as concepções quanto à autoria e datação sejam diferentes, ambos os métodos admitem que é
preciso considerar o contexto cultural, político e religioso, seguido de sua produção literária para se conseguir
entender as tradições experimentadas e ensinadas.

4 FEE, p.19.
5 Ibidem, p.22.
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Os respectivos métodos mencionados são essencialmente diferentes. O método histórico-gramatical produz


uma história linear, sem interrupções quanto à leitura, buscando a particularidade que cada livro possui de
modo que sua característica principal é a erudição e as informações sustentadas pela tradição; com isso a
história, além de ser algo seqüencial, é vista como se fosse um mega-diário, situações do dia-a-dia relatadas,
como se fossem o acúmulo de informações de um só autor ou de alguns autores. Já o método histórico-crítico
trabalha com perícopes, fragmentos, fontes e relatos isolados. Como conseqüência o conjunto de narrativas
não é visto como uma história com características modernas e as epístolas não são tratados teológicos
completos e, sim, “teologia de tarefa”;6 visaram apenas tentar responder às necessidades de seu contexto;
nunca tiveram a intenção de se tornarem o que se conhece hoje.

No que tange às peculiaridades o método histórico-gramatical, principalmente, atém-se as informações da


tradição, tendo por finalidade priorizar os textos, para, por fim, avaliar o contexto religioso, político, social e
educacional. O método histórico-crítico analisa o material bíblico buscando respostas em nomes, divisões e
conteúdos, tendo por finalidade priorizar o contexto religioso, político, social e educacional, para, por fim,
voltar-se para os textos como um todo.

Espera-se que as noções preliminares, aqui, apresentadas, sobre a dupla natureza da Bíblia e sobre a
construção da teologia bíblica, juntamente com o critério metodológico atuando como “bússola” facilitem para
o estudante em sua pesquisa e construção de uma teologia do Novo Testamento.

A opção pelo caminho para a elaboração teológica será: 1) interpretar isoladamente as ações de Deus no
Novo Testamento; 2) reunir as informações históricas, hermenêuticas e dogmáticas (se houverem) no
contexto das ações de Deus no Novo Testamento; e por fim 3) interpretar as ações de Deus nas Escrituras
como um todo a partir do Novo Testamento. Para tanto se propõe a apresentação das teorias derivadas de
cada momento do caminho escolhido para a construção teológica, por etapas.

6 FEE, p.32.
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1ª – Etapa:

As ações de Deus no Novo Testamento


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CONTEXTO CULTURAL

C
ompreender o contexto do período denominado como Novo Testamento implica em saber o caminho
percorrido pela história do povo de Israel nas conjunturas política, econômica e religiosa. Basicamente, os
capítulos que são apresentados promovem a tentativa de reconstrução da linha do tempo expondo os
grandes momentos vividos pelos israelitas no período que vai desde o do Antigo Testamento, passando pelo
período interbíblico até chegar à época do Novo Testamento.7

Devido a inter-relação entre as conjunturas não é possível descrever um contexto de forma totalmente isolado
do outro. Não há como admitir a estrutura de funcionamento de uma sociedade qualquer, e neste caso, mais
especificamente a do N.T. sem pressupor os fatores concernentes à essas conjunturas por trás. O contexto
cultural é apresentado de forma panorâmica, como fruto das influências políticas, econômicas e religiosas em
graus variados.

O mundo neotestamentário era ativo e estimulante. Todos os caminhos levavam a Roma e os Césares, os
governantes supremos, dominavam a maior parte do mundo habitado. Essa foi a época chamada pela Bíblia
de plenitude dos tempos,8 quando encarnou e nasceu o nosso Salvador Jesus. Esse tempo é assim
chamado, dentre outras razões, também porque nos anos que precederam a vinda de Cristo, alguns povos
trouxeram contribuições importantes para o mundo de então ao mesmo tempo em que proporcionaram, ainda
que sem se dar conta disso, mudanças culturais para a pregação do evangelho que viria ser anunciado. As
contribuições foram dadas no campo intelectual, da comunicação e linguagem com os gregos e na
organização político-social com os romanos e no campo religioso pelos hebreus. Todavia, é importante frisar
que as contribuições não se deram apenas num âmbito bom, influências negativas também aconteceram.

1.1. Contribuições vindas do império Greco-Macedônio

Através do comércio, os gregos foram a todas as partes; sua influência era tamanha que é possível afirmar
que os romanos governavam politicamente no primeiro século, mas a mentalidade dos povos desse império
era fundamentalmente moldada pelos gregos. A contribuição grega se deu principalmente quando sua língua
se tornou o idioma comum e sua cultura o padrão para o pensamento e a conduta de vida da época. Tudo
isso ocorreu após o surgimento de Alexandre da Macedônia ou o Grande. Ele conseguiu dominar o mundo
antigo habitado implantando a língua e a cultura grega em muitas cidades sob seu domínio, além de fundar

7 PEDRO, p.34.
8 Cf. epístola aos Gálatas 4:4.
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cidades gregas por onde passava; dentre elas Alexandria no Egito.9 Com a proposta de helenização, mesmo
após a morte de Alexandre a Bíblia Hebraica foi traduzida para o grego. Na época de Ptolomeu Filadeufo, um
dos sucessores do império Ptolomeu, oriundo, da divisão do império Greco-Macedônio após a morte de
Alexandre, as Escrituras Hebraicas foram traduzidas para o grego em Alexandria,10 possivelmente em
benefício de Judeus que compreendiam melhor o grego que o hebraico.11 Setenta e dois eruditos judeus
fizeram a tradução que veio a ser chamada de Septuaginta, onde no começo foi feita a tradução do
Pentateuco, mais tarde o restante do Antigo Testamento. Essa tradução possibilitou o ensino a todos os que
sabiam ler.

Na época do Novo Testamento, o grego era a língua comumente falada nas ruas e até na própria Roma. O
cidadão pobre, pertencente à última classe do povo falava o latim, mas a grande massa de escravos e de
livres falava o grego.

Na época de Antíoco Epifânio, um dos sucessores do império Selêucida, oriundo, também da divisão do
império Greco-Macedônio após a morte de Alexandre, permitiu que, sob seu domínio, na Palestina fosse
erigido um ginásio com uma pista de corridas onde jovens judeus se exercitavam despidos como os gregos,
para a vergonha de judeus piedosos. As competições dos corredores eram iniciadas com invocações às
divindades pagãs, tendo muitos sacerdotes judeus participado de tais práticas.12

O processo de helenização incluía, ainda, a freqüência aos teatros gregos, a adoção de vestes do estilo
grego, a cirurgia que visava a remoção das marcas da circuncisão e a mudança de nomes hebreus para
nomes gregos. Com o tempo, os sacrifícios pagãos tomaram proporção como os cortejos em honra à Dionísio
(Baco para os romanos), o deus grego do vinho. Também um altar foi construído para Zeus de modo que o
Templo de Jerusalém passou a ser o Templo de Zeus, de maneira que os animais que antes eram
abomináveis pela Lei de Moisés foram sacrificados neste altar e a prostituição “sagrada” passou a ser
praticada no recinto do Templo de Jerusalém. Os judeus que se opunham à helenização eram chamados de
Hasidim que, grosso modo, pode ser comparado a “puritano”.13

No mais, a filosofia preparou o caminho para a vinda do Cristianismo por ter levado à destruição as antigas
religiões, incluindo o velho culto politeísta que havia sido destruído no século VI a.C.. 14 No período de
ascensão do Evangelho os apóstolos anunciavam em aramaico (língua falada na Judéia) e grego (língua
falada fora das fronteiras da Judéia, tanto por judeus que moravam fora quanto pelos não judeus, também

9 MIRANDA, p.27.
10 O mundo do Novo Testamento, página 10, do capítulo 1: História do Novo Testamento.
11 Panorama do Novo Testamento, página 5, do capítulo 1: História Política Intertestamentária e do Novo Testamento (autor desconhecido por se

tratar de extrato xerocado do material de consulta bibliográfica sobre introdução à Bíblia e Novo Testamento cedido pela Faculdade Evangélica de
Teologia – FATE-BH).
12 Ibidem, p. 5.
13 Ibidem, p.5.
14 ALEX, p.17.
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chamados de gentios); e os demais autores do Novo Testamento usaram o grego para registrar seus
escritos, acrescentando significado novo às palavras, de maneira a transmitir a mensagem de vida espiritual
para seus leitores.15

1.2. Contribuições vindas do império Romano

A contribuição romana se deu por seu sentido de unidade submetida à uma lei universal, em outras palavras,
Roma primava pela unidade política, de modo a se destacar por seu apego à lei e à ordem. O amplo território
era administrado por províncias e distritos e supervisionado de perto pelos governadores. Abaixo, encontram-
se listadas as contribuições romanas para a propagação do cristianismo16.

1) Um passo adicional para se estabelecer a idéia de unidade política foi a garantia de cidadania romana aos não
romanos.

2) A ênfase na lei a na ordem, apoiada por um poderio militar superior, trouxe paz durante o reinado de César Augusto.
Foi nessa época que, segundo o Evangelho escrito por Lucas, que Maria deu à luz seu primeiro filho, Jesus, no
vilarejo de Belém, província romana da Judéia.

3) O sistema viário romano colaborou grandemente para tornar as viagens fáceis e seguras por todo o império. As
estradas eram bem pavimentadas possuindo boa drenagem e eram, geralmente, patrulhadas por soldados. Essas
estradas iam do fórum a todas as regiões do império.

4) A movimentação livre em torno do mar Mediterrâneo foi proporcionada com as intervenções militares que baniram
os piratas.

O império romano trouxe outras contribuições que serão vistas nos próximos capítulos concernentes aos
contextos ou conjunturas que se traduziram nos estágios que prepararam a chegada do cristianismo.

1.3. Contribuições vindas dos hebreus

A contribuição hebraica começou com a institucionalização do judaísmo, a religião oficial dos israelitas e que
teve seu início durante o exílio assírio-babilônico.17 Judaísmo diz respeito a uma dimensão religiosa e moral,
com doutrinas, ensinamentos, regras e costumes próprios dos israelitas, aqui chamados judeus, e que abarca
todo o sistema de vida política, social e educacional.18

Após o cativeiro babilônico alguns judeus, aos poucos, foram espalhados pelo mundo antigo. O resultado
dessa Grande Dispersão ou Diáspora é que aonde quer que fossem, anunciavam a adoração ao único Deus

15 PEDRO, p.15.
16 ALEX, p.16-17 e PEDRO, p.15.
17 ALEX, p.17.
18 Ibidem, p.17.
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verdadeiro.19 Então dois aspectos em particular, o monoteísmo (crença em um único Deus) e a Lei de
Deus, fizeram com que os judeus se destacassem em meio às sociedades pagãs.

Como conseqüência, nos anos seguintes o caminho já estava preparado para o nascimento de Cristo e para
que os apóstolos levassem adiante a sua pregação. As palavras, as idéias e as mensagens em si não eram
totalmente novas, desconhecidas; ao contrário, as pessoas já tinham ouvido falar e algumas delas já haviam,
inclusive, sido lidas, pois a Bíblia Hebraica, posteriormente chamada de Antigo Testamento Cristão, fora
traduzida para o grego, como vimos.

Todas as classes possuíam um anseio desesperado por certezas como: vitória sobre a morte, o destino após
a morte, a redenção do mal, a purificação espiritual e a união com Deus.20 As conquistas romanas levaram
muitos povos à falta de fé em seus deuses. Uma vez que eles não foram capazes de protegê-los dos
romanos, abriu-se uma grande oportunidade para a mensagem cristã. Assim se tornou gritante a
degeneração moral e religiosa, o que provocou um profundo desejo de redenção. Como a religião estatal era
muito formal e não satisfazia o desejo das pessoas, surgiu neste cenário o cristianismo proclamando o
perdão, a salvação e a paz, enfocando a vida, a morte e a ressurreição de Jesus Cristo. Assim o cristianismo
apresentava a proposta para a necessidade espiritual e para o vazio moral da humanidade.21 Todavia isso só
foi possível porque os judeus, anteriormente, já pregavam a crença no Deus único.

1.4. O ambiente cultural do Novo Testamento

Alguns pesquisadores acreditam que 7% da população de todo o império Romano era constituída de judeus.
Havia mais judeus em Alexandria, no Egito, do que na Palestina e mais na Síria do que em Jerusalém.22 O
império era dividido em ocidental, onde prevalecia o latim, e oriental, onde prevalecia o grego. Os habitantes
de Palestina, além de conhecerem estes idiomas falavam, ainda, o aramaico e o hebraico. Daí a sugestão de
que Jesus era trilíngue.23

No campo dos transportes, do comércio e das comunicações, a Palestina era pouco desenvolvida.
Provavelmente o país não possuía estradas pavimentadas, embora houvesse muitas principais. Embora as
estradas fossem precárias, por quase todo o império Romano eram construídas tão retas quanto possível e
eram muito duráveis. Os primeiro missionários, o correio imperial e as empresas particulares tiveram grande
proveito no uso desse sistema terrestre de transporte.24

19 DUNMETT, p14.
20 O mundo do Novo Testamento, página 11, do capítulo: O Mundo Greco-Romano (autor desconhecido por se tratar de extrato xerocado do
material de consulta bibliográfica sobre a história do cristianismo cedido pelo Seminário Teológico Rhema).
21 DUNMETT, p.15.
22 Panorama do Novo Testamento, página 23, do capítulo 2: O Ambiente Secular do Novo Testamento (autor desconhecido por se tratar de extrato

xerocado do material de consulta bibliográfica sobre introdução à Bíblia e Novo Testamento cedido pela Faculdade Evangélica de Teologia –
FATE-BH).
23 Panorama do Novo Testamento, página 23, do capítulo 2: O Ambiente Secular do Novo Testamento.
24 Ibidem, p.25.
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Os transportes comerciais se davam via mar. O Egito era o fornecedor de pão do Império. Estradas, rios e
o mar Mediterrâneo proviam as linhas de comunicação. Os materiais de escrita para documentos e cartas
pessoais simples eram o papiro, os óstracos (pedaços quebrados de cerâmica) e tabletes recobertos de cera;
no caso de documentos mais importantes usava-se o pergaminho (feito de couro). A maior parte da
comunicação dava-se oralmente por meio de arautos ou notificações públicas colocadas em quadros de
boletim.25

No que se refere aos serviços públicos, Alexandria contava com um bem desenvolvido sistema escolar; sua
biblioteca possuía acima de um milhão de volumes. Antioquia, na Síria, dispunha de dois quilômetros e meio
de ruas dotadas de colunas, pavimentadas de mármore e com completo sistema de iluminação noturna. As
principais cidades contavam com sistema de esgoto subterrâneo, e os banhos eram públicos.26

Quanto às moradias, as casas da porção ocidental do Império eram construídas de tijolos ou de concreto nas
cidades. Na porção oriental, as casas usualmente eram de massa preparada com gessa, água e cola e tijolos
cozidos ao sol. O habitante típico da Palestina dispunha de um apartamento em algum edifício, o qual
contava com muitos apartamentos no nível do chão.27

Já a alimentação revelava as diferenças culturais e econômicas. Os romanos tinham quatro refeições ao dia e
os judeus costumavam ter somente duas refeições formais. Também na divisão de classes sociais, a
diferença de poder aquisitivo era gritante. Os aristocráticos proprietários de terra e os contratadores do
governo viviam no luxo e a classe dos trabalhadores era composta pelos escravos, que nas épocas de
recessão eram transformados num montante populacional sem lar e sem alimento nas cidades. Entre os
judeus, os sacerdotes e os rabinos formavam a classe mais alta. Fazendeiros, artesãos, e pequenos
negociantes compunham a maior parte da população. Havia uma fatia social denominada “publicanos” que
não eram bem vistos pelo restante da sociedade por seu ofício de cobrar os impostos para Roma28.

A atividade trabalhista era intensa. Grêmios profissionais, com suas divindades patronas, prefiguravam as
modernas uniões trabalhistas. Ocupavam-se de intrigas políticas, prestavam auxílio a seus membros e
socorriam viúvas e órfãos de membros já falecidos pela distribuição de benefícios. A indústria limitava-se a
pequenas oficinas locais, já a agricultura era avançada. Companhias particulares exploravam a atividade
bancária emprestando, descontando notas, cambiando moeda estrangeira e expedindo notas de crédito.29

Sobre a ciência, embora os judeus não se interessassem por esse tipo de assunto, ela já existia. Já no século
III a.C. em Alexandria já havia matemática relativamente avançada, onde se calculava a circunferência da

25 Panorama do Novo Testamento, página 25, do capítulo 2: O Ambiente Secular do Novo Testamento.
26 Ibidem, p.25.
27 Ibidem, p.26.
28 Ibidem, p.28, 29.
29 Ibidem, p.33-34.
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terra e sua distância em relação ao sol; e a medicina também já praticava cirurgia no crânio, traqueotomias
(incisão na traquéia), e amputações. No campo da odontologia, preenchiam-se cavidades dos dentes com
ouro e as dentaduras provinham das bocas de pessoas ou animais já falecidos.30

Finalmente, acerca do entretenimento, talvez a forma mais diferente de diversão fosse a luta dos gladiadores.
Havia também a corrida de bigas que sugerem nossa corrida de automóveis de hoje; os Jogos Olímpicos
desde muito tempo já vinham atraindo expectadores aos eventos esportivos. Havia boa música e boa
literatura; e a freqüência era certa nas peças teatrais maliciosas que refletiam a imoralidade da época. As
crianças brincavam com chocalhos infantis, bonecas com membros móveis, casas e móveis em miniatura,
bolas, balanços e jogos similares à amarelinha, esconde-esconde e cabra-cega.31

Essa era a vida dentro e fora da Palestina do primeiro século; a realidade cultural no período do Novo
Testamento. Toda essa estrutura e estilo social eram sustentados pelas conjunturas política, econômica e
religiosa. Veremos, detalhadamente, nos capítulos a seguir o modo como uma sociedade foi organizada, em
função das instituições básicas e das atividades e relações que vigoram entre estas. Especificamente próximo
capítulo mostra o contexto político da Palestina.

30 Panorama do Novo Testamento, página 34, do capítulo 2: O Ambiente Secular do Novo Testamento.
31 Ibidem, p.33.
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CONTEXTO POLÍTICO

A
organização política, como aconteceu com todos os demais povos, foi sendo gradativamente transformada,
adequando-se às necessidades do contexto vivido.

2.1. Política governamental israelita: registro veterotestamentário da ascensão e queda

A história do governo israelita, após a conquista de Canaã, posteriormente chamada de Palestina, os


israelitas ou hebreus viviam num sistema de confederação, isto é, uma associação estável de tribos
autônomas com líderes patriarcais que, no interesse comum, punham-se sob a dependência de um governo
central, conservando, porém, a sua autonomia em outros domínios.

À medida que outros povos foram se organizando monarquicamente os hebreus também promoveram sua
modificação na organização. A monarquia israelita iniciou-se por volta do ano 1000 a.C. com o rei Saul,
passando para uma fase de amplo crescimento com o rei Davi, atingindo seu apogeu com o rei Salomão. Por
volta de 935 a.C. dez das doze tribos se revoltaram com os altos impostos; rebelando-se contra o rei Roboão,
filho de Salomão, formando o reino independente de Israel ao norte. As duas tribos restantes, ao sul,
formaram o reino de Judá.

O reino de Israel, enfraquecido pelas revoltas internas das camadas populares e pelas constantes guerras
com Judá, foi dominado e totalmente extinguido em 723 a.C. pelo império da Assíria. O remanescente, isto é,
o que sobrou do povo nunca mais conseguiu se fortalecer politicamente ao ponto de se restabelecer como
reino independente. Já o reino de Judá, após sofrer dois ataques do império Babilônico (605 e 597 a.C.), caiu
definitivamente em 586 a.C., período em que Jerusalém é destruída, estando à mercê somente de mais um
ataque em 582 a.C. Como conseqüência de todos esses ataques o povo foi levado cativo para a Babilônia 32.
Assim a monarquia deixou definitivamente de existir entre os israelitas.

O fim do Cativeiro Babilônico se deu quando os judeus recobraram certa independência sob o comando de
Ciro, período em que a Pérsia conquistou a Babilônia. Desse momento em diante nova organização política
se instalou entre os israelitas, agora chamados de judeus: a região da Palestina onde habitavam, passou a
ser denominada como Judéia e organizada como província, isto é, país ou região conquistado pelo império
que estiver dominando,33 tornando-se uma das grandes divisões administrativas, que era governada por um
representante do império. E assim foi durante o domínio dos impérios Persa, Grego e Romano.

32 MIRANDA, p.23.
33 Dicionário Eletrônico Aurélio.
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O fim do relato veterotestamentário ocorre com o império Persa ainda no poder. O rei Ciro permitiu aos
judeus voltar à terra para reconstruir o templo em 538 a.C.. Ester, a judia, tornou-se rainha em 470 a.C.,
Esdras e Neemias respectivamente em 456 e 443 a.C. voltaram ao país para instituírem as reformas.34 No
decorrer dos anos finais do império Persa, o sumo sacerdote judeu é que governava a Judéia, sob a tutela do
governador persa.

2.2. Política governamental na Judéia sob o domínio dos povos: do período interbíblico ao primeiro
século

O período de tempo entre o final da história registrada no Antigo Testamento e o primeiro século, quando se
inicia a história registrada no Novo Testamento é estabelecido como o período interbíblico, também chamado
por muitos de intertestamentário. Esse momento da história deixa sua marca política através dos influentes
personagens que dominaram as nações, inclusive a região da Judéia, sendo denominados como os
representantes das grandes potências mundiais. Cada uma em sua época, por meio do domínio, foi
transformada em impérios. São eles: Alexandre o Grande, os Ptolomeus do Egito, os Selêucidas da Síria, os
Macabeus na própria Judéia e os Romanos.

 Império Grego

A queda do império Persa aconteceu quando Alexandre da Macedônia entrou em guerra contra a Pérsia e
venceu. Seu pai, Felipe da Macedônia morreu assassinado quando ia entrar em guerra contra a Pérsia. O
jovem imperador, assim chamado pelo poder que exercia sobre um vasto império que estabeleceu,
consolidou o governo na Macedônia, Grécia, Síria, Palestina, Egito e a própria Pérsia.35

Na verdade os gregos já propagavam sua influência mediante o comércio e a colonização dos gregos.
Alexandre fundou cerca de setenta cidades moldando-as ao estilo grego. Assim ocorreu a ascensão do
império Grego que, posteriormente, se dividiu em quatro. Desses quatro, destaque para dois impérios: os
Ptolomeus e os Selêucidas.

Com a morte de Alexandre em 323 a.C., não houve sucessor direto ao trono, assim quatro de seus generais
dividiram o império. Dois deles, Ptolomeu e Seleuco I influenciaram o governo da Palestina. Após algumas
lutas entre esses generais, o Egito caiu nas mãos de Ptolomeu Sóter, que formou seu império e dinastia
própria e que governou sobre a Palestina por de 22 anos. O centro desse império era o Egito, cuja capital era
Alexandria (cidade fundada por Alexandre). Já o império Selêucida tinha por centro a Síria e Antioquia por
capital. Alguns governantes da dinastia receberam o título de Seleuco, outros foram chamados de Antíoco.

34 O mundo do Novo Testamento, página 9, do capítulo 1: História do Novo Testamento (autor desconhecido por se tratar de extrato xerocado do
material de consulta bibliográfica sobre a história do cristianismo cedido pelo Seminário Teológico Rhema).
35Ibidem, p.9.
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 Impérios: Ptolemaico e Selêucida

O primeiro imperador, Ptolomeu Sóter, foi duro com os judeus empregando em várias partes de seu reino
altos impostos. Seu sucessor, Ptolomeu Filadeufo, foi amável para com os judeus promovendo artes e o
desenvolvimento império em todos os aspectos. Cleópatra, que morreu no ano 30 a.C. foi a última governante
da dinastia dos Ptolomeus.36

Toda a tentativa dos Selêucidas para a conquista da Palestina, quer por invasão, quer por alianças
matrimoniais, fracassaram37 e com o passar do tempo cresceram as rivalidades entre os reis do Egito, os
Ptolomeus e os da Síria, os Selêucidas. A rivalidade atingiu seu ponto alto nos reinados de Ptolomeu
Filópater e Antíoco o Grande. Filópater venceu Antíoco numa batalha nas proximidades de Gaza e iniciou
intensa perseguição contra os judeus em Jerusalém e no Egito. Em sua morte seu filho de 5 anos, Ptolomeu
Epifânio, sucedeu-o. Antíoco o Grande, também chamado de Antíoco III derrotou o Egito em 198 a.C.
Encerra-se aqui o império Ptolemaico.38

Após a derrota, o Egito solicitou ajuda de Roma que entrou em batalha obrigando a saída de Antíoco o
Grande e a evacuação de toda a região do ocidente. Após a morte de Antíoco o grande, o trono foi sucedido
por Seleuco Filópater e a seguir por Antíoco Epifânio, também chamado de Antíoco IV, tendo início uma das
mais sombrias épocas da história judaica.

Apesar de algumas tentativas aparentemente bem sucedidas de Antíoco Epifânio anexar o Egito, acabou não
conseguindo. Não era do interesse de Roma que o império Selêucida se tornasse mais forte. Contudo, no
transcorrer de seu governo Antíoco objetivou cumprir um processo de helenização dos judeus, isto é, neste
caso, forçar a entrada da cultura grega ao ponto de suplantar a cultura hebraica. Para isso substituiu o sumo
sacerdote Onias III por seu irmão Jesus, que mudou seu nome para Jasão, indicando sua concordância na
atitude do imperador de impor a cultura e a religião grega. Algum tempo depois o próprio Antíoco substituiu
Jasão por Menelau que, posteriormente com a falsa notícia da morte de Antíoco, teve seu cargo retomado
das mãos do próprio Jasão.

Toda essa disputa resultou no saque do Templo em Jerusalém, na morte de muitos judeus, na coleta de
pesados tributos sobre os sobreviventes, no estabelecimento do paganismo à força e no decreto que tornava
o judaísmo uma prática ilegal. A mera posse de uma cópia da Lei se tornou ofensa para morte.

36 O mundo do Novo Testamento, página 4, do capítulo 1: História do Novo Testamento (autor desconhecido por se tratar de extrato xerocado do
material de consulta bibliográfica sobre a história do cristianismo cedido pelo Seminário Teológico Rhema).
37 Panorama do Novo Testamento, página 5, do capítulo 1: História Política Intertestamentária e do Novo Testamento (autor desconhecido por se

tratar de extrato xerocado do material de consulta bibliográfica sobre introdução à Bíblia e Novo Testamento cedido pela Faculdade Evangélica de
Teologia – FATE-BH).
38 Ibidem, p.5.
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 Os Macabeus: da revolta à ascensão ao governo com a dinastia Hasmoneana

Os judeus resistiram e uma família de classe sacerdotal, chamada asmoneus,39 cujo sacerdote e patriarca era
Matatias. Matatias recusou-se a fazer sacrifício pagão matando outro judeu que se apresentou a fazê-lo e o
agente real e fugiu em companhia de seus cinco filhos para as regiões montanhosas dando início à Revolta
dos Macabeus.

A revolta dos Macabeus foi uma guerra contra a Síria, mas com disputas internas e entre os partidários a
favor e os contrários ao helenismo. Judas Macabeus, um dos filhos de Matatias encabeçou a guerrilha
pedindo ajuda aos romanos, entretanto morreu em combate antes que a ajuda chegasse. Seu irmão e
sucessor, Jônatas, derrotou a Síria e tornou-se o comandante da Judéia. Com sua morte foi sucedido por
outro irmão, Simão. Os romanos fizeram de Simão governador da Judéia e seu trono passou a ser
hereditário. Por essa ocasião, finalmente os Macabeus recuperaram a liberdade religiosa, consagraram
novamente o Templo, conquistaram a Judéia e expulsaram as tropas sírias de Jerusalém. Encerra-se aqui o
império Selêucida.40 O sucessor de Simão foi seu filho, João Hircano. Alguns anos mais tarde, após sua
morte, os netos Hircano e Aristóbulo lutaram pelo trono; os romanos preferiram Hircano e Pompeu, general
romano, tomou Jerusalém de Aristóbulo.

 Império Romano

O império Romano foi expandido através do primeiro triunvirato, isto é, governo formado por três pessoas que
ocupam a mesma posição: Pompeu, Crasso e Júlio César. Com o tempo Júlio César se tornou governante
único. Ele recolocou Hircano no trono de Jerusalém e nomeou Antípatro, cidadão da Iduméria, como
procurador sob as ordens de Hircano. Os dois filhos de Antípatro, Faselo e Herodes tornaram-se os
governadores da Judéia e da Galiléia.

No ano seguinte Antípatro morreu envenenado e três anos mais tarde Júlio César teve o mesmo destino.
Então Otávio (sobrinho de César, que veio a ser conhecido mais tarde como Augusto), Marco Antônio e
Lépido formaram o novo triunvirato. Antônio, que governou a Síria e o Oriente, favoreceu a Herodes levando
sua família ao poder. Herodes casou-se com Mariana, neta de Hircano, e tornou-se parte da família
macabéia.

Por esse tempo, Antígono, filho de Aristóbulo, cortou as orelhas de seu tio, o sumo sacerdote e governador
de Jerusalém, Hircano, e perseguiu Herodes. Herodes foi a Roma e descreveu aos romanos a desordem.
Antígono foi morto acabando para sempre com o governo dos macabeus ou asmoneus, e Herodes foi
nomeado rei em Jerusalém. Algum tempo depois com a morte de Marco Antônio Herodes estendeu seu poder

39 Também pode se escrever “hasmoneus”, sendo chamado por alguns autores de Hasmoneanos por causa de Hasmom, bisavô de Matatias ou
“Macabeus” (apelido dado a Judas, um dos cabeças da guerrilha contra o império Selêucida).
40 O mundo do Novo Testamento, páginas 12 e 13, do capítulo 1: História do Novo Testamento.
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a toda a Judéia. Assim, do ponto de vista político Roma põe fim à relativa autonomia judaica dos
macabeus. Encerra-se aqui a dinastia Hasmoneana ou Macabéia.

2.3. Política governamental na Judéia: o primeiro século

Assim, enquanto província, a Palestina41 no primeiro século da era cristã foi governada pela dinastia
herodiana.42 Poucos anos antes do nascimento de Jesus, Herodes, o Grande, como rei dos judeus reinou
entre 37 a 4 a.C. Seu governo foi marcado pela existência da polícia secreta, toque de recolher, pesados
impostos43, intrigas e derramamento de sangue, incluindo o episódio da matança das crianças.44 Entre seus
muitos projetos de edificação encontra-se a reforma do Templo dos judeus numa tentativa de acalmar a
hostilidade do povo. Com sua morte, seus filhos passaram a governar porções separadas da Judéia.

Arquelau tornou-se etnarca da Judéia, Samaria e Iduméia, o mesmo que governador de províncias
relativamente autônomas, um título exclusivamente romano. Herodes Filipe tornou-se tetrarca, ou seja,
responsável por uma ou algumas ou todas as quatro partes administrativas estabelecidas pelo governo
romano, que nesse caso dividiu a região e entregou para Filipe a Ituréia, Traconides, Gaulanites, Auranites e
Batanéia45 e Herodes Antipas, que governou entre 4 a.C. a 39 d.C. como tetrarca da Galiléia e da Peréia, que
excepcionalmente nesse caso era formada apenas por essas duas regiões.46

A terceira geração a reinar foi Herodes Agripa I, sobrinho de Herodes Antipas, neto de Herodes, filho de
Aristóbulo o Grande. Sucedeu seu tio e governou sobre a Galiléia, Samaria e Judéia. Seu reinado foi
abreviado por morte repentina; durou apenas entre os anos 34 a 44 d.C..47 O último da dinastia foi Herodes
Agripa II, bisneto de Herodes o Grande, que reinou entre 50 a 100 d.C..48

Mesmo em meio a essas circunstâncias políticas os judeus eram governados pelo próprio sacerdócio judaico,
representado pelo sacerdote primaz e sua corte no grande Sinédrio em Jerusalém. O Sinédrio representava o
poder e a classe dominante em todos os aspectos: ideológico, político, econômico, espiritual e religioso. Essa
instituição era composta de setenta membros e seu presidente, o sacerdote primaz. O conselho era formado

41 Aqui fazemos uso do nome Palestina com o mesmo propósito de Néstor O. Míguez, o de facilitar na referência para o leitor. Na verdade a região
integrada por Judéia, Samaria e Galiléia sofreu diversas divisões e formas de administração política segundo distintos momentos da dominação
romana. Só recebeu o nome “Palestina” após a derrota da resistência judaica no ano 135d.C. como forma de condenar a memória dos judeus
dando à região um nome derivado de seus inimigos históricos, os filisteus.
42 PEDRO, p.16.
43 O mundo do Novo Testamento, página 15, do capítulo 1: História do Novo Testamento.
44Cf. Evangelho de Mateus 2.
45 Observe que mesmo na tetrarquia que deveria obedecer ao critério de ser formada por quatro regiões, as divisões políticas sobrepujavam,

passavam por cima de suas próprias determinações administrativas.


46 Dos filhos de Herodes, o mais mencionado nos evangelhos é Antipas. Foi esse Herodes que João Batista acusou de ter se casado

irregularmente com sua cunhada Herodias (Mateus 14:1-12), e que tomou parte do julgamento de Cristo em Jerusalém (Lucas 23:7-12).
47 De acordo com a narrativa do livro dos Atos dos Apóstolos, foi ele quem mandou matar Tiago, filho de Zebedeu, e ordenou o encarceramento

de Pedro.
48 O seu nome é mencionado ao longo da narrativa do julgamento de Paulo perante Festo, em Cesaréia (Atos 25 e 26). Juntamente com Festo,

Herodes Agripa II pronunciou um veredicto de absolvição de Paulo.


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por três grupos: 1) os sumo sacerdotes, 2) os senadores seculares (anciãos ou presbíteros) e 3) os
letrados (escribas).49

Basicamente a hierarquia do governo romano funcionada da seguinte forma: sobre todos estava o Imperador;
abaixo do imperador havia o senado. Imperador e senado governavam sobre as províncias separadamente,
ou seja, existiam as províncias senatoriais que estabeleciam procônsules para governar sobre essas e as
províncias imperiais que estabeleciam uma espécie de delegados para cuidar das finanças e procuradores
(cidadãos romanos) para governar diretamente sobre a região ou reis judeus ou semi-judeus, também vistos
como vassalos, para governar indiretamente as províncias. Abaixo dos procuradores e reis havia os
governadores das regiões divididas dentro da província, os etnarcas, tetrarcas e governadores de uma única
região ou divisão territorial.50

É importante saber que s influências políticas exercidas por Roma sobre a Judéia ou Palestina não
aconteceram apenas entre os representantes mais próximos como os reis e os governadores. Os
imperadores também deram sua parcela de contribuição na política romana neotestamentária. São eles com
seus respectivos feitos:

1) Augusto (27 a.C. a 14 d.C.): sob seu domínio ocorreu o nascimento de Jesus, o recenseamento ligado ao seu
nascimento e o início do culto ao imperador.

2) Tibério (14 a 37 d.C.): sob seu domínio Jesus efetuou seu ministério público e foi morto.

3) Calígula (37 a 41 d.C.): sob seu domínio exigiu que se lhe prestassem culto e ordenou que sua estátua fosse
colocada no templo de Jerusalém. Faleceu antes que sua ordem fosse cumprida.

4) Cláudio (41 a 54 d.C.): sob seu domínio, por motivos de distúrbios civis, expulsou de Roma os residentes judeus,
entre os quais estavam Áquila e Priscila, cooperadores do ministério de Paulo.

O quadro, a seguir, propõe uma síntese do que foi tratado até aqui:51

49 ALEX, p.17.
50 Alguns autores defendem que entre essa categoria de governadores encontrava-se Pôncio Pilatos com titulação igualmente válida quando se
trata de governar apenas uma única divisão territorial; alguns outros autores sugerem que Pilatos estava numa categoria abaixo, a de prefeito da
região indicando justamente o fato de que era responsável por apenas uma região.
51 Quadro extraído e adaptado do livro Panorama do Novo Testamento, página 17, do capítulo 1: História Política Intertestamentária e do Novo

Testamento.
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SÉCULOS A.C. PODER DOMINANTE EVENTO IMPORTANTE
VIII (700s) Assíria Cativeiro do reino nortista de Israel, com destruição da capital Samaria em
722 a.C.
VII (600s) – VI Babilônia Cativeiro do sulista de Judá, com destruição de Jerusalém em 586 a.C.
(500s)
Pérsia Retorno de alguns judeus à Palestina para reconstruir a nação, o Templo e
Jerusalém.
V (400s) – IV (300s) Grécia-Macedônia Conquista por Alexandre e a Helenização intensa do Oriente.

Morte de Alexandre em 323 a.C. e a divisão do império.


III (200s) Egito Hegemonia dos Ptolomeus sobre a Palestina entre 320 a 198 a.C.
II (100s) Síria Hegemonia dos Selêucidas sobre a Palestina entre 198 a 167 a.C.

Desenvolvimento dos partidos políticos pró-helenistas e anti-helenistas.

Antíoco Epifânio fracassa em anexar o Egito ao seu domínio e tentativa


violente de Antíoco Epifânio de forçar a completa helenização ou
paganização dos judeus em 168 a.C.

Irrompimento da revolta dos Macabeus em 167 a.C. e obtenção da


independência judaica.
I (99 a 1) Independência judaica Dinastia Hasmoneana entre 142 a 37 a.C.

Subjugação da Palestina pelo general romano Pompeu em 63 a.C.

Roma Antípater e seu filho, Herodes o Grande, ascendem ao poder na Palestina.

Esse foi o contexto político que influenciou e culminou na visão política vigente no período do Novo
Testamento. Essa mesma política que, como veremos mais adiante, influenciou. Inclusive, na formulação da
própria concepção messiânica e do cristianismo. Dando, então, prosseguimento, o próximo capítulo
apresenta o contexto econômico que, assim como o contexto político, é igualmente importante na
compreensão do tempo vivido por Jesus em seu ministério terreno.
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CONTEXTO ECONÔMICO

A
ssim como as intervenções políticas contribuíram para a formação do contexto do Novo Testamento, a
intervenção, por parte dos romanos, na economia com o estabelecimento do regime autoritário, impositivo,
trouxe modificações sociais que geraram reflexões e influências também para o cristianismo.

Partia de Roma duas formas interligadas de administração econômica: a macroeconomia e a micro economia.
No plano macroeconômico decidia-se em Roma quem governava, com que título governava e como, isto é,
quais as medidas deveriam ser tomadas para assegurar o poder imperial e quanto deveria ser arrecadado. Já
no plano microeconômico estabelecia-se uma estrutura de administração pública direto na província
colonizada; assim, na Judéia, as pessoas comuns da população judaica, as formas de propriedade e da terra,
o processo de urbanização, o auge do modo de produção escravista e as tentativas de colonização do
território foram, certamente, as modificações que mais foram sentidas.

Roma exigiu, por ser dominadora, a concentração de propriedade de terras. Para isso estabeleceu pesada
carga tributária que resultou no ganho dessas terras. Muitos proprietários rurais de pequeno porte foram
perdendo suas posses. Um sistema de endividamento progressivo das famílias rurais conduziu à perda das
terras que se tornavam patrimônio para a oligarquia do Templo ou para colonos romanos. Dessa prática
surgiu o latifúndio explorado por escravos.52

O mercado nas aldeias não usava dinheiro e a dominação romana manifestava-se, basicamente, na
arrecadação de impostos através dos publicanos. A política financeira que fora desenvolvida pelos
banqueiros urbanos e pelo Templo de Jerusalém, como potência econômica, gerava uma situação de
endividamento que estava sempre ameaçando os proprietários rurais.53

A consequência do desequilíbrio econômico foi o desequilíbrio social: não foram poucas as vezes que os
antigos donos das terras se vendiam juntamente com suas famílias como escravos ou assalariados para
trabalharem na própria terra para os novos donos, ou vagueavam sem destino fixo amontoados nas praças
das cidades em busca de algum trabalho temporário. Isso produziu um aumento da pobreza no campo e da
riqueza na cidade54.

52 Extraído do artigo Contexto Sociocultural da Palestina escrito por Néstor O. Míguez.


53 Ibidem, p.25.
54 Ibidem, p.25.
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Nas cidades, a economia tinha se monetarizado e eram encontradas as relações patrão-cliente. Tal
mentalidade foi herdada da própria prática romana em se impor como patrão e as elites econômicas e
políticas locais como clientes constrangidos. O Império favorecia os ricos e poderosos, do povo subjugado,
com favores, privilégios e estabilidade e em troca essas elites se sujeitavam às políticas estabelecidas por
Roma. Assim na cidade o patrão era uma presença cotidiana que lutava por honra, sendo necessário honrá-lo
constantemente nos lugares públicos, nas relações comerciais, mostrando agradecimento e boa disposição,
dessa forma alcançava mais prestígio, o que finalmente se traduzia em cargos políticos e favores
econômicos.55

“Um cristianismo que surge neste ambiente não pode deixar de levar estas marcas”.56 O contexto econômico
suscitou questionamentos por parte das pessoas que o experimentaram, e as respostas à demanda foram
dadas por Jesus. Note que o evangelho pregado é a boa nova acerca de chegada do Reino de Deus,57 cujos
valores são inversos à proposta política e econômica de Roma, fazendo oposição a qualquer um que
aceitasse a situação vivida.

Como se pode perceber, o Evangelho não é uma mensagem alienada dos problemas cotidianos do ser
humano, entes, trata-se de uma mensagem cujo objetivo é revelar que as circunstâncias estão como estão
em decorrência do pecado que provoca um desequilíbrio existencial e funcional na humanidade, contudo
Deus é o Rei soberano que dá conta de resolver todos os problemas para a sua própria glória. E isto é
possível somente através da obra redentora de Jesus, o Cristo de Deus. Portanto, não apenas os problemas
políticos e os econômicos são denunciados, os problemas religiosos também carecem de respostas visto que
as pessoas do tempo de Jesus e as de hoje buscam na religião o alento para as suas dificuldades. E é
exatamente este o assunto do próximo capítulo: a religião da Palestino do primeiro século.

55 Míguez, p.26.
56 Ibidem, p.26.
57 Cf. Evangelho de Marcos 1:14 e 15.
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CONTEXTO RELIGIOSO

N
o estudo do fenômeno, que é a religião, no contexto do Novo Testamento é percebido que não há uma
uniformidade. Antes, pela própria mistura de culturas a religião dividia-se entre a judaica e a não judaica ou
pagã. E dentro de cada um dessas sociedades religiosas existiam grupos específicos que tornavam pública
sua confissão de fé, sua tradição.

4.1. Religiões pagãs: principais características

Entre as camadas mais populares do império Romano existia, ainda, a crença politeísta nos vários deuses
gregos, cujos romanos adotaram com nomes diferentes. De acordo com a crença helênica, isto é,
influenciada pela cultura grega, os deuses manifestavam atitudes humanas como paixões, concupiscências,
amor, ciúme, ira e ódio; enfim, os deuses seriam superiores ao homem somente quanto ao poder, à
inteligência e à imortalidade.58

Das religiões pagãs existiam as organizadas que possuíam seus próprios profetas e/ou profetizas. Quanto ao
sacerdócio, os romanos adicionaram a crença no imperador como o sacerdote, comumente chamado de
pontifex maximus (que é o mesmo que sumo sacerdote); assim, o senado lançou a idéia do culto ao
imperador ao deificar, isto é, tornar divino a figura do imperador. Somente Calígula, Nero e Domiciano foram
os imperadores que reivindicaram para si a divindade ainda em vida.59

Já as chamadas “religiões de mistério”, cuja popularidade cresceu no primeiro século cristão, prometiam
purificação e imortalidade do indivíduo. Eram assim chamadas porque envolviam ritos secretos de iniciação e
outras cerimônias. Como se já não bastasse, as superstições estavam profundamente gravadas nas mentes
da maioria do povo romano. Na prática sincrética, isto é, com a tendência à unificação de idéias ou de
doutrinas diversificadas e, por vezes, até mesmo inconciliáveis, o povo simplesmente mesclava diversas
crenças religiosas com práticas supersticiosas.60

As camadas que se intitulavam “mais esclarecidas”, tentavam buscar nas escolas de filosofia formas mais
puras de crença. O epicurismo pensava que os prazeres da vida (não necessariamente os de ordem sexual)
eram o sumo bem da vida; o estoicismo ensinava que a aceitação racional da própria sorte é dever do
homem, tendo em vista que há uma “Razão Impessoal”, que governa o universo; já os cínicos consideravam
que a vida simples, longe de toda riqueza, prestígio social e conforto é a grande virtude da vida; e os céticos,

58 Panorama do Novo Testamento, página 39, do capítulo 3: O ambiente religioso do Novo Testamento.
59 Ibidem, p.40.
60 Ibidem, p.41.
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entendiam que não há esperança para absolutamente nada sucumbindo diante da dúvida quanto ao
sentido da vida e aos costumes que prevaleciam.61

4.2. Judaísmo: principais características

Mais importante que as religiões pagãs, era o judaísmo. O judaísmo tal qual era no primeiro século, ao menos
em sua estrutura geral, teve seu início perto do final do período do Antigo Testamento, durante o período do
exílio assírio-babilônico. Os profetas predisseram a expulsão da pátria em decorrência da idolatria praticada
pela nação israelita; e o cumprimento promoveu reflexões na nação de modo a se esforçarem por evitar esse
pecado.62

A perda temporária do Templo resultou na mudança para o hábito de estudo e observância da Lei mosaica
tendo como principal conseqüência o surgimento das sinagogas63 com esse intuito. A sinagoga era mais que
um mero centro de adoração religiosa a cada sábado. Durante os dias da semana ela se tornava em centro
administrativo na tentativa de promover a justiça, reuniões políticas, serviços fúnebres, de educação de
jovens judeus e de estudos do Antigo Testamento.64

Durante e após a reconstrução do Templo por Zorobabel, a destruição por Antíoco Epifânio e a reconstrução
feita por Herodes, tendo em vista que a prática do sacrifício deveria ocorrer no santuário central, foi
desenvolvido um sistema de sacrifícios particulares, holocaustos diários em prol de toda a nação, orações e
bênçãos proferidas pelos sacerdotes, incluindo as festividades religiosas e os dias santos.65

Em decorrência de seu “espírito” intensamente nacionalista, o judaísmo atraía grande número de prosélitos,
isto é, pagãos que abraçaram o judaísmo, mas que não passavam pelo rito da circuncisão. O que fazia com
que os prosélitos acreditassem que a teologia judaica era superior ao politeísmo e às superstições gentílicas,
era a responsabilidade que os judeus tinham de pregar o monoteísmo e se opor à idolatria, mesmo em seu
próprio Templo. Os pagãos não compreendiam a existência de um templo “vazio”, sem um ídolo.66

As crenças judaicas procederam dos atos de Deus na história, conforme ficaram registrados numa coleção de
livros que se tornaram sagrados. Nota-se um sistema contrário ao das religiões pagãs que fundamentavam
sua crença em misticismo infundado, mitologia e especulações filosóficas.

61 Panorama do Novo Testamento, página 42, do capítulo 3: O ambiente religioso do Novo Testamento.
62 Ibidem, p.43.
63 É motivo de debate se as sinagogas tiveram origem justamente durante o exílio ou mais tarde, já no período intertestamentário. Uma conjectura

razoável é que devido a Nabucodonosor haver destruído o Templo e haver deportado da Palestina a maioria de seus habitantes, os judeus
estabeleceram centros locais de adoração intitulados sinagogas (assembléias). Uma vez definida como instituição, as sinagogas prosseguiriam
em existência até a reconstrução do Templo sob liderança de Zorobabel.
64 Panorama do Novo Testamento, página 48, do capítulo 3: O ambiente religioso do Novo Testamento.
65 Ibidem, p.47-48.
66 Ibidem, p.52-53.
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Os judeus aguardavam a vinda do messias e até alimentavam seu imaginário alimentando a expectativa de
ser um personagem profético, sacerdotal ou real; mas, de modo algum, esperavam um salvador sofredor e
moribundo, e, não, o ser divino, o próprio Deus encarnado. O que se esperava era uma ação de Deus por
meio de um ser humano, como na época dos juízes, para, por meios políticos e militares, libertar seu povo; ou
Deus em pessoa libertaria seu povo para depois estabelecer o messias.67

Mas, não seria exato pensar que havia unidade no judaísmo; ao contrário, apesar de viver em constantes
lutas para a preservação e transmissão da fé, os judeus se dividiam em várias facções ou partidos. Em vez
de falar em judaísmo monolítico, é mais fácil admitir um judaísmo múltiplo. As duas principais divisões são o
judaísmo oficial e o judaísmo popular, também chamado de iaveísmo popular.68

 Judaísmo Oficial

O judaísmo oficial, que se dizia ortodoxo, era composto por uma minoria populacional formada por alguns da
elite social como os escribas, os herodianos e pelos partidos político-religiosos como os fariseus, saduceus,
essênios e zelotes. Vejamos um pouco mais sobre eles:

1) Escribas: Doutor, escriba e mestre da Lei eram expressões sinônimas no Novo Testamento. Não eram nem um
pertido religioso e nem um partido político, e sim, um grupo de profissionais cujo ofício era interpretar e ensinar, no
recinto do Templo, com citações de rabinos já falecidos, a Lei e os detalhes das tradições do Antigo Testamento, e
baixando decisões judiciais quando eram procurados para fazê-lo. Na época de Jesus a maior parte dos escribas
também era fariseu. Uma característica dos escribas é que eles eram copistas da Lei, mas não se consideravam
intérpretes inspirados, e sim, preservadores e protetores das Escrituras.

2) Herodianos: Os herodianos não eram um partido religioso, mas uma pequena minoria de judeus influentes que dava
apoio à dinastia dos Herodes e, implicitamente, ao governo romano. Eram vinculados à aristocracia dos saduceus.

3) Fariseus: Existem poucos documentos conhecidos e verdadeiros escritos pelos fariseus, daí a dificuldade de saber
quem eram e o que pensavam. O que se sabe é que essa classe político-religiosa surgiu pouco depois da revolta
dos Macabeus como um desenvolvimento dos Hasidim69 que faziam objeção à helenizaçao da cultura judaica.
Mesmo que um escriba fosse fariseu, nem todo fariseu possuia o conhecimento teológico de um escriba, no
entanto, eles eram ensinadores e intérpretes da Torah, uma espécie de classe dedicada exclusivamente à Lei
escrita e a não escrita. Os fariseus eram desejosos de viver em harmonia com o povo, segundo Flávio Josefo70.
Acreditavam nos livros proféticos tanto quanto nos livros da Lei e enfatizavam a continuidade de oral da
interpretação das Escrituras sempre que as condições eram mudadas, ou novos ensinamentos eram aprendidos. Ao

67 Panorama do Novo Testamento, página 53, do capítulo 3: O ambiente religioso do Novo Testamento.
68 Para Néstor O. Míguez, não se pode afirma a existência de um judaísmo popular tendo em vista a existência dos samaritanos e das tradições
próprias do povo da terra. Partindo dessa presença “não judaica” no âmbito popular da crença, chamaremos mesmo assim o iaveísmo de
judaísmo popular, considerando que a base religiosa da maioria da população tem como foco a crença em Yavé.
69 Hasidim é o nome que os judeus que se opuseram à tentativa de Antíoco Epifânio de helenizar e paganizar a Palestina durante o período do

império Selêucida.
70 Estudos recentes sobre o relacionamento de Jesus com os fariseus apresentam resultados que podem surpreender muitos cristãos que

conhecem os fariseus apenas como grupo de desprezados.


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lado das novas interpretações da lei, os fariseus aceitavam os novos ritos não ordenados na Torah. Foram a
coluna mestra do judaísmo oficial. Sua contribuição ao judaísmo e posteriormente ao cristianismo foi a prática de
batizar prosélitos e algumas doutrinas sobre anjos, demônios, o Messias e a ressurreição física.

4) Saduceus: Eram os herdeiros dos hasmoneanos (macabeus) do período intertestamentário. Embora em menor
número que os fariseus, detinham maior influência política por serem responsáveis pelo sacerdócio. Diferentemente
dos fariseus, eles davam importância a somente os cinco primeiros livros da Lei desprezando os demais livros e as
tradições orais dos rabinos não-sacerdotais. Não acreditavam na preordenação divina, nem em anjos, e em
espíritos, na imortalidade da alma e nem na ressurreição do corpo, conforme criam os fariseus. Estavam no alto da
escala social. Não se misturavam com a gente simples da Judéia e não se preocupavam com sua popularidade. Em
resumo, os saduceus eram ao grupo aristocrático, formado por grupos sacerdotais preocupados, quase que
exclusivamente, com os assuntos do Templo.

5) Essênios: Este grupo não é mencionado no Novo Testamento, mas exerceu grande influência no pensamento judeu
daqueles dias. Eram compostos por cerca de 4 mil pessoas que viviam escondidos em pequenos grupos nas
cidades ou em comunidades no deserto. Assim como os fariseus, sua origem está nos Hasidim e chegavam a
ultrapassar os fariseus em seu legalismo detalhista. Sua crença era altamente apocalíptica e seu estilo de vida
profundamente disciplinar. Não ofereciam sacrifícios de animais no Templo por entenderem que o sacerdócio era
corrupto. Como símbolo de sua crença, de que eram puros, usavam vestes brancas e se consideravam o
remanescente vivo dos eleitos, nos últimos dias, esperando o aparecimento de diversos personagens escatológicos
como o messias político-militar, o grande profeta, e um messias sacerdotal.

6) Zelotes: Sustentavam o direito de defesa de Jerusalém lutando contra os romanos. Os seguidores desse partido
político concordavam em quase tudo com os fariseus no campo da crença, a não ser pelo fato de que seu sonho de
liberdade é impossível, pois acreditavam que somente Deus era seu líder e mestre. Sugere-se que teriam saído de
dentro do grupo dos fariseus. Recusavam-se a pagar taxas a Roma e consideravam a lealdade a César um pecado.

 Judaísmo Popular

O judaísmo popular ou iaveísmo popular é visto como outra realidade religiosa e social da Palestina. O
judaísmo oficial tinha predominância no ambiente urbano, o judaísmo popular tinha predominância no
ambiente rural, onde também se encontravam algumas sinagogas. Os locais que não possuíam sinagoga,
as pessoas se reuniam em praças ou lugares descampados.

É provável que nas reuniões dos setores populares, se mantivesse viva a memória dos profetas e de outros
personagens legandários que alimentavam a piedade popular. Estas “tradições menores” eram formadas
pela tradição oral nas assembléias aldeãs com o resgate de personagens e experiências mais próximas do
dia-a-dia do que as trabalhosas e complexas interpretações dos fariseus e dos essênios. Conjectura-se que
figuras como os profetas Elias e Eliseu, lendas não bíblicas de Moisés, figuras de magos, e profetas locais
nutriam o imaginário popular. Acredita-se que essa tradição de pouca repercução literária seria objeto de
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desconfiança e desprexo do judaísmo oficial. O judaísmo popular também possuía seus grupos
específicos. São eles:

1) Hemerobatistas, genistas, masboteus, helenianos: Desses grupos só se conhece os nomes. Suas características
não foram registradas.

2) Samaritanos: Esse grupo reconhecia o valor sagrado do Pentateuco, ao ponto de escreverem sua própria versão,
procurando manter suas próprias práticas cultuais. Rejeitados pelos que voltaram do exílio babilônico construíram
seu próprio Templo. A religiosidade samaritana desenvolveu uma teologia messiânica peculiar, centrada num
messias mestre cuja influência alcançou a construção do Evangelho escrito por João. Interessante notar que os
samaritanos possuíam seu próprio movimento profético popular, do mesmo modo como ocorreu com o movimento
dos judeus.

3) Justos: Surgiram entre as tradições iaveístas-judias que ocorreram na Galiléia. Sua principal característica foi a
ênfase em certos tipos de santidade. Possuíam um apego à Lei, desenvolveram uma piedade ética, um monoteísmo
excludente e um orgulho racial exagerado. Diferenciavam-se dos fariseus pelo fato de que este grupo habitava nas
cidades e eles na zona rural.

Sabedores, então, de que o Judaísmo possuía duas grandes divisões e dentro dessas divisões existiam
subdivisões ideológicas, percebe-se que o contexto religioso da Palestina no primeiro século era bastante
fragmentado, diversificado. O resultado disso foi, certamente, a criação de diversas expectativas quanto às
diversas interpretações e crenças nas mais variadas formas de messianismo; o que dá base para a
possibilidade de não somente “um”, mas “vários cristianismos”.

O próximo capítulo expõe o contexto do cristianismo em seu nascimento no primeiro século enquanto ao
mesmo tempo aponta para as diversas tendências interpretativas surgidas naquela época sobre os
ensinamentos de Jesus.
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CRISTIANISMO:
A RAZÃO DE SER DO NOVO TESTAMENTO

N
ão existe Novo Testamento sem o cristianismo. Pois, se esse período logo após a morte e ressurreição de
Cristo é chamado de Novo Testamento por se compreender, teologicamente, a chegada do Reino de Deus
que o Evangelho de Cristo anunciava, incluindo o fato de que somente experimenta esse Reino quem passar
por Cristo, assim não se pode entender a existência do Novo Testamento sem o cristianismo. O cristianismo,
enquanto movimento que visa anunciar a Boa Notícia da chegada do Reino, é o resultado imediato do Novo
Testamento.

5.1. As diversas origens do Cristianismo

As imagens do cristianismo que são construídas pelo imaginário popular cristão hoje são de origem
eusebiana e constantiniana. Eusébio era bispo da igreja que se localizava na cidade de Cesaréia, na região
da Palestina. Sua obra, intitlulada História do Cristianismo, em dez livros, revela a “história oficial” do
cristianismo numa tentativa de justificar a construção da cristandade constantiniana, isto é, a história do
cristianismo quando o imperador Constantino tenta unificá-lo.71

Assim, há uma imagem da origem do cristianismo como movimento único, com uma estrutura institucional e
corpo doutrinal, onde a diversidade teria vindo depois. Todavia, considerando que o cristianismo nasceu num
contexto repleto de influências das conjunturas que até aqui apresentamos, percebe-se talvez não se possa
falar em cristianismo, mas cristianismos, com as mais variadas tendências e modelos de Igreja.

Após a morte e ressurreição de Jesus, surge um momento de expansão evangelizadora do cristianismo,


essencialmente missionária, que abriu espaço para um fenômeno chamado “movimento de Jesus”
caracterizado pela pluralidade de tendências, unidas pelo Espírito Santo e pela tradição do Batismo e da Ceia
do Senhor.72

Em decorrência de uma leitura simplista dos quatro evangelhos, geralmente os leitores acreditam que,
durante o ministério de Jesus ou imediatamente após sua ressurreição, a Igreja institucional foi fundada;
contudo o que aconteceu foi que entre os anos 30 e 70 foi dado início ao movimento de Jesus e entre os anos
70 a 135 os mais variados modelos de igreja começaram a serem organizados.

71 RICHARD, p.7.
72 Ibidem, p.8.
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Outro detalhe importante é que se considerarmos a geografia bíblica descobrimos que o mar Mediterrâneo
era um espaço fechado ao oeste pelo imenso e, até então, inexplorado oceano Atlântico, ao norte pelas
selvas impenetráveis da Europa, ao sul pelo grande deserto do Saara e o império Romano ocupava somente
o centro deste espaço: Ásia, Grécia, Itália, Hispânia e norte da África. A única abertura deste espaço fechado
era o oriente: Síria oriental, Mesopotâmia, Ásia central, Índia e China. Com essas informações conclui-se que
num primeiro momento a expansão do cristianismo não se deu diretamente para o ocidente.73

Pelo fato do registro de Atos narrar que o cristianismo começou em Jerusalém, a maioria dos leitores atuais
não estudam, não avaliam e não interpretam, consequentemente, o início do cristianismo, com o ministério de
Jesus que se deu, principalmente, na Galiléia, Samaria e sul da Síria, que são os lugares mais antigos e
fundamentais do cristianismo, por ação do próprio Jesus. E como fica a situação do etíope que foi
evangelizado e batizado por Felipe? O resultado das interpretações atuais também deixa de fora o norte da
África como o Egito, a Etiópia, Cirenaica e Líbia.74

Foi na Galiléia e em alguns territórios vizinhos que Jesus atraiu muita gente e chamou para si os discípulos. O
que ficou de todos os eventos da Galiléia? Que se passou com o “movimento de Jesus” na Galiléia entre a
morte e ressurreição de Jesus no ano 30 até a guerra entre judeus e romanos entre 66 a 74d.C.? Esses anos
foram difíceis, marcados por movimentos populares proféticos e messiânicos de todos os tipos.75

O cristianismo original é policéntrico com variedades de movimentos independentes. Na Galiléia, depois da


ressurreição, os discípulos começaram a se identificar e agrupar em torno de diferentes tradições de Jesus.
Uns mantinham viva a memória dos milagres, outros a memória dos pronunciamentos, ditos e ensinamentos.
Existiam tendências sapienciais, proféticas e apocalípticas. Uns optaram por serem sedentários, outros
itinerantes, nômades. Alguns mantiveram contato com os grupos de Jerusalém, outros partiram da Galiléia
para o leste, para o norte e para a Síria.

Já em Jerusalém, apareceram três grupos: o dos apóstolos, o das mulheres e o dos irmãos de Jesus; estes
são, possivelmente, grupos que contribuíram, apesar de suas diferenças, para o “movimento de Jesus” na
própria Jerusalém. As atividades das comunidades, além dessas citadas, focavam-se em 1) freqüentar
assiduamente os ensinamentos dos apóstolos, talvez a didaquê;76 2) manter a comunhão onde cada qual
dava segundo suas possibilidades, recebe segundo suas necessidades, visando igualdade; 3) celebrar nas
casas a fração do pão, além de freqüentar todos os dias o templo; e 4) realizar muitos prodígios e sinais.77

73 Esta é a interpretação de Pablo Richard, entretanto é possível encontrar autores que discordem dessa interpretação e sugerem que o
cristianismo se deu realmente com expansão imediata para o ocidente. Mais detalhes, sugiro a leitura do livro Entendes o que lês? de Gordon
Fee.
74 RICHARD, p.9.
75 HORSLEY apud RICHARD, p.13.
76 Livros que registra a memória das palavras e feitos de Jesus voltado para o estudo sapiencial, profético e exegético da comunidade.
77 RICHARD, p.19.
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Quando nos deparamos com documentos específicos, é possível desenvolvermos ou lermos e
entendermos outras teorias sobre a origem do cristianismo, inclusive a que anuncia as diversas origens desse
cristianismo ou dos cristianismos. Os documentos são:78

1) Fontes Canônicas diretas: As sete cartas do apóstolo Paulo (i Ts, Gl, II Co, Fl, Fm e Rm) juntamente do Evangelho
de Marcos, e possivelmente a carta de Tiago.

2) Fontes Canônicas indiretas: O “Evangelho perdido” (mais conhecido como Fonte Q), as tradições históricas de
Lucas, as tradições pré-sinóticas79, e as tradições mais antigas que fundamentam o Evangelho de João e o
apocalipse.

3) Fontes não Canônicas: O Evangelho de Tomé, o Evangelho dos Hebreus, o Evangelho dos Egípcios e uma
quantidade de fragmentos e papiros com tradições independentes.

4) Fontes históricas extrabíblicas: As obras de Flávio Josefo e os documentos arqueológicos.

A leitura destes documentos revela que as ordens cronológica e geográfica, que imaginamos, são
descontruídas pelos contextos político, econômico e religioso, já vistos. Eles demonstram o contrário e
apresentam lugares em que o cristianismo surgiu, colocando em xeque aquela visão romântica de uma
unidade inicial.

5.2. As primeiras comunidades cristãs

Sobre o início das comunidades sabe-se muito pouco. O que se sabe é que antes e depois da morte de Jesus
eram sustentadas e animadas por missionários e missionárias ambulantes. Diferentes dos judeus, não
levavam nada no caminho, nem sacola, nem dinheiro, mas confiavam na solidariedade do povo. O objetivo
desses missionários não era pregar uma nova doutrina, e sim, renovar as comunidades existentes, outrora
iaveístas populares, a partir da Boa Notícia de que o Reino já estava presente no meio delas.

Essas comunidades formavam pequenos grupos ao redor da sinagoga e do judaísmo oficial. O crescimento
tanto geográfico quanto numérico obrigou-os a criar novas formas de organização, como por exemplo, a
escolha de novos animadores, novos missionários denominados diáconos.

Após a ascensão de Jesus, a pregação concentrava-se mais no anúncio do Reino manifestado pela paixão,
morte, e ressurreição de Jesus. Os escritos adotados compunham a Bíblia Hebraica dos judeus ou Antigo
Testamento dos cristãos. Para os que possuíam, havia leituras e releituras das Escrituras, com novos olhos
buscando textos que dessem suporte à compreensão que queriam ter sobre a novidade que estavam vivendo
através de Jesus Cristo.

78Ibidem, p.9.
79Referem-se às coleções de milagres, diálogos e narrativas da paixão de Cristo que foram relatadas antes mesmo da elaboração dos 3 primeiros
evangelhos).
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Nesta primeira fase apareçam divergências que já existiam no judaísmo e que, ao longo dos anos se
acentuaram nas comunidades cristãs. Num extremo havia os do grupo que queriam a inculturação da
mensagem no mundo helenista, isto é, queriam adequar a pregação do evangelho para os gentios, por outro
lado havia os que estavam ligados aos escribas e fariseus e que defendiam a fidelidade estrita à Lei e à
“Tradição dos Antigos”.

Como se já não bastasse às divergências internas entre as comunidades, as conjunturas, principalmente a


política, influenciaram tanto os judeus não cristãos quanto os judeus cristãos. Quando Calígula, o imperador,
deu ordem expressa de que fosse colocada uma estátua sua no Templo em Jerusalém estourou uma
revolução interna que se traduziu numa paralisação total em todas as atividades dos judeus por 40 dias e
culminou na ordem de matança geral contra todos os “subversivos” à ordenança do imperador. A participação
de Herodes Agripa I foi crucial para atenuar e adiar as ações do exército romano. Em 41d.C. Calígula morreu
e Herodes articulou contribuindo para a ascensão de Cláudio à imperador; como recompensa foi feito rei de
toda a Palestina.80

Herodes Agripa I procurava reprimir todo e qualquer movimento de rebelião ou que sugerisse possíveis
rebeliões. Com isso começou a perseguir as comunidades cristãs. Após a morte de Agripa I, Roma instituiu
governo direto sobre a Palestina colocando-a sobre o domínio de um procurador com residência em
Cesaréia. Todos os acontecimentos deixaram marcas profundas no povo judeu que se sentia ameaçado com
a presença do procurador romano na região. O resultado o crescimento do sentimento anti-romano, o
fortalecimento das ideologias e movimentos nacionalistas e as divergências internas entre os próprios judeus.
Como as comunidades cristãs eram também judias, por serem compostas inicialmente por uma grande
maioria de judeus, isso dificultava a convivência entre eles.81

Neste período de 40 a 70 começa, então, a surgir o que hoje chamamos de Novo Testamento propriamente
dito. A experiência da vida nova em Cristo era tão grande e os problemas enfrentados eram tão diferentes
que as palavras das Escrituras dos judeus já não bastavam para orientar os cristãos. Nestes anos Paulo e
seus companheiros escrevem para animar as comunidades por eles fundadas. Deste mesmo período é a
carta de Tiago.

Ao mesmo tempo continuava o esforço por recolher os testemunhos, reler e transmitir as palavras e os gestos
de Jesus. Em torno de 45 d.C. surgem as primeiras coleções das palavras de Jesus que foram utilizadas mais
tarde pelos evangelistas para compor os seus evangelhos.

80 MESTERS, p.37.
81 Ibidem, p.38.
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Interessante notar é que o mais impressionante, e que chama atenção, nestes primeiros quarenta anos (30
a 70d.C.) de história de expansão do evangelho e formação das comunidades cristãs é a diversidade de
grupos, movimentos, tendências e doutrinas. Parte dessa diversidade é herança do judaísmo: Fariseus,
Joanitas, Prosélitos, Samaritanos, movimentos messiânicos, Balaamitas e outros mais. Outra parte foi a
diversidade de pessoas e lugares: comunidades fundadas pelos apóstolos, ligadas à Paulo, Pedro, João,
Tiago, aos irmãos de Jesus. E ainda a outra parte: comunidades que nasceram como fruto da entrada do
evangelho no mundo helenista com assimilação de cultura diferente: Nicolaítas e Gnósticos. Uns foram
aceitos com naturalidade, outros foram condenados como heréticos.82

82 MESTERS, p.43.
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TIPOS DE PRODUÇÃO LITERÁRIA CRISTÃ

O
Novo Testamento, enquanto conjunto literário nasceu do esforço para verbalizar a nova experiência e para
encontrar uma solução para os novos problemas enfrentados nas comunidades cristãs.83 Estes novos
escritos eram conservados pelas comunidades e, posteriormente, foram acrescentados à lista de livros
sagrados.

Obviamente que junto da responsabilidade de apresentar as respostas às necessidades dos respectivos


contextos, a crença e a linguagem deixaram marcas profundas na literatura, no conteúdo e no estilo dos
textos produzidos. Ou seja, é possível identificar parcialmente, como uma complementação do contexto
histórico, as influências culturais predominantes na época do ministério terreno de Jesus e logo após, quando
houve o período de expansão do evangelho.

É interessante notar que a literatura cristã foi produzida exatamente no período entre os anos 30 a 100; isso
significa que durante o período de expansão do Evangelho estava acontecendo simultaneamente os atos dos
apóstolos, a produção das cartas e epístolas, os evangelhos e os escritos apocalípticos.

 Epístolas e Cartas:

As epístolas eram do gênero literário “cartas”. As mais antigas que se conhecem remontam ao antigo império
Egípcio entre 2600 a 2200 a.C.. No Novo Testamento a extensão, tamanho, da carta se liga ao conteúdo e à
intenção: a carta de Romanos, por exemplo, possui 7105 palavras e a destinada à Filemon possui 335
palavras. A terceira carta de João é a menor com 219 palavras.84

Naquele tempo as epístolas tinham propósitos e formas específicas que lhes igualavam e lhes diferenciavam
das cartas. Quando o destinatário, isto é, aquele que receberia o documento fosse uma pessoa e o assunto
tratasse de uma circunstância particular, então esse documento é visto como “carta”. Mas quando o
destinatário é um grupo de pessoas, e o documento segue um estilo literário artístico, então se trata de uma
epístola de fato.85

Assim sendo, como distinguir uma carta de uma epístola? Basicamente a carta refere-se a uma pessoa e a
epístola refere-se a um grupo de pessoas. Contudo, mesmo que houvesse essas diferenças entre os

83 MESTERS, p.41.
84 SCHREINER, p.40-50.
85 Ibidem, p.52.
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documentos, sua estrutura literária, ou seja, a maneira como eram elaboradas era igual para ambos os
documentos.86 A estrutura tanto da epístola quanto da carta é a que se segue:87

Independente da variação nos assuntos ou


até mesmo na ausência de algum dos
itens citados, todas têm em comum a
característica de serem “documentos
ocasionais”, isto é, surgiram em ocasiões
específicas, como já vimos no contexto
das comunidades cristãs, e por isso não
são e nunca houve por parte do autor a
intenção de que esses documentos
fossem tratados teológicos. Existe uma
teologia subtendida, mas é sempre voltada
à necessidade do contexto dos leitores.
Daí o peso da responsabilidade quanto à interpretação e contextualização para a Igreja de hoje.

 Evangelhos:

Durante o período do “movimento de Jesus”, o evangelho era passado parcialmente em forma escrita,
parcialmente por tradição oral. O que se tinha eram fragmentos escritos das tradições que surgiram em torno
dos testemunhos sobre o evangelho do Reino anunciado por Jesus. Muitos ensinamentos eram passados em
seus contextos originais, mas muitos não o eram; assim coube aos evangelistas a reconstrução do contexto.88
Essa é uma das razões porque encontramos o mesmo ensino em contextos diferentes nos evangelhos.89

As duas grandes divisões dos evangelhos são as narrativas e os ensinamentos, todavia tal divisão não
separa os evangelhos em dois blocos como se fosse um somente para narrativas e o outro para
ensinamentos. Ao contrário, percebe-se uma dinâmica interativa entre a narrativa e o ensinamento
possibilitando compreender, de acordo com os interesses e as preocupações de cada evangelista, como se
deu parte da vida e o ministério de Jesus Cristo.

O que torna a leitura ainda mais agradável e enriquecedora é que o próprio Jesus fazia uso de provérbios (Mt
6:21 / Mc 3:24), símiles, que é a comparação de coisas semelhantes e metáforas (Mt 10:16 / 5:13), parábolas

86 Por isso alguns estudiosos não apresentarão essa proposta investigativa separando a carta da epístola. O teórico que apresenta essa proposta
de separação entre a carta e a epístola é Adolf Deissmann.
87 FEE, p.30.
88 O próprio apóstolo Paulo dá testemunho desta realidade. Três vezes cita ditos de Jesus sem mencionar o contexto em que o ensinamento foi

pronunciado pela primeira vez (ICo 7:10 / 9:14; as referências correspondentes aos ditos de Jesus estão em Mt 5:31,32 / Mt 10:1-10 / Mc 10:1-12 /
Lc 10:7).
89 FEE, p.103.
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(Lc 12:16-20), poesias (Mt 7:7,8 / Lc 6:27,28, perguntas (Mt 17:25) e de ironia (Mt 16:2-3). Assim, quando
as tradições sobre os evangelhos foram agrupadas, todos esses estilos entraram na composição.

 Narrativa Histórica: Atos dos Apóstolos

Essa narrativa se distingue um pouco das narrativas encontradas no Antigo Testamento porque seu estilo é
helenista. Esse tipo de estrutura, adotada por Lucas para escrever “Atos dos Apóstolos” começa com
Tucídides entre os anos 460 a 400 a.C.. “Atos” foi construído a partir da junção de três partes: 1) O interesse
e Lucas por Pedro e seu ministério, 2) o interesse de Lucas por Paulo e se ministério e 3) o interesse de
Lucas pela expansão geográfica do Evangelho.

As três partes citadas são divididas em seis seções que facilitam o estudo e compreensão da expansão do
Evangelho:
Existem, ainda, alguns acontecimentos
registrados que não ficaram muito claros
documentos no restante do Novo
Testamento cuja origem ao propósito não
estão especificados neste livro, por
exemplo: Lucas não cita porque ou como a
liderança da Igreja de Jerusalém passou de
Pedro para Tiago, não menciona como as
igrejas locais eram organizadas em termos
de lideranças, com exceção da presença
de presbíteros nomeados (At 14:23), a não
ser João e Pedro, os demais apóstolos não são mencionados, a biografia de todos eles também não é
mencionada.

 Apocalipses:

Os apocalipses são uma combinação harmonizada dos tipos literários apocalíptica e profecia. Como se vê, o
nome apocalipse é uma derivação de um de seus gêneros literários. A estrutura da construção de um
apocalipse se dá da seguinte forma:
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35
Geralmente o apocalipse conduz a uma
perspectiva religiosa que vê os planos
divinos em relação com a realidade terrena.
Esta perspectiva pode ser abraçada por
diferentes grupos sociais, em diferentes
níveis, em tempos diferentes, sempre com
a esperança de que a ação salvífica de
Deus é concebida como uma realização
para fora da ordem presente.

Daí os códigos produzidos no apocalipse se


transformarem, caracteristicamente, em protestos da comunidade oprimida contra a sociedade opressora. A
resposta às dificuldades é a criação de um novo universo simbólico, em que se crê ser mais real do que o
atual, e que substituirá a velha ordem, o velho sistema responsável pela marginalização que os oprimidos
sofrem.

É em decorrência desse contexto que se sugere que a apocalíptica tenha nascido num tempo de perseguição
e opressão. Talvez por isso seu foco não seja com a ação de Deus dentro da história, e sim, a ênfase volta-se
para o momento em que a história será conduzida, por Deus, a um fim violento e radical cujo objetivo é o
triunfo da justiça e o julgamento final de todo o mal.

O “Apocalipse de João” é o livro do Novo Testamento considerado um apocalipse, todavia existem trechos
por todo N.T. que sugerem essa definição, a de citações apocalípticas: 1) I Ts 4:13-18 é assim considerado
uma vez que contém uma revelação dada por Deus por meio de um mediador que é o Espírito Santo, para
um visionário que é Paulo, a respeito de eventos futuros, isto é, a ressurreição dos mortos. 2) Mc 13, também
é visto e chamado de apocalipse sinótico.

Entre os anos 200 a.C. a 200 d.C. aproximadamente, vários apocalipses foram escritos inclusive o canônico.
E todos têm algumas características em comum.90 São elas:91

90 FEE, p.218.
91Ibidem, p.219.
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Todas essas informações contribuem para a compreensão de que a literatura do Novo Testamento realmente
traz profundas marcas das influências das conjunturas estudadas até aqui. As epístolas, as cartas, os
evangelhos, o apocalipse e trechos apocalípticos espalhados de modo subtendido dentro de alguns textos
foram agrupados formando esse corpo escriturístico que conduz à compreensão das ações de Deus na
história para redundar na formação do cristianismo e, por conseguinte, no anúncio do Evangelho do Reino.

As pressuposições básicas que alicerçam uma boa interpretação para o N.T. foram aqui apresentadas. A
próxima etapa reúne essas informações históricas, hermenêuticas e dogmáticas ou doutrinárias encontradas
no estudo e interpretação das ações de Deus no Novo Testamento.
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2ª – Etapa:

Informações históricas, hermenêuticas e


dogmáticas extraídas do isolamento do
Novo Testamento
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O COMEÇO DA SISTEMATIZAÇÃO TEOLÓGICA

E
m se tratando de investigar os tratados teológicos implícitos no corpo escriturístico do Novo Testamento, há
uma teoria que prevalece entre a grande maioria dos teólogos que diz respeito a documentos que,
porventura, tenham existido e contribuído, inclusive, para a construção dos evangelhos. Esta coletânea
recebeu o nome de fonte Q92 (de Quelle, que é “fonte” em alemão) e é a partir de pressupor seu acesso para
pesquisa que este capítulo desenvolve o assunto proposto que é apresentar informações históricas,
hermenêuticas e dogmáticas (se houverem) ao mencionar sobre o começo da sistematização teológica no
Novo Testamento.93

Através da fonte Q é possível remontar à tradição pré-sinótica, ou seja, escritos sobre o ministério de Jesus
que já existiam antes mesmo da elaboração dos evangelhos. Considerando a organização textual,
pressupõe-se que essa tradição esteve interessada na retransmissão da pregação de Jesus, podendo tirar
mensagens para Israel, para os seguidores do movimento de Jesus e para si mesmos tendo autoridade até
para admoestar, consolar, pregar e instruir. Enfim, era uma coleção com palavras de admoestação e
consolação para pregação e instrução.94

Essa coleção, como todo texto, foi influenciada não apenas pelos ensinos de Jesus, mas a própria tentativa
de conciliar os ensinos do Antigo Testamento e as crenças, com o messianato de Jesus. Isso trouxe
implicações profundas na construção da fonte Q.

Essa fonte Q baseou-se em tradições anteriores ao nascimento ou encarnação de Cristo e buscou em Jesus
os acréscimos textuais, a interpretação e o cumprimento de suas expectativas. Para que isso fosse possível o
grupo que elaborou esta coletânea tornou-se seguidor durante o período de seu ministério terreno e se
transformaram em seus mensageiros.

Sobre esses mensageiros enviados por Jesus, o evangelho de Lucas reproduz uma passagem sapiencial que
foi primeiramente registrada na fonte Q (Lc 11:49-52) por seguidores desse mesmo grupo. A passagem
remete-se ao envio dos apóstolos e sobre serem rejeitados pela geração da época e sobre a ameaça de juízo
em decorrência dessa rejeição. Essa doutrina baseia-se na Tradição dos pregadores da conversão e do
despertar, que exerceram suas atividades depois da destruição de Jerusalém em 586 a.C. Após o século II
d.C. esse grupo absorveu idéias apocalípticas e passou a considerar sua missão oferecerem para Israel sua

92 Cf. o tópico 5.1 As diversas origens do Cristianismo em que a fonte Q é mencionada como um documento válido para pesquisa.
93 HOFFMANN, p.173.
94 Ibidem, p.175.
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última chance de conversão. Esse é o grupo que inspira a fonte Q “dando” a João Batista e a Jesus seus
próprios movimentos de missão.

Esse grupo que se ocultou atrás da fonte Q pertencia à primeira comunidade palestina e como o judaísmo
contemporâneo espera, este grupo também esperava o advento do Reino de Deus num futuro próximo. Eles
acreditavam em Jesus como “Filho do Homem” manifestado por revelação. Esse conhecimento revelado de
Jesus levou o grupo a continuar a obra do Mestre, a recolher suas palavras, interpretá-las em função da nova
situação vendo como único meio de salvação, inclusive escatológica, o cumprimento das exigências de
Jesus, de bondade e de amor aos inimigos.

Esses membros do grupo da fonte Q percorriam o país na qualidade de mensageiros de Jesus, procurando
reunir os “filhos da paz” e anunciar-lhes a chegada do Reino de Deus. E apesar de todo esforço, a fonte Q
transmite apenas uma parte da tradição sobre Jesus, faltando, surpreendentemente, as parábolas, as
controvérsias e a própria história da paixão, morte e ressurreição.

Foi esta mesma fonte Q que influenciou na construção dos próprios evangelhos bem posteriormente.

É finalizado aqui mais uma etapa que objetivou mostrar o quanto é importante reunir cada dado, cada detalhe
do que se descobre diante da pesquisa dos textos do Novo Testamento. É muito importante ter consciência
de algo: somente quando as informações hermenêuticas, isto é, interpretativas, as informações históricas,
extraídas da literatura bíblica e extrabíblica, e as informações dogmáticas, extraídas do texto
neotestamentário são reunidas é que o teólogo está pronto para unir as peças deste maravilhoso quebra-
cabeças e pode, então dar início à sua construção ou elaboração de sua própria teologia bíblica. E para que
tal processo seja concluído, é necessário lançar sobre a toda a Escritura Sagrada as conclusões do estudo
isolado do Novo Testamento.

A próxima etapa trata disto pormenorizadamente!


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3ª – Etapa:

As ações de Deus
no contexto geral das Escrituras a partir
do Novo Testamento
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PROPÓSITO CÓSMICO DE DEUS

A
s ações de Deus no contexto geral das Escrituras a partir do Novo Testamento é uma tentativa de enquadrar
as ações de Deus no Novo Testamento no restante da Escritura. Para isso é preciso que compreendamos as
ações de Deus de um modo geral, pressupondo que por trás de todo sustento, toda soberania, todo controle
divino há um propósito. Esse propósito é encontrado na mais simples leitura da Bíblia.

É justamente o registro das soberanas ações divinas tanto no Antigo quanto no Novo Testamento que
possibilita a compreensão de certa unidade e uma espécie de seqüência na condução da história. O
Propósito Cósmico de Deus refere-se ao mega projeto iniciado por Deus quando Pai, Filho e Espírito Santo
decidiram criar e sustentar a humanidade e o restante da realidade existente e tudo que nela há. “O propósito
cósmico de Deus” é uma teoria que visa dar unidade aos registros das ações de Deus. E como em toda
teoria, essa também não é imparcial e é especulativa, assumindo pressuposições teológicas, históricas e
dogmáticas. Essa exposição não se interessa em descartar as outras possibilidades hermenêuticas que se
apresentam como base nas construções dos vários outros autores das teologias bíblicas. Portanto, a teoria
do Propósito Cósmico, reitero, é uma tentativa de reconhecimento dos feitos de Deus em toda a Escritura.95 É
a sugestão interpretativa que pode facilitar no terceiro momento na construção teológica. Abaixo o esquema
detalhado:

Basicamente o esquema é uma síntese da junção das doutrinas que podem ser extraídas no Antigo e no
Novo Testamento, cuja ordem dos acontecimentos é a que se segue:

95A Teoria do Propósito Cósmico é o resultado de algumas leituras do autor desta apostila respaldada, ainda, na apresentação encontrada no livro
Entendes o que lês? Dos autores Gordon D. Fee e Douglas Stuart, páginas 64 a66.
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1) O Pai, o Filho e o Espírito Santo decidem soberanamente criar toda a realidade existente, inclusive os seres
humanos (Gn. 1).

2) Após a criação de tudo, o primeiro casal come do fruto proibido e provoca a entrada do pecado no mundo, isto é, a
universalidade do pecado contamina a universalidade da criação e toda a criação sofre (Gn3 / Rm.8:22).

3) Com a manifestação e contaminação do pecado houve a distorção do projeto original de Deus e a necessidade de
que tudo fosse redimido. Para isso Deus, o Pai, propõe em seu coração reconciliar consigo todas as coisas
(Ef.1:9,10). Assim Jesus Cristo encarna-se (Jo.1:1 a 14), torna-se o salvador da humanidade (Lc.1:28 a 32) e
resgatador ou redentor não só da humanidade, mas também de toda a realidade (Jo.1:29 / Col.2:14). Também no
processo de salvação e redenção Pai, Filho e Espírito Santo participam igual e soberanamente. Nossa salvação
começa em Deus e é sustentada por Eles (Pai, Filho e Espírito) (Jo.3:16 / Jo.14:16,17,18 / Jo.16:7 a 15 / Ef. 1:13 /
Ef.2:8,9 / Hb.1:3).

4) Após providenciarem salvação e resgate ou redenção, Pai, Filho e Espírito providenciarão o fim (Ap.); não para o
retorno à inexistência, e sim, para conduzir tudo ao projeto original (Rm.8:18 a 21 /ICo.15 /Col.3:1 a 4).

Observado o esquema, fica confirmado a presença do pecado, a necessidade de salvação e redenção, a


expectativa do fim, ou seja, a destruição escatológica, e a esperança do porvir. Essa teoria pode servir tanto
para o estudo das ações isoladas de Deus no Antigo Testamento quanto no Novo Testamento. Assim sendo,
como será que o Novo Testamento lida com esses apontamentos? Será que as primeiras comunidades
cristãs, desenvolvedoras das doutrinas, interpretavam como nós os interpretamos? Considerando esse
terceiro momento na caminhada rumo à construção de uma teologia do N.T., este é o momento de
entendermos como se deu o desenvolvimento das primeiras doutrinas.

Para que cheguemos a essas respostas é preciso compreender que a Bíblia é um livro do Oriente - Próximo.
Mais especificamente o Novo Testamento, enquanto momento histórico iniciou seu processo de formação
acompanhado de várias mentalidades, muitas inclusive contrárias, mas com o mesmo alvo de crença: Jesus
Cristo e o Reino de Deus. Entender a conjuntura histórica com a pluralidade nos contextos político,
econômico e religioso que vão desde o cativeiro babilônico, passando pelo período inter-bíblico até chegar ao
período pós ressurreição de Cristo, somando-se ao conhecimento sobre os tipos de produção literária
produzidos certamente contribuem para a pesquisa e a construção de uma teologia do Novo Testamento.

Tendo em vista que o objetivo nesse terceiro momento é identificar e interpretar as ações de Deus no
contexto geral das Escrituras a partir do Novo Testamento, a cooperação de literaturas extra-bíblicas como a
famosa “fonte Q” complementam o estudo histórico, que por sua vez, enriquece o estudo teológico.

O próximo capítulo apresenta o resultado hermenêutico de se lançar as informações neotestamentárias de


pesquisa no contexto geral da Bíblia.
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DOUTRINAS EXTRAÍDAS NO NOVO TESTAMENTO


COM USO DO ANTIGO TESTAMENTO

C
omo o corpo escriturístico do Novo Testamento estava em processo de formação, as comunidades cristãs
vindas do judaísmo oficial e do iaveísmo popular precisavam reler seus conceitos e redefinir sua fé. Como se
já não bastasse a expansão da Boa Nova para além das fronteiras palestínicas fez com que os gentios
também quisessem crer e participar da novidade de vida. Portanto próprias comunidades viam-se
empenhadas nas tarefas de anunciar Jesus e ao mesmo tempo mostrar que ele, sua obra e sua doutrina
representavam a ação decisiva de Deus (neste caso, o Pai) para promover a salvação.96

Assim, as próprias comunidades cristãs seguiram a seguinte linha de pensamento:97 a vontade de Deus se
manifestou nas Sagradas Escrituras que são sua palavra. Se Jesus foi ressuscitado e, em conseqüência
disso, sua vida seguiu o curso estabelecido pelo decreto divino, isso deve corresponder necessariamente à
Escritura. Quando as comunidades cristãs se certificaram que a paixão, morte e ressurreição de Jesus
estavam em conformidade com a Escritura passaram a fazer uso dela para legitimar seu anúncio do Reino e
apoiar-se para explicar o evento Cristo. E não foi só isto! O uso do Antigo Testamento foi crucial, mas não se
limitou às citações e provas. A palavra do A.T. ajudou a formar e desenvolver as primeiras doutrinas no
Evangelho.

 Cristologia98

No começo da pregação cristã surgiu a necessidade de explicar quem era Jesus. Depois de um período que
a morte e a ressurreição de Jesus Cristo começaram a ser anunciadas, o título Cristo já estava tão associado
à pessoa de Jesus que praticamente tornou-se “nome próprio”. A comunidade cristã tirou este nome da
versão grega da tradução do nome hebreu masiah que significa “Ungido”. Esse conceito Cristo trazia sobre si
todas as afirmações da palavra de Deus sobre o Ungido na sua qualidade de portador da salvação. Ele é o
encarregado e o representante de Deus sobre a Terra, nele culmina e converge todo o propósito de salvação
futura. Sem dúvida que as comunidades primitivas acreditaram em Jesus como aquele que devia vir como
símbolo da futura e repentina manifestação da soberania divino, e transformado pela apocalíptica judaica, na
figura do dominador messiânico do futuro Reino de Deus.

96 SCHREINER, p.15.
97 Teoria apresentada por Josef Schreiner em sua obra Forma e exigências do Novo Testamento. É importante compreendermos que toda
construção teológica é fruto de interpretações, o que pode significar que outros teólogos não concordem com o referido autor.
98 SCHREINER, p.25-28.
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 Expiação e Redenção99

As afirmações sobre a entrega de Jesus à morte como expiação pelos pecados está diretamente ligada aos
trechos proféticos do Antigo Testamento. Já que sua entrega é vista como um sacrifício, pode-se pensar no
sacrifício da aliança no A.T. no qual Deus estabelece uma aliança entre Deus e o seu povo, cujo rito ou
cerimônia é, agora, relembrado pela celebração da ceia do Senhor. Mediante a palavra de Cristo e a
compreensão própria, as primeiras comunidades cristãs tiraram da palavra do Antigo Testamento tiraram uma
série de conceitos e idéias que davam a elas condições de anunciar o valor salvífico da morte de Jesus.

 Escatologia100

Na escatologia do Novo Testamento há uma ampla e complexa quantidade de motivos extraídos da


apocalíptica iniciada no Antigo Testamento e desenvolvida no período que se estende até o Novo
Testamento. Foi nesse desenvolvimento que as comunidades encontraram espaço para crer na esperança
profética da salvação. A partir daí puderam interpretar e desenvolver a visão do futuro. Enquanto o futuro não
vem, as comunidades entendiam que a salvação iniciada em Jesus é perpetuada e oferecida à elas que,
como “comunidades messiânica”, já viviam os sinais e as bênçãos da salvação. Com isso, as comunidades
eram encaminhadas ao seu estudo das Escrituras.

O quadro, a seguir, mostra quais eram os trechos usados para interpretar, formular e desenvolver as
doutrinas aqui apresentadas e quais trechos foram re-significados ficando registrados, implicitamente, nas
Escrituras do Novo Testamento:

DOUTRINA TRECHO NO A.T. TRECHO NO N.T.


Cristologia Sl 2 era lido nas reuniões como resposta ao fato da rejeição de Cristo Lc 4:41: neste trecho
segundo At 4:25s. ao invés de manter a
palavra “messias”,
Sl 110:1 era usado para anunciar a glorificação do Senhor Jesus (At 2:29-36), traduziu-se por
pois é verdadeiro senhor do mundo que tem todo o poder (Mt 28:18). “Cristo”.

Dn 7:13 foi lido e interpretado como o messias do futuro Reino de Deus.

Is 53 foi usado para entender a paixão de Cristo., de acordo com At 8:32.

Dt 18:15,18 servia para as comunidades interpretarem Jesus como o grande


profeta prometido por Moisés, mas não se expandiu pela influência judaizante.
Expiação e Is 53 foi o mais lido e usado para interpretar que o objetivo da morte de Jesus Rm 3:24 e 4:25 foram
Redenção foi “por nossos pecados”. escritos mostrando
que a oferta de Cristo
Ex. 24:8 foi usado para que pudesse ser interpretado que o sangue de Jesus em dar sua própria
derramado tem a mesma conotação do sacrifício da aliança. Daí nasceu, vida foi por sacrifício
entre os primeiros cristãos, a doutrina do sacrifício expiatório. expiatório.

99 SCHREINER, p.29-30.
100 Ibidem, p.32-34.
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Escatologia Jesus anuncia a pregação do Reino de Deus baseando-se na segunda parte


do livro de Isaías, também chamado de Deutero-Isaías. (Mc1:14s)

Em sua resposta para João Batista sobre seu messiado, Jesus cita Isaías. (Mt
11:5)

Jesus reivindica para si o cumprimento da terceira parte do livro de Isaías,


também chamado de Trito-Isaías. (Lc 4:18s)

Jesus faz a citação de um salmo re-significando-o e interpretando-o


profeticamente: “eis que vos dei poder para pisar nas cobras e nos
escorpiões” que é o Sl 90:13. (Lc 10:19)

Zc 14:5 foi re-interpretado pelo próprio Jesus. (Mt 25:31)

Como se pode perceber a própria construção do corpo Escriturístico neotestamentário já é fruto da


interpretação dessas ações soberanas de Deus, incluindo a vida terrena e o ministério de Jesus.

O próximo capítulo é o clímax de todo o processo de estudo sobre Teologia do novo Testamento: trata-se da
construção teológica propriamente!
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FINALMENTE... A CONSTRUÇÃO TEOLÓGICA:


É POSSÍVEL?

sempre importante lembrar que, se Deus não pode ser estudado como um objeto de laboratório, então o foco

É
se volta para as ações de Deus no Novo Testamento e fora dele, nas tradições. Portanto no conjunto de
ferramentas usadas na construção de uma teologia bíblica encontram-se as informações sobre o contexto
histórico em que o texto sagrado foi produzido, juntamente do contato com o próprio texto produzido, isto é,
os tipos literários cristãos.

O resultado da interpretação teológica desses textos, seja de passagens isoladas ou da visão de conjunto da
teologia bíblica é geralmente, influenciado compreensão que se tinha nas diversas épocas da Igreja pela
afirmação teológica, isto é, as interpretações de hoje e as afirmações teológicas sejam no campo doutrinário,
sejam no campo prático, são fruto de declarações exegéticas e, consequentemente hermenêuticas.

Se partirmos do ponto de vista de que o Novo Testamento é norma de fé que gera vida, o teólogo vai
asseverar que sua interpretação está baseada em sua “norma de fé”. Mas uma vez que Cristo e sua obra são
o conteúdo central e direto da fé e as interpretações do Novo Testamento acontecem pela reflexão teológica
junto de tradições específicas que influenciam a visão e leitura de cada teólogo, conforme já sabemos, assim,
compete a esse mesmo teólogo buscar ou se aproximar do sentido mais próximo do que foi a intenção do
autor.

É preciso compreender que o Novo Testamento tem uma função fundamental e insubstituível para o
conhecimento e a formulação da fé: ele, por si só, possui a característica de norma, sempre levando a
pesquisa teológica a desenvolver-se partindo da origem. Fica assim estabelecida a importância do Novo
Testamento para a formulação das afirmações de fé.

Assim, podemos responder positivamente à pergunta feita no título deste capítulo: Sim, é possível elaborar
teologia! E para que as teologias do Novo Testamento hoje não provoquem divergências é preciso que não
seja contestado por parte do teólogo o direito de outros fazerem um desenvolvimento posterior.
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CONCLUSÃO

O cristão hoje tem acesso à palavra de Deus e a oportunidade de ler e meditar nela. Quando isso é feito de
certa forma é possível afirmar que “teologias” estão sendo construídas, isso pelo simples fato de que o
intérprete afirma “ouvir” a voz de Jesus Cristo transmitida pela pregação apostólica. Deus se faz visível, sua
palavra se torna compreensível e sua vontade se torna reconhecível.

É interessante notar que o leigo constrói teologia a partir de sua experiência de fé, mas não significa que toda
teologia construída pelo corpo de leigos seja suficiente para responder todas as questões. Daí surge a
teologia fruto de reflexão, investigação e pesquisa do teólogo, que é chamado para tentar responder às
necessidades do contexto ao seu redor. Mas a própria teologia “erudita”, chamemo-la assim, produzida pelo
teólogo torna-se com o tempo insuficiente, carente de “atualizações”, mas as ferramentas hermenêuticas
estarão sempre à disposição.

Conhecer as influencias que a Palestina sofreu antes, durante e depois do ministério terreno de Jesus é
importante para não incorrermos no risco de deduzirmos o que de fato não aconteceu. Essas próprias
ferramentas recebem, com certa periodicidade, atualização!

O contato com o texto sagrado requer humildade e desejo de aprender, talvez até mais intenso do que o de
responder. Para o cristão que quiser encontrar-se com seu Senhor e viver de sua força e de seu
ensinamento, o único meio é aprofundar-se nas Escrituras, especialmente na Nova Aliança. No Novo
Testamento o Pai que está nos céus vem carinhosamente ao encontro dos seres humanos, os adota e os
transforma em filhos amados, falando com eles, usando-os para produzir teologias do Novo Testamento.

É tão grande o poder e a eficácia da palavra neotestamentária que ela se constitui em sustento e vigor para a
Igreja daquela época e a de hoje, concedendo firmeza de fé, alimento da alma e fonte de vida espiritual.
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REFERÊNCIAS

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DUNNETT, Walter M.. Panorama do Novo Testamento. Vol 3 Curso Vida Nova de Teologia Básica. São Paulo: Editora
Vida Nova, 2005.

Introdução à Bíblia e Novo Testamento. Faculdade Evangélica de Teologia de Belo Horizonte – FATE-BH.

História do Cristianismo. Seminário Teológico Rhema.

História do Cristianismo: Material Complementar. Seminário Teológico Rhema.

FEE, Gordon e STUART, Douglas. Entendes o que lês? 2ed. São Paulo: Editora Vida Nova, 2005.

MESTERS, Carlos e OROFINO, Francisco. As primeiras comunidades cristãs dentro da conjuntura da época: As etapas
da história, do ano 30 ao ano 70.101

MÍGUEZ, Nestor O.. Contexto sociocultural da Palestina.102

MIRANDA, Humberto. História de Israel. Seminário Teológico Rhema.

Panorama do Novo Testamento.103

PEDRO, Antônio e CÁCERES, Florival. História Geral. São Paulo: Editora Moderna, 1982.

Revista Estudos de Religião. Apocalíptica e as Origens Cristãs. Ano XIV, nº19. São Paulo, dezembro 2000.

RICHARD, Pablo. As diversas origins do Cristianismo: uma visão de conjunto (30-70d.C.).

SCHREINER, Josef e DAUTZENBERG, Gerhard. Forma e Exigências do Novo Testamento. São Paulo: Editora
Hagnos, 2008.

101 Artigo avulso.


102 Ibidem.
103Ibidem.

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