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Resumo
1 Contexto
São vários os estudos que demonstram a importância de envolver os estudantes do ensino
superior ativamente na sua aprendizagem [1,2,3]. Por exemplo, uma meta-análise de 255
estudos focada na aprendizagem de ciências naturais, engenharia e de matemática,
concluiu que a aplicação de estratégias ativas de aprendizagem resulta em desempenhos
académicos e taxas de sucesso significativamente superiores [1]. Ao não identificar
vantagens específicas duma metodologia particular sobre outras, este estudo confirmou a
importância do ajustamento das estratégias de ensino-aprendizagem a cada contexto
pedagógico de forma a maximizar a interatividade das atividades letivas [4]. Desta forma,
ao invés de embarcar numa cruzada pelo “melhor método” de ensino, cabe a cada docente
fazer uma reflexão sobre que estratégias pedagógicas terão potencial para maximizara
interatividade no seu contexto pedagógico e institucional e em função das suas
especificidades [5]. Neste contexto, uma abordagem eficaz pode ser a adaptação ou a
A metodologia Team Based Learning (TBL), com origem no ensino da gestão [7], também é
aplicável a turmas de grande dimensão. A TBL dinamiza a aprendizagem em múltiplos
grupos pequenos em aulas lecionadas para um grupo grande, permitindo colher os
benefícios do trabalho em grupos pequenos em contextos de grandes turmas com baixos
rácios professor/estudante. Tipicamente, os estudantes desenvolvem parte das atividades
letivas em equipas de 5 a 10 elementos. Em cada sessão administrada em TBL, os
estudantes respondem inicialmente a um teste à sua preparação prévia da atividade,
primeiro individualmente, e, findo um tempo limite predefinido, resolvem o mesmo teste
em equipa. Segue-se um período em que as dúvidas remanescentes são partilhadas e
discutidas entre toda a turma. O fulcro desta metodologia é a resolução do mesmo teste,
primeiro de forma individual, e depois em equipa. Esta abordagem promove a
consciencialização individual de dificuldades e os benefícios para a aprendizagem
associados à discussão entre pares. Apesar de ser uma metodologia relativamente jovem,
foi já associada a efeitos positivos sobe a aquisição de conhecimento, participação e
envolvimento dos estudantes nas aulas [8].
A metodologia Peer Instruction (PI) foi desenvolvida com o objetivo expresso de promover a
aprendizagem e a interatividade em seminários de introdução à física com 200 ou mais
estudantes [9]. Nos seminários lecionados através de PI, as aulas expositivas com suporte
audiovisual dão lugar à apresentação de questões conceituais, seguida de discussão das
respostas e ”mini-palestras” expositivas. No PI pode recorrer-se a sistemas de televoto,
cujos principais componentes são um computador ligado um sistema de projeção de
dados e um conjunto de dispositivos de televotação semelhantes aos controlos remotos de
uma TV e correspondente recetor que permitem aos estudantes assinalar à distância e de
forma anónima respostas a questões, que são agrupadas e imediatamente exibidas na
forma de histograma dos resultados. Esta metodologia tem efeitos positivos
documentados sobre a aprendizagem dos estudantes em cursos cujas atividades letivas
decorrem exclusivamente sob a forma de seminários com plateias diversas [10]. O cerne
da metodologia é o facto de cada estudante se comprometer individualmente com uma
resposta às questões colocadas em cada momento, e, seguidamente, ser convidado a
procurar argumentar e convencer um dos seus pares da acuidade da sua resposta. Uma
característica identificadora do PI é não recorrer a trabalho em equipas estruturadas.
M.J. COSTA et al. /CNaPPES 2016, 241-246 243
A metodologia hibrida Flipped, team based peer instruction (FliTePI) descrita neste
trabalho combina as três metodologias anteriores, atendendo aos seguintes desafios: i)
permitir a lecionação de sessões num rácio de docente/estudantes aproximadamente de
1/130; um rácio docente/estudante reduzido em espaços de auditórios (para 100 a 200
estudantes) ou salas mais pequenas (para 30 a 40 estudantes); ii) incentivar o
investimento do desenvolvimento de hábitos de trabalho de preparação antecipada de
atividades em estudantes recém-chegados ao ensino superior; iii) focar as atividades nas
dúvidas mais prevalentes entre os estudantes, perante as limitações no tempo de contacto
efetivo do docente com todos os estudantes. A FLITEPI foi aplicada em três edições de
uma unidade curricular, para promover a aprendizagem de conceitos iniciais de
Bioquímica, numa turma com 120 a 140 estudantes do primeiro ano do curso de
medicina da Universidade do Minho.
2.2 Metodologia
O Flipped learning inicia o FLITEPI. Nas 4 semanas da UC, são desenvolvidas 2-3
atividades online, que consistem num vídeo curto seguido de questões relacionadas com
os objetivos de aprendizagem. Os links para as atividades estão disponíveis para os
alunos no momento do arranque da UC na plataforma de ensino-aprendizagem do curso,
juntamente com os objetivos da UC. As atividades online são desenvolvidas na plataforma
“Ted-Ed” e os estudantes são convidados a registar-se na plataforma. A escolha desta
ferramenta prende-se com a sua fácil utilização – pelo docente e pelos estudantes – e pela
possibilidade que o recurso oferece ao docente de consultar as respostas individuais dos
estudantes, o que é fundamental para permitir a identificação das principais duvidas e
dificuldades dos estudantes. A plataforma permite ainda fornecer feedback
individualizado a cada estudante, o que é útil em situações de estudantes que têm
dificuldade em compreender as suas dificuldades. A abordagem inicial dos alunos à
plataforma “Ted-ED” é promovida com uma atividade de introdução à escola de medicina,
baseada num vídeo realizado por estudantes de anos anteriores disponível no “YouTube”.
5. Nesta última fase do TBL, tem lugar a resolução das perguntas mais
problemáticas, que são decididas consensualmente entre todos os grupos; e
seguidamente, as equipas partilham as suas respostas e dúvidas. Utiliza-se a
metodologia Peer Instruction conforme descrito abaixo, para acrescentar
interatividade e participação dos estudantes na resolução das questões, em
contexto de auditório com toda a turma.
O Peer Instruction surge no final das sessões de TBL. Esta sessão é essencial para que os
estudantes tenham feedback sobre os raciocínios que desenvolveram para responder às
questões, o que é importante para monitorizarem o seu trabalho e para desenvolverem
autoconfiança nos seus processos de estudo.
Sumariamente, as mesmas perguntas do teste à preparação dos alunos, são revisitadas
recorrendo a um sistema de televoto. Previamente, cada questão do teste é colocada num
diapositivo por forma a permitir a sua votação e discussão. No decorrer da etapa de
resolução do teste em grupo do TBL, o docente identifica as questões que suscitam as
maiores dificuldades, onde focará a discussão na sessão de PI. Nesta sessão, após
verificar com os estudantes as questões mais problemáticas, cada questão é percorrida
individualmente de acordo com o ciclo da metodologia PI:
1. A questão é projetada;
2. Os estudantes selecionam uma opção individualmente;
3. São visualizadas as tendências de resposta e solicita-se a representantes das
várias respostas que expliquem o seu raciocínio;
4. A questão é discutida entre pares, preferencialmente de equipas distintas;
5. É feita nova votação;
6. O docente orienta a análise dos diferentes raciocínios e, se necessário, realiza uma
mini-palestra sobre o tema;
7. É feita uma última votação antes de se avançar para a questão seguinte.
2.3 Avaliação
Até ao momento, a metodologia não foi sujeita a um procedimento sistemático de
avaliação. Não obstante, há indicadores indiretos positivos. Por um lado, as respostas dos
estudantes aos inquéritos de funcionamento da UC que abrangem todas as atividades
FLITEPI dos restantes componentes, recolhem, numa escala de 1 (discordo totalmente) a
6 (concordo totalmente), as pontuações médias globalmente muito positivas: os conteúdos
foram trabalhados de acordo com os objetivos (4,6); senti-me orientada/o no meu
processo de aprendizagem (4,7); as actividades estavam bem organizadas (4,6). Por outro,
a adesão aos recursos online facultativos é também generalizada, tendo variado entre
62% e 81% dos estudantes de cada ano letivo.
A apreciação do docente, naturalmente sofrendo do viés importante de ser também o
autor e dinamizador da metodologia, é que a metodologia tem efeito positivo sobre a
preparação dos estudantes para as atividades presenciais, em que é notório que os grupos
discutem as questões na expectativa de poderem conseguir respostas corretas. A presença
da tecnologia do televoto, por si só, é um ponto positivo para a cativar a atenção dos
estudantes. Uma vantagem muito importante da metodologia, prende-se com o facto de as
equipas ajudarem a socialização entre os alunos que não se conhecem no início da UC,
num processo de aprendizagem com os pares, revelador de que diferentes colegas têm
diferentes conhecimentos. O desafio mais relevante para o futuro será desenhar
estratégias que conquistem maior participação nas atividades e avaliar de forma rigorosa
esta estratégia, de preferência noutros contextos e disciplinas.
3 Transferibilidade
Antecipa-se que a transferibilidade da FLITEPI seja grande, apesar de ter sido apenas
trabalhado no âmbito dum componente duma UC multidisciplinar. O facto das três
246 M.J. COSTA et al. /CNaPPES 2016, 241-246
4 Conclusões
A metodologia híbrida “Flipped, team based peer instruction” é uma estratégia de
aprendizagem ativa desenvolvida com o intuito de ser aplicável a turmas grandes que
procura aproveitar a complementaridade dos pontos fortes das três metodologias que lhe
deram origem. Esta metodologia pode potencialmente ser aplicada no ensino noutras
áreas científicas no ensino superior.
5 Referências
1. Freeman, S., Eddy, S. L., McDonough, M., Smith, M. K., Okoroafor, N., Jordt, H., &
Wenderoth, M. P. (2014). Active learning increases student performance in science,
engineering, and mathematics. Proceedings of the National Academy of Sciences,
111(23), 8410-8415.
2. Prince, M. (2004). Does active learning work? A review of the research. Journal of
engineering education, 93(3), 223-231.
3. Allen, P. J., & Baughman, F. D. (2016). Active Learning in Research Methods Classes
Is Associated with Higher Knowledge and Confidence, Though not Evaluations or
Satisfaction. Frontiers in psychology, 7.
4. Dunlosky, J., Rawson, K. A., Marsh, E. J., Nathan, M. J., & Willingham, D. T. (2013).
Improving students’ learning with effective learning techniques promising directions
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Interest, 14(1), 4-58.
5. Costa, M. J., & Rangachari, P. K. (2009). The power of interactive teaching.
Biochemistry and Molecular Biology Education, 37(2), 74-76.
6. Abeysekera, L., & Dawson, P. (2015). Motivation and cognitive load in the flipped
classroom: definition, rationale and a call for research. Higher Education Research &
Development, 34(1), 1-14.
7. Michaelsen, L. K., & Sweet, M. (2008). The essential elements of team-based learning.
New directions for teaching and learning, 2008(116), 7-27.
8. Haidet, P., Kubitz, K., & McCormack, W. T. (2014). Analysis of the team-based
learning literature: TBL comes of age. Journal on excellence in college teaching, 25(3-
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9. Crouch, C. H., & Mazur, E. (2001). Peer instruction: Ten years of experience and
results. American journal of physics, 69(9), 970-977.
10. N. Lasry, E. Mazur, J. Watkins (2008) Peer instruction: From Harvard to community
colleges, Am. J. Phys. 76, 1066–1069.