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RELAÇÕES ARDENTES

Capítulo 1 – O caminho da felicidade

GILSON COMEÇOU A ME despir com certa pressa naquele início de noite. Era uma
sexta-feira e tínhamos chegado quase ao mesmo tempo diante do prédio da Rua
Vergueiro. Subimos quase correndo os lances de escadas até o terceiro andar. A tranca
na porta demorou a reconhecer a chave eletrônica. Entramos aos tropicões, afoitos,
insaciáveis e sedentos um pelo outro.
O moço de braços fortes e torso definido me agarrou com tanta fúria que senti o ar
escapando pelos meus pulmões. Me beijou como se estivesse a fim de me sufocar tal era
a sua vontade. Lá embaixo, as mãos grandes e calosas por conta do tatame apertaram as
minhas nádegas com força. Suspendi as duas pernas acima da linha do seu quadril e fui
carregada para o quarto, para o nosso ninho de amor. Éramos agora só eu e ele.
Ninguém poderia nos atrapalhar.
O rapaz troncudo arrancou a camiseta pouco antes de se deitar sobre mim. Devia pesar
uns noventa quilos de pura massa muscular e eu adorava aquela sensação de aperto
quando ele me cobria quase inteira em cima da cama. Me deu outro dos seus beijos
molhados e sufocantes, me arrancou um gemido de satisfação.
— Uau! Quanta vontade!
Seus olhos castanhos fitaram os meus. O dorso da mão direita tocou com delicadeza o
meu rosto só para que seus dedos se encaixassem na lateral do meu pescoço em seguida.
— Você que me deixa assim cheio de vontade, gostosa!
A minha blusa social demorou pouco a cobrir meu busto. Os botões voaram com um
puxão que quase fez a roupa em pedaços. Pouco depois, lá estava aquela língua voraz
passeando pelos contornos dos meus seios, circundando os meus mamilos e
umedecendo as minhas aréolas castanhas.
Gilson desceu os carinhos por minha barriga e correu o zíper da minha calça para
encontrar morada entre as minhas pernas, na área mais íntima do meu corpo. Sem tirar a
minha lingerie branca de renda, ficou a deslizar a língua de norte a sul, me arrancando
suspiros, me deixando completamente e inebriantemente entregue às suas carícias.
— Seu sádico!
Tão logo disse aquilo a ele, o judoca começou a deslizar a minha calcinha pelos meus
quadris devagar, contrastando totalmente com a pressa com que tinha me pegado ainda
à porta do flat alugado. Deixou a minha roupa na altura dos joelhos apenas para apreciar
por alguns instantes a umidade do meu sexo a implorar por ele dentro de mim.
Antes que eu verbalizasse o meu desejo, a sua boca avançou entre as minhas pétalas
para começar a sorver o néctar doce que delas escorria. Ia e vinha. De norte a sul. De sul
a norte. Se repetindo, se repetindo e se repetindo.
Me deixou em desespero. Tentei lhe agarrar os cabelos, mas eram curtos demais para
que os pusesse entre meus dedos. Ele então ergueu as mãos grandes e as encaixou nas
minhas. Não conseguia mais conter os meus gemidos enquanto ele prosseguia com a sua
tortura oral. Ia e vinha. De norte a sul. De sul a norte. Se repetindo, se repetindo e se
repetindo.
Eu estava completamente nua quando Gilson subiu sobre a cama me botando de costas
para ele e me fez inclinar levemente o corpo. Ouvia seu ofego muito perto da minha
orelha esquerda, sentia o seu suor se mesclando ao meu e a sua rigidez a me apunhalar
feito uma estaca imensamente firme na altura do cóccix.
Sua mão dava a volta em meu corpo para se fechar num dos meus seios enquanto a
língua brincava em meu pescoço. Eu já estava entregue. Ele só precisava reclamar o
prêmio.
— Chega de tortura, Gil… me pega com força, vai. Me pega!
A mão espalmada empurrou as minhas costas para que eu caísse de quatro em cima do
colchão macio. Dei um riso nervoso já esperando pelo que viria a seguir. Uma carícia
em minha nádega esquerda anunciou que ele estava se preparando para usar a sua
estaca, mas quando ele me deu o primeiro “beijo” entre as pétalas, gemi de maneira
incontrolável.
Gilson começou a se projetar contra mim sem perder o contato com a minha pele. Me
apertava forte, mas não tão forte quanto arremetia dentro de mim. Seu físico de atleta
lhe proporcionava uma tonicidade ímpar, além de uma resistência sem igual. As minhas
noites de terças e sextas tinham se tornado as mais movimentadas de toda a semana. Eu
voltava para casa em estado de miséria por conta de como era tomada por aquele rapaz.
Longe de querer reclamar, no entanto, mal acabava o dia, eu já começava a sonhar com
o próximo.
Naquela noite, depois de quase uma hora suportando a pressão do meu vigoroso
companheiro comigo de quatro, eu pedi para que mudássemos de posição e ele voltou a
jogar todo o seu peso sobre mim, mantendo as minhas pernas bem afastadas. A cada
limiar de orgasmo, eu fechava os meus dedos em suas costas definidas arranhando a sua
pele. Ele nem sequer mudava a sua expressão. Quase nem sentia as minhas unhas
cravadas nele.
Nós dois tínhamos uma química invejável na cama, mesmo ele sendo quase dez anos
mais jovem do que eu. Era obrigada a me esforçar para acompanhar o seu ritmo
acelerado, mas era gostoso voltar a me sentir tão viva novamente.
— Não para, Gil, por favor! Continua… Continua!
Às vezes, eu me sentia uma menina inexperiente pela maneira como ele me fazia sentir
coisas que eu nem sabia que existiam, mas eu também tinha vários truques na manga
que podia ensinar a ele. Tínhamos uma troca muito boa, eu com a minha experiência,
ele com a sua juventude. Exatamente por isso éramos o par perfeito.
Outras boas horas mais tarde, me vi deitada ainda nua sobre os lençóis com Gilson
abraçado a mim. Havia um semblante de pura satisfação em nossos rostos e eu lhe fazia
carinho nas fibras musculares de um de seus braços. Ele depositou um beijo em meu
ombro direito e coçou a garganta antes de perguntar:
— Não tem medo que alguém descubra sobre nós dois?
Ajeitei os fios de cabelo levemente úmidos que caíam em meu rosto. Continuei
deslizando meus dedos por seus músculos, então, respondi:
— Não tem como ninguém saber sobre nós, Gil. O aluguel do flat não consta nas
minhas despesas pessoais e eu sempre dou algumas voltas de carro antes de vir até aqui.
Não há nenhuma pessoa me seguindo.
Ele pareceu pensativo.
— A Nádia está desconfiando de algo?
Ele fez que não com a cabeça.
— Então não tem porque se preocupar — disse a ele, lhe depositando um beijo nos
lábios —, nós só temos que nos divertir, esquecer que existe um mundo do lado de fora
dessas paredes.
Sua mão circundou o meu quadril. Ele fez uma carícia em minha barriga.
— Poderíamos nos mudar de vez pra cá. Não quero mais ter que te dividir com o seu
marido.
Meu semblante ficou tenso. Não pude disfarçar a minha preocupação.
— Ei! Nada de pressa. Não precisamos botar a carroça na frente dos bois, Gil. Estamos
juntos há algum tempo, nós temos gostado da companhia um do outro, mas ainda é cedo
para darmos passos maiores do que as pernas.
Ele não parecia concordar, mas não verbalizou nenhuma queixa.
— E depois, você não precisa se preocupar… meu marido e eu não fazemos nada na
cama há um bom tempo!
Deixei que Gil descansasse mais um pouco depois da última maratona sexual, mas
quando ele demonstrou rigidez mais uma vez, o instiguei a me tomar novamente. Ainda
tínhamos tempo até que desse a hora de ir embora e eu não via motivos para desperdiçá-
lo.
O meu corpo ainda estava dolorido das últimas horas de sexo intenso quando me
levantei da cama e fui tomar um ar na janela. Não me preocupei em cobrir a minha
nudez ao caminhar até a sacada para observar a noite paulista do lado de fora do prédio,
e lá embaixo, a Rua Vergueiro já estava bem menos movimentada aquele horário.

Diferente dos meses anteriores, estava me sentindo bem comigo mesma. Sentia que
minha autoestima havia voltado e estava me sentindo gostosa novamente.

Me debrucei na amurada e o vento açoitou a minha pele suada, me causando arrepios.


Dava para ouvir a cidade viva ao meu redor. Buzinas, gritos, sirenes. O cheiro da
fumaça do grande centro agredia o meu olfato. Eu não me importava. O sorriso que o
garoto deitado desacordado na cama havia deixado em meu rosto ainda estava lá. Largo.
Radiante.

Pela primeira vez em muito tempo, eu tinha finalmente afastado aqueles pensamentos
de que tinha deixado de ser atraente ou desejada. Pela primeira vez em muito tempo, eu
havia gozado de verdade.
Capítulo 2 – A família Castilho

EU FUI BATIZADA COMO CARLA por minha mãe ao nascimento e segundo ela,
tinha a ver com o significado do nome, que do germânico, era "mulher forte" ou
"mulher guerreira". Sempre adorei o meu primeiro nome, mas por muito tempo, eu
acabei sendo cobrada pelo sobrenome que carregava na carteira de identidade. Castilho.
O peso de ter um sobrenome tão nobre me assombrou durante toda a minha
adolescência, e chegou um tempo em que eu tinha medo de que não conseguisse honrá-
lo assim como faziam os meus irmãos mais velhos.

Mas vamos começar do início para que vocês possam me entender melhor.

O meu pai se chamava Jaime Castilho. Filho de imigrantes espanhóis que aportaram no
Brasil no século passado, acabou herdando um patrimônio milionário quando o meu avô
— um investidor de petróleo — faleceu no começo dos anos 70 com quase oitenta anos.
Tendo começado uma graduação de Administração que nunca chegou a concluir, Jaime
decidiu investir o seu dinheiro na construção civil, ramo este que estava em franco
desenvolvimento na época.

Em um galpão de poucos metros quadrados localizado na região da Barra Funda, em


São Paulo, ainda na metade da década de 70, ele e o colega de infância Elder Bispo
começaram a tocar juntos uma pequena empresa de construção civil a qual eles
denominam de “Construtora Alfa”. Um ano depois, Bispo aplicou um golpe em Jaime e
desviou todo o dinheiro conquistado pela empresa para uma conta na Suíça, país para
onde o homem acabou fugindo.

Tendo que lidar sozinho com todo o prejuízo dos contratos assumidos em aberto, Jaime
foi obrigado a tirar da própria herança os valores para honrar os seus compromissos, e
desiludido, acaba saindo do ramo por um tempo.

Jaime decidiu então só aproveitar a fortuna deixada pelo pai a ele e aos irmãos por um
período, mergulhando fundo no mundo boêmio das drogas, das bebidas e do sexo fácil.
Além de Jaime, o casal Juan e Eneida Castilho — os meus avós — tiveram mais quatro
filhos em seu casamento: Juan Júnior (o segundo depois de Jaime), Juanita, Miguel
Angel e a caçula, Pietra Maria.

Com o passar do tempo, todos eles juntos começam a participar das orgias promíscuas
promovidas pelo primogênito Jaime, e para isso, os irmãos usam a casa de praia da
família no litoral norte de São Paulo.

As festinhas regadas a substâncias ilícitas e contando com a presença praticamente


obrigatória de profissionais do sexo dura por longos anos e mesmo após os seus
casamentos e a chegada dos seus filhos, os Castilho não se intimidam de continuar
buscando o prazer em sua pequena ilha particular.
Jaime é o primeiro a se casar e se une apenas no civil com Patrícia, uma ex-prostituta
que ele leva para morar em sua companhia numa mansão localizada no bairro de
Moema, em São Paulo. Inicialmente apaixonado pela mulher e sentindo a necessidade
de constituir uma família, Jaime enfrenta todo o preconceito dos irmãos quanto à antiga
profissão da esposa, mas tem com ela dois filhos — os meus irmãos Renato e Mauro —
a quem acaba negligenciando a educação por conta da sua vida desregrada.

Depois do nascimento dos filhos, Jaime se torna um marido e um pai cada vez mais
ausente, e embora financeiramente não deixe faltar nada à família, Patrícia mal o vê em
casa, descobrindo logo que ele jamais parou de frequentar prostíbulos e bocas de fumo,
mesmo com o casamento. Os dois acabam se divorciando doze anos depois e ela fica
com a guarda das crianças, além de uma fatia generosa da fortuna de Jaime.

Ainda na década de 70, os meus tios Miguel Angel e Juan Junior se mudam para a
Espanha, numa região próxima à Sevilha, e o segundo se assume homossexual,
passando a viver com um espanhol em situação não-declarada de casamento até a sua
morte, no final dos anos 90.

Miguel Angel se casa com uma espanhola chamada Conchita e com ela tem uma filha
— a minha prima Angelita, que atualmente é uma consulesa espanhola em solo francês.
Anos mais tarde, se divorcia da mulher e se casa pela segunda vez, agora com uma
espanhola chamada Tereza, com quem tem mais três filhos, Miguel Junior, Pedro
Antônio e Marieta.

As irmãs Juanita e Pietra Maria se estabelecem no Brasil e a primeira se muda para o


Espírito Santo, onde se casa com um matemático de nome Clécio. O casal tem dois
filhos, Tassia e Teodoro, que moram em Vitória até hoje.

Pietra Maria decide fazer votos à igreja católica após aquilo que ela passa a considerar
pecado da carne — as relações sexuais promovidas com drogas e álcool com os irmãos
mais velhos na casa de praia — e se torna freira. Mora num convento no interior de São
Paulo e não mantém contato com a família desde os anos 90.

Ainda na década de 80, contando com a parceria e o patrocínio de empreiteiras e


empresas de aluguel de maquinário de engenharia, Jaime funda a Construtora Castilho,
companhia que faz a fortuna do descendente de espanhóis duplicar em dez anos, mesmo
ele tendo se esforçado — e muito — para a liquidar quase que inteira com a vida
boêmia que levava na década anterior.

Ainda sofrendo com surtos psicóticos que o faziam consumir quantidades exageradas de
drogas — sobretudo a cocaína — Jaime conheceu a doce e pacata Vilma Estéban, uma
descendente de espanhóis da região de Córdoba que acabou mexendo com o seu velho e
duro coração.

Decidido a levar uma vida regrada por conta da sua paixão pela moça, Jaime se casa
pela segunda vez em sua vida e passa alguns anos longe de tudo aquilo que quase levou
a ele e aos irmãos à ruína anos antes, e que destruiu o seu primeiro casamento.
Após o falecimento da sua primeira esposa num acidente de automóvel, Jaime tem,
enfim, a chance de se reaproximar dos filhos e os leva para morar com ele e a sua nova
esposa no casarão em Moema onde os meninos cresceram. Alguns anos depois, vêm ao
mundo a minha irmã Elisa e eu, as duas únicas filhas do casal. A partir de então, a
família se estabelece em São Paulo com o dinheiro da companhia do patriarca e os bons
negócios firmados em nome da Construtora Castilho.

Eu nasci numa maternidade particular na região da Grande São Paulo poucos anos após
minha mãe, Vilma, conhecer o meu pai Jaime e dar à luz à minha irmã antes de mim.
Vilma era uma solteirona de quase trinta anos e ele, à época, já era um coroa de quase
cinquenta que tinha ficado viúvo há pouco tempo.

Engenheiro, empresário e viciado em sexo, Jaime tinha dois filhos adultos com a antiga
esposa e não demorou a encantar Vilma com promessas de riqueza e uma vida de
rainha. De fato, a ela nunca nada material lhe faltou desde que se juntou ao velho, mas
era notório o sofrimento em seu rosto com a vida promíscua que Jaime levava conforme
os anos passavam.

Após o falecimento da sua primeira esposa, papai trouxe seus filhos para morarem com
a gente, e desde crianças, Elisa e eu sempre compartilhamos o casarão em Moema com
meus outros dois irmãos rapazes, o Renato e o Mauro. Apesar de ela não ser a sua mãe e
nem de eles admitirem o título “madrasta” vindo dela, Vilma sempre tratou os dois com
todo o respeito possível e jamais os rejeitou só porque eram filhos da outra mulher do
marido. Minha mãe era uma mulher muito generosa desde sempre e essa era uma de
suas principais características.

Eu cresci com todo o luxo e a mordomia que uma criança nascida rica poderia desfrutar
e nunca soube o que era passar fome ou frio na vida. A mansão era grande o suficiente
para que ficássemos dias sem topar com papai e mamãe, às vezes, e eram os
empregados quem mais cuidavam de mim e da minha irmã praticamente. Tínhamos
uma babá chamada Mirtes na infância e era com ela que passávamos grande parte das
nossas semanas enquanto papai trabalhava em sua construtora e a mamãe gastava as
suas energias — e o dinheiro do papai — com filantropia.

Quando eu completei os meus dez anos e a minha irmã os seus doze, mamãe adoeceu e
acabou ficando bastante debilitada trancada em seu quarto. Os médicos diziam que ela
estava com uma rara doença nos ossos, e com isso, passou a ter dificuldade de
locomoção. A casa era grande demais e os seus aposentos ficavam no segundo andar, o
que se tornou um suplício para que ela subisse e descesse as escadas diariamente. Papai
usou boa parte da sua fortuna e influência para conseguir um tratamento adequado para
ela, e naquele período, os dois ficaram um tempo na Europa até que mamãe estivesse
boa novamente. Renato e Mauro já eram jovens adultos na época e assumiram os
negócios em nome do papai. Quase não paravam em casa.

Enquanto Renato e Mauro faziam faculdade e tomavam conta da construtora — o qual


ouvíamos falar em casa que era uma das mais bem-sucedidas do Brasil — eu e Elisa
curtíamos nossa juventude dentro da mansão quase matando a Mirtes de cansaço de
tanto correr atrás de nós duas. A governanta e a cozinheira também tentavam nos conter,
mas era praticamente inútil. Tínhamos energia para dar e vender.

Brincávamos quase à exaustão pregando peças nos empregados — dando sustos nos
coitados ou preparando armadilhas para que eles caíssem —, mas gostávamos mesmo
era de dançar. Papai tinha um aparelho de som gigante na sala e ali ficávamos ensaiando
passos e coreografias de vários sucessos da época, de Spice Girls a Shakira. Às vezes,
puxávamos Mirtes para dançar também e mesmo desajeitada, ela tentava acompanhar o
nosso ritmo intenso.

Quando nossos pais retornaram da Europa, mamãe estava visivelmente mais saudável.
A doença nos ossos tinha sido estabilizada e ela já conseguia andar novamente sem o
auxílio de muletas, embora tivesse perdido quase que completamente a sua libido
durante o tratamento.

Naquele período, papai se tornou um verdadeiro predador sexual e enchia


constantemente a casa de praia da família no litoral de prostitutas e amantes diversas.
Renato e Mauro costumavam acompanhá-lo nas orgias e quando voltavam de lá, os dois
pareciam exaustos de tanto fazer sexo. Papai, em sua pose de macho-alfa, no entanto,
parecia invencível, pronto para outra. O velho era insaciável.

Algum tempo depois do tratamento para a sua doença óssea, mamãe voltou à sua rotina
de filantropia e assistência social, e embora não tivesse mais o mesmo vigor de antes,
passava um bom tempo fora de casa cuidando de caridade e outras coisas que eu não
entendia. Nunca soube exatamente o que ela fazia nas ONGs que patrocinava com o seu
dinheiro, mas eu entendia que aquilo a fazia feliz.

Eu estava com quatorze anos quando ela começou a sair bem cedo de casa e retornar só
à noite com um dos motoristas da família, e eu como a caçula, sentia muito a falta de
uma mãe mais presente em minha vida. Elisa era só dois anos mais velha que eu, mas
era ela quem tentava fazer o papel de mãe, me orientando e me ajudando com minhas
necessidades.

Era ela quem tinha me ensinado a usar absorventes quando menstruei a primeira vez e
também era ela quem me falava coisas sobre beijo na boca, sexo, preservativos, pílula
anticoncepcional e masturbação. Nesse quesito, a minha irmã nunca me deixou
desemparada pela falta de mamãe.

— Não é sempre que você vai ter alguém para te penetrar, Carla. É bom você aprender a
se virar sozinha às vezes — me disse ela uma vez com a sua sinceridade pungente.
Naquela noite, assistíamos a um filme pornográfico juntas na sala e uma mulher se
masturbava com um pênis de borracha na fita. Eu nunca tinha visto nada parecido.
Capítulo 3 – O segredo de Elisa

COM O PAPAI DE VOLTA ao comando da empresa, Renato e Mauro voltaram a ter


tempo para ficar em casa de bobeira antes da faculdade e eu passei a vê-los mais vezes
perambulando pela mansão.

Entre os dois, Renato era o que tinha o tom mais autoritário e o que mais costumava
mandar em mim dizendo que na ausência do papai, era ele quem dava as ordens por ali.
Mauro, por sua vez, costumava ser mais gentil e compreensível comigo e ele era o meu
irmão preferido.

Eu e ele assistíamos filmes na sala, jogávamos jogos de tabuleiro e até nadávamos


juntos na piscina. Diferente de Renato, ele tinha paciência para conversar comigo e
ouvir o que eu tinha para contar — algo raro de uma adolescente ter em casa — e
sempre que ele estava em casa, era em seu quarto no segundo andar para onde eu corria
para falar sobre as coisas que tinham acontecido comigo no colégio. Ele sempre me
ouvia com calma e jamais me rechaçava, por mais tediosas que fossem as minhas
histórias. Eu o adorava.

Elisa, diferente de mim, tinha preferência por Renato e não era raro ver os dois de
risinhos e cochichos pelos cantos da casa. Quando estávamos juntas, ela vivia elogiando
o irmão mais velho e a sua admiração por ele era nítida.

— Quando eu for para a faculdade, vou fazer o mesmo curso que o Rê. Quero ajudá-lo a
administrar a construtora do papai quando for mais velha.

E anos depois, ela não só se graduou no mesmo curso que ele como também na mesma
faculdade e com os mesmos professores. Até a pós-graduação de Elisa foi a mesma de
Renato. Ela era realmente uma admiradora do irmão mais velho, e pouco tempo depois
daquela conversa sobre faculdade, eu descobri que a sua admiração era muito além do
que eu imaginava.

Eu tinha voltado do colégio mais cedo aquele dia. O motorista da família tinha me
deixado à porta de casa e o Hélio, o segurança, me deixou entrar pela portaria após me
cumprimentar. Era por volta do meio-dia. Elisa fazia o Ensino Médio à noite e àquela
hora eu sabia que ela estaria em casa. Entrei pela sala e gritei por seu nome.

— ELISA! CHEGUEI!

Larguei a minha mochila num canto e foi a Jacira, a empregada da época, quem me
recebeu.

— A sua irmã está no quarto, menina. Tome um banho que logo o almoço estará pronto.

— Obrigada, Jacira.
Eu corri escada acima e estranhei saber que a minha irmã estava no quarto uma hora
daquelas. Era muito comum vê-la na piscina aproveitando o sol para manter a
marquinha de biquíni que ela adorava ou na sala ouvindo música. Sempre dizia que os
corredores dos quartos eram “sinistros e assustadores” quando ela estava sozinha em
casa.

O que será que deu nela? Pensei, já imaginando um monte de besteiras enquanto subia
escada acima.

A mansão em Moema tinha três andares além do térreo onde ficava a garagem, o jardim
e a guarita da portaria. A sala, o quarto de hóspedes, a cozinha e a despensa ficavam no
primeiro andar, o mesmo da piscina. Os quartos dos filhos ficavam no segundo andar,
abaixo do escritório do papai e de onde ele dormia com mamãe. O meu quarto era o
último do corredor e ficava ao lado do de Mauro. Em frente, ficavam os quartos de Elisa
e de Renato, que era o último, à direita. Minha irmã não estava em sua cama naquele
momento e eu ouvi sons estranhos vindos do quarto de Renato. Alguém estava
gemendo.

Eu estava muito curiosa para saber o que estava acontecendo e dei um jeito até de
segurar a minha respiração ofegante e acelerada por ter subido as escadas correndo.
Caminhei devagar até a porta e colei a orelha na madeira para ouvir melhor. Eram as
vozes de Elisa e Renato lá dentro.

— Isso, Rê! Assim! Mais forte! Eu tô quase gozando!

— Eu também, Lisa. Eu também…

Meu coração estava disparado no peito. Por mais que eu soubesse da admiração que ela
tinha por ele, jamais tinha imaginado que a minha irmã seria capaz de ceder a tal ponto.
Nós duas éramos filhas de mãe diferente dos dois rapazes, mas ainda éramos todos
irmãos de sangue, filhos do mesmo pai.

— Isso, Lisa! Abre mais pro seu maninho, abre. Isso!

Eu sabia que estava me arriscando muito, mas a curiosidade me levou a girar a


maçaneta devagar e abrir uma fresta na porta para espiar. O quarto estava bem
iluminado e os dois estavam nus em cima da cama de casal onde ele dormia. Elisa
estava embaixo de Renato com as pernas bem afastadas. Ele parecia um touro
ensandecido cobrindo a sua fêmea. Vigoroso. Forte. Sem pausas. Senti um calor tomar
meu corpo vendo os dois daquela maneira, e por puro reflexo, eu bati a porta forte
demais quando vi os olhos de Elisa se virarem para a minha direção.

— A Carla! Ela nos viu! Ela nos viu!

Demorou um tempo até que a minha irmã me alcançasse no corredor e me puxasse pelo
braço até o meu quarto. Eu estava aturdida e ela ainda estava suada e descabelada. Dava
para sentir o cheiro de Renato em seu corpo todo. Elisa me empurrou com força sobre a
cama e disse, brava:

— O que pensa que está fazendo bisbilhotando o quarto dos outros assim, garota?

Ela tinha colocado uma camiseta larga por cima do corpo, mas dava para ver que ainda
estava nua por baixo. Alguma coisa esbranquiçada escorria na parte interna da sua coxa
e os meus olhos se perderam ali um tempo.

— Eu ouvi um barulho esquisito. Fui ver o que era!

Elisa estava nervosa e ficou me encarando por um tempo segurando a porta como que
impedindo alguém de entrar. Ainda estava ofegante. Deviam estar horas no quarto antes
de eu chegar.

— Eu vou te explicar o que está acontecendo.

Elisa me contou que vinha transando com o nosso irmão Renato há algumas semanas e
que ela fugia à noite e de madrugada para o seu quarto a fim de que ninguém mais visse.
Tanto eu quanto Mauro tínhamos sono pesado e como cada um dormia em seu próprio
quarto, era fácil para que Elisa e Renato se encontrassem na encolha. Ela dizia que eles
estavam se divertindo e que aquilo não significava nada além de sexo. Eu sabia o quanto
ela o admirava, mas a minha irmã garantia que não estava apaixonada ou coisa parecida.

— Eu estou namorando o Rafael da minha turma do colégio. Eu sei dividir as coisas.


Com o Rê é só uma brincadeira. Mais nada.

Aquela brincadeira continuou nas semanas seguintes e enquanto eu, Mauro e nossos
pais dormíamos, Elisa e Renato “brincavam” no quarto quase todas as noites, às vezes,
de maneira ruidosa.

Numa daquelas madrugadas, eu fiquei acordada para ouvir melhor e os gemidos


ecoavam através da minha parede. Eles estavam começando a ficar descuidados e logo
comecei a me preocupar por ela caso papai e mamãe acabassem ouvindo a sua farra.

A mamãe ia ter um infarto se descobrisse uma coisa dessas! Foi o meu pensamento
aquela noite.

Foi numa noite chuvosa que acabei acordando apavorada com o som dos trovões que
ribombava do lado de fora da mansão e saí pelo corredor atrás de Elisa. Era comum que
a minha irmã me deixasse dormir em sua cama com ela quando chovia forte, mas outra
vez ela não estava em seu quarto.

Um relâmpago clareou a casa toda quando eu ainda estava no meio do corredor e o meu
coração acelerou no peito. Eu tinha muito medo de tempestades desde pequena e fui até
o quarto de Mauro de olhos arregalados.

Vou pedir para dormir com ele essa noite! Foi o que pensei.
O meu irmão também não estava em sua cama e suspeitei que todos eles estavam num
mesmo lugar àquela hora. Me esgueirei até a porta de Renato e me esforcei para ouvir
além do barulho da chuva. Dava para identificar três vozes muito animadas lá dentro.

— Está gostando assim, Lisa? Está? — Era Renato ofegante, enquanto o som de algo
molhado sendo penetrado era ouvido ao fundo.

— Tá uma delícia! Mais forte, Rê! Mais forte!

— Aguenta os dois ao mesmo tempo, maninha? Aguenta?

Ela respondeu em sussurro que sim à terceira voz, e naquele momento, eu tive a certeza
que Mauro havia se juntado à brincadeira entre irmãos na cama de Renato.

Onde isso tudo vai parar? Pensei ainda um pouco chocada com os diálogos que ouvia
através da porta.

Naquele fim de semana, eu fiquei a sós na piscina com o Mauro e tentei entrar no
assunto sobre o que tinha ouvido escondida no corredor aquela noite. Entre todos os
meus irmãos, ele era com quem eu tinha maior intimidade e sabia que podia entrar num
assunto tão delicado quanto aquele.

Papai e mamãe tomavam sol em esteiras à beira da piscina e Elisa estava se bronzeando
deitada de bruços na outra extremidade, à certa distância dos dois. Gostava de
desamarrar a parte de cima do biquíni e fazer topless quando estávamos a sós em casa,
mas naquele dia, ela estava comportada na presença dos nossos pais. Mauro estava
comigo na água brincando de empurra-empurra, quando comentei:

— Eu ouvi vocês no quarto dia desses.

Ele me olhou com certa surpresa e parou um instante antes de me segurar pela cintura e
me jogar na água. Prendi a respiração, emergi de volta e o procurei, tirando os cabelos
do rosto. Ele tinha nadado agora para trás de mim.

— O que você ouviu? — Ele cochichou, dando uma olhada para o pai e a madrasta à
beira da piscina. Queria se certificar que eles não ouviam a nossa conversa.

— Vocês dois e a Elisa. Fazendo coisas.

Um sorriso safado escapou no canto da sua boca e ele admitiu:

— Temos feito há algum tempo. Tem sido divertido.

Ele ficou boiando na piscina remando para trás com os braços. Havia confiança em seu
semblante. Assim como a Elisa, o Mauro não apresentava qualquer sinal de culpa ou
remorso pelo incesto que estavam praticando. Eles enxergavam tudo como uma
brincadeira. Nadei para perto dele e insisti:

— Vocês não acham perigoso? — Eu estava séria. — E se a Lisa engravidar?


Ele esboçou uma reação mais incisiva, mas se conteve. Voltou a pisar no fundo da
piscina e respondeu:

— Ela toma remédio. E depois, a gente nunca goza dentro.

Aquela conversa com Mauro na piscina me deixou estranhamente pensativa e eufórica.


Naquela noite, voltei a ouvi-los no quarto e mais uma vez eles fizeram a três. Me
abaixei perto da porta e fiquei espiando pelo buraco da fechadura. Os sons já não
estavam mais me satisfazendo, eu precisava ver.

A luz estava acesa lá dentro e Elisa estava de quatro na cama levando por trás de Mauro
enquanto chupava vorazmente o pau de Renato com ele deitado. Eu já tinha visto meu
irmão nu algumas vezes, mas confesso que nunca daquele jeito tão ereto. Ele tinha entre
as pernas um mastro enorme que chegava quase na barriga, duro, espigado. Os pelos
caíam-lhe escuros no púbis e no saco escrotal e era algo muito viril de se olhar. A boca
de Elisa ia e vinha naquela cabeça grande e ela engasgava tentando botar aquela tora
grossa toda goela abaixo.

Nossa! Parece uma delícia! Pensei, sentindo coisas em meu corpo que nunca antes
havia sentido. Pelo menos, não daquela maneira.

Naquela madrugada, eu voltei extremamente excitada ao meu quarto e me masturbei até


ficar inteira encharcada, nua sobre a cama, sentindo o meu sexo pegar fogo. Algo em
mim estava querendo muito participar daquilo com meus irmãos e eu sentia que o
momento estava chegando.
Capítulo 4 – O casamento de Renato

ALGUNS MESES DEPOIS, a minha mãe voltou a sentir os problemas ósseos que a
haviam acometido há algum tempo, e bastante debilitada pelo tratamento, ela fechou as
portas totalmente para o sexo com meu pai, o que fez o velho ligar o “modo predador”
outra vez.

As descidas ao litoral agora eram quase toda semana e num daqueles sábados, ele levou
os filhos mais velhos com ele enquanto eu fiquei em casa cuidando de mamãe. Era a
primeira vez que a Elisa ia com eles para a casa de veraneio e a garota voltou muito
empolgada de lá. Na primeira oportunidade que teve, me chamou de canto e me contou
o que tinha acontecido.

— Tinham umas garotas de programa que o papai contratou. Elas estavam


“cheiradaças” usando cocaína. Muito loucas, sabe? Até eu experimentei um pouco!

— Você usou drogas? — Perguntei na época, assustada.

— Claro! Todo mundo usou. Até o papai. Você precisava ver. Ele é um touro! Todo
duro, forte. O velho ainda dá no couro!

A minha mente procurava reproduzir o que ela dizia e fiquei abismada.

— O papai disse que faz essas festinhas desde os anos 70. Antes, ele ia com os irmãos e
as irmãs dele, depois, com os sobrinhos e primos. A reunião na casa de praia é como
uma libertação das amarras da sociedade, lá, laços de sangue são meros detalhes que
não devem servir de empecilho para relações parentais. Ele tava muito feliz que eu tinha
ido a primeira vez e quer que eu volte ano que vem. Disse também que quer você lá na
próxima, maninha! Não é o máximo?

Eu senti um misto de euforia e medo com aquela conversa e depois daquela visita de
Elisa à tal reunião anual dos Castilho, as coisas começaram a ficar mais malucas dentro
de casa.

Algum tempo depois, o Renato tinha apresentado à família a moça com quem ele havia
noivado há algum tempo e mesmo comprometido, ele não parou de fazer sexo com
Elisa em seu quarto à noite. Ele estava prestes a se formar na faculdade de Gestão
Financeira que cursava para seguir os passos de Jaime na construtora e não demorou a
anunciar também a gravidez da noiva Vânia.

— Eu vou ser pai! PAI!

Meu irmão fez aquele anúncio todo feliz acompanhado da Vânia e o casamento dos dois
teve que ser feito às pressas por conta da barriga da moça que crescia agora a olhos
vistos.
Os Castilho eram uma família tradicional para a sociedade burguesa da qual fazíamos
parte, e na época, não pegava bem uma mulher subir ao altar já grávida do futuro
marido.

Papai comprou um terreno muito bem localizado no bairro de Campo Belo, e pouco
depois, uma equipe especial da Construtora Castilho iniciou a construção da casa que o
velho daria de presente ao primogênito para que ele morasse com a família que estava
formando.

— Quero que você tenha tudo que sempre sonhou, meu filho — disse o patriarca na
ocasião, todo orgulhoso durante a festa de casamento de Renato.

Todos estavam muito felizes e emocionados na cerimônia e até a mamãe parecia


radiante, apesar dos problemas de saúde. Mauro tinha organizado uma festa de
despedida de solteiro ao irmão no dia anterior e ainda estava levemente alcoolizado na
hora do casamento.

Alguns tios e tias que moravam no Espírito Santo tinham vindo celebrar com a nossa
família e revi parentes que há muito tempo não via, bem como conheci outros da qual
nunca tinha ouvido falar. Haviam Castilhos espalhados por todo o Brasil — e até fora
dele —, por isso, não me espantava que ainda não conhecesse todos.

Uma aura de felicidade exalava dos meus parentes naquele dia, exceto de Elisa. Ela
tinha ficado extremamente enciumada com o casamento de Renato e deixava
transparecer isso ficando com cara emburrada pelos cantos da comemoração.

A festa de casamento de Renato rolou até muito tarde aquele dia e eu voltei no carro
com Mauro, que àquela altura, estava completamente bêbado. Ele havia organizado a
tradicional cerimônia da gravata do noivo, e depois disso, não parou mais de beber.
Segundo ele, papai não tinha gastado a fortuna que gastou em buffet para ver bebida
sobrar. Festejando com seus amigos de faculdade e os colegas de Renato, ele foi até o
limite e chegou a ficar delirante ao meu lado no banco traseiro do carro.

— É festa, irmãzinha. Vamos comemorar! — Disse ele com voz pastosa enquanto o
motorista já embocava com o carro na garagem.

— A festa já acabou, Mau — respondi a ele, sentindo o seu hálito que era um
verdadeiro coquetel de várias bebidas diferentes — Nós já chegamos em casa!

O motorista me ajudou a carregar Mauro para dentro da sala e eu o apoiei escada acima
com o peso de seu corpo robusto quase me derrubando pelos degraus. Eu tinha largado
meus sapatos de salto no tapete e tinha subido um pouco a saia do vestido longo que
usava para aumentar a minha mobilidade. Cheguei exausta no corredor dos quartos e foi
outra jornada até conduzi-lo ao banheiro da sua suíte.

— Você precisa de um banho gelado, mano. Só assim vai curar essa bebedeira.
Tentei colocá-lo sob o chuveiro sem me molhar também, mas foi impossível. Mauro
estava pegajoso e ficou me segurando e me puxando enquanto eu tentava molhar a sua
cabeça na água fria.

— Toma banho comigo, irmãzinha. Faz tempo que não tomamos banho juntinhos!

O seu riso frouxo estava me irritando, mas mesmo completamente molhada, continuei a
cuidar dele. Aproveitei para tirar a sua camisa e a sua calça e o deixei só de cueca. Sua
mão boba descia por minhas costas enquanto ele se apoiava em mim e alcançou a minha
bunda. Eu era bem magra na época e ainda estava ganhando minhas sinuosidades. Ele
apalpou o que conseguiu ali atrás e eu o adverti:

— Não precisa se aproveitar de mim só porque está bêbado, Mau!

— Essa bundinha tá ficando carnuda, Carlinha! Uou!

Sua mão deslizou por baixo do meu vestido e senti os seus dedos apertando as minhas
nádegas com força. Aquilo estava diferente de quando brincávamos juntos na piscina de
casa. Não era brincadeira. Ele estava me tocando com desejo e eu me arrepiei. Sabia que
não era só pelo efeito da água fria caindo em minha pele.

— Mau, é melhor tirar a mão agora.

— Mas tá tão gostosa! Tenho mesmo que tirar?

Eu o forcei, e então, ele parou de me apalpar até que eu concluísse o banho. Peguei uma
toalha e passei a enxugá-lo, foi quando notei o seu membro intumescido dentro da
cueca. Parecia tão grande quanto o de Renato. Voltei a me arrepiar.

Mauro já estava suficientemente lúcido após o banho para caminhar com as próprias
pernas até a sua cama e eu o segui de perto. Deixei um rastro molhado por onde passei e
enquanto ele se deitava, afundando feito uma pedra no colchão, eu me despi do vestido
ensopado começando a me enxugar também. Fui até o armário dele e apanhei um de
seus roupões, o vestindo em seguida. Tirei a minha calcinha por baixo e a apertei
molhada em minha mão. Já estava saindo de fininho certa de que ele cairia no sono em
breve, quando ouvi a sua voz abafada pelo lençol.

— Dorme comigo hoje, Carlinha.

Eu parei perto da porta e me voltei para ele.

— Dorme logo. Mais tarde venho te trazer um remédio para a ressaca que com certeza
você vai ter!

— Se dormir comigo não vai precisar voltar depois. Já vai estar comigo.

A voz continuava abafada. Ele estava deitado de bruços largado em cima da cama.

— A minha mãe e o nosso pai vão chegar logo. Para de fogo.


Eu me detive por um segundo e falei a mim mesma que não teria forças para resistir se
ele me chamasse para dormir com ele mais uma vez. Por alguma razão, eu tinha ficado
excitada com os nossos contatos embaixo d’água e embora aqueles fossem os carinhos
quase a esmo de um bêbado, eu tinha gostado daquilo e queria que ele repetisse.

Ouvi um ronco logo em seguida, e o terceiro chamado não veio. Voltei para o meu
quarto levemente frustrada.
Capítulo 5 – O pós-festa

NAQUELA MESMA NOITE, um pouco mais tarde, ouvi os meus pais chegarem em
casa com Elisa e enquanto os velhos iam para o terceiro andar, Elisa passou feito um
foguete em nosso corredor, ainda emburrada pelo casamento de Renato.

De alguma forma, na cabeça da minha irmã, a cunhada Vânia — que tinha quase a
mesma idade do meu irmão, na casa dos vinte e poucos anos — tinha tirado o Renato
dela, e que agora que ele não moraria mais em nossa mansão em Moema conosco, as
chances dos dois se relacionarem novamente eram esparsas. A minha irmã ainda podia
fazer o mesmo com Mauro, mas a preferência dela pelo mais velho era nítida, o que a
deixou de mau humor por um bom tempo ainda após a festa. Deu para ouvir quando ela
bateu sua porta e fez estremecer o batente.

Já estava quase amanhecendo quando eu me levantei da minha cama e decidi dar uma
olhada em meu irmão na porta ao lado. Por precaução, levei um analgésico e um copo
d’água certa de que ele estaria morrendo de dor de cabeça após o porre que tinha
tomado na festa.

Entrei de fininho e tentei enxergá-lo dentro do quarto escuro. Acendi um abajur que
ficava sobre a escrivaninha e a luz azul iluminou a cama. Naquele momento, senti um
espasmo forte e o copo tremeu em minha mão me fazendo derrubar um pouco de água
no chão. Mauro estava deitado de costas em sua cama e ele estava completamente nu. O
lençol embaixo dele estava revirado e o travesseiro jazia jogado num canto como se ele
o tivesse arremessado durante o sono. Os meus olhos fixaram entre as pernas dele e eu
fiquei admirando aquele pau completamente duro cheio de veias saltando e com a
cabeça descoberta. Eu já tinha lido que alguns homens tinham ereção durante o sono,
mas vendo pessoalmente, eu estava bem impressionada. Quase batia na barriga.

— Mau. Acorda.

Tentei acordá-lo delicadamente ao seu lado na cama. Deixei o copo e o remédio sobre o
móvel de três gavetas na lateral e toquei o seu ombro uma vez mais.

— Mau. Trouxe um remédio.

Ele nem se mexeu e os meus olhos voltaram lá para baixo.

Meu Deus! Como é grosso!

Mauro enfim despertou na terceira vez que o chamei e ele me viu ao seu lado esquerdo.
Cobriu os olhos logo que a luz do abajur incidiu de encontro com a sua retina e se
queixou:

— Apaga essa luz!

Me sentei na cama e me virei para apanhar o analgésico.


— Toma. Vai te fazer bem.

Ele jogou o comprimido dentro da boca e pegou o copo de água em minha mão. Bebeu
tudo num gole só. Não estava nem um pouco constrangido em estar nu diante de mim.

— Tenta dormir mais um pouco. Quando acordar, vai estar muito melhor.

Eu disse aquilo acariciando os seus cabelos castanhos e já estava me levantando da


cama quando ele segurou meu pulso.

— Espera, maninha. Fica mais um pouco.

Eu estremeci com aquele pedido. Meu coração disparou no peito mais uma vez e sem
disfarçar, encarei aquele pau duro e grosso novamente.

O que eu estou fazendo? Eu não conseguia conter os meus olhares naquela coisa imensa
e deliciosamente ereta.

— Fica aqui comigo. Isso vai fazer eu me sentir melhor.

A sua mão enlaçou a minha cintura antes que eu levantasse. Ele estava me olhando
estranho, de um jeito que nunca o tinha visto me olhar. Era como os garotos na escola
me secavam me vendo de shortinho nas aulas de Educação Física.

— Você precisa de sono, não de mim, seu tonto!

Ainda tentei me desvencilhar dele, mas Mauro me puxou e eu sentei de novo na cama.
Uma das suas mãos subiu em minha coxa e começou a deslizar em minha pele. Eu
estava vestindo um short curto do pijama do Piu-Piu que tinha comprado no último
verão. Estava sem calcinha por baixo. Me arrepiei inteira.

— Quem disse que não? — Eu o olhei confusa — Quero agradecer pelo jeito carinhoso
que cuidou de mim ontem.

— Não foi nada, Mau. Você é o meu irmão.

— Mas eu não quero te agradecer como irmão.

Quando ele disse aquilo, Mauro se mexeu na cama e a mão em minha cintura me puxou
mais para o centro do colchão, para mais perto dele. Senti minha coxa roçar em seu
corpo e ele estava pegando fogo. Meu irmão deu um beijo de leve em meu braço e logo
alcançou um dos meus seios. A regata do pijama era bem fininha e senti os seus lábios
tocarem o meu mamilo através do tecido.

— Quero te agradecer de uma outra maneira.

Ele repetiu aquele beijo e eu senti meus bicos intumescerem. Eu não usava sutiã para
dormir e ele começou a descer a alça da blusinha, me desnudando.

— Mau… você ainda tá bêbado! Melhor parar.


— Bêbado eu tô, mas é de desejo.

Ele puxou a alça da minha blusa e o meu seio direito pulou em seu rosto. De tudo que
ainda estava em desenvolvimento em meu corpo, meus seios eram o que mais
chamavam a atenção. Àquela altura, eles já estavam bem grandes e pesados e sentir a
língua de Mauro em meu mamilo me fez reagir de maneira instantânea.

— Não faz isso, Mau! Por favor! Assim não aguento!

Meu próximo movimento foi me virar para ele e agarrar seu pau duro entre as pernas.
Eu não sabia bem o que fazer com aquele monstro, mas massageei para cima e para
baixo como via as atrizes fazendo nos caras em filmes pornôs. Mauro puxou a outra alça
da minha blusa e viu meu outro seio surgir. Ele abriu as pernas me deixando masturbá-
lo e meteu o rosto entre os meus peitos para chupar ambos.

Eu agarrei os seus testículos também e fiquei apertando. Era totalmente inexperiente e


esperei ele tomar a iniciativa. Meu irmão me segurou pela cintura em seguida e me
deitou na cama. Segurou os meus braços contra o colchão e voltou a chupar meus
peitos. Ele lambia os bicos e sugava com a boca me deixando inteira arrepiada.

— Isso é muito bom! Humm!

Foi então que ele foi descendo a boca e parou em minha barriga. Senti uma pressão
entre as pernas enquanto ele me lambia já descendo até a minha vagina. Sentia como se
tivesse feito xixi na calça e espasmei sobre a cama quando a língua de Mauro percorreu
meu sexo por cima do short do pijama.

— Não faz assim, Mau! Não faz!

Eu estava me contorcendo e ele ainda nem tinha me despido. Os seus dedos tocaram o
elástico da minha roupa e Mauro começou a me deixar pelada devagar. Deixou o short
na altura dos joelhos e ficou admirando a minha vagina.

— Olha essa maravilha! Olha esses pelinhos!

Mauro expos bem a língua, e em seguida, engoliu a minha xoxota começando a me


chupar. Ele fez com que eu afastasse bem as pernas para ele e enfiou o seu rosto bem no
meio, mexendo a língua de maneira frenética dentro de mim. Nada que eu já havia
sentido na vida se equiparava àquela sensação. Era como subir ao céu e descer de tão
gostoso. Era como andar na Montanha-Russa e na curva mais acentuada passar direto,
sentindo o vento te arrastar para o infinito.

O meu irmão me chupou até eu não aguentar mais de tanto tesão e foi aí que eu pedi
com toda a coragem que havia me surgido no momento em que ele tinha tocado em
mim a primeira vez:

— Enfia o seu pau em mim, Mau! Enfia, por favor!


Mauro sabia que eu nunca tinha feito aquilo na vida e me tratou com muito carinho. Ele
me deitou bem ao centro da cama e colocou o seu travesseiro abaixo do meu cóccix para
que ficasse mais ou menos na altura que ele queria. O seu pau estava bem duro e eu já
via a cabecinha molhada quando ele começou a esfregar em mim. Deu uma estocada de
leve para eu sentir a grossura e ficou massageando o meu clitóris com o polegar. Eu
estava desesperada.

— Pode meter, Mau. Eu aguento!

Ele estava me olhando com uma cara de tarado, então, segurou o seu pau e deu uma
forçada. Vi estrelas.

— Ahh, como é grosso!

Tirou. Ele saiu melado de dentro e meteu um pouco mais. Rebolei para aguentar a dor.

— Tá doendo, Mau!

— Vou botar devagarzinho.

Ele ficou metendo e tirando bem devagar, até que eu abri mais as pernas e falei que ele
podia meter mais forte. Mauro obedeceu e enfiou até metade. Meu hímen se rompeu
naquela estocada e eu senti uma espécie de agulhada na minha área mais íntima. Queria
gritar, mas sabia que não podia. Vi aquela tora imensa suja de sangue e pedi que ele
continuasse.

— Agora tenta tudo, Mau. Tenta!

Ele retesou os músculos e senti o peso do seu corpo sobre o meu, enfiando mais que a
metade de seu cacete duro dentro de mim. Senti uma dor ainda mais forte, mas não
queria que ele parasse. Segurei as suas costas e o deixei continuar.

— Vem, Mau! Mete mais. Mete!

Depois de perder a virgindade com ele, eu quis experimentar aquilo que tanto Elisa
falava que adorava fazer com Renato e eu me deitei na cama para chupá-lo. Feito uma
loba faminta, fiquei mamando naquela coisa deliciosamente grossa e dura, e mesmo sem
saber se estava fazendo certo — ou do jeito que ele gostava — eu chupei meu irmão até
ele depositar um jato intenso de sêmen em minha boca, o que me fez quase engasgar à
princípio. Sorri meio sem graça para ele, mas retomei o movimento e o deixei gozar o
restante. Tinha ficado maravilhada de o quanto aquilo era bom e entendi na mesma hora
porque Elisa gostava tanto de praticar com o Renato.

Eu tinha encontrado o caminho para a felicidade e não ia mais querer voltar dele.
Capítulo 6 – Soltando amarras

DISTÚRBIO COMPORTAMENTAL. Falha de caráter. Desvio sexual. Depravação.


Falta de Deus.

Depois daquele meu primeiro contato na cama com o meu irmão Mauro, um peso na
consciência começou a me tomar e eu passei a procurar na internet a razão para que as
pessoas praticassem o incesto. A rede mundial de computadores praticamente
engatinhava naquela época — nem existia o Google ainda! —, mas eu achei fóruns
falando sobre o assunto, além de relatos de irmãos, primos e até mesmo pais e filhos que
se relacionavam em segredo com medo do que a sociedade os iria acusar se descobrisse.

Eu tinha ficado obcecada com a simples ideia de que papai e mamãe acabassem
flagrando o que os seus filhos faziam na calada da noite e foi a Elisa quem me acalmou
na noite em que descobriu que eu tinha perdido a minha virgindade com nosso irmão.

— Nossa família toda é incestuosa, Carla. A gente descende de uma linhagem de


pervertidos incorrigíveis. Está em nosso sangue!

Ela me contou as histórias que nosso pai relatou em sua última visita à casa de praia no
litoral e fiquei chocada em saber que em meio às drogas e ao álcool, os Castilho
transavam entre si há muitas décadas, muito antes de nós nascermos. Papai sempre fora
um tarado e ele havia transado com as próprias irmãs — minhas tias — durante as
orgias. E aquilo não se resumia só a nosso progenitor. Todos os demais Castilho
também participavam e não havia limites para o que eles podiam fazer entre quatro
paredes.

— Se aquela casa de praia pudesse falar, ela nos contaria histórias muito mais chocantes
do que imaginamos, mana — me disse a Elisa ao final de nossa conversa —, tire a culpa
da sua cabeça. Você não está doente nem nada. O que você e o Mauro fizeram é da
nossa natureza.

Uma semana depois do ocorrido e daquela conversa com Elisa, Mauro bateu em minha
porta de noite por volta das vinte e três horas e o atendi meio receosa. Ele estava de
bermuda e sem camisa exibindo o tórax definido. Me olhou com feição compenetrada e
fez o convite:

— Quer fazer algo diferente hoje?

Me lembrei no ato de ele me comendo gostoso da primeira vez e aceitei na hora,


parando de me torturar mentalmente. Embora tivesse ficado cheia de neuras depois do
ato consumado, não dava para negar — nem a mim mesma — que estava doida para
repetir.

Diferente do que imaginei, Mauro me tomou pela mão e me levou até o quarto de Elisa.
Quando chegamos, a minha irmã já estava à nossa espera e ela vestia só calcinha e sutiã.
O seu corpo era bem mais sinuoso que o meu naquela idade e embora tivesse seios bem
pequenos, ela tinha um quadril de dar inveja, bem como uma bunda macia e grande. A
calcinha que usava era bem pequena e tinha uma renda na frente e um fio-dental atrás.

— Sempre quis fazer com duas ao mesmo tempo!

Eu me arrepiei inteira quando Mauro disse aquilo e em seguida, ele trancou a porta para
que ficássemos mais à vontade. Sabíamos que os nossos pais dormiam cedo e feito
pedra no andar de cima, e que àquela hora todos os empregados já tinham se recolhido
— pelo menos os que moravam ali —, mas todo cuidado era pouco.

— Deixe a nossa irmãzinha mais à vontade, Mau. Ela ainda acha que o que a gente faz é
errado.

Elisa disse aquilo já soltando o fecho do seu sutiã e enquanto seus peitos miúdos
pulavam para fora, Mauro veio por trás e me abraçou, começando a beijar o meu
pescoço. Senti algo duro roçar em minha bunda e logo percebi que ele já estava tendo
uma ereção.

— Com prazer!

Suas mãos suspenderam o baby-doll que eu vestia e os seus dedos firmes já passearam
em minha vagina por cima da calcinha. Me arrepiei toda.

— Olha como ela fica toda cheia de tesão! — Elogiou ele, no que subiu suas mãos para
agarrar os meus seios. Gemi.

Quando cheguei na cama, Mauro já tinha me deixado seminua e o meu baby-doll estava
no chão. Ele me acariciou inteira sabendo bem onde tinha que pegar para me acender o
fogo e assim que chegou ao colchão, foi Elisa quem o recebeu.

— Vem cá. Deixa um pouco pra mim também.

Ela enfiou a mão dentro do seu calção e puxou o seu pau para fora começando a
masturbá-lo. Logo depois, ele ficou em pé na cama e ela terminou de despi-lo, enfiando
a cabeça avermelhada inteira na boca.

— Isso, Lisa. Mama gostoso. Isso — pediu ele, excitado.

A minha irmã ficou de quatro na cama e não parou de chupar o Mauro que fazia
movimentos de vai e vem na boca dela. Seu pau era mesmo imenso e não cabia todo lá
dentro, a fazendo salivar muito. Ele segurava os cabelos dela incentivando a mamada,
Elisa só o obedecia, o olhando sedenta. Aquilo estava muito excitante.

Fui convidada a participar no instante seguinte. Elisa me puxou para perto deles e pediu
que eu ficasse de quatro na cama como ela e o dividisse.

— Vem, maninha. Chupa um pouco também. Já deixei babadinho pra você!


Olhei para Mauro lá de baixo como que pedindo autorização e ele já segurou os meus
cabelos para me conduzir. Coloquei a cabecinha na boca e dei uma chupada após uma
lambida. Ele empurrou a minha nuca contra o seu corpo e então, engoli mais. Senti a
cabeça em minha garganta. Engasguei. Segurei para que eu controlasse a profundidade e
fiquei masturbando enquanto chupava. Ele elogiou:

— Assim, Carlinha. Humm! Tá muito bom!

Elisa quis se juntar a mim e senti a sua língua roçar na minha. Foi uma sensação
estranha, mas prazerosa. Ela segurou firme a tora grossa e a dividiu comigo. Passei a
língua no corpo entre o tronco e o saco. Ela ficou com a cabeça.

— As duas ao mesmo tempo! Isso! Que demais!

Elisa se abaixou um pouco mais e engoliu uma de suas bolas. Eu a imitei. Era
prazeroso. Mauro gemeu.

— Nossa! Minhas irmãs são muito safadinhas! Humm!

Depois do sexo oral, eu estava com o meu corpo em chamas e quase gozei só de Mauro
puxar a minha calcinha. Estava tão excitada, que segurei o seu pau e o alisei como que
indicando que queria ser comida logo. Ele jogou a minha calcinha de lado, mas me
deixou na vontade, se dirigindo primeiro à Elisa que já estava pelada.

Eu vi Mauro se deitar sobre Elisa e deslizar a cabeça do pau entre os pelos castanhos de
nossa irmã. Aquela era uma época em que pelos vastos eram comuns na vulva das
mulheres e ela os tinha bem grandes. Os meus eram naturalmente ralos e mais claros.
Formavam apenas um “bigodinho” em cima da xoxota e eles estavam “suados” naquele
momento.

Era a primeira vez que eu via meus irmãos fodendo daquela maneira tão de perto e eu
estava incrivelmente excitada com os urros e gemidos que os dois emitiam um para o
outro durante o acasalamento. Não havia qualquer barreira ou proteção entre eles.
Ambos estavam totalmente libertos de qualquer pudor, transando como dois amantes
sobre a cama e se refestelando com aquilo.

Os sussurros de Elisa embaixo de Mauro me arrepiavam inteira e quando foi a minha


vez, eu fiz igual.

Elisa já não era mais virgem há muito tempo, logo, ela tinha mais experiência que eu.
Mauro ainda não podia me foder da mesma maneira que fazia com a minha irmã e
quando ele me botou de pernas abertas, levou em consideração que eu só tinha transado
uma vez, enfiando devagar em mim. Senti que ele queria bombar mais forte dentro, mas
era obrigado a controlar o seu ímpeto. A minha xota ainda doía se fizesse com muita
força, mas daquela vez já estava incrivelmente mais gostoso que da primeira.

— Ah, que apertadinha, Carlinha!


Eu arreganhei mais e o deixei me cobrir. Gozei pela primeira vez na vida.

Logo depois, o Mauro se deitou na cama e deixou que nos sentássemos em revezamento
em cima do seu pau duro. Ele sugeriu que ficássemos as duas sentadas e só abríssemos
espaço uma para a outra. Elisa estava segurando em meu quadril por trás e estávamos as
duas em cima dele, de frente, vendo as expressões em seu rosto. A minha irmã apertava
meus seios cheia de tesão na hora do orgasmo, e aquilo me excitava. Quando ela saía de
cima, me puxava para trás e me encaixava no pau de Mauro. Sentia o mel de minha
irmã em sua superfície e já procurava engolir com a minha xoxota, sentindo aquele
mastro me rasgar toda.

Eu só sentia muito prazer. Nunca tinha passado por nada parecido com aquilo e me vi
completamente realizada na cama com os meus irmãos. Terminei aquela noite abraçada
com Mauro após ele gozar e nós três dormimos juntos sem qualquer medo que fossemos
flagrados. A sensação de satisfação era melhor e mais forte que nosso instinto de perigo.

Depois daquilo, eu comecei a querer que Mauro me cobrisse mais vezes e procurei
facilitar os nossos encontros. Ficava ansiosa para que chegasse logo a noite, e às vezes,
eu mesma o procurava em seu quarto. Vestia roupas curtas e provocativas para atiçá-lo,
mas sentia que aquilo não era necessário, já que ele nunca sequer pensava em me negar
o que eu queria.

Ele começou a me ensinar novas posições e me mostrou também como gostava que
chupassem o seu pau. Tínhamos a noite toda e aquelas eram as melhores lições para se
aprender. Comecei a fazer somente do jeito que ele gostava e quase sempre terminava
com um “final feliz”.

Ele adorava e ficava com cara de tarado me vendo mamar.

Mauro tinha um tesão louco pelo meu corpo e antes de me foder, adorava ficar um bom
tempo me lambendo e me chupando inteira enquanto me elogiava. A cada dia que
passava, eu estava mais sinuosa e o meu quadril começava a ganhar proporções de
mulher, o que o fazia ficar agarrado a mim beijando a minha bunda.

Eu adorava os seus elogios à minha forma física e me empinava inteira o deixando


gastar a sua saliva em meu corpo. Era incrivelmente prazeroso.

Num daqueles dias, eu o senti afoito para provar outro dos meus orifícios e ele ficou um
bom tempo me chupando lá atrás e enfiando o dedo para saber se eu o deixava ir além.
Eu estava um pouco nervosa, mas decidi que queria experimentar.

— Se doer eu tiro, tá? — Prometeu ele.

Ele pediu que eu me posicionasse de quatro e arrebitasse bastante a bunda, no que após
um belo banho de língua e saliva, Mauro enfim enfiou a cabecinha dentro de mim. Era
uma sensação esquisita de início, mas que ia ficando bom à medida que intensificava a
penetração.
— Que delícia de cuzinho apertado, Carlinha. Nossa! Nem vou aguentar!

Ele gozou em poucos minutos dentro de mim e quando se recuperou, quis tentar de
novo.

Eu virei a amante preferida de Mauro e eram raras as noites em que um não visitava o
quarto do outro andando pela casa feito dois bandidos suspeitos. Eu estava viciada em
sexo e cheguei a querer o meu irmão só para mim, me enchendo de ciúmes quando Elisa
também o procurava e eu o tinha que dividir com ela no quarto. Eu tinha me tornado o
que a Elisa era com Renato antes do seu casamento com Vânia e tremia só em pensar
que o mesmo poderia me acontecer quando ele arranjasse uma mulher e fosse embora
de casa.
Capítulo 7 – Competição de popularidade

ALGUMAS SEMANAS depois de eu ter começado a fazer sexo com Mauro, o nosso
pai passou mal na empresa e teve que ser levado às pressas para um hospital. Os
médicos tinham diagnosticado um AVC em estágio inicial e naqueles dias, acionamos
os primeiros sinais de alerta quanto à saúde do velho Castilho.

Jaime nunca fora dado a cuidar da própria saúde e todos nós sabíamos que, apesar da
idade já avançada, ele era dado a certos excessos como bebida, drogas e sexo em
demasia. Os anos 70 já tinham passado há muito tempo, mas era como se ele se sentisse
saudoso dos velhos tempos e quisesse continuar no mesmo ritmo que em sua juventude.
Todos nós o alertamos para que ele tomasse mais cuidado a partir de agora, mas era
bem óbvio que ele não ia nos ouvir.

— Tenho uma saúde de ferro. Não sou nenhum maricas! — Disse ele, assim que
retornou do hospital.

Estávamos todos preocupados e passamos a ficar de olho no velho patriarca da nossa


família.

Naquele mesmo período, Vânia deu à luz ao Jonathan, o meu primeiro sobrinho, e a
felicidade estampada no rosto do velho Jaime ao ver o pequeno neto através do vidro da
maternidade valeu todo o perrengue que havíamos passado com ele e o seu AVC nas
últimas semanas.

O bebê era realmente lindo e tinha cabelos loiros espetados no alto da cabeça, além de
olhos castanhos brilhantes e feições parecidas com as da mãe. Renato não podia estar
mais orgulhoso, e naquele dia, comemorou conosco em nossa casa o nascimento do
primogênito, enquanto a família de Vânia a acompanhava no hospital até que ela
recebesse alta médica no dia seguinte.

— Ao meu pequeno Jonathan e a paz e prosperidade que ele vai trazer para a nossa
família! — Ergueu um brinde na minha presença, na de papai, mamãe, Mauro e Elisa.

Por um breve momento, voltamos a ser os irmãos unidos que éramos desde sempre e
algum tempo depois das comemorações, quando papai subiu para descansar
acompanhado de mamãe — resmungando que tinha sido obrigado a brindar com água
— nos encontramos à beira da piscina para relembrar os nossos velhos tempos.

Elisa aproveitou para ficar agarrada ao irmão mais velho que tanto admirava e chegava
a encher a sua taça de champanhe quando via que ele a estava esvaziando, submissa. O
sentimento de nostalgia foi tomado por uma certa amargura algum tempo depois e o
primogênito de Jaime se queixou da vida de casado:

— Duro é ter que ficar sem sexo por conta da gravidez da Vânia!

Elisa pareceu interessada e o questionou:


— Mas desde quando mulher grávida não pode transar?

— Poder pode — respondeu Renato —, mas a Vânia sentiu muito desconforto ao longo
da gestação e meio que perdeu a libido nesse período. Estou na mão há uns quatro ou
cinco meses!

E ele fez o gesto de uma “punheta” no ar, o que causou risos em nós três.

— É o que você ganha por engravidar a noiva antes de casar! — Caçoou Mauro,
acabando também com o champanhe em sua taça.

— É o que dizem… O apressado come cru! — Concluiu Renato, com ar infeliz. Elisa
pareceu se divertir.

— Se tivesse ficado aqui com a gente, teria sexo o tempo todo. — Ela disse aquilo de
maneira maliciosa e um tanto quanto provocativa. Os seus olhos então fitaram os meus
e ela revelou à Renato a novidade: — Até a nossa caçulinha já entrou em nosso
joguinho proibido!

Me senti um pouco constrangida, e naquele momento, sentado ao meu lado, Mauro


envolveu o meu ombro e me apertou contra o seu corpo rijo. Renato me olhou surpreso
e o senti meio agitado em sua esteira à beira da piscina.

— Ah, é mesmo? Que grande novidade! Já estava na hora, hein, Carlinha! Achei que
você fosse boa demais para se juntar a nós!

Ele me deu uma secada estranha e os seus olhos percorreram o meu corpo como que se
eu estivesse sendo avaliada. Apesar de saber tudo que ele já tinha feito no quarto com
Elisa, eu ainda não pensava nele como um parceiro sexual e nem estava a fim de
começar. Sabendo o quão ciumenta era a minha irmã com relação ao seu irmão
preferido, eu não estava disposta a ter que suportar os seus achaques mais tarde caso eu
passasse a me relacionar com ele também.

Por volta das vinte e duas horas, como de praxe, os nossos pais se recolheram e o único
som que ecoava em nossa casa era das nossas risadas jogando cartas na sala. Mauro
tinha me ensinado a jogar Truco há algum tempo e eu tinha ficado boa naquilo, o que
garantiu várias vitórias consecutivas da nossa dupla contra Renato e Elisa.

— Você está roubando, Carla! Não é possível ter tanta sorte assim! — Reclamou
Renato, jogando sua mão azarada de cartas sobre a mesa.

— Admita que sou boa, irmãozinho. Não vai doer! — Disse a ele, me sentindo a melhor
jogadora do mundo.

Renato me olhou de uma maneira indecente e repetiu, dando a entender que não estava
falando dos meus dotes de jogadora:

— Você é muito boa sim!


Elisa percebeu a malícia no ar e não demorou a sugerir:

— Papai e mamãe já foram dormir. Por que a gente não sobe para o quarto agora para
terminar a brincadeira lá dentro?

Renato e Mauro se entreolharam e concordaram com a irmã. Eu ainda não estava no


clima por conta da doença de papai e os cuidados que ele dispendia agora e acabei
sendo a única que declinei do convite. Depois de muito chiarem insistindo que eu
participasse da “festinha” que eles estavam prestes a fazer dentro do quarto, eu preferi
manter a minha posição defensiva e eles a entenderam.

— Quem sabe um outro dia então, maninha!

Renato passou o dorso do indicador direito sobre a maçã do meu rosto, e pouco depois,
estava subindo apressado logo atrás de Mauro e de Elisa, que àquela altura dos fatos,
estava ansiosa para voltar a ficar com seu irmão predileto.

Depois da última visita de Renato ao nosso casarão em Moema, as coisas voltaram ao


ritmo mais comum e tanto ele quanto o Mauro se revezaram no controle dos negócios
dentro da construtora até que o nosso pai estivesse totalmente recuperado novamente.

Eu estava enfrentando os últimos anos do Ensino Médio e continuava focada nos


estudos para que desse orgulho aos meus pais, e um dia, quem sabe, também pudesse
contribuir de alguma forma com a administração da empresa da família.

Desde sempre, eu tinha sido uma ótima aluna e os meus professores de nada podiam
reclamar sobre mim. Eu era o tipo de estudante que me sentava sempre na primeira
fileira da classe, que anotava cada coisinha falada pelos mestres, que fazia notas de
rodapé no caderno com informações extras que não constavam no quadro negro e que
sempre passava a limpo todas as anotações quando chegava em casa.

Em tempo de provas e exames, eu usava boa parte daqueles apontamentos para estudar,
e por conta disso, quase sempre conseguia me destacar com as notas, surpreendendo
meus amigos e os deixando com certa inveja.

Ser a queridinha dos professores não me dava a vantagem de ser tão popular quanto eu
gostaria de ser naquela idade. O Ensino Médio era uma época de muita competição e os
alunos rivalizavam por praticamente tudo. Quem é o mais inteligente, quem é o mais
popular, quem é o mais bem-vestido, quem é o mais namorador…

Qualquer porcaria virava uma competição gigantesca, inclusive o tamanho da bunda e


dos peitos das garotas. Havia entre elas uma briga interna para saber quem conseguia
atrair mais a atenção dos meninos e eles faziam até mesmo listas daquelas que eram
consideradas as mais gostosas da turma para ficar comentando pelos cantos. Até o início
do Ensino Médio eu nunca tinha me destacada por minhas curvas, mas naquele ano,
coincidiu de eu começar a chamar a atenção dos rapazes da escola com o meu corpo
bem depois de eu ter perdido a minha virgindade, o que me colocou a pensar se uma
coisa tinha a ver com a outra.

Era um dia comum de aula quando duas amigas vieram me contar esbaforidas que um
dos garotos mais bonitos da nossa turma — o atleta da sala — tinha ficado interessado
em mim e que estava querendo sair comigo no próximo fim de semana.

— Tem certeza que ouviram direito? — Indaguei a elas quase tão surpresa quanto as
duas.

— Eu ouvi da própria boca dele — disse a minha colega Elenice, uma garota de pele
preta, lábios grossos e olhos escuros feito jabuticabas —, ele tava elencando as meninas
mais gostosas da nossa sala e o seu nome foi citado umas duas ou três vezes.

Fátima, a outra das minhas colegas que estava ali no pátio do colégio para me contar a
novidade assentiu a tudo que Elenice tinha dito. Jurou de pé junto que era verdade.

— Ele disse que te acha a maior delícia e que vai te chamar pra passear com ele no
sábado. Você vai aceitar, não é, amiga?

A Fátima puxou o meu braço me pressionando para responder de imediato o que ela
queria saber. Eu sabia o quanto as opiniões dos garotos daquela idade podiam ser
volúveis, por isso, resolvi esperar que o próprio bonitão viesse me contatar para só então
tomar a minha decisão.

Anderson Góes era o garoto mais desejado da nossa turma e por onde ele passava, se
juntava um coro de meninas a suspirarem por ele. Era um moreno de pele escura,
cabelos cortados estilo “reco”, corpo esguio e com um bigodinho um pouco mais
espesso acima dos lábios. Fazia parte do time de basquete do colegial e diziam que tinha
habilidade de sobra para fazer parte da seleção nacional se quisesse levar o esporte a
sério.

Naquela sexta-feira, eu estava saindo pelo portão do colégio segurando o meu fichário e
a bolsa em minhas costas quando senti alguém puxar o meu antebraço. Deixei que
Elenice e Fátima seguissem na frente sem mim e parei para ouvir o que o Anderson
tinha a me dizer.

— Fiquei sabendo que cê tá solteira e que não tem ninguém te azarando, Carla. O que
acha de a gente sair pra se divertir um pouco amanhã?

Ele não era muito bom de papo, mas decidi me deixar levar pela empolgação de estar ali
falando com o garoto mais popular do colégio bem na frente da multidão de alunos que
se aglomerava na calçada do lado de fora do prédio.

— Pode ser — respondi de uma maneira um pouco mais tímida —, onde quer me levar?

— Sei lá. Tava pensando no boliche da Rua Dezoito. Ou então, naquela praça da Rua
Vinte e Dois.
— Boliche. A gente pode ir ao boliche — respondi para lhe dar confiança.

— Beleza então — Anderson agarrou os meus ombros para me dar um beijo no rosto e
algum tempo depois, nos separamos na saída do colégio. Elenice e Fátima pareciam
incrédulas que aquele convite havia mesmo acontecido, mas ao nosso redor dava para
perceber uma porção de garotas preteridas pelo bonitão me olhando feio e se corroendo
de inveja.

Como eu disse, qualquer coisa virava uma competição tipo “Brasil x Argentina” no
colégio e aquilo era algo da qual tínhamos que aprender a lidar com o tempo.
Capítulo 8 – Ganhando asas

O PASSEIO COM O ANDERSON ao boliche foi bastante divertido, mas eu não


demorei a perceber que o garoto não era nada muito além do que um corpo sarado e um
rosto bonito. A sua profundidade de assunto girava em torno de esportes, carros de luxo
que ele não tinha dinheiro para comprar e sexo.

Com todo o seu sex appeal não era difícil de conceber que aquele garoto tinha uma lista
extensa de conquistas amorosas pela escola, e durante aquele papo no boliche, enquanto
lançávamos uma ou outra bola na pista que tínhamos alugado por uma hora, ele me
confessou que já havia ficado com várias das nossas colegas de turma.

— Sabe como é… o papai aqui tem estilo!

Eu detestava pessoas arrogantes e Anderson era mesmo do tipo que a cada três frases
completas que soltava pela boca pelo menos duas eram de ele se gabando. Eu não estava
mesmo a fim de descobrir em quantas das nossas colegas ele já havia passado o pinto,
mas depois de um tempo, ele começou a listar cada uma delas. Foi quando o interrompi
um pouco chateada:

— Você me chamou aqui pra ficar falando das suas ex-namoradas, é isso?

Ele se retratou de imediato e comentou que nunca tinha saído com uma garota, em suas
próprias palavras, “estilosa” como eu. Naquela tarde ensolarada de sábado, eu tinha
vestido uma blusa baby-look fazendo conjunto com uma saia de couro. Tinha vestido
por baixo uma meia-arrastão e calcei um par de botas de cano curto nos pés. Eu
costumava me vestir daquele jeito nas raras vezes que saía de casa na companhia de
Elisa para as festas que frequentávamos juntas e nem me achava tão “estilosa” assim.

— Eu conheço cada uma das meninas da turma como a palma da minha mão — disse o
rapaz moreno ao meu lado, já preparando um novo arremesso na pista de boliche —,
mas você sempre foi um mistério… sempre tão calada, sempre tão “nerd”.

Achei aquilo ofensivo. Naquela época, o termo “nerd” se referia a pessoas sem traquejo
social que se limitavam a estudar de maneira compenetrada e a se comportar de maneira
esquisita perante as outras pessoas.

— Eu não sou nerd. Não me chame assim.

Anderson jogou a bola pesada na pista e ficou esperando o resultado. Atingiu três dos
quatro pinos que ainda restavam no pin deck e se maldisse com um palavrão.

— O que eu quis dizer é que você é diferente das outras meninas, Carla — ele tentou
retomar o raciocínio, se esforçando para se fazer entender —, foi isso que me atraiu e
me fez te convidar para sair, saca?

Eu tinha “sacado” e resolvi lhe dar o benefício da dúvida pelo resto da tarde.
Após o boliche, Anderson me levou para um bar perto da casa da sua família que ficava
no bairro Praça da Árvore, Zona Sul de São Paulo, e de lá, me convidou para conhecer
os seus pais.

Como era de se esperar, nenhum dos dois se encontrava quando adentramos a sala
espaçosa da casa confortável onde ele morava e só então eu percebi que tinha caído na
armadilha mais velha do mundo.

— Você sabia que os seus pais não iam estar aqui, não é?

Ele abriu um sorriso cínico por de trás daqueles lábios carnudos, e pouco depois, nós
dois estávamos nos abraçando e nos beijando sobre o sofá de couro da sala.

Por mais que eu o achasse superficial e um tanto quanto convencido demais para o meu
gosto, era inegável que o Anderson era um tremendo de um gostoso e eu precisava sanar
as minhas necessidades sexuais. Após o meu envolvimento com o meu irmão mais
velho, eu tinha ficado com a libido em polvorosa e o menor pensamento envolvendo
sexo já me deixava acesa e com muita vontade de praticar.

Após me envolver em todo o seu clima de “pegação” sobre o sofá, o dono da casa,
enfim, me arrastou para o quarto que ficava no andar superior da casa. Não esperou
nada para arrancar a calça e começar a me exibir o que tinha entre as pernas. Fiquei
abismada.

— Vem, Carlinha. Cai de boca no papai, cai!

Em relação à comprimento e espessura o garoto não deixava nada a desejar ao Mauro e


eu me ajoelhei um tanto quanto afoita para começar a lhe fazer carícias orais e o
satisfazer como ele bem esperava que eu o fizesse.

— Minha nossa! Onde foi que aprendeu a fazer desse jeito! Cacete!

Eu não era tão experiente no assunto, mas o jeito que Mauro havia me ensinado a fazer
nele também funcionava em outros homens e aquele era o meu primeiro teste fora de
casa. Pela cara de Anderson em pé diante de mim, eu estava me saindo bem.

Após o sexo oral, o garoto grande e forte quis retribuir e me senti um pouco
envergonhada em tirar a roupa diante de um quase estranho. Por mais que estudássemos
juntos há quase dois anos, eu não tinha muita intimidade com Anderson até aquele
momento e senti o meu rosto queimar quando ele se livrou da minha calcinha e
começou a cheirar as minhas partes íntimas.

— Que cheiro bom, Carlinha! Nossa! Você me deixa maluco!

Comigo sentada de pernas abertas na beirada da sua cama, Anderson segurou as minhas
coxas e começou a penetrar a sua língua dentro de mim. Sorvia o meu suco fazendo
barulho e tilintava o meu sininho com muito talento, me tirando o fôlego. Sem parar de
me elogiar enquanto me chupava vorazmente, ele passou a me penetrar o dedo médio da
mão direita sem parar de me lamber e aquilo me causou o primeiro orgasmo da tarde.

— Eu sabia que você era gostosa, mas não esperava que fosse tanto!

Segundo as minhas amigas Elenice e Fátima, eu tinha sido elencada por Anderson e os
seus amigos tarados como a garota mais gostosa da sala em uma votação livre feita por
eles. Eu tinha vencido a Ana Maria Santoro — que era uma garota linda de olhos verdes
e cabelos loiros ondulados — por uma diferença de dois votos e tinha entrado no radar
dos garotos depois disso.

Aquelas competições eram ridículas, mas realmente tinha gente que as levava a sério.
Longe de estar preocupada em quem era a mais ou a menos gostosa da turma, eu só
estava querendo me satisfazer na companhia do Anderson, e nesse quesito, o garoto de
pele escura em cima de mim deu conta do recado.

Transar com alguém com quem eu não possuía grande intimidade era um tanto quanto
estranho de início e assim que passou todo o meu tesão, eu saí da casa de Anderson um
pouco frustrada comigo mesmo. Enquanto fazíamos sexo sobre a cama de solteiro, tudo
tinha sido extremamente satisfatório, mas foi só o garoto gozar e a gente começar a se
vestir que todo o encanto passou como num passe de mágica.

Na segunda-feira de manhã, passei por um verdadeiro interrogatório com as minhas


amigas e nenhuma delas quis sossegar enquanto eu não lhes contasse os detalhes do que
eu e o Anderson tínhamos feito juntos. Fiz um resumo tirando as partes mais picantes,
mas elas ficaram bastante impressionadas pelo pouco que lhes contei.

— E ele é mesmo gostoso como dizem? — Quis saber a Elenice me puxando pelo braço
enquanto avançávamos pelo corredor da sala de aula.

— Muito — confessei aos risos —, tem uma pegada incrível!

Enquanto as minhas amigas se orgulhavam de mim por ter “pegado” o garoto mais
popular do colégio, o número de rivais que eu conquistei por conta da minha
aproximação a ele só aumentou. Tive que enfrentar um sem-número de olhares
enviesados em minha direção e mais uma porção de promessas de surras que eu levaria
se continuasse a me encontrar com o Anderson.

A fim de aumentar um pouco mais o seu ego e alimentar ainda mais a já tremenda fama
de pegador que ele tinha, o jogador de basquete meio que me ignorou ao longo da aula
toda, mas quando deu o horário da saída, correu feito um cachorrinho adestrado
abanando o rabo atrás de mim e me chamou para visitar a sua casa aquele início de
noite.

— O meu pai vai trabalhar até tarde e a minha mãe tem cabeleireiro agendado à noite.
Topa dar uns amassos?

Eu não tinha nada a perder e acabei aceitando o convite.


Capítulo 9 – Garanhão em alto-mar

O PEQUENO JONATHAN estava completando dois anos e eu o estava paparicando em


meu colo o deixando sacudir um carrinho de plástico em nossa sala de casa quando veio
a notícia. Elisa surgiu pálida diante de mim e de Vânia, interrompendo a história que a
moça me contava sobre os primeiros passos do filho. Estava mais agitada que de
costume e gesticulou de maneira intensa quando disse sem grandes rodeios:

— O papai passou mal na construtora e foi levado ao hospital.

Já tínhamos tomado um susto como aquele antes, mas desde o início, eu sentia em meus
ossos que era algo mais grave. O motorista nos levou direto de casa ao hospital onde
papai tinha dado entrada com outra suspeita de AVC e encontramos o Renato e o Mauro
no corredor, ambos com feição abalada.

Os dois estavam trabalhando ativamente agora ao lado do pai depois de formados na


faculdade e tinham sido os primeiros a prestarem os primeiros socorros e acionado a
emergência. Nossa mãe também já estava a caminho saindo rapidamente de uma das
ONGs que tomava conta, mas já era tarde. A voz de Renato soou sombria:

— Ele se foi.

As cerimônias de velório e enterro de papai foram organizadas por um serviço funerário


contratado por Renato e aquelas foram as horas mais tristes e angustiantes da minha
vida. Era difícil acreditar que aquele velho ranzinza e falastrão estava mesmo morto
dentro daquele caixão escuro e que nenhum de seus filhos jamais ia vê-lo novamente
pela casa dando suas broncas e conselhos preciosos.

Embora ele preferisse manter distância da maioria dos filhos quanto a carinho e atenção,
o homem era uma espécie de fortaleza que nos inspirava a sermos perseverantes com
nossos sonhos no cotidiano e não era fácil ver uma fortaleza ruir da noite para o dia. Eu
estava profundamente entristecida, mas mamãe e Elisa estavam inconsoláveis. O choro
das duas era o mais ruidoso e invadiu os nossos ouvidos durante todo o cortejo fúnebre.

A transição de poder na Construtora Castilho aconteceu de maneira bastante orgânica


junto aos demais acionistas após a morte de Jaime, e o Renato assumiu a direção geral,
enquanto o Mauro ficava com o cargo de vice-diretor.

Os dois eram os diretores mais jovens a assumirem a frente da empresa que tinha sido
fundado nos anos 80 por papai e aquilo, de início, deu um fôlego novo aos negócios da
família.

Eu sabia que também precisava honrar aquele legado deixado pelo velho e enquanto
cursava os últimos anos do Ensino Médio no colégio, já planejava à longo prazo a
faculdade que iria fazer e como iria contribuir para que o império de papai não ruísse
junto do seu nome.
Eu queria fazer Arquitetura para assumir um dos cargos de responsabilidade na
construtora e todos os meus irmãos me apoiaram em minha decisão. Elisa já tinha
encaminhando a sua carreira como gestora e as suas aulas começaram naquele mesmo
mês. Agora, todos nós precisávamos estar mais unidos do que nunca.

Mamãe ficou extremamente abalada com a morte de papai e enfrentou momentos bem
difíceis de saúde por conta da sua já incômoda debilidade óssea. Além das dores que
sentia, ela agora vivia amuada pelos cantos se sentindo extremamente solitária enquanto
eu e Elisa nos ocupávamos dos nossos estudos. Algumas amigas de ONG, socialites
como ela, a visitavam regularmente, mas nada parecia fazê-la se animar mesmo que
temporariamente.

O psiquiatra de Vilma começou a lhe receitar antidepressivos e ela passou a viver


grande parte do tempo dopada, alheia à realidade ao seu redor. Era duro vê-la naquele
estado e era ainda mais duro saber que podíamos fazer tão pouco para que ela se
sentisse melhor. Ao conversar com o seu médico, eu e Elisa entendemos que mamãe
precisava enfrentar o luto sozinha e que ela só ia passar por aquela fase com sua própria
força de vontade. Nós podíamos no máximo apoiá-la e oferecer o nosso conforto.

Um ano após a morte de papai, a nossa vida pareceu tomar novos rumos e o Renato
anunciou que Vânia estava esperando a segunda criança do casal. Uma menina estava a
caminho daquela vez e todas as mulheres da família entraram em polvorosa ao saber da
notícia.

Elisa e eu começamos a sugerir milhares de nomes lindos para que Vânia batizasse a
bebê e até a nossa mãe quis palpitar, dizendo que Janete era um lindo nome e que trazia
muita energia positiva por significar “aquela agraciada por Deus”.

Embora não fossemos nem de longe religiosos, todos nós guardávamos certa
espiritualidade em nosso interior e Vânia decidiu considerar a sugestão de nossa mãe.
Janete nasceu alguns meses depois linda e saudável na mesma maternidade que o seu
irmão. Dava para ver no rosto de Renato o quanto a vinda ao mundo da filha havia
mexido com ele. Meu irmão era bastante apegado ao pequeno Jonathan, mas com Janete
era algo totalmente diferente. Ele não só babava pela filha como parecia querê-la
proteger de tudo e todos. Tinha se tornado o modelo perfeito de pai superprotetor.

Algum tempo depois do nascimento de Janete, foi Mauro quem surgiu com as
novidades e anunciou que estava noivo, pronto a se casar em breve com uma moça
chamada Solange que ele havia conhecido por intermédio de amigos dele. Ela era
alguns anos mais nova que o meu irmão e era formada em Design de Interiores,
profissão que exercia com grande talento e afinco numa empresa terceirizada pela
Construtora Castilho.

Logo que a conheceu, a moça ganhou grande afeição pela cunhada Vânia e as duas
criaram uma ligação única por dividirem o gosto por decoração e construções. A esposa
de Renato era formada em Arquitetura e as duas tinham frequentado o mesmo campus
da universidade, embora em épocas diferentes.

— A Carlinha também vai cursar Arquitetura como eu. Já lhe dei várias dicas para
encarar de frente a profissão. Acho que você também tem bastante coisa para passar a
ela na sua área, Solange — disse a Vânia, entre mim e a noiva de Mauro no dia em que
meu irmão promoveu um jantar em nossa casa para nos apresentar a moça.

Embora sentisse no fundo uma pontada de ciúmes por meu irmão finalmente ter se
endireitado com alguém, eu estava extremamente feliz pelo casal e sentia que Solange
era a mulher certa para ele. Ela era inteligente, culta e bem-humorada. Ele não podia ter
arranjado melhor companheira.

No ano em que me formei no Ensino Médio, a minha irmã Elisa ganhou um passeio
num cruzeiro bancado pela faculdade de Gestão e confesso que poucas vezes a tinha
visto tão empolgada com alguma coisa na vida.

A viagem de alguns dias pela costa brasileira era com o intuito de que os alunos e
convidados fizessem networking com outras pessoas ligadas ao seu ramo e que
estudavam ou trabalhavam em outras universidades, o que deixou Elisa extremamente
excitada. Às vésperas do tal passeio, ela só conseguia falar sobre aquilo e se tornou até
mesmo um tanto quanto repetitiva.

Nos dias em que Elisa foi viajar, eu me encarreguei de tomar conta de Jonathan e de
Janete para a minha cunhada, que na época, precisava fazer pessoalmente a revisão de
um importante projeto de arquitetura para a construtora. Minha mãe ficou muito
contente em me ajudar com as crianças. O filho de Renato e Vânia era extremamente
agitado e deu vida à nossa casa novamente, correndo para cima e para baixo da mansão
quase o tempo todo.

Segundo a sua mãe, a babá do menino quase enlouquecia atrás dele o dia todo enquanto
ela trabalhava, mas eu estava achando aquilo tudo muito familiar, já que em minha
infância, eu era tão agitada quanto ele. Jonathan era um amor, e mesmo peralta, era
bastante educado e inteligente, observando tudo à sua volta e comentando sempre que
podia com observações bastante perspicazes para a idade que tinha. Minha mãe via
bastante semelhanças entre ele e eu quando ainda era uma criança.

— Parece até que é seu filho, Carla! — Disse ela, sentada no sofá ninando a bebê Janete
em seu colo enquanto via Jonathan correndo pela sala.

— Vou adorar ter um filho como o Johnny um dia — disse eu sonhadora, rindo com as
peripécias do menino que fingia que ia sair voando escada acima.

Aquela era a primeira vez que eu pensava no assunto filhos, e por um momento, me
veio a imagem do meu irmão Mauro gozando dentro de mim em nossas últimas
aventuras sexuais juntos.
Oh, Deus! Melhor nem pensar nisso!

Alguns dias depois, de volta do seu cruzeiro de negócios pela costa do Brasil, Elisa
estava ainda mais radiante e me puxou para o seu quarto para me contar em detalhes
como tinha sido a viagem. Segundo ela, tudo tinha sido perfeito com relação ao
networking e a minha irmã dizia que havia conhecido muita gente importante a bordo do
transatlântico, incluindo o filho de um empresário árabe do ramo petrolífero que estava
fazendo um intercâmbio no Brasil.

— Mas nem é isso que estou doida pra te contar, Carla. Eu conheci o homem da minha
vida naquele cruzeiro!

Elisa passou a hora restante detalhando a relação que havia tido com um moço ruivo de
olhos verdes que havia conhecido a bordo do cruzeiro e que, segundo ela, era o melhor
amante que ela já tinha tido na vida toda. Empolgada, ela o chamava carinhosamente de
“garanhão pauzudo” e passou a se referenciar assim a ele todas as vezes que o citava em
nossas conversas.

— Nunca ninguém tinha me comido do jeito que esse cara me comeu, maninha! Nunca
fiquei tão arrependida de ter tratado ele apenas como um amor de verão quando pisei
fora do transatlântico. Queria ter o seu telefone para marcar um novo encontro. Acho
que nunca mais alguém vai me comer daquele jeito!

Algum tempo passou e aquela conversa com a minha irmã se perdeu entre tantas que
tínhamos ao longo do nosso convívio. Apesar do gênio impulsivo de Elisa, nós duas
éramos grandes amigas, além de irmãs, o que nos fazia confidenciar tudo que vivíamos
uma à outra. Cada namorado, ficante ou mesmo casinhos passageiros — como o
“garanhão pauzudo” do cruzeiro e o jogador de basquete da minha turma — que
tínhamos era de conhecimento mútuo entre as duas e assim foi quando a minha irmã
conheceu o Peterson, o cara que viria a ser o seu marido e o pai dos seus filhos gêmeos
Cleide e Cléber.

Naquele dia, ela me contou com um brilho nos olhos sobre o rapaz lindo que a tinha
cortejado no campus da faculdade e como ele era incrível. Os dois começaram a sair
juntos para todos os cantos e se tornou bastante comum vê-lo frequentar a nossa mansão
mesmo antes que ambos tivessem oficializado o seu namoro. Ele estudava Engenharia e
aquele fato isolado por si só o tornou bastante próximo aos cunhados Renato e Mauro,
que tinham bastante assunto com ele por conta do trabalho na construtora. Peterson
Tomazzi era bastante simpático e o seu bom-humor contrastava muito com o jeito meio
implicante de Elisa. Mesmo antes que eles soubessem disso, os dois formavam um casal
perfeito.
Capítulo 10 – O vizinho

O MEU CASO COM ANDERSON Góes não durou muito além do que quatro
encontros muito quentes entre ele e eu; duas vezes em sua casa e outras duas no beco
entre o colégio e um depósito de frios nos arredores de Moema.
Nós dois tínhamos uma química sexual muito boa, mas a falta de assunto nos intervalos
entre uma transa e outra me desanimava muito a continuar com o garoto.
Relacionamentos sérios não eram muito a ideia dele e eu não demorei a perceber que
naquele ritmo, logo um estaria completamente enjoado da cara do outro.
No dia em que anunciei a ele que não iríamos mais nos encontrar fora do colégio, quase
deu para ouvir os fogos de artifício explodindo sobre as nossas cabeças. A notícia se
espalhou feito rastilho de pólvora pelos corredores da instituição de ensino e em pouco
tempo, já tinha uma fila de garotas se posicionando atrás do jogador de basquete a fim
de ser a próxima “senhorita Góes” da vez.
Depois do Anderson, eu comecei a me ver muito carente pelos cantos de casa e a
masturbação voltou a fazer parte da minha rotina. Ainda me pegava sonhando acordada
com o meu irmão e a sua pegada firme, o imaginava chegando em casa afoito para me
tomar como antigamente e quase morria de tanto tesão com os meus devaneios
libertinos.
Na falta de Mauro, que agora tinha a sua própria esposa para tomar quando bem
quisesse, eu acabei encontrando companhia num garoto que morava na mesma rua que
os Castilho e que era filho de um importador de bebidas.
Jordy era um moleque caucasiano de olhos castanhos que de vez em quando passeava
com uma fêmea de pitbull chamada Lana pelo bairro e que era muito querido por toda a
vizinhança. O seu pai, Roberval Pires, trabalhava para uma firma de importação há mais
de vinte anos e tinha começado a fazer negócios com o meu pai há dez, trazendo da
Espanha e de Portugal as melhores safras de vinho que encontrava por lá para o velho
Castilho.
Jordy, Elisa e eu já tínhamos brincado algumas vezes juntos com outras crianças da rua
em nossos tempos áureos de pique-esconde, mas eu e ele nunca antes tínhamos tido
qualquer relacionamento além da amizade infantil. Foi numa tarde fria de inverno que o
garoto ficou encarregado de trazer pessoalmente à minha casa um engradado especial de
um tinto Meruge Douro que vinha direto de Portugal e eu o atendi à porta de casa.
— Ah, oi, Carla. Há quanto tempo!
Estendi a minha mão e ele se enrolou todo para segurar a caixa pesada enquanto me
cumprimentava gentilmente.
— Está pesada, não é? — Ele fez que sim com a cabeça um pouco constrangido —
Vem, me segue. Pode deixar a caixa na despensa. Eu te mostro o caminho.
O engradado de Meruge era uma encomenda que o meu irmão Mauro havia feito a
Roberval há algumas semanas e o pacote tinha recém-chegado do porto de Santos, onde
ficava a maioria das cargas que o importador trazia para o Brasil até a sua distribuição.
No caminho até a despensa, Jordy me explicou um pouco sobre o vinho que tinha
trazido para o meu irmão e usou termos que pareciam muito ensaiados para alguém que
era só o intermediador entre a importadora e o cliente final.
— … o Meruge é repleto de notas aromáticas que recordam frutos vermelhos. Além
disso, possui uma acidez equilibrada. Você deveria provar.
Eu o encarei com um ar de leve desconfiança e decidi lhe tirar um sarro:
— Você está oferecendo bebida alcoólica para uma menor de idade, é isso mesmo?
Jordy ficou claramente desconcertado e se pôs a inventar mil desculpas para dizer que
aquela não era a sua real intenção e que ele não queria ser mal interpretado. Desfiz a
brincadeira imediatamente antes que ele saísse correndo dali achando que estava
infringindo alguma lei e segurei o seu ombro antes de dizer:
— Eu estou te zoando, Jordy! Eu tomo bebidas alcoólicas faz tempo. Até parece que
não conheceu o meu pai, o maior beberrão desse bairro! Ele sempre tinha uma garrafa
de vinho, uísque ou vodca por perto. Se bobear, ele já deve ter colocado um pouco de
álcool na minha mamadeira sem que a minha mãe percebesse só para fazer com que eu
me acostumasse com o gosto desde bebê!
Ele deu uma risada que era um misto de nervoso com alívio. Passou as mãos pelos
cabelos castanhos lisos empurrando a franja comprida para trás e o rosto voltou a corar
depois de ter assumido um tom branco-papel pelo susto.
— Caramba! Você me assustou… eu quase caí nessa! — Admitiu ele envergonhado.
O espaço da despensa não era muito grande e nós dois estávamos bem próximos um do
outro. Eu estava vestindo um blusão comprido que caía quase até o meio das coxas e
usava um short curto por baixo, além de um par de meias brancas calçadas nos pés. Dei
uma olhada numa das garrafas do engradado e o convidei em seguida:
— Que tal abrir uma dessas e tomarmos um gole juntos enquanto você me explica mais
um pouco sobre aquelas notas aromáticas que mencionou?
O casarão ficava bastante vazio durante a semana enquanto os meus irmãos mais velhos
trabalhavam na construtora e a Elisa estudava em sua graduação de Gestão. Além da
Ruth, a nossa doméstica, de vez em quando o Hélio passeava por ali tomando conta da
propriedade e o jardineiro aparecia para podar as plantas do jardim ou limpar a nossa
piscina. Quando estava de folga no colégio, era muito comum que ficasse totalmente
sozinha por ali durante horas sem topar com uma única viv’alma dentro daqueles
imensos metros quadrados de pedra, cimento e aço. Eu estava bastante solitária aquele
dia e a visita de Jordy veio muito bem a calhar.
Depois de abrir uma das garrafas do vinho do Porto que havia trazido para o meu irmão,
Jordy aceitou se sentar comigo num dos sofás da sala e ficamos a papear, relembrando a
nossa infância feliz nas ruas do bairro onde morávamos desde o nosso nascimento.
Além dele, eu conhecia mais uns cinco ou seis guris com quem me juntava aos finais de
semana para jogar queimada na rua, brincar de pega-pega ou simplesmente andar de
bicicleta até os limites do bairro. Jordy era o mais novo deles e quase sempre voltava
para casa com os joelhos ralados ou com alguma parte do corpo dolorida pelos tombos
que levava. O seu apelido entre os garotos era “molenga” e demorou até que ele se
livrasse da alcunha indesejada que havia recebido por ser desastrado.
— A minha mãe cansou de passar mertiolate nos meus machucados — disse ele ao meu
lado no sofá, agora muito mais à vontade enquanto degustava o vinho numa taça —,
todas as vezes que eu saía de casa para brincar na rua, a coitada já preparava o vidro do
antisséptico porque sabia que eu ia me arrebentar todo!
Comecei a gargalhar e quase me engasguei com o vinho.
— Eu era um desastre!
Jordy tinha se tornado um rapaz muito bonito e quase não lembrava mais em nada o
antigo “molenga” da nossa infância. Tinha uma sombra de barba castanha contornando
o rosto fino e possuía feições másculas que me chamavam muito a atenção.
Quando foi que ele se transformou nesse pedaço de homem? Pensei, ficando um tanto
eufórica sob efeito do vinho.
— Lembra aquela vez que estávamos brincando de pique-esconde na Rua Dezesseis e
começou a anoitecer?
Ele fez menção de que se lembrava e vi as suas bochechas corarem com um sorriso
envergonhado escapando na cara.
— Aquele dia foi terrível! — Confessou ele.
— Ninguém conseguia te achar. Começou a ficar muito tarde para voltar para casa e nós
decidimos ir embora sem terminar a brincadeira. Pegamos as nossas bicicletas e
pedalamos de volta. Nós tínhamos plena certeza que você tinha desistido antes da gente
e que já tinha saído de lá sem que víssemos. Ficamos o caminho inteiro elucubrando
várias teorias malucas. O Quincas, filho do senhor Vanucci, chegou a falar que você
tinha sido abduzido por alienígenas!
— Pois é! E eu fiquei lá que nem um idiota escondido naquele beco entre o armazém da
Rua Dezesseis e a igreja presbiteriana do bloco doze achando que vocês ainda estavam
me procurando. Quando me dei conta que ninguém mais estava brincando, voltei pra
casa sozinho à noite e morrendo de medo da surra que eu ia levar do meu pai a hora que
pisasse em frente ao meu portão.
A história era de humilhação, mas não contive o riso. O tom dramático que ele dava ao
trauma de infância que havia sofrido era inegavelmente engraçado.
— E ele te bateu aquele dia? — Quis saber, ficando um pouco comovida.
— Não porque a minha interveio. O velho Roberval já tinha preparado o cinto de couro
italiano que ele usava para me esquentar o lombo. Escapei por pouco da surra, mas não
da bronca que levei por chegar quase meia-noite em casa!
Eu estava solidária ao que ele tinha sofrido por ser um garoto tímido e um pouco
desligado na infância e encostei a minha cabeça em seu ombro lhe fazendo um afago
rápido nos cabelos. Depois dos risos, eu tinha me sentido culpada por zoar o garoto
daquele jeito e achei que o podia compensar lhe dando um pouco de carinho.
— Os meninos eram muito maus com você naquela época, Jordy. Deve ter sido difícil
crescer como o caçula do bando e ser tão maltratado por todos eles.
Jordy terminou a sua terceira taça de vinho e comentou:
— Ah, não foi tão ruim! Hoje em dia nós somos bons amigos e alguns deles até
importam bebidas com a firma do meu pai. Aproveito para descontar tudo que sofri nas
suas mãos aplicando taxas extras de juros no preço da importação das suas compras.
E ele riu agora de um jeito maldoso. Eu o acompanhei.
— Que menino mau que você se tornou, Jordy!
Ele me encarou de uma maneira sedutora. Ficou balançando a taça vazia por um
instante conforme me olhava bem dentro dos olhos, e de repente, a mão que estava
apoiada no encosto do sofá se precipitou em direção ao meu rosto. O dorso do seu dedo
indicador tirou a mecha de cabelo que escapava do meu coque da frente dos meus olhos
e ele me elogiou:
— Não foi só eu que mudei desde aquela época de infância, Carla. Você não é mais
aquela menininha magrela que andava na minha garupa e que escapava facilmente de
todas as bolas jogadas contra você em nossas partidas de queimada por ser a mais
fininha do grupo.
Abaixei os olhos por um momento, mas logo tornei a fixá-los no rosto de Jordy.
— Não sou? E por que acha isso? Está me chamando de gorda ou algo assim?
Ele deu um risinho um pouco safado antes de responder.
— Pelo contrário. Eu te vejo chegando do colégio de vez em quando. Acompanho você
quando desce do carro da família até entrar em casa. Dá pra te ver da janela do meu
quarto. Adoro aquela sua calça jeans apertadinha… aquela mais escura.
Senti um misto de euforia com timidez me tomar o peito.
Ele tem me stalkeado todos esses anos? Pensei, um pouco abismada.
— Não sabia que gostava de moda. Eu posso recomendar a loja da Abercrombie onde
comprei, se quiser!
Devolvi o sorriso malicioso que ele me deu, então veio a revelação:
— Não estou falando da calça. Estou falando do recheio dela.
Jordy desceu os olhos para as minhas coxas por um segundo. Elas estavam expostas o
suficiente para que pudessem ser apreciadas e aquela olhada deu o “start” que
necessitávamos para que esquecêssemos de vez as brincadeiras de infância e
passássemos a criar novas lembranças no presente. Desta vez, no entanto, queríamos
praticar brincadeiras mais adultas.
Capítulo 11 – Chegada inesperada

O PRIMEIRO BEIJO TROCADO entre Jordy e eu aconteceu ainda no sofá da minha


casa, mas não demorou para que, tomados por um desejo incontrolável, nós dois
subíssemos aos tropicões até o meu quarto, e lá dentro, começássemos a nos soltar
naquela tarde fria de inverno.
Os termômetros marcavam uma temperatura baixa que beirava os 11°, mas o calor
emanado por nossos corpos e a bebida que havia enchido os nossos tanques durante
quase toda a tarde estavam garantindo uma temperatura agradável entre nós, o que fez
com que nos despíssemos muito rapidamente sobre a minha cama.
O meu vizinho era agora um rapaz de corpo definido com mãos pesadas e calosas que
deslizaram pelo meu corpo de maneira muito carinhosa enquanto me despia das minhas
roupas. Após alguns segundos de intensa adoração aos meus peitos nus, ele tratou de
abocanhar os meus mamilos um a um e os fez sem perder de vista os meus olhos e as
minhas expressões de prazer.
— Nossa, Jordy… está muito bom!
Jordy era realmente muito habilidoso com a boca e me fez um sexo oral esplêndido que
me arrancou gemidos genuínos de prazer em cima dos meus lençóis de linho. Enquanto
devorava a minha vagina ainda me olhando lá de baixo, o seu polegar direito ficava a
massagear o meu clitóris delicadamente, me causando espasmos e arrepios intensos pelo
corpo inteiro.
— Eu… Eu vou gozar… não para…
Em toda a minha vida até aquele ponto, eu só tinha tido dois parceiros sexuais e o Jordy
era, com segurança, o que melhor sabia lidar com a boca. Ele possuía uma habilidade
única de circundar o meu clitóris ao mesmo tempo que acariciava os meus lábios
internos com intensidade e aquilo me fez “chorar” feito uma fonte d’água em sua língua
ágil.
Diferente dos outros meninos com quem tinha transado, o bom de Jordy era que os seus
cabelos eram bem compridos e eu os podia agarrar enquanto ele me devorava entre as
pernas, mandando que ele não parasse o que estava fazendo tão bem.
— Continua, Jordy, por favor! Não para! NÃO PARA!
Jordy só parou quando quase me matou com um orgasmo que me fez rasgar o meu
lençol tal foi a intensidade da coisa. Depois da onda de prazer que havia me tomado por
preciosíssimos vinte e três segundos — não que eu tivesse contado, mas essa era uma
estimativa de tempo que eu preferia acreditar que era real —, eu o encarei com o peito
ainda subindo e descendo comigo arfando e mandei sem medo que ele pensasse mal de
mim aquele momento:
— Me fode, Jordy! Sobe em cima de mim e me fode!
Apesar do corpo definido e da sua extrema habilidade com a boca, o meu vizinho
carinhoso não era tão bem servido em seu instrumento principal de trabalho, mas como
se dizia por aí, “o importante não é o tamanho da ferramenta, mas quem a empunha”.
Apesar de possuir um pênis relativamente pequeno, Jordy o sabia manipular muito bem
e aquele dia, essa habilidade foi o suficiente para me manter no clima de prazer absoluto
que eu estava sentindo em seus braços.
Quando ele voltou a me beijar, a sua língua ainda estava impregnada do meu gosto e
misturado com o Meruge que tínhamos tomado quase inteiro no andar de baixo, o
resultado era quase afrodisíaco.
Jordy era com certeza o cara mais amoroso com quem eu já tinha transado e ele era
mesmo uma máquina de fazer carinho. Conforme me estocava a vagina, as suas mãos
não descansavam em cima de mim alisando do meu rosto aos meus cabelos e dos meus
seios aos meus quadris.
— Oh, Jordy! Está… Está muito bom…
Jordy me macetou por mais de uma hora sem nem perder o compasso e eu já estava me
sentindo levemente assada quando pedi que ele mudasse a posição. Gentilmente, o
garoto me botou de lado na cama, fez eu flexionar uma das pernas, abriu as duas bandas
da minha bunda com as mãos firmes e voltou a visitar a minha colega rosada.
Eu estava muito úmida e um som meio constrangedor de pum ecoou no quarto expelido
pelo ar contido dentro da minha xota. Ele deu um risinho antes de me acariciar o rosto
dizendo que estava tudo bem, mas logo depois, voltou à sua atividade atlética anterior.
Passamos mais uma hora fodendo em cima daquela cama e eu gozei pelo menos mais
umas duas vezes nas mãos daquele garoto com quem brincava de pique-esconde na
infância. O molenga, afinal, não tinha mais nada de mole.
Por conta da tarde maravilhosa de sexo em meu quarto após aquela visita inesperada,
Jordy e eu nos tornamos mais próximos e não era raro que ele viesse me visitar em casa
sempre que eu estava sozinha. Seu pai e o meu irmão tinham feito uma espécie de
acordo para que sempre que surgisse novidades no mercado de importação de bebidas
um avisasse o outro e o filho do senhor Roberval acabou se tornando o intermediário
entre os Pires e os Castilho. Com a desculpa de trazer os pedidos de Mauro ou
simplesmente para apresentar os catálogos de vinho que tinha à disposição, o Jordy
vinha me visitar com frequência e passamos a transar sempre que aquilo acontecia.
Numa tarde solitária daquelas, a minha mãe tinha sido levada pelo motorista e o Hélio
até o bairro de Higienópolis para cuidar de um projeto social envolvendo moradores em
situação de rua e o Jordy apareceu à porta trazendo um dos catálogos de uma vinícola
portuguesa que fazia negócios com o seu pai.
— Acho que o seu irmão vai adorar o cardápio de Vinho da Madeira que o meu pai está
negociando para o mês que vem — disse ele segurando o catálogo em papel couché em
mãos. Estava com uma cara de menino levado e eu o puxei logo para dentro pela gola
da camiseta.
— Ah, é? Então entra logo e me mostra esse cardápio inteirinho!
Eu estava tão fogosa aquele dia que nem quis perder tempo em levá-lo para cima.
Arranquei a sua blusa ainda na sala sobre o tapete egípcio da dona Vilma e comecei a
beijar e a lamber aquela barriga sarada.
— Não é melhor a gente subir, Carla? Os empregados…
Ele estava sussurrando com tom de preocupação na voz. O puxei pela cintura da calça
jeans e me pus a desabotoá-la de maneira afoita.
— Não tem ninguém em casa. Anda. Tira a roupa!
Antes que ele pudesse argumentar qualquer outra coisa, eu o empurrei contra o assento
do sofá e me pus a despir o short que vestia junto da calcinha. Me encaixei de frente
para ele nua da cintura para baixo e eu mesma me encarreguei de encaixá-lo dentro de
mim. Gemi só de sentir aquela glande úmida começar a me penetrar e assim que me
posicionei melhor, me segurei em seus ombros rijos e ficamos a transar com nossos
rostos separados por poucos centímetros de distância.
— Você é tão gostosa, Carlinha!
— Eu sou. Agora aperta a minha bunda, anda!
Enquanto ele me segurava a bunda, eu comecei a galopar em cima do seu pau e não me
poupei dos gemidos que escapavam incontroláveis da minha garganta. Jordy me
presenteava com beijos rápidos nos lábios a cada orgasmo que me causava e eu estava
ficando incrivelmente viciada em sentar naquele menino.
Por que eu nunca percebi o quanto ele era gostoso antes? Eu devia ter dado pra ele há
muito tempo! Pensei, imaginando os motivos pelo qual nem eu, nem Elisa e nenhuma
das nossas amigas achavam o molenga atraente.
Nós estávamos há mais de quarenta minutos fazendo sexo da maneira mais despudorada
possível no meio da sala quando o inesperado aconteceu. Elisa não costumava chegar
em casa aquele horário e nem eu e nem o Jordy havíamos ouvido barulho no portão
elétrico que antecedia o nosso jardim. Quando o barulho do molho de chaves tilintou
junto à porta, já era tarde demais. Nós tínhamos sido flagrados.
— Caralho, Carla! Que porra é essa?
Eu pulei de cima do colo de Jordy o mais rápido que consegui com o susto e o coitado
começou a suspender a calça amontoada nos pés em total desespero. A minha irmã tinha
ficado estática em frente à porta segurando a bolsa e logo atrás dela um rapaz de cabelos
ruivos e olhos claros tentava disfarçar o riso colocando uma das mãos sobre a boca. Era
Peterson, o namorado de Elisa.
— O que você… Por que chegou tão cedo, mana?
Eu comecei a puxar a blusa para baixo a fim de cobrir a minha nudez. Abaixei para
apanhar o short e a calcinha que permaneciam jogados a quase dois metros do sofá e o
meu rosto começou a ser tomado de um vermelho intenso. Eu nunca tinha sentido tanta
vergonha na vida.
— Me-Me desculpa, Elisa… Eu… Eu… Nós não estávamos esperando…
O Jordy estava ainda mais tímido que o normal e tão logo vestiu a calça, ele tentou
cumprimentar a minha irmã e o namorado, no que ela afastou as mãos dele um pouco
enojada.
— Foi… Foi algo bem inesperado de se encontrar ao chegar na minha própria casa! —
Disse Elisa num tom exageradamente ríspido.
O clima tinha sido cortado totalmente e não demorou para que o Jordy estivesse se
despedindo e saindo de fininho pela porta da frente. Corri para me vestir no banheiro do
primeiro andar e quando voltei, a Elisa já estava com um sorriso de deboche estampado
no rosto, o mesmo que podia ser visto no rapaz sardento ao seu lado.
— Você está transando com o Jordy Molenga, Carla? É sério?
Eu mal sabia onde enfiava a minha cara naquela hora.
— Ele… Ele veio trazer uma encomenda do Mauro… a gente aproveitou… Eu achei…
Elisa soltou um riso carregado de maldade.
— Tanto cara gostoso nessa rua e você foi se atracar justo com o Molenga?
Ela e o namorado estavam se divertindo às minhas custas. Eu fiquei irritada.
— Pro inferno, Elisa! Você nem devia estar em casa a essa hora. Você estragou tudo!
Subi para o meu quarto enraivecida e as risadas de Elisa e Peterson continuaram
ecoando na sala por um tempo até que a porta do meu aposento as abafasse
definitivamente.
Capítulo 12 – As bodas de prata

OS PRIMEIROS SEMESTRES do meu curso de Arquitetura foram bastante pesados


para quem estava acostumada com o pouco desafiante Ensino Médio e eu tive que me
desdobrar para dar conta de todos os projetos e trabalhos que me eram exigidos naquele
período.

As tarefas em grupo costumavam me deixar maluca quando os meus colegas não se


empenhavam em sua execução tanto quanto eu, e era bastante comum que a minha mãe
e a Elisa me vissem estressada pela casa, xingando e amaldiçoando pessoas pelos
cantos.

A vida universitária havia me tornado mais sisuda e reclamona, e de repente, me vi


transformada numa versão soft do meu próprio pai, características que também tinham
sido herdadas por Elisa.

Namoros ou simples casos sexuais estavam completamente fora das minhas prioridades
durante a minha graduação e a falta de sexo começou a me deixar mais amarga e
nervosa. As amigas de faculdade me chamavam para bares e boates, e mesmo quando
eu ia, sentia que a minha cabeça não conseguia desligar da arquitetura. Havia entrado
numa espécie de jaula de estudos da qual não conseguia mais sair e tinha medo que
aquilo só terminasse quando eu me formasse.

Vou acabar me tornando uma daquelas solteironas de 30 anos velha, encalhada e com
a casa cheia de gatos!

Nas férias de meio de ano, após a rotina estressante da faculdade, a minha mãe recebeu
o convite para uma festa que iria acontecer no terraço de um dos hotéis mais luxuosos
do centro de Moema e ele se estendia para toda a sua família. Tratava-se da
comemoração das bodas de prata de um casal de amigos que os meus pais tinham
conhecido em rodas da Alta Sociedade paulista e era extremamente importante que
marcássemos presença.

Eu sentia que precisava de um evento como aquele para que eu voltasse a ser a antiga
Carla bagunceira e festeira que era até o início da vida universitária, e fiz questão de ir
bem produzida. Mamãe e Vânia me ajudaram a escolher o vestido que eu deveria usar
naquela noite e quando estava pronta a me olhar no espelho, estava me sentindo como
uma daquelas princesas de filmes hollywoodianos.

O meu traje era num tom de azul-escuro e o tecido brilhante acentuava as minhas curvas
deixando o meu quadril bastante curvilíneo além do meu bumbum empinado. O decote
era bem generoso num “tomara-que-caia” e assim como o restante, os meus seios
estavam chamando bastante a atenção.
Eu não era mais aquela menina magrela da adolescência dos tempos de brincadeiras
com o Quincas e o Jordy e agora me sentia extremamente bem com o meu próprio
corpo, o que me sentia quase na obrigação de me exibir.

Tenho que aproveitar. Essa beleza toda não dura para sempre!

Cheguei ao terraço do hotel por volta das vinte horas acompanhada da minha mãe, meus
dois irmãos mais velhos e as suas esposas, e como eu pretendia, todos os olhares se
voltaram para mim. Homens em todos os cantos do salão esticaram o pescoço para me
ver passar e eu adentrei o ambiente bastante sorridente, me sentindo incrivelmente
charmosa com o colar de turquesas que o meu pai tinha me presenteado em meu
aniversário de quinze anos no pescoço, o último agrado que Jaime havia me dado antes
de falecer.

Embora eu não tivesse acompanhada da minha principal parceira para eventos como
aquele — já que Elisa tinha um compromisso com a família do namorado naquela noite
— ainda assim, eu estava me sentindo radiante e fui muito cortejada.

Vários amigos de Pedro Augusto de Alcântara e Albuquerque — o homem que estava


comemorando suas bodas — se interessaram por mim, e aqueles galanteios acabaram
melhorando a minha autoestima. Eu ainda era desejada e estava no auge da minha
beleza. Não havia razão alguma para estar me sentindo tão para baixo e preterida. Era
hora de aproveitar.

Após a valsa do casal principal da festa em que fui conduzida à pista por um amigo
comum da família de nome Marcos, algumas pessoas dispersaram do salão e eu me
dirigi ao bar onde pedia um drinque ao garçom quando alguém me abordou.

— Posso oferecer um drinque à senhorita?

Me virei em direção àquela voz sedutora que os meus ouvidos captaram e vi um rapaz
bastante elegante de terno, gravata borboleta, alto e de porte imponente sorrindo para
mim. Seus cabelos estavam bem penteados de lado com gel e havia um topete volumoso
à frente escondendo o tom levemente avermelhado dos seus fios. Os olhos dele eram
verdes e penetrantes. Me senti seduzida na mesma hora.

— Na verdade, você pode assim que eu terminar esse.

Eu sorri de volta e empunhei a taça de Martini em sua direção como num brinde, já
bebericando um gole. O rapaz ao meu lado indicou que me acompanharia e pediu o
mesmo que eu estava tomando para o bartender atrás do balcão. Assim que a bebida foi
lhe oferecida, ele continuou o diálogo:

— Nunca a vi antes nesse círculo de convivência. É amiga do Pedro Augusto?

Ele parecia interessado em me conhecer e de todos que haviam me abordado aquela


noite, eu podia admitir que o ruivo parecia ser o mais atraente.
— Na verdade, os meus pais são — dei mais um gole no Martini propositalmente para
que ele reparasse em minha boca —, conheço o casal só de vista das festas que eu
frequentava com papai e mamãe.

Ele também bebericou o drinque e apoiou o cotovelo no balcão ficando meio de costas
para ele. Deu uma olhada pelo salão como que procurando alguém, fingindo leve
desinteresse, e então, retomou o assunto.

— Seus pais devem ser engenheiros, suponho.

Eu me aproximei um pouco mais dele e falei, em tom meio irônico:

— Passou perto, mas não. Papai era gestor de empresa e a minha mãe trabalha com
filantropia. Sou Carla Castilho, a propósito.

Estendi minha mão a ele em cumprimento, e feito um perfeito cavalheiro, o moço a


segurou e a beijou.

— Prazer, senhorita Castilho. Eu me chamo Roque Alencar.

Eu e ele ficamos algum tempo no balcão e aquele bate-papo casual foi o bastante para
eu perceber que Roque era um cara extremamente alto-astral, além de galante e sedutor.
Eu não sabia se era proposital, mas ele gostava de ficar me encarando com aqueles
olhões verdes como que numa tentativa de me hipnotizar por seu charme. Eu estava me
sentindo à vontade em sua companhia e bastante cativada. Ele era muito educado, e
apesar de usar um linguajar mais coloquial, dava para perceber que ele tinha certo nível
cultural.

Em pouco tempo, ele me explicou qual era o seu trabalho principal como assistente de
projeto na empresa de Pedro Augusto de Alcântara e o que ele queria fazer depois de
formado.

— Pretendo me especializar também em Engenharia Ambiental para ter um repertório


mais amplo no currículo. Adoro a Engenharia Civil, mas sei que não posso ficar
limitado a ela.

Roque tinha a mesma idade que eu e a maneira como ele falava dos seus sonhos e
projetos futuros era carregada de energia positiva, o que me deixou empolgada em
conhecer melhor aquele rapaz tão interessante. Depois do bar, ele me levou para a pista
de dança e bailamos juntos algumas músicas clássicas tocadas para comemorar as bodas
de prata do seu patrão. Ele tinha mãos firmes e o modo como pegou em minha cintura
me deixou meio eufórica.

O som estava alto e para falar comigo enquanto me conduzia pela pista com bastante
elegância, ele chegou bem perto do meu ouvido, me causando arrepios breves. Disse
que tinha aprendido a dançar valsa só para acompanhar uma menina da qual ele era a
fim no Ensino Médio, mas que ela acabou escolhendo outro par para dançar com ela na
festa de formatura.
— Coitadinho — comentei, sorridente, o olhando nos olhos —, deve ter sido bastante
traumático.

— E foi! — Admitiu ele, fazendo uma cara forçada de tristeza. — Todas as vezes que
ouço valsa, o jovem Roque de dezessete anos morre mais uma vez dentro de mim.

Rimos bastante juntos e o bom-humor daquele rapaz charmoso me acompanhou até o


fim da noite. Perto de eu me retirar da festa com meus irmãos e a minha mãe, Roque fez
questão de pegar o meu contato e prometeu que nós voltaríamos a nos falar.

— Acho que essa ligação que senti com você não pode ser ignorada. — Disse ele, após
anotar meu telefone. Eu não podia achar aquela observação mais acertada.

Uma parte de mim não acreditava que Roque voltaria a tentar contato comigo, mas
outra, esperava desesperadamente que ele pegasse o número que o havia dado e me
ligasse.

Os três dias seguintes à festa foram de muita ansiedade e eu passei praticamente o dia
todo ao lado do telefone sem fio de casa esperando um sinal. Estávamos no começo do
século e não dispúnhamos de celulares, WhatsApp ou mesmo redes sociais. Aquele era
um tempo em que dependíamos quase que exclusivamente de ligações por telefone e
aquilo me deixou feito uma solteirona encalhada sentada perto daquele aparelho de
comunicação maldito.
Capítulo 13 – Achados e perdidos

ALGUNS DIAS DEPOIS DA FESTA de bodas de prata de Pedro Augusto de Alcântara


e a sua esposa, as minhas aulas retornaram na faculdade e eu já estava me preparando
para voltar a me concentrar exclusivamente nos estudos, visto que naquele semestre eu e
a minha turma teríamos algumas das matérias mais cruciais do conteúdo programático.
Estava incrivelmente ansiosa para estudar Análise e Gestão Ambiental, até porque em
Urbanismo e Gestão de Projetos, eu havia conseguido as melhores notas nos semestres
anteriores e tudo indicava que a matéria ia ser ministrada pelo mesmo professor.

Conforme o tempo passava e a minha rotina de estudos se estabilizava, reencontrar o


dono daquele par de olhos verdes começava a se tornar um sonho cada vez mais distante
em minha cabeça e eu já estava me conformando que aquele tinha sido um momento
que só se vive uma vez.

Devia pelo menos ter dado um beijo na boca daquele gato! Pensei num dia, bastante
desolada.

Um mês tinha se passado e era a hora do intervalo entre as duas primeiras aulas da noite
e as duas últimas. Eu estava caminhando pelo corredor do prédio principal da faculdade
com as minhas duas melhores amigas, Duda e Nana, em direção ao bar onde
papeávamos sempre enquanto tomávamos cerveja do outro lado da rua, quando um de
nossos colegas de sala veio ao nosso encontro.

— Tem um cara procurando você lá na entrada do campus, Carla.

Raul, o garoto que havia me dado a informação, era um dos sujeitos mais tranquilos que
eu conhecia e ele me falou aquilo como que contando numericamente cada palavra. As
garotas diziam que ele era o maior consumidor de marijuana do período noturno, mas
ninguém o discriminava por isso. Pelo contrário. Ele era um dos meninos mais
divertidos e parceiros da turma, o que fazia com que todo mundo quisesse ser seu
amigo.

— Cara? Que cara? Como ele é?

— Não sei não. Foi o Tomás quem me pediu pra te avisar.

A caminho da entrada do campus, acompanhada ainda por minhas duas amigas, eu


pensei em todas as possibilidades de quem poderia ser o tal cara mencionado por Raul e
o meu coração acelerou ao achar que pudesse ser um dos meus irmãos.

Será alguma má notícia? Será que aconteceu alguma coisa com a mamãe e eles vieram
me avisar?

Nana segurou o meu braço e pediu que eu me acalmasse. Todo o mistério se desfez
quando cheguei à portaria e o vi de longe usando uma jaqueta de couro preta, calça
jeans e um sapato escuro. Estava parado perto do mural de avisos encostado com o
ombro na parede. Tinha deixado crescer um cavanhaque charmoso no rosto, mas era ele,
o mesmo cavalheiro que me tirou para dançar na noite da festa de bodas de prata.

— O que um cara não tem que fazer para encontrar uma bela moça, hein?

Ele abriu um sorriso ao me ver se aproximar e estendi a minha mão para cumprimentá-
lo. O meu coração continuou acelerado, mas desta vez, não era de preocupação, era de
euforia. Roque me deu um beijinho no rosto e eu apresentei Nana e Duda a ele.

— Prazer em conhecer.

— Como me achou aqui? — Indaguei, corada e curiosa.

— Você me falou onde estudava na festa, não lembra? — Perguntou ele. Realmente eu
não me lembrava. — Já estive aqui outras noites te procurando, mas ninguém sabia me
informar em qual sala a sua turma estava. Tive que comprar marijuana de um cara para
ele poder me dar a informação correta!

E ele exibiu discretamente um saquinho de maconha que tirou do bolso da jaqueta.

— Ah, meu Deus! Você encontrou o Tomás! — Disse Nana na mesma hora. — Ele é da
nossa turma de Arquitetura. É ele quem vende essas coisas! — E ela apontou para o
bolso dele. Roque riu.

— Já percebi que informação por aqui não é algo barato de se conseguir! — E ele disse
aquilo de uma maneira muito engraçada.

— Estamos no campus de exatas, querido. Informação de graça só no campus de


humanas! — Disse Duda, toda engraçadinha já se jogando para Roque. Cortei seu fogo
na mesma hora.

— Mas pra que todo esse trabalho para me encontrar? Por que não me ligou no número
que te dei?

Roque fez sinal para que eu esperasse e retirou a carteira do bolso traseiro da calça.
Mexeu num dos compartimentos, retirou dele um guardanapo dobrado e me mostrou.
Era o mesmo papel em que eu tinha lhe passado o meu telefone.

— Não sei se não queria falar comigo, mas a senhorita me passou o número errado. —
Eu conferi os números marcados e imediatamente percebi o equívoco. Eu havia trocado
a ordem da sequência final. Senti meu rosto ferver. — Liguei umas três vezes e fui
atendido por um tal de Nestor que não conhecia nenhuma Carla. Sujeito simpático até.
Me mandou à merda na última ligação!

Minhas amigas caíram no riso, e naquele momento, eu desejei que um buraco se abrisse
sob meus pés e me engolisse de tanta vergonha. Eu não conseguia acreditar no quanto
tinha sido estúpida. Eu tinha só uma chance de fazer aquilo certo e tinha falhado
miseravelmente.
— Como eu sou burra! Eu não acredito que te fiz escrever o número errado no
guardanapo. Não foi a minha intenção, me perdoa!

Ele fez uma cara de que não tinha acreditado muito em mim, e naquela hora, ele
provavelmente estava realmente pensando que eu não queria mais o seu contato e que
por isso tinha escrito o telefone errado.

Seguindo os planos iniciais, eu, Nana e Duda fomos até o bar do outro lado da rua da
faculdade e eu chamei Roque para nos acompanhar. Queria muito desfazer aquele
engano e me redimir com ele, por isso, fiz de tudo para que ele se sentisse à vontade
comigo e com as minhas amigas.

Ali, num ambiente menos formal e menos cheio de pompa, o gato de olhos verdes se
mostrou ainda mais divertido que na festa e não paramos de rir conforme ele nos
contava a saga que tinha vivido para me encontrar no campus. Cada história era mais
absurda que a outra e ele contava com grande talento para a comédia enquanto
bebíamos cerveja à mesa.

— Eu estava no prédio de Filosofia achando que era o de Arquitetura. Perguntei sobre


Carla no corredor e um moleque meio nerd usando óculos fundo de garrafa me indicou
a porta ao fim do corredor. Disse que a tal Carla estava lá fumando com os caras do
fundão. Pensei na hora: “ela podia ter me falado que era chegada a um baseadinho
durante a festa! Eu até comprava pra ela! ” — E Roque bateu no bolso da jaqueta mais
uma vez, lembrando que ele realmente tinha feito aquilo. Nós três rimos. — Eu entrei na
sala e quando olhei, a tal Carla era uma loira toda esquisita cheia de piercings na cara.
Me desculpei pelo engano e deixei o grupinho lá em meio à fumaça da maconha. Eu
fiquei até mais calmo depois da visita involuntária.

Caímos na gargalhada mais uma vez e passado aquele momento constrangedor da


constatação do número escrito errado no guardanapo, eu me dei conta de que ele
estivera aquele tempo todo me procurando, fazendo exatamente o que tinha me
prometido ao final daquela festa.

Mesmo sem o meu telefone certo, ele estava se esforçando para me achar andando
quase de porta em porta no prédio imenso da faculdade tirando um tempo da sua vida
para reencontrar a garota com quem ele tinha se divertido numa festa. Eu dei um valor
incrível àquele esforço e prometi a mim mesma que ia fazer aquela história valer a pena.

Naquela mesma noite, eu resolvi matar as duas últimas aulas, e enquanto Nana e Duda
iam para o prédio de Arquitetura estudar, eu aceitei o convite de Roque para darmos
uma volta num parque a alguns quilômetros daquela área da cidade.

Ele me deu carona em seu Honda preto e passamos boas horas de divertida troca de
experiências universitárias entre as árvores e o verde do local. Roque fazia Engenharia
numa das faculdades mais conceituadas de São Paulo e o seu pai pagava caro para que
ele se tornasse o melhor engenheiro da sua área. O emprego na empreiteira de Pedro
Augusto de Alcântara tinha sido batalhado com muito custo e segundo o desejo do pai,
ele só sairia de lá para montar a sua própria empresa de Engenharia Civil.

— Meu pai é um cara bastante prático. Ele nunca conseguiu nada de graça na vida e
quer que o seu filho único seja um batalhador como ele. Eu sinto que devo isso ao meu
velho.

Após aquele passeio adorável no parque, eu lhe mostrei o caminho da minha casa em
Moema e falei que a partir de então, ele não precisaria mais se esforçar tanto para me
achar. Antes de me despedir em frente ao meu portão, eu lhe dei um beijo no rosto e
indiquei que ficaria muito feliz se ele fosse me buscar mais vezes na faculdade.

— Não vou precisar ligar antes? — Brincou ele, encostado no Honda e já vendo as
luzes da minha casa se acendendo na parte de cima, no corredor do quarto dos meus
pais.

— Não. Vai ter que me encontrar mais vezes até ganhar o direito de conseguir o meu
telefone verdadeiro.

Eu estava fazendo charme aproveitando para entrar em sua brincadeira, mas eu estava
morrendo de vontade de vê-lo novamente o mais rápido possível. Ele me deu um
tchauzinho depois que entrou em seu veículo, e em seguida, arrancou rua abaixo. O meu
coração tamborilava agitado dentro do peito. Me sentia apaixonada.
Capítulo 14 – Verdades secretas

ROQUE PASSOU A ME buscar três vezes por semana na faculdade depois de sair da
própria aula de Engenharia e ficávamos um tempo na rua papeando para nos conhecer
melhor.

Naquele período, descobri que ele tinha ficado órfão de mãe aos onze anos de idade e
que desde então, o seu pai era tudo que havia de mais importante em sua vida. Disse que
até aquele momento só havia apresentado uma única namorada ao velho e que o seu
namoro de dois anos havia acabado depois que ela o traiu com o seu melhor amigo.

Aquela foi a primeira vez que percebi uma certa tristeza em seu olhar e tive uma
vontade enorme de abraçá-lo bem forte. O nosso primeiro beijo aconteceu na semana
seguinte após o nosso reencontro na faculdade, e depois daquilo, nós decidimos
comumente começar um relacionamento sério. Ele também estava apaixonado por mim.

Por alguma razão que nem eu sabia explicar, eu levei um tempo para apresentar Roque à
minha família e num espaço de seis meses entre o retorno às aulas da minha faculdade e
o final do ano, a minha irmã Elisa decidiu se casar com o noivo Peterson numa
cerimônia de alta classe que movimentou todos os colunistas sociais da época.

Os gastos com a festa oferecida por ela aos convidados quase chegaram a um milhão de
Reais — numa época em que essa quantidade de dinheiro parecia impensável — e ela
não quis poupar nem um centavo, visto que desejava que o seu casamento fosse
lembrado por muito tempo.

Eu fui chamada para ser uma das suas madrinhas e fiquei verdadeiramente emocionada
com o convite, passando a cerimônia quase inteira segurando as lágrimas. A minha irmã
estava linda no vestido desenhado exclusivamente para ela por uma estilista de moda
muito famosa no Brasil e a cada passo que ela dava no corredor da igreja enquanto a
marcha nupcial tocava, era um momento nosso da infância até a nossa vida adulta que
eu me recordava.

Menos controlada emocionalmente que eu, mamãe se desfez em lágrimas ao ver a filha
mais velha entrar na igreja de braço dado com o meu irmão Renato. Ele estava
substituindo nosso velho pai na condução da noiva ao altar e deu para ouvir mamãe
comentar com a voz abafada pelo lenço onde enxugava as lágrimas:

— Tenho certeza que o Jaime está orgulhoso da nossa filha linda aonde quer que ele
esteja.

Os mesmos parentes que haviam aparecido para o velório de papai estavam enchendo os
bancos da igreja do lado reservado para os entes queridos da noiva e o lado do noivo
também estava muito bem representado com uma porção de cabeças vermelhas e rostos
sardentos.
A família de Peterson era uma mistura grande de descendentes de italianos e sicilianos,
mas outra boa parte vinha do Reino Unido, especificamente da Irlanda. Com exceção de
alguns poucos agregados, a maioria dos seus familiares apresentava cabelos ruivos
naturais e aqueles que não tinham as madeixas avermelhadas tinham ao menos sardas na
pele e brilhantes olhos verdes como o próprio marido da minha irmã. Se aqueles genes
fossem fortes, eu já começava a sonhar com lindos sobrinhos ruivinhos correndo pela
casa. Dei risada sozinha pensando naquela possibilidade cromossômica.

Elisa e Peterson passaram a lua de mel em Cancun, no México, e enquanto eles


aproveitavam aquele momento único, Mauro supervisionou pessoalmente a conclusão
da casa onde o casal Tomazzi ia morar logo que voltasse de viagem, ali mesmo no
bairro de Moema perto de nós.

Com a saída da minha irmã de casa, eu ia ser a única entre os quatro irmãos ainda
solteira e também a única a fazer companhia para mamãe na velha mansão dos Castilho.
Apesar de saber que aquele era o caminho natural da vida e mesmo muito feliz por meus
irmãos, todas aquelas mudanças não se tornavam menos dolorosas para mim que não
me acostumava bem a coisas que fugiam da rotina.

Mesmo com ela morando a algumas ruas de distância dali, a mamãe também pareceu
bastante entristecida com a partida de Elisa e não era raro surpreendê-la choramingando
pelos cantos da mansão que tinha se tornado agora grande e vazia demais para nós duas.

Com menos pessoas em casa, nós achamos por bem dispensar alguns dos empregados e
um dos motoristas foi designado para servir os Tomazzi, assim como uma das
cozinheiras e o jardineiro. Eu procurava ficar o máximo de tempo possível em casa para
fazer companhia à mamãe, mas via que só aquilo não era o bastante. Enquanto
procurava pensar numa solução para aquele vazio todo, temia que ela tivesse uma
recaída da depressão que a havia acometido após a morte de papai e voltasse a ficar
dependente de remédios.

No final daquele ano, em comum acordo com os meus irmãos, eu decidi comemorar o
Natal na mansão de nosso pai e reunimos toda a família ao redor da mesa para um
verdadeiro banquete. Renato trouxe com ele Vânia, Jonathan e Janete, e as crianças
deram todo um colorido à comemoração. Mauro e Solange ficaram encantados
segurando a sobrinha no colo, e em dado momento, anunciaram que já estavam fazendo
planos para terem um bebê muito em breve. Os olhos de Elisa também brilharam e ela
confessou que não via a hora de ter filhos com Peterson.

— Daqui a um tempo com certeza — disse o ruivo —, mas por enquanto, vamos curtir
o momento de recém-casados.

Enquanto os dois trocavam beijos apaixonados no sofá da sala, Mauro que segurava
Janete no colo foi quem indagou:

— Estamos esperando mais alguém? Podemos começar o amigo secreto?


— Esta noite teremos mais um convidado.

Eu respondi com um sorriso no rosto e todos começaram a especular o que havia por
trás daquele tom de mistério que eu vinha fazendo desde cedo. Mamãe era a única ali
que tinha certeza que a razão da minha euforia era o dono do carro preto que me trazia
em casa toda semana, mas nem ela sabia muito mais sobre o meu namorado do que os
demais convidados da ceia de Natal.

Quando a campainha tocou e eles me viram correr até o portão, Mauro e Renato ficaram
de gracinha comigo dizendo que se fosse um cara da qual eles não gostassem iriam
colocá-lo para fora.

— Temos que defender a honra da nossa irmãzinha, afinal. — Disse Mauro.

— O revólver do papai ainda está guardado naquela caixa de madeira sobre o armário?
— Disse Renato, em um falso tom de seriedade se dirigindo à mamãe.

— Parem de ser bobos! Deixem a menina! — Defendeu a dona Vilma.

Roque estava me esperando do lado de fora e ele estava lindo usando uma camisa social
branca para dentro da calça e um par de sapatos tão pretos quanto o seu carro. Ele havia
trazido um vinho tinto com ele e uma torta de morango para a sobremesa. Lhe dei um
selinho e falei, pegando o embrulho em sua mão:

— Não precisava se incomodar, amor. Já tem bastante comida lá em cima.

— Espero que não sejam alérgicos a morangos. Não quero ser responsável pela morte
de ninguém bem no dia em que vou conhecer a família da minha namorada!

Eu caí no riso, e na mesma hora, pensei que todos na casa iam adorar aquele senso de
humor. O tomei pela mão e caminhei com ele escada acima. Eu estava usando um
vestido vermelho decotado bem justo e ele me elogiou, dizendo que eu estava
deslumbrante. Fiquei lisonjeada e agradeci.

Como esperado, todos adoraram Roque e ele foi o grande responsável pelas gargalhadas
que demos à mesa após a troca de presentes do amigo secreto em frente à árvore de
Natal na sala. Mauro se entrosou com muita facilidade com o cunhado e o Peterson
ficou brincando que tinha encontrado o irmão que a sua mãe tinha perdido na
maternidade.

— Olha só, somos praticamente gêmeos! Olhos verdes, ruivos, com sardas e cursando a
mesma faculdade. Você é meu irmão mais novo, cara!

As semelhanças físicas entre os dois eram mesmo impressionantes e nem eu tinha me


dado conta daquilo até Peterson começar com as brincadeiras. Enquanto o marido se
tornava cada vez mais próximo do meu namorado, eu percebi que a Elisa tinha ficado
completamente muda e sisuda após a chegada dele em nossa casa e eu achei o seu
comportamento muito estranho. A minha irmã evitava até mesmo chegar perto de
Roque ou de encará-lo, o que era quase impossível visto que estávamos em uma
celebração familiar íntima.

Depois da ceia e da sobremesa — em que Roque repetiu em alto e bom som a piada
sobre alergia a morangos —, Elisa deu um jeito de puxar Janete com ela para um canto
e lá ficou brincando com sobrinha e um chocalho. Os meninos entraram num enfadonho
papo sobre engenharia com Roque e enquanto mamãe servia um pedaço de torta para
Jonathan, tratei de me aproximar da minha irmã, aproveitando a deixa. Ela me olhou
estranho quando me aproximei e fui bem direta:

— Qual é o problema, Lisa? Por que você não gostou do Roque?

Ela ajeitou Janete no colo e a bebê ficou sacudindo o brinquedo ruidoso encarando as
suas cores chamativas com os olhões castanhos.

— Não disse nada que não gostei dele — respondeu secamente, de olho na roda
formada pelo seu marido, nossos irmãos e o Roque mais adiante próximo à porta.

— Você ficou calada assim que ele chegou e depois fechou o cenho como se tivesse
visto o demônio. Você o conhece de algum lugar, é isso?

Elisa desviou os olhos do grupo e me encarou, segurando o meu braço em seguida.


Diminuiu o tom como se fosse me fazer uma confissão e indagou, me fazendo puxar da
memória:

— Você se lembra daquele meu passeio pela costa brasileira? Do cruzeiro de negócios
da faculdade?

Acenei que sim.

— Você se lembra que mencionei um rapaz com quem fiquei durante a viagem, que ele
tinha olhos verdes e cabelos ruivos?

Meu estômago gelou naquele momento e temi o que viria em seguida depois que anuí à
sua última pergunta.

— O Roque é aquele rapaz. O seu namorado é o garanhão pauzudo!


Capítulo 15 – Tirando a limpo

A MINHA PRIMEIRA VEZ com Roque aconteceu algumas semanas antes daquele
Natal com a revelação da identidade do “garanhão pauzudo” de Elisa e foi com certeza
um dos momentos mais prazerosos da minha vida até ali. Era um sábado e ele me levou
a um dos motéis mais caros da cidade, daqueles que tinham banheira de
hidromassagem, cadeira erótica e frigobar com champanhe.

Embora aquela não fosse a minha primeira vez de fato, eu estava bastante nervosa em ir
para a cama com ele e o Roque percebeu o meu estado ainda no carro. Chegando ao
local, antes de tirarmos a nossa roupa, ele resolveu me fazer uma massagem relaxante
daquelas que deixam cada um dos nossos músculos leves, o que ajudou bastante a me
deixar mais segura.

Para me botar no clima, ele usou bastante a boca e percebi logo que o meu namorado
era muito bom no que fazia. Parecia muito experiente, apesar de não ser tão mais velho
que eu por questão de meses apenas. Me deixou completamente entregue durante o sexo
oral e quando voltei a mim, nós já tínhamos transado sobre aquela cama por mais de
duas horas.

A nossa primeira vez serviu para nos mostrar que tínhamos uma química impressionante
juntos e aquilo nos viciou um no outro de uma maneira impactante. Não tinha se
passado nem dois dias do motel e voltamos a fazer sexo como se estivéssemos há meses
em abstinência.

A segunda vez aconteceu na antiga casa dele depois que conheci o seu pai, Heraldo
Alencar. O homem era um senhor bem alto de cabelos quase que completamente
grisalhos e penetrantes olhos verdes como os do filho. Tinha uma postura ereta e falava
com voz empostada, como um locutor de rádio AM. Disse que eu era a segunda moça
que Roque trazia para apresentar a ele — confirmando a história que seu filho já tinha
me contado — e que havia simpatizado mais comigo do que com a outra.

Apesar do jeitão de militar invocado, Heraldo me deixou extremamente à vontade em


sua casa no bairro do Brooklin, onde morava sozinho desde que Roque havia se mudado
para um apartamento no centro mais próximo da faculdade, e contava com os serviços
de uma empregada de nome Anira.

— Faço votos que o seu relacionamento com o meu filho seja duradouro, Carla. Você
parece ser uma boa moça. Vou adorar tê-la como minha nora.

Eu fiquei bastante lisonjeada pelos elogios do homem, e por um momento, imaginei que
ele teria se dado bem com o meu pai se ambos tivessem se conhecido. Os dois tinham
bastante coisa em comum.

Ainda em visita à casa, Roque quis me mostrar onde ficava o seu antigo quarto e
quando entramos, ele notou que tudo havia sido mantido da mesma forma de quando ele
saiu dali. A cama de solteiro estava no canto ao lado da janela e havia um pôster do
Kiss colado na parede logo acima da cabeceira.

— Nunca pensei que o pé-de-valsa que me tirou para dançar numa festa toda
almofadinha curtisse Rock N’ Roll! — Comentei, intrigada com a foto do quarteto de
músicos de cara pintada na parede.

— Você nem sabe! Eu fazia parte de uma banda quando tinha dezessete anos. Eu tocava
guitarra e usava mullets.

Eu dei uma gargalhada o imaginando de cabelos compridos e ele me mostrou a sua


Fender que tirou de dentro do armário. O instrumento estava empoeirado, era vermelho
e branco e tinha vários adesivos com logotipos de bandas dos anos 80 grudados nela.
Roque ainda arriscou algumas notas, mas estava enferrujado.

— Preciso voltar a praticar. Um dia te mostro como eu era bom no dedilhamento.

Ele parou de tocar as cordas da guitarra e levantou os olhos em minha direção. Fiz uma
cara de safada e comentei, deixando subentendidas as minhas segundas intenções:

— Disso eu tenho certeza. Dedilha como ninguém!

O pai de Roque estava a alguns metros de nós falando ao telefone em seu escritório,
mas o nosso desejo falou tão alto que nos atracamos ali mesmo sobre a cama de porta
aberta. Eu estava usando uma saia pouco abaixo das coxas aquele dia e eu a levantei
para sentar em seu colo de frente. Ele abriu o zíper da sua calça e colocou aquele
membro duro e grosso para fora. Puxei a minha calcinha de lado e o deixei me penetrar
com jeito.

A cama rangia ante os nossos movimentos e para não chamar muito a atenção do seu pai
e nem da empregada, Roque me segurou pela bunda e me levantou, começando a me
traçar em pé mesmo. Eu tive que conter os meus gemidos, mas estava desesperador
sentir tanto prazer sem poder demonstrar. O pau dele era deliciosamente grande e me
penetrava com um vigor que eu nunca tinha sentido antes na vida. As suas mãos
apertando as minhas nádegas estavam me deixando ainda mais excitada e quando gozei
a primeira vez, tive que abafar o gemido em seu ombro. Ele então colou as minhas
costas contra a parede ao lado da cama e continuou metendo sem pausas, sem pena.

— Aii, Roque! Que delícia! Que delícia! Ahhh!

Eu sussurrava em seu ouvido e ele continuava metendo com uma tremenda cara de
pervertido no rosto bonito.

— Não consigo parar! Você é maravilhosa, Carlinha! Maravilhosa!

Naquele final de semana, Roque enfim me levou para visitar o seu apartamento no
Jardim Novo Mundo — um bairro em São Paulo pertencente ao distrito de Moema — e
obviamente não demorou para que caíssemos em tentação mais uma vez. Ele morava no
quinto andar de um prédio residencial bastante atrativo e tinha uma cama king size
extremamente confortável no quarto.

Eu tinha vestido uma lingerie vermelha linda aquele dia e antes que ele me deixasse
pelada, fiz todo um jogo de sedução para deixá-lo ainda mais estimulado. Eu era uma
ótima dançarina desde criança e todo mundo falava que eu levava jeito como bailarina.
Costumava ensaiar coreografias de dança do ventre com a minha irmã Elisa em frente
ao espelho e eu havia desenvolvido uma malemolência considerável com os quadris.
Com ele só de cueca deitado na cama, eu subi sobre o colchão e comecei a dançar
sensualmente diante dos seus olhos. Movia meus quadris feito uma bailarina das Mil e
Uma Noites e o Roque ficou obcecado me olhando de baixo.

— Você quer me matar com esse corpo delicioso!

Ele gemeu e eu confirmei, usando a minha voz mais lasciva:

— Quero sim. Quero te matar de desejo por mim.

A dança serviu para aquecer a nossa relação ainda mais e quando ele me pegou, foi de
um jeito inesquecível. Roque fazia um sexo oral incrível e na hora em que terminou, eu
estava encharcada entre as pernas. O seu pênis entrou dentro de mim na sequência sem
qualquer resistência e eu perdi as contas de quantas vezes o meu namorado me fez gozar
aquele dia.

Praticamos em todas as posições que eu conhecia, mas quando ele me botou de quatro,
foi impossível não gemer alto de prazer. A sua cama chegou a bater na parede tal era a
sua fome por mim e o nosso barulho de cópula incomodou os vizinhos que bateram na
parede mandando que a gente diminuísse o volume da gritaria.

Caímos na cama suados e a nossa gargalhada acabou com o clima sexual por algum
tempo. Aquilo serviu para que pudéssemos descansar um pouco, mas depois,
continuamos a foder quase como antes, tomando o cuidado dessa vez para não exagerar
nos gritos e gemidos.

No dia seguinte à ceia de Natal em minha casa, eu visitei o Roque em seu apartamento e
finalmente pude tocar no assunto “cruzeiro de negócios” com ele. Eu estava mais séria
que de costume quando ele me recebeu à sua porta após ser anunciada pelo porteiro no
térreo, e não demorei a entrar no cerne da questão em seu sofá da sala.

— Por que nunca me contou que viajou pela costa brasileira por três dias num
transatlântico, Roque?

Ele não estava surpreso com o meu tom nem tampouco com o assunto daquele dia e me
ofereceu uma cerveja antes de me responder. Sua geladeira tinha um estoque de garrafas
long neck na parte onde costumeiramente deveriam ficar os legumes e as verduras —
ele era péssimo cozinheiro e só se alimentava de congelados e pizza — e me trouxe uma
delas. Dei um gole, ele também bebeu a sua e me respondeu calmamente:
— Quando te vi no salão de festas das bodas do casal Alcântara e Albuquerque, eu juro
que não sabia que você era irmã da Elisa, amor.

— Não foi isso que te perguntei, Roque.

Ele percebeu que eu continuava séria. O seu sorriso característico também não estava lá.

— Eu não acho que aquela viagem foi tão importante a ponto de eu querer te contar
sobre ela. De um modo geral, foi uma chatice só! Um monte de filhinho de papai metido
a besta posando de empresário fodão querendo comer as menininhas de faculdade a
bordo do cruzeiro. O que tinha de bom para te contar?

— Tá querendo dizer que pra você, a minha irmã foi só um passatempo em meio a uma
viagem que você considerou chata e improdutiva?

Roque me encarou com a garrafa de cerveja à meia altura, e em seguida, explodiu num
riso que claramente estava tentando conter. Eu ri involuntariamente e entendi que
aquele era o jeito de ele dizer que “foi exatamente isso! ”.

— Vocês homens, às vezes, são tão canalhas!

Eu já tinha desfeito o riso e ele procurou conter outra vez o seu, respondendo:

— O que mais posso dizer, amor? A sua irmã deu em cima de mim, não tinha nada de
proveitoso a se fazer naquele barco. Ela queria, eu também. Juntamos o útil ao
agradável!

Ele deu de ombros e bebeu mais um gole de cerveja.

— Você não sente mais nada por ela?

Eu estava insegura com aquela conversa. Eu sabia que a minha irmã agora era uma
mulher casada e que na época do cruzeiro ela estava livre, leve e solta, assim como
Roque. Os dois eram solteiros, desimpedidos, era quase natural que sentissem atração
sexual um pelo outro. O que me incomodava, no entanto, eram os sentimentos que ainda
podiam nutrir depois de todo aquele tempo.

— Deixa de paranoia, Carlinha! O que eu e a sua irmã tivemos foi algo de momento,
algo extremamente passageiro. Marcou as nossas vidas na hora que aconteceu. Assim
que pisamos fora do barco, cada um seguiu o seu próprio rumo. Hoje ela está casada,
pelo que conheci do Peterson, ele parece ser um cara ótimo pra ela e eu estou com você.
Nós estamos felizes juntos. Isso que importa.

Ele tinha razão sobre a paranoia e enquanto argumentava, me lembrei da frase de Elisa
quando ela me confidenciou o que tinha rolado com o tal “garanhão pauzudo” a bordo
do transatlântico: “Nunca ninguém tinha me comido do jeito que esse cara me comeu,
maninha. Nunca fiquei tão arrependida de ter tratado ele apenas como um amor de
verão quando pisei fora do transatlântico. Queria ter o seu telefone para marcar um
novo encontro. Acho que nunca mais alguém vai me comer daquele jeito! ”. Para ele
podia ter sido só um caso, mas eu tinha certeza que Elisa tinha ficado verdadeiramente
balançada pelo Roque e aquilo eu não ia esquecer nunca. As reuniões de família iam ser
sempre tensas a partir de então.
Capítulo 16 – Bebê a bordo

O MEU NAMORADO ERA MESMO o tipo de homem que marcava as mulheres que
passavam por sua vida e ao longo do nosso namoro, eu conheci pelo menos duas de suas
ex-namoradas que estariam em sua porta balançando o rabo feito cadelas no cio se ele
acenasse para elas outra vez.

Eu sabia que aquele sucesso com as mulheres não se dava apenas pelo fato de Roque ser
extremamente sedutor, bonito e um excelente amante, mas principalmente porque ele
sabia tratar uma mulher como ela gosta de ser tratada.

Em anos de convívio, eu jamais havia sido insultada por ele e eu não conhecia nenhum
homem que fosse tão gentil e educado — quase que 100% do tempo — quanto o meu
Roque. Durante o sexo ele, era uma verdadeira máquina de prazer, másculo, forte, viril,
incansável. Mas no cotidiano, era como um perfeito cavalheiro, além de que seu bom
humor era um dos melhores traços da sua personalidade, e aquele que me fazia sentir a
garota mais sortuda do mundo por tê-lo ao meu lado. Em sua companhia eu nunca
ficava triste.

Eu me casei com Roque em setembro do ano seguinte e nós dois optamos por uma
cerimônia menos luxuosa e mais íntima. Ainda estávamos fazendo faculdade — era
nosso terceiro ano de curso — e não queríamos gastar tanto com algo que podia ser feito
com o mesmo capricho, porém, com menos dinheiro.

Escolhemos uma capela mais singela em vez de uma igreja e enchemos os assentos com
nossos amigos de faculdade e os parentes mais chegados. Assim como tinha feito com
Elisa, Renato me conduziu até o altar e senti o meu coração disparado no peito quando
ele me entregou ao Roque. Meu noivo estava lindo de terno branco e os seus olhos
verdes marejaram quando me viu vestida de noiva pela primeira vez ao seu lado.

Enquanto o padre celebrava a cerimônia, uma porção de coisas se passava em minha


cabeça, mas em especial, eu agradecia a Deus pelo homem maravilhoso que Ele havia
colocado em meu caminho. A nossa relação tinha tudo para dar errado, vários acasos
tinham nos reunido e achei engraçado como tudo acabou acontecendo.

Eu poderia nunca ter ido à festa de bodas de prata, ele poderia ter desistido de mim
assim que percebeu que eu tinha lhe passado o telefone errado, ele poderia não ter me
encontrado na faculdade… Ele poderia ter preferido ficar com a Elisa que é mais
velha, mais bonita e mais inteligente que eu…

O padre já tinha me perguntado se eu aceitava Roque como meu legítimo esposo e eu


ainda estava divagando. Quando o notei me encarando ao meu lado, eu percebi que
faltava a minha resposta e eu disse, sem mais delongas e sem qualquer sombra de
dúvida:

— Sim. Eu aceito.
De acordo com o seu testamento, seguindo os desejos de papai, a herança milionária dos
Castilho havia sido deixada para os seus quatro filhos em partes iguais e aquilo
significava que cada um de nós havia ficado algumas dezenas de milhões mais rico.
Jaime havia deixado ainda a mansão de Moema, os quatro veículos na garagem e um
apartamento na praia para mamãe, fora o dinheiro da conta conjunta que eles tinham
desde que haviam se casado.

Os cargos de Renato e Mauro na construtora eram contados à parte da herança, mas era
também um excelente meio de aumentar o seu patrimônio, algo que eles procuraram
fazer nos primeiros anos à frente da diretoria construindo, inclusive, uma segunda torre
no complexo da empresa localizada também na região industrial de Moema.

Havia cargos na construtora para Elisa e eu logo que nos formássemos na faculdade e a
minha irmã assumiu o dela assim que pegou o diploma, se tornando a diretora de
recursos financeiros. A minha posição entre os acionistas era cuidada por Mauro em
meu lugar — até porque eu pouco entendia do negócio —, mas ele procurava me deixar
a par das deliberações e tomadas de decisão do conselho da diretoria sempre que podia.

Eu usei parte do que me cabia da herança de papai para construir a casa em que ia morar
com o meu marido, e depois que um dos engenheiros da Construtora Castilho nos
entregou a planta, nós dois tivemos a chance de dar os nossos pitacos no projeto. Ele
como engenheiro civil em formação e eu como arquiteta, quisemos deixar a casa com a
nossa cara e acompanhamos de perto todas as fases da construção ao acabamento.

O projeto levou cerca de um ano para ficar pronto e quando a obra foi entregue, nós nos
mudamos da casa de mamãe, onde havíamos ficado por três meses após o casamento. A
dona Vilma tinha ficado muito feliz quando soube que passaríamos um tempo ali com
ela até que a nossa casa ficasse pronta e eu prometi que a visitaria toda semana depois
disso.

O bairro da Saúde para onde tínhamos nos mudado ficava a apenas alguns quilômetros
de Moema e mamãe tinha me dado de presente um dos carros de papai para que eu
pudesse me locomover sem a necessidade de depender do Roque o tempo todo. Eu tirei
minha CNH em alguns meses, e assim que me mudei, passei a visitá-la três vezes por
semana, dirigindo o Chevrolet da Saúde a Moema.

Às vezes, eu combinava com Elisa para que nós duas a visitássemos ao mesmo tempo e
não era raro que Renato trouxesse as crianças para ver a vó postiça. Embora ele e Mauro
não fossem filhos da dona Vilma, eles a consideravam muito e tinham um imenso
carinho por ela. Jonathan e Janete também a adoravam e se esbaldavam comendo ali
tudo que os pais proibiam de comer em sua casa.

No mês em que me mudei para a Saúde, a minha cunhada Solange deu à luz a minha
sobrinha Priscila e aquele foi um dia muito feliz para todos nós. Eu estava a caminho da
faculdade de carro quando o meu Nokia tocou e eu fui obrigada a parar no acostamento
para atender a ligação. Mauro estava esbaforido do outro lado da linha e eu quase não o
conseguia entender direito.

— Fala devagar, Mau. A Solange o que?

— A bolsa dela estourou. A minha filha vai nascer. Ela vai nascer!

Naquele dia, eu mudei o meu trajeto e segui direto para a maternidade onde me juntei ao
ansioso Mauro e ao nosso irmão Renato, que lhe dava forças no corredor do hospital.
Solange tinha entrado em trabalho de parto há quase uma hora e os médicos ainda não
tinham dado notícias. Eu tentei acalmar o futuro papai e Renato informou que, às vezes,
era normal a demora e que o mesmo tinha acontecido quando Janete nasceu.

Vinte minutos depois, o obstetra surgiu do centro cirúrgico e deu a notícia que todos nós
esperávamos:

— Ela nasceu. Fiquem tranquilos, é uma menininha perfeita.

Priscila nasceu saudável com aproximadamente 3,200 g e a primeira vez que vi meu
irmão chorando de soluçar foi quando ele bateu os olhos na menina pela primeira vez
através do vidro de proteção da maternidade. A enfermeira a ergueu em seu colo para
que ele visse a bebê e o coitado mal conseguiu enxergar com os olhos cheios de
lágrimas. Depois que ela e a mãe tiveram alta do hospital, eu passei um tempo com as
duas em sua casa em Indianópolis e o Mauro não queria desgrudar da menina. Minha
sobrinha era linda e o meu irmão estava completamente apaixonado pela filha. Nunca
tinha visto um pai tão louco pela cria quanto o Mauro.

Conforme a família crescia e eu via as crianças começarem a se espalhar pela casa, o


meu desejo de ter um filho também cresceu e eu compartilhava aquele desejo com o
Roque. Por ser filho único, ele não sabia exatamente como era conviver com crianças
por perto ou mesmo observá-las crescendo como estava acontecendo comigo e os meus
sobrinhos, e eu sentia que ele tinha um pouco de medo de ser pai cedo.

— Não sei se tenho maturidade para ser pai, para educar, para proteger. Tenho medo de
ser um completo fracasso para o meu filho.

Nós tivemos aquela conversa algumas vezes entre uma transa e outra, mas embora ele
demonstrasse que não estava pronto para ser pai, nós nunca fazíamos sexo com
camisinha e ele sempre gozava dentro de mim. Aquele parecia ser um risco que nós dois
gostávamos de correr.

Um ano após o nascimento de Priscila, as coisas começaram a desandar na Construtora


Castilho e os meus irmãos foram obrigados a abrir o capital da empresa para saudar as
dívidas que se acumulavam desde que os dois haviam assumido a direção. Novos
acionistas passaram a ter o direito de tomar decisões durante as reuniões, mas mesmo
com a abertura do capital, a situação ainda era crítica quanto à saúde financeira da
empresa.
Renato chegou a injetar dinheiro do seu próprio patrimônio para tentar impedir a
falência — fato que desestabilizaria completamente a nossa família —, mas não houve
outro jeito para salvar a construtora a não ser aceitar a sociedade com um rico e mais
experiente empresário do ramo da construção.

Juntos, Renato e Mauro agora detinham apenas 30% das ações, enquanto os demais
acionistas — incluindo a mim e a Elisa — tinham outros 19%. João Suares, o novo
nome por trás da construtora, passou a deter sozinho 51% e ele se tornou o novo
presidente da empresa que o nosso pai havia erguido.

Aquele foi um golpe duro de absorver e levou um tempo para que nós nos
recuperássemos dele.

Naquele ínterim, a minha irmã Elisa passou a se sentir enjoada com frequência em seu
trabalho na construtora e depois de quase vomitar bem no meio de uma reunião com a
sua equipe de vendas, ela decidiu ir ao médico.

Após um exame detalhado de sangue e de urina, a minha irmã descobriu, finalmente, o


que estava acontecendo com ela e me deu a notícia em primeira mão.

— Eu tô grávida, maninha! Eu vou ter um bebê!

Era fato que, naquele momento, Elisa estava priorizando mais a sua carreira como
gestora do que a sua vida pessoal, ainda mais depois dos deslizes financeiros que tanto
Renato quanto Mauro haviam cometido — o que quase acabou levando a empresa a sua
falência —, mas o seu desejo em ser mãe exalava por seus poros e ela ficou
extremamente feliz com a notícia da gravidez.

Para que aquela fosse uma gestação tranquila, ela optou por diminuir o ritmo no
trabalho e a partir do quarto mês, passou a trabalhar apenas meio-período. João Suares
havia entrado para o grupo com sede de mudanças e algumas delas desagradaram a
minha irmã — em especial em seu setor, o financeiro —, embora ela pouco pudesse
fazer para desautorizá-lo. A longo prazo, aquelas mudanças na maneira de lidar com
clientes, de comprar e vender, acabaram se mostrando muito eficazes e a Elisa teve que
admitir que o Suares sabia o que estava fazendo.

No mesmo mês em que passou a ir meio-período para a agora denominada “Suares &
Castilho”, a minha irmã fez uma segunda ultrassonografia e anunciou o resultado
surpreendente para mim e para nossa mãe.

— São dois bebês! Eu estou grávida de gêmeos!


Capítulo 17 – Loucuras públicas

A GRAVIDEZ DE ELISA fez com que nós duas nos tornássemos ainda mais próximas
uma da outra, e de certa maneira, eu também estava vivendo a realização daquele seu
sonho com ela.

A compra do enxoval dos bebês foi um momento muito especial pra gente e não
tínhamos como não envolver também a nossa mãe, que estava bastante emocionada pelo
vindouro nascimento dos seus dois primeiros netos.

Passávamos horas no shopping escolhendo roupinhas, sapatinhos, mantas, cobertores e


uma infinidade de brinquedinhos que as crianças nem sequer saberiam da existência por
um bom tempo das suas vidas, mas fazer aquela “blitz” nas lojas de artigos infantis foi
uma experiência incrível.

Eu não tinha podido participar ativamente das compras que Vânia e Solange haviam
feito para os meus sobrinhos, por isso, passear pelos corredores do shopping vendo a
felicidade estampada nos olhos de Elisa para mim foi muito gratificante.

No sexto mês de gravidez de Elisa, ela, enfim, descobriu o sexo dos bebês — até então
ela achava que se tratava de duas meninas, já que uma das crianças se recusava a abrir
as perninhas durante as ultrassonografias — e boa parte do enxoval ela teve que
descartar.

Eu sabia que ela até podia aproveitar as roupinhas de cor amarela que havia comprado
— cor considerada neutra para ambos os sexos —, mas logo vi que ela queria uma
desculpa para comprar tudo de novo só que na cor azul.

Peterson tinha começado a reforma do quarto que seria das crianças há três meses e a
obra seria entregue muito em breve, antes do parto. Naquele período, a Solange, que era
designer, deu algumas dicas durante a montagem do quarto e o casal as decidiu aceitar
de bom grado. Mauro comprou de presente um carrinho duplo de bebê com dois lugares
para os gêmeos. Naquela mesma época, a Elisa escolheu o nome de batismo dos filhos e
os dois iam se chamar Cleide e Cleber.

— Acho a sonoridade linda dos dois nomes. Melhor do que Bernardo e Bianca sugerido
pelo pai dos bebês!

Disse Elisa a mim e à mamãe numa tarde em que tomávamos chá juntas na sala da
mansão em Moema. Eu não poderia concordar mais com a minha irmã.

Quem dá nome de personagens de desenho animado para os filhos? Pensei, enquanto


soprava o chá maravilhoso feito por Ruth, a empregada.

Embora fossemos extremamente apaixonados um pelo outro e que toda aquela química
que havia nos atraído no início de relacionamento ainda estivesse lá, eu senti que o meu
casamento com Roque tinha caído numa rotina muito cedo e eu percebi que tínhamos
que fazer alguma coisa para mudar logo a estagnação. A sugestão foi minha e ele
aceitou na hora quando começamos a nos expor de propósito em lugares públicos,
correndo o risco de que fossemos flagrados durante a transa.

A nossa primeira investida foi no carro dele que deixamos estacionado diante de um
lugar bem público onde costumavam passar muitas pessoas naquele horário. O Honda
sedan era bastante espaçoso e o Roque o parou numa esquina de frente para um banco
que funcionava 24 horas.

Eu tinha saído mais cedo da faculdade aquele dia e ele não havia tido aula. Decidimos o
que íamos fazer no meio do caminho e o tesão nos tomou no mesmo momento. Eu
estava usando uma calça jeans e sabendo o quanto ela ia me atrapalhar, eu a tirei no
banco de trás pouco antes de sentar em seu colo, já colocando a calcinha de lado.

— Aqui é público o suficiente para você, safada? — Me perguntou ele abrindo a calça e
colocando aquele pau maravilhoso para fora.

— Aqui é ótimo. Estamos totalmente expostos. Alguém pode passar a qualquer


momento!

Sem qualquer pudor, nós começamos a foder dentro do veículo que passou a balançar
ante a força do nosso desejo. Roque estava louco de tesão e chegou a rasgar a minha
calcinha tal a vontade com que ele estava me comendo no banco de trás. Ele puxava a
minha blusa com uma das mãos enquanto segurava a minha bunda com a outra e
enfiava meus peitos na boca, me deixando quase inteira pelada ali dentro. O céu já
estava bem escuro do lado de fora, mas aquela via era bem iluminada. Começamos a
ouvir buzinas insistentes passando pela gente e logo percebemos que os motoristas
trafegando por ali podiam nos ver em detalhes, mesmo através dos vidros embaçados.

Nenhum de nós se intimidou e continuamos transando com vontade, cheios de tesão.


Acabamos gozando juntos e os nossos gemidos ecoaram dentro do carro, alarmando
alguns transeuntes que andavam calmamente pela calçada. Aquele devia ter sido um
espetáculo e tanto para eles.

Naquele dia, eu nem me preocupei em vestir a minha calça e segui o caminho de volta
para nossa casa na Saúde do jeito que estava, cobrindo a minha nudez apenas com a
camiseta que ele tinha se esforçado para rasgar toda. Tinha sido muito gostoso.

Nosso segundo rompante de loucura aconteceu no elevador do prédio onde ele


trabalhava e eu surgi para visitá-lo vestindo uma saia bem curta na hora do seu almoço.
Ele ocupava um cargo de assistente de projeto, não era nenhum chefe ou gerente. Um
flagra embaraçoso poderia colocar o seu cargo em risco, o que ele nem sequer levou em
consideração quando falei em seu ouvido, o puxando pelo ombro para ficar mais ou
menos da sua altura:

— Eu ando muito distraída ultimamente. Acredita que esqueci de vestir a calcinha hoje?
Eu nem lembro como aconteceu, mas quando percebi, eu estava com as pernas
enlaçadas ao redor da sua cintura e o Roque estava me penetrando com toda volúpia
segurando forte a minha bunda. Nós dois sabíamos muito bem que os elevadores tinham
câmeras de segurança, mas aproveitamos que elas não tinham também microfone para
gemer alto, excitados com todo aquele risco que corríamos.

Senti o espelho frio às minhas costas enquanto ele me apertava contra ele, metendo em
minha buceta e erguendo a minha blusinha atrás. Não sei precisar quantas vezes
subimos e descemos os trinta andares daquele prédio sem que ninguém entrasse no
elevador, mas aquele dia o cara que tomava conta do sistema de vigilância deve ter se
divertido bastante nos vendo naquela fúria enlouquecida lá dentro da cabina. Nós dois
estávamos muito satisfeitos.

Meu marido e eu continuamos transando em lugares públicos por um bom tempo e


quanto mais eu dava, com mais tesão eu ficava. Era difícil explicar o que aquelas
situações de risco estavam fazendo com a gente e o quanto estávamos loucos para
extrapolar os nossos limites, mas quando aquele ímpeto passou, nunca mais na vida nos
amamos com tanto desejo.

Depois do elevador, transamos numa sala de cinema quase vazia, no estacionamento à


céu aberto de um supermercado, no telhado do prédio onde ele morava antigamente no
Jardim Novo Mundo — ele chegou a dar um dinheiro para o porteiro só para ter acesso
ao telhado —, no Parque do Ibirapuera após uma corrida para mantermos a forma e até
em nosso quintal, à luz do dia, com o risco de um vizinho bisbilhoteiro qualquer enfiar a
cara para fora da janela e nos ver.

Nunca tínhamos transado tanto em nossa vida. Nem mesmo na fase fogosa de início de
namoro. Nem mesmo em nossa lua de mel nas Bahamas, no hotel maravilhoso de frente
para a praia em que ficamos três dias.

Enquanto eu e o Roque divertíamos um pouco a vida dos voyeurs da cidade com nosso
ímpeto sexual devasso, Elisa passou por momentos de tensão quando tudo indicava que
os seus bebês iam nascer prematuros num certo dia.

Com cólicas e contrações fortes, a minha irmã teve que ser levada às pressas para o
hospital por Peterson e eu me desloquei para lá o mais rápido que pude. Eu estava em
época de provas e conclusão de uma dezena de projetos na faculdade, mas não me
importei com nada disso quando mamãe me disse que ela corria o risco de perder os
bebês ou até mesmo de morrer no parto.

Ninguém sabia explicar direito o que na verdade tinha acontecido com Elisa, mas
quando ela foi estabilizada, os médicos disseram que seria melhor que ela passasse um
tempo internada para evitar estresses que pudessem antecipar a chegada dos meus
sobrinhos.
— Está acontecendo alguma coisa em casa, Peterson? — Indaguei meu cunhado assim
que tive certeza que Elisa estava melhor e que os meus sobrinhos estavam seguros na
barriga da mãe. — O médico disse que ela tem que evitar estresse. O que está havendo?

Peterson explicou que a gestação tinha potencializado ainda mais a já característica


irritação da minha irmã e que ela arranjava mil e um motivos para brigar com ele o
tempo todo. Embora ele fizesse de tudo para deixá-la confortável e tranquila em casa, a
esposa estava a fim de discutir e aquilo a estava estressando em demasia.

— Juro que tenho feito de tudo para mantê-la calma, para não prejudicar os bebês, mas
você conhece a sua irmã. Ela faz de qualquer coisa uma tempestade.

A situação delicada da minha irmã exigia cuidados e em seus últimos meses de


gestação, eu decidi que ia cuidar dela pessoalmente. Nós duas nos mudamos
temporariamente para a casa de mamãe e preferimos que não houvesse homens por
perto durante aquele período.

Roque ficou bastante chateado ao saber que eu ia ficar longe dele por um tempo em
favor da minha irmã e o Peterson percebeu que aquela mudança seria melhor mesmo
para todo mundo.

Eu entendia todos os lados envolvidos naquela situação, mas era bem claro que em caso
de briga, eu ficaria do lado de Elisa. Mamãe pediu para que os empregados arrumassem
o quarto de hóspedes no primeiro andar e o deixassem bem confortável para minha
irmã, evitando assim que ela tivesse que subir as escadas até os nossos antigos quartos.
Eu me instalei em meu aposento com as coisas que tinha trazido de casa, mas volta e
meia eu estava no sofá da sala, bem perto de Elisa caso ela precisasse de algo. Nossa
mãe tinha ficado extremamente feliz em nos receber de volta e se mostrava tão ansiosa
quanto nós duas pelo nascimento de Cleide e Cleber.
Capítulo 18 – Alterando as probabilidades

A SITUAÇÃO QUE EU MENOS ESPERAVA aconteceu durante a apresentação para a


sala do projeto mais importante do semestre na faculdade, e minutos antes do meu
grupo ir para a frente da turma toda e projetar os slides com o nosso trabalho de
urbanismo ecológico para o professor, eu senti uma ânsia de vômito irresistível que me
fez correr feito louca pelo corredor em busca do banheiro.

Eu estava incrivelmente estressada com aquela tarefa e não via a hora de tirar aquele
peso das costas com a nossa apresentação. Nana e Duda não entenderam nada quando
me viram sair correndo da sala, e a segunda foi me encontrar no banheiro algum tempo
depois, preocupada.

Tinha sido por pouco, e mais alguns segundos, eu teria vomitado numa menina que
encontrei saindo de um dos cubículos do sanitário da faculdade. Eu raramente ficava
doente e sempre mantinha uma alimentação saudável. Naquele dia em especial,
apreensiva pela apresentação do trabalho, tinha comido mal e julguei que aquele era o
motivo do enjoo. Encontrei a Duda assim que saí da cabine e ela observou:

— Você está pálida, amiga. Tem certeza que consegue apresentar o trabalho?

Eu fui até à cuba da pia e lavei o meu rosto, já caminhando depois até o suporte de
papel-toalha para me enxugar. Sentia um gosto horrível na língua e ansiava por uma
bala de menta ou qualquer coisa que me fizesse esquecer que eu tinha acabado de
esvaziar o meu estômago na privada.

— Tenho, Duda — respondi de imediato à minha amiga de cabelos pretos e


sobrancelhas grossas —, acho que foi algo que eu comi. Agora que botei para fora, vou
ficar bem.

Eu enxuguei o meu rosto com o papel e pelo espelho grande diante de mim, a vi dando
uma risadinha meio irônica apoiada no mármore do balcão da pia.

— Tem certeza que não foi algo que “te comeu”, não?

Eu a olhei sem entender e atirei o papel amassado no cesto de lixo. Uma garota do
segundo ano de Marketing adentrou o banheiro feminino na mesma hora em que Duda
falou com todas as palavras:

— Esses enjoos repentinos são sinal de gravidez, sabia?

Eu não sei se era possível, mas naquele momento, eu empalideci ainda mais. Aquilo
nem tinha me passado pela cabeça antes.

Depois das apresentações de projetos e provas finais de semestre, todos nós tivemos
uma folga na faculdade e durante a semana do “saco cheio” com o fechamento das
notas, passamos a ir para as aulas mais para papear do que para estudar. Eu estava
bastante confiante que concluiria satisfatoriamente mais aquela fase do curso de
Arquitetura e já até pensava em arranjar um estágio na construtora no ano seguinte para
cumprir as horas que estava devendo de atividades extracurriculares.

Naquela noite, Roque foi me buscar na saída da aula e eu resolvi deixar o meu
Chevrolet no estacionamento da faculdade para buscá-lo no dia seguinte. Na metade do
caminho, o tesão bateu forte e resolvemos transar no banco de trás. Ele estacionou
desleixadamente o seu Honda numa via meio deserta a alguns quilômetros de casa e me
botou de quatro. Ele surrava a minha bucetinha com aquela rola gostosa enquanto
massageava o meu cuzinho com o polegar. Eu estava extremamente excitada.

— Assim, amor! Fode a sua Carlinha! Fode! Mete com força, mete!

Eu não sei bem o que aconteceu, e de repente, eu senti uma ânsia tão forte que não me
deu tempo nem de avisar o meu marido. Ele estava todo empolgado me comendo por
trás, e num instante, me viu tentar abrir a porta traseira desesperada enquanto vomitava
sujando vidro, banco e assoalho.

Aquele foi o momento mais constrangedor que passei ao lado de Roque — e o segundo
mais vergonhoso da vida desde que a Elisa e o Peterson haviam me flagrado transando
com o Jordy Pires — e a caminho da casa de mamãe, eu nem conseguia encarar o
coitado. Eu tinha ficado trêmula e o cheiro no carro estava me enjoando ainda mais. Ele
perguntou se eu não queria mesmo ir ao hospital e eu disse que não.

— Só me leva pra casa, amor. A Ruth me faz um chá e eu vou ficar bem. Não se
preocupa.

Mesmo sob seus protestos, eu dispensei o meu marido aquela noite e fiquei bastante
emotiva o vendo ir embora todo chateado da casa da minha mãe, achando que o que
tinha acontecido era culpa dele. Sem que Roque soubesse — até porque se descobrisse,
largaria tudo em casa para passar a noite comigo — virei a madrugada vomitando no
banheiro da minha suíte e até o chá de hortelã com boldo de Ruth eu acabei botando
para fora.

A minha mãe ficou ao meu lado o tempo todo e me perguntou se a minha menstruação
estava atrasada aquele mês. Eu estava passando por tanta coisa, andava tão preocupada
com as atividades da faculdade, que nem tinha reparado que já deveria ter descido… e a
minha menstruação sempre fora bem regulada.

— Amanhã vamos à farmácia, minha filha. Não custa nada fazer um teste de gravidez.

Era a segunda vez que a ideia me passava pela cabeça, e de repente, comecei a ficar
bastante alarmada que tanto a Duda quanto a minha mãe podiam estar certas.

Não era para acontecer agora. Não agora!

Eu levantei bem cedo no dia seguinte e dirigi até a farmácia mais perto de casa com a
cabeça trabalhando à mil naquela possibilidade de eu estar grávida. Desde a minha
adolescência, eu era bem ativa sexualmente e tinha perdido as contas de quantas vezes
havia feito sexo sem preservativo deixando meus parceiros irem até o fim dentro de
mim sem qualquer preocupação.

Aos dezesseis anos, eu tinha feito um exame bem detalhado com o meu ginecologista e
ele havia detectado uma anomalia em meu útero, o que, segundo ele, dificultaria que eu
tivesse um bebê. Passei por um tratamento clínico com o acompanhamento da minha
mãe, e depois disso, passei a tomar remédios anticoncepcionais que, além de impedir
uma possível — e quase rara — chance de gravidez, ainda ia regular o meu fluxo
menstrual que era meio forte na época.

Com namorados casuais — como o Anderson — ou os meninos que moravam perto da


nossa casa em Moema — como o Jordy — eu sempre fazia sexo com camisinha, mas
com aqueles que ficavam mais íntimos, eu deixava fazer sem, o que embora eu soubesse
que era uma inconsequência da minha parte, sempre me pareceu mais prático e muito
mais prazeroso.

De alguma forma, eu usava aquela imperfeição uterina como uma maneira de ficar em
paz comigo mesma. Eu achava que as chances de uma gravidez eram mínimas e
enquanto eu estava dando, sempre pensava “não vai rolar nada. Vou deixar ele gozar
dentro”.

Roque se casou comigo sem saber daquele problema em meu útero, mas eu nem
pensava em dizer nada a ele, já que eu tinha feito tratamento e não pretendíamos ter
filhos antes de nos formarmos na faculdade.

A gente tem praticado tanto ultimamente que as probabilidades acabaram sendo


alteradas. Eu posso mesmo estar grávida, pensei, pela primeira vez considerando
fortemente aquela possibilidade.

Mamãe e Elisa me esperaram do lado de fora do banheiro e quando saí com o bastão do
teste em mãos, elas tinham certeza qual era o resultado só de olharem a minha expressão
aparvalhada.

— Oh, meu Deus! A minha irmãzinha tá grávida! Você tá grávida, Carla! — Elisa me
abraçou antes que eu pudesse responder e mamãe já pegou o bastão em mãos para dar
uma olhada nas duas listras bem marcadas em sua superfície.

— Deu positivo, Carlinha. Eu vou ser vovó mais uma vez!


Capítulo 19 – Quando chegam os filhos

QUANDO EU CONTEI da gravidez para o Roque, ele ficou entre o estupefato e o


exaltado e o homem não parava de me abraçar e chorar. Eu fui às lágrimas com ele e
confesso que não esperava que o meu marido fosse ficar tão feliz com a notícia. Aquelas
conversas na cama pós-sexo me diziam que ele não estava preparado para ser pai, e que,
embora quisesse um dia, ele não se achava maduro o suficiente para assumir aquela
responsabilidade tão cedo.

As lágrimas e a exaltação assim que soube que ia ser pai se tornaram preocupação
quando ele botou a cabeça no lugar, já refeito do choque, e eu percebi o meu marido
ficar cada dia mais distante de mim a partir de então.

A gestação da minha irmã atingia o seu ponto crítico naquelas últimas semanas e
quando as atenções da família se voltaram todas para a Elisa e os gêmeos, a minha
gravidez acabou ficando em segundo plano.

Eu estava passando muito mal naqueles dias, mas fiz questão de estar ao lado da minha
irmã até o momento em que ela deu entrada na maternidade pronta para dar à luz.
Cleide e Cleber vieram ao mundo num começo de tarde de janeiro e tinham puxado
quase que exclusivamente o pai fisicamente. Os dois tinham lindos olhos verdes e os
pequenos tufos de cabelos no alto das cabecinhas mostravam que eles seriam ruivos
como Peterson e não morenos como a Elisa. Aquele era o sonho dela desde o início. Ela
havia cansado de dizer que queria que os filhos tivessem a beleza do pai deles e tudo
tinha acontecido como ela queria.

Eu amava Jonathan, Janete, Priscila e Pedro, os meus outros sobrinhos filhos de Renato
e Mauro, mas o que eu senti pelos gêmeos logo que botei os meus olhos nos dois era
algo inexplicável. Eu havia crescido grudada em minha irmã e ver as crianças que ela
havia gerado depois de adulta era muito mais especial para mim, tanto que me apeguei
àqueles bebês de maneira incondicional.

Enquanto a minha própria barriga crescia e o meu corpo começava a se transformar para
acolher a criança em meu ventre, eu passei todo o tempo que me coube na casa dos
Tomazzi em Moema, bajulando Cleide e Cleber em seu berço. Elisa tinha bastante
trabalho para fazer tudo em dobro e embora ela tivesse contratado uma babá para lhe
auxiliar com as crianças, eu fazia questão de me disponibilizar em ajudá-la.

A minha irmã adorava que eu fosse tão presente agora que ela era mãe, e ao mesmo
tempo, me dava várias dicas sobre a minha nova condição, aquela que me era tão
surpreendente quanto assustadora.

A minha cabeça ainda não tinha aceitado 100% que tinha uma vida crescendo dentro de
mim e que a partir de agora eu não podia mais pensar individualmente, mas a Elisa me
ajudou a botar o pé no chão. Numa de nossas inúmeras conversas em sua casa, enquanto
ela amamentava um ou outro gêmeo, eu entrei no assunto sabendo que teria toda a sua
sinceridade.

— Você e o Peterson faziam sexo durante a sua gravidez?

Eu já estava entrando em meu terceiro mês de gestação e desde que soubemos da


gravidez, eu e Roque nunca mais havíamos transado. Aquilo estava começando a me
preocupar.

— Eu fiquei num tesão insano nos primeiros meses de gravidez, mana. Eu tinha vontade
de foder toda hora! Se fosse possível, eu nem deixaria o pau do Peterson sair de dentro
de mim! — Nós duas demos risada, e em seguida, a minha irmã fez uma careta. O
pequeno Cleber havia mordido forte o seu mamilo. — Mas por que está perguntando?

Eu estava com semblante infeliz agora que a graça tinha passado e respondi:

— O Roque tem estado distante de mim nessas últimas semanas. Desde que voltei para
casa, ele tem me tratado como se eu fosse de porcelana. Como se eu fosse quebrar se ele
encostasse em mim. A gente não tem transado.

O fato de que eu estava passando mal com frequência também contribuía para aquele
afastamento de Roque, mas eu esperava os conselhos sábios da minha irmã, que
sugeriu:

— Mostre para ele que você ainda pode dar uma boa trepada, mana. A sua gravidez não
pode atrapalhar a sua vida. O seu marido tem que entender que você ainda é a mesma
Carla e continua precisando de uma boa pica entre as pernas.

Com acompanhamento médico, eu descobri que o risco de um aborto involuntário ainda


era possível no terceiro mês de gravidez devido o meu problema uterino e que aquela
era a razão de tantos enjoos e tanto mal-estar. Como eu ainda corria riscos, achei melhor
esperar mais um pouco para conversar com o Roque, o que acabou acontecendo no mês
seguinte, quando descobri que íamos ter uma menina.

O meu marido tinha ficado muito feliz com a notícia que ia ser pai de uma garotinha e
ficou todo babão falando por horas que queria que a nossa filha fosse parecida comigo.
Estávamos na cama com a TV do quarto ligada vendo um filme, quando ele me falou:

— Tomara que a nossa neném tenha os seus lábios. Adoro eles assim, rosadinhos e
carnudos — e ele me deu um selinho.

— Mas ela tem que ter os olhos iguais aos seus. Você já viu que coisa mais linda os
olhos do Cleber e da Cleide? Tão verdinhos! Quero que a nossa bebê também tenha
olhos lindos como os seus.

Durante o filme, eu dei um jeito de me insinuar para Roque, mas ele não pareceu
notar… ou me ignorou de propósito. Fui mais ousada então e enfiei a mão por dentro do
seu short, iniciando uma masturbação. O deixei duro feito pedra e ele gemeu.
— O que está fazendo?

O olhei nos olhos e respondi, direta:

— Não é óbvio? Eu quero foder!

Eu estava usando um baby-doll bem curto e subi sobre o meu marido. Ele entrou no
clima rápido e abaixou as alças do meu vestido começando a chupar os meus seios. Eu
já os tinha bastante generosos antes da gravidez e a cada semana que passava, pareciam
que eles estavam ainda maiores. Roque agora tinha que se esforçar para enfiá-los
inteiros na boca e não conseguia mais. Eu senti o seu pau deslizar para dentro de mim, e
num primeiro momento, senti desconforto. Fazia algum tempo que não praticávamos e
demorou uma eternidade para eu me lubrificar. Tive que pedir ajuda.

— Amor, me chupa!

Roque me deixou inteira babada e subiu sobre mim me olhando com cara meio
preocupada.

— Está tudo bem? Está bom assim?

— Está tudo bem, amor. Me fode logo!

Eu estava excitada, mas algo continuava errado lá embaixo. Mesmo após o sexo oral, eu
não conseguia me lubrificar, e por mais que ele tivesse se esforçado por mais de uma
hora, eu não consegui gozar nem uma vez. Para piorar o clima, assim que ele gozou em
mim, eu senti uma vontade irresistível de vomitar e corri pelada para o banheiro. Depois
daquilo, eu o tinha broxado por completo e passamos um bom tempo sem tentar nada
outra vez. A minha gravidez tinha desestabilizado o meu casamento sexualmente
falando.

Renato e Mauro ficaram ainda mais paternais comigo a partir do momento em que
descobriram a minha gravidez com o restante da família e foi ideia do Mauro oferecer
um cargo de engenheiro civil dentro da Suares & Castilho para o Roque assim que ele
se formasse no final daquele ano.

O meu sogro não concordava com a ideia de que o filho saísse da empresa onde ele
trabalhava já há alguns anos e onde queria que Roque fizesse carreira, mas o meu
marido acabou aceitando a proposta do cunhado, entendendo que as vantagens e o
salário oferecidos pela construtora eram maiores do que a empreiteira de Pedro Augusto
de Alcântara podia — e queria — proporcionar.
Capítulo 20 – Relembrando o passado

NAQUELE PERÍODO de transição entre empregos do meu marido, o meu irmão


começou a me visitar com frequência em minha casa e aproveitei para matar as
saudades das nossas conversas de antigamente, já que eu havia trancado a matrícula da
faculdade na metade do ano e só pretendia retornar após o nascimento da minha filha.

Numa daquelas tardes, recebi Mauro em minha sala e estranhei a visita naquele horário.
Tanto ele quanto Renato deveriam estar na empresa e ele me explicou o motivo.

— Tem sido um ano difícil para a construtora, mana. Nunca recebemos tantas
reclamações e ameaças de processos de clientes por conta de atrasos na entrega das
obras — ele tomava um café que eu mesma tinha passado há poucos minutos. Eu estava
sozinha em casa porque o Roque ainda estava no trabalho e eu tinha dado folga à
empregada —, as reuniões com o João Suares têm sido bastante extenuantes
ultimamente. Às vezes, eu tenho vontade de mandar tudo à merda, sabia?

Não era costumeiro ver o meu irmão tão baixo-astral como ele estava. Por mais que
ainda fosse um dos diretores da empresa, ele e Renato agora respondiam a um superior e
pelo que eu ouvia falar, João Suares não tinha uma personalidade muito fácil de se lidar.

— Ainda reflexo das dívidas que a empresa assumiu há alguns meses, Mau? —
Perguntei de modo cuidadoso sabendo que o assunto era delicado. A tal dívida tinha
sido feita tanto por Renato quanto por Mauro de maneira inconsequente ao iniciar a
construção de mais duas torres dentro do complexo da construtora e todos nós tínhamos
conhecimento disso.

— A nossa dívida, você quer dizer! — E ele ficou cabisbaixo. — Sim e não. A entrada
do João meio que ajudou bastante a saldar o que estávamos devendo na praça. O
problema é com o lucro que não tem entrado apesar de todos os nossos esforços. Já
estamos há muito tempo na estaca-zero, sem perder e sem ganhar nenhum centavo além
do que gastamos. É isso que tem irritado o homem.

Depois daquilo, eu tentei mudar o foco da conversa, e demos boas risadas lembrando o
quanto éramos felizes antes dos casamentos e dos filhos. Mauro se queixou também que
Solange tinha perdido bastante a libido depois do nascimento do segundo filho do casal
e que o vinha tratando com indiferença na cama há algum tempo.

— Ela usa as crianças para se manter afastada de mim. Às vezes, até dorme no quarto
do Pedrinho dizendo que tem medo que ele tenha crise de bronquite enquanto
dormimos, mas eu sei que é desculpa. O menino anda muito bem de saúde já tem um
tempo desde a sua primeira crise. Ela que não quer nada mesmo!

Eu acabei entrando no assunto e confessei que entre mim e Roque já não acontecia nada
há um tempo também, apesar de que eu andava morrendo de vontade de transar. Eu e
Mauro sempre tivemos intimidade suficiente para falar sobre aqueles assuntos e
enquanto um consolava o outro, acabou acontecendo uma atração que há muito tempo
não acontecia.

Em minha adolescência, eu tinha feito muito sexo com o meu irmão na calada da noite
da casa em Moema, mas nada rolava desde que ele havia se casado com a Solange.
Logo depois vieram os filhos, eu me tornei bastante ocupada com a faculdade e então,
veio o Roque… não tinha porque eu ter relações com o Mauro uma vez que estava
muito bem servida dentro da minha própria casa. Até aquele momento.

Começou com um carinho que ele fez em mim próximo do pescoço, o que me arrepiou
inteira. Eu tinha cortado o meu cabelo na base do ombro — antes ele batia comprido nas
costas — e ele havia mencionado o quanto eu estava bonita quando empurrou alguns
fios para trás da minha orelha. Seus dedos resvalaram em minha pele.

— Bonita? Eu estou é gorda! Olha o tamanho desses peitos!

Ele deu uma olhada entre o meu decote. Eu usava uma blusa meio aberta na frente e a
minha barriga já estava bastante saliente.

— A mim ainda parecem lindos! — Elogiou ele.

Eu fiquei um pouco tímida e desviei o olhar dele. Ainda estava arrepiada.

— Eu devo ter engordado uns oito quilos já. Tô enorme!

Eu estava um pouco sem jeito, mas Mauro soube me deixar à vontade. Ele se aproximou
de mim e ficou me fazendo carinhos nos cabelos. Eu estava muito à flor da pele quando
ele perguntou:

— O Roque ainda demora a chegar, não é?

O sofá da sala era extremamente confortável e eu não quis profanar a cama onde dormia
com o Roque para transar com o meu irmão. O meu marido não sabia que eu tinha
perdido a virgindade com o Mauro e que mesmo depois disso, nós havíamos nos
relacionado por anos em nossa cama como amantes. Embora eu confiasse plenamente
em meu marido, eu nunca tinha tido vontade de lhe contar a relação incestuosa que a
minha família mantinha escondida por tanto tempo, mas eu sabia que algum dia teria
que falar sobre.

Eu estava cheia de tesão e o Mauro me acendeu ainda mais quando me deitou no sofá,
tirou a bermuda que eu usava junto com a calcinha e começou a me lamber lá embaixo.
A língua dele se perdeu em meio aos pelos castanhos da minha buceta e em pouco
tempo, eu estava gozando.

— Ahhh, Mau! Que delícia!

Eu quis retribuir na mesma hora e ele se sentou com as calças abaixadas enquanto eu
mamava em seu pau duro, de quatro. Ele segurou os meus cabelos enquanto eu fazia
todo o trabalho cheio de gemidos e sussurros. Eu estava com quase tudo na boca quando
ele confessou, quase gozando:

— Oh, Deus! Ainda é o melhor boquete da minha vida!

Eu sorri e continuei até senti-lo esporrando em minha língua. Ele tinha esguichado uma
quantidade incrível dentro da minha boca. O coitado devia estar sem sexo há muito
tempo.

Algum tempo depois, o masturbando, eu deixei Mauro duro de novo e pedi sem medo
do que ele podia pensar de mim:

— Fode a minha buceta, Mau. Vem!

Eu me sentia gorda e desajeitada com aquela barriga de cinco meses, mas ele não
pareceu nem um pouco incomodado, me deitando de frente no sofá e metendo bem
gostoso dentro de mim. Os anos também tinham passado para o meu irmão, e ele já não
tinha mais aquele abdômen sequinho e rasgado que ostentava na juventude. Mauro
havia ganhado alguns quilos com o casamento e até mesmo os seus cabelos ameaçavam
deixar a sua cabeça com entradas cada vez mais profundas na testa. Mesmo assim,
pesado e calvo, a sua tora ainda era fantástica e mesmo depois da gozada que ele tinha
dado em minha boca, ali estava ele, duro e enorme mais uma vez socando dentro de
mim.

— Tô gozando, Mau… Não para! NÃO PARA!

Ele me botou de quatro algum tempo depois e naquela posição eu fui às nuvens algumas
vezes, gemendo feito uma cadela no cio enquanto ele enfiava até o talo dentro de mim
sem camisinha.

Ele resolveu obedecer direitinho aos meus pedidos insistentes para que terminasse o
serviço sem tirar de dentro e me deu o melhor sexo que eu tinha experimentado desde o
começo da gravidez. Quando ele esporrou, eu já estava extenuada de tanto transar e nós
caímos cansados no sofá com um sorriso de orelha a orelha.

Se ele concordasse, ia querer o pau amigo do meu irmão dentro de mim até o fim da
minha gestação e nem tinha culpa em pensar aquilo. Se com Roque não estava
funcionando, com Mauro funcionava e muito bem, como sempre.
Capítulo 21 – Reunião em família

EU OPTEI POR UM PARTO normal alguns meses depois das visitas de Mauro à
minha casa e a minha filha Micaela veio ao mundo grande e saudável. Ao vê-la pela
primeira vez, eu fui às lágrimas — chorando até mais que tinha chorado de dor durante
o parto — e o Roque não saiu do meu lado um só segundo, segurando a minha mão na
sala cirúrgica.

A cara de bobo quando ele olhou a filha em meu colo e percebeu que ela era ruiva como
ele deveria ter sido fotografada de tão hilária e eu usei aquilo por muito tempo para lhe
tirar um sarro. Toda a minha família compareceu para visitar o meu bebê lindo e não
teve ninguém que não ficou encantado com Micaela ao bater os olhos na garota a
primeira vez.

Mamãe estava bastante emocionada e logo que teve a oportunidade de segurar a neta no
colo, não parou de enchê-la de beijos carinhosos. Apesar de toda a dor que eu tinha
sentido, o desconforto e o mal-estar, eu estava muito feliz ao ter dado à luz aquela
criança maravilhosa. Eu olhava a minha menina em meu colo e tinha a certeza exata que
nada no mundo era mais importante do que ela. Pela primeira na vida, eu soube
reconhecer o que era amor incondicional e ninguém ia me fazer deixar de amar a minha
filha. Jamais.

Se eu tinha dúvidas que o Roque seria um bom pai para a Micaela, essas dúvidas se
encerraram completamente pela total dedicação que vi aquele homem despender à
menina desde o primeiro segundo em que ela veio ao mundo. Quando chegamos em
casa no primeiro dia, até pelo meu estado meio debilitado, ele fez questão de cuidar da
bebê dando banho, trocando fralda e tudo o mais que um pai dedicado precisava fazer.
Até mesmo na hora que ela precisava mamar em meu peito ele gostava de ficar por
perto olhando, zelando por ela com cara de apaixonado.

Passava todo o resto do tempo grudado na criança e era um amor vê-lo na cadeira de
balanço que tinha comprado cantando para Micaela em seu colo. Roque tinha uma voz
grave e melodiosa e a menina ficava calminha em seus braços até pegar no sono
enquanto o pai cantava. Podia ser impressão nossa, mas a canção preferida dela parecia
ser “Can’t Help Falling in Love” do Elvis. Enquanto Roque entonava o refrão, às
vezes, quase dava para ver um sorriso se formando no rostinho rosado de Micaela. Era a
coisa mais linda de se ver.

Eu estava amando ainda mais o meu marido por estar se mostrando um pai tão
carinhoso, e o amor que ele sentia pela filha era como uma benção que havia recaído
sobre nós após todo aquele medo de que ele não estava preparado para a paternidade.
Ele não sabia, mas aparentemente, Roque tinha nascido para aquela função.

Naquele Natal, nós reunimos a família inteira na mansão de Moema e foi bastante
emocionante o discurso que mamãe fez à mesa pouco antes da ceia. Estávamos todos
nós juntos ali, as suas filhas, os seus dois enteados, as suas esposas e os filhos deles. O
carrinho de bebê duplo de Elisa estava logo ao lado dela com Cleber e Cleide
observando tudo, curiosos, e a minha Micaela dormia tranquilamente em seu próprio
carrinho perto de Roque. Mamãe parecia emocionada, até meio ofegante, e em suas
palavras, ela nos agradeceu por termos lhe dado uma família tão linda.

— Agradeço a Deus por ter me dado tempo na Terra de ver as minhas filhas lindas
crescerem e construírem as suas próprias famílias ao lado desses meus genros tão
maravilhosos — e ela olhou agradecida ao Peterson primeiro e depois para o Roque —,
nunca pensei que teria a chance de conhecer os meus netinhos e não tenho palavras para
descrever o quanto sou feliz em ter visto Cleide, Cleber e Micaela nascerem. Eles são
bebês muito especiais e vê-los tão bonitos e saudáveis me enche de orgulho. Eu com
certeza sou a avó mais abençoada do mundo todo.

Assim como a Elisa, ver mamãe falando com tanta emoção nos olhos me fez chorar e
não pude deixar de perceber o tom de despedida que ela parecia querer imprimir em
suas palavras. Ela estava mais magra do que o normal e eu fiquei preocupada pela
maneira meio ofegante com que ela estava falando. Não podia estragar aquele momento
tão emocionante e preferi comentar a minha desconfiança sobre a saúde da dona Vilma
mais tarde com Elisa. Começava a rezar para que não fosse nada grave.

Após a ceia, como de costume, houve uma troca de presentes diante do pinheiro
enfeitado que mamãe havia montado na sala e as crianças ficaram muito animadas com
os presentes que ganharam. Jonathan agora era um lindo garotão loiro de quase sete
anos, a sua irmã Janete tinha acabado de completar três anos e a caçulinha da casa
Jéssica, tinha agora a mesma idade que o Pedro, o filho de Mauro com Solange, ambos
com um aninho.

Priscila, a irmã de Pedro, tinha agora dois anos, e mesmo tão novinha, encantava a todos
com a sua inteligência. Tinha adivinhado o seu presente só em sacudir a caixa
embrulhada e tirou dela um teclado infantil cor de rosa. Ficou radiante com o presente e
eu me espantei com a maneira com que ela tinha adivinhado o que era o presente do tio
Renato antes de abrir.

— Como você sabia o que tinha dentro, Pri? — Perguntei, me ajoelhando em sua frente.

Ela estava linda usando um macacãozinho vermelho e os cabelos divididos em duas


tranças. Me olhou com seus olhões castanhos e respondeu, já tocando algumas notas no
teclado que o pai ajudou a armar sobre o suporte do instrumento, que tinha sido por
causa do tamanho da caixa.

Nós demos muita risada, e em seguida, a ouvimos começar a tocar meio desajeitada as
notas do “Atirei o pau no gato”. Solange dizia que a filha levava jeito com a música e
que desde de quando tinha começado a falar, vivia cantarolando pelos cantos. Era um
prodígio!
Jonathan estava muito feliz com o carrinho de controle-remoto que eu havia comprado
para ele e o menino não parava de me abraçar agradecido. Disse, falando baixinho, que
eu era a tia preferida dele, e quando viu a Elisa se aproximar, escapou correndo,
colocando o indicador sobre os lábios e me pedindo segredo sobre aquilo. Eu dei risada
pouco antes de o ver controlando o carrinho por toda a sala, batendo o seu para-choque
de plástico nos pés dos mais desavisados. Fiquei distraída um instante o vendo brincar
todo alegre e foi então que minha irmã me chamou de canto, dizendo que havia tido a
mesma impressão sobre a saúde de mamãe mais cedo.

— Vamos perguntar a ela se está tudo bem — indicou Elisa, aproveitando que os nossos
maridos estavam com nossos bebês.

Encontramos mamãe na cozinha ajudando Ruth a organizar a travessa com a sobremesa


que ela tinha mandado preparar e a chamamos de canto. Agora que não estava mais
sorrindo, ela estava com ar cansado e a Elisa indagou, direta:

— A senhora está se cuidando aqui sozinha, dona Vilma? Está tudo bem?

Ela deu uma última ordem para que a Ruth levasse a travessa para a sala de jantar e
respondeu, obviamente escondendo alguma coisa de nós duas:

— Nunca estive melhor. Não precisam ficar preocupadas comigo, meninas.

Eu e Elisa nos entreolhamos e eu insisti:

— A senhora andou perdendo alguns quilos, deu para reparar. Não é melhor irmos a um
médico fazer um checkup, mãe? É sempre bom saber como anda nossa saúde.

Ela acariciou o meu rosto com as duas mãos e outra vez dando um riso forçado, alegou
que estava tudo bem e que nós não precisávamos nos preocupar com ela. Insistiu que
agora tínhamos a nossa própria família para cuidar e que ela estava bem ali em sua casa
lidando com as suas coisas. Tinha dado o assunto como encerrado.
Capítulo 22 – Em frustração

O FATO É QUE ME DOÍA o coração em ver mamãe tão sozinha naquela mansão
enorme e mesmo que Ruth ainda lhe fizesse companhia em metade do dia, não era a
mesma coisa de quando ela tinha várias pessoas andando para um lado e para outro
dando vida à casa.

No começo do ano seguinte, depois das férias, Elisa estava fazendo planos de retornar
ao trabalho na construtora e ela chamou mamãe para cuidar dos gêmeos enquanto
estivesse fora. A minha irmã pagava muito bem para que a babá fizesse aquele serviço,
mas ela queria dar uma ocupação à mamãe para lhe tirar do ócio, no que ela pensou que
nada a poderia revigorar mais do que cuidar dos netos que tanto amava.

Quando Elisa retornou de vez para a Suares & Castilho, mamãe acabou se mudando
para a casa da filha e passou a ocupar o quarto de hóspedes enquanto a mansão
permanecia trancada aguardando o seu retorno. Ruth foi com ela para ajudar na cozinha,
e por um tempo, o brilho em seus olhos retornou, nos fazendo enxergar a velha e
radiante dona Vilma de volta.

Em casa, no entanto, eu me vi preterida em nome da minha própria filha e todo o


carinho e amor que Roque tinha por mim pareceu ser canalizado para Micaela. O meu
marido estava de quatro pela nossa linda ruivinha e nós dois voltamos a parecer
estranhos em nosso quarto quando nos deitávamos.

Diferente do fogo que tínhamos antes da gravidez, agora, eu só encontrava indiferença


por parte de Roque e ele mal me tocava na cama. Desde que o período do resguardo
havia passado e eu já me sentia apta a voltar a fazer sexo, nós tínhamos transado uma
única vez, e mesmo assim, não tinha demorado nem cinco minutos com ele gozando em
minhas coxas e me largando de lado para cair no sono em seguida.

Eu sentia falta do homem pervertido e fogoso que me pegava toda e quase não me dava
folga quando estávamos sozinhos em casa. Daquele homem que quando me penetrava
me fazia ver estrelas na cama, no sofá e no chuveiro, do tarado incansável com a qual eu
havia me casado. Roque não demonstrava mais ter tesão por mim e algo em nosso
relacionamento parecia quebrado. Eu começava a temer que não tivesse mais conserto.

De todas nós, entre Vânia, Solange, Elisa e eu, a minha irmã era a única que tinha
conseguido voltar rápido à forma de antes da gravidez e uma das únicas que não teve
problemas com o marido para voltar a fazer sexo após os filhos. Apesar de ter dado à
luz a gêmeos, ela não havia engordado muito durante a gestação e todos os quilos que
ganhou, acabou perdendo rápido em alguns meses.

Vânia, por sua vez, havia ganhado bastante peso durante a gravidez da terceira filha, a
Jéssica, e nunca mais tinha conseguido voltar à forma que tinha antes do casamento. Eu
sentia que havia ficado com uma bunda enorme e não gostava nada do que via no
espelho quando tentava me admirar sem roupa. Havia uma saliência desnecessária em
minha barriga e os meus seios agora estavam levemente caídos. Eu estava me sentindo
muito infeliz.

Como havia prometido, Mauro conseguiu o cargo de engenheiro exclusivo a Roque na


Suares & Castilho e a Elisa também empregou o marido Peterson, fazendo com que
todos agora fossem parte do grande conglomerado que era a construtora que papai havia
nos deixado de herança.

O meu marido começou a ganhar muito bem com os meus irmãos e uma das suas
primeiras providências com o novo salário foi vender o Honda preto que ele dirigia
desde a época de faculdade para comprar um Volvo zero quilômetro como o que o
Renato tinha na garagem em Campo Belo.

Como agora tinha tempo de sobra com a conclusão da faculdade, Roque se matriculou
numa academia de musculação a duas quadras da construtora e passou a frequentar o
lugar três vezes por semana. Chegava em casa todo empolgado e vivia se admirando em
frente ao espelho, exibindo o abdômen cada vez mais riscado. Ele nunca fora do tipo
magrelo, mas estava cada vez mais gostoso agora, o que estranhamente começou a me
incomodar. Ele costumava dizer que tinha casado com a “mulher mais gostosa que ele
conheceu na vida” e agora eu sabia que não estava mais fazendo jus àquela afirmação.
Foi quando tomei uma decisão.

— Amor, eu vou começar a ir com você para a academia. Preciso perder peso e definir
o corpo.

Eu me matriculei no dia seguinte e passamos a ir juntos para academia por um tempo


depois do trabalho dele. Quando eu dei continuidade à faculdade para encerrar o último
semestre que ainda me faltava para pegar o meu diploma, comecei a estudar de manhã e
o acompanhava à noite na academia. Haviam muitas meninas malhando naquele horário
e o olhar delas para cima de Roque eram de cobiça. A maioria delas tinha entre dezoito
e vinte e dois anos. Tinham corpos parecidos com o que eu tinha antes de Micaela, bem
durinhas e empinadas, e eu comecei a ficar paranoica que o meu marido começasse a
dar mole para aquelas garotas.

Às vezes, eu o notava dando secadas em algumas delas pelo espelho ou enquanto fingia
que estava descansando após um exercício, e dava para perceber o desejo em seus olhos.
Eu estava morrendo de medo de perder Roque por não ser mais o que ele esperava de
mim. Vivia em agonia imaginando o que se passava em sua cabeça ou o que ele estava
pensando sobre a sua esposa fora de forma.

Não demorou muito, comecei a ter crise de ansiedade e passei muitas madrugadas
chorando sozinha no banheiro. Aquela insegurança me acompanhou por muito tempo
ainda e eu só consegui controlar a minha paranoia depois que passei a perder peso na
academia e voltar à minha antiga forma — ou perto disso. A nossa vida sexual deu uma
estabilizada, mas estava longe de ser a mesma coisa que era há alguns anos. A
frustração agora me definia.
Capítulo 23 – Férias e Macarena

MICAELA ESTAVA COMPLETANDO três anos quando eu usei outra parte do que
me cabia da herança de papai para abrir um estúdio de arquitetura e design próprio na
região da Vila Mariana.

Àquela época, eu já havia me graduado e tinha começado a cursar a pós-graduação de


Design de Interiores, o mesmo curso no qual a minha cunhada Solange havia se
formado. Eu era inteiramente apaixonada pelo que fazia e senti que o meu trabalho
ocupou o vazio da minha vida que me botou paranoica e infeliz por causa dos
problemas em meu casamento.

O estúdio era uma sociedade entre eu e as minhas duas melhores amigas de faculdade, a
Marina Martins — a Nana — e a Maria Eduarda Silva — a Duda. Ocupava um andar
inteiro num prédio de frente para uma construtora que era rival à Suares & Castilho —
de nome Construtora Monterey — e a maioria dos nossos clientes fazia negócios com
eles sem ter a mínima ideia de que eu era parente de dois dos donos da S&C.

Eu trabalhava na A3 – Design e Arquitetura de segunda à quinta com as minhas amigas,


e de sexta, prestava consultoria na construtora da família. O meu trabalho era bastante
requisitado depois que as obras comandadas pelas equipes técnicas dos meus irmãos
entravam em fase de acabamento e eu assinava metade dos projetos, enquanto a minha
cunhada, Vânia, assinava o restante.

A minha outra cunhada, Solange, era a designer oficial da S&C e trabalhava mais
próximo dos clientes depois que as plantas eram entregues. Às vezes, ela lidava
diretamente com as empreiteiras que prestavam serviço para a construtora — uma delas
a Ao Cubo, onde Roque trabalhava enquanto namorávamos — e não era raro que a Sol,
às vezes, prestasse serviços de freelance para mim e a A3.

Eu adorava trabalhar com a esposa do meu irmão Mauro e o seu extremo bom gosto, e
sentia que era recíproco. Nós nos dávamos muito bem profissionalmente falando.

Agora que éramos todos profissionais formados e bem-sucedidos, dinheiro não era mais
problema em nossas contas, o que nos fez começar a esbanjar. Eu, Roque e a nossa
pequena Micaela viajávamos juntos pelo menos a cada seis meses e aproveitamos
aquele período de estabilidade financeira para conhecer alguns pontos do mundo que
ainda não conhecíamos.

Num mesmo ano, conhecemos o México e as belezas de Cancun — lugar tão


recomendado por Elisa que passara a lua de mel lá —, a Florida nos Estados Unidos e
Veneza, na Itália. No ano seguinte, desembarcamos nas ilhas gregas de Atenas e
aproveitamos para conhecer também Copenhagen na Suíça.
No ano em que Mica completou quatro anos, Elisa sugeriu uma viagem de casais pela
Europa e fomos nós duas e os nossos maridos para Paris, onde passamos uma semana
inteira desfrutando dos restaurantes, praças e hotéis mais luxuosos do mundo. As
crianças já estavam maiorzinhas naquela época e não deram qualquer trabalho para
mamãe, que cuidou delas para a gente na casa da minha irmã em Moema.

Nas férias seguintes, eu e Elisa levamos mamãe para visitar os seus parentes espanhóis
em Córdoba e aproveitamos para conhecer uma dúzia de tios, primos e primas que
nunca havíamos visto na vida. Fomos muito bem acolhidas numa fazenda de centenas
de hectares próximo a El Higueron — a mais de 400 km de distância da capital
espanhola, Madrid — de propriedade de uma tia nossa, a Iolanda Estéban, e nos
divertimos aprendendo a ordenhar leite de vaca e a caçar pato.

Mamãe era a única fluente em castelhano entre nós três e eu e Elisa apanhamos bastante
para nos comunicar, embora as duas tivessem tido aulas de espanhol na escola. Os
nossos parentes europeus eram, em sua grande maioria, muito gentis e divertidos, a tal
ponto que dois primos nossos de segundo grau chegaram a se engraçar com nós duas,
dizendo que éramos as brasileiras mais lindas que eles tinham conhecido.

Juan, que tentou me cortejar — mesmo vendo pela aliança em meu dedo que eu era
comprometida — era um baixinho de nariz adunco e voz anasalada, mas o José, que deu
em cima de Elisa, era bastante atraente, o suficiente para que a minha irmã ficasse toda
fogosa para o seu lado, se segurando por pouco para não cair em tentação.

— O José é tão sexy com aquela pele morena e aqueles olhos claros! — Me confessou
ela à noite, enquanto dividíamos um aposento que uma das nossas tias havia nos cedido
durante a hospedagem na fazenda.

Eu tinha ficado extremamente curiosa com relação ao comentário da minha irmã, e


coberta apenas por um lençol fino com a janela aberta por causa do calor que estava
fazendo naquela temporada, quis saber:

— Você teria coragem de ficar com ele?

Tanto o José quanto o Juan tinham idades próximas às nossas e ambos trabalhavam
como administradores da fazenda de gado da nossa tia Iolanda. Eram solteiros, não
tinham filhos e nem qualquer outra preocupação além de gerenciar os hectares que os
rodeavam naquela parte afastada do país europeu.

— Ele me olhou de um jeito tão… tão incisivo. Era como se quisesse me comer com os
olhos!

Insisti na pergunta:

— Mas você teria coragem de trair o Peterson se o José desse em cima de você outra
vez?
Elisa não fazia o tipo tímida em quase nenhuma oportunidade, mas naquele momento,
cobriu o rosto com o lençol antes de admitir com a voz abafada pelo tecido branco:

— Eu sentaria nele sem nenhum remorso!

No dia seguinte àquele nosso diálogo dentro do quarto, José e Juan nos chamaram para
visitar uma cidadezinha que ficava localizada a menos de dez quilômetros da fazenda.
Enquanto mamãe fazia companhia para a tia Iolanda e matava as saudades das pessoas
que não via há muitos anos, a minha irmã e eu embarcamos na pick-up do Juan e fomos
passear com os nossos primos distantes.

Uma vez na cidade, fomos conhecer um bar muito animado chamado Tapería de
Malasaña, e por lá, já arriscando um portunhol muito do sem-vergonha, nós duas fomos
muito bem recebidas pelos locais que nos identificaram logo como brasileiras e
começaram a fazer várias referências à nossa cultura.

A cerveja artesanal que o dono do bar tinha como o seu principal produto de
comercialização era realmente muito saborosa e senti que fiquei bêbada já na metade da
minha segunda caneca. Elisa que sempre tinha sido mais resistente ao álcool que eu,
aguentou firme até a terceira caneca, mas depois disso, já estávamos as duas dando
vexame na taberna, chamando todas as atenções para a nossa mesa ao fundo do
estabelecimento.

Minha irmã e eu começamos a dançar freneticamente em cima da cadeira quando a


caixa de som da taberna emitiu os primeiros acordes de “Macarena”, música que
dançávamos muito juntas em nossa adolescência, e de uma maneira muito empolgada,
todos os quase vinte e cinco frequentadores do bar daquele horário entraram no ritmo
com a gente.

♪ Dale a tu cuerpo alegría Macarena


Que tu cuerpo es pa' darle alegría y cosa buena
Dale a tu cuerpo alegría, Macarena
Hey Macarena, ay♫

Em pouco tempo, éramos as brasileiras bêbadas que estavam agitando um bar numa
cidadezinha perdida da Espanha a mais de 300 km de Madrid, mas aquele momento foi
inesquecível. Há muito tempo que eu não ria tanto quanto os minutos em que requebrei
os meus quadris com aqueles desconhecidos do outro lado do mundo e quando voltamos
para a fazenda na companhia dos nossos primos, era como se tudo não tivesse passado
de um sonho.

— A gente dançou mesmo “Macarena” no meio de um bar? — Eu continuava


gargalhando dentro da pick-up de cabine estendida ao lado de Elisa.

— Não só dançamos como também botamos aqueles espanhóis para nos acompanhar,
mana!
José e Juan nos olhavam do banco da frente sorridentes, ainda impressionados com a
nossa desenvoltura na dança. Em espanhol, diziam que nunca tinham visto duas
“chicas” com tanto molejo nos quadris quanto nós duas e que éramos as mulheres mais
animadas que eles já tinham conhecido.

Ainda sob efeito do álcool que havia ingerido em demasia, Elisa se inclinou no banco de
trás livre do seu cinto de segurança e deslizou a mão dos cabelos crespos de José até a
altura do seu pescoço, para depois dizer:

— Você ainda não viu o quanto nós podemos ser flexíveis, niño!

Eu tinha consciência do que estava fazendo e nem tentei colocar a culpa dos meus atos
na cerveja artesanal da Tapería de Malasaña, mas alguns quilômetros depois do bar,
quando um dos primos estacionou a camionete a menos de uma quadra da fazenda, eu
me vi tomada de um desejo sem igual pelo primo baixinho e resolvi me atracar com ele
no banco de trás do veículo.

Do lado de fora, Elisa estava num fogo só com o José encostada na lataria da pick-up e
dava para ouvir as suas risadas exageradas a ecoarem enquanto ela o deixava enfiar o
rosto entre seus peitos miúdos, os chupando com extrema gula.

Juan, por sua vez, não perdeu tempo em querer experimentar o meu beijo e foi só ele
começar a serpentear a sua língua na minha para que eu perdesse quase que
completamente o meu controle.

O que eu estou fazendo? Eu sou uma mulher casada… eu tenho uma filha pequena…
Oh, Jesus! Mas ele é tão gostoso!

Juan dedilhou a minha vagina por baixo da saia que eu vestia e me levou ao orgasmo
me penetrando habilmente com seus dedos grossos. Retribuí como eu pude lhe pagando
um boquete, mas estava zonza demais para saber se estava caprichando ou se estava
apenas fazendo movimentos erráticos naquele pênis razoavelmente ereto.

Depois de um final feliz para os dois casais, nós, enfim, voltamos para a fazenda e
tivemos que fingir que nada muito fora do comum havia acontecido. A tia Iolanda
estranhou o nosso comportamento ébrio tão logo botamos a cara para dentro de casa,
mas foi da nossa mãe as perguntas mais enfáticas assim que nos vimos as três a sós
dentro de um dos quartos.

— A gente não conseguiu resistir, mãe — tentou se explicar Elisa, ainda alegre em
excesso e confessando tudo o que eu e ela tínhamos feito com os nossos primos de
segundo grau.

— Suas malucas! — Mamãe estava abismada com o nosso comportamento — Foi pra
isso que vocês quiseram viajar para a Espanha?

Nenhuma de nós tinha pensado naquilo anteriormente, mas como estava fora da nossa
alçada mudar tudo o que havia ocorrido durante aquele tempo na fazenda dos Estéban,
decidimos que aquela história morreria ali. No Brasil, trabalhando duro enquanto nos
divertíamos na Espanha, Roque e Peterson jamais souberam daquela história dos primos
e até a mamãe prometeu guardar segredo para manter a paz em família.
Capítulo 24 – Amor de pai

APESAR DAS VIAGENS, dos passeios e do esbanjamento de dinheiro, a nossa vida de


casados havia caído numa rotina sexual e era bem nítido que nenhum dos quatro casais
Castilho estava totalmente feliz no casamento. Todos nós havíamos nos enfiado de
cabeça no trabalho para que não pensássemos mais em quanto a mesmice havia nos
castrado sexualmente falando e ganhar dinheiro passou a ser o nosso principal foco,
quando na verdade, deveria ser a nossa felicidade.

Em meio àquela pasmaceira, Renato sugeriu que fizéssemos uma reunião só com os
casais na casa de veraneio do papai — que depois da sua morte, havia ficado sob
responsabilidade do meu irmão mais velho —, no litoral norte e não demoramos a
considerar o convite para fazermos outra tentativa de animar o nosso relacionamento.

Estávamos à mesa de um bar comemorando um contrato exclusivo da Suares &


Castilho com uma empresa japonesa de tecnologia, eu, Elisa, Mauro e ele, quando
surgiu a ideia do meu irmão.

— Por que a gente não faz como o velho fazia antigamente? A gente se reúne na praia,
providencia umas bebidas, uns cigarros e se diverte por um fim de semana inteiro só a
gente. Sem filhos, sem trabalho, sem aporrinhação. A gente merece curtir um pouco,
não merece?

Elisa estava acabando com o seu segundo caneco de chope e foi a primeira a apoiar a
ideia. Mauro bebericou a sua caneca, e em seguida, indagou, curioso:

— E quanto a Solange, a Vânia, o Peterson e o Roque? O que vamos dizer a eles?

Renato fez uma fisionomia enigmática, e então, expos o seu plano:

— Quem disse que precisamos deixá-los de fora?

Aquele final de semana estava bastante ensolarado no litoral e chegamos à Praia da Vila
a bordo de um helicóptero que Renato alugou para nos deslocar de São Paulo até ali. O
caseiro que cuidava do lugar na ausência de papai tinha arrumado tudo para a nossa
chegada e o Mauro carregou o cooler de bebidas para a cozinha tão logo entramos na
casa de dois andares.

Além de toda a propriedade que ficava numa praia particular, papai havia deixado de
herança dois veleiros de trinta pés cada para os dois filhos homens, veículos que
ficavam atracados no porto à espera de um passeio oportuno pelo mar. Elisa quis
passear pela ilha cerca de uma hora depois da nossa chegada e o Renato fez questão de
levar todos nós a bordo de um dos barcos. Eu, a minha irmã, a Vânia e a Solange
aproveitamos o sol para nos bronzear um pouco e vestimos roupas de banho
apropriadas.
Depois de ter voltado à minha forma de antes da gravidez, eu já arriscava usar biquíni e
Elisa me acompanhou, mostrando que ainda tinha um corpo de dar inveja. As nossas
cunhadas foram mais discretas ao optarem por maiôs, mas todas nós conseguimos
desfrutar de tudo que a bela ilha tinha a oferecer naquele passeio ao redor dela. Renato
conhecia o lugar como a palma da mão por frequentar o lugar desde criança com o papai
e nos conduziu por uma paisagem mais linda que a outra.

Além dos passeios à beira-mar e da visitação às belezas naturais de Ilhabela, todos nós
desfrutamos de todo conforto que a aprazível residência deixada por meu pai tinha a
oferecer. Além da piscina com largura de raia olímpica, o casarão ainda dispunha de
ofurô e banheira de hidromassagem, itens de luxo que nenhum de nós quis deixar de
aproveitar entre uma parada ou outra para jogar Dominó, Truco, Blackjack ou outros
jogos em grupo na mesa principal da sala de recreação.

A ideia de Renato de deixar de lado as nossas vidas estressantes, nem que fosse por um
final de semana, tinha sido muito bem aproveitada e nós nem tínhamos precisado
recorrer às drogas, às prostitutas e as intensas relações incestuosas das quais o meu pai
Jaime era adepto nos idos anos 70. Mesmo sem nada daquilo, o passeio à praia tinha
sido muito divertido e eu consegui me reconectar ao meu marido de um jeito que nem a
viagem para a Espanha tinha feito.

Alguns dias depois da viagem para o litoral, em nossa volta para a casa na Saúde, em
São Paulo, como há muito tempo não acontecia, Roque e eu voltamos a estremecer o
quarto com o nosso ímpeto sexual e por várias noites socamos a cama contra a parede
em nossa volúpia da mesma forma como fazíamos no antigo apartamento dele em início
de namoro.

Numa daquelas noites de luxúria desenfreada, fizemos tanta bagunça que acabamos
acordando a Micaela em seu quarto e a menina apareceu à nossa porta sem entender
nada o que estava acontecendo. Não costumávamos usar o trinco com frequência, e em
nosso descuido, a nossa filha nos flagrou nus sobre a cama em pleno ato sexual.

— Papai? Mamãe?

O susto foi tão grande ao ouvir a vozinha de Mica que nos sobressaltamos e a vimos
parada em pé alarmada perto da cama. Ela tinha nove anos na época e os seus olhos se
fixaram no pênis duro e molhado do pai, que eu tentei cobrir logo com o lençol
amarfanhado.

— Você tava machucando a mamãe?

Ela fez uma cara de choro ao perguntar aquilo tão inocentemente a Roque. Na mesma
hora, ele estendeu os braços em sua direção pedindo que ela subisse em nossa cama. O
cheiro de sexo estava impregnado em cada milímetro das paredes, mas tínhamos plena
ciência que a menina não ia entender à princípio.
Já coberto com o lençol da cintura para baixo, o meu marido recebeu Mica em seus
braços e a abraçou carinhosamente.

— O papai não tava machucando a mamãe, meu amor. Não se preocupa, viu?

Ela enlaçou os bracinhos em volta do pescoço dele e vi os olhos de Roque procurando


os meus para que eu continuasse a explicação.

— O papai estava amando a mamãe, Mica. Os adultos fazem isso às vezes. Não tem
nada demais, tá?

Eu acariciei os seus cabelos ruivos e ela demonstrou que tinha entendido, me encarando
com os olhos verdes lindos enquanto apoiava a cabeça no ombro forte do pai. O nosso
clima tinha acabado completamente após aquela interrupção e os dois a ouviram pedir,
manhosa:

— Posso dormir aqui com vocês hoje? Não consigo dormir em meu quarto.

Ainda estávamos nus, mas decidimos permitir para evitar mais perguntas embaraçosas.

Mesmo com Micaela mais crescidinha, aquela mania de ela querer dormir entre nós na
cama se tornou um hábito que o meu marido incentivava em vez de reprimir. Tudo era
desculpa para que ela viesse ao nosso quarto de noite; de medo de tempestades a
insônia.

Eu ficava bastante chateada pelo fato de que aquelas visitas, às vezes, interrompiam um
clima romântico que estava sendo construído entre eu e Roque, mas ele não parecia se
importar, tudo para que continuasse mimando a nossa filha lhe dando tudo que ela
queria de bandeja.

Embora ele fosse um excelente pai, por muitas vezes, eu notava que Roque era
permissivo em exagero aos caprichos de Micaela e ela estava crescendo sabendo
manipulá-lo direitinho.

Numa daquelas noites chuvosas, os trovões rimbombavam do lado de fora e agora


incapazes de me assustar como o faziam em minha adolescência, os clarões dos
relâmpagos na janela só estavam servindo para me excitar ainda mais na cama,
enquanto eu começava a masturbar Roque o deixando no ponto.

Eu estava vestida com um shortinho bem curto e largo embaixo, e quanto mais
massageava aquela coisa imensa, mais molhada eu estava ficando. Prestes a cair de boca
em meu marido bem-dotado, Micaela irrompeu do nada no quarto, berrando:

— Pai! Pai! Eu tô com medo!

Ela já estava com seus dez anos na época, tinha idade suficiente para entender que os
pais tinham necessidades físicas para satisfazer além do direito à privacidade, mas outra
vez me vi frustrada com a indulgência do meu marido.
— Vem cá, meu amor. Deita aqui com o pai. Vai ficar tudo bem.

Micaela se metia bem entre nós dois, e feito uma criancinha boba, se aninhava em
nossos braços. Como mãe, eu não podia simplesmente ignorá-la e é claro que eu a
acolhia. Fazia questão de demonstrar a Roque como aquilo me chateava, mas ele
parecia não ligar. Quando a disputa era entre eu e a filha, ele sempre optava por ela.

O carinho entre Roque e Micaela era agora exacerbado e a minha filha parecia mesmo
apaixonada pelo pai tal era a proximidade que ela tinha com o meu marido. Perto dele, a
menina vivia fazendo manha e conseguia do tonto tudo que queria; de presentes caros à
satisfação de todos os seus desejos, mesmo os mais simples.

Eu era o lado sensato na educação da garota e estava tentando salvar o que o mimo de
Roque ameaçava estragar. Cheguei a ter uma conversa com ela sobre as suas escapadas
para a nossa cama à noite e ela prometeu se comportar, entendendo que o papai e
mamãe faziam “coisas” ali que ela ainda não precisava presenciar.

Embora as fugas noturnas tivessem acabado, os dois agora viviam agarrados em outros
horários pela casa, vendo filme juntos na sala, preparando o almoço na cozinha — ele
até havia aprendido a cozinhar para agradar os gostos de Mica — ou jogando
videogame. Era muito raro vê-los separados quando Roque tinha uma folga do trabalho
ou quando ela não tinha aula, e ambos viviam aos beijos no rosto e abraços. Eu estava
começando a morrer de ciúmes daquela relação e cheguei a me queixar com Elisa certa
vez.

— A Micaela não é tão carinhosa comigo, mas é um grude com o pai!

— Pois é a mesma coisa aqui em casa! — Confessou a minha irmã naquela tarde,
enquanto os filhos se divertiam na piscina com o pai. Aquele era um sábado ensolarado
e estavam todos em casa. — Se você olhar lá fora agora, provavelmente, vai ver a
Cleide pendurada no pescoço do Peterson. Eles não se desgrudam também!

Eu fui até a janela envidraçada da casa de Elisa e dei uma espiada. Os gritos das
crianças ecoavam lá de fora e a Cleide estava nas costas do Peterson, que se preparava
para jogá-la na água enquanto o Cleber dava braçadas nadando de um lado para outro da
piscina.

— As meninas se apegam mais aos pais, Carla — argumentou a minha irmã —,


acostume-se com isso. Não lembra como eu era um xodó com o papai?

Entre nós duas, Elisa era mesmo a mais ligada a nosso pai. Até demais!

— Eu devo estar ficando louca tendo ciúmes da minha própria filha — eu continuava
bisbilhotando o trio lá fora. Peterson agora jogava água no filho.

— O Roque faz o tipo pai babão como o Peterson. Eles ficam derretidos com as filhas
mulheres. É normal que eles as mimem. Aqui não tenho do que reclamar, já que o
Cleber me faz companhia. Ele é muito ligado a mim. Bem mais do que é com o pai. É
natural. Por que você não arruma um menino? Ia equilibrar bastante a balança.

Ter um segundo filho definitivamente não estava em meus planos, mas depois daquela
conversa com a Elisa, eu procurei desencanar das minhas desconfianças a respeito do
carinho excessivo entre o Roque e a Mica.
Capítulo 25 – A decepção

OS ANOS SEGUINTES FORAM de muito trabalho tanto para mim com a A3 quanto
para o Roque na Suares & Castilho. Por ser um dos principais engenheiros da equipe do
competente e exigente Eliéser Valentim, o chefe de engenharia da construtora, o meu
marido tinha começado a ficar muito requisitado na maioria dos projetos que a empresa
conseguia como contrato, e por algum tempo, tanto ele quanto o Peterson começaram a
viajar a trabalho para localidades que iam desde o interior de São Paulo até outras
regiões como o Centro-Oeste e o Sul do Brasil.

A empresa tinha conseguido se estabilizar depois de anos correndo atrás dos prejuízos
que os meus irmãos, em sua inexperiência inicial, haviam causado à saúde financeira do
grupo e o pulso firme do intransigente João Suares à frente da diretoria havia mesmo
colocado o barco no prumo, evitando que ele naufragasse levando todos os Castilho
para o fundo do oceano.

Enquanto Roque passava uma semana em Goiás, onde supervisionava a obra de um


prédio de escritórios a 100 km da capital Goiânia, eu e Solange estávamos envolvidas
com o acabamento de uma agência bancária de renome chamada Interbank próximo à
Avenida Paulista. Toda a obra do local tinha sido projetada e construída pela Suares &
Castilho e tinha ficado a cargo do meu estúdio os retoques finais para que o projeto
fosse entregue em no máximo dois meses.

Como aquele era um dos clientes mais exigentes que o grupo S&C havia conseguido
nos últimos meses, o meu irmão Mauro exigiu que a sua esposa Sol nos acompanhasse
diretamente no comando das equipes de arquitetura e design de interiores, o que fez
com que eu tivesse que levantar também a minha bunda da cadeira e acompanhasse a
decoração do banco pessoalmente, como há muito tempo não fazia em meu ofício.

Em paralelo ao cliente banqueiro que eu atendia todas as sextas-feiras na companhia da


minha cunhada, o meu estúdio continuava recebendo uma demanda muito grande de
trabalho por parte das empreiteiras com as quais trabalhava. Entre as várias empresas
que também prestavam serviço em parceria com a S&C, estavam a Ao Cubo — cujo
CEO era o antigo patrão de Roque, Pedro Augusto de Alcântara e Albuquerque —, a
capixaba Solar, que era dirigida por Teodoro García Castilho — filho de Juanita
Castilho, uma das irmãs do meu pai — e a Velásquez e CIA, uma empresa de Campinas
— interior de São Paulo — para a qual prestávamos suporte regularmente.

Naquele período, eu tinha ficado bastante ocupada em meu serviço para que as pessoas
que trabalhavam comigo dessem conta de cada um dos projetos em que a A3 estava
envolvida. As minhas sócias estavam muito assoberbadas devido a carga massiva de
trabalho a que estavam sendo incumbidas de fazer e foi aí que decidimos contratar
alguns jovens estudantes freelances para a agência em troca de um pagamento justo.
Na primeira semana, eu entrevistei cerca de quinze universitários à procura de estágio
na área de Arquitetura ou Design e acabei contratando dois deles por um período de
teste. O primeiro, se chamava Vincent, estava no terceiro ano de Arquitetura, morava na
região de Indianópolis, tinha várias especializações em softwares de construção 3D
como AutoCAD, 3D Max, SketchUp e mais uma porção de outros. O seu currículo era
mesmo impressionante, e além disso, ele era um rapaz muito simpático e divertido.
Nana e Duda se conectaram muito rapidamente por ele ser queer, do signo de leão e ser
fã da Lady Gaga. Para elas, algumas daquelas qualidades eram imprescindíveis para
alguém que passaria um bom tempo trabalhando com a gente no escritório.

A segunda candidata a freelancer era uma garota de vinte e três anos especialista em
Design Gráfico e de Interiores que me tinha sido muito bem recomendada pela minha
cunhada Solange. A mulher do meu irmão a tinha conhecido numa entrevista para a
vaga de assistente administrativo de um dos escritórios da Ao Cubo, mas como a vaga
para o cargo já tinha sido preenchido por lá, ela a enviou para mim assim que soube que
eu estava em busca de bons profissionais que fossem hábeis com os softwares com que
trabalhávamos na A3.

Rosana era uma mocinha franzina que aparentava uns dezesseis anos no máximo apesar
da carteira de identidade dizer que tinha mais, porém, ela era muito comunicativa e
inteligente. Assim como o Vincent, era versada num sem-número de programas de
computador para construção 3D e me aguçou a curiosidade saber porque ela tinha
buscado, inicialmente, um cargo de assistente administrativo na empreiteira Ao Cubo.

— Eu já tinha experiência de um ano na área e usei o salário que recebia para custear as
mensalidades da minha faculdade — respondeu ela com seus olhos castanhos grandes
mirados em minha direção atrás da minha mesa —, aí, quando vi a vaga na Ao Cubo,
decidi tentar a sorte. Infelizmente, o cargo já estava ocupado.

Ela torceu de leve o lábio inferior e eu emendei outra pergunta:

— Então, você nunca trabalhou com nada relativo à arquitetura ou design, correto?

Ela fez que não, mas argumentou:

— Eu já fiz diversos trabalhos de paisagismo, arquitetura e design de interiores em


projetos para a faculdade. Sou bastante experiente na utilização de softwares de
construção 3D. Posso fazer um teste se a senhora achar necessário.

Eu me sentia uma idosa todas as vezes que alguém da idade de Rosana me chamava de
“senhora”.

— Pode me chamar de Carla.

Ela assentiu um pouco envergonhada.

— Posso fazer um teste se você achar necessário, Carla.


Eu sorri com a sua correção, e pouco depois, a deixei fazendo um teste num dos
computadores da empresa com a criação de uma área industrial simples num software
3D que ela dizia ter conhecimento em seu currículo. Naquele meio tempo, deliberei com
Nana e Duda para saber o que ambas tinham achado do jeitão espontânea da garota e
ambas pareceram animadas.

— Ela parece meio desnutrida, a coitada — caçoou Nana falando a respeito do tipo
físico meio esquálido da garota —, mas pelo que vi do currículo, acho que merece uma
chance.

— Se a sua cunhada a mandou aqui é porque a menina deve ser mesmo boa no que faz,
Carla — disse a Duda na sequência —, a Sol é uma das melhores designers do mercado.
Ela deve saber do que está falando, não é?

Algum tempo depois, Rosana completou o seu teste e nós três analisamos o projeto que
a garota de cabelos encaracolados havia desenvolvido em quarenta e cinco minutos
diante do iMac. Salvo alguns pequenos defeitos de estruturação, o arquivo estava a
contento e nós decidimos pela sua contratação em período de tempo limitado. Dois dias
depois das entrevistas, tanto ela quanto Vincent estavam inteirados sobre a maioria dos
nossos projetos e começaram a botar a mão na massa para nos ajudar com o
cumprimento dos prazos.

Na semana do retorno de Roque de Goiás, eu consegui algum tempo em meus inúmeros


compromissos para lhe dar alguma atenção e decidi usar uma lingerie nova que tinha
comprado especialmente para recebê-lo em casa. Combinando tudo previamente com a
minha irmã, eu havia despachado Micaela para passar alguns dias com os primos Cleide
e Cleber na casa de Elisa, por isso, o meu marido e eu não voltaríamos a ser
interrompidos durante o sexo.

Ele chegou bastante cansado do aeroporto e não demorou a se queixar de fome e sono
tão logo pisou na sala. Cuidei para que ele estivesse bem alimentado pouco após o
banho relaxante que tomou em nossa jacuzzi e enquanto ele comia um frango grelhado
que a nossa cozinheira Lourdes havia preparado pouco antes de sair de casa, eu me
produzi toda no quarto para provocá-lo assim que ele viesse ao meu encontro.

Roque voltou para o nosso aposento cerca de trinta minutos após o seu jantar e me
encontrou deitada de bruços sobre a cama. A lingerie que eu havia providenciado era
um conjunto de camisolinha transparente por cima e uma calcinha de renda finíssima
embaixo que deixava pouco a se imaginar das minhas curvas. Eu sabia o quanto a minha
bunda atraía os olhares do meu marido e provocava a sua libido e não fiz questão de
escondê-la assim que ele apontou na porta.

— Estava com saudades da sua esposinha, meu garanhão?

Roque pareceu um tanto surpreso ao passar pelo batente e se aproximou com um sorriso
cínico no rosto. Se sentou na beirada da cama do lado onde costumava dormir e deu
uma olhada rápida em direção ao meu traseiro.
— Gostou da minha lingerie?

Me movimentei sobre a cama de maneira que ele enxergasse mais pele do que eu já
estava mostrando e foi aí que ele viu que não havia sutiã por baixo da peça delicada e
translúcida que cobria o meu corpo.

— É nova?

O tom de Roque era ligeiramente displicente e estava visível em seu rosto que ele não
estava animado em me ver daquele jeito tão sexy como eu achei que ele ficaria.
Estávamos há uma semana sem nos ver e sem nos tocar e era como se ele não estivesse
nem ligando para mim ou preocupado em sanar o nosso afastamento momentâneo.

— É. Você não gostou?

Todo o clima de sedução que eu tinha preparado claramente não estava funcionando e
então, eu me ajoelhei na cama para ficar cara a cara com ele.

— Adorei, amor — respondeu ele sem muita emoção —, é bem sexy.

Eu estava agora envergonhada pelo clima que tinha tentado criar sem sucesso e todo o
meu tesão passou antes mesmo que eu percebesse o papel ridículo a que estava me
prestando. Desviei o olhar para que ele não notasse a minha decepção, e então, veio a
pergunta:

— A Mica não está em casa? Por que ela não veio me receber quando eu cheguei?

A menção à nossa filha me fez ficar ainda mais chateada, e sem mais nenhuma vontade
de querer agradar o meu marido, eu me levantei da cama e comecei a me enrolar em um
robe de seda que havia deixado sobre a poltrona ao lado da janela do quarto. Lágrimas
já ameaçavam rolar pelos meus olhos e eu resolvi sair rápido do quarto antes que eu me
acabasse de chorar na frente de Roque.

— Ela foi passar uns dias na casa da minha irmã.

Sem dizer mais nada, eu saí porta afora e me tranquei no banheiro. As lágrimas
explodiram quentes pelos meus olhos e eu cobri a boca para que o eco do meu choro
desenfreado não atraísse a atenção de Roque e ele tivesse a certeza absoluta de o quanto
estava me magoando me tratando daquela maneira tão indiferente.

Oh, Deus! O que aconteceu com nós dois?


Capítulo 26 – Infiel

NAS SEMANAS SEGUINTES ao retorno de Roque da sua viagem a negócios, eu não


demorei a descobrir que o meu marido havia sido acompanhado à sua ida a Goiás por
mais um dos engenheiros da Suares & Castilho de nome Antunes e de uma estagiária
recém-contratada do setor administrativo de nome Mirabel.

Mirabel era uma mocinha de vinte e dois anos que havia conseguido uma vaga no setor
onde trabalhava apenas e tão somente por seu parentesco com o manda-chuva da área de
engenharia, o senhor Eliéser Valentim. Ela era a sobrinha mais nova do homem e a sua
única expertise no papel que desempenhava era ser incrivelmente bonita e educada.
Segundo Elisa, a chefe da seção administrativa da S&C, a garota não tinha qualquer
outro predicado que justificasse a sua presença na viagem até as obras dos escritórios e
foi em uma conversa franca com a minha irmã que comecei a desconfiar dos motivos
que haviam feito o meu marido voltar tão desinteressado de Goiás.

— Está sugerindo que o Roque está tendo um caso com essa mocinha?

Eu e ela estávamos sentadas uma de frente para a outra na sala envidraçada de onde
Elisa comandava todo o setor de ADM do prédio. Assim como os meus irmãos, ela era
um braço fundamental para o bom funcionamento da construtora, e mesmo possuindo
apenas 5% das ações totais do grupo Suares & Castilho, Elisa tinha voz ativa frente a
diretoria e João Suares costumava ouvi-la sempre que as suas opiniões lhe eram
pedidas.

— Ele voltou todo estranho de Goiás — argumentei em resposta à minha irmã —, eu


vesti uma lingerie toda sexy para recebê-lo na cama e ele não gastou nem um segundo
para me elogiar. Eu me senti um lixo, Lisa!

A porta de vidro da sala da minha irmã estava fechada. Do lado de fora, a sua secretária
baixinha de nome Mariana atendia um dos meninos do setor de TI lhe dando algumas
instruções em frente à sua escrivaninha.

— Mas daí a justificar a falta de interesse dele em sexo pela sua desconfiança de que ele
está transando com uma ninfetinha recém-saída da faculdade é um passo muito grande,
não acha, mana? — Elisa me questionou aquilo em tom baixo sentada em sua poltrona
presidencial — Ele devia estar só cansado da viagem… são horas de voo de Goiás até
São Paulo… vai ver, foi só isso!

Eu não estava raciocinando direito e numa crise intempestiva de ciúmes, eu resolvi


sugerir:

— Você consegue chamar essa garota aqui e agora na minha presença, Lisa?

Elisa ficou atônita e não conseguiu dizer nada por alguns segundos.

— Consigo, Carla… Mas qual a finalidade disso?


— Eu só quero ver a cara dessa putinha. Eu quero olhar bem nos olhos dela enquanto
pergunto sobre o Roque.

Elisa queria evitar escândalos em sua sala durante o expediente e me fez jurar que eu
não teria nenhuma reação explosiva caso o que a menina tivesse a me dizer não fosse do
meu agrado. Quinze minutos depois, uma moça de estatura mediana, corpo esguio, seios
empinados e um rosto muito juvenil adentrou a sala da diretoria comigo sentada diante
da mesa envernizada da minha irmã.

— Mirabel, esta é a Carla Alencar Castilho, a esposa do senhor Roque Alencar.

Os olhos castanhos da garota se arregalaram por alguns segundos em minha direção e


ela abriu um sorriso falso se precipitando a me cumprimentar cordialmente.

— Ah, é um prazer conhecê-la, senhora.

Eu tinha motivo para bater aquele narizinho empinado contra a mesa à minha frente só
pelo tratamento de “senhora”, mas resolvi me conter em respeito ao pedido de Elisa de
não fazer barracos.

— Eu soube que você acompanhou o meu marido até Goiás há algumas semanas,
Mirabel — decidi ser direta e reta em meu intento de pegar a ninfeta no contrapé —,
posso saber qual foi exatamente o itinerário de vocês por lá?

A assistente administrativa não era exatamente a idiota que a Elisa havia tentado me
convencer de que ela era, e a menina era até bem articulada em sua fala. Dizia tudo com
um sorriso irritante no rosto incrivelmente jovem sem qualquer marca de expressão e
possuía um português muito correto de professorinha do pré-escolar. Eu conseguia
enxergar nela vários predicados que a tornariam um alvo de interesse de Roque e
haviam vários quesitos em seu corpo que eu já não podia mais oferecer ao meu marido,
principalmente aqueles peitinhos durinhos e empinados aparecendo pelo decote.

— … mas, via de regra, eu só acompanhei o senhor Roque e o senhor Antunes pela obra
do prédio de escritórios durante os cinco dias. Basicamente foi isso.

Ela tinha me explicado com muita calma cada um dos dias em que estivera à serviço do
meu marido e do seu colega engenheiro em Goiás e não me parecia haver lacunas da
qual ela e Roque pudessem se aproveitar para se refestelar na cama enquanto eu
trabalhava feito uma idiota em São Paulo.

— E no final de semana? O que vocês fizeram por lá?

Roque tinha passado um sábado e um domingo em Goiás. Se havia mesmo a intenção


de que ambos se pegassem longe dos meus olhos, um dos dois dias seria o suficiente
para isso.
— Eu não saí do hotel nesses dois dias, senhora — respondeu Mirabel prontamente —,
o senhor Roque e o senhor Antunes disseram que iam aproveitar para conhecer um bar
com música sertaneja ao vivo nesse período, mas isso é tudo que eu sei.

A moça lançou um olhar em direção à Elisa por de trás da sua mesa e perguntou, agora
com uma feição preocupada no rosto:

— Eu… Eu fiz algo de errado, dona Elisa?

Assim como eu, a minha irmã também odiava ser tratada de “senhora” ou “dona” e ela
foi enfática em sua resposta:

— Não sou “dona” de coisa nenhuma, Mirabel. E não, você não fez nada de errado.
Agora pode voltar para o seu setor. Está dispensada.

Mirabel acenou para nós duas antes de deixar a sala e fechou a porta às suas costas.
Elisa esperou até que a menina desaparecesse pelo corredor que levava até o elevador
do lado de fora e só então me encarou.

— Satisfeita, Carla?

Eu não sabia o que responder.

— A garota me pareceu muito sincera em suas respostas. Se o Roque te botou chifres


durante essa viagem, não foi com ela… pelo menos foi o que me pareceu.

Mais uma vez, achei que estava ficando paranoica e saí da sala da minha irmã, algum
tempo depois, sem saber exatamente o que pensar.

Se o Roque não tem uma amante, então por que ele não tem mais interesse em mim? Eu
estou tão feia assim? Será que ele ainda está me achando gorda? Ele deixou de me
amar?

Dois dias depois da visita ao décimo quinto andar da torre noroeste da Suares &
Castilho, eu parei de queimar os meus neurônios com a minha suspeita de que Roque
estava me traindo e voltei a me concentrar nas toneladas de trabalhos a serem
concluídos que a A3 ainda tinha pela frente.

Rosana e Vincent tinham se encaixado muito bem à minha pequena equipe — que além
de mim e as minhas duas sócias ainda contava com a minha secretária Nádia Lins, a
moça que trabalhava na copa Alzira e o segurança do andar, o Romeu — e durante
aquelas primeiras semanas foram uma “mão na roda” para que a minha agência
conseguisse entregar todos os projetos nos prazos acordados.

Eu estava em minha sala viabilizando uma planta 3D para a criação de uma cafeteria a
ser construída futuramente na área urbana do bairro Paraíso, em São Paulo, em minha
sala aquela tarde. Eu tinha pedido uma caneca de café passado na hora para a Alzira há
menos de cinco minutos e o aroma do expresso chegava ao meu nariz enquanto eu
movia o mouse do meu computador e acertava as setas direcionais do teclado num
comando do software na minha tela quando senti o meu celular vibrar sobre a mesa do
meu lado direito. Fiz uma pausa para salvar as alterações feitas no arquivo e me virei
para saber do que se tratava. Era uma ligação de Elisa.

— Oi, Lisa. Tudo bem?

Eu conhecia a minha irmã bem demais para adivinhar o que costumava vir depois que
ela dava uma suspirada longa seguida de um “então”. Meu coração chegou a tremelicar
dentro do peito.

— Então, Carla… eu não tenho boas notícias para te dar.

Abaixei a cabeça e só esperei a pancada.

— Fala logo, Lisa. Não faz suspense, pelo amor de Deus!

— Aquele dia em que você me visitou no escritório… Eu fiquei com a nossa conversa
martelando dentro da cabeça e resolvi te ajudar. Eu botei a Mariana, a minha secretária,
para investigar um pouco a viagem do Roque para Goiás e ela descobriu algumas coisas
sobre ele e a tal da Mirabel…

Filho da puta! Xinguei em pensamento antes mesmo que Elisa continuasse.

— Os três se hospedaram mesmo em quartos diferentes assim que chegaram em Goiás.


Eles cumpriram parte do itinerário citado pela moça aquele dia diante de nós duas e até
aí, não houve nada fora do padrão. Até mesmo as despesas com hospedagem e
transporte que constam nos recibos que eles me apresentaram para dar baixa estão
corretas. Quanto a isso não há problema algum…

— Para de enrolar, Lisa. Você está me deixando nervosa!

— Bem… a Mari acionou um de seus conhecidos no hotel onde o Roque se hospedou


com o Antunes e a Mirabel e ela descobriu que a moça mentiu pra você quando disse
que não os acompanhou ao tal bar sertanejo na noite de sábado, Carla. Segundo esse
conhecido da minha secretária, os três saíram juntos do hotel para a tal baladinha e só
retornaram de madrugada quase caindo de bêbados. A pessoa do hotel garantiu que os
três subiram para o andar dos quartos que estavam ocupando, mas que apenas um deles
amanheceu bagunçado. Os outros dois nem foram tocados aquela noite. A camareira
não teve qualquer trabalho pra arrumar nada.

O meu estômago tinha ficado gelado.

— Os três dormiram no mesmo quarto? Juntos?

— Parece que sim — respondeu Elisa, agora com pesar na voz —, eu não sei até que
ponto essa fonte em Goiás é precisa, mana, mas eu confio na Mariana. Ela não ia
inventar uma história dessas e acho que a minha funcionária também confia bastante na
pessoa que trabalha no hotel. Eu sinto muito.
A vagabunda dormiu com os dois ao mesmo tempo? O Roque participou de um ménage
à trois com o colega engenheiro e essa ninfetinha? Eu não posso acreditar!

Os meus pensamentos estavam em fúria naquele momento e a constatação de que as


minhas desconfianças tinham fundamento me deixou arrasada.
Capítulo 27 – O judoca

MEU MARIDO AINDA ERA a mesma máquina de sexo com a qual eu tinha casado,
mas eu estava cada vez mais afastada dele sendo agora sempre colocada de lado para
dar a vez a meninas cada vez mais novas.

Depois da sobrinha do seu chefe na construtora, através de mensagens de celular e e-


mails que ele achava que conseguia manter secretos de mim no notebook que usava para
trabalho, eu já tinha flagrado pelo menos mais duas conversas eróticas dele com outras
garotas que trabalhavam como estagiárias na Suares & Castilho e era certo que pelo
menos com uma delas o cafajeste já havia feito sexo por mais de uma vez.

Embora eu ainda estivesse em forma, me mantendo daquele jeito à duras penas com
aulas cada vez mais esparsas na academia, voltei a me sentir depressiva por conta da
descoberta da infidelidade de Roque e a minha autoestima sofreu um abalo naquele
período. Enquanto o meu marido se divertia com aquelas novinhas cheirando a leite
fresco, eu estava cada vez mais enterrada em meu trabalho, cada dia mais sufocada
pelas tarefas da A3 e cada dia mais infeliz. Eu estava precisando de uma injeção de
ânimo e não fazia ideia de onde conseguir uma seringa.

Numa daquelas quartas-feiras corridas no estúdio, eu tinha terminado de despachar em


meu escritório com a Duda e já estava levando uma planta 2D impressa para a minha
secretária Nádia Lins, quando notei que havia alguém sentado no banco de espera de
frente para a escrivaninha da moça.

Era um rapaz robusto vestindo um blusão de moletom e pensei que era jovem demais
para ser um cliente. Já estávamos perto do horário de encerrar as atividades naquele dia
e a Nádia até já tinha organizado as suas coisas sobre a mesa para ir embora. Entreguei a
planta em sua mão e pedi que a guardasse, ao mesmo tempo que indiquei com a cabeça
o rapaz, indagando sem palavras de quem se tratava.

— Ah, não é um cliente. Ele é o meu irmão Gilson. Veio me buscar no trabalho.

Absorto no que fazia em seu celular, o tal rapaz nem se deu conta que falávamos dele e
continuou encarando a tela pequena, ainda sentado na longarina de espera. Ele tinha
ombros largos e porte de atleta, além de um rosto másculo com barba de três dias por
fazer. O achei extremamente interessante.

Quantos anos será que tem? Uns vinte, vinte e um? Pensei, curiosa.

Na semana seguinte, Gilson apareceu mais uma vez no estúdio para buscar a irmã, mas
não a encontrou em sua mesa na antessala do meu escritório. Nádia estava trabalhando
com a gente há quase dois anos e eu a considerava extremamente competente em seu
ofício. Não era de se atrasar, não reclamava de pegar no pesado e mantinha tudo por ali
numa organização quase militar.
Naquela tarde, eu tinha pedido que ela fosse encomendar um buquê de rosas vermelhas
que a Nana enviaria para um de nossos clientes no dia seguinte em agradecimento a um
trabalho concluído e eu mesma informei ao rapaz.

— A floricultura é ali na esquina. Você pode esperar pela Nádia aqui mesmo, se
preferir.

Ele anuiu sorrindo simpaticamente, e em seguida, se sentou no banco de espera. Ele


estava usando uma blusa diferente daquela vez e a tirou assim que se sentou, exibindo
músculos bem definidos numa camiseta justa estampada com alguns ideogramas
japoneses.

Olha só esses braços! Eu o estava secando sem nem disfarçar e aproveitei que
estávamos só nós ali para fazer algumas perguntas.

— Você e a Nádia moram juntos?

Ele me olhou de onde estava e respondeu sem grandes rodeios:

— Moramos sim. Eu, ela e a nossa mãe.

Não havia sinal de aliança no dedo e morar com a mãe era um indício de que, muito
provavelmente, ele era solteiro.

— E você pratica algum esporte? É meio forte… Ombros largos! — Eu dei uma risada
meio esganiçada e me senti meio oferecida. Ele não pareceu se importar, me
respondendo educadamente:

— Eu pratico judô. Dou aula numa academia perto de casa. Tenho algumas turmas de
crianças e adolescentes.

Deve ter pegada então! Imaginei.

— Que interessante — ele continuou me olhando sem dizer nada —, você parece ser
bem calmo. O judô deve te dar bastante disciplina.

— Eu comecei a praticar esporte para aprender a ter foco e disciplina. O judô é muito
bom para isso. Se a senhora quiser, eu posso lhe passar algumas aulas grátis na
academia para ter uma noção de como funciona.

Senhora? Ele me chamou de senhora? Arrgh! Eu tinha ficado puta.

— Olha que eu aceito, mas só se não me chamar mais de senhora, por favor.

Ele ficou embaraçado e tentou se retratar:

— Perdão, senhorita…

— Esquece o “senhorita” também. Me chame só de Carla.


Eu me sentei ao lado de Gilson no banco de espera e já estava pronta para fazer mais
algumas perguntas a ele para conhecê-lo melhor, quando Nádia retornou da rua com o
buquê de flores da encomenda cortando todo o clima. Diferente dele que notou com
facilidade que eu estava me oferecendo, Nádia nem percebeu que tinha rolado algo ali e
colocou as flores num vaso antes de começar a se despedir e seguir com o irmão até o
elevador que os ia deixar na portaria do prédio.

Não era comum que eu me interessasse daquela maneira por homens mais jovens do que
eu — exceto o breve affair que tinha rolado entre eu e o meu primo Juan na Espanha —,
mas eu me vi estranhamente atraída por Gilson.

Embora tivesse visto a aliança em meu dedo anelar direito e tivesse se informado sobre
mim com a irmã, ainda assim, o Gilson parecia que também tinha se interessado e
voltou no dia seguinte para buscar Nádia. Ele saía da academia onde dava aula por volta
das dezesseis horas, e às vezes, passava ali para dar carona à irmã em seu carro. Os dois
moravam no Jardim Novo Mundo e dali da Vila Mariana levavam algum tempo para
chegar em casa com o tráfego pesado da Hora do Rush.

Aquela noite, enquanto Nádia se preparava em sua mesa para ir embora, inventei uma
desculpa qualquer para atraí-lo até a minha sala e o abordei:

— Você disse que dá aulas para adolescentes, não é, Gilson? — Ele anuiu, sentado no
banco de espera. — Eu tenho dois sobrinhos que vão adorar começar a fazer judô. Você
pode vir aqui um minuto e me passar os contatos da academia?

Nádia observou a minha encenação sem desconfiar de nada e achou natural aquela
conversa com o seu irmão. Ele se levantou e caminhou até a minha sala. Me sentei atrás
da escrivaninha e diminuí o tom para que só ele me ouvisse:

— Anota o meu número. Vamos marcar de tomar uma cerveja qualquer dia desses. Só
eu e você.

Eu entreguei um cartão de visitas da A3 a ele com o meu celular e ele o guardou no


bolso da calça discretamente. Abriu a carteira e sacou um cartão da academia em
retribuição, trabalhando bem a minha própria encenação enquanto me entregava.

— Está aqui o telefone da academia e o meu contato, se precisar.

De maneira charmosa, ele me piscou um olho, e naquele momento, percebi que ele era
bastante perspicaz. O meu coração disparou no peito depois que ele saiu da minha sala e
eu estava me sentindo feito uma adolescente de novo.

O que eu estou fazendo? Pensei, admirada comigo mesmo no momento em que o moço
forte atravessou a porta de saída e rumou até os elevadores acompanhado de Nádia.
Capítulo 28 – Reencontrando o prazer

O MEU CASO COM O GILSON aconteceu de maneira muito repentina, de modo que
nenhum de nós poderia prever o seu desfecho. Numa semana, estávamos num bar
bebendo cerveja enquanto compartilhávamos momentos divertidos da nossa vida, e na
seguinte, estávamos indo para um motel.

O judoca dirigiu o seu Volkswagen até a portaria e fez questão de pagar pela suíte mais
cara. Eu sabia que ele não ganhava muito bem na academia onde dava aula, e mesmo
sendo dona de uma herança milionária, o deixei fazer aquela gentileza.

Num instante, estávamos no quarto. Não houve aquele momento de descontração, de


quebra de gelo. O tesão bateu de imediato. Ele tirou a camiseta e me jogou na cama
começando a me despir. Eu passei as mãos naqueles músculos e eles pareciam feitos de
mármore. Firmes, tesos.

Ao contrário da pedra, a sua pele era quente e ele me acendeu rápido também com o seu
fogo. Eu estava usando uma lingerie bonita toda preta, mas ele não reparou muito.
Arrancou o meu sutiã num puxão e deu uma admirada em meus seios antes de enfiá-los
na boca. Tinha medo de decepcioná-lo, mas ele pareceu bastante entusiasmado
enquanto me chupava feito um neném faminto.

— Você tem peitos lindos!

A boca daquele modelo de estátua grega foi descendo e lambeu a minha barriga
enquanto os dedos ágeis procuravam puxar a minha calcinha. Senti um calor intenso me
tomar o ventre quando ele me deixou nua e enfiou a cara entre as minhas pernas. Ele
devia estar acostumado àquelas menininhas depiladas feito bebês, devia gostar de
lamber uma vulva adolescente, mas, outra vez me surpreendeu enfiando a língua entre
os meus pelos castanhos sem nem pestanejar.

E Gilson era intenso. Como era intenso!

Abria os lábios com os dedos e enfiava a língua inteira a mexendo frenética lá dentro,
vibrando e me causando sensações incríveis. Há quanto tempo alguém não me chupava
daquele jeito!

— Oh, garoto! Assim acaba comigo!

Ele me olhou com aqueles olhos castanhos vívidos lá de baixo, e sem tirar a língua de
dentro, fez expressão de contentamento. Estava adorando me matar de prazer.

Assim como no sexo oral, Gilson também era um furacão enquanto penetrava e me senti
totalmente subjugada quando ele se deitou sobre mim, segurou uma das minhas coxas e
me fodeu. O seu pau parecia uma britadeira me furando sem pausas e eu cheguei a
perder o fôlego de tanto que gemia. Fui obrigada a fechar os olhos tal era a satisfação
que estava sentindo e o arranhei inteira, ainda sentindo o aroma másculo que exalava do
seu suor.

O judoca não tinha um único pelo no corpo fora a barba e não havia um centímetro de
músculo que não fosse definido. Os cabelos eram cortados bem baixinhos à máquina e
aquela barba por fazer roçava em mim me causando arrepios.

— E-Eu vou gozar, Gil… Eu vou…

Ao ouvir aquilo, Gilson começou a me foder mais forte e o meu orgasmo explodiu tão
intenso que eu me sacudi embaixo dele. As minhas pernas ficaram trêmulas. A minha
pulsação acelerou. Eu senti um jorro quente saindo de mim. O pau dele com a
camisinha ficou encharcado com o meu mel. Eu tinha esguichado.

Dois dias depois daquele momento mágico no motel, eu entrei em contato com ele
novamente pelo celular e pedi que me esperasse próximo ao prédio onde ficava a A3
depois que todos já tivessem saído. Inventei uma desculpa para as minhas sócias de que
precisaria terminar um projeto para o dia seguinte e dispensei a Nádia, a irmã de meu
amante.

O avisei por mensagem de texto que estava sozinha no escritório e ele subiu pouco
depois. O deixei entrar e tranquei a porta indicando que ele fosse até a minha sala. Senti
o coração disparar e a adrenalina subir. Eu nunca tinha feito nada parecido com aquilo.
Já havia transado com outros homens que não fossem o Roque, mas era a primeira vez
que fazia aquilo com a iminência de um flagra embaraçoso e com alguém pelo qual eu
sentia tanto desejo.

Havia um sofá bastante confortável em minha sala que eu usava para deliberar com
Nana e Duda ou para descansar as ideias após horas estressantes de trabalho em frente
ao computador. Naquele dia, eu tinha outros planos para o móvel. Pedi que Gilson se
deitasse e eu mesma me encarreguei de tirar a sua roupa peça por peça. Estava usando
uma blusa social que eu tirei ficando de sutiã na frente dele. O deixei naquela posição e
comecei a beijar o seu corpo, cada milímetro.

— Oh, Deus, garoto! Como você é gostoso!

Jamais tinha tocado em alguém tão forte, tão viril.

— Tenho vontade de passar a língua nesse corpo o dia todo! Oh, Deus!

O judoca ficou lá à minha mercê e eu tratei de aproveitar. Beijei e lambi toda a região
do seu peitoral até o abdômen riscado. Botei a minha língua em cada um dos gomos
daquela massa muscular, e então, cheguei onde mais queria.

Lá de baixo, o olhei com cara de devassa e dei uma lambida suave na cabecinha rosada.
Era um belo pau. O menor dos que eu estava acostumada, mas duro e grosso como eu
gostava. Eu tinha aprendido uma técnica infalível de boquete em meus vários anos de
experiência, e se eu quisesse, eu o faria explodir em minha boca em poucos minutos. Eu
não queria. Chupei aquela preciosidade até que ele gemesse, o que não demorou a
acontecer.

— Você quer que eu pare de mamar?

Minha voz soou sexy. Cravei os olhos nos dele.

— Não. Continua, por favor!

Havia certo desespero nele e resolvi atender ao seu pedido. Passei mais trinta minutos
mamando aquele cacete delicioso e não o larguei até que eu estivesse satisfeita, com
vontade de foder.

Como no motel, Gilson me comeu de uma maneira espetacular sobre aquele sofá e
confesso que cheguei a ouvir o móvel ranger embaixo de nós, lutando para manter sua
coesão física e nos suportar.

Ele me botou em seu colo de frente e acabou com a minha buceta, me perfurando sem
qualquer pena com a britadeira que tinha entre as pernas. O fato de ele ser um atleta o
ajudava bastante com seu fôlego invejável, mas quando terminamos, tudo que eu queria
era água. Muita água.

Ainda nus, ficamos curtindo o momento pós-sexo deitados e a noite engolfou a cidade
do lado de fora da janela. As buzinas e o movimento do tráfego se intensificaram na
avenida em frente ao prédio e eu sabia que já era Hora do Rush. Eu estava deitada em
seu peito e lhe dava beijos enquanto ele acariciava os meus cabelos. Nunca havia
sentido uma química como a que senti com aquele rapaz em minha vida, pelo menos
não até conhecer Roque. Tinha acontecido da mesma maneira que com o meu marido.

Foi um momento rápido e os meus olhos encararam a aliança em meu dedo direito
enquanto eu alisava a pele do meu amante. Gilson pareceu notar.

— O seu marido é um grande idiota, Carla.

Eu fiquei em silêncio por um instante e o encarei com o queixo pousado sobre o seu
peito. Ele continuou:

— Ele tem a mulher mais perfeita do mundo dentro de casa e a deixa passar necessidade
dessa maneira!

Além de viril na cama, Gilson era extremamente gentil e carinhoso. Sempre que
terminávamos de transar, ele me enchia se carícias me fazendo sentir especial.

— Estou longe de ser perfeita, Gil. Bem longe.

Ele então percorreu o polegar por meu rosto e falou com voz polida:

— Discordo.

Ele se curvou para tocar a minha boca e beijou os meus lábios de maneira doce.
— Você tem lábios perfeitos.

Senti a sua boca em meu pescoço após ele tirar os meus cabelos da frente.

— Um pescocinho cheiroso e perfeito.

Desceu os lábios em meus seios e os apalpou antes de passar a língua em meu mamilo
esquerdo.

— Seios que eu gostaria de beijar pelo resto da vida.

Foi lambendo a minha barriga e alcançou a minha vagina. Beijou entre os pelos e falou,
sorrindo:

— A bucetinha mais gostosa do mundo.

Me virou de costas no sofá e se debruçou atrás de mim. Apalpou o meu bumbum e deu
um chupão indecente numa das bandas, me arrepiando inteira.

— E a bunda mais deliciosa que já apertei.

Eu o estava olhando toda envaidecida com os elogios. Sabia que ele podia estar falando
aquilo num momento de empolgação — talvez ele só fosse bastante galanteador —, que
não fosse sincero, mas confesso que fiquei balançada. Ele voltou para próximo do meu
rosto e me deu um beijo na boca mais romântico do que tórrido, concluindo a sua
observação:

— Se eu fosse o seu marido, não te trocaria por nenhuma outra garota, por mais jovem
ou interessante que fosse. Você é a mais perfeita de todas as mulheres.

Eu não consegui dizer nada a Gilson e o agradeci cedendo o meu corpo mais uma vez,
deixando que o seu vigor incansável consumisse o resquício de energia que ainda havia
em mim.

Saímos daquele escritório bem perto das onze horas da noite. Estávamos cansados,
suados, mas muito realizados.
Capítulo 29 – As confidentes

EU TINHA CONHECIDO Claudia Ferraz na primeira reunião de pais do Colégio Dom


Pedro II que havia ido no lugar do Roque. Nós duas tínhamos filhas na mesma idade
escolar, mas era muito raro que eu fosse àquelas enfadonhas e improdutivas reuniões
que costumavam acontecer a cada três meses.

O meu marido era mais animado para confraternizar com os outros pais e adorava
participar também das celebrações que aconteciam com certa frequência na instituição,
como o Dia dos Pais, dia da Independência do Brasil, Páscoa, Natal, etc. Naquele dia de
março, no entanto, ele tinha um encontro muito importante com os demais engenheiros
da Suares & Castilho e eu o acabei substituindo na reunião de pais.

Micaela tinha ficado muito apegada a uma das suas amigas do Dom Pedro II, e como
ela não parava de falar da tal Kelly em casa, fiquei curiosa para conhecer a mãe da
garota. Quando cheguei à sala de aula onde ia acontecer a reunião com o professor
principal da turma, não foi difícil percebê-la entre as demais mães.

Claudia era, com segurança, uma das mulheres mais bonitas que havia dentro daquele
lugar, e enquanto as outras apresentavam apenas a beleza comum de mulheres naquela
idade — 30 e poucos — ela se destacava muito. Tinha cabelos loiros ondulados na
altura dos ombros, mais ou menos 1,70 de altura, olhos verdes e um corpo de dar inveja.
Estava usando uma regatinha preta comportada, mas o par empinado de seios ficava
bastante evidente por baixo dela.

Eu tinha conseguido voltar à minha antiga forma física depois de dar uma relaxada de
alguns anos após o nascimento de Micaela, mas apesar de não ficar devendo em quase
nada à Claudia fisicamente falando, me sentia um pouco menos gostosa que a moça. Ao
final da reunião resolvi socializar um pouco. Me aproximei e começamos a conversar.

Depois daquela reunião de março, decidi aparecer mais vezes no colégio da minha filha,
e assim como Micaela tinha ficado amiga de Kelly, eu e Claudia também passamos a
nos conhecer melhor.

Na reunião de pais de junho daquele ano, trocamos ideias divertidas entre nós duas
ainda no pátio do Dom Pedro II e foi ali que conheci também a Silvana, a mãe da
terceira perna do tripé de meninas mais populares da turma, a Nicole.

Claudia e Silvana eram vizinhas no bairro do Itaim Bibi e se conheciam há algum tempo
por causa das filhas. As duas tinham matriculado Kelly e Nicole há três anos naquele
colégio e era curioso como nós nunca antes tínhamos nos encontrado por ali.

— Como foi que a gente nunca se conheceu antes, sendo que nossas filhas estudam
juntas há tanto tempo, meninas? — Perguntei, sentada na mesa de um barzinho onde
fomos dar uma relaxada aquela tarde. Claudia estava à minha frente bebendo uma
cerveja e a Silvana estava sentada do meu lado esquerdo, nos acompanhando com um
copo de suco de gengibre. O tempo estava bastante agradável, fazia um calor ameno e o
bar estava pouco movimentado àquela hora.

— Você mesma disse que vinha pouco as reuniões de pais, Carla — disse Claudia,
sorridente com os óculos de sol servindo de arco para os cabelos bem-hidratados —, eu
lembro de ter visto o seu marido uma vez. Ele é um ruivo de cavanhaque, não é?

— Isso mesmo — respondi, após dar um gole em minha cerveja —, pra ser sincera, eu
acho essas reuniões um saco!

As duas riram em concordância.

— A gente paga os olhos da cara nas mensalidades desse colégio para dar a melhor
educação para as nossas filhas e eles nem mudam o roteiro das reuniões! — Disse
Silvana, com tom debochado. — É sempre a mesma coisa. Também acho cansativo às
vezes. Só venho porque a minha Nic só tem a mim para essas coisas. O padrasto dela
não se envolve nesses assuntos.

Silvana era tão linda quanto Claudia. Cabelos loiros bem claros, um par de olhos azuis
hipnotizantes e seios fartos. Trabalhava como enfermeira num hospital particular, era
divorciada há alguns anos e o pai de Nicole morava no Espírito Santo, onde era gerente
de uma agência de turismo.

Há pouco tempo, tinha se encantado pelo professor da academia que começou a


frequentar para perder peso e os dois estavam num relacionamento estável. Apesar de eu
ainda ser casada e Roque e eu aparentarmos ser um casal feliz, eu me identifiquei um
pouco com a história de Silvana: mulher carente e bonita que encontra companhia nos
braços de um garotão mais jovem que a faz sentir prazer novamente. Era exatamente o
que eu estava vivendo com o Gilson.

Depois daquela segunda reunião por conta das obrigações com a escola, nós três
passamos a nos falar com frequência via WhatsApp e até marcamos alguns encontros
em barzinhos para jogar conversa fora. Tínhamos uma sintonia tão boa entre nós que
não demorou para nos tornarmos confidentes umas das outras, e assim como acabei
confessando que estava traindo o meu marido com o judoca, Claudia me falou de
algumas escapadas que deu com o próprio primo, um garotão de vinte e três anos que
era instrutor de esportes radicais no Rio de Janeiro.

— Mas ele é seu primo de primeiro grau? — Perguntei interessada, enquanto Silvana se
empertigava na cadeira para saber a resposta. Eram umas vinte horas, e naquele dia, a
enfermeira loira não ia dar plantão no hospital particular onde trabalhava. Tínhamos
todo o tempo do mundo para fofocar.

— Sim, de primeiro grau — respondeu a publicitária —, o Henrique é filho do meu tio


Augusto, que é irmão do meu pai. E vou contar para vocês… como é gostoso!
A conversa era uma das mais animadas que já tínhamos tido em alguns meses e aquela
noite rimos muito juntas enquanto confessávamos nossos pecados sexuais. Estávamos
as três envolvidas naquele mesmo momento com rapazes mais jovens, e por maior que
fosse aquela coincidência, as três estavam vivendo os melhores momentos da vida nos
braços de homens vigorosos e bons de cama.

Não dava para comparar o meu Gilson com o personal trainer de Silvana ou o primo
sarado de Claudia, mas dava para ver no rosto das minhas amigas o quanto elas estavam
realizadas sexualmente falando, assim como eu. Naquela identificação, nos tornamos
muito próximas e Claudia fez questão que eu estivesse presente na próxima festa de
aniversário da sua filha, me entregando o convite pessoalmente na porta da A3 na Vila
Mariana.

— Eu diria que você pode levar o seu judoca gostoso — disse ela, diminuindo o tom de
voz como quem me confessasse um segredo —, mas acho melhor levar o seu marido
mesmo para evitar escândalos!

Eu dei uma gargalhada enquanto apanhava o convite vermelho laminado que ela me
estendia e fui obrigada a confessar:

— Provavelmente, iria me divertir muito mais com o meu judoca na pista de dança, mas
concordo que preciso ser discreta. Vou levar o Roque mesmo desta vez.

Eu tinha começado a me relacionar sexualmente com o Gilson porque estava me


sentindo preterida por meu marido em minha própria casa. Por mais que tivesse contado
do meu caso às minhas amigas e nós juntas até fizéssemos piadas de adultério, por
dentro, eu ainda me sentia um pouco culpada.

Exceto a falta de atenção recente na cama, Roque sempre foi um excelente marido para
mim e mais ainda um ótimo pai para Micaela. Desde o nascimento da menina, eu tinha
descoberto nele uma paternidade que nunca estivera lá antes e que ele negava
totalmente mesmo em contato com os meus sobrinhos. Ele não queria ser pai, mas
quando pegou Mica no colo pela primeira vez, acabou descobrindo que tinha nascido
para aquilo, o que provavelmente se estendeu para uma paixão quase doentia que ele
começou a sentir pela menina.

Eu sabia dos meus encantos e todas as qualidades que tinha a oferecer a um homem viril
como Roque. Desde sempre, ele fora muito voraz na cama e aquela fome por sexo não
diminuiu com a sua idade. Pelo contrário. Ele tinha bem mais de trinta anos, mas tinha o
mesmo ímpeto sexual de um garoto de vinte.

Após o nascimento de Micaela, eu acabei perdendo parte do meu apetite sexual, o


deixando um pouco na mão durante anos. Sem ter de mim aquilo com a qual sempre
estivera muito acostumado — e na fase pré-casamento Roque e eu éramos praticantes
assíduos da boa e velha putaria de casal —, o meu marido começou a procurar fora de
casa a diversão que não encontrava mais dentro e passou a se relacionar, por pura farra,
com garotas mais jovens. Sobretudo, estagiárias e assistentes da Suares & Castilho onde
trabalhava de segunda a sexta-feira.

Aquilo pareceria abjeto, perverso para qualquer outra pessoa fora do nosso círculo de
convivência, mas não para mim que era uma Castilho. Eu entendia o que meu marido
estava sentindo e não conseguia competir com aquele seu desejo por novidade e “carne
fresca”. Eu cedi, e desde então, comecei a ficar cada dia mais sozinha, mais solitária.
Enquanto ele fazia sexo com as suas novinhas com cada vez mais frequência, eu vi na
masturbação um meio de me aliviar, até que Gilson apareceu em minha vida e eu voltei
a me sentir uma mulher desejada.
Capítulo 30 – A festa de aniversário

EU NUNCA SOUBE O quanto da vida sexual de Kelly a minha amiga Claudia tinha
conhecimento, mas numa tarde qualquer, eu acabei descobrindo que a menina tinha
visitado Micaela em nossa casa na Saúde e coincidiu de ser bem num dia em que o meu
marido tinha chegado mais cedo do seu trabalho como engenheiro na Suares &
Castilho.

Nenhum dos dois confessou para mim o que aconteceu naquela tarde, provavelmente,
muito animada que eles passaram juntos com a menina Kelly, mas eu tinha uma leve
desconfiança que tinham feito um ménage à trois enquanto eu trabalhava na A3. Agora
que eu sabia que Roque era adepto da prática e tendo em vista a admiração que a minha
filha sentia por ele, eu já não achava mais impossível que o meu marido fosse capaz de
envolver Mica e a amiga em seus joguinhos sujos em busca do prazer, e aquela foi uma
pulga que comecei a carregar por muito tempo atrás da orelha.

Pelas poucas vezes que tinha encontrado com a menina em nossa casa ou no colégio em
que estudava, não tinha percebido em Kelly aquele mesmo comportamento lascivo que
parecia exalar da minha Micaela. A filha de Claudia demonstrava maior recato, algo
como se ela fosse uma freira comparada à minha filha — que onde chegava gostava de
chamar todas as atenções —, mas o seu comportamento contido em nada deveria refletir
àquilo que ela devia fazer pelas costas da mãe quando ninguém podia ver. No dia em
que a fomos buscar na porta do seu apartamento para a sua tão badalada festa de
aniversário, eu tive a certeza absoluta disso.

Claudia me ligou alguns dias antes da festa à fantasia que estava bancando para
comemorar o aniversário de Kelly e pediu que eu fosse a responsável por buscar a
garota em casa no dia da comemoração.

— Eu vou trabalhar na agência pela manhã e mais ou menos na hora do almoço


pretendo ir direto para o salão de festas na Vila Madalena — disse a publicitária em
ligação —, eu sei que a equipe que contratei para organizar tudo dá conta até que eu
chegue lá, mas fico em cólicas só de pensar em ficar de fora dos acertos finais. Quero
garantir que nada dê errado no dia da minha princesa.

— Sei exatamente como se sente, Claudia. Eu sou exatamente igual! — Confessei, aos
risos.

— Seria muito abuso pedir que você buscasse a minha neném em casa no dia da festa?
Eu poderia mandar que um Uber a pegasse, mas tem a questão da fantasia. Ela escolheu
um modelo meio curtinho, não quero que a Kelly fique exposta na rua.

Eu tinha me sentido bastante lisonjeada por Claudia me pedir aquele favor e não tive
nenhuma intenção de me recusar a atendê-lo, já que Micaela tinha adorado a ideia de ser
uma das primeiras pessoas a ver a aniversariante no dia de sua festa, e uma vez que as
duas não se desgrudavam mais.
— Que abuso o quê, mulher! — Disse a ela. — Vai ser um prazer buscar a Kelly em
casa nesse dia tão importante. A Mica vai adorar ir com a amiga para o salão de festas.
Essas duas viraram unha e carne!

No dia seguinte àquela conversa, eu encomendei a fantasia que escolhi no catálogo


online da loja e pedi para que entregassem à domicílio na portaria da A3. Após o
expediente no estúdio, eu experimentei a roupa da deusa Afrodite que tinha achado a
minha cara e fiz um pequeno desfile para as minhas sócias Nana e Duda.

Assim como elas, a Nádia também ficou encantada como o vestido branco longo com
uma fenda na perna esquerda me caiu bem. Me olhando no espelho, achei que o meu
corpo tinha ficado bastante sinuoso dentro daquele tecido que imitava uma
transparência — quase como se quisesse revelar a minha nudez por baixo dele — e a
tira em volta do pescoço sustentou bem o busto do traje avantajando meus seios. As
costas nuas e os adornos dourados nos pulsos, braços e a tiara na cabeça completavam o
meu visual fazendo eu me sentir como uma deusa de verdade.

O Gilson ia adorar me ver com essa roupa. Acho que vou mandar fotos para ele, pensei
na mesma hora em que me vi dentro do vestido da deusa grega.

Naquele mesmo dia, Roque tinha saído mais cedo do trabalho para acompanhar Micaela
até a loja de fantasias onde eles iam buscar as suas roupas e a minha filha não parou
mais de me mandar pelo celular fotos e vídeos dela vestida como a personagem de
desenho animado que tinha escolhido. Como era de se esperar, Mica havia optado por
um modelo bem curtinho, e embora eu tivesse achado um pouco indecente na parte
traseira — com as popas da bunda evidentes — o Roque adorou e a incentivou a usar.

No dia da festa, saímos de casa mais cedo, como eu tinha combinado com Claudia, e
fomos da Saúde até o Itaim para buscar Kelly e Nicole no prédio em que elas moravam.
A filha de Silvana estava morando com Claudia devido um desentendimento sério que
havia acontecido entre a menina e a mãe por causa do padrasto da mesma — o tal
personal trainer gostoso —, mas nenhuma delas quis entrar em muitos detalhes, o que
me fez respeitar sua privacidade.

Embora tivesse passando por momentos complicados com a sua família, Nicole estava
bastante animada quando a encontramos com Kelly à porta do condomínio onde viviam,
e as duas logo se juntaram a Micaela no banco de trás do SUV novo de Roque,
competindo para ver qual delas estava mais linda.

Nicole estava vestida de TinkerBell e exalava charme com um delineado delicado nos
olhos e uma sombra que destacava ainda mais o belo par de faróis azuis que herdara da
mãe. Foi divertido ver as três tagarelando o caminho todo enquanto meu marido dirigia
sorridente até a Vila Madalena, mas eu tinha percebido olhares meio estranhos entre
Roque e Kelly pelo retrovisor.

Estaria eu vendo coisas por conta daquela desconfiança sobre o ménage à trois dos
dois e Micaela? Pensei, um tanto quanto receosa.
Eu já havia visitado o site da Illuminare, agência de Publicidade de Claudia, e conhecia
alguns dos seus trabalhos, mas quando chegamos ao prédio onde a festa de Kelly ia
acontecer, eu fiquei positivamente impressionada com o requinte e o luxo com que a
equipe da publicitária havia organizado tudo.

Os dois andares do lugar estavam igualmente decorados para se assemelharem ao


interior de um castelo medieval, e por um momento, foi como se eu tivesse viajado
mesmo no tempo. Eu era formada em Arquitetura, estava acostumada a ver e lidar com
todo tipo de instalação e decoração — das mais minimalistas às mais carnavalescas — e
aquela festa não deixava nada a dever a todos aqueles cenários antigos que tanto
estudávamos nas aulas de História da Arte. Assim que tive um tempo a sós com
Claudia, depois dos cumprimentos de praxe à sua equipe, eu a puxei de lado e quis saber
quem havia assinado aquela decoração.

— Eu contratei um estúdio especializado em decoração de festas. A designer de


interiores é amiga das minhas funcionárias e uni o útil ao agradável. Sabe como é:
Nessas horas é ótimo ser da área e ter contatos!

Claudia trabalhava com duas jovens irmãs gêmeas que cuidavam de toda a parte visual
da sua agência e as garotas tinham ajudado bastante na organização da festa. Eu as
cumprimentei pessoalmente e passamos um bom tempo conversando sobre a decoração
que tanto havia me encantado.

Naquele meio tempo, Micaela, Kelly e Nicole ficaram bajulando o DJ famoso que
Claudia havia contratado para dar o som da festa, e vestido de pirata, Roque aproveitou
para encostar no balcão do bar instalado na lateral esquerda do salão onde uma dupla de
bartenders sarados já começavam os trabalhos servindo drinques dos mais variados. Eu
estava encarregada em conduzir o carro de volta para casa em segurança naquela noite e
queria que meu marido se divertisse bastante, nem que para isso ele precisasse beber
muito.

Perto das dezenove horas, o salão superior já estava apinhado de convidados e enquanto
a molecada dançava animadamente em várias rodas de amigos, os mais velhos se
mantinham à margem, conversando próximo do balcão do bar — onde os atendentes
gostosos serviam bebidas quase sem parar com performances impressionantes de
malabarismo com garrafas e coqueteleiras — ou no andar inferior, nas mesas dispostas
do bufê.

Após uma hora frenética de dança no meio da pista acompanhada de Claudia, das duas
gêmeas vestidas de mafiosas, de Natalie Schneider — a irmã do tal Henrique com quem
a publicitária se relacionava sexualmente às vezes — e das amigas da garota, eu precisei
dar uma relaxada e fui até o bar pedir um suco. Eu não me divertia daquele jeito desde a
festa de dezoito anos da minha sobrinha Janete, a filha do meu irmão Renato, e perdi o
fôlego para acompanhar Dana e Dona. As garotas tinham corpos esbeltos e possuíam
uma energia inesgotável, além de contagiante. Quando reencontrei Roque no balcão, eu
estava esbaforida.
— Não dá para aguentar o ritmo dessas meninas por muito tempo não! — Confessei ao
pé do ouvido do meu marido, apoiando uma das mãos em seu ombro. — Elas parecem
elétricas!

Roque lançou um olhar pelo salão com um sorriso estampado no rosto, e mais à frente,
viu as gêmeas sacudindo os quadris com muito charme dentro de seus ternos risca-de-
giz e o chapéu fedora na cabeça. Próximo a elas, Natalie, Rafaela Albuquerque — uma
amiga de infância dos irmãos Schneider — e um grupo de mais quatro outras meninas
também dançavam efusivamente cheias de alegria. Claudia já havia se afastado delas
para dar conta de algum pormenor da organização da festa e as nossas filhas estavam
em algum lugar no meio daquela multidão de jovens saltitantes. Por alto, dava para
saber que devia ter umas cem pessoas ali em cima.

— Essa festa lembra bastante aquelas que íamos juntos na época de faculdade. Você se
lembra, amor? — Disse Roque bem próximo ao meu ouvido tentando se fazer escutar
apesar do som pesado e ritmado comandado pelo DJ “Maverick”.

Um dos bartenders sem camisa veio logo me atender junto ao balcão. Usava apenas
uma calça com suspensório e exibia um corpo musculoso magnífico. Me serviu o suco
que eu havia pedido prontamente e sem que Roque percebesse, ele deu uma piscadinha
de olho para mim ao me passar o copo. O meu marido já estava na quarta dose de vodca
àquela altura da festa. Eu retribuí o gracejo do saradão com um sorriso.

— Como poderia esquecer? — Respondi, enfim — Foi numa dessas festas que você me
mostrou o gingado desses quadris!

Roque não gostava muito de dançar em público. Dizia que era desengonçado e sem
ritmo, mas eu sabia que nada daquilo era verdade. Nós dançávamos muito juntos em
nossa casa quando Micaela ainda era um bebê de colo e muito antes disso também. Ele
era o homem mais ritmado que eu conhecia, e naquele dia, quis mostrar isso para todo
mundo.

Eu o puxei para o meio do salão e nós voltamos a dançar juntos como quando éramos
jovens. Por um tempo, esquecemos completamente nossos problemas de relacionamento
e voltamos a ser o casal feliz e animado que sempre fomos. Foi o momento mais
maravilhoso da noite.
Capítulo 31 – A grande surpresa

APESAR DE TODA A AGITAÇÃO na pista de dança, do empurra-empurra e do calor


juvenil, foi inevitável não conhecermos os amigos das minhas sobrinhas e muitos dos
convidados de Claudia e Kelly ao longo de toda a noite.

Enquanto eu e Roque aproveitávamos um pouco dos quitutes maravilhosos do bufê no


andar de baixo, algum tempo depois de dançarmos, nós dois fomos apresentados aos
irmãos Monterey que tinham acabado de se sentar na mesa ao lado e foi a menina
Rafaela Albuquerque quem nos conectou.

Assim como ela era amiga de infância dos Schneider, família a qual pertencia também a
anfitriã da festa, a garota e seu irmão Maxwell eram bem próximos dos Monterey, o que
nos fez sentarmos todos juntos à mesa enquanto o som abafado das batidas de uma
música eletrônica soava sobre nossas cabeças.

— Eu conheci a Micaela quando ela fez uma visita à nossa construtora há algumas
semanas — disse Rodrigo Monterey, pouco depois que um garçom serviu um prato de
fettuccine a ele e a sua irmã mais nova Carina, de dezoito anos —, agora sei de quem ela
puxou as sardinhas e os cabelos ruivos!

O rapaz disse aquilo apontando para o meu marido sentado ao meu lado e ele sorriu. Os
dois irmãos eram extremamente simpáticos, e por um tempo, nem me pareceram que
eram herdeiros de uma das fortunas mais consideráveis da burguesia paulista. Não
exalavam toda aquela arrogância tão comum a filhos de empresários ricos naquela idade
e eu achei Rodrigo bem charmoso. Charmoso até demais!

— Depois da visita à construtora, ela e a Kelly visitaram a nossa casa nos Jardins. As
duas até tomaram um banho de piscina aquele dia!

Carina tinha um sorriso fácil no rosto bonito e a maquiagem escura exagerada em seu
rosto a tinha deixado com o ar exato das performers do Moulin Rouge que ela procurava
emular com a sua fantasia. A pele clara combinava bastante com as dançarinas francesas
do cabaré mais famoso do mundo e não dava para negar o quanto a garota tinha ficado
exuberante naquela roupa vermelha e preta.

Micaela tinha comentado, há algum tempo, alguma coisa sobre a casa de um tio de
Kelly que ela havia visitado certa vez nos Jardins e eu tive alguma dificuldade para
relacionar aquelas informações com o que os Monterey tinham acabado de dizer.

— A Mica falou alguma coisa sobre um tio da Kelly… Mas você não é parente dela,
certo? — Questionei a Rodrigo, embocando uma garfada de um macarrão com molho
branco em seguida.

A porção em meu prato estava deliciosa, assim como quase tudo que estava sendo
servido à nossa volta no bufê. Os dois irmãos se entreolharam e deram uma risada
cúmplice. Rafaela parecia também ter entendido a piada interna entre eles e aguardou
que o rapaz respondesse.

— Eu conheci a Kelly quando ela tinha uns dez aninhos por meio da prima dela, a
Natalie. Desde aquela época, ela pegou mania de me chamar de “tio Rodrigo” e o
apelido acabou pegando. Até hoje a Kelly me chama de “tio” quando me vê, mas é
porque eu namoro a prima dela.

Embora não tivesse dado a devida importância àquele fato antes, eu me lembrava de já
ter ouvido a minha filha mencionar um tal “tio Digo” nas conversas por áudio com
Kelly pela casa e agora eu entendia de quem se tratava.

Enquanto o assunto à mesa ia se prolongando, Roque e Rodrigo passaram a falar de


negócios e foi então que me ative ao fato de que quem estava sentado ali com a gente,
conversando alegremente há vários minutos, era o filho de um dos principais rivais
comerciais da Suares & Castilho, fato aquele que com certeza desagradaria e muito
meus irmãos Renato e Mauro que tocavam a nossa construtora com mais afinco.

Apesar de ser uma das acionistas da empresa, eu não tinha quase nenhuma participação
ativa na tomada de decisões dos negócios, mas sabia o suficiente sobre como a
Monterey Construtora era uma adversária ferrenha da Suares & Castilho há vários anos,
além da animosidade que parecia existir entre Fausto Monterey, pai de Rodrigo e
Carina, e de João Suares, o sócio majoritário da S&C.

— Confesso que não fazíamos ideia que vocês dois eram filhos do velho Monterey
quando se sentaram à nossa mesa! — Disse Roque, até um pouco constrangido com
aquela constatação.

— Espero que não tenhamos causado nenhum desconforto — disse Rodrigo, bastante
educado —, o papo está muito bom até agora e eu não gostaria que ele fosse estragado
por conta da rivalidade comercial entre as nossas famílias.

— De maneira nenhuma, Rodrigo — respondi em nome de mim e de meu marido —,


acho que o que acontece no mundo dos negócios não precisa se estender para as nossas
vidas pessoais. Estamos aqui curtindo uma festa de aniversário juntos. Não vejo
necessidade em estragar o clima porque nossos pais viveram se engalfinhando por causa
de clientes há algumas décadas.

Carina e Rafaela pareciam concordar e foi a primeira quem estabeleceu outra relação
entre todos nós.

— O pai da Rafa, o senhor Otto Albuquerque, é o diretor administrativo da Monterey e


mesmo assim, ela é uma das melhores amigas da Janete Castilho, a sua sobrinha —
Carina apontou para mim —, pelo que entendi, o pai da Janete é um dos principais
diretores da Suares & Castilho, mas as duas não deixam isso atrapalhar a amizade delas.
— É verdade! — Concordou a preta linda à nossa frente vestida de egípcia, com um
sorriso estampado no rosto — A Jane não se importa nem um pouco por nossos pais
serem rivais nos negócios. Eu amo aquela garota!

O assunto construtora e a rivalidade entre Monterey e Castilho continuou ainda por um


tempo, mas, logo foi sobreposto por coisas mais amenas como gostos musicais e
programas de TV.

Algum tempo depois, a minha sobrinha Janete apareceu no bufê para se juntar a nós e
trouxe com ela uma outra amiga chamada Rarissa Vecchio. Todos pareciam já se
conhecer muito bem, e tanto eu quanto Roque adoramos ser envoltos por toda aquela
energia juvenil.

Apesar de muito jovens — Rodrigo que era o mais velho da mesa tinha vinte e três anos
—, eles eram muito inteligentes e tinham cultura suficiente para render horas e horas de
conversa. Mesmo Janete, a minha linda sobrinha de dezoito anos que era a menos
conhecida dos demais, se entrosou perfeitamente com eles tendo Rafaela para fazer a
ponte entre ela e os irmãos Monterey.

Apesar de saber que o herdeiro milionário era o namorado da prima de Claudia e Kelly,
era inegável a química que parecia haver entre o rapaz e a exuberante morena de
cabelos cacheados que havia chegado à mesa. Rarissa estava vestida de colegial sexy e
embora tentasse disfarçar, o seu olhar se cruzava o tempo todo com o de Rodrigo. Os
dois ficavam tentando fingir que não, mas aquilo era tensão sexual pura no ar.

Eu conhecia muito bem como aquilo funcionava, mas preferi me manter calada sobre as
minhas suspeitas a fim de evitar problemas com a família Schneider.

Certeza que esses dois já se pegaram, e se não, estão doidos para se pegar, pensei, um
tanto quanto venenosa.

Algum tempo depois, próximo dos parabéns para a aniversariante que estava radiante
dançando com as amigas, eu voltei para a pista de dança e foi muito gostoso me juntar
às minhas sobrinhas Janete, Priscila e Cleide para sacudir a bunda. Maverick tinha
sequências contagiantes de músicas brasileiras “na agulha” e quando ele botou para
tocar os mixes que tinha feito com vários funks populares, foi impossível não me deixar
levar com as meninas.

Naquele momento, Micaela trouxe Kelly e Nicole para dançar com a gente e até Claudia
entrou na bagunça remexendo com muito talento em seu visual de cortesã dos anos 20,
à la Betty Boop. Eu trouxe Roque para requebrar comigo e não demorou para que os
meninos se aproximassem também trazendo mais de nossos conhecidos para perto da
nossa roda.

O clima não parecia muito bom entre os dois, mas vi Rodrigo e Natalie se divertindo
juntos procurando imitar os passos de dança dos demais. Os irmãos Albuquerque,
Rafaela e Maxwell, entraram rápido no ritmo com Carina e Rarissa, depois, foi a vez
dos meus sobrinhos Cleber e Pedro entrarem na coreografia mostrando que tinham
bastante gingado.

Aquela tinha sido a festa à fantasia mais bem produzida e animada que eu já tinha
participado em minha vida toda e tinha certeza que seria inesquecível. A dona da festa
estava explodindo de felicidade ali no meio e a minha filha não desgrudou da menina
um segundo sequer dançando, às vezes, de maneira bem empolgante com ela, colada em
seu traseiro como uma amante quente e ávida. Estavam todos se divertindo muito para
que eu pensasse melhor a respeito na hora, mas estava mais do que claro que Micaela e
Kelly estavam deixando rolar algo mais tórrido do que uma simples amizade. As duas
não estavam querendo esconder de ninguém e quando me dei conta, senti um choque
percorrer todo meu corpo. Aquela era a grande surpresa do dia.
Capítulo 32 – Entre mãe e filha

POR MUITO TEMPO EM minha vida, eu senti que tinha sido um completo fracasso
como mãe e que tinha negligenciado a educação da minha filha Micaela por pensar mais
em crescer profissionalmente do que no desenvolvimento dela. Eu não passava de uma
garota imatura na época em que tinha ficado grávida de Roque e tive que descobrir aos
pouquinhos o real significado da palavra mãe, com meus erros e acertos.
Na verdade… Mais erros do que acertos.
Eu tinha um exemplo muito bom em minha própria casa de mãe carinhosa, mas quando
lembrava do meu passado com os constantes problemas de saúde da dona Vilma e as
regulares puladas de cerca do papai, eu mal conseguia recordar dos seus momentos de
companheirismo ou de um ponto exato onde ela tinha, de fato, me ensinado como eu
deveria lidar com a maternidade quando fosse a minha hora.
Mamãe passou muito tempo da sua vida absorta em seus próprios problemas e durante
um período bastante extenso, ela também negligenciou a minha e a educação da Elisa,
as suas únicas filhas, preferindo nos deixar com babás e empregados para poder surtar
em paz atrás de um marido alcoólatra, dependente químico e viciado em sexo.
Quando chegou a minha vez de ser mãe, mesmo com o apoio da minha irmã e a
reaproximação de Vilma, eu ainda não estava me sentindo pronta.
Conforme Micaela crescia, eu me vi despreparada para lidar com a realidade de que ela
tinha passado a ser o pedaço mais importante da minha vida e que uma vida tão pequena
e desprotegida agora dependia totalmente de mim, dos meus próprios esforços. Aquilo,
de certa maneira me apavorou por um longo tempo.
Quando o Roque começou a desenvolver um amor incondicional pela menina e passei a
sentir que ele a amava até mesmo mais do que eu, o meu lado mulher começou a entrar
em conflito com o meu lado mãe e essa briga interna me causou diversos problemas
psicológicos com as quais eu tive que conviver por anos.
Até aquele momento, o meu marido era a pessoa mais importante do meu mundo, assim
como eu era dele, mas Micaela havia modificado aquela dinâmica e mais uma vez eu
não soube lidar com o fato de que as coisas tinham mudado, talvez, para sempre.
Quando olhei Micaela naquela festa de aniversário dançando de maneira tão íntima com
a garota Kelly Ferraz, com as duas trocando carícias e se encarando de um jeito
apaixonado, pela primeira vez, eu tinha me ligado que a minha filha não era mais aquela
criancinha mimada que fazia birra quando queria algo e que vivia agarrada ao pescoço
do pai porque sabia que ele faria de tudo por ela, inclusive, lhe dar o mundo se fosse
possível. Mica havia crescido e se desenvolvido quase como se eu nem tivesse prestado
a atenção, e por um momento, vendo aquela cena no salão de festas, eu senti uma
pontada de culpa.
Teria eu errado tanto assim na educação da minha filha? Teria eu, de fato,
negligenciado o meu papel de mãe da mesma maneira como a dona Vilma tinha feito
comigo durante anos do meu desenvolvimento? Teria sido por minha culpa que a
Micaela se tornasse lésbica?
Eu me vi em choque quando realizei que a minha filha pudesse ser homossexual, mas
quando enfrentei os meus próprios medos e reavaliei a minha ignorância assim como os
meus preconceitos, as coisas começaram a fluir de um jeito um tanto quanto naturais na
minha mente conturbada.
— Ninguém “se torna homossexual”, Carla — me explicou a minha amiga Nana alguns
dias depois da festa de aniversário na Vila Madalena. Nós estávamos em nosso horário
de almoço numa lanchonete a duas quadras da A3 e eu tinha contado à morena sobre o
que tinha visto acontecer entre a minha filha e a garota Kelly —, as pessoas
simplesmente nascem com predileção sexual pelo mesmo gênero e é assim que a vida
funciona. A Micaela não “virou” lésbica. Ela sempre foi.
Eu tinha pedido um sanduíche light para um lanche rápido e a Nana tinha escolhido um
cheese salada bem gorduroso para se saciar. Eu não estava com muita fome, mas
precisava botar algo para dentro do estômago se não quisesse cair dura no meio do
escritório mais tarde.
— Mas ela sempre demonstrou gostar de meninos — disse, me relembrando das nossas
várias conversas em casa sobre os artistas masculinos pelos quais Mica sentia atração e
pelos meninos da escola pelos quais ela se dizia a fim de namorar —, até mesmo o seu
agarramento com o pai, que sempre me deixou enciumada, a mim era uma prova de que
ela gostava de homens e não de mulheres.
— O “b” da sigla LGBTQI+, por acaso, não quer dizer “Brasil”, Carla… se a Mica
sempre demonstrou afeição por meninos e agora está a fim de uma menina, adivinha:
ela é bissexual!
Ao longo da minha vida, eu tinha visto todo tipo de relacionamento entre amigas
próximas, parentes distantes, familiares mais chegados — inclusive, os inconfessáveis
casos incestuosos entre mim e Mauro, Elisa e Renato e mais uma dezena de outros que
aconteciam desde os mais idos tempos — e eu não tinha razão para estar tão angustiada
— ou mesmo chocada — com o fato de que a minha filha pudesse demonstrar
sentimentos por outra garota.
Depois que Nana me abriu os olhos durante aquela conversa no horário do almoço, eu
me senti um pouco mais preparada para ter uma conversa de mulher para mulher com a
Micaela e não abstive da minha responsabilidade como mãe.
Aquele dia, eu saí mais cedo da A3 deixando a resolução das questões mais imediatas de
nossos contratos nas mãos das minhas sócias. Segui com o meu Volkswagen até a
Avenida Paulista e resolvi, eu mesma, buscar a Micaela na saída do colégio Dom Pedro
II onde ela estudava há alguns anos.
Cerca de quinze minutos depois de eu estacionar em frente ao portão movimentado
daquele que era considerado um dos colégios mais tradicionais de São Paulo, não tive
dificuldades de localizar a minha filha em meio ao emaranhado de adolescentes que
descia as escadas aos empurrões, gritos e palavrões diante da instituição cara de ensino.
Aqueles cabelos vermelhos se destacavam em qualquer ambiente e era como se a minha
filha emanasse mesmo um brilho que ofuscava as outras meninas ao seu redor. Micaela
era dona de uma beleza rara.
Como previsto, ela chegou próximo ao meu carro acompanhada da Kelly e se
surpreendeu ao me ver ali no lugar do Valmir, o motorista da família Castilho que
costumeiramente a carregava para cima e para baixo desde que era uma criancinha.
— Mãe? O que tá fazendo aqui?
A garota de cabelos alourados e olhos verdes ficou ao lado sorridente e eu acenei para
ela em cumprimento.
— Vim te buscar pra gente ter uma conversa. Pode ser?
Minha filha não deixou o semblante feliz murchar no rosto sardento, mas tinha
percebido que aquela conversa não teria espaço para a amiga loira. As duas se
despediram do lado de fora e antes de entrar pela porta do passageiro, Micaela deu um
beijo leve nos lábios de Kelly.
— Me chama no “zap” mais tarde!
A filha de Claudia Ferraz seguiu o seu rumo e se juntou aos demais jovens que se
espalhavam pela calçada em frente ao Dom Pedro II. Esperei Mica afivelar o cinto de
segurança e parti dali em direção a um bistrô que costumava frequentar na Vila
Mariana.
Os olhos cor-de-jade da minha filha se arregalaram quando ela se ligou no assunto que
eu queria tratar com ela aquele início de noite. Eu tinha pedido ao maître um Petit
Gâteau para que degustássemos enquanto conversávamos e Micaela, como de costume,
ficou na defensiva comigo.
— Ai, mãe! Nada a ver esse papo chato!
Dei uma colherada no doce saboroso à minha frente e insisti:
— Mica, eu sou a sua mãe. Que mal há em você se abrir comigo só pra variar um
pouquinho?
Conforme Micaela crescia, nós duas tínhamos nos afastado e era como se a garota
tivesse criado uma casca protetora em torno de si mesma que me impedia de acessá-la a
hora que eu quisesse. Cada dia que passava, aquela casca se tornava cada vez mais
sólida.
— Eu vi o seu comportamento com a Kelly durante a festa de aniversário. Vi o beijo
que trocaram hoje quando se despediram… se abra comigo. Você sabe que pode confiar
em mim.
A íris esverdeada foi de um canto a outro da mesa logo depois de ela dar uma colherada
generosa no Petit Gâteau. Ficou saboreando o doce por um tempo, correu a língua
levemente na superfície dos lábios grossos e se virou em minha direção.
— A gente tem… se curtido. Acho que é essa a palavra.
Esperei que ela tivesse vontade de continuar a falar.
— Não foi uma decisão tomada do dia pra noite, sabe? — A feição teimosa começava a
se amenizar. Ela estava começando a confiar em mim para falar mais abertamente sobre
o assunto. — A gente ficou uma vez na casa do tio Digo… aí depois rolou lá em casa de
novo… e foi ficando bom. A gente não escolheu ficarmos juntas. Só aconteceu. Foi
isso.
Pensei em tentar esclarecer aquela minha cisma com relação ao possível ménage à tróis
que eu desconfiava que havia ocorrido entre ela, Kelly e Roque, mas senti que podia
estar pulando etapas demais dentro do círculo de confiança entre mãe e filha ali
estabelecido.
— Mas, você sente que ama a Kelly? Tipo… como um homem ama uma mulher ou
vice-versa?
Ela soltou um risinho cheio de ironia.
— Século XXI, dona Carla! Não tem mais só esse negócio de “homem e mulher”!
Eu merecia ouvir aquilo.
— O que eu quero dizer é se você ama a Kelly o suficiente para começar um
relacionamento mais sério com ela…
Mica pensou por um instante, enfiou outra colherada do doce na boca, saboreou e
respondeu:
— Acho que sim. Mas, a gente prefere esperar pra ver o que vai rolar, sabe? Não
estamos com pressa. Por enquanto, tem sido divertido eu e ela juntas. Acho que isso que
importa, não é?
Sim, é isso que importa, pensei, embora sem muita certeza se concordava 100% com
aquela afirmação.
Capítulo 33 – Insegurança de meia-idade

CLAUDIA FERRAZ CHEGOU ao andar onde funcionava o meu estúdio perto do


encerramento do nosso expediente aquela tarde e eu a apresentei à toda a minha equipe.
Tínhamos conversado via mensagem de texto o quanto achávamos curiosas as
coincidências que nos conectavam pelo nosso círculo de convivência e como era
impressionante o fato de que trabalhávamos diariamente há anos separadas por apenas
algumas quadras de distância e nunca tivéssemos nos dado conta disso.
A Illuminare ficava localizada no mesmo bairro da A3 e meses antes de eu conhecer
Claudia naquela reunião de pais do Dom Pedro II, eu nunca tinha me atido ao fato de
que a agência pertencia à mãe da melhor amiga da minha filha.
A vida tinha mesmo um jeito muito engraçado de aproximar as pessoas.
A publicitária loira estava usando um vestido justo que lhe caía até um pouco acima dos
joelhos e calçava uma sandália de salto que acentuava as suas panturrilhas. Ainda não
tinha me acostumado à beleza estonteante daquela mulher, e todas as vezes que a via à
minha frente com aqueles olhos verdes brilhantes e aquela pele hidratada, eu não
conseguia controlar o pouco da inveja que sentia dela.
Antes que a copeira fosse embora, eu pedi para que a Alzira servisse um cafezinho para
a minha convidada, e em seguida, ela saiu fechando a porta atrás de si. Do lado de fora,
Nana e Duda davam as últimas instruções para Vincent e Rosana acerca de um projeto
gigantesco de um clube de tiro em que estávamos trabalhando e os dois estagiários as
ouviam com atenção em torno da sua mesa.
— Conversou com a Micaela, Carla?
Claudia e eu tínhamos fofocado via mensagem de texto sobre a minha preocupação com
relação ao namoro entre as nossas filhas. A publicitária tinha confessado que, de início,
também havia ficado um tanto chocada ao flagrar ambas num momento íntimo no
camarote da casa de eventos onde havia acontecido a festa de aniversário de Kelly, mas
que depois havia aceitado bem a nova situação.
— A busquei no colégio e tivemos uma conversa franca. Eu acho que não há muito o
que nós duas possamos fazer nessa situação, Cacau — chamei-a pelo apelido como ela
era mais conhecida por seus amigos —, as duas estão encantadas uma pela outra. Pode
muito bem ser o grande amor da vida delas ou pode simplesmente ser fogo de palha de
adolescente. Quem pode saber?
Claudia sorveu um gole do café de Alzira e assentiu ao meu comentário.
— Não podemos julgar as meninas por quererem experimentar coisas novas. Eu mesma
tive os meus contatos com outras meninas na adolescência e isso não teve qualquer
influência no desenvolvimento do meu caráter. Não é a orientação sexual de uma pessoa
que define quem ela vai ser ou deixar de ser.
Naquele ponto, Claudia era muito mais bem esclarecida do que eu.
— Eu só espero que uma não acabe ferindo os sentimentos da outra nessa brincadeira de
descobertas sexuais e isso acabe reverberando para as suas vidas adultas.
— Se isso acontecer, Carla, nós só poderemos prestar o nosso suporte materno, como
sempre. Não podemos impedir que as nossas meninas vivam as suas vidas tentando
protegê-las dentro de uma bolha eternamente. Elas vão acabar quebrando a cara mais
cedo ou mais tarde, e infelizmente, nós não vamos conseguir fazer com que isso nunca
aconteça.
O escritório já estava vazio do lado de fora da minha sala e apenas o Romeu fazia a sua
ronda costumeira no corredor diante da agência enquanto Claudia e eu emendávamos
um assunto atrás do outro. Fora Nana e Duda que eram as minhas parceiras fieis desde
os tempos da faculdade, eu não tinha grandes amigas com quem pudesse conversar
abertamente sobre qualquer assunto e a publicitária estava suprindo esse vácuo com
bastante propriedade.
Nós duas tínhamos um humor muito parecido e a moça também carecia de boas
companhias femininas. Desde sempre, ela tinha sido muito dedicada a cuidar da sua
agência a fim de que nada faltasse para a filha, e com o passar dos anos, nem percebeu o
quanto havia se isolado das pessoas por conta da sua obsessão pelo trabalho. Quando
olhou para trás, tinha se tornado uma mulher rica, poderosa, bem-sucedida, mas
extremamente solitária.
Durante a nossa conversa animada, Claudia me confessou que o seu coração andava
palpitando mais forte por um rapaz que ela havia conhecido recentemente, e que pela
primeira vez em muito tempo, estava se reabrindo para o amor.
— E o que aconteceu com aquele seu primo carioca gostosão? Não era com ele que
você andava se divertindo?
Ela riu de uma maneira contagiante e se inclinou antes de dizer:
— O Henrique foi um furacão que passou na minha vida para me desestabilizar dos pés
à cabeça, mas com ele nunca foi nada além de pele, de química sexual… eu adoro o
meu primo, mas ele tem a sua noiva Valéria no Rio, tem o seu clube para a prática de
esportes radicais para gerenciar… ele não precisa de uma prima coroa do seu lado para
lhe encher o saco!
Voltamos a rir, mas eu tive que ralhar com ela.
— Para com essa história de “coroa”, Cacau! Você ainda é jovem e maravilhosa. Eu
morro de inveja dessa sua pele hidratada sem nenhuma ruguinha e desse corpo sarado…
quem perde de não ter uma mulher como você ao lado é esse seu primo garotão!
Ela sorriu levemente envaidecida pelos elogios.
— O rapaz com quem eu tenho saído também é mais novo. Tem uns dez anos a menos
— Claudia soltou um suspiro após correr as mãos pelos fios dourados na cabeça —, eu
devo estar naquela fase que chamam de “idade da loba”. Só isso explica eu ficar atraída
por esses meninos tão mais jovens que eu!
— Você ainda nem chegou aos quarenta anos, para de ser doida!
— Não mesmo — admitiu ela, descruzando as pernas na cadeira em frente —, mas eu
estou me sentindo sexualmente muito ativa e em busca de novas experiências. Esse
moço de quem estou falando é uma combinação de tudo que mais me atrai num
homem… sem falar que ele é lindo e gostoso!
Aquele comentário me fez lembrar de alguém que eu tinha conhecido pessoalmente
durante a festa de aniversário da filha de Claudia e puxei o assunto com ela.
— O que acha desse “tio Digo” de quem as meninas tanto falam em casa?
Os olhos de Claudia me fitaram e a sua fisionomia demonstrou certa lascívia quando
mencionei o nome de Rodrigo Monterey, o tal “tio Digo” que Micaela vivia falando em
conversas aleatórias com Kelly.
— Eu o conheci no dia da festa. Tão bonito, educado… e tão sexy!
Ela riu de uma maneira exagerada e voltou a passear as mãos nos cabelos.
— É uma história complicada. Eu só o fui conhecer muito tempo depois que a minha
filha já tinha sido apresentada a ele. Foi durante a festa de casamento da minha irmã
Miriam em Minas Gerais. Ele foi convidado como acompanhante da minha prima
Natalie. Os dois namoram desde novinhos, quando ainda eram adolescentes, e como eu
deixava a Kelly com essa minha prima durante o dia para que pudesse trabalhar, ela
acabou conhecendo o Rodrigo nesse período.
— Então ele é amigo da sua família há muito tempo?
Ela fez que sim com a cabeça.
— E vocês tiveram alguma coisa ou esse sorrisinho bobo no seu rosto quando
mencionei o nome dele é por outra coisa, Cacau?
Ela riu agora de um jeito tímido.
— Como eu disse, é uma história complicada. Tem muita gente envolvida e certas
coisas precisam ser evitadas para não causar desconforto ou sofrimento desnecessário.
Claudia estava reticente, mas era nítido o fato de que ela e o jovem herdeiro da família
Monterey haviam tido alguma espécie de envolvimento num passado não muito
distante, algo do qual ou ela se envergonhava ou achava bom demais para sequer
mencionar. Outro fato que nos relacionava de um jeito muito curioso era que a
Construtora Monterey, empresa que o garoto iria herdar tão logo o seu pai se retirasse
de cena, ficava praticamente do outro lado da rua do prédio onde funcionava a A3, a
apenas alguns passos de distância. Aquela era mesmo uma coincidência impressionante
que antes daquela festa eu nem sequer havia me dado conta.
Alguns dias depois daquela nossa conversa amigável no escritório, ainda influenciada
pela história de estarmos mais maduras e a fim de homens bem mais jovens que nós, eu
decidi policiar os meus horários na agência e voltei a frequentar a academia
regularmente. Por conta da correria diária de projetos infindáveis de arquitetura, eu
havia relaxado em meus treinos e senti que a minha silhueta tinha voltado a se
avolumar, o que obviamente passou a me incomodar.
Eu agora tenho um bofe sarado e gostoso para dar conta, não posso me dar ao luxo de
ficar parecendo uma vaca gorda e inchada, pensei, enquanto corria desesperada na
esteira, pedalava na ergométrica e tonificava os músculos com os halteres da academia.
Numa daquelas noites, ainda no mês de setembro, eu estacionei o carro na garagem de
casa e ouvi vozes muito animadas do lado de dentro. Reconheci o tom escandaloso de
Micaela, a suavidade na voz de Kelly, o português quase perfeito de Nicole, mas não
identifiquei a quarta voz.
O Steve, o Lulu da Pomerania que criávamos há quase dois anos, foi o primeiro a notar
a minha chegada e veio correndo me receber à porta com latidos felizes. Eu ainda estava
vestida com o traje de malha que usava para treinar todas as segundas, quartas e sextas e
trazia num dos braços a bolsa onde guardava os meus pertences do trabalho.

Caminhei acompanhada do Lulu até a sala de jantar e encontrei a minha filha em torno
da mesa a filar de maneira gulosa alguns sanduíches com Kelly, Nicole e mais uma
mocinha muito bonita de cabelos lisos escuros, nariz arrebitado e sardinhas a salpicarem
os seus contornos.

— Oi, meninas.

— Oi, mãe. O pai não veio com você? — Indagou minha filha, ainda sentada à mesa.

— Não, Mica. Esqueceu que hoje ele ia ensaiar com a banda?

Roque tinha se reaproximado dos amigos de faculdade com quem tocava no início da
sua vida adulta e eles agora ensaiavam só por diversão no estúdio musical de um deles o
som barulhento que curtiam na juventude. O meu marido tinha resolvido desempoeirar a
guitarra elétrica que mantinha guardada na casa do velho pai no Brooklin, e desde então,
vinha se divertindo à noite relembrando os tempos de astro de Rock N’ Roll de garagem.

Eu estava faminta àquela hora da noite e me aproximei da mesa do lanche das garotas
com a intenção de roubar um pedaço de peito de peru de cima de uma baixela colocada
ali pela Lourdes.

— Nossa, eu nem posso mais comer essas coisas, mas só o cheiro desse peito de peru já
me dá fome!

Eu abocanhei a fatia após dobrá-la numa trouxinha e ri, como se estivesse envergonhada
em ter acabado de cometer um crime.

— Ai, para, mãe! Você tá magérrima! Uma fatia de peito de peru não vai te matar!

— O problema não é me matar, mas sim me engordar! — Eu estava ficando mesmo


neurótica com aquela ideia de ficar fora de forma novamente, mas caí no riso levando a
situação para um lado cômico. Nicole e a mocinha de cabelos pretos me acompanharam
nos risos.
Assim que terminei de saborear a minha fatia de peito de peru, eu fui até a Kelly e
cumprimentei a menina de maneira amorosa, lhe dando um beijo no rosto. Agora que
todos já estavam mais confortáveis com a situação envolvendo o seu relacionamento
com Micaela, não custava nada demonstrar o meu apoio às duas. Aproveitei para
lembrar a garota:

— Fala pra sua mãe que o cineminha quinta-feira tá de pé, viu, Kelly? Não esquece.

— Digo sim, tia Carla — respondeu Kelly, sempre educada e meiga.

— Agora deixa eu subir pra tomar um banho e dar uma relaxada. Fiquem à vontade,
meninas. E Mica, não deixa ninguém sair muito tarde daqui de casa. Essa cidade é
muito perigosa à noite.

Micaela fez um sinal de continência junto à têmpora direita, e em seguida, eu comecei a


subir as escadas de casa com o Steve a me acompanhar. Enquanto alcançava o piso
superior, a voz da garota Michele, a mocinha de cabelos escuros que até então eu não
conhecia direito, soou lá embaixo, alta o suficiente para que eu escutasse:

— Sua mãe é ainda mais linda de perto, Mica.

— A minha mãe é uma gostosa, isso sim!

Aqueles elogios fizeram muito bem ao meu ego e eu parti para o meu banho
cantarolando de tão feliz.
Capítulo 34 – O martírio

EU TINHA ME SERVIDO de uma taça de vinho e havia voltado à sacada do prédio


para admirar o caos da cidade. Estava absorta em meus pensamentos quando os dedos
firmes de Gilson seguraram em minha cintura. Ele colou o seu corpo no meu e eu senti a
intumescência da sua virilidade em minha bunda, enquanto ele virava o meu rosto e me
roubava um beijo.

— Não vai se jogar daqui, vai, amor?

A sua pele ainda tinha o meu perfume e me senti protegida por seu abraço
aconchegante.

— E te deixar aqui todo gostoso para outra aproveitar? Nem pensar!

Me virei de frente para ele e nos beijamos como sempre: com as nossas línguas
agitadas, trocando saliva, causando erupções vulcânicas por todo nosso corpo.
Equilibrei a taça e assim que os lábios dele se separaram dos meus, eu sorvi o restante
da bebida.

— Você gostou de hoje?

A pergunta era repentina, mas eu não titubeei em responder aquilo que era óbvio em
meu semblante:

— Eu não gostei. Eu adorei!

Deixei a taça sobre a amurada e abracei Gilson. Aninhei a minha cabeça naquele peito
largo e ele ficou acariciando os meus cabelos. O seu coração batia agitado quase como
que se ele estivesse adivinhando o que eu iria dizer em seguida.

— Preciso voltar para casa, Gil. O meu marido e a minha filha já devem estar
preocupados.

Eu tinha alugado aquele apart-hotel para os nossos encontros casuais e havia botado na
conta da A3 para que Roque não acabasse descobrindo inspecionando os meus gastos
com o cartão de crédito. Tínhamos dinheiro o suficiente para que as inspeções de contas
não fossem necessárias, mas eu não queria que o meu marido soubesse sobre o Gilson.
Pelo menos não tão já. Estávamos tendo aquele caso há seis meses e eu me sentia cada
dia mais envolvida por ele.

— É sempre triste te ouvir dizer isso.

— Eu sei, amor, eu sei — e eu lhe dei um selinho —, mas por enquanto, tem que ser
assim. Precisamos manter o nosso namoro em segredo pra não machucar ninguém.
Você não contou nada à Nádia, contou?
Não era a primeira vez que eu desconfiava da sua lealdade a mim e ele pareceu
desconfortável em ter que me responder aquilo mais uma vez.

— Já te disse que a minha irmã não sabe de nós e nem vai saber. Confia em mim.

Eu estava ficando um pouco paranoica com aquela situação inédita para mim e o
abracei, buscando a sua proteção. Ficamos um tempo juntos ainda naquela sacada, mas
logo nos movimentamos para o interior do apartamento e começamos a arrumar tudo
para partir.

Nós nos despedimos à porta do lugar, de frente para a Rua Vergueiro onde tínhamos nos
acostumado a nos encontrar nos últimos meses, e cada um seguiu para o seu lado de
carro. Ele para o Jardim Novo Mundo, eu para a Saúde.

A minha mente estava agitada aquela noite e o caminho para casa foi cheio de reflexões
e paranoias. Eu não era mais completamente feliz ao lado de Roque e tinha encontrado
nos braços de um judoca pobretão a solução daqueles anos de carência e necessidades.
Eu sabia bem que jamais conseguiria construir uma vida ao lado de Gilson —
especialmente, porque ele era quase dez anos mais jovem —, mas estava difícil
continuar a ser ignorada por meu marido que, agora, parecia ter encontrado outra
prioridade em sua vida que não o nosso casamento.

No fundo, eu ainda acreditava que uma conversa franca e sincera poderia colocar o
nosso matrimônio nos trilhos, mas me faltava coragem de iniciá-la. Por enquanto, eu
queria continuar ao lado de Gilson, pois era com ele que eu havia feito as pazes com a
minha autoestima e restabelecido a vontade de sentir prazer sem culpa,
independentemente de o quanto ele tinha de dinheiro na carteira.

Me parecia justo.

Assim que o meu carro apontou na esquina de casa e eu acionei o portão eletrônico
remotamente, deu para ouvir os latidos do Steve na parte de dentro da residência.
Estacionei o meu Tiguan ao lado do Corolla Cross de Roque na garagem e já estava
pensando numa desculpa boa o bastante para dar que justificasse o horário em que
estava chegando em casa.

Como de praxe, Steve correu para me receber à porta abanando o seu rabo e eu lhe fiz
um carinho entre as orelhas já dando uma olhada para dentro de casa. A TV estava
ligada sintonizada num canal de filmes e vozes animadas ecoavam em direção à porta.
Roque e Micaela estavam fazendo companhia um ao outro sentados lado a lado no sofá.
Uma tigela de pipoca jazia vazia sobre a mesa de centro a uns dois metros deles e
haviam latas de refrigerante espalhadas sobre o tapete persa que eu havia ganhado de
presente da minha mãe no último Natal.

— Demorou, dona Carla Alencar Castilho!


Steve me acompanhou até o suporte de vidro onde eu deixava a chave do carro, depois,
me seguiu bamboleando o quadril até perto do sofá. Me inclinei para cumprimentar
Roque lhe dando um beijo no rosto e beijei também a testa de Mica, a respondendo:

— Estou até as tampas de trabalho na A3, filhota. Não estou conseguindo mais sair cedo
por causa disso.

Eu ainda estava impregnada do perfume masculino de Gilson em minha pele e tive


receio que um dos dois acabasse percebendo. Me afastei rapidamente de ambos e senti
os olhos verdes do meu marido pregados em mim de uma maneira esquisita.

— Eu liguei na agência não tem nem uma hora e ninguém atendeu, Carla.

Eu tinha sido pega na mentira e fui obrigada a improvisar.

— É, eu dispensei a secretária mais cedo. Estávamos só eu, a Nana e a Duda no


escritório. Acho que nem ouvimos o toque do telefone…

Eu comecei a subir as escadas até o andar de cima com medo que qualquer um dos dois
me interrogasse mais a respeito do avançado da hora e mandei que o Steve voltasse a se
deitar em sua cama, no canto leste da sala. O cãozinho me observou por um instante
como que absorvendo a mensagem de que não era para subir atrás de mim, deu uma
volta de 360° em torno de si mesmo e retornou para a sala.

As vozes animadas de Roque e Mica continuaram a soar por algum tempo enquanto o
filme de ação barulhento que eles assistiam quase encobria o que diziam. Liguei o
registro do chuveiro e não demorei a entrar embaixo d’água enquanto a minha mente
fervia em decorrência do peso que começava a carregar pelas mentiras cada vez mais
frequentes que tinha que inventar para a minha família. O meu caso com o judoca já se
estendia por mais tempo que eu imaginava que fosse durar no início e eu estava me
sentindo perigosamente conectada a ele.

“Poderíamos nos mudar de vez pra cá. Não quero mais ter que te dividir com o seu
marido”.
Aquela frase ecoava dentro da minha cabeça enquanto eu me mantinha inclinada e
imóvel deixando a água descer pela minha cabeça, encharcando os meus cabelos
castanhos.
Roque e eu não estamos mais nos entendendo. Ele tem preferido as estagiárias da
empresa ou qualquer outra vagabundinha de peitinho empinado e bundinha em pé…
Eu não sou mais uma prioridade para ele… E o Gil me trata tão bem… Ele é tão
carinhoso…
Eu tinha deixado a porta corrediça do box aberta e o som de uma batida no vidro
temperado me tirou dos meus pensamentos conflitantes.
— Problemas na agência, amor?
Roque estava parado com a cabeça a trinta centímetros para dentro do box e eu tomei
um susto quando empurrei os cabelos molhados para trás e o vi ali a me encarar. Entrei
em pânico só em pensar se o Gilson não havia me deixado alguma marca visível de
chupada ou arranhão em meu corpo e me esquivei para mais perto do jato de água que
descia do chuveiro. Daquela distância, eu sabia que não faria a menor diferença.
Qualquer marca em minha pele clara, por menor que fosse, estaria ao alcance dos olhos
do meu marido.
— Vários, na verdade — respondi, mal conseguindo disfarçar a minha apreensão em ter
Roque tão perto de mim.
— Tem algo que eu possa fazer para ajudar?
Ele estava estranhamente solícito aquela noite. Tinha fixado os seus olhos nos meus e
não desceu para o meu corpo nu em nenhum momento.
Graças a Deus! Pensei, um pouco aliviada.
— Não precisa se preocupar, amor. Eu só preciso relaxar um pouco. Me deixa terminar
o meu banho. Já falo contigo, tá?
Roque assentiu e quando se afastou da porta do box, a minha pulsação começou a
desacelerar. Analisei a minha pele de cima a baixo tentando encontrar alguma possível
marca deixada em meu corpo pelo meu amante, mas por sorte, ele havia me obedecido
como sempre e não tinha exagerado nem nas sugadas e nem com os arranhões.
O Gilson é um bom menino, pensei, me dando ao luxo de relembrar nós dois na cama
dentro do flat há poucas horas.
Depois do banho, eu fui até a cozinha beliscar as sobras do jantar que a Lourdes havia
feito para o Roque e a Mica e me contentei em comer um pouco de arroz com um
pedaço de tofu e algumas folhas de escarola.
Enquanto comia, ouvi as passadas leves de Mica subindo em direção ao quarto no andar
de cima e a menina me desejou boa noite com um grito. Respondi no mesmo tom e
terminei o meu prato alguns minutos depois.
Larguei o prato sujo e os talheres dentro da cuba da pia sem muita paciência para mexer
com detergente e água, depois, caminhei até a sala. Roque continuava em frente à
televisão, desta vez, assistindo a um noticiário noturno, e não o quis incomodar. Subi de
fininho para o meu quarto e uma vez lá dentro, me pus debaixo dos lençóis a refletir
sobre tudo que havia acontecido aquele dia.
Voltei a pensar na frase de Gilson me pedindo para morar com ele no flat, suspirei em
meu travesseiro me recordando dos nossos momentos ternos, do sexo avassalador que
me satisfazia cada dia mais e da minha incrível vontade de me entregar de vez àquela
paixão retumbante que me apertava o peito.
Passei quase uma hora ali sozinha sem que o sono viesse e quando voltei a mim, Roque
estava se deitando ao meu lado e as suas mãos começaram a me procurar por baixo do
lençol. Ele tocou o meu quadril, puxou de leve o short que eu usava e alisou a minha
coxa. Eu não estava com desejo aquele momento e decidi fingir que estava dormindo
para que ele parasse de me tentar. Quando ele finalmente desistiu e se virou de costas
para mim, o meu peito voltou a se encher de angústia e eu comecei a chorar baixinho.
Capítulo 35 – Amor e Poder

A SAÍDA REPENTINA DO MEU irmão Renato da diretoria da construtora pegou a


todos de surpresa e foi um baque imenso na estrutura da nossa família que se viu, de
repente, tendo que lidar com uma crise de poder interna que nos afetou profundamente.
O primogênito de Jaime Castilho havia praticado um sem-número de atos ilícitos em
seu cargo de diretor que, apesar de beneficiar a Suares & Castilho de modo direto,
estava prejudicando várias pessoas, principalmente, aquelas ligadas às nossas rivais da
Construtora Monterey e da Constrular, as outras duas grandes empresas do ramo de
construção civil/urbana no Brasil.
Flagrado tentando invadir ciberneticamente os servidores dos grupos rivais no intuito de
roubar dados preciosos de contratos com clientes comuns entre as empresas de
construção e visando minar as chances da concorrência, o meu irmão chegou a sofrer
um princípio de infarto quando foi confrontado acerca dos seus crimes e viu como única
saída entregar o cargo de diretor, vendendo assim os seus 15% para o meu outro irmão
Mauro, que não tinha nada a ver com aquela história suja de invasão hacker.
Todos nós tínhamos ficado profundamente decepcionados com a atitude leviana de
Renato que, ameaçado à frente da diretoria pelo poder cada vez mais crescente do CEO
João Suares, se viu pressionado a agir de maneira a garantir alguns pontos com o
chefão.
O tiro tinha saído pela culatra, uma vez que por causa dos seus atos criminosos, Renato
tinha assanhado ainda mais a fúria de Suares contra os Castilho. Uma verdadeira guerra
fria teve início a partir disso no interior das quatro torres envidraçadas do conglomerado
que atualmente formava a antiga construtora do meu pai e ninguém estava seguro o
suficiente, nem mesmo eu.
Os rescaldos da guerra declarada por João Suares aos meus irmãos estavam atingindo a
A3 diretamente já que boa parte dos clientes que assinavam contrato com a minha
agência provinham do trabalho realizado pela construtora S&C, e aquele foi um período
de muita ansiedade e medo pelo que viria no futuro. Pelo menos uma dezena de clientes
havia se recusado a entregar seus projetos arquitetônicos em minhas mãos por conta da
desvalorização das ações da construtora no mercado — embora o escândalo sobre
ciberterrorismo tivesse sido abafado, a saída de meu irmão da diretoria tinha causado
impacto negativo nos ativos da empresa — e aquilo me fez perder muito dinheiro num
mesmo mês.
João Suares queria, mais do que nunca, adquirir a porcentagem de ações que ainda
cabiam a mim, a Elisa, a Mauro e aos demais acionistas que haviam adquirido suas
partes na época em que meus irmãos haviam aberto o capital da empresa, tentando
evitar uma falência no início dos anos 2000, e pelo que se conhecia do velho
empresário, ele não descansaria enquanto não expulsasse cada um dos Castilho do
prédio que ele considerava seu por direito.
Em paralelo aos tempos ruins na S&C, a A3 – Design e Arquitetura ainda tinha muita
demanda de serviços para atender fora do circuito de clientes provenientes da
construtora da família e o volume de trabalho nunca estivera tão grande. Vincent e
Rosana haviam se adaptado bem ao escritório e costumavam trabalhar de casa na maior
parte do tempo, visitando a sede da agência só em conclusão de projeto, para receber o
feedback dos clientes atendidos ou para se informar sobre o briefing dos próximos
trabalhos.
Com a ausência de Solange à frente das atividades envolvendo design de interiores já
que agora ela precisava ficar 100% focada nos projetos que envolviam apenas a S&C,
eu precisei correr atrás de uma nova designer que pudesse me auxiliar integralmente
dentro da empresa e a substituta da minha cunhada surgiu por intermédio do meu antigo
vínculo com o presidente da empreiteira Ao Cubo, a quem eu considerava praticamente
o padrinho do meu casamento com Roque.
— Nós temos sido parceiros há algum tempo de maneira informal, minha cara, e eu
soube que as relações com a construtora do seu pai andam estremecidas — a demissão
de Renato e a queda do valor das ações da S&C no mercado tinham acontecido há muito
pouco tempo e eu estava admirada de que as notícias já tivessem corrido tão
rapidamente no mundo dos negócios —, gostaria de lhe propor um contrato exclusivo
entre a Ao Cubo e a A3 para que a sua agência se torne a única a lidar com toda a parte
arquitetônica e de design dos nossos projetos. Você sabe o quanto eu a estimo assim
como ao seu marido. É por essa razão que estou lhe propondo essa parceria.
Aquela era uma ótima notícia. Um contrato exclusivo com uma empreiteira tão
renomada quanto a que Pedro Augusto de Alcântara e Albuquerque comandava com
toda a sua experiência seria um avanço muito grande para a aquisição de contratos de
trabalho da A3, porém, eu sabia que havia algum tipo de ressalva. Do outro lado da
linha ele fez uma pausa e falou:
— Você sabe que eu tenho uma filha caçula a quem eu prezo muito e que decidiu
enveredar pelo caminho do design, assim como o seu pessoal, Carla — ele deu um
risinho que soou como um deboche —, por essa razão, eu gostaria que você integrasse a
minha garota em sua equipe como parte do nosso acordo de exclusividade.
Eu não conhecia a filha de Pedro Augusto pessoalmente e nem era de contratar
funcionários que não passassem pelo meu próprio crivo de qualidade específico, mas
considerei a possibilidade tendo em vista o quão lucrativo o contrato com a Ao Cubo
poderia ser. Na pior das hipóteses, mesma se a garota fosse um verdadeiro peso-morto
para o meu escritório, ela ainda serviria como ligação direta com o pai, o que facilitaria
bastante a nossa relação de trabalho.
Algum tempo depois daquela conversa por telefone, a jovem designer se apresentou a
mim, à Nana e à Duda na A3 e nós passamos a conhecer de perto Bárbara de Alcântara
e Albuquerque.
Diferente do que eu imaginava, Bárbara não era a filha fútil e menos talentosa entre os
três filhos de Pedro Augusto, e logo em seus primeiros trabalhos com a minha equipe,
ela se mostrou uma garota muito antenada com todo o cenário envolvendo construção
civil, arquitetura, design de interiores, empreiteiras e afins. Era muito esperta e focada e
eu percebi logo que tinha feito um julgamento preconceituoso sobre ela antes mesmo de
conhecê-la.
Sempre tinha ouvido falar que a garota não passava de uma “loira-burra” sem talento
algum que apenas surfava na grana da família influente, mas a conhecendo de perto, vi
que aquelas informações eram absurdamente infames e que não condiziam com a
realidade.
Assim que começou a pegar o jeito de como as coisas funcionavam na A3, a moça com
jeito de modelo de passarela literalmente “vestiu a camisa da empresa” e passou a ser
um importante e valoroso membro da equipe.

Foi numa daquelas tardes agitadas de trabalho no nono andar do prédio onde
funcionávamos que uma visita inesperada me pegou totalmente desprevenida e sacudiu
o meu coração dentro do peito. Eu estava sentada atrás da minha mesa e pela porta de
vidro da sala, eu o vi entrar pela recepção e se dirigir até a irmã Nádia. Gilson estava
usando uma camiseta preta justa no corpo e aqueles músculos maravilhosos saltavam
pelo tecido.
Eu não tinha nada para fazer do lado de fora, mas quando o vi, foi como se tivesse sido
atraída até ele. Andei até o meio da recepção, ajeitei alguns catálogos de arquitetura que
encimavam a mesa de centro perto dos sofás de espera e passei próximo aos dois irmãos
Lins como se fosse dirigir alguma ordem à moça atrás da escrivaninha. Os seus olhos se
voltaram para os meus e eu o cumprimentei sem conseguir evitar um sorriso largo.
— Oi, Gilson. Há quanto tempo!
Nós dois costumávamos nos encontrar todas as terças e sextas no meu flat alugado e
estávamos numa quinta-feira. Eu mal conseguia controlar a minha ansiedade de cair em
seus braços para transar com aquele monumento em forma de homem e vê-lo ali fora do
tempo me deixou levemente eufórica.
— Faz mesmo — ele conseguia ser bastante dissimulado quando queria na frente da
irmã —, eu vim trazer uma correspondência que chegou com urgência lá em casa para a
Nádia. Eu acho que é sobre a pós-graduação de Administração que ela tanto queria
fazer. A universidade respondeu por carta.
Nádia estava segurando um envelope pardo etiquetado com três selos vermelho e branco
em sua superfície. Correu a ponta do abridor de cartas na parte superior do papel e abriu
o invólucro com um sorriso de felicidade na cara bonita.
— Eu fui aprovada no processo seletivo. Eu ganhei uma bolsa integral para cursar a
minha pós-graduação!
Nádia era uma moça muito competente a quem eu tinha desenvolvido um carinho muito
grande, além da nossa relação patroa/empregada. Eu sabia o quanto ela desejava voltar a
estudar após a sua estagnação por conta da falta de tempo para conciliar trabalho/estudo
e eu fiquei realmente muito feliz por aquela notícia. Nem tinha percebido o quanto
havia me empolgado e me apoiei no ombro de Gilson assim que a felicitei.
— Parabéns, Nádia. Você merece.
— Obrigada, Carla. Isso significa muito pra mim.
Depois de sugerir algumas mudanças no horário de trabalho da minha funcionária a fim
de que ela pudesse frequentar as aulas presenciais sem que para isso precisasse deixar a
agência, eu retornei para a minha sala logo depois de deslizar de leve os meus dedos nas
costas de Gilson de um jeito discreto. Ele me olhou com aqueles olhos gulosos tão logo
me afastei e eu comecei a rezar para que a sexta-feira chegasse logo. Eu queria muito
me entregar a ele e só conseguia pensar nisso.
Capítulo 36 – Mea-culpa

EU ESTAVA SEDENTA aquele início de noite e mal consegui conter a minha


ansiedade em me jogar nos braços de Gilson quando chegamos ao flat. Largamos os
nossos sapatos num canto perto da porta, ele apagou a luz da entrada e seguimos com
pressa para o quarto.
Os seus braços tesos envolveram o meu corpo por trás enquanto ele se inclinava em
minhas costas apertando os meus seios com volúpia e virando o meu rosto a fim de me
beijar intensamente, deixando escapar a saliva que escorria da sua língua.
Agi de maneira a facilitar o seu trabalho e desabotoei a minha calça, deixando a
gravidade fazer o resto.
— Eu não aguento mais conter o tesão que sinto por você, meu amor.
Os dedos grossos começaram a puxar a minha calcinha numa tentativa desesperada de
me desnudar. Senti a pressão causada por seu membro duro em minha bunda e quase
nem conseguia respondê-lo, ofegante.
— Eu estou aqui, meu amor. Eu sou toda sua. Todinha sua!
Gilson me arrancou a roupa toda e me botou de quatro em cima da cama sem qualquer
esforço. Eu era uma mulher relativamente pequena em comparação ao seu porte físico
musculoso e todas as vezes que ele me pegava era como se eu não pesasse nada.
— De quatro, assim! Arrebita bem, minha gostosa. Desse jeito!
Senti seus dedos circundarem a minha bunda pouco antes da glande beijar a minha
vagina e se umedecer do mel que já vertia de mim. Sempre que eu pisava os pés naquele
flat era como se o meu corpo já soubesse o que viria a seguir e eu começava a lacrimejar
por baixo de maneira quase incontrolável, só esperando para ser coberta.
— Me pega com força, Gil. Me come com vontade!
Ele direcionou a cabeça entre os meus lábios e empurrou sem muita força até eu me
acostumar com a espessura. Assim que o meu primeiro gemido ecoou, o judoca passou
a me furar com toda a sua gula, me comendo como se eu fosse uma fonte de petróleo a
ser perfurada por aquela tora roliça.
FLAP! FLAP! FLAP! FLAP! FLAP!
O som das socadas retumbava dentro do quarto reverberando nas paredes e móveis ao
nosso redor. Os dedos dele estavam cravados nas minhas ancas. O meu rosto começou a
bater contra o colchão comigo virada com a bunda para cima. Era a melhor sensação do
universo.
— Oh, Deus! Assim, Gil! Que tesão! Continua, continua…
Gilson enterrou a sua ferramenta até o talo dentro de mim e não me poupou de tapas que
ecoavam em minhas nádegas me dando ainda mais prazer.
— M-Mais forte… eu… eu quero gozar!
O meu primeiro gozo veio com a força precisa para que eu sentisse um choque percorrer
cada milímetro da minha pele e as minhas pernas deram uma fraquejada. Gemi com
uma satisfação explícita em meu tom e o olhei por cima do ombro evidenciando o
quanto aquilo tinha sido bom.
Gilson se desengatou de mim com aquele pênis duro já impregnado do néctar que ele
mesmo havia colhido da minha vagina e o empurrou em direção à minha boca para que
eu o provasse. Como eu tinha dito antes, eu estava sedenta. O agarrei sem hesitação, o
masturbei com uma das mãos e o engoli quase todo lhe presenteando com sugadas
delicadas alternadas com chupadas mais intensas no contorno da glande. Não perdi os
seus olhos castanhos de vista nem por um segundo.
— Isso, sua safada! Chupa gostoso! Isso! ISSO!
Menos de vinte minutos depois, estávamos novamente atracados, desta vez, com ele por
cima de mim me esmagando com aqueles seus noventa quilos de massa muscular, sem
me dar chance de respirar entre um beijo sufocante e outro que me aplicava.
Eu tinha me arreganhado inteira para suportar a pressão das macetadas entre as pernas e
aquele menino parecia uma maldita máquina de foder. Quando metia, não queria tirar de
dentro.
FLAP! FLAP! FLAP! FLAP! FLAP!
As minhas unhas se cravavam em suas costas a cada novo orgasmo que ele me causava
e num deles, lágrimas chegaram a escorrer dos meus olhos tal foi a intensidade. A sua
língua calava os meus sussurros suplicantes quase a toda hora e era difícil pensar em
qualquer outra coisa enquanto ele me cobria daquela sua maneira tão peculiar e tão viril.
— Acaba comigo, Gil… por favor… Eu tô quase gozando de novo…
A minha perna tremeu quando ele engrenou uma sequência de bombadas fortes que
passaram a ecoar dentro da minha buceta. O som do “flap-flap” estava cada vez mais
alto e eu cada vez mais ensopada. Eu estava sendo castigada pela volúpia do meu
amante e tudo que eu mais queria era continuar a ser açoitada por aquele chicote rígido
entrando e saindo de mim. Entrando e saindo. Entrando e saindo.
Naquela noite, eu deixei que Gilson terminasse o serviço dentro de mim e após duas
horas de intensa atividade atlética, ele se esvaiu em sêmen, me preenchendo a tal ponto
que chegou a escorrer para fora.
Ficamos por mais uns cinco minutos completamente suados e agarrados apenas
observando um a expressão de desejo no rosto do outro. Eu estava completamente
apaixonada por aquele vigor másculo de homem viril que exalava dos poros do judoca.
Passaria dias só sentindo aquela masculinidade intensa me tomando com força e
vontade sem nem enjoar e eu estava começando a considerar fortemente aquela sua
sugestão de que mandássemos todo o resto à merda e fossemos morar juntos para
sempre.
Num dos intervalos entre uma transa e outra, Gilson se sentou na cama ainda pelado e
ficou a acariciar o meu corpo quase como numa massagem erótica. Ele gostava dos
meus peitos e nunca perdia a oportunidade de apertá-los ou aplicar beijos em cada um
deles sempre que ficávamos mais à vontade.
— A Nádia me disse uma vez que você tinha uma namorada na época do Ensino Médio,
Gil. O que aconteceu com ela? Por que não deu certo?
Ele não desviou os olhos da altura dos meus mamilos enquanto os acariciava e só
respondeu:
— Ela era uma garota extremamente possessiva. Queria controlar cada passo que eu
dava sem que ela estivesse por perto. Checava as minhas redes sociais de minuto em
minuto, ameaçava as minhas amigas mandando que elas se afastassem, ficava de cara
feia quando me via conversando com qualquer pessoa do sexo feminino na rua… era
um inferno!
Afastei os meus braços o incentivando a continuar com os carinhos em meus peitos.
— Como ela se chamava?
— Milena.
— E você não a amava?
— Mais do que tudo no mundo.
Ele tinha ficado com o semblante levemente entristecido.
— E vocês nunca mais se viram depois do término?
— Várias vezes. Ela nunca se conformou que o nosso namoro acabou. Me pediu para
que voltássemos a ficar juntos um monte de vezes, mas nunca vi qualquer possibilidade
de que isso acontecesse. Eu gostava muito dela, mas a maneira como ela me sufocava
acabou minando o que eu sentia aos poucos. Sempre fui um cara fiel ao longo do nosso
relacionamento. Eu a respeitava como a minha garota. Vivia rodeado das amigas da
minha irmã para todo o lado, mas nunca quis saber de nenhuma delas. O meu lance era
com a Milena e só com ela.
Achei aquele comentário extremamente sincero, além de fofo. Me sentei na cama ainda
sentindo os músculos das pernas doloridos por conta dos nossos exercícios pervertidos e
o beijei na boca antes de dizer:
— Tomara que você continue com esse pensamento de fidelidade à sua nova namorada.
Eu morreria se soubesse que você está me trocando por qualquer outra vadia.
Ele me olhou de um jeito desconfiado e de sobrancelhas arqueadas, comentou:
— Vai começar a checar as minhas redes sociais e ameaçar as minhas amigas também?
Fiz que sim com a cabeça.
— E vou mandar dar uma surra em cada vagabunda que ousar chegar perto de você.
— Até a minha irmã?
Eu parei de encenar e caí no riso.
— Não, a Nádia não. Eu ainda preciso dela para atender as minhas ligações e
recepcionar os clientes da agência.
Nós caímos no riso e ele me abraçou sabendo que tudo aquilo tinha sido falado apenas
da boca para fora.
Depois daquela pausa, Gilson se recuperou do último orgasmo, e mais uma vez ereto,
quis aproveitar o pouco de tempo que ainda tínhamos para brincar juntos dentro do flat.
Estava com vontade de fazer sexo anal e eu não vi problema algum em ceder ao seu
pedido. Por sorte, eu tinha um ótimo lubrificante guardado num dos armários do
banheiro e eu o deixei me lambuzar inteira antes de começar a me cobrir com força até
bem perto das onze horas da noite.
Naquela sexta-feira, eu cheguei por volta da meia-noite na Saúde e quando entrei em
casa, o silêncio reinava tanto na sala quanto no corredor dos quartos do piso superior.
Fiz voz infantil para cumprimentar o Steve que ficou saltando com as suas patinhas
frontais em minhas pernas e apanhei alguns biscoitos caninos na cozinha para
recompensá-lo por sua lealdade.
Me senti aliviada por saber que nem Roque e nem Micaela estavam acordados àquela
hora para me ver chegar tão tarde e retirei os meus sapatos ainda no térreo para que o
ruído dos saltos não os alarmassem enquanto eu subisse as escadas.
Andei devagar até a porta da minha suíte e foi só eu chegar perto da maçaneta para que
a luz do lado de dentro se acendesse.
— Trabalhando até mais tarde de novo, Carla?
Roque estava sentado na cama com a metade de baixo do corpo coberta pela colcha e o
seu semblante era sério. Tinha um romance policial chamado “O Crime da Rapieira”
aberto com as páginas marcadas sobre o colo e a sua mão estava na direção do
interruptor de luz.
— Eu… Eu dei uma esticadinha com as meninas até um barzinho depois do expediente.
Eu tinha começado a ficar descuidada em minhas últimas escapadas até o flat e tinha
passado a voltar cada vez mais tarde para casa, em especial, nas sextas-feiras após a
academia. Meu marido estava começando a ficar desconfiado.
— Custava avisar que iria chegar mais tarde?
Franzi o cenho e o respondi com um pouco de rispidez:
— Agora vai querer controlar os meus horários?
Ele me observou por um tempo sem dizer nada. Apontou em direção à parede que
separava o nosso quarto do de Mica e disse:
— Não sei se esqueceu, mas você tem uma filha adolescente em casa. Se você não der o
exemplo a ser seguido, quem é que vai?
— Como se você deixasse a Mica ouvir qualquer um dos meus conselhos com todos os
seus mimos e a sua permissividade!
Eu tinha ficado zangada com aquela cobrança excessiva, mas parte de mim estava
apenas respondendo ao peso que eu carregava diariamente por conta da minha
infidelidade. Desde que havia descoberto que Roque vinha me traindo com inúmeras
estagiárias da Suares & Castilho, eu tinha me tornado mais insensível às opiniões dele,
mas não o bastante para não sentir a culpa por estar agora no papel da traidora, da
adúltera.
Sem dizer mais nada, eu joguei a minha bolsa num canto e me encaminhei até o
banheiro da suíte. Me despi das minhas roupas, acionei o registro do chuveiro e comecei
a refletir sobre o que estava fazendo da minha vida enquanto a água morna rolava pelo
meu corpo.
Me distraí o suficiente para não notar a sua presença à porta. Como da outra vez, Roque
estava a me observar do lado de fora do box, mas tinha uma expressão mais serena no
rosto do que aquela com a qual me recepcionou ainda há pouco.
— Me desculpa, amor. Eu não tenho o direito de te cobrar nada. As coisas devem estar
infernais na agência assim como na construtora. Não posso te culpar por querer
extravasar com as suas amigas depois do trabalho.
Eu não sabia o que responder. Roque deu um passo além da porta começando a encarar
o meu corpo nu de uma maneira estranha. A sua voz antecipou o toque da sua mão em
minhas costas, correndo devagar os dedos em minha pele.
— Eu tenho sentido a sua falta. As coisas andaram estranhas ultimamente entre nós…
Eu acabei deixando que os problemas me afastassem de você… Mas eu ainda sinto
desejos pela minha mulher.
Roque não se limitou a me acarinhar à distância. Deu mais um passo e logo estava
encostado em mim, vestido com uma camiseta branca e um calção fino.
— Roque… eu tô tomando banho… por que não espera…?
Sem dizer mais nada, o meu marido me puxou pela cintura de uma maneira bastante
pungente e colou os seus lábios nos meus. Eu ainda estava com o gosto de Gilson
impregnado na minha língua e me afastei tentando evitar que Roque percebesse de
alguma maneira que eu havia estado quase que a noite inteira na companhia de outro
homem.
— Eu sinto tanta falta dessa sua bunda gostosa, desses peitos lindos… oh, meu amor!
Roque arrancou o short botando para fora o pênis já totalmente endurecido. Não me
deixou dizer muito mais coisas e se meteu entre as minhas pernas com um ardor ao qual
eu não estava mais acostumada.
— De… Devagar, Roque… espera um pouco…
Ele me empurrou contra a parede do box e se comprimiu contra o meu corpo enquanto
me apunhalava com seu pau a primeira vez, a segunda, a terceira…
— Oh, essa buceta quente! Meu Deus, que saudades dessa buceta quente!
Minhas costas começaram a bater contra o vidro. Sem alternativas, o segurei pelo
ombro enquanto a água que caía do chuveiro encharcava a malha branca da sua
camiseta.
— Mais devagar, Roque, por favor… Humm!
Eu estava extremamente sensível entre as pernas por conta das horas ininterruptas de
sexo com Gilson, mas não podia dizer aquilo ao meu marido. Fechei os olhos, apertei
meus dedos ao redor dos seus ombros rijos e só o deixei me penetrar.
Nós dois estávamos enfrentando um dos piores momentos do nosso relacionamento de
quase duas décadas, mas ele ainda era o homem com quem eu havia me casado. Por
mais que eu não quisesse admitir, ainda era extremamente apaixonada por ele, não
importasse a quantidade de traições a que ele havia me submetido ao longo de todos
aqueles anos.
— Ainn, Roque… Assim… Ainnn!
Eu queria odiar aquele ruivo desgraçado, mas ele ainda era o dono absoluto do que eu
tinha entre as pernas e ninguém sabia mexer comigo tão bem quanto ele, nem mesmo o
meu lindo e gostoso amante atlético.
Naquela noite, Roque e eu transamos por quase uma hora dentro do banheiro da nossa
suíte e o sexo teve um delicioso gosto de reconciliação.
Capítulo 37 – Fins que justificam os meios

EU TINHA PASSADO AQUELE FIM de semana inteiro em conflito sobre o meu caso
com Gilson Lins e o acordo de paz — embora forçado — de Roque embaixo do
chuveiro. O meu marido tinha se tornado mais atencioso e bondoso comigo
praticamente da noite para o dia e nós dois passamos o sábado e o domingo num clima
muito gostoso de casal de namorados recém-reconciliados.
Apesar de tudo isso, a minha mente não parava de me lembrar da sonsa daquela
secretária jovenzinha no escritório da diretoria da minha irmã dizendo na minha cara
que ela e o meu marido mal tinham se visto no final de semana em que ele passou em
Goiânia, sendo que a verdade era que a vagabunda tinha feito até um ménage à tróis
com ele e o outro engenheiro da construtora chamado Antunes.
Eu sabia que Roque não era nenhum santo e que a sua libido exagerada havia feito com
que ele pulasse a cerca do nosso casamento por mais de uma vez, porém, eu também
não era mais inocente naquela história e tinha ficado verdadeiramente balançada pelo
charme quase irresistível do irmão sarado da minha secretária.
Se por um lado a minha consciência me mandava engolir as suas traições aceitando
mesmo que o Roque era o homem da minha vida e que por isso eu não devia me separar
dele, por outro lado, a voz tranquila de Gilson me pedindo para largar o meu casamento
para ficar de vez com ele me atormentava como uma tentação que ia e vinha várias
vezes ao longo do dia, tirando o meu juízo.
Eu estava a ponto de explodir sem saber para que lado a minha felicidade pendia mais e
alguns dias depois, a decisão foi tirada das minhas mãos de uma maneira abrupta e veio
na forma de um vídeo enviado através de um mensageiro anônimo.
Eu estava em minha sala no nono andar do prédio onde trabalhava quando o sinal
sonoro de mensagem chegou e fez tremer o meu celular. Estava no meio de uma
videoconferência com Pedro Augusto de Alcântara, que aquele dia estava em
Copenhagen visitando um financiador para a empreiteira. Esperei até que a minha
reunião virtual com o CEO da Ao Cubo terminasse para só então apanhar o meu
aparelho e ver quem estava me chamando.
O remetente não era ninguém que constasse em minha lista de contatos e pensei em
ignorar por achar que fosse algum tipo de mensagem publicitária mais invasiva ou
qualquer coisa do gênero. Em vez disso, resolvi dar uma olhada na mensagem escrita
que antecedia o arquivo de vídeo enviado em anexo e o meu coração tremelicou dentro
do peito.
“Você não sabe quem é o seu namorado de verdade”.
Naquele momento, eu fiquei com receio de apertar o “play” para executar o vídeo e
tentei identificar o remetente. Não havia foto de perfil ou frase de boas-vindas e o
número do telefone não me parecia familiar. Hesitei em assistir ao vídeo o máximo que
consegui, começando a roer o canto de uma unha de tanta ansiedade. Esperei o ambiente
do lado de fora do escritório ficar mais calma com Nana, Duda, Alzira e Bárbara
perambulando de um lado para o outro quase a todo momento, e então, apertei o maldito
botão.
O vídeo amador era escuro, o ambiente filmado era mal iluminado, mas dava para ver
nitidamente as figuras de dois jovens se acariciando em cima da cama num clássico
clima antes do sexo. O cenário parecia o de um quarto de motel e eu quase conseguia
achá-lo familiar. Eu teria visto de imediato que aquela era a mesma suíte que eu mesma
já havia visitado há pouco menos de um ano se os meus olhos não estivessem vidrados
no corpo definido, nos cabelos cortados à máquina, nos braços musculosos e naquelas
coxas lisas e rijas que eu tão bem conhecia.
— Ai, Deus… isso não pode ser verdade!
Embaixo daquela massa rígida de músculos estava uma garota um tanto quanto
curvilínea e relativamente alta de cabelos pretos sobre a cabeça, nariz arrebitado no
rosto e seios durinhos no torso que se abria em sorrisos sentindo toda a tonicidade do
deus grego a penetrá-la. Eu demorei a realizar que aquele vídeo de quase quarenta
minutos completos era mesmo real, mas quando ele terminou, as lágrimas escaparam
sem controle dos meus olhos.
— Por que ele fez isso comigo?
O vídeo anônimo mostrava uma noite de sexo intenso entre Gilson Lins e uma das
garotas com quem a minha filha estudava no Dom Pedro — e que certa vez eu havia
recebido em minha própria casa. Diferente de Kelly e Nicole a quem eu tinha muita
estima e conhecia há algum tempo, eu não sabia nada sobre a tal Michele Souto. Assim
que terminei de assistir aquele vídeo, no entanto, não importava mais saber quem ela
era. Eu só conseguia sentir um desejo muito grande de esganar a putinha com as minhas
próprias mãos.
Por que você fez isso comigo, Gilson? Por que? POR QUÊ?
Eu senti muita dificuldade de enfrentar sóbria aquela terça-feira até o horário
costumeiro dos nossos encontros, e antes de chamar um Uber que me conduzisse até a
Rua Vergueiro em segurança, eu tomei uma garrafa de tequila quase inteira.
O esperei na esquina que dava para o prédio do flat por mais de quinze minutos e
quando o seu Volkswagen dobrou a rua e estacionou a uns nove metros da entrada
principal, eu saquei a chave magnética do bolso da minha calça jeans.
Como sempre, ele andou para perto de mim e evitou me cumprimentar com beijos ou
abraços como havíamos combinado. Nós nunca demonstrávamos carinho um pelo outro
em público e esperávamos até que estivéssemos a sós para nos soltar.
Subimos o lance de escadas até a porta do flat sem dizer nada um ao outro e ele já
estava estranhando o meu silêncio — sem falar que o meu hálito de tequila devia estar
dando para sentir de longe.
Entramos no apart-hotel sem muita empolgação desta vez e assim que fechei a porta às
minhas costas, ele se precipitou a me abraçar, no que eu o rechacei fazendo esforço para
mantê-lo longe de mim.
— Ei, amor! O que houve?
Eu estava emocionalmente instável e nem bem abri a minha boca, comecei a chorar.
— “O que houve”, Gilson? Me diz você!
Eu saquei o meu celular do bolso traseiro da calça e com os dedos trêmulos por efeito
da mistura mortal do meu nervosismo com a tequila, comecei a executar o vídeo que
havia recebido por mensagem anônima. Os gemidos da putinha de peitinhos duros no
filminho pornô caseiro começaram a ecoar no ambiente e eu joguei o meu celular para
que ele o apanhasse. Meio desajeitado, ele segurou o aparelho e virou a tela em modo
paisagem para começar a assistir a sua performance incrível de sexo explícito.
— O que é isso? Quem…? Como foi que…?
As lágrimas já tinham banhado o meu rosto e as minhas mãos tremiam.
— Por que você me traiu, Gilson? Não tem nem um mês você estava aqui nesse flat me
pedindo pra gente morar junto, pra gente começar um relacionamento sério, pra eu
largar o meu marido… Por que você me traiu? Por quê?
Os meus gritos reverberavam no ambiente de poucos metros quadrados, e àquela altura,
se tivesse alguém ocupando os apartamentos ao lado, essa pessoa teria uma boa noção
do barraco que eu tinha começado a armar ali dentro.
— Quem te mandou isso, Carla? Eu… Eu… Não foi…
— Não importa quem me mandou, Gilson, o que importa é o que você fez com essa
vadiazinha… num motel… o mesmo motel em que me levou na nossa primeira vez
juntos… O MESMO LUGAR!
Gilson desistiu de assistir o vídeo e bloqueou a tela do smartphone o botando de lado.
Veio para o meu lado tentando se explicar com as mãos estendidas na esperança de me
acalmar e o meu escândalo só aumentava.
— Eu passei o fim de semana inteiro considerando o seu pedido da gente morar junto
aqui no flat, eu pensei uma dúzia de vezes em dar um basta em meu casamento, largar
tudo pra ficar com você… E olha só o que recebo em troca! — Apontei para o celular
sobre a amurada que dividia a sala da cozinha americana do flat.
— Carla, me ouve. Isso não significa nada. Essa garota é só uma aluna do dojô onde eu
treino… Eu nem a conheço direito. Ela começou a fazer aulas de judô recentemente…
Eu fraquejei… Não era pra ter acontecido nada… Eu nem queria ir pra cama com ela…
— Eu conheço essa garota, Gilson — eu o vi ficar branco com a revelação. Era como se
todo o sangue do seu rosto tivesse se esvaído de uma só vez —, ela estuda na mesma
escola que a minha filha. As duas têm a mesma idade… Você comeu essa vadiazinha e
ainda fez um vídeo de sacanagem com ela!
— Eu não fiz vídeo nenhum… Eu nem sabia que ela estava filmando…
— Seu escroto! Seu maldito escroto!
Eu tentei estapear Gilson, mas estava zonza demais por conta da bebida para sequer
conseguir encostar nele. Voltei a chorar sem qualquer controle das minhas emoções, e
desequilibrada, caí sentada no chão de onde não queria mais levantar.
— Só me escuta, Carla. Eu amo você, de verdade. Eu nunca fui tão louco por alguém
quanto eu sou por você. Me perdoa pelo que eu fiz… Só me perdoa e vamos continuar
da onde a gente parou. Vamos recomeçar…
Ele tinha se ajoelhado próximo a mim ainda tentando me acolher em seus braços
enormes e eu só o rechaçava de maneira quase débil.
— Não, Gilson. Para de mentir pra mim… Você não me ama coisa nenhuma. Você só
estava se divertindo comigo… Sai daqui… Some da minha frente… Vai pro inferno!
— Carla, só me ouve…
— VAI PRO INFERNO!
Gilson parou de tentar me convencer de qualquer outra coisa e se levantou
vagarosamente em direção à porta. De ombros caídos, parecia arrasado como eu nunca
o tinha visto antes, mas no meio tempo em que abaixei a cabeça para desabar em choro,
ele sumiu porta afora atendendo o meu último pedido.
Passou mais de uma semana sem que eu quisesse ter qualquer tipo de contato com
Gilson e depois que eu o bloqueei em meu celular, a sua última tentativa de falar
comigo foi ir pessoalmente até o andar da A3 usando uma visita à irmã como pretexto.
O vi em pé próximo à entrada bonito como sempre, mas resisti ao desejo ainda pulsante
de me esparramar naqueles braços fortes e não me mexi do lugar até que ele fosse
embora.
Por conta do término com Gilson, eu perdi o pouco da vontade que ainda tinha de
socializar com quem quer que fosse e a minha fase depressiva chamou a atenção das
pessoas mais próximas a mim. Nana e Duda foram as primeiras a perceberem que havia
algo de errado comigo, mas eu ainda não estava preparada para revelar a elas que, até
muito recentemente, eu estava dando para o irmão gostoso da nossa secretária
A culpa para o meu desânimo acabou recaindo nas costas de Roque, e como essa
desculpa elas já ouviam há vários anos, mais uma vez as duas acabaram acreditando que
o meu casamento estava mesmo me fazendo mais mal do que bem.
Na segunda semana sem a companhia de Gilson, eu decidi me abrir sobre o meu caso
extraconjugal com o meu marido, mas para isso, ocultei a identidade do meu amante a
fim de evitar represálias ao garoto. Apesar da sua traição, eu não queria que nada de
ruim o acometesse e a gente nunca podia adivinhar as coisas que um marido chifrudo
era capaz de fazer para “limpar a sua honra”.
Naquele dia, a Mica tinha ido a um evento de música na companhia das primas Cleide e
Priscila e estávamos só nós dois e o Steve em casa. Chamei Roque até a sala, me sentei
de um lado do sofá, mandei que ele se sentasse do outro e comecei a falar de maneira
muita franca sobre os últimos oito meses.
— Eu estava me sentindo muito sozinha. Além do meu trabalho, eu não tinha mais
nada. Até a nossa filha andava afastada de mim. Eu estava me sentindo péssima,
angustiada… Eu simplesmente encontrei alguém que me dava atenção, que me ouvia,
que queria cuidar de mim… e você não estava mais fazendo nada disso, Roque.
Roque se manteve frio e calculista por uns cinco minutos só a ouvir o meu relato, mas
não conseguiu segurar a pose por muito mais tempo. Quando comecei a detalhar os
meus momentos íntimos com o meu amante dentro do flat e como ele me fazia sentir
como a mulher mais desejada do mundo novamente, ele pediu que eu parasse.
— Eu não queria que nada disso precisasse acontecer, Roque. Eu passei anos tentando
segurar as paredes que mantinham o nosso casamento em pé, equilibrando daqui,
empurrando dali… mas, essa não devia ser uma tarefa para uma só pessoa. Nós somos
um casal e os dois deviam estar lutando para manter a coesão dessas paredes. Eu
sozinha não poderia conseguir… quando simplesmente desisti de segurar, me senti
aliviada.
Ele ficou cabisbaixo sem dizer nada.
— No dia em que transamos embaixo do chuveiro, eu estava quase que 90% convencida
a te largar de vez, Roque. Não foi a transa em si que me fez mudar de ideia, mas o que
você me falou sobre a nossa filha…
Os olhos verdes voltaram a mirar os meus. Ele me ouvia com atenção redobrada.
— A minha mãe passou quase a sua vida inteira sendo submissa ao meu pai adúltero e
foi essa a imagem que ela transmitiu a mim e à Elisa enquanto a gente crescia: a da
mulher fraca que abaixa a cabeça para tudo que o marido diz e faz. Quando você me
jogou na cara que eu estava servindo de mau exemplo para a Mica, aquilo me sacudiu
por dentro. Eu não quero que a minha filha se lembre de mim no futuro como uma
pessoa detestável ou alguém que não se importa com o que ela pensa e faz. Eu quero ser
um exemplo não só de mãe para ela, mas de ser-humano. Eu quero que a Mica sinta
orgulho de mim, coisa que eu nunca senti pela minha própria mãe. Mas, para isso dar
certo, eu preciso ser uma pessoa melhor a partir de agora.
Roque tinha desarmado completamente as suas defesas e atingido pelas minhas palavras
e procurando se redimir dos seus erros, ele também resolveu confessar um a um os
casos que tinha tido nos últimos meses em que estávamos afastados um do outro. Além
de Mirabel, o meu marido havia transado com mais três garotas que tinham feito parte
temporariamente do quadro de estagiários da S&C. Segundo ele, todas aquelas meninas
não passavam de casos passageiros com as quais ele não mantinha qualquer vínculo ou
relação após irem juntos para a cama. Roque fez questão de enfatizar que ninguém
ocupava ou sequer ameaçava ocupar o mesmo espaço que eu ainda tinha em sua vida.
— Eu posso ser o maior canalha do mundo, Carla, mas jamais dei a outra mulher a
mesma importância que dou a você. Nenhuma outra jamais vai ocupar o mesmo espaço
que você sempre teve aqui — e ele tocou o próprio peito por cima da camiseta.
Foi difícil ouvir o meu marido confessar todas as suas traições durante aquela conversa,
mas foi ainda mais difícil ter que admitir que eu mesma estive na iminência de pedir o
divórcio para seguir a minha vida ao lado de outro homem depois de tanto tempo de
casamento.
Nós tínhamos agora inúmeras diferenças para corrigir e uma quantidade grande de
feridas para cicatrizar, mas naquele dia, optamos mesmo pela reconciliação. Roque e eu
firmamos um pacto de que não teríamos mais relações extraconjugais por mais tênues
ou passageiras que fossem. Concordamos também em sermos francos e diretos caso
percebêssemos que a nossa própria relação estivesse se estagnando ou enfraquecendo
por qualquer motivo existente em nossas vidas e a decisão de seguirmos juntos foi
mútua.
A mácula causada pela traição de Gilson ainda precisava ser curada, bem como as
marcas causadas pela infidelidade de Roque, mas até que tudo aquilo fosse resolvido de
vez, eu queria ser mais presente para a Micaela e estar por perto sempre que a minha
filha necessitasse ou pedisse. Independentemente de ser ou não a esposa de alguém, a
minha posição de mãe era indefectível e eu não abria mão dela jamais.
22/11/2020
22/07/2022

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