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GILSON COMEÇOU A ME despir com certa pressa naquele início de noite. Era uma
sexta-feira e tínhamos chegado quase ao mesmo tempo diante do prédio da Rua
Vergueiro. Subimos quase correndo os lances de escadas até o terceiro andar. A tranca
na porta demorou a reconhecer a chave eletrônica. Entramos aos tropicões, afoitos,
insaciáveis e sedentos um pelo outro.
O moço de braços fortes e torso definido me agarrou com tanta fúria que senti o ar
escapando pelos meus pulmões. Me beijou como se estivesse a fim de me sufocar tal era
a sua vontade. Lá embaixo, as mãos grandes e calosas por conta do tatame apertaram as
minhas nádegas com força. Suspendi as duas pernas acima da linha do seu quadril e fui
carregada para o quarto, para o nosso ninho de amor. Éramos agora só eu e ele.
Ninguém poderia nos atrapalhar.
O rapaz troncudo arrancou a camiseta pouco antes de se deitar sobre mim. Devia pesar
uns noventa quilos de pura massa muscular e eu adorava aquela sensação de aperto
quando ele me cobria quase inteira em cima da cama. Me deu outro dos seus beijos
molhados e sufocantes, me arrancou um gemido de satisfação.
— Uau! Quanta vontade!
Seus olhos castanhos fitaram os meus. O dorso da mão direita tocou com delicadeza o
meu rosto só para que seus dedos se encaixassem na lateral do meu pescoço em seguida.
— Você que me deixa assim cheio de vontade, gostosa!
A minha blusa social demorou pouco a cobrir meu busto. Os botões voaram com um
puxão que quase fez a roupa em pedaços. Pouco depois, lá estava aquela língua voraz
passeando pelos contornos dos meus seios, circundando os meus mamilos e
umedecendo as minhas aréolas castanhas.
Gilson desceu os carinhos por minha barriga e correu o zíper da minha calça para
encontrar morada entre as minhas pernas, na área mais íntima do meu corpo. Sem tirar a
minha lingerie branca de renda, ficou a deslizar a língua de norte a sul, me arrancando
suspiros, me deixando completamente e inebriantemente entregue às suas carícias.
— Seu sádico!
Tão logo disse aquilo a ele, o judoca começou a deslizar a minha calcinha pelos meus
quadris devagar, contrastando totalmente com a pressa com que tinha me pegado ainda
à porta do flat alugado. Deixou a minha roupa na altura dos joelhos apenas para apreciar
por alguns instantes a umidade do meu sexo a implorar por ele dentro de mim.
Antes que eu verbalizasse o meu desejo, a sua boca avançou entre as minhas pétalas
para começar a sorver o néctar doce que delas escorria. Ia e vinha. De norte a sul. De sul
a norte. Se repetindo, se repetindo e se repetindo.
Me deixou em desespero. Tentei lhe agarrar os cabelos, mas eram curtos demais para
que os pusesse entre meus dedos. Ele então ergueu as mãos grandes e as encaixou nas
minhas. Não conseguia mais conter os meus gemidos enquanto ele prosseguia com a sua
tortura oral. Ia e vinha. De norte a sul. De sul a norte. Se repetindo, se repetindo e se
repetindo.
Eu estava completamente nua quando Gilson subiu sobre a cama me botando de costas
para ele e me fez inclinar levemente o corpo. Ouvia seu ofego muito perto da minha
orelha esquerda, sentia o seu suor se mesclando ao meu e a sua rigidez a me apunhalar
feito uma estaca imensamente firme na altura do cóccix.
Sua mão dava a volta em meu corpo para se fechar num dos meus seios enquanto a
língua brincava em meu pescoço. Eu já estava entregue. Ele só precisava reclamar o
prêmio.
— Chega de tortura, Gil… me pega com força, vai. Me pega!
A mão espalmada empurrou as minhas costas para que eu caísse de quatro em cima do
colchão macio. Dei um riso nervoso já esperando pelo que viria a seguir. Uma carícia
em minha nádega esquerda anunciou que ele estava se preparando para usar a sua
estaca, mas quando ele me deu o primeiro “beijo” entre as pétalas, gemi de maneira
incontrolável.
Gilson começou a se projetar contra mim sem perder o contato com a minha pele. Me
apertava forte, mas não tão forte quanto arremetia dentro de mim. Seu físico de atleta
lhe proporcionava uma tonicidade ímpar, além de uma resistência sem igual. As minhas
noites de terças e sextas tinham se tornado as mais movimentadas de toda a semana. Eu
voltava para casa em estado de miséria por conta de como era tomada por aquele rapaz.
Longe de querer reclamar, no entanto, mal acabava o dia, eu já começava a sonhar com
o próximo.
Naquela noite, depois de quase uma hora suportando a pressão do meu vigoroso
companheiro comigo de quatro, eu pedi para que mudássemos de posição e ele voltou a
jogar todo o seu peso sobre mim, mantendo as minhas pernas bem afastadas. A cada
limiar de orgasmo, eu fechava os meus dedos em suas costas definidas arranhando a sua
pele. Ele nem sequer mudava a sua expressão. Quase nem sentia as minhas unhas
cravadas nele.
Nós dois tínhamos uma química invejável na cama, mesmo ele sendo quase dez anos
mais jovem do que eu. Era obrigada a me esforçar para acompanhar o seu ritmo
acelerado, mas era gostoso voltar a me sentir tão viva novamente.
— Não para, Gil, por favor! Continua… Continua!
Às vezes, eu me sentia uma menina inexperiente pela maneira como ele me fazia sentir
coisas que eu nem sabia que existiam, mas eu também tinha vários truques na manga
que podia ensinar a ele. Tínhamos uma troca muito boa, eu com a minha experiência,
ele com a sua juventude. Exatamente por isso éramos o par perfeito.
Outras boas horas mais tarde, me vi deitada ainda nua sobre os lençóis com Gilson
abraçado a mim. Havia um semblante de pura satisfação em nossos rostos e eu lhe fazia
carinho nas fibras musculares de um de seus braços. Ele depositou um beijo em meu
ombro direito e coçou a garganta antes de perguntar:
— Não tem medo que alguém descubra sobre nós dois?
Ajeitei os fios de cabelo levemente úmidos que caíam em meu rosto. Continuei
deslizando meus dedos por seus músculos, então, respondi:
— Não tem como ninguém saber sobre nós, Gil. O aluguel do flat não consta nas
minhas despesas pessoais e eu sempre dou algumas voltas de carro antes de vir até aqui.
Não há nenhuma pessoa me seguindo.
Ele pareceu pensativo.
— A Nádia está desconfiando de algo?
Ele fez que não com a cabeça.
— Então não tem porque se preocupar — disse a ele, lhe depositando um beijo nos
lábios —, nós só temos que nos divertir, esquecer que existe um mundo do lado de fora
dessas paredes.
Sua mão circundou o meu quadril. Ele fez uma carícia em minha barriga.
— Poderíamos nos mudar de vez pra cá. Não quero mais ter que te dividir com o seu
marido.
Meu semblante ficou tenso. Não pude disfarçar a minha preocupação.
— Ei! Nada de pressa. Não precisamos botar a carroça na frente dos bois, Gil. Estamos
juntos há algum tempo, nós temos gostado da companhia um do outro, mas ainda é cedo
para darmos passos maiores do que as pernas.
Ele não parecia concordar, mas não verbalizou nenhuma queixa.
— E depois, você não precisa se preocupar… meu marido e eu não fazemos nada na
cama há um bom tempo!
Deixei que Gil descansasse mais um pouco depois da última maratona sexual, mas
quando ele demonstrou rigidez mais uma vez, o instiguei a me tomar novamente. Ainda
tínhamos tempo até que desse a hora de ir embora e eu não via motivos para desperdiçá-
lo.
O meu corpo ainda estava dolorido das últimas horas de sexo intenso quando me
levantei da cama e fui tomar um ar na janela. Não me preocupei em cobrir a minha
nudez ao caminhar até a sacada para observar a noite paulista do lado de fora do prédio,
e lá embaixo, a Rua Vergueiro já estava bem menos movimentada aquele horário.
Diferente dos meses anteriores, estava me sentindo bem comigo mesma. Sentia que
minha autoestima havia voltado e estava me sentindo gostosa novamente.
Pela primeira vez em muito tempo, eu tinha finalmente afastado aqueles pensamentos
de que tinha deixado de ser atraente ou desejada. Pela primeira vez em muito tempo, eu
havia gozado de verdade.
Capítulo 2 – A família Castilho
EU FUI BATIZADA COMO CARLA por minha mãe ao nascimento e segundo ela,
tinha a ver com o significado do nome, que do germânico, era "mulher forte" ou
"mulher guerreira". Sempre adorei o meu primeiro nome, mas por muito tempo, eu
acabei sendo cobrada pelo sobrenome que carregava na carteira de identidade. Castilho.
O peso de ter um sobrenome tão nobre me assombrou durante toda a minha
adolescência, e chegou um tempo em que eu tinha medo de que não conseguisse honrá-
lo assim como faziam os meus irmãos mais velhos.
Mas vamos começar do início para que vocês possam me entender melhor.
O meu pai se chamava Jaime Castilho. Filho de imigrantes espanhóis que aportaram no
Brasil no século passado, acabou herdando um patrimônio milionário quando o meu avô
— um investidor de petróleo — faleceu no começo dos anos 70 com quase oitenta anos.
Tendo começado uma graduação de Administração que nunca chegou a concluir, Jaime
decidiu investir o seu dinheiro na construção civil, ramo este que estava em franco
desenvolvimento na época.
Tendo que lidar sozinho com todo o prejuízo dos contratos assumidos em aberto, Jaime
foi obrigado a tirar da própria herança os valores para honrar os seus compromissos, e
desiludido, acaba saindo do ramo por um tempo.
Jaime decidiu então só aproveitar a fortuna deixada pelo pai a ele e aos irmãos por um
período, mergulhando fundo no mundo boêmio das drogas, das bebidas e do sexo fácil.
Além de Jaime, o casal Juan e Eneida Castilho — os meus avós — tiveram mais quatro
filhos em seu casamento: Juan Júnior (o segundo depois de Jaime), Juanita, Miguel
Angel e a caçula, Pietra Maria.
Com o passar do tempo, todos eles juntos começam a participar das orgias promíscuas
promovidas pelo primogênito Jaime, e para isso, os irmãos usam a casa de praia da
família no litoral norte de São Paulo.
Depois do nascimento dos filhos, Jaime se torna um marido e um pai cada vez mais
ausente, e embora financeiramente não deixe faltar nada à família, Patrícia mal o vê em
casa, descobrindo logo que ele jamais parou de frequentar prostíbulos e bocas de fumo,
mesmo com o casamento. Os dois acabam se divorciando doze anos depois e ela fica
com a guarda das crianças, além de uma fatia generosa da fortuna de Jaime.
Ainda na década de 70, os meus tios Miguel Angel e Juan Junior se mudam para a
Espanha, numa região próxima à Sevilha, e o segundo se assume homossexual,
passando a viver com um espanhol em situação não-declarada de casamento até a sua
morte, no final dos anos 90.
Miguel Angel se casa com uma espanhola chamada Conchita e com ela tem uma filha
— a minha prima Angelita, que atualmente é uma consulesa espanhola em solo francês.
Anos mais tarde, se divorcia da mulher e se casa pela segunda vez, agora com uma
espanhola chamada Tereza, com quem tem mais três filhos, Miguel Junior, Pedro
Antônio e Marieta.
Pietra Maria decide fazer votos à igreja católica após aquilo que ela passa a considerar
pecado da carne — as relações sexuais promovidas com drogas e álcool com os irmãos
mais velhos na casa de praia — e se torna freira. Mora num convento no interior de São
Paulo e não mantém contato com a família desde os anos 90.
Ainda sofrendo com surtos psicóticos que o faziam consumir quantidades exageradas de
drogas — sobretudo a cocaína — Jaime conheceu a doce e pacata Vilma Estéban, uma
descendente de espanhóis da região de Córdoba que acabou mexendo com o seu velho e
duro coração.
Decidido a levar uma vida regrada por conta da sua paixão pela moça, Jaime se casa
pela segunda vez em sua vida e passa alguns anos longe de tudo aquilo que quase levou
a ele e aos irmãos à ruína anos antes, e que destruiu o seu primeiro casamento.
Após o falecimento da sua primeira esposa num acidente de automóvel, Jaime tem,
enfim, a chance de se reaproximar dos filhos e os leva para morar com ele e a sua nova
esposa no casarão em Moema onde os meninos cresceram. Alguns anos depois, vêm ao
mundo a minha irmã Elisa e eu, as duas únicas filhas do casal. A partir de então, a
família se estabelece em São Paulo com o dinheiro da companhia do patriarca e os bons
negócios firmados em nome da Construtora Castilho.
Eu nasci numa maternidade particular na região da Grande São Paulo poucos anos após
minha mãe, Vilma, conhecer o meu pai Jaime e dar à luz à minha irmã antes de mim.
Vilma era uma solteirona de quase trinta anos e ele, à época, já era um coroa de quase
cinquenta que tinha ficado viúvo há pouco tempo.
Engenheiro, empresário e viciado em sexo, Jaime tinha dois filhos adultos com a antiga
esposa e não demorou a encantar Vilma com promessas de riqueza e uma vida de
rainha. De fato, a ela nunca nada material lhe faltou desde que se juntou ao velho, mas
era notório o sofrimento em seu rosto com a vida promíscua que Jaime levava conforme
os anos passavam.
Após o falecimento da sua primeira esposa, papai trouxe seus filhos para morarem com
a gente, e desde crianças, Elisa e eu sempre compartilhamos o casarão em Moema com
meus outros dois irmãos rapazes, o Renato e o Mauro. Apesar de ela não ser a sua mãe e
nem de eles admitirem o título “madrasta” vindo dela, Vilma sempre tratou os dois com
todo o respeito possível e jamais os rejeitou só porque eram filhos da outra mulher do
marido. Minha mãe era uma mulher muito generosa desde sempre e essa era uma de
suas principais características.
Eu cresci com todo o luxo e a mordomia que uma criança nascida rica poderia desfrutar
e nunca soube o que era passar fome ou frio na vida. A mansão era grande o suficiente
para que ficássemos dias sem topar com papai e mamãe, às vezes, e eram os
empregados quem mais cuidavam de mim e da minha irmã praticamente. Tínhamos
uma babá chamada Mirtes na infância e era com ela que passávamos grande parte das
nossas semanas enquanto papai trabalhava em sua construtora e a mamãe gastava as
suas energias — e o dinheiro do papai — com filantropia.
Quando eu completei os meus dez anos e a minha irmã os seus doze, mamãe adoeceu e
acabou ficando bastante debilitada trancada em seu quarto. Os médicos diziam que ela
estava com uma rara doença nos ossos, e com isso, passou a ter dificuldade de
locomoção. A casa era grande demais e os seus aposentos ficavam no segundo andar, o
que se tornou um suplício para que ela subisse e descesse as escadas diariamente. Papai
usou boa parte da sua fortuna e influência para conseguir um tratamento adequado para
ela, e naquele período, os dois ficaram um tempo na Europa até que mamãe estivesse
boa novamente. Renato e Mauro já eram jovens adultos na época e assumiram os
negócios em nome do papai. Quase não paravam em casa.
Brincávamos quase à exaustão pregando peças nos empregados — dando sustos nos
coitados ou preparando armadilhas para que eles caíssem —, mas gostávamos mesmo
era de dançar. Papai tinha um aparelho de som gigante na sala e ali ficávamos ensaiando
passos e coreografias de vários sucessos da época, de Spice Girls a Shakira. Às vezes,
puxávamos Mirtes para dançar também e mesmo desajeitada, ela tentava acompanhar o
nosso ritmo intenso.
Quando nossos pais retornaram da Europa, mamãe estava visivelmente mais saudável.
A doença nos ossos tinha sido estabilizada e ela já conseguia andar novamente sem o
auxílio de muletas, embora tivesse perdido quase que completamente a sua libido
durante o tratamento.
Algum tempo depois do tratamento para a sua doença óssea, mamãe voltou à sua rotina
de filantropia e assistência social, e embora não tivesse mais o mesmo vigor de antes,
passava um bom tempo fora de casa cuidando de caridade e outras coisas que eu não
entendia. Nunca soube exatamente o que ela fazia nas ONGs que patrocinava com o seu
dinheiro, mas eu entendia que aquilo a fazia feliz.
Eu estava com quatorze anos quando ela começou a sair bem cedo de casa e retornar só
à noite com um dos motoristas da família, e eu como a caçula, sentia muito a falta de
uma mãe mais presente em minha vida. Elisa era só dois anos mais velha que eu, mas
era ela quem tentava fazer o papel de mãe, me orientando e me ajudando com minhas
necessidades.
Era ela quem tinha me ensinado a usar absorventes quando menstruei a primeira vez e
também era ela quem me falava coisas sobre beijo na boca, sexo, preservativos, pílula
anticoncepcional e masturbação. Nesse quesito, a minha irmã nunca me deixou
desemparada pela falta de mamãe.
— Não é sempre que você vai ter alguém para te penetrar, Carla. É bom você aprender a
se virar sozinha às vezes — me disse ela uma vez com a sua sinceridade pungente.
Naquela noite, assistíamos a um filme pornográfico juntas na sala e uma mulher se
masturbava com um pênis de borracha na fita. Eu nunca tinha visto nada parecido.
Capítulo 3 – O segredo de Elisa
Entre os dois, Renato era o que tinha o tom mais autoritário e o que mais costumava
mandar em mim dizendo que na ausência do papai, era ele quem dava as ordens por ali.
Mauro, por sua vez, costumava ser mais gentil e compreensível comigo e ele era o meu
irmão preferido.
Elisa, diferente de mim, tinha preferência por Renato e não era raro ver os dois de
risinhos e cochichos pelos cantos da casa. Quando estávamos juntas, ela vivia elogiando
o irmão mais velho e a sua admiração por ele era nítida.
— Quando eu for para a faculdade, vou fazer o mesmo curso que o Rê. Quero ajudá-lo a
administrar a construtora do papai quando for mais velha.
E anos depois, ela não só se graduou no mesmo curso que ele como também na mesma
faculdade e com os mesmos professores. Até a pós-graduação de Elisa foi a mesma de
Renato. Ela era realmente uma admiradora do irmão mais velho, e pouco tempo depois
daquela conversa sobre faculdade, eu descobri que a sua admiração era muito além do
que eu imaginava.
Eu tinha voltado do colégio mais cedo aquele dia. O motorista da família tinha me
deixado à porta de casa e o Hélio, o segurança, me deixou entrar pela portaria após me
cumprimentar. Era por volta do meio-dia. Elisa fazia o Ensino Médio à noite e àquela
hora eu sabia que ela estaria em casa. Entrei pela sala e gritei por seu nome.
— ELISA! CHEGUEI!
Larguei a minha mochila num canto e foi a Jacira, a empregada da época, quem me
recebeu.
— A sua irmã está no quarto, menina. Tome um banho que logo o almoço estará pronto.
— Obrigada, Jacira.
Eu corri escada acima e estranhei saber que a minha irmã estava no quarto uma hora
daquelas. Era muito comum vê-la na piscina aproveitando o sol para manter a
marquinha de biquíni que ela adorava ou na sala ouvindo música. Sempre dizia que os
corredores dos quartos eram “sinistros e assustadores” quando ela estava sozinha em
casa.
O que será que deu nela? Pensei, já imaginando um monte de besteiras enquanto subia
escada acima.
A mansão em Moema tinha três andares além do térreo onde ficava a garagem, o jardim
e a guarita da portaria. A sala, o quarto de hóspedes, a cozinha e a despensa ficavam no
primeiro andar, o mesmo da piscina. Os quartos dos filhos ficavam no segundo andar,
abaixo do escritório do papai e de onde ele dormia com mamãe. O meu quarto era o
último do corredor e ficava ao lado do de Mauro. Em frente, ficavam os quartos de Elisa
e de Renato, que era o último, à direita. Minha irmã não estava em sua cama naquele
momento e eu ouvi sons estranhos vindos do quarto de Renato. Alguém estava
gemendo.
Eu estava muito curiosa para saber o que estava acontecendo e dei um jeito até de
segurar a minha respiração ofegante e acelerada por ter subido as escadas correndo.
Caminhei devagar até a porta e colei a orelha na madeira para ouvir melhor. Eram as
vozes de Elisa e Renato lá dentro.
Meu coração estava disparado no peito. Por mais que eu soubesse da admiração que ela
tinha por ele, jamais tinha imaginado que a minha irmã seria capaz de ceder a tal ponto.
Nós duas éramos filhas de mãe diferente dos dois rapazes, mas ainda éramos todos
irmãos de sangue, filhos do mesmo pai.
Demorou um tempo até que a minha irmã me alcançasse no corredor e me puxasse pelo
braço até o meu quarto. Eu estava aturdida e ela ainda estava suada e descabelada. Dava
para sentir o cheiro de Renato em seu corpo todo. Elisa me empurrou com força sobre a
cama e disse, brava:
— O que pensa que está fazendo bisbilhotando o quarto dos outros assim, garota?
Ela tinha colocado uma camiseta larga por cima do corpo, mas dava para ver que ainda
estava nua por baixo. Alguma coisa esbranquiçada escorria na parte interna da sua coxa
e os meus olhos se perderam ali um tempo.
Elisa estava nervosa e ficou me encarando por um tempo segurando a porta como que
impedindo alguém de entrar. Ainda estava ofegante. Deviam estar horas no quarto antes
de eu chegar.
Elisa me contou que vinha transando com o nosso irmão Renato há algumas semanas e
que ela fugia à noite e de madrugada para o seu quarto a fim de que ninguém mais visse.
Tanto eu quanto Mauro tínhamos sono pesado e como cada um dormia em seu próprio
quarto, era fácil para que Elisa e Renato se encontrassem na encolha. Ela dizia que eles
estavam se divertindo e que aquilo não significava nada além de sexo. Eu sabia o quanto
ela o admirava, mas a minha irmã garantia que não estava apaixonada ou coisa parecida.
Aquela brincadeira continuou nas semanas seguintes e enquanto eu, Mauro e nossos
pais dormíamos, Elisa e Renato “brincavam” no quarto quase todas as noites, às vezes,
de maneira ruidosa.
A mamãe ia ter um infarto se descobrisse uma coisa dessas! Foi o meu pensamento
aquela noite.
Foi numa noite chuvosa que acabei acordando apavorada com o som dos trovões que
ribombava do lado de fora da mansão e saí pelo corredor atrás de Elisa. Era comum que
a minha irmã me deixasse dormir em sua cama com ela quando chovia forte, mas outra
vez ela não estava em seu quarto.
Um relâmpago clareou a casa toda quando eu ainda estava no meio do corredor e o meu
coração acelerou no peito. Eu tinha muito medo de tempestades desde pequena e fui até
o quarto de Mauro de olhos arregalados.
Vou pedir para dormir com ele essa noite! Foi o que pensei.
O meu irmão também não estava em sua cama e suspeitei que todos eles estavam num
mesmo lugar àquela hora. Me esgueirei até a porta de Renato e me esforcei para ouvir
além do barulho da chuva. Dava para identificar três vozes muito animadas lá dentro.
— Está gostando assim, Lisa? Está? — Era Renato ofegante, enquanto o som de algo
molhado sendo penetrado era ouvido ao fundo.
Ela respondeu em sussurro que sim à terceira voz, e naquele momento, eu tive a certeza
que Mauro havia se juntado à brincadeira entre irmãos na cama de Renato.
Onde isso tudo vai parar? Pensei ainda um pouco chocada com os diálogos que ouvia
através da porta.
Naquele fim de semana, eu fiquei a sós na piscina com o Mauro e tentei entrar no
assunto sobre o que tinha ouvido escondida no corredor aquela noite. Entre todos os
meus irmãos, ele era com quem eu tinha maior intimidade e sabia que podia entrar num
assunto tão delicado quanto aquele.
Papai e mamãe tomavam sol em esteiras à beira da piscina e Elisa estava se bronzeando
deitada de bruços na outra extremidade, à certa distância dos dois. Gostava de
desamarrar a parte de cima do biquíni e fazer topless quando estávamos a sós em casa,
mas naquele dia, ela estava comportada na presença dos nossos pais. Mauro estava
comigo na água brincando de empurra-empurra, quando comentei:
Ele me olhou com certa surpresa e parou um instante antes de me segurar pela cintura e
me jogar na água. Prendi a respiração, emergi de volta e o procurei, tirando os cabelos
do rosto. Ele tinha nadado agora para trás de mim.
— O que você ouviu? — Ele cochichou, dando uma olhada para o pai e a madrasta à
beira da piscina. Queria se certificar que eles não ouviam a nossa conversa.
Ele ficou boiando na piscina remando para trás com os braços. Havia confiança em seu
semblante. Assim como a Elisa, o Mauro não apresentava qualquer sinal de culpa ou
remorso pelo incesto que estavam praticando. Eles enxergavam tudo como uma
brincadeira. Nadei para perto dele e insisti:
A luz estava acesa lá dentro e Elisa estava de quatro na cama levando por trás de Mauro
enquanto chupava vorazmente o pau de Renato com ele deitado. Eu já tinha visto meu
irmão nu algumas vezes, mas confesso que nunca daquele jeito tão ereto. Ele tinha entre
as pernas um mastro enorme que chegava quase na barriga, duro, espigado. Os pelos
caíam-lhe escuros no púbis e no saco escrotal e era algo muito viril de se olhar. A boca
de Elisa ia e vinha naquela cabeça grande e ela engasgava tentando botar aquela tora
grossa toda goela abaixo.
Nossa! Parece uma delícia! Pensei, sentindo coisas em meu corpo que nunca antes
havia sentido. Pelo menos, não daquela maneira.
ALGUNS MESES DEPOIS, a minha mãe voltou a sentir os problemas ósseos que a
haviam acometido há algum tempo, e bastante debilitada pelo tratamento, ela fechou as
portas totalmente para o sexo com meu pai, o que fez o velho ligar o “modo predador”
outra vez.
As descidas ao litoral agora eram quase toda semana e num daqueles sábados, ele levou
os filhos mais velhos com ele enquanto eu fiquei em casa cuidando de mamãe. Era a
primeira vez que a Elisa ia com eles para a casa de veraneio e a garota voltou muito
empolgada de lá. Na primeira oportunidade que teve, me chamou de canto e me contou
o que tinha acontecido.
— Claro! Todo mundo usou. Até o papai. Você precisava ver. Ele é um touro! Todo
duro, forte. O velho ainda dá no couro!
— O papai disse que faz essas festinhas desde os anos 70. Antes, ele ia com os irmãos e
as irmãs dele, depois, com os sobrinhos e primos. A reunião na casa de praia é como
uma libertação das amarras da sociedade, lá, laços de sangue são meros detalhes que
não devem servir de empecilho para relações parentais. Ele tava muito feliz que eu tinha
ido a primeira vez e quer que eu volte ano que vem. Disse também que quer você lá na
próxima, maninha! Não é o máximo?
Eu senti um misto de euforia e medo com aquela conversa e depois daquela visita de
Elisa à tal reunião anual dos Castilho, as coisas começaram a ficar mais malucas dentro
de casa.
Algum tempo depois, o Renato tinha apresentado à família a moça com quem ele havia
noivado há algum tempo e mesmo comprometido, ele não parou de fazer sexo com
Elisa em seu quarto à noite. Ele estava prestes a se formar na faculdade de Gestão
Financeira que cursava para seguir os passos de Jaime na construtora e não demorou a
anunciar também a gravidez da noiva Vânia.
Meu irmão fez aquele anúncio todo feliz acompanhado da Vânia e o casamento dos dois
teve que ser feito às pressas por conta da barriga da moça que crescia agora a olhos
vistos.
Os Castilho eram uma família tradicional para a sociedade burguesa da qual fazíamos
parte, e na época, não pegava bem uma mulher subir ao altar já grávida do futuro
marido.
Papai comprou um terreno muito bem localizado no bairro de Campo Belo, e pouco
depois, uma equipe especial da Construtora Castilho iniciou a construção da casa que o
velho daria de presente ao primogênito para que ele morasse com a família que estava
formando.
— Quero que você tenha tudo que sempre sonhou, meu filho — disse o patriarca na
ocasião, todo orgulhoso durante a festa de casamento de Renato.
Alguns tios e tias que moravam no Espírito Santo tinham vindo celebrar com a nossa
família e revi parentes que há muito tempo não via, bem como conheci outros da qual
nunca tinha ouvido falar. Haviam Castilhos espalhados por todo o Brasil — e até fora
dele —, por isso, não me espantava que ainda não conhecesse todos.
Uma aura de felicidade exalava dos meus parentes naquele dia, exceto de Elisa. Ela
tinha ficado extremamente enciumada com o casamento de Renato e deixava
transparecer isso ficando com cara emburrada pelos cantos da comemoração.
A festa de casamento de Renato rolou até muito tarde aquele dia e eu voltei no carro
com Mauro, que àquela altura, estava completamente bêbado. Ele havia organizado a
tradicional cerimônia da gravata do noivo, e depois disso, não parou mais de beber.
Segundo ele, papai não tinha gastado a fortuna que gastou em buffet para ver bebida
sobrar. Festejando com seus amigos de faculdade e os colegas de Renato, ele foi até o
limite e chegou a ficar delirante ao meu lado no banco traseiro do carro.
— É festa, irmãzinha. Vamos comemorar! — Disse ele com voz pastosa enquanto o
motorista já embocava com o carro na garagem.
— A festa já acabou, Mau — respondi a ele, sentindo o seu hálito que era um
verdadeiro coquetel de várias bebidas diferentes — Nós já chegamos em casa!
O motorista me ajudou a carregar Mauro para dentro da sala e eu o apoiei escada acima
com o peso de seu corpo robusto quase me derrubando pelos degraus. Eu tinha largado
meus sapatos de salto no tapete e tinha subido um pouco a saia do vestido longo que
usava para aumentar a minha mobilidade. Cheguei exausta no corredor dos quartos e foi
outra jornada até conduzi-lo ao banheiro da sua suíte.
— Você precisa de um banho gelado, mano. Só assim vai curar essa bebedeira.
Tentei colocá-lo sob o chuveiro sem me molhar também, mas foi impossível. Mauro
estava pegajoso e ficou me segurando e me puxando enquanto eu tentava molhar a sua
cabeça na água fria.
— Toma banho comigo, irmãzinha. Faz tempo que não tomamos banho juntinhos!
O seu riso frouxo estava me irritando, mas mesmo completamente molhada, continuei a
cuidar dele. Aproveitei para tirar a sua camisa e a sua calça e o deixei só de cueca. Sua
mão boba descia por minhas costas enquanto ele se apoiava em mim e alcançou a minha
bunda. Eu era bem magra na época e ainda estava ganhando minhas sinuosidades. Ele
apalpou o que conseguiu ali atrás e eu o adverti:
Sua mão deslizou por baixo do meu vestido e senti os seus dedos apertando as minhas
nádegas com força. Aquilo estava diferente de quando brincávamos juntos na piscina de
casa. Não era brincadeira. Ele estava me tocando com desejo e eu me arrepiei. Sabia que
não era só pelo efeito da água fria caindo em minha pele.
Eu o forcei, e então, ele parou de me apalpar até que eu concluísse o banho. Peguei uma
toalha e passei a enxugá-lo, foi quando notei o seu membro intumescido dentro da
cueca. Parecia tão grande quanto o de Renato. Voltei a me arrepiar.
Mauro já estava suficientemente lúcido após o banho para caminhar com as próprias
pernas até a sua cama e eu o segui de perto. Deixei um rastro molhado por onde passei e
enquanto ele se deitava, afundando feito uma pedra no colchão, eu me despi do vestido
ensopado começando a me enxugar também. Fui até o armário dele e apanhei um de
seus roupões, o vestindo em seguida. Tirei a minha calcinha por baixo e a apertei
molhada em minha mão. Já estava saindo de fininho certa de que ele cairia no sono em
breve, quando ouvi a sua voz abafada pelo lençol.
— Dorme logo. Mais tarde venho te trazer um remédio para a ressaca que com certeza
você vai ter!
— Se dormir comigo não vai precisar voltar depois. Já vai estar comigo.
A voz continuava abafada. Ele estava deitado de bruços largado em cima da cama.
Ouvi um ronco logo em seguida, e o terceiro chamado não veio. Voltei para o meu
quarto levemente frustrada.
Capítulo 5 – O pós-festa
NAQUELA MESMA NOITE, um pouco mais tarde, ouvi os meus pais chegarem em
casa com Elisa e enquanto os velhos iam para o terceiro andar, Elisa passou feito um
foguete em nosso corredor, ainda emburrada pelo casamento de Renato.
De alguma forma, na cabeça da minha irmã, a cunhada Vânia — que tinha quase a
mesma idade do meu irmão, na casa dos vinte e poucos anos — tinha tirado o Renato
dela, e que agora que ele não moraria mais em nossa mansão em Moema conosco, as
chances dos dois se relacionarem novamente eram esparsas. A minha irmã ainda podia
fazer o mesmo com Mauro, mas a preferência dela pelo mais velho era nítida, o que a
deixou de mau humor por um bom tempo ainda após a festa. Deu para ouvir quando ela
bateu sua porta e fez estremecer o batente.
Já estava quase amanhecendo quando eu me levantei da minha cama e decidi dar uma
olhada em meu irmão na porta ao lado. Por precaução, levei um analgésico e um copo
d’água certa de que ele estaria morrendo de dor de cabeça após o porre que tinha
tomado na festa.
Entrei de fininho e tentei enxergá-lo dentro do quarto escuro. Acendi um abajur que
ficava sobre a escrivaninha e a luz azul iluminou a cama. Naquele momento, senti um
espasmo forte e o copo tremeu em minha mão me fazendo derrubar um pouco de água
no chão. Mauro estava deitado de costas em sua cama e ele estava completamente nu. O
lençol embaixo dele estava revirado e o travesseiro jazia jogado num canto como se ele
o tivesse arremessado durante o sono. Os meus olhos fixaram entre as pernas dele e eu
fiquei admirando aquele pau completamente duro cheio de veias saltando e com a
cabeça descoberta. Eu já tinha lido que alguns homens tinham ereção durante o sono,
mas vendo pessoalmente, eu estava bem impressionada. Quase batia na barriga.
— Mau. Acorda.
Tentei acordá-lo delicadamente ao seu lado na cama. Deixei o copo e o remédio sobre o
móvel de três gavetas na lateral e toquei o seu ombro uma vez mais.
Mauro enfim despertou na terceira vez que o chamei e ele me viu ao seu lado esquerdo.
Cobriu os olhos logo que a luz do abajur incidiu de encontro com a sua retina e se
queixou:
Ele jogou o comprimido dentro da boca e pegou o copo de água em minha mão. Bebeu
tudo num gole só. Não estava nem um pouco constrangido em estar nu diante de mim.
— Tenta dormir mais um pouco. Quando acordar, vai estar muito melhor.
Eu estremeci com aquele pedido. Meu coração disparou no peito mais uma vez e sem
disfarçar, encarei aquele pau duro e grosso novamente.
O que eu estou fazendo? Eu não conseguia conter os meus olhares naquela coisa imensa
e deliciosamente ereta.
A sua mão enlaçou a minha cintura antes que eu levantasse. Ele estava me olhando
estranho, de um jeito que nunca o tinha visto me olhar. Era como os garotos na escola
me secavam me vendo de shortinho nas aulas de Educação Física.
Ainda tentei me desvencilhar dele, mas Mauro me puxou e eu sentei de novo na cama.
Uma das suas mãos subiu em minha coxa e começou a deslizar em minha pele. Eu
estava vestindo um short curto do pijama do Piu-Piu que tinha comprado no último
verão. Estava sem calcinha por baixo. Me arrepiei inteira.
— Quem disse que não? — Eu o olhei confusa — Quero agradecer pelo jeito carinhoso
que cuidou de mim ontem.
Quando ele disse aquilo, Mauro se mexeu na cama e a mão em minha cintura me puxou
mais para o centro do colchão, para mais perto dele. Senti minha coxa roçar em seu
corpo e ele estava pegando fogo. Meu irmão deu um beijo de leve em meu braço e logo
alcançou um dos meus seios. A regata do pijama era bem fininha e senti os seus lábios
tocarem o meu mamilo através do tecido.
Ele repetiu aquele beijo e eu senti meus bicos intumescerem. Eu não usava sutiã para
dormir e ele começou a descer a alça da blusinha, me desnudando.
Ele puxou a alça da minha blusa e o meu seio direito pulou em seu rosto. De tudo que
ainda estava em desenvolvimento em meu corpo, meus seios eram o que mais
chamavam a atenção. Àquela altura, eles já estavam bem grandes e pesados e sentir a
língua de Mauro em meu mamilo me fez reagir de maneira instantânea.
Meu próximo movimento foi me virar para ele e agarrar seu pau duro entre as pernas.
Eu não sabia bem o que fazer com aquele monstro, mas massageei para cima e para
baixo como via as atrizes fazendo nos caras em filmes pornôs. Mauro puxou a outra alça
da minha blusa e viu meu outro seio surgir. Ele abriu as pernas me deixando masturbá-
lo e meteu o rosto entre os meus peitos para chupar ambos.
Foi então que ele foi descendo a boca e parou em minha barriga. Senti uma pressão
entre as pernas enquanto ele me lambia já descendo até a minha vagina. Sentia como se
tivesse feito xixi na calça e espasmei sobre a cama quando a língua de Mauro percorreu
meu sexo por cima do short do pijama.
Eu estava me contorcendo e ele ainda nem tinha me despido. Os seus dedos tocaram o
elástico da minha roupa e Mauro começou a me deixar pelada devagar. Deixou o short
na altura dos joelhos e ficou admirando a minha vagina.
O meu irmão me chupou até eu não aguentar mais de tanto tesão e foi aí que eu pedi
com toda a coragem que havia me surgido no momento em que ele tinha tocado em
mim a primeira vez:
Ele estava me olhando com uma cara de tarado, então, segurou o seu pau e deu uma
forçada. Vi estrelas.
Tirou. Ele saiu melado de dentro e meteu um pouco mais. Rebolei para aguentar a dor.
— Tá doendo, Mau!
Ele ficou metendo e tirando bem devagar, até que eu abri mais as pernas e falei que ele
podia meter mais forte. Mauro obedeceu e enfiou até metade. Meu hímen se rompeu
naquela estocada e eu senti uma espécie de agulhada na minha área mais íntima. Queria
gritar, mas sabia que não podia. Vi aquela tora imensa suja de sangue e pedi que ele
continuasse.
Ele retesou os músculos e senti o peso do seu corpo sobre o meu, enfiando mais que a
metade de seu cacete duro dentro de mim. Senti uma dor ainda mais forte, mas não
queria que ele parasse. Segurei as suas costas e o deixei continuar.
Depois de perder a virgindade com ele, eu quis experimentar aquilo que tanto Elisa
falava que adorava fazer com Renato e eu me deitei na cama para chupá-lo. Feito uma
loba faminta, fiquei mamando naquela coisa deliciosamente grossa e dura, e mesmo sem
saber se estava fazendo certo — ou do jeito que ele gostava — eu chupei meu irmão até
ele depositar um jato intenso de sêmen em minha boca, o que me fez quase engasgar à
princípio. Sorri meio sem graça para ele, mas retomei o movimento e o deixei gozar o
restante. Tinha ficado maravilhada de o quanto aquilo era bom e entendi na mesma hora
porque Elisa gostava tanto de praticar com o Renato.
Eu tinha encontrado o caminho para a felicidade e não ia mais querer voltar dele.
Capítulo 6 – Soltando amarras
Depois daquele meu primeiro contato na cama com o meu irmão Mauro, um peso na
consciência começou a me tomar e eu passei a procurar na internet a razão para que as
pessoas praticassem o incesto. A rede mundial de computadores praticamente
engatinhava naquela época — nem existia o Google ainda! —, mas eu achei fóruns
falando sobre o assunto, além de relatos de irmãos, primos e até mesmo pais e filhos que
se relacionavam em segredo com medo do que a sociedade os iria acusar se descobrisse.
Eu tinha ficado obcecada com a simples ideia de que papai e mamãe acabassem
flagrando o que os seus filhos faziam na calada da noite e foi a Elisa quem me acalmou
na noite em que descobriu que eu tinha perdido a minha virgindade com nosso irmão.
Ela me contou as histórias que nosso pai relatou em sua última visita à casa de praia no
litoral e fiquei chocada em saber que em meio às drogas e ao álcool, os Castilho
transavam entre si há muitas décadas, muito antes de nós nascermos. Papai sempre fora
um tarado e ele havia transado com as próprias irmãs — minhas tias — durante as
orgias. E aquilo não se resumia só a nosso progenitor. Todos os demais Castilho
também participavam e não havia limites para o que eles podiam fazer entre quatro
paredes.
— Se aquela casa de praia pudesse falar, ela nos contaria histórias muito mais chocantes
do que imaginamos, mana — me disse a Elisa ao final de nossa conversa —, tire a culpa
da sua cabeça. Você não está doente nem nada. O que você e o Mauro fizeram é da
nossa natureza.
Uma semana depois do ocorrido e daquela conversa com Elisa, Mauro bateu em minha
porta de noite por volta das vinte e três horas e o atendi meio receosa. Ele estava de
bermuda e sem camisa exibindo o tórax definido. Me olhou com feição compenetrada e
fez o convite:
Diferente do que imaginei, Mauro me tomou pela mão e me levou até o quarto de Elisa.
Quando chegamos, a minha irmã já estava à nossa espera e ela vestia só calcinha e sutiã.
O seu corpo era bem mais sinuoso que o meu naquela idade e embora tivesse seios bem
pequenos, ela tinha um quadril de dar inveja, bem como uma bunda macia e grande. A
calcinha que usava era bem pequena e tinha uma renda na frente e um fio-dental atrás.
Eu me arrepiei inteira quando Mauro disse aquilo e em seguida, ele trancou a porta para
que ficássemos mais à vontade. Sabíamos que os nossos pais dormiam cedo e feito
pedra no andar de cima, e que àquela hora todos os empregados já tinham se recolhido
— pelo menos os que moravam ali —, mas todo cuidado era pouco.
— Deixe a nossa irmãzinha mais à vontade, Mau. Ela ainda acha que o que a gente faz é
errado.
Elisa disse aquilo já soltando o fecho do seu sutiã e enquanto seus peitos miúdos
pulavam para fora, Mauro veio por trás e me abraçou, começando a beijar o meu
pescoço. Senti algo duro roçar em minha bunda e logo percebi que ele já estava tendo
uma ereção.
— Com prazer!
Suas mãos suspenderam o baby-doll que eu vestia e os seus dedos firmes já passearam
em minha vagina por cima da calcinha. Me arrepiei toda.
— Olha como ela fica toda cheia de tesão! — Elogiou ele, no que subiu suas mãos para
agarrar os meus seios. Gemi.
Quando cheguei na cama, Mauro já tinha me deixado seminua e o meu baby-doll estava
no chão. Ele me acariciou inteira sabendo bem onde tinha que pegar para me acender o
fogo e assim que chegou ao colchão, foi Elisa quem o recebeu.
Ela enfiou a mão dentro do seu calção e puxou o seu pau para fora começando a
masturbá-lo. Logo depois, ele ficou em pé na cama e ela terminou de despi-lo, enfiando
a cabeça avermelhada inteira na boca.
A minha irmã ficou de quatro na cama e não parou de chupar o Mauro que fazia
movimentos de vai e vem na boca dela. Seu pau era mesmo imenso e não cabia todo lá
dentro, a fazendo salivar muito. Ele segurava os cabelos dela incentivando a mamada,
Elisa só o obedecia, o olhando sedenta. Aquilo estava muito excitante.
Fui convidada a participar no instante seguinte. Elisa me puxou para perto deles e pediu
que eu ficasse de quatro na cama como ela e o dividisse.
Elisa quis se juntar a mim e senti a sua língua roçar na minha. Foi uma sensação
estranha, mas prazerosa. Ela segurou firme a tora grossa e a dividiu comigo. Passei a
língua no corpo entre o tronco e o saco. Ela ficou com a cabeça.
Elisa se abaixou um pouco mais e engoliu uma de suas bolas. Eu a imitei. Era
prazeroso. Mauro gemeu.
Depois do sexo oral, eu estava com o meu corpo em chamas e quase gozei só de Mauro
puxar a minha calcinha. Estava tão excitada, que segurei o seu pau e o alisei como que
indicando que queria ser comida logo. Ele jogou a minha calcinha de lado, mas me
deixou na vontade, se dirigindo primeiro à Elisa que já estava pelada.
Eu vi Mauro se deitar sobre Elisa e deslizar a cabeça do pau entre os pelos castanhos de
nossa irmã. Aquela era uma época em que pelos vastos eram comuns na vulva das
mulheres e ela os tinha bem grandes. Os meus eram naturalmente ralos e mais claros.
Formavam apenas um “bigodinho” em cima da xoxota e eles estavam “suados” naquele
momento.
Era a primeira vez que eu via meus irmãos fodendo daquela maneira tão de perto e eu
estava incrivelmente excitada com os urros e gemidos que os dois emitiam um para o
outro durante o acasalamento. Não havia qualquer barreira ou proteção entre eles.
Ambos estavam totalmente libertos de qualquer pudor, transando como dois amantes
sobre a cama e se refestelando com aquilo.
Elisa já não era mais virgem há muito tempo, logo, ela tinha mais experiência que eu.
Mauro ainda não podia me foder da mesma maneira que fazia com a minha irmã e
quando ele me botou de pernas abertas, levou em consideração que eu só tinha transado
uma vez, enfiando devagar em mim. Senti que ele queria bombar mais forte dentro, mas
era obrigado a controlar o seu ímpeto. A minha xota ainda doía se fizesse com muita
força, mas daquela vez já estava incrivelmente mais gostoso que da primeira.
Logo depois, o Mauro se deitou na cama e deixou que nos sentássemos em revezamento
em cima do seu pau duro. Ele sugeriu que ficássemos as duas sentadas e só abríssemos
espaço uma para a outra. Elisa estava segurando em meu quadril por trás e estávamos as
duas em cima dele, de frente, vendo as expressões em seu rosto. A minha irmã apertava
meus seios cheia de tesão na hora do orgasmo, e aquilo me excitava. Quando ela saía de
cima, me puxava para trás e me encaixava no pau de Mauro. Sentia o mel de minha
irmã em sua superfície e já procurava engolir com a minha xoxota, sentindo aquele
mastro me rasgar toda.
Eu só sentia muito prazer. Nunca tinha passado por nada parecido com aquilo e me vi
completamente realizada na cama com os meus irmãos. Terminei aquela noite abraçada
com Mauro após ele gozar e nós três dormimos juntos sem qualquer medo que fossemos
flagrados. A sensação de satisfação era melhor e mais forte que nosso instinto de perigo.
Depois daquilo, eu comecei a querer que Mauro me cobrisse mais vezes e procurei
facilitar os nossos encontros. Ficava ansiosa para que chegasse logo a noite, e às vezes,
eu mesma o procurava em seu quarto. Vestia roupas curtas e provocativas para atiçá-lo,
mas sentia que aquilo não era necessário, já que ele nunca sequer pensava em me negar
o que eu queria.
Ele começou a me ensinar novas posições e me mostrou também como gostava que
chupassem o seu pau. Tínhamos a noite toda e aquelas eram as melhores lições para se
aprender. Comecei a fazer somente do jeito que ele gostava e quase sempre terminava
com um “final feliz”.
Mauro tinha um tesão louco pelo meu corpo e antes de me foder, adorava ficar um bom
tempo me lambendo e me chupando inteira enquanto me elogiava. A cada dia que
passava, eu estava mais sinuosa e o meu quadril começava a ganhar proporções de
mulher, o que o fazia ficar agarrado a mim beijando a minha bunda.
Num daqueles dias, eu o senti afoito para provar outro dos meus orifícios e ele ficou um
bom tempo me chupando lá atrás e enfiando o dedo para saber se eu o deixava ir além.
Eu estava um pouco nervosa, mas decidi que queria experimentar.
Ele pediu que eu me posicionasse de quatro e arrebitasse bastante a bunda, no que após
um belo banho de língua e saliva, Mauro enfim enfiou a cabecinha dentro de mim. Era
uma sensação esquisita de início, mas que ia ficando bom à medida que intensificava a
penetração.
— Que delícia de cuzinho apertado, Carlinha. Nossa! Nem vou aguentar!
Ele gozou em poucos minutos dentro de mim e quando se recuperou, quis tentar de
novo.
Eu virei a amante preferida de Mauro e eram raras as noites em que um não visitava o
quarto do outro andando pela casa feito dois bandidos suspeitos. Eu estava viciada em
sexo e cheguei a querer o meu irmão só para mim, me enchendo de ciúmes quando Elisa
também o procurava e eu o tinha que dividir com ela no quarto. Eu tinha me tornado o
que a Elisa era com Renato antes do seu casamento com Vânia e tremia só em pensar
que o mesmo poderia me acontecer quando ele arranjasse uma mulher e fosse embora
de casa.
Capítulo 7 – Competição de popularidade
ALGUMAS SEMANAS depois de eu ter começado a fazer sexo com Mauro, o nosso
pai passou mal na empresa e teve que ser levado às pressas para um hospital. Os
médicos tinham diagnosticado um AVC em estágio inicial e naqueles dias, acionamos
os primeiros sinais de alerta quanto à saúde do velho Castilho.
Jaime nunca fora dado a cuidar da própria saúde e todos nós sabíamos que, apesar da
idade já avançada, ele era dado a certos excessos como bebida, drogas e sexo em
demasia. Os anos 70 já tinham passado há muito tempo, mas era como se ele se sentisse
saudoso dos velhos tempos e quisesse continuar no mesmo ritmo que em sua juventude.
Todos nós o alertamos para que ele tomasse mais cuidado a partir de agora, mas era
bem óbvio que ele não ia nos ouvir.
— Tenho uma saúde de ferro. Não sou nenhum maricas! — Disse ele, assim que
retornou do hospital.
Naquele mesmo período, Vânia deu à luz ao Jonathan, o meu primeiro sobrinho, e a
felicidade estampada no rosto do velho Jaime ao ver o pequeno neto através do vidro da
maternidade valeu todo o perrengue que havíamos passado com ele e o seu AVC nas
últimas semanas.
O bebê era realmente lindo e tinha cabelos loiros espetados no alto da cabeça, além de
olhos castanhos brilhantes e feições parecidas com as da mãe. Renato não podia estar
mais orgulhoso, e naquele dia, comemorou conosco em nossa casa o nascimento do
primogênito, enquanto a família de Vânia a acompanhava no hospital até que ela
recebesse alta médica no dia seguinte.
— Ao meu pequeno Jonathan e a paz e prosperidade que ele vai trazer para a nossa
família! — Ergueu um brinde na minha presença, na de papai, mamãe, Mauro e Elisa.
Por um breve momento, voltamos a ser os irmãos unidos que éramos desde sempre e
algum tempo depois das comemorações, quando papai subiu para descansar
acompanhado de mamãe — resmungando que tinha sido obrigado a brindar com água
— nos encontramos à beira da piscina para relembrar os nossos velhos tempos.
Elisa aproveitou para ficar agarrada ao irmão mais velho que tanto admirava e chegava
a encher a sua taça de champanhe quando via que ele a estava esvaziando, submissa. O
sentimento de nostalgia foi tomado por uma certa amargura algum tempo depois e o
primogênito de Jaime se queixou da vida de casado:
— Duro é ter que ficar sem sexo por conta da gravidez da Vânia!
— Poder pode — respondeu Renato —, mas a Vânia sentiu muito desconforto ao longo
da gestação e meio que perdeu a libido nesse período. Estou na mão há uns quatro ou
cinco meses!
E ele fez o gesto de uma “punheta” no ar, o que causou risos em nós três.
— É o que você ganha por engravidar a noiva antes de casar! — Caçoou Mauro,
acabando também com o champanhe em sua taça.
— É o que dizem… O apressado come cru! — Concluiu Renato, com ar infeliz. Elisa
pareceu se divertir.
— Se tivesse ficado aqui com a gente, teria sexo o tempo todo. — Ela disse aquilo de
maneira maliciosa e um tanto quanto provocativa. Os seus olhos então fitaram os meus
e ela revelou à Renato a novidade: — Até a nossa caçulinha já entrou em nosso
joguinho proibido!
— Ah, é mesmo? Que grande novidade! Já estava na hora, hein, Carlinha! Achei que
você fosse boa demais para se juntar a nós!
Ele me deu uma secada estranha e os seus olhos percorreram o meu corpo como que se
eu estivesse sendo avaliada. Apesar de saber tudo que ele já tinha feito no quarto com
Elisa, eu ainda não pensava nele como um parceiro sexual e nem estava a fim de
começar. Sabendo o quão ciumenta era a minha irmã com relação ao seu irmão
preferido, eu não estava disposta a ter que suportar os seus achaques mais tarde caso eu
passasse a me relacionar com ele também.
Por volta das vinte e duas horas, como de praxe, os nossos pais se recolheram e o único
som que ecoava em nossa casa era das nossas risadas jogando cartas na sala. Mauro
tinha me ensinado a jogar Truco há algum tempo e eu tinha ficado boa naquilo, o que
garantiu várias vitórias consecutivas da nossa dupla contra Renato e Elisa.
— Você está roubando, Carla! Não é possível ter tanta sorte assim! — Reclamou
Renato, jogando sua mão azarada de cartas sobre a mesa.
— Admita que sou boa, irmãozinho. Não vai doer! — Disse a ele, me sentindo a melhor
jogadora do mundo.
Renato me olhou de uma maneira indecente e repetiu, dando a entender que não estava
falando dos meus dotes de jogadora:
— Papai e mamãe já foram dormir. Por que a gente não sobe para o quarto agora para
terminar a brincadeira lá dentro?
Renato passou o dorso do indicador direito sobre a maçã do meu rosto, e pouco depois,
estava subindo apressado logo atrás de Mauro e de Elisa, que àquela altura dos fatos,
estava ansiosa para voltar a ficar com seu irmão predileto.
Desde sempre, eu tinha sido uma ótima aluna e os meus professores de nada podiam
reclamar sobre mim. Eu era o tipo de estudante que me sentava sempre na primeira
fileira da classe, que anotava cada coisinha falada pelos mestres, que fazia notas de
rodapé no caderno com informações extras que não constavam no quadro negro e que
sempre passava a limpo todas as anotações quando chegava em casa.
Em tempo de provas e exames, eu usava boa parte daqueles apontamentos para estudar,
e por conta disso, quase sempre conseguia me destacar com as notas, surpreendendo
meus amigos e os deixando com certa inveja.
Ser a queridinha dos professores não me dava a vantagem de ser tão popular quanto eu
gostaria de ser naquela idade. O Ensino Médio era uma época de muita competição e os
alunos rivalizavam por praticamente tudo. Quem é o mais inteligente, quem é o mais
popular, quem é o mais bem-vestido, quem é o mais namorador…
Era um dia comum de aula quando duas amigas vieram me contar esbaforidas que um
dos garotos mais bonitos da nossa turma — o atleta da sala — tinha ficado interessado
em mim e que estava querendo sair comigo no próximo fim de semana.
— Tem certeza que ouviram direito? — Indaguei a elas quase tão surpresa quanto as
duas.
— Eu ouvi da própria boca dele — disse a minha colega Elenice, uma garota de pele
preta, lábios grossos e olhos escuros feito jabuticabas —, ele tava elencando as meninas
mais gostosas da nossa sala e o seu nome foi citado umas duas ou três vezes.
Fátima, a outra das minhas colegas que estava ali no pátio do colégio para me contar a
novidade assentiu a tudo que Elenice tinha dito. Jurou de pé junto que era verdade.
— Ele disse que te acha a maior delícia e que vai te chamar pra passear com ele no
sábado. Você vai aceitar, não é, amiga?
A Fátima puxou o meu braço me pressionando para responder de imediato o que ela
queria saber. Eu sabia o quanto as opiniões dos garotos daquela idade podiam ser
volúveis, por isso, resolvi esperar que o próprio bonitão viesse me contatar para só então
tomar a minha decisão.
Anderson Góes era o garoto mais desejado da nossa turma e por onde ele passava, se
juntava um coro de meninas a suspirarem por ele. Era um moreno de pele escura,
cabelos cortados estilo “reco”, corpo esguio e com um bigodinho um pouco mais
espesso acima dos lábios. Fazia parte do time de basquete do colegial e diziam que tinha
habilidade de sobra para fazer parte da seleção nacional se quisesse levar o esporte a
sério.
Naquela sexta-feira, eu estava saindo pelo portão do colégio segurando o meu fichário e
a bolsa em minhas costas quando senti alguém puxar o meu antebraço. Deixei que
Elenice e Fátima seguissem na frente sem mim e parei para ouvir o que o Anderson
tinha a me dizer.
— Fiquei sabendo que cê tá solteira e que não tem ninguém te azarando, Carla. O que
acha de a gente sair pra se divertir um pouco amanhã?
Ele não era muito bom de papo, mas decidi me deixar levar pela empolgação de estar ali
falando com o garoto mais popular do colégio bem na frente da multidão de alunos que
se aglomerava na calçada do lado de fora do prédio.
— Pode ser — respondi de uma maneira um pouco mais tímida —, onde quer me levar?
— Sei lá. Tava pensando no boliche da Rua Dezoito. Ou então, naquela praça da Rua
Vinte e Dois.
— Boliche. A gente pode ir ao boliche — respondi para lhe dar confiança.
— Beleza então — Anderson agarrou os meus ombros para me dar um beijo no rosto e
algum tempo depois, nos separamos na saída do colégio. Elenice e Fátima pareciam
incrédulas que aquele convite havia mesmo acontecido, mas ao nosso redor dava para
perceber uma porção de garotas preteridas pelo bonitão me olhando feio e se corroendo
de inveja.
Como eu disse, qualquer coisa virava uma competição tipo “Brasil x Argentina” no
colégio e aquilo era algo da qual tínhamos que aprender a lidar com o tempo.
Capítulo 8 – Ganhando asas
Com todo o seu sex appeal não era difícil de conceber que aquele garoto tinha uma lista
extensa de conquistas amorosas pela escola, e durante aquele papo no boliche, enquanto
lançávamos uma ou outra bola na pista que tínhamos alugado por uma hora, ele me
confessou que já havia ficado com várias das nossas colegas de turma.
Eu detestava pessoas arrogantes e Anderson era mesmo do tipo que a cada três frases
completas que soltava pela boca pelo menos duas eram de ele se gabando. Eu não estava
mesmo a fim de descobrir em quantas das nossas colegas ele já havia passado o pinto,
mas depois de um tempo, ele começou a listar cada uma delas. Foi quando o interrompi
um pouco chateada:
— Você me chamou aqui pra ficar falando das suas ex-namoradas, é isso?
Ele se retratou de imediato e comentou que nunca tinha saído com uma garota, em suas
próprias palavras, “estilosa” como eu. Naquela tarde ensolarada de sábado, eu tinha
vestido uma blusa baby-look fazendo conjunto com uma saia de couro. Tinha vestido
por baixo uma meia-arrastão e calcei um par de botas de cano curto nos pés. Eu
costumava me vestir daquele jeito nas raras vezes que saía de casa na companhia de
Elisa para as festas que frequentávamos juntas e nem me achava tão “estilosa” assim.
— Eu conheço cada uma das meninas da turma como a palma da minha mão — disse o
rapaz moreno ao meu lado, já preparando um novo arremesso na pista de boliche —,
mas você sempre foi um mistério… sempre tão calada, sempre tão “nerd”.
Achei aquilo ofensivo. Naquela época, o termo “nerd” se referia a pessoas sem traquejo
social que se limitavam a estudar de maneira compenetrada e a se comportar de maneira
esquisita perante as outras pessoas.
Anderson jogou a bola pesada na pista e ficou esperando o resultado. Atingiu três dos
quatro pinos que ainda restavam no pin deck e se maldisse com um palavrão.
— O que eu quis dizer é que você é diferente das outras meninas, Carla — ele tentou
retomar o raciocínio, se esforçando para se fazer entender —, foi isso que me atraiu e
me fez te convidar para sair, saca?
Eu tinha “sacado” e resolvi lhe dar o benefício da dúvida pelo resto da tarde.
Após o boliche, Anderson me levou para um bar perto da casa da sua família que ficava
no bairro Praça da Árvore, Zona Sul de São Paulo, e de lá, me convidou para conhecer
os seus pais.
Como era de se esperar, nenhum dos dois se encontrava quando adentramos a sala
espaçosa da casa confortável onde ele morava e só então eu percebi que tinha caído na
armadilha mais velha do mundo.
— Você sabia que os seus pais não iam estar aqui, não é?
Ele abriu um sorriso cínico por de trás daqueles lábios carnudos, e pouco depois, nós
dois estávamos nos abraçando e nos beijando sobre o sofá de couro da sala.
Por mais que eu o achasse superficial e um tanto quanto convencido demais para o meu
gosto, era inegável que o Anderson era um tremendo de um gostoso e eu precisava sanar
as minhas necessidades sexuais. Após o meu envolvimento com o meu irmão mais
velho, eu tinha ficado com a libido em polvorosa e o menor pensamento envolvendo
sexo já me deixava acesa e com muita vontade de praticar.
Após me envolver em todo o seu clima de “pegação” sobre o sofá, o dono da casa,
enfim, me arrastou para o quarto que ficava no andar superior da casa. Não esperou
nada para arrancar a calça e começar a me exibir o que tinha entre as pernas. Fiquei
abismada.
— Minha nossa! Onde foi que aprendeu a fazer desse jeito! Cacete!
Eu não era tão experiente no assunto, mas o jeito que Mauro havia me ensinado a fazer
nele também funcionava em outros homens e aquele era o meu primeiro teste fora de
casa. Pela cara de Anderson em pé diante de mim, eu estava me saindo bem.
Após o sexo oral, o garoto grande e forte quis retribuir e me senti um pouco
envergonhada em tirar a roupa diante de um quase estranho. Por mais que estudássemos
juntos há quase dois anos, eu não tinha muita intimidade com Anderson até aquele
momento e senti o meu rosto queimar quando ele se livrou da minha calcinha e
começou a cheirar as minhas partes íntimas.
Comigo sentada de pernas abertas na beirada da sua cama, Anderson segurou as minhas
coxas e começou a penetrar a sua língua dentro de mim. Sorvia o meu suco fazendo
barulho e tilintava o meu sininho com muito talento, me tirando o fôlego. Sem parar de
me elogiar enquanto me chupava vorazmente, ele passou a me penetrar o dedo médio da
mão direita sem parar de me lamber e aquilo me causou o primeiro orgasmo da tarde.
— Eu sabia que você era gostosa, mas não esperava que fosse tanto!
Segundo as minhas amigas Elenice e Fátima, eu tinha sido elencada por Anderson e os
seus amigos tarados como a garota mais gostosa da sala em uma votação livre feita por
eles. Eu tinha vencido a Ana Maria Santoro — que era uma garota linda de olhos verdes
e cabelos loiros ondulados — por uma diferença de dois votos e tinha entrado no radar
dos garotos depois disso.
Aquelas competições eram ridículas, mas realmente tinha gente que as levava a sério.
Longe de estar preocupada em quem era a mais ou a menos gostosa da turma, eu só
estava querendo me satisfazer na companhia do Anderson, e nesse quesito, o garoto de
pele escura em cima de mim deu conta do recado.
Transar com alguém com quem eu não possuía grande intimidade era um tanto quanto
estranho de início e assim que passou todo o meu tesão, eu saí da casa de Anderson um
pouco frustrada comigo mesmo. Enquanto fazíamos sexo sobre a cama de solteiro, tudo
tinha sido extremamente satisfatório, mas foi só o garoto gozar e a gente começar a se
vestir que todo o encanto passou como num passe de mágica.
— E ele é mesmo gostoso como dizem? — Quis saber a Elenice me puxando pelo braço
enquanto avançávamos pelo corredor da sala de aula.
Enquanto as minhas amigas se orgulhavam de mim por ter “pegado” o garoto mais
popular do colégio, o número de rivais que eu conquistei por conta da minha
aproximação a ele só aumentou. Tive que enfrentar um sem-número de olhares
enviesados em minha direção e mais uma porção de promessas de surras que eu levaria
se continuasse a me encontrar com o Anderson.
A fim de aumentar um pouco mais o seu ego e alimentar ainda mais a já tremenda fama
de pegador que ele tinha, o jogador de basquete meio que me ignorou ao longo da aula
toda, mas quando deu o horário da saída, correu feito um cachorrinho adestrado
abanando o rabo atrás de mim e me chamou para visitar a sua casa aquele início de
noite.
— O meu pai vai trabalhar até tarde e a minha mãe tem cabeleireiro agendado à noite.
Topa dar uns amassos?
Já tínhamos tomado um susto como aquele antes, mas desde o início, eu sentia em meus
ossos que era algo mais grave. O motorista nos levou direto de casa ao hospital onde
papai tinha dado entrada com outra suspeita de AVC e encontramos o Renato e o Mauro
no corredor, ambos com feição abalada.
— Ele se foi.
Embora ele preferisse manter distância da maioria dos filhos quanto a carinho e atenção,
o homem era uma espécie de fortaleza que nos inspirava a sermos perseverantes com
nossos sonhos no cotidiano e não era fácil ver uma fortaleza ruir da noite para o dia. Eu
estava profundamente entristecida, mas mamãe e Elisa estavam inconsoláveis. O choro
das duas era o mais ruidoso e invadiu os nossos ouvidos durante todo o cortejo fúnebre.
Os dois eram os diretores mais jovens a assumirem a frente da empresa que tinha sido
fundado nos anos 80 por papai e aquilo, de início, deu um fôlego novo aos negócios da
família.
Eu sabia que também precisava honrar aquele legado deixado pelo velho e enquanto
cursava os últimos anos do Ensino Médio no colégio, já planejava à longo prazo a
faculdade que iria fazer e como iria contribuir para que o império de papai não ruísse
junto do seu nome.
Eu queria fazer Arquitetura para assumir um dos cargos de responsabilidade na
construtora e todos os meus irmãos me apoiaram em minha decisão. Elisa já tinha
encaminhando a sua carreira como gestora e as suas aulas começaram naquele mesmo
mês. Agora, todos nós precisávamos estar mais unidos do que nunca.
Mamãe ficou extremamente abalada com a morte de papai e enfrentou momentos bem
difíceis de saúde por conta da sua já incômoda debilidade óssea. Além das dores que
sentia, ela agora vivia amuada pelos cantos se sentindo extremamente solitária enquanto
eu e Elisa nos ocupávamos dos nossos estudos. Algumas amigas de ONG, socialites
como ela, a visitavam regularmente, mas nada parecia fazê-la se animar mesmo que
temporariamente.
Um ano após a morte de papai, a nossa vida pareceu tomar novos rumos e o Renato
anunciou que Vânia estava esperando a segunda criança do casal. Uma menina estava a
caminho daquela vez e todas as mulheres da família entraram em polvorosa ao saber da
notícia.
Elisa e eu começamos a sugerir milhares de nomes lindos para que Vânia batizasse a
bebê e até a nossa mãe quis palpitar, dizendo que Janete era um lindo nome e que trazia
muita energia positiva por significar “aquela agraciada por Deus”.
Embora não fossemos nem de longe religiosos, todos nós guardávamos certa
espiritualidade em nosso interior e Vânia decidiu considerar a sugestão de nossa mãe.
Janete nasceu alguns meses depois linda e saudável na mesma maternidade que o seu
irmão. Dava para ver no rosto de Renato o quanto a vinda ao mundo da filha havia
mexido com ele. Meu irmão era bastante apegado ao pequeno Jonathan, mas com Janete
era algo totalmente diferente. Ele não só babava pela filha como parecia querê-la
proteger de tudo e todos. Tinha se tornado o modelo perfeito de pai superprotetor.
Algum tempo depois do nascimento de Janete, foi Mauro quem surgiu com as
novidades e anunciou que estava noivo, pronto a se casar em breve com uma moça
chamada Solange que ele havia conhecido por intermédio de amigos dele. Ela era
alguns anos mais nova que o meu irmão e era formada em Design de Interiores,
profissão que exercia com grande talento e afinco numa empresa terceirizada pela
Construtora Castilho.
Logo que a conheceu, a moça ganhou grande afeição pela cunhada Vânia e as duas
criaram uma ligação única por dividirem o gosto por decoração e construções. A esposa
de Renato era formada em Arquitetura e as duas tinham frequentado o mesmo campus
da universidade, embora em épocas diferentes.
— A Carlinha também vai cursar Arquitetura como eu. Já lhe dei várias dicas para
encarar de frente a profissão. Acho que você também tem bastante coisa para passar a
ela na sua área, Solange — disse a Vânia, entre mim e a noiva de Mauro no dia em que
meu irmão promoveu um jantar em nossa casa para nos apresentar a moça.
Embora sentisse no fundo uma pontada de ciúmes por meu irmão finalmente ter se
endireitado com alguém, eu estava extremamente feliz pelo casal e sentia que Solange
era a mulher certa para ele. Ela era inteligente, culta e bem-humorada. Ele não podia ter
arranjado melhor companheira.
No ano em que me formei no Ensino Médio, a minha irmã Elisa ganhou um passeio
num cruzeiro bancado pela faculdade de Gestão e confesso que poucas vezes a tinha
visto tão empolgada com alguma coisa na vida.
A viagem de alguns dias pela costa brasileira era com o intuito de que os alunos e
convidados fizessem networking com outras pessoas ligadas ao seu ramo e que
estudavam ou trabalhavam em outras universidades, o que deixou Elisa extremamente
excitada. Às vésperas do tal passeio, ela só conseguia falar sobre aquilo e se tornou até
mesmo um tanto quanto repetitiva.
Nos dias em que Elisa foi viajar, eu me encarreguei de tomar conta de Jonathan e de
Janete para a minha cunhada, que na época, precisava fazer pessoalmente a revisão de
um importante projeto de arquitetura para a construtora. Minha mãe ficou muito
contente em me ajudar com as crianças. O filho de Renato e Vânia era extremamente
agitado e deu vida à nossa casa novamente, correndo para cima e para baixo da mansão
quase o tempo todo.
Segundo a sua mãe, a babá do menino quase enlouquecia atrás dele o dia todo enquanto
ela trabalhava, mas eu estava achando aquilo tudo muito familiar, já que em minha
infância, eu era tão agitada quanto ele. Jonathan era um amor, e mesmo peralta, era
bastante educado e inteligente, observando tudo à sua volta e comentando sempre que
podia com observações bastante perspicazes para a idade que tinha. Minha mãe via
bastante semelhanças entre ele e eu quando ainda era uma criança.
— Parece até que é seu filho, Carla! — Disse ela, sentada no sofá ninando a bebê Janete
em seu colo enquanto via Jonathan correndo pela sala.
— Vou adorar ter um filho como o Johnny um dia — disse eu sonhadora, rindo com as
peripécias do menino que fingia que ia sair voando escada acima.
Aquela era a primeira vez que eu pensava no assunto filhos, e por um momento, me
veio a imagem do meu irmão Mauro gozando dentro de mim em nossas últimas
aventuras sexuais juntos.
Oh, Deus! Melhor nem pensar nisso!
Alguns dias depois, de volta do seu cruzeiro de negócios pela costa do Brasil, Elisa
estava ainda mais radiante e me puxou para o seu quarto para me contar em detalhes
como tinha sido a viagem. Segundo ela, tudo tinha sido perfeito com relação ao
networking e a minha irmã dizia que havia conhecido muita gente importante a bordo do
transatlântico, incluindo o filho de um empresário árabe do ramo petrolífero que estava
fazendo um intercâmbio no Brasil.
— Mas nem é isso que estou doida pra te contar, Carla. Eu conheci o homem da minha
vida naquele cruzeiro!
Elisa passou a hora restante detalhando a relação que havia tido com um moço ruivo de
olhos verdes que havia conhecido a bordo do cruzeiro e que, segundo ela, era o melhor
amante que ela já tinha tido na vida toda. Empolgada, ela o chamava carinhosamente de
“garanhão pauzudo” e passou a se referenciar assim a ele todas as vezes que o citava em
nossas conversas.
— Nunca ninguém tinha me comido do jeito que esse cara me comeu, maninha! Nunca
fiquei tão arrependida de ter tratado ele apenas como um amor de verão quando pisei
fora do transatlântico. Queria ter o seu telefone para marcar um novo encontro. Acho
que nunca mais alguém vai me comer daquele jeito!
Algum tempo passou e aquela conversa com a minha irmã se perdeu entre tantas que
tínhamos ao longo do nosso convívio. Apesar do gênio impulsivo de Elisa, nós duas
éramos grandes amigas, além de irmãs, o que nos fazia confidenciar tudo que vivíamos
uma à outra. Cada namorado, ficante ou mesmo casinhos passageiros — como o
“garanhão pauzudo” do cruzeiro e o jogador de basquete da minha turma — que
tínhamos era de conhecimento mútuo entre as duas e assim foi quando a minha irmã
conheceu o Peterson, o cara que viria a ser o seu marido e o pai dos seus filhos gêmeos
Cleide e Cléber.
Naquele dia, ela me contou com um brilho nos olhos sobre o rapaz lindo que a tinha
cortejado no campus da faculdade e como ele era incrível. Os dois começaram a sair
juntos para todos os cantos e se tornou bastante comum vê-lo frequentar a nossa mansão
mesmo antes que ambos tivessem oficializado o seu namoro. Ele estudava Engenharia e
aquele fato isolado por si só o tornou bastante próximo aos cunhados Renato e Mauro,
que tinham bastante assunto com ele por conta do trabalho na construtora. Peterson
Tomazzi era bastante simpático e o seu bom-humor contrastava muito com o jeito meio
implicante de Elisa. Mesmo antes que eles soubessem disso, os dois formavam um casal
perfeito.
Capítulo 10 – O vizinho
O MEU CASO COM ANDERSON Góes não durou muito além do que quatro
encontros muito quentes entre ele e eu; duas vezes em sua casa e outras duas no beco
entre o colégio e um depósito de frios nos arredores de Moema.
Nós dois tínhamos uma química sexual muito boa, mas a falta de assunto nos intervalos
entre uma transa e outra me desanimava muito a continuar com o garoto.
Relacionamentos sérios não eram muito a ideia dele e eu não demorei a perceber que
naquele ritmo, logo um estaria completamente enjoado da cara do outro.
No dia em que anunciei a ele que não iríamos mais nos encontrar fora do colégio, quase
deu para ouvir os fogos de artifício explodindo sobre as nossas cabeças. A notícia se
espalhou feito rastilho de pólvora pelos corredores da instituição de ensino e em pouco
tempo, já tinha uma fila de garotas se posicionando atrás do jogador de basquete a fim
de ser a próxima “senhorita Góes” da vez.
Depois do Anderson, eu comecei a me ver muito carente pelos cantos de casa e a
masturbação voltou a fazer parte da minha rotina. Ainda me pegava sonhando acordada
com o meu irmão e a sua pegada firme, o imaginava chegando em casa afoito para me
tomar como antigamente e quase morria de tanto tesão com os meus devaneios
libertinos.
Na falta de Mauro, que agora tinha a sua própria esposa para tomar quando bem
quisesse, eu acabei encontrando companhia num garoto que morava na mesma rua que
os Castilho e que era filho de um importador de bebidas.
Jordy era um moleque caucasiano de olhos castanhos que de vez em quando passeava
com uma fêmea de pitbull chamada Lana pelo bairro e que era muito querido por toda a
vizinhança. O seu pai, Roberval Pires, trabalhava para uma firma de importação há mais
de vinte anos e tinha começado a fazer negócios com o meu pai há dez, trazendo da
Espanha e de Portugal as melhores safras de vinho que encontrava por lá para o velho
Castilho.
Jordy, Elisa e eu já tínhamos brincado algumas vezes juntos com outras crianças da rua
em nossos tempos áureos de pique-esconde, mas eu e ele nunca antes tínhamos tido
qualquer relacionamento além da amizade infantil. Foi numa tarde fria de inverno que o
garoto ficou encarregado de trazer pessoalmente à minha casa um engradado especial de
um tinto Meruge Douro que vinha direto de Portugal e eu o atendi à porta de casa.
— Ah, oi, Carla. Há quanto tempo!
Estendi a minha mão e ele se enrolou todo para segurar a caixa pesada enquanto me
cumprimentava gentilmente.
— Está pesada, não é? — Ele fez que sim com a cabeça um pouco constrangido —
Vem, me segue. Pode deixar a caixa na despensa. Eu te mostro o caminho.
O engradado de Meruge era uma encomenda que o meu irmão Mauro havia feito a
Roberval há algumas semanas e o pacote tinha recém-chegado do porto de Santos, onde
ficava a maioria das cargas que o importador trazia para o Brasil até a sua distribuição.
No caminho até a despensa, Jordy me explicou um pouco sobre o vinho que tinha
trazido para o meu irmão e usou termos que pareciam muito ensaiados para alguém que
era só o intermediador entre a importadora e o cliente final.
— … o Meruge é repleto de notas aromáticas que recordam frutos vermelhos. Além
disso, possui uma acidez equilibrada. Você deveria provar.
Eu o encarei com um ar de leve desconfiança e decidi lhe tirar um sarro:
— Você está oferecendo bebida alcoólica para uma menor de idade, é isso mesmo?
Jordy ficou claramente desconcertado e se pôs a inventar mil desculpas para dizer que
aquela não era a sua real intenção e que ele não queria ser mal interpretado. Desfiz a
brincadeira imediatamente antes que ele saísse correndo dali achando que estava
infringindo alguma lei e segurei o seu ombro antes de dizer:
— Eu estou te zoando, Jordy! Eu tomo bebidas alcoólicas faz tempo. Até parece que
não conheceu o meu pai, o maior beberrão desse bairro! Ele sempre tinha uma garrafa
de vinho, uísque ou vodca por perto. Se bobear, ele já deve ter colocado um pouco de
álcool na minha mamadeira sem que a minha mãe percebesse só para fazer com que eu
me acostumasse com o gosto desde bebê!
Ele deu uma risada que era um misto de nervoso com alívio. Passou as mãos pelos
cabelos castanhos lisos empurrando a franja comprida para trás e o rosto voltou a corar
depois de ter assumido um tom branco-papel pelo susto.
— Caramba! Você me assustou… eu quase caí nessa! — Admitiu ele envergonhado.
O espaço da despensa não era muito grande e nós dois estávamos bem próximos um do
outro. Eu estava vestindo um blusão comprido que caía quase até o meio das coxas e
usava um short curto por baixo, além de um par de meias brancas calçadas nos pés. Dei
uma olhada numa das garrafas do engradado e o convidei em seguida:
— Que tal abrir uma dessas e tomarmos um gole juntos enquanto você me explica mais
um pouco sobre aquelas notas aromáticas que mencionou?
O casarão ficava bastante vazio durante a semana enquanto os meus irmãos mais velhos
trabalhavam na construtora e a Elisa estudava em sua graduação de Gestão. Além da
Ruth, a nossa doméstica, de vez em quando o Hélio passeava por ali tomando conta da
propriedade e o jardineiro aparecia para podar as plantas do jardim ou limpar a nossa
piscina. Quando estava de folga no colégio, era muito comum que ficasse totalmente
sozinha por ali durante horas sem topar com uma única viv’alma dentro daqueles
imensos metros quadrados de pedra, cimento e aço. Eu estava bastante solitária aquele
dia e a visita de Jordy veio muito bem a calhar.
Depois de abrir uma das garrafas do vinho do Porto que havia trazido para o meu irmão,
Jordy aceitou se sentar comigo num dos sofás da sala e ficamos a papear, relembrando a
nossa infância feliz nas ruas do bairro onde morávamos desde o nosso nascimento.
Além dele, eu conhecia mais uns cinco ou seis guris com quem me juntava aos finais de
semana para jogar queimada na rua, brincar de pega-pega ou simplesmente andar de
bicicleta até os limites do bairro. Jordy era o mais novo deles e quase sempre voltava
para casa com os joelhos ralados ou com alguma parte do corpo dolorida pelos tombos
que levava. O seu apelido entre os garotos era “molenga” e demorou até que ele se
livrasse da alcunha indesejada que havia recebido por ser desastrado.
— A minha mãe cansou de passar mertiolate nos meus machucados — disse ele ao meu
lado no sofá, agora muito mais à vontade enquanto degustava o vinho numa taça —,
todas as vezes que eu saía de casa para brincar na rua, a coitada já preparava o vidro do
antisséptico porque sabia que eu ia me arrebentar todo!
Comecei a gargalhar e quase me engasguei com o vinho.
— Eu era um desastre!
Jordy tinha se tornado um rapaz muito bonito e quase não lembrava mais em nada o
antigo “molenga” da nossa infância. Tinha uma sombra de barba castanha contornando
o rosto fino e possuía feições másculas que me chamavam muito a atenção.
Quando foi que ele se transformou nesse pedaço de homem? Pensei, ficando um tanto
eufórica sob efeito do vinho.
— Lembra aquela vez que estávamos brincando de pique-esconde na Rua Dezesseis e
começou a anoitecer?
Ele fez menção de que se lembrava e vi as suas bochechas corarem com um sorriso
envergonhado escapando na cara.
— Aquele dia foi terrível! — Confessou ele.
— Ninguém conseguia te achar. Começou a ficar muito tarde para voltar para casa e nós
decidimos ir embora sem terminar a brincadeira. Pegamos as nossas bicicletas e
pedalamos de volta. Nós tínhamos plena certeza que você tinha desistido antes da gente
e que já tinha saído de lá sem que víssemos. Ficamos o caminho inteiro elucubrando
várias teorias malucas. O Quincas, filho do senhor Vanucci, chegou a falar que você
tinha sido abduzido por alienígenas!
— Pois é! E eu fiquei lá que nem um idiota escondido naquele beco entre o armazém da
Rua Dezesseis e a igreja presbiteriana do bloco doze achando que vocês ainda estavam
me procurando. Quando me dei conta que ninguém mais estava brincando, voltei pra
casa sozinho à noite e morrendo de medo da surra que eu ia levar do meu pai a hora que
pisasse em frente ao meu portão.
A história era de humilhação, mas não contive o riso. O tom dramático que ele dava ao
trauma de infância que havia sofrido era inegavelmente engraçado.
— E ele te bateu aquele dia? — Quis saber, ficando um pouco comovida.
— Não porque a minha interveio. O velho Roberval já tinha preparado o cinto de couro
italiano que ele usava para me esquentar o lombo. Escapei por pouco da surra, mas não
da bronca que levei por chegar quase meia-noite em casa!
Eu estava solidária ao que ele tinha sofrido por ser um garoto tímido e um pouco
desligado na infância e encostei a minha cabeça em seu ombro lhe fazendo um afago
rápido nos cabelos. Depois dos risos, eu tinha me sentido culpada por zoar o garoto
daquele jeito e achei que o podia compensar lhe dando um pouco de carinho.
— Os meninos eram muito maus com você naquela época, Jordy. Deve ter sido difícil
crescer como o caçula do bando e ser tão maltratado por todos eles.
Jordy terminou a sua terceira taça de vinho e comentou:
— Ah, não foi tão ruim! Hoje em dia nós somos bons amigos e alguns deles até
importam bebidas com a firma do meu pai. Aproveito para descontar tudo que sofri nas
suas mãos aplicando taxas extras de juros no preço da importação das suas compras.
E ele riu agora de um jeito maldoso. Eu o acompanhei.
— Que menino mau que você se tornou, Jordy!
Ele me encarou de uma maneira sedutora. Ficou balançando a taça vazia por um
instante conforme me olhava bem dentro dos olhos, e de repente, a mão que estava
apoiada no encosto do sofá se precipitou em direção ao meu rosto. O dorso do seu dedo
indicador tirou a mecha de cabelo que escapava do meu coque da frente dos meus olhos
e ele me elogiou:
— Não foi só eu que mudei desde aquela época de infância, Carla. Você não é mais
aquela menininha magrela que andava na minha garupa e que escapava facilmente de
todas as bolas jogadas contra você em nossas partidas de queimada por ser a mais
fininha do grupo.
Abaixei os olhos por um momento, mas logo tornei a fixá-los no rosto de Jordy.
— Não sou? E por que acha isso? Está me chamando de gorda ou algo assim?
Ele deu um risinho um pouco safado antes de responder.
— Pelo contrário. Eu te vejo chegando do colégio de vez em quando. Acompanho você
quando desce do carro da família até entrar em casa. Dá pra te ver da janela do meu
quarto. Adoro aquela sua calça jeans apertadinha… aquela mais escura.
Senti um misto de euforia com timidez me tomar o peito.
Ele tem me stalkeado todos esses anos? Pensei, um pouco abismada.
— Não sabia que gostava de moda. Eu posso recomendar a loja da Abercrombie onde
comprei, se quiser!
Devolvi o sorriso malicioso que ele me deu, então veio a revelação:
— Não estou falando da calça. Estou falando do recheio dela.
Jordy desceu os olhos para as minhas coxas por um segundo. Elas estavam expostas o
suficiente para que pudessem ser apreciadas e aquela olhada deu o “start” que
necessitávamos para que esquecêssemos de vez as brincadeiras de infância e
passássemos a criar novas lembranças no presente. Desta vez, no entanto, queríamos
praticar brincadeiras mais adultas.
Capítulo 11 – Chegada inesperada
Namoros ou simples casos sexuais estavam completamente fora das minhas prioridades
durante a minha graduação e a falta de sexo começou a me deixar mais amarga e
nervosa. As amigas de faculdade me chamavam para bares e boates, e mesmo quando
eu ia, sentia que a minha cabeça não conseguia desligar da arquitetura. Havia entrado
numa espécie de jaula de estudos da qual não conseguia mais sair e tinha medo que
aquilo só terminasse quando eu me formasse.
Vou acabar me tornando uma daquelas solteironas de 30 anos velha, encalhada e com
a casa cheia de gatos!
Nas férias de meio de ano, após a rotina estressante da faculdade, a minha mãe recebeu
o convite para uma festa que iria acontecer no terraço de um dos hotéis mais luxuosos
do centro de Moema e ele se estendia para toda a sua família. Tratava-se da
comemoração das bodas de prata de um casal de amigos que os meus pais tinham
conhecido em rodas da Alta Sociedade paulista e era extremamente importante que
marcássemos presença.
Eu sentia que precisava de um evento como aquele para que eu voltasse a ser a antiga
Carla bagunceira e festeira que era até o início da vida universitária, e fiz questão de ir
bem produzida. Mamãe e Vânia me ajudaram a escolher o vestido que eu deveria usar
naquela noite e quando estava pronta a me olhar no espelho, estava me sentindo como
uma daquelas princesas de filmes hollywoodianos.
O meu traje era num tom de azul-escuro e o tecido brilhante acentuava as minhas curvas
deixando o meu quadril bastante curvilíneo além do meu bumbum empinado. O decote
era bem generoso num “tomara-que-caia” e assim como o restante, os meus seios
estavam chamando bastante a atenção.
Eu não era mais aquela menina magrela da adolescência dos tempos de brincadeiras
com o Quincas e o Jordy e agora me sentia extremamente bem com o meu próprio
corpo, o que me sentia quase na obrigação de me exibir.
Tenho que aproveitar. Essa beleza toda não dura para sempre!
Cheguei ao terraço do hotel por volta das vinte horas acompanhada da minha mãe, meus
dois irmãos mais velhos e as suas esposas, e como eu pretendia, todos os olhares se
voltaram para mim. Homens em todos os cantos do salão esticaram o pescoço para me
ver passar e eu adentrei o ambiente bastante sorridente, me sentindo incrivelmente
charmosa com o colar de turquesas que o meu pai tinha me presenteado em meu
aniversário de quinze anos no pescoço, o último agrado que Jaime havia me dado antes
de falecer.
Embora eu não tivesse acompanhada da minha principal parceira para eventos como
aquele — já que Elisa tinha um compromisso com a família do namorado naquela noite
— ainda assim, eu estava me sentindo radiante e fui muito cortejada.
Após a valsa do casal principal da festa em que fui conduzida à pista por um amigo
comum da família de nome Marcos, algumas pessoas dispersaram do salão e eu me
dirigi ao bar onde pedia um drinque ao garçom quando alguém me abordou.
Me virei em direção àquela voz sedutora que os meus ouvidos captaram e vi um rapaz
bastante elegante de terno, gravata borboleta, alto e de porte imponente sorrindo para
mim. Seus cabelos estavam bem penteados de lado com gel e havia um topete volumoso
à frente escondendo o tom levemente avermelhado dos seus fios. Os olhos dele eram
verdes e penetrantes. Me senti seduzida na mesma hora.
Eu sorri de volta e empunhei a taça de Martini em sua direção como num brinde, já
bebericando um gole. O rapaz ao meu lado indicou que me acompanharia e pediu o
mesmo que eu estava tomando para o bartender atrás do balcão. Assim que a bebida foi
lhe oferecida, ele continuou o diálogo:
Ele também bebericou o drinque e apoiou o cotovelo no balcão ficando meio de costas
para ele. Deu uma olhada pelo salão como que procurando alguém, fingindo leve
desinteresse, e então, retomou o assunto.
— Passou perto, mas não. Papai era gestor de empresa e a minha mãe trabalha com
filantropia. Sou Carla Castilho, a propósito.
Eu e ele ficamos algum tempo no balcão e aquele bate-papo casual foi o bastante para
eu perceber que Roque era um cara extremamente alto-astral, além de galante e sedutor.
Eu não sabia se era proposital, mas ele gostava de ficar me encarando com aqueles
olhões verdes como que numa tentativa de me hipnotizar por seu charme. Eu estava me
sentindo à vontade em sua companhia e bastante cativada. Ele era muito educado, e
apesar de usar um linguajar mais coloquial, dava para perceber que ele tinha certo nível
cultural.
Em pouco tempo, ele me explicou qual era o seu trabalho principal como assistente de
projeto na empresa de Pedro Augusto de Alcântara e o que ele queria fazer depois de
formado.
Roque tinha a mesma idade que eu e a maneira como ele falava dos seus sonhos e
projetos futuros era carregada de energia positiva, o que me deixou empolgada em
conhecer melhor aquele rapaz tão interessante. Depois do bar, ele me levou para a pista
de dança e bailamos juntos algumas músicas clássicas tocadas para comemorar as bodas
de prata do seu patrão. Ele tinha mãos firmes e o modo como pegou em minha cintura
me deixou meio eufórica.
O som estava alto e para falar comigo enquanto me conduzia pela pista com bastante
elegância, ele chegou bem perto do meu ouvido, me causando arrepios breves. Disse
que tinha aprendido a dançar valsa só para acompanhar uma menina da qual ele era a
fim no Ensino Médio, mas que ela acabou escolhendo outro par para dançar com ela na
festa de formatura.
— Coitadinho — comentei, sorridente, o olhando nos olhos —, deve ter sido bastante
traumático.
— E foi! — Admitiu ele, fazendo uma cara forçada de tristeza. — Todas as vezes que
ouço valsa, o jovem Roque de dezessete anos morre mais uma vez dentro de mim.
— Acho que essa ligação que senti com você não pode ser ignorada. — Disse ele, após
anotar meu telefone. Eu não podia achar aquela observação mais acertada.
Uma parte de mim não acreditava que Roque voltaria a tentar contato comigo, mas
outra, esperava desesperadamente que ele pegasse o número que o havia dado e me
ligasse.
Os três dias seguintes à festa foram de muita ansiedade e eu passei praticamente o dia
todo ao lado do telefone sem fio de casa esperando um sinal. Estávamos no começo do
século e não dispúnhamos de celulares, WhatsApp ou mesmo redes sociais. Aquele era
um tempo em que dependíamos quase que exclusivamente de ligações por telefone e
aquilo me deixou feito uma solteirona encalhada sentada perto daquele aparelho de
comunicação maldito.
Capítulo 13 – Achados e perdidos
Devia pelo menos ter dado um beijo na boca daquele gato! Pensei num dia, bastante
desolada.
Um mês tinha se passado e era a hora do intervalo entre as duas primeiras aulas da noite
e as duas últimas. Eu estava caminhando pelo corredor do prédio principal da faculdade
com as minhas duas melhores amigas, Duda e Nana, em direção ao bar onde
papeávamos sempre enquanto tomávamos cerveja do outro lado da rua, quando um de
nossos colegas de sala veio ao nosso encontro.
Raul, o garoto que havia me dado a informação, era um dos sujeitos mais tranquilos que
eu conhecia e ele me falou aquilo como que contando numericamente cada palavra. As
garotas diziam que ele era o maior consumidor de marijuana do período noturno, mas
ninguém o discriminava por isso. Pelo contrário. Ele era um dos meninos mais
divertidos e parceiros da turma, o que fazia com que todo mundo quisesse ser seu
amigo.
Será alguma má notícia? Será que aconteceu alguma coisa com a mamãe e eles vieram
me avisar?
Nana segurou o meu braço e pediu que eu me acalmasse. Todo o mistério se desfez
quando cheguei à portaria e o vi de longe usando uma jaqueta de couro preta, calça
jeans e um sapato escuro. Estava parado perto do mural de avisos encostado com o
ombro na parede. Tinha deixado crescer um cavanhaque charmoso no rosto, mas era ele,
o mesmo cavalheiro que me tirou para dançar na noite da festa de bodas de prata.
— O que um cara não tem que fazer para encontrar uma bela moça, hein?
Ele abriu um sorriso ao me ver se aproximar e estendi a minha mão para cumprimentá-
lo. O meu coração continuou acelerado, mas desta vez, não era de preocupação, era de
euforia. Roque me deu um beijinho no rosto e eu apresentei Nana e Duda a ele.
— Prazer em conhecer.
— Você me falou onde estudava na festa, não lembra? — Perguntou ele. Realmente eu
não me lembrava. — Já estive aqui outras noites te procurando, mas ninguém sabia me
informar em qual sala a sua turma estava. Tive que comprar marijuana de um cara para
ele poder me dar a informação correta!
— Ah, meu Deus! Você encontrou o Tomás! — Disse Nana na mesma hora. — Ele é da
nossa turma de Arquitetura. É ele quem vende essas coisas! — E ela apontou para o
bolso dele. Roque riu.
— Já percebi que informação por aqui não é algo barato de se conseguir! — E ele disse
aquilo de uma maneira muito engraçada.
— Mas pra que todo esse trabalho para me encontrar? Por que não me ligou no número
que te dei?
Roque fez sinal para que eu esperasse e retirou a carteira do bolso traseiro da calça.
Mexeu num dos compartimentos, retirou dele um guardanapo dobrado e me mostrou.
Era o mesmo papel em que eu tinha lhe passado o meu telefone.
— Não sei se não queria falar comigo, mas a senhorita me passou o número errado. —
Eu conferi os números marcados e imediatamente percebi o equívoco. Eu havia trocado
a ordem da sequência final. Senti meu rosto ferver. — Liguei umas três vezes e fui
atendido por um tal de Nestor que não conhecia nenhuma Carla. Sujeito simpático até.
Me mandou à merda na última ligação!
Minhas amigas caíram no riso, e naquele momento, eu desejei que um buraco se abrisse
sob meus pés e me engolisse de tanta vergonha. Eu não conseguia acreditar no quanto
tinha sido estúpida. Eu tinha só uma chance de fazer aquilo certo e tinha falhado
miseravelmente.
— Como eu sou burra! Eu não acredito que te fiz escrever o número errado no
guardanapo. Não foi a minha intenção, me perdoa!
Ele fez uma cara de que não tinha acreditado muito em mim, e naquela hora, ele
provavelmente estava realmente pensando que eu não queria mais o seu contato e que
por isso tinha escrito o telefone errado.
Seguindo os planos iniciais, eu, Nana e Duda fomos até o bar do outro lado da rua da
faculdade e eu chamei Roque para nos acompanhar. Queria muito desfazer aquele
engano e me redimir com ele, por isso, fiz de tudo para que ele se sentisse à vontade
comigo e com as minhas amigas.
Ali, num ambiente menos formal e menos cheio de pompa, o gato de olhos verdes se
mostrou ainda mais divertido que na festa e não paramos de rir conforme ele nos
contava a saga que tinha vivido para me encontrar no campus. Cada história era mais
absurda que a outra e ele contava com grande talento para a comédia enquanto
bebíamos cerveja à mesa.
Mesmo sem o meu telefone certo, ele estava se esforçando para me achar andando
quase de porta em porta no prédio imenso da faculdade tirando um tempo da sua vida
para reencontrar a garota com quem ele tinha se divertido numa festa. Eu dei um valor
incrível àquele esforço e prometi a mim mesma que ia fazer aquela história valer a pena.
Naquela mesma noite, eu resolvi matar as duas últimas aulas, e enquanto Nana e Duda
iam para o prédio de Arquitetura estudar, eu aceitei o convite de Roque para darmos
uma volta num parque a alguns quilômetros daquela área da cidade.
Ele me deu carona em seu Honda preto e passamos boas horas de divertida troca de
experiências universitárias entre as árvores e o verde do local. Roque fazia Engenharia
numa das faculdades mais conceituadas de São Paulo e o seu pai pagava caro para que
ele se tornasse o melhor engenheiro da sua área. O emprego na empreiteira de Pedro
Augusto de Alcântara tinha sido batalhado com muito custo e segundo o desejo do pai,
ele só sairia de lá para montar a sua própria empresa de Engenharia Civil.
— Meu pai é um cara bastante prático. Ele nunca conseguiu nada de graça na vida e
quer que o seu filho único seja um batalhador como ele. Eu sinto que devo isso ao meu
velho.
Após aquele passeio adorável no parque, eu lhe mostrei o caminho da minha casa em
Moema e falei que a partir de então, ele não precisaria mais se esforçar tanto para me
achar. Antes de me despedir em frente ao meu portão, eu lhe dei um beijo no rosto e
indiquei que ficaria muito feliz se ele fosse me buscar mais vezes na faculdade.
— Não vou precisar ligar antes? — Brincou ele, encostado no Honda e já vendo as
luzes da minha casa se acendendo na parte de cima, no corredor do quarto dos meus
pais.
— Não. Vai ter que me encontrar mais vezes até ganhar o direito de conseguir o meu
telefone verdadeiro.
Eu estava fazendo charme aproveitando para entrar em sua brincadeira, mas eu estava
morrendo de vontade de vê-lo novamente o mais rápido possível. Ele me deu um
tchauzinho depois que entrou em seu veículo, e em seguida, arrancou rua abaixo. O meu
coração tamborilava agitado dentro do peito. Me sentia apaixonada.
Capítulo 14 – Verdades secretas
ROQUE PASSOU A ME buscar três vezes por semana na faculdade depois de sair da
própria aula de Engenharia e ficávamos um tempo na rua papeando para nos conhecer
melhor.
Naquele período, descobri que ele tinha ficado órfão de mãe aos onze anos de idade e
que desde então, o seu pai era tudo que havia de mais importante em sua vida. Disse que
até aquele momento só havia apresentado uma única namorada ao velho e que o seu
namoro de dois anos havia acabado depois que ela o traiu com o seu melhor amigo.
Aquela foi a primeira vez que percebi uma certa tristeza em seu olhar e tive uma
vontade enorme de abraçá-lo bem forte. O nosso primeiro beijo aconteceu na semana
seguinte após o nosso reencontro na faculdade, e depois daquilo, nós decidimos
comumente começar um relacionamento sério. Ele também estava apaixonado por mim.
Por alguma razão que nem eu sabia explicar, eu levei um tempo para apresentar Roque à
minha família e num espaço de seis meses entre o retorno às aulas da minha faculdade e
o final do ano, a minha irmã Elisa decidiu se casar com o noivo Peterson numa
cerimônia de alta classe que movimentou todos os colunistas sociais da época.
Os gastos com a festa oferecida por ela aos convidados quase chegaram a um milhão de
Reais — numa época em que essa quantidade de dinheiro parecia impensável — e ela
não quis poupar nem um centavo, visto que desejava que o seu casamento fosse
lembrado por muito tempo.
Eu fui chamada para ser uma das suas madrinhas e fiquei verdadeiramente emocionada
com o convite, passando a cerimônia quase inteira segurando as lágrimas. A minha irmã
estava linda no vestido desenhado exclusivamente para ela por uma estilista de moda
muito famosa no Brasil e a cada passo que ela dava no corredor da igreja enquanto a
marcha nupcial tocava, era um momento nosso da infância até a nossa vida adulta que
eu me recordava.
Menos controlada emocionalmente que eu, mamãe se desfez em lágrimas ao ver a filha
mais velha entrar na igreja de braço dado com o meu irmão Renato. Ele estava
substituindo nosso velho pai na condução da noiva ao altar e deu para ouvir mamãe
comentar com a voz abafada pelo lenço onde enxugava as lágrimas:
— Tenho certeza que o Jaime está orgulhoso da nossa filha linda aonde quer que ele
esteja.
Os mesmos parentes que haviam aparecido para o velório de papai estavam enchendo os
bancos da igreja do lado reservado para os entes queridos da noiva e o lado do noivo
também estava muito bem representado com uma porção de cabeças vermelhas e rostos
sardentos.
A família de Peterson era uma mistura grande de descendentes de italianos e sicilianos,
mas outra boa parte vinha do Reino Unido, especificamente da Irlanda. Com exceção de
alguns poucos agregados, a maioria dos seus familiares apresentava cabelos ruivos
naturais e aqueles que não tinham as madeixas avermelhadas tinham ao menos sardas na
pele e brilhantes olhos verdes como o próprio marido da minha irmã. Se aqueles genes
fossem fortes, eu já começava a sonhar com lindos sobrinhos ruivinhos correndo pela
casa. Dei risada sozinha pensando naquela possibilidade cromossômica.
Com a saída da minha irmã de casa, eu ia ser a única entre os quatro irmãos ainda
solteira e também a única a fazer companhia para mamãe na velha mansão dos Castilho.
Apesar de saber que aquele era o caminho natural da vida e mesmo muito feliz por meus
irmãos, todas aquelas mudanças não se tornavam menos dolorosas para mim que não
me acostumava bem a coisas que fugiam da rotina.
Mesmo com ela morando a algumas ruas de distância dali, a mamãe também pareceu
bastante entristecida com a partida de Elisa e não era raro surpreendê-la choramingando
pelos cantos da mansão que tinha se tornado agora grande e vazia demais para nós duas.
Com menos pessoas em casa, nós achamos por bem dispensar alguns dos empregados e
um dos motoristas foi designado para servir os Tomazzi, assim como uma das
cozinheiras e o jardineiro. Eu procurava ficar o máximo de tempo possível em casa para
fazer companhia à mamãe, mas via que só aquilo não era o bastante. Enquanto
procurava pensar numa solução para aquele vazio todo, temia que ela tivesse uma
recaída da depressão que a havia acometido após a morte de papai e voltasse a ficar
dependente de remédios.
No final daquele ano, em comum acordo com os meus irmãos, eu decidi comemorar o
Natal na mansão de nosso pai e reunimos toda a família ao redor da mesa para um
verdadeiro banquete. Renato trouxe com ele Vânia, Jonathan e Janete, e as crianças
deram todo um colorido à comemoração. Mauro e Solange ficaram encantados
segurando a sobrinha no colo, e em dado momento, anunciaram que já estavam fazendo
planos para terem um bebê muito em breve. Os olhos de Elisa também brilharam e ela
confessou que não via a hora de ter filhos com Peterson.
— Daqui a um tempo com certeza — disse o ruivo —, mas por enquanto, vamos curtir
o momento de recém-casados.
Enquanto os dois trocavam beijos apaixonados no sofá da sala, Mauro que segurava
Janete no colo foi quem indagou:
Eu respondi com um sorriso no rosto e todos começaram a especular o que havia por
trás daquele tom de mistério que eu vinha fazendo desde cedo. Mamãe era a única ali
que tinha certeza que a razão da minha euforia era o dono do carro preto que me trazia
em casa toda semana, mas nem ela sabia muito mais sobre o meu namorado do que os
demais convidados da ceia de Natal.
Quando a campainha tocou e eles me viram correr até o portão, Mauro e Renato ficaram
de gracinha comigo dizendo que se fosse um cara da qual eles não gostassem iriam
colocá-lo para fora.
— O revólver do papai ainda está guardado naquela caixa de madeira sobre o armário?
— Disse Renato, em um falso tom de seriedade se dirigindo à mamãe.
Roque estava me esperando do lado de fora e ele estava lindo usando uma camisa social
branca para dentro da calça e um par de sapatos tão pretos quanto o seu carro. Ele havia
trazido um vinho tinto com ele e uma torta de morango para a sobremesa. Lhe dei um
selinho e falei, pegando o embrulho em sua mão:
— Espero que não sejam alérgicos a morangos. Não quero ser responsável pela morte
de ninguém bem no dia em que vou conhecer a família da minha namorada!
Eu caí no riso, e na mesma hora, pensei que todos na casa iam adorar aquele senso de
humor. O tomei pela mão e caminhei com ele escada acima. Eu estava usando um
vestido vermelho decotado bem justo e ele me elogiou, dizendo que eu estava
deslumbrante. Fiquei lisonjeada e agradeci.
Como esperado, todos adoraram Roque e ele foi o grande responsável pelas gargalhadas
que demos à mesa após a troca de presentes do amigo secreto em frente à árvore de
Natal na sala. Mauro se entrosou com muita facilidade com o cunhado e o Peterson
ficou brincando que tinha encontrado o irmão que a sua mãe tinha perdido na
maternidade.
— Olha só, somos praticamente gêmeos! Olhos verdes, ruivos, com sardas e cursando a
mesma faculdade. Você é meu irmão mais novo, cara!
Depois da ceia e da sobremesa — em que Roque repetiu em alto e bom som a piada
sobre alergia a morangos —, Elisa deu um jeito de puxar Janete com ela para um canto
e lá ficou brincando com sobrinha e um chocalho. Os meninos entraram num enfadonho
papo sobre engenharia com Roque e enquanto mamãe servia um pedaço de torta para
Jonathan, tratei de me aproximar da minha irmã, aproveitando a deixa. Ela me olhou
estranho quando me aproximei e fui bem direta:
Ela ajeitou Janete no colo e a bebê ficou sacudindo o brinquedo ruidoso encarando as
suas cores chamativas com os olhões castanhos.
— Não disse nada que não gostei dele — respondeu secamente, de olho na roda
formada pelo seu marido, nossos irmãos e o Roque mais adiante próximo à porta.
— Você ficou calada assim que ele chegou e depois fechou o cenho como se tivesse
visto o demônio. Você o conhece de algum lugar, é isso?
— Você se lembra daquele meu passeio pela costa brasileira? Do cruzeiro de negócios
da faculdade?
— Você se lembra que mencionei um rapaz com quem fiquei durante a viagem, que ele
tinha olhos verdes e cabelos ruivos?
Meu estômago gelou naquele momento e temi o que viria em seguida depois que anuí à
sua última pergunta.
A MINHA PRIMEIRA VEZ com Roque aconteceu algumas semanas antes daquele
Natal com a revelação da identidade do “garanhão pauzudo” de Elisa e foi com certeza
um dos momentos mais prazerosos da minha vida até ali. Era um sábado e ele me levou
a um dos motéis mais caros da cidade, daqueles que tinham banheira de
hidromassagem, cadeira erótica e frigobar com champanhe.
Embora aquela não fosse a minha primeira vez de fato, eu estava bastante nervosa em ir
para a cama com ele e o Roque percebeu o meu estado ainda no carro. Chegando ao
local, antes de tirarmos a nossa roupa, ele resolveu me fazer uma massagem relaxante
daquelas que deixam cada um dos nossos músculos leves, o que ajudou bastante a me
deixar mais segura.
Para me botar no clima, ele usou bastante a boca e percebi logo que o meu namorado
era muito bom no que fazia. Parecia muito experiente, apesar de não ser tão mais velho
que eu por questão de meses apenas. Me deixou completamente entregue durante o sexo
oral e quando voltei a mim, nós já tínhamos transado sobre aquela cama por mais de
duas horas.
A nossa primeira vez serviu para nos mostrar que tínhamos uma química impressionante
juntos e aquilo nos viciou um no outro de uma maneira impactante. Não tinha se
passado nem dois dias do motel e voltamos a fazer sexo como se estivéssemos há meses
em abstinência.
A segunda vez aconteceu na antiga casa dele depois que conheci o seu pai, Heraldo
Alencar. O homem era um senhor bem alto de cabelos quase que completamente
grisalhos e penetrantes olhos verdes como os do filho. Tinha uma postura ereta e falava
com voz empostada, como um locutor de rádio AM. Disse que eu era a segunda moça
que Roque trazia para apresentar a ele — confirmando a história que seu filho já tinha
me contado — e que havia simpatizado mais comigo do que com a outra.
— Faço votos que o seu relacionamento com o meu filho seja duradouro, Carla. Você
parece ser uma boa moça. Vou adorar tê-la como minha nora.
Eu fiquei bastante lisonjeada pelos elogios do homem, e por um momento, imaginei que
ele teria se dado bem com o meu pai se ambos tivessem se conhecido. Os dois tinham
bastante coisa em comum.
Ainda em visita à casa, Roque quis me mostrar onde ficava o seu antigo quarto e
quando entramos, ele notou que tudo havia sido mantido da mesma forma de quando ele
saiu dali. A cama de solteiro estava no canto ao lado da janela e havia um pôster do
Kiss colado na parede logo acima da cabeceira.
— Nunca pensei que o pé-de-valsa que me tirou para dançar numa festa toda
almofadinha curtisse Rock N’ Roll! — Comentei, intrigada com a foto do quarteto de
músicos de cara pintada na parede.
— Você nem sabe! Eu fazia parte de uma banda quando tinha dezessete anos. Eu tocava
guitarra e usava mullets.
Ele parou de tocar as cordas da guitarra e levantou os olhos em minha direção. Fiz uma
cara de safada e comentei, deixando subentendidas as minhas segundas intenções:
O pai de Roque estava a alguns metros de nós falando ao telefone em seu escritório,
mas o nosso desejo falou tão alto que nos atracamos ali mesmo sobre a cama de porta
aberta. Eu estava usando uma saia pouco abaixo das coxas aquele dia e eu a levantei
para sentar em seu colo de frente. Ele abriu o zíper da sua calça e colocou aquele
membro duro e grosso para fora. Puxei a minha calcinha de lado e o deixei me penetrar
com jeito.
A cama rangia ante os nossos movimentos e para não chamar muito a atenção do seu pai
e nem da empregada, Roque me segurou pela bunda e me levantou, começando a me
traçar em pé mesmo. Eu tive que conter os meus gemidos, mas estava desesperador
sentir tanto prazer sem poder demonstrar. O pau dele era deliciosamente grande e me
penetrava com um vigor que eu nunca tinha sentido antes na vida. As suas mãos
apertando as minhas nádegas estavam me deixando ainda mais excitada e quando gozei
a primeira vez, tive que abafar o gemido em seu ombro. Ele então colou as minhas
costas contra a parede ao lado da cama e continuou metendo sem pausas, sem pena.
Eu sussurrava em seu ouvido e ele continuava metendo com uma tremenda cara de
pervertido no rosto bonito.
Naquele final de semana, Roque enfim me levou para visitar o seu apartamento no
Jardim Novo Mundo — um bairro em São Paulo pertencente ao distrito de Moema — e
obviamente não demorou para que caíssemos em tentação mais uma vez. Ele morava no
quinto andar de um prédio residencial bastante atrativo e tinha uma cama king size
extremamente confortável no quarto.
Eu tinha vestido uma lingerie vermelha linda aquele dia e antes que ele me deixasse
pelada, fiz todo um jogo de sedução para deixá-lo ainda mais estimulado. Eu era uma
ótima dançarina desde criança e todo mundo falava que eu levava jeito como bailarina.
Costumava ensaiar coreografias de dança do ventre com a minha irmã Elisa em frente
ao espelho e eu havia desenvolvido uma malemolência considerável com os quadris.
Com ele só de cueca deitado na cama, eu subi sobre o colchão e comecei a dançar
sensualmente diante dos seus olhos. Movia meus quadris feito uma bailarina das Mil e
Uma Noites e o Roque ficou obcecado me olhando de baixo.
A dança serviu para aquecer a nossa relação ainda mais e quando ele me pegou, foi de
um jeito inesquecível. Roque fazia um sexo oral incrível e na hora em que terminou, eu
estava encharcada entre as pernas. O seu pênis entrou dentro de mim na sequência sem
qualquer resistência e eu perdi as contas de quantas vezes o meu namorado me fez gozar
aquele dia.
Praticamos em todas as posições que eu conhecia, mas quando ele me botou de quatro,
foi impossível não gemer alto de prazer. A sua cama chegou a bater na parede tal era a
sua fome por mim e o nosso barulho de cópula incomodou os vizinhos que bateram na
parede mandando que a gente diminuísse o volume da gritaria.
Caímos na cama suados e a nossa gargalhada acabou com o clima sexual por algum
tempo. Aquilo serviu para que pudéssemos descansar um pouco, mas depois,
continuamos a foder quase como antes, tomando o cuidado dessa vez para não exagerar
nos gritos e gemidos.
No dia seguinte à ceia de Natal em minha casa, eu visitei o Roque em seu apartamento e
finalmente pude tocar no assunto “cruzeiro de negócios” com ele. Eu estava mais séria
que de costume quando ele me recebeu à sua porta após ser anunciada pelo porteiro no
térreo, e não demorei a entrar no cerne da questão em seu sofá da sala.
— Por que nunca me contou que viajou pela costa brasileira por três dias num
transatlântico, Roque?
Ele não estava surpreso com o meu tom nem tampouco com o assunto daquele dia e me
ofereceu uma cerveja antes de me responder. Sua geladeira tinha um estoque de garrafas
long neck na parte onde costumeiramente deveriam ficar os legumes e as verduras —
ele era péssimo cozinheiro e só se alimentava de congelados e pizza — e me trouxe uma
delas. Dei um gole, ele também bebeu a sua e me respondeu calmamente:
— Quando te vi no salão de festas das bodas do casal Alcântara e Albuquerque, eu juro
que não sabia que você era irmã da Elisa, amor.
Ele percebeu que eu continuava séria. O seu sorriso característico também não estava lá.
— Eu não acho que aquela viagem foi tão importante a ponto de eu querer te contar
sobre ela. De um modo geral, foi uma chatice só! Um monte de filhinho de papai metido
a besta posando de empresário fodão querendo comer as menininhas de faculdade a
bordo do cruzeiro. O que tinha de bom para te contar?
— Tá querendo dizer que pra você, a minha irmã foi só um passatempo em meio a uma
viagem que você considerou chata e improdutiva?
Roque me encarou com a garrafa de cerveja à meia altura, e em seguida, explodiu num
riso que claramente estava tentando conter. Eu ri involuntariamente e entendi que
aquele era o jeito de ele dizer que “foi exatamente isso! ”.
Eu já tinha desfeito o riso e ele procurou conter outra vez o seu, respondendo:
— O que mais posso dizer, amor? A sua irmã deu em cima de mim, não tinha nada de
proveitoso a se fazer naquele barco. Ela queria, eu também. Juntamos o útil ao
agradável!
Eu estava insegura com aquela conversa. Eu sabia que a minha irmã agora era uma
mulher casada e que na época do cruzeiro ela estava livre, leve e solta, assim como
Roque. Os dois eram solteiros, desimpedidos, era quase natural que sentissem atração
sexual um pelo outro. O que me incomodava, no entanto, eram os sentimentos que ainda
podiam nutrir depois de todo aquele tempo.
— Deixa de paranoia, Carlinha! O que eu e a sua irmã tivemos foi algo de momento,
algo extremamente passageiro. Marcou as nossas vidas na hora que aconteceu. Assim
que pisamos fora do barco, cada um seguiu o seu próprio rumo. Hoje ela está casada,
pelo que conheci do Peterson, ele parece ser um cara ótimo pra ela e eu estou com você.
Nós estamos felizes juntos. Isso que importa.
Ele tinha razão sobre a paranoia e enquanto argumentava, me lembrei da frase de Elisa
quando ela me confidenciou o que tinha rolado com o tal “garanhão pauzudo” a bordo
do transatlântico: “Nunca ninguém tinha me comido do jeito que esse cara me comeu,
maninha. Nunca fiquei tão arrependida de ter tratado ele apenas como um amor de
verão quando pisei fora do transatlântico. Queria ter o seu telefone para marcar um
novo encontro. Acho que nunca mais alguém vai me comer daquele jeito! ”. Para ele
podia ter sido só um caso, mas eu tinha certeza que Elisa tinha ficado verdadeiramente
balançada pelo Roque e aquilo eu não ia esquecer nunca. As reuniões de família iam ser
sempre tensas a partir de então.
Capítulo 16 – Bebê a bordo
O MEU NAMORADO ERA MESMO o tipo de homem que marcava as mulheres que
passavam por sua vida e ao longo do nosso namoro, eu conheci pelo menos duas de suas
ex-namoradas que estariam em sua porta balançando o rabo feito cadelas no cio se ele
acenasse para elas outra vez.
Eu sabia que aquele sucesso com as mulheres não se dava apenas pelo fato de Roque ser
extremamente sedutor, bonito e um excelente amante, mas principalmente porque ele
sabia tratar uma mulher como ela gosta de ser tratada.
Em anos de convívio, eu jamais havia sido insultada por ele e eu não conhecia nenhum
homem que fosse tão gentil e educado — quase que 100% do tempo — quanto o meu
Roque. Durante o sexo ele, era uma verdadeira máquina de prazer, másculo, forte, viril,
incansável. Mas no cotidiano, era como um perfeito cavalheiro, além de que seu bom
humor era um dos melhores traços da sua personalidade, e aquele que me fazia sentir a
garota mais sortuda do mundo por tê-lo ao meu lado. Em sua companhia eu nunca
ficava triste.
Eu me casei com Roque em setembro do ano seguinte e nós dois optamos por uma
cerimônia menos luxuosa e mais íntima. Ainda estávamos fazendo faculdade — era
nosso terceiro ano de curso — e não queríamos gastar tanto com algo que podia ser feito
com o mesmo capricho, porém, com menos dinheiro.
Escolhemos uma capela mais singela em vez de uma igreja e enchemos os assentos com
nossos amigos de faculdade e os parentes mais chegados. Assim como tinha feito com
Elisa, Renato me conduziu até o altar e senti o meu coração disparado no peito quando
ele me entregou ao Roque. Meu noivo estava lindo de terno branco e os seus olhos
verdes marejaram quando me viu vestida de noiva pela primeira vez ao seu lado.
Eu poderia nunca ter ido à festa de bodas de prata, ele poderia ter desistido de mim
assim que percebeu que eu tinha lhe passado o telefone errado, ele poderia não ter me
encontrado na faculdade… Ele poderia ter preferido ficar com a Elisa que é mais
velha, mais bonita e mais inteligente que eu…
— Sim. Eu aceito.
De acordo com o seu testamento, seguindo os desejos de papai, a herança milionária dos
Castilho havia sido deixada para os seus quatro filhos em partes iguais e aquilo
significava que cada um de nós havia ficado algumas dezenas de milhões mais rico.
Jaime havia deixado ainda a mansão de Moema, os quatro veículos na garagem e um
apartamento na praia para mamãe, fora o dinheiro da conta conjunta que eles tinham
desde que haviam se casado.
Os cargos de Renato e Mauro na construtora eram contados à parte da herança, mas era
também um excelente meio de aumentar o seu patrimônio, algo que eles procuraram
fazer nos primeiros anos à frente da diretoria construindo, inclusive, uma segunda torre
no complexo da empresa localizada também na região industrial de Moema.
Havia cargos na construtora para Elisa e eu logo que nos formássemos na faculdade e a
minha irmã assumiu o dela assim que pegou o diploma, se tornando a diretora de
recursos financeiros. A minha posição entre os acionistas era cuidada por Mauro em
meu lugar — até porque eu pouco entendia do negócio —, mas ele procurava me deixar
a par das deliberações e tomadas de decisão do conselho da diretoria sempre que podia.
Eu usei parte do que me cabia da herança de papai para construir a casa em que ia morar
com o meu marido, e depois que um dos engenheiros da Construtora Castilho nos
entregou a planta, nós dois tivemos a chance de dar os nossos pitacos no projeto. Ele
como engenheiro civil em formação e eu como arquiteta, quisemos deixar a casa com a
nossa cara e acompanhamos de perto todas as fases da construção ao acabamento.
O projeto levou cerca de um ano para ficar pronto e quando a obra foi entregue, nós nos
mudamos da casa de mamãe, onde havíamos ficado por três meses após o casamento. A
dona Vilma tinha ficado muito feliz quando soube que passaríamos um tempo ali com
ela até que a nossa casa ficasse pronta e eu prometi que a visitaria toda semana depois
disso.
O bairro da Saúde para onde tínhamos nos mudado ficava a apenas alguns quilômetros
de Moema e mamãe tinha me dado de presente um dos carros de papai para que eu
pudesse me locomover sem a necessidade de depender do Roque o tempo todo. Eu tirei
minha CNH em alguns meses, e assim que me mudei, passei a visitá-la três vezes por
semana, dirigindo o Chevrolet da Saúde a Moema.
Às vezes, eu combinava com Elisa para que nós duas a visitássemos ao mesmo tempo e
não era raro que Renato trouxesse as crianças para ver a vó postiça. Embora ele e Mauro
não fossem filhos da dona Vilma, eles a consideravam muito e tinham um imenso
carinho por ela. Jonathan e Janete também a adoravam e se esbaldavam comendo ali
tudo que os pais proibiam de comer em sua casa.
No mês em que me mudei para a Saúde, a minha cunhada Solange deu à luz a minha
sobrinha Priscila e aquele foi um dia muito feliz para todos nós. Eu estava a caminho da
faculdade de carro quando o meu Nokia tocou e eu fui obrigada a parar no acostamento
para atender a ligação. Mauro estava esbaforido do outro lado da linha e eu quase não o
conseguia entender direito.
— A bolsa dela estourou. A minha filha vai nascer. Ela vai nascer!
Naquele dia, eu mudei o meu trajeto e segui direto para a maternidade onde me juntei ao
ansioso Mauro e ao nosso irmão Renato, que lhe dava forças no corredor do hospital.
Solange tinha entrado em trabalho de parto há quase uma hora e os médicos ainda não
tinham dado notícias. Eu tentei acalmar o futuro papai e Renato informou que, às vezes,
era normal a demora e que o mesmo tinha acontecido quando Janete nasceu.
Vinte minutos depois, o obstetra surgiu do centro cirúrgico e deu a notícia que todos nós
esperávamos:
Priscila nasceu saudável com aproximadamente 3,200 g e a primeira vez que vi meu
irmão chorando de soluçar foi quando ele bateu os olhos na menina pela primeira vez
através do vidro de proteção da maternidade. A enfermeira a ergueu em seu colo para
que ele visse a bebê e o coitado mal conseguiu enxergar com os olhos cheios de
lágrimas. Depois que ela e a mãe tiveram alta do hospital, eu passei um tempo com as
duas em sua casa em Indianópolis e o Mauro não queria desgrudar da menina. Minha
sobrinha era linda e o meu irmão estava completamente apaixonado pela filha. Nunca
tinha visto um pai tão louco pela cria quanto o Mauro.
— Não sei se tenho maturidade para ser pai, para educar, para proteger. Tenho medo de
ser um completo fracasso para o meu filho.
Nós tivemos aquela conversa algumas vezes entre uma transa e outra, mas embora ele
demonstrasse que não estava pronto para ser pai, nós nunca fazíamos sexo com
camisinha e ele sempre gozava dentro de mim. Aquele parecia ser um risco que nós dois
gostávamos de correr.
Juntos, Renato e Mauro agora detinham apenas 30% das ações, enquanto os demais
acionistas — incluindo a mim e a Elisa — tinham outros 19%. João Suares, o novo
nome por trás da construtora, passou a deter sozinho 51% e ele se tornou o novo
presidente da empresa que o nosso pai havia erguido.
Aquele foi um golpe duro de absorver e levou um tempo para que nós nos
recuperássemos dele.
Naquele ínterim, a minha irmã Elisa passou a se sentir enjoada com frequência em seu
trabalho na construtora e depois de quase vomitar bem no meio de uma reunião com a
sua equipe de vendas, ela decidiu ir ao médico.
Era fato que, naquele momento, Elisa estava priorizando mais a sua carreira como
gestora do que a sua vida pessoal, ainda mais depois dos deslizes financeiros que tanto
Renato quanto Mauro haviam cometido — o que quase acabou levando a empresa a sua
falência —, mas o seu desejo em ser mãe exalava por seus poros e ela ficou
extremamente feliz com a notícia da gravidez.
Para que aquela fosse uma gestação tranquila, ela optou por diminuir o ritmo no
trabalho e a partir do quarto mês, passou a trabalhar apenas meio-período. João Suares
havia entrado para o grupo com sede de mudanças e algumas delas desagradaram a
minha irmã — em especial em seu setor, o financeiro —, embora ela pouco pudesse
fazer para desautorizá-lo. A longo prazo, aquelas mudanças na maneira de lidar com
clientes, de comprar e vender, acabaram se mostrando muito eficazes e a Elisa teve que
admitir que o Suares sabia o que estava fazendo.
No mesmo mês em que passou a ir meio-período para a agora denominada “Suares &
Castilho”, a minha irmã fez uma segunda ultrassonografia e anunciou o resultado
surpreendente para mim e para nossa mãe.
A GRAVIDEZ DE ELISA fez com que nós duas nos tornássemos ainda mais próximas
uma da outra, e de certa maneira, eu também estava vivendo a realização daquele seu
sonho com ela.
A compra do enxoval dos bebês foi um momento muito especial pra gente e não
tínhamos como não envolver também a nossa mãe, que estava bastante emocionada pelo
vindouro nascimento dos seus dois primeiros netos.
Eu não tinha podido participar ativamente das compras que Vânia e Solange haviam
feito para os meus sobrinhos, por isso, passear pelos corredores do shopping vendo a
felicidade estampada nos olhos de Elisa para mim foi muito gratificante.
No sexto mês de gravidez de Elisa, ela, enfim, descobriu o sexo dos bebês — até então
ela achava que se tratava de duas meninas, já que uma das crianças se recusava a abrir
as perninhas durante as ultrassonografias — e boa parte do enxoval ela teve que
descartar.
Eu sabia que ela até podia aproveitar as roupinhas de cor amarela que havia comprado
— cor considerada neutra para ambos os sexos —, mas logo vi que ela queria uma
desculpa para comprar tudo de novo só que na cor azul.
Peterson tinha começado a reforma do quarto que seria das crianças há três meses e a
obra seria entregue muito em breve, antes do parto. Naquele período, a Solange, que era
designer, deu algumas dicas durante a montagem do quarto e o casal as decidiu aceitar
de bom grado. Mauro comprou de presente um carrinho duplo de bebê com dois lugares
para os gêmeos. Naquela mesma época, a Elisa escolheu o nome de batismo dos filhos e
os dois iam se chamar Cleide e Cleber.
— Acho a sonoridade linda dos dois nomes. Melhor do que Bernardo e Bianca sugerido
pelo pai dos bebês!
Disse Elisa a mim e à mamãe numa tarde em que tomávamos chá juntas na sala da
mansão em Moema. Eu não poderia concordar mais com a minha irmã.
Embora fossemos extremamente apaixonados um pelo outro e que toda aquela química
que havia nos atraído no início de relacionamento ainda estivesse lá, eu senti que o meu
casamento com Roque tinha caído numa rotina muito cedo e eu percebi que tínhamos
que fazer alguma coisa para mudar logo a estagnação. A sugestão foi minha e ele
aceitou na hora quando começamos a nos expor de propósito em lugares públicos,
correndo o risco de que fossemos flagrados durante a transa.
A nossa primeira investida foi no carro dele que deixamos estacionado diante de um
lugar bem público onde costumavam passar muitas pessoas naquele horário. O Honda
sedan era bastante espaçoso e o Roque o parou numa esquina de frente para um banco
que funcionava 24 horas.
Eu tinha saído mais cedo da faculdade aquele dia e ele não havia tido aula. Decidimos o
que íamos fazer no meio do caminho e o tesão nos tomou no mesmo momento. Eu
estava usando uma calça jeans e sabendo o quanto ela ia me atrapalhar, eu a tirei no
banco de trás pouco antes de sentar em seu colo, já colocando a calcinha de lado.
— Aqui é público o suficiente para você, safada? — Me perguntou ele abrindo a calça e
colocando aquele pau maravilhoso para fora.
Sem qualquer pudor, nós começamos a foder dentro do veículo que passou a balançar
ante a força do nosso desejo. Roque estava louco de tesão e chegou a rasgar a minha
calcinha tal a vontade com que ele estava me comendo no banco de trás. Ele puxava a
minha blusa com uma das mãos enquanto segurava a minha bunda com a outra e
enfiava meus peitos na boca, me deixando quase inteira pelada ali dentro. O céu já
estava bem escuro do lado de fora, mas aquela via era bem iluminada. Começamos a
ouvir buzinas insistentes passando pela gente e logo percebemos que os motoristas
trafegando por ali podiam nos ver em detalhes, mesmo através dos vidros embaçados.
Naquele dia, eu nem me preocupei em vestir a minha calça e segui o caminho de volta
para nossa casa na Saúde do jeito que estava, cobrindo a minha nudez apenas com a
camiseta que ele tinha se esforçado para rasgar toda. Tinha sido muito gostoso.
— Eu ando muito distraída ultimamente. Acredita que esqueci de vestir a calcinha hoje?
Eu nem lembro como aconteceu, mas quando percebi, eu estava com as pernas
enlaçadas ao redor da sua cintura e o Roque estava me penetrando com toda volúpia
segurando forte a minha bunda. Nós dois sabíamos muito bem que os elevadores tinham
câmeras de segurança, mas aproveitamos que elas não tinham também microfone para
gemer alto, excitados com todo aquele risco que corríamos.
Senti o espelho frio às minhas costas enquanto ele me apertava contra ele, metendo em
minha buceta e erguendo a minha blusinha atrás. Não sei precisar quantas vezes
subimos e descemos os trinta andares daquele prédio sem que ninguém entrasse no
elevador, mas aquele dia o cara que tomava conta do sistema de vigilância deve ter se
divertido bastante nos vendo naquela fúria enlouquecida lá dentro da cabina. Nós dois
estávamos muito satisfeitos.
Nunca tínhamos transado tanto em nossa vida. Nem mesmo na fase fogosa de início de
namoro. Nem mesmo em nossa lua de mel nas Bahamas, no hotel maravilhoso de frente
para a praia em que ficamos três dias.
Enquanto eu e o Roque divertíamos um pouco a vida dos voyeurs da cidade com nosso
ímpeto sexual devasso, Elisa passou por momentos de tensão quando tudo indicava que
os seus bebês iam nascer prematuros num certo dia.
Com cólicas e contrações fortes, a minha irmã teve que ser levada às pressas para o
hospital por Peterson e eu me desloquei para lá o mais rápido que pude. Eu estava em
época de provas e conclusão de uma dezena de projetos na faculdade, mas não me
importei com nada disso quando mamãe me disse que ela corria o risco de perder os
bebês ou até mesmo de morrer no parto.
Ninguém sabia explicar direito o que na verdade tinha acontecido com Elisa, mas
quando ela foi estabilizada, os médicos disseram que seria melhor que ela passasse um
tempo internada para evitar estresses que pudessem antecipar a chegada dos meus
sobrinhos.
— Está acontecendo alguma coisa em casa, Peterson? — Indaguei meu cunhado assim
que tive certeza que Elisa estava melhor e que os meus sobrinhos estavam seguros na
barriga da mãe. — O médico disse que ela tem que evitar estresse. O que está havendo?
— Juro que tenho feito de tudo para mantê-la calma, para não prejudicar os bebês, mas
você conhece a sua irmã. Ela faz de qualquer coisa uma tempestade.
Roque ficou bastante chateado ao saber que eu ia ficar longe dele por um tempo em
favor da minha irmã e o Peterson percebeu que aquela mudança seria melhor mesmo
para todo mundo.
Eu entendia todos os lados envolvidos naquela situação, mas era bem claro que em caso
de briga, eu ficaria do lado de Elisa. Mamãe pediu para que os empregados arrumassem
o quarto de hóspedes no primeiro andar e o deixassem bem confortável para minha
irmã, evitando assim que ela tivesse que subir as escadas até os nossos antigos quartos.
Eu me instalei em meu aposento com as coisas que tinha trazido de casa, mas volta e
meia eu estava no sofá da sala, bem perto de Elisa caso ela precisasse de algo. Nossa
mãe tinha ficado extremamente feliz em nos receber de volta e se mostrava tão ansiosa
quanto nós duas pelo nascimento de Cleide e Cleber.
Capítulo 18 – Alterando as probabilidades
Eu estava incrivelmente estressada com aquela tarefa e não via a hora de tirar aquele
peso das costas com a nossa apresentação. Nana e Duda não entenderam nada quando
me viram sair correndo da sala, e a segunda foi me encontrar no banheiro algum tempo
depois, preocupada.
Tinha sido por pouco, e mais alguns segundos, eu teria vomitado numa menina que
encontrei saindo de um dos cubículos do sanitário da faculdade. Eu raramente ficava
doente e sempre mantinha uma alimentação saudável. Naquele dia em especial,
apreensiva pela apresentação do trabalho, tinha comido mal e julguei que aquele era o
motivo do enjoo. Encontrei a Duda assim que saí da cabine e ela observou:
— Você está pálida, amiga. Tem certeza que consegue apresentar o trabalho?
Eu fui até à cuba da pia e lavei o meu rosto, já caminhando depois até o suporte de
papel-toalha para me enxugar. Sentia um gosto horrível na língua e ansiava por uma
bala de menta ou qualquer coisa que me fizesse esquecer que eu tinha acabado de
esvaziar o meu estômago na privada.
Eu enxuguei o meu rosto com o papel e pelo espelho grande diante de mim, a vi dando
uma risadinha meio irônica apoiada no mármore do balcão da pia.
— Tem certeza que não foi algo que “te comeu”, não?
Eu a olhei sem entender e atirei o papel amassado no cesto de lixo. Uma garota do
segundo ano de Marketing adentrou o banheiro feminino na mesma hora em que Duda
falou com todas as palavras:
Eu não sei se era possível, mas naquele momento, eu empalideci ainda mais. Aquilo
nem tinha me passado pela cabeça antes.
Depois das apresentações de projetos e provas finais de semestre, todos nós tivemos
uma folga na faculdade e durante a semana do “saco cheio” com o fechamento das
notas, passamos a ir para as aulas mais para papear do que para estudar. Eu estava
bastante confiante que concluiria satisfatoriamente mais aquela fase do curso de
Arquitetura e já até pensava em arranjar um estágio na construtora no ano seguinte para
cumprir as horas que estava devendo de atividades extracurriculares.
Naquela noite, Roque foi me buscar na saída da aula e eu resolvi deixar o meu
Chevrolet no estacionamento da faculdade para buscá-lo no dia seguinte. Na metade do
caminho, o tesão bateu forte e resolvemos transar no banco de trás. Ele estacionou
desleixadamente o seu Honda numa via meio deserta a alguns quilômetros de casa e me
botou de quatro. Ele surrava a minha bucetinha com aquela rola gostosa enquanto
massageava o meu cuzinho com o polegar. Eu estava extremamente excitada.
— Assim, amor! Fode a sua Carlinha! Fode! Mete com força, mete!
Eu não sei bem o que aconteceu, e de repente, eu senti uma ânsia tão forte que não me
deu tempo nem de avisar o meu marido. Ele estava todo empolgado me comendo por
trás, e num instante, me viu tentar abrir a porta traseira desesperada enquanto vomitava
sujando vidro, banco e assoalho.
Aquele foi o momento mais constrangedor que passei ao lado de Roque — e o segundo
mais vergonhoso da vida desde que a Elisa e o Peterson haviam me flagrado transando
com o Jordy Pires — e a caminho da casa de mamãe, eu nem conseguia encarar o
coitado. Eu tinha ficado trêmula e o cheiro no carro estava me enjoando ainda mais. Ele
perguntou se eu não queria mesmo ir ao hospital e eu disse que não.
— Só me leva pra casa, amor. A Ruth me faz um chá e eu vou ficar bem. Não se
preocupa.
Mesmo sob seus protestos, eu dispensei o meu marido aquela noite e fiquei bastante
emotiva o vendo ir embora todo chateado da casa da minha mãe, achando que o que
tinha acontecido era culpa dele. Sem que Roque soubesse — até porque se descobrisse,
largaria tudo em casa para passar a noite comigo — virei a madrugada vomitando no
banheiro da minha suíte e até o chá de hortelã com boldo de Ruth eu acabei botando
para fora.
A minha mãe ficou ao meu lado o tempo todo e me perguntou se a minha menstruação
estava atrasada aquele mês. Eu estava passando por tanta coisa, andava tão preocupada
com as atividades da faculdade, que nem tinha reparado que já deveria ter descido… e a
minha menstruação sempre fora bem regulada.
— Amanhã vamos à farmácia, minha filha. Não custa nada fazer um teste de gravidez.
Era a segunda vez que a ideia me passava pela cabeça, e de repente, comecei a ficar
bastante alarmada que tanto a Duda quanto a minha mãe podiam estar certas.
Eu levantei bem cedo no dia seguinte e dirigi até a farmácia mais perto de casa com a
cabeça trabalhando à mil naquela possibilidade de eu estar grávida. Desde a minha
adolescência, eu era bem ativa sexualmente e tinha perdido as contas de quantas vezes
havia feito sexo sem preservativo deixando meus parceiros irem até o fim dentro de
mim sem qualquer preocupação.
Aos dezesseis anos, eu tinha feito um exame bem detalhado com o meu ginecologista e
ele havia detectado uma anomalia em meu útero, o que, segundo ele, dificultaria que eu
tivesse um bebê. Passei por um tratamento clínico com o acompanhamento da minha
mãe, e depois disso, passei a tomar remédios anticoncepcionais que, além de impedir
uma possível — e quase rara — chance de gravidez, ainda ia regular o meu fluxo
menstrual que era meio forte na época.
De alguma forma, eu usava aquela imperfeição uterina como uma maneira de ficar em
paz comigo mesma. Eu achava que as chances de uma gravidez eram mínimas e
enquanto eu estava dando, sempre pensava “não vai rolar nada. Vou deixar ele gozar
dentro”.
Roque se casou comigo sem saber daquele problema em meu útero, mas eu nem
pensava em dizer nada a ele, já que eu tinha feito tratamento e não pretendíamos ter
filhos antes de nos formarmos na faculdade.
Mamãe e Elisa me esperaram do lado de fora do banheiro e quando saí com o bastão do
teste em mãos, elas tinham certeza qual era o resultado só de olharem a minha expressão
aparvalhada.
— Oh, meu Deus! A minha irmãzinha tá grávida! Você tá grávida, Carla! — Elisa me
abraçou antes que eu pudesse responder e mamãe já pegou o bastão em mãos para dar
uma olhada nas duas listras bem marcadas em sua superfície.
As lágrimas e a exaltação assim que soube que ia ser pai se tornaram preocupação
quando ele botou a cabeça no lugar, já refeito do choque, e eu percebi o meu marido
ficar cada dia mais distante de mim a partir de então.
A gestação da minha irmã atingia o seu ponto crítico naquelas últimas semanas e
quando as atenções da família se voltaram todas para a Elisa e os gêmeos, a minha
gravidez acabou ficando em segundo plano.
Eu estava passando muito mal naqueles dias, mas fiz questão de estar ao lado da minha
irmã até o momento em que ela deu entrada na maternidade pronta para dar à luz.
Cleide e Cleber vieram ao mundo num começo de tarde de janeiro e tinham puxado
quase que exclusivamente o pai fisicamente. Os dois tinham lindos olhos verdes e os
pequenos tufos de cabelos no alto das cabecinhas mostravam que eles seriam ruivos
como Peterson e não morenos como a Elisa. Aquele era o sonho dela desde o início. Ela
havia cansado de dizer que queria que os filhos tivessem a beleza do pai deles e tudo
tinha acontecido como ela queria.
Eu amava Jonathan, Janete, Priscila e Pedro, os meus outros sobrinhos filhos de Renato
e Mauro, mas o que eu senti pelos gêmeos logo que botei os meus olhos nos dois era
algo inexplicável. Eu havia crescido grudada em minha irmã e ver as crianças que ela
havia gerado depois de adulta era muito mais especial para mim, tanto que me apeguei
àqueles bebês de maneira incondicional.
Enquanto a minha própria barriga crescia e o meu corpo começava a se transformar para
acolher a criança em meu ventre, eu passei todo o tempo que me coube na casa dos
Tomazzi em Moema, bajulando Cleide e Cleber em seu berço. Elisa tinha bastante
trabalho para fazer tudo em dobro e embora ela tivesse contratado uma babá para lhe
auxiliar com as crianças, eu fazia questão de me disponibilizar em ajudá-la.
A minha irmã adorava que eu fosse tão presente agora que ela era mãe, e ao mesmo
tempo, me dava várias dicas sobre a minha nova condição, aquela que me era tão
surpreendente quanto assustadora.
A minha cabeça ainda não tinha aceitado 100% que tinha uma vida crescendo dentro de
mim e que a partir de agora eu não podia mais pensar individualmente, mas a Elisa me
ajudou a botar o pé no chão. Numa de nossas inúmeras conversas em sua casa, enquanto
ela amamentava um ou outro gêmeo, eu entrei no assunto sabendo que teria toda a sua
sinceridade.
— Eu fiquei num tesão insano nos primeiros meses de gravidez, mana. Eu tinha vontade
de foder toda hora! Se fosse possível, eu nem deixaria o pau do Peterson sair de dentro
de mim! — Nós duas demos risada, e em seguida, a minha irmã fez uma careta. O
pequeno Cleber havia mordido forte o seu mamilo. — Mas por que está perguntando?
Eu estava com semblante infeliz agora que a graça tinha passado e respondi:
— O Roque tem estado distante de mim nessas últimas semanas. Desde que voltei para
casa, ele tem me tratado como se eu fosse de porcelana. Como se eu fosse quebrar se ele
encostasse em mim. A gente não tem transado.
O fato de que eu estava passando mal com frequência também contribuía para aquele
afastamento de Roque, mas eu esperava os conselhos sábios da minha irmã, que
sugeriu:
— Mostre para ele que você ainda pode dar uma boa trepada, mana. A sua gravidez não
pode atrapalhar a sua vida. O seu marido tem que entender que você ainda é a mesma
Carla e continua precisando de uma boa pica entre as pernas.
O meu marido tinha ficado muito feliz com a notícia que ia ser pai de uma garotinha e
ficou todo babão falando por horas que queria que a nossa filha fosse parecida comigo.
Estávamos na cama com a TV do quarto ligada vendo um filme, quando ele me falou:
— Tomara que a nossa neném tenha os seus lábios. Adoro eles assim, rosadinhos e
carnudos — e ele me deu um selinho.
— Mas ela tem que ter os olhos iguais aos seus. Você já viu que coisa mais linda os
olhos do Cleber e da Cleide? Tão verdinhos! Quero que a nossa bebê também tenha
olhos lindos como os seus.
Durante o filme, eu dei um jeito de me insinuar para Roque, mas ele não pareceu
notar… ou me ignorou de propósito. Fui mais ousada então e enfiei a mão por dentro do
seu short, iniciando uma masturbação. O deixei duro feito pedra e ele gemeu.
— O que está fazendo?
Eu estava usando um baby-doll bem curto e subi sobre o meu marido. Ele entrou no
clima rápido e abaixou as alças do meu vestido começando a chupar os meus seios. Eu
já os tinha bastante generosos antes da gravidez e a cada semana que passava, pareciam
que eles estavam ainda maiores. Roque agora tinha que se esforçar para enfiá-los
inteiros na boca e não conseguia mais. Eu senti o seu pau deslizar para dentro de mim, e
num primeiro momento, senti desconforto. Fazia algum tempo que não praticávamos e
demorou uma eternidade para eu me lubrificar. Tive que pedir ajuda.
— Amor, me chupa!
Roque me deixou inteira babada e subiu sobre mim me olhando com cara meio
preocupada.
Eu estava excitada, mas algo continuava errado lá embaixo. Mesmo após o sexo oral, eu
não conseguia me lubrificar, e por mais que ele tivesse se esforçado por mais de uma
hora, eu não consegui gozar nem uma vez. Para piorar o clima, assim que ele gozou em
mim, eu senti uma vontade irresistível de vomitar e corri pelada para o banheiro. Depois
daquilo, eu o tinha broxado por completo e passamos um bom tempo sem tentar nada
outra vez. A minha gravidez tinha desestabilizado o meu casamento sexualmente
falando.
Renato e Mauro ficaram ainda mais paternais comigo a partir do momento em que
descobriram a minha gravidez com o restante da família e foi ideia do Mauro oferecer
um cargo de engenheiro civil dentro da Suares & Castilho para o Roque assim que ele
se formasse no final daquele ano.
O meu sogro não concordava com a ideia de que o filho saísse da empresa onde ele
trabalhava já há alguns anos e onde queria que Roque fizesse carreira, mas o meu
marido acabou aceitando a proposta do cunhado, entendendo que as vantagens e o
salário oferecidos pela construtora eram maiores do que a empreiteira de Pedro Augusto
de Alcântara podia — e queria — proporcionar.
Capítulo 20 – Relembrando o passado
Numa daquelas tardes, recebi Mauro em minha sala e estranhei a visita naquele horário.
Tanto ele quanto Renato deveriam estar na empresa e ele me explicou o motivo.
— Tem sido um ano difícil para a construtora, mana. Nunca recebemos tantas
reclamações e ameaças de processos de clientes por conta de atrasos na entrega das
obras — ele tomava um café que eu mesma tinha passado há poucos minutos. Eu estava
sozinha em casa porque o Roque ainda estava no trabalho e eu tinha dado folga à
empregada —, as reuniões com o João Suares têm sido bastante extenuantes
ultimamente. Às vezes, eu tenho vontade de mandar tudo à merda, sabia?
Não era costumeiro ver o meu irmão tão baixo-astral como ele estava. Por mais que
ainda fosse um dos diretores da empresa, ele e Renato agora respondiam a um superior e
pelo que eu ouvia falar, João Suares não tinha uma personalidade muito fácil de se lidar.
— Ainda reflexo das dívidas que a empresa assumiu há alguns meses, Mau? —
Perguntei de modo cuidadoso sabendo que o assunto era delicado. A tal dívida tinha
sido feita tanto por Renato quanto por Mauro de maneira inconsequente ao iniciar a
construção de mais duas torres dentro do complexo da construtora e todos nós tínhamos
conhecimento disso.
— A nossa dívida, você quer dizer! — E ele ficou cabisbaixo. — Sim e não. A entrada
do João meio que ajudou bastante a saldar o que estávamos devendo na praça. O
problema é com o lucro que não tem entrado apesar de todos os nossos esforços. Já
estamos há muito tempo na estaca-zero, sem perder e sem ganhar nenhum centavo além
do que gastamos. É isso que tem irritado o homem.
Depois daquilo, eu tentei mudar o foco da conversa, e demos boas risadas lembrando o
quanto éramos felizes antes dos casamentos e dos filhos. Mauro se queixou também que
Solange tinha perdido bastante a libido depois do nascimento do segundo filho do casal
e que o vinha tratando com indiferença na cama há algum tempo.
— Ela usa as crianças para se manter afastada de mim. Às vezes, até dorme no quarto
do Pedrinho dizendo que tem medo que ele tenha crise de bronquite enquanto
dormimos, mas eu sei que é desculpa. O menino anda muito bem de saúde já tem um
tempo desde a sua primeira crise. Ela que não quer nada mesmo!
Eu acabei entrando no assunto e confessei que entre mim e Roque já não acontecia nada
há um tempo também, apesar de que eu andava morrendo de vontade de transar. Eu e
Mauro sempre tivemos intimidade suficiente para falar sobre aqueles assuntos e
enquanto um consolava o outro, acabou acontecendo uma atração que há muito tempo
não acontecia.
Em minha adolescência, eu tinha feito muito sexo com o meu irmão na calada da noite
da casa em Moema, mas nada rolava desde que ele havia se casado com a Solange.
Logo depois vieram os filhos, eu me tornei bastante ocupada com a faculdade e então,
veio o Roque… não tinha porque eu ter relações com o Mauro uma vez que estava
muito bem servida dentro da minha própria casa. Até aquele momento.
Começou com um carinho que ele fez em mim próximo do pescoço, o que me arrepiou
inteira. Eu tinha cortado o meu cabelo na base do ombro — antes ele batia comprido nas
costas — e ele havia mencionado o quanto eu estava bonita quando empurrou alguns
fios para trás da minha orelha. Seus dedos resvalaram em minha pele.
Ele deu uma olhada entre o meu decote. Eu usava uma blusa meio aberta na frente e a
minha barriga já estava bastante saliente.
Eu estava um pouco sem jeito, mas Mauro soube me deixar à vontade. Ele se aproximou
de mim e ficou me fazendo carinhos nos cabelos. Eu estava muito à flor da pele quando
ele perguntou:
O sofá da sala era extremamente confortável e eu não quis profanar a cama onde dormia
com o Roque para transar com o meu irmão. O meu marido não sabia que eu tinha
perdido a virgindade com o Mauro e que mesmo depois disso, nós havíamos nos
relacionado por anos em nossa cama como amantes. Embora eu confiasse plenamente
em meu marido, eu nunca tinha tido vontade de lhe contar a relação incestuosa que a
minha família mantinha escondida por tanto tempo, mas eu sabia que algum dia teria
que falar sobre.
Eu estava cheia de tesão e o Mauro me acendeu ainda mais quando me deitou no sofá,
tirou a bermuda que eu usava junto com a calcinha e começou a me lamber lá embaixo.
A língua dele se perdeu em meio aos pelos castanhos da minha buceta e em pouco
tempo, eu estava gozando.
Eu quis retribuir na mesma hora e ele se sentou com as calças abaixadas enquanto eu
mamava em seu pau duro, de quatro. Ele segurou os meus cabelos enquanto eu fazia
todo o trabalho cheio de gemidos e sussurros. Eu estava com quase tudo na boca quando
ele confessou, quase gozando:
Eu sorri e continuei até senti-lo esporrando em minha língua. Ele tinha esguichado uma
quantidade incrível dentro da minha boca. O coitado devia estar sem sexo há muito
tempo.
Algum tempo depois, o masturbando, eu deixei Mauro duro de novo e pedi sem medo
do que ele podia pensar de mim:
Eu me sentia gorda e desajeitada com aquela barriga de cinco meses, mas ele não
pareceu nem um pouco incomodado, me deitando de frente no sofá e metendo bem
gostoso dentro de mim. Os anos também tinham passado para o meu irmão, e ele já não
tinha mais aquele abdômen sequinho e rasgado que ostentava na juventude. Mauro
havia ganhado alguns quilos com o casamento e até mesmo os seus cabelos ameaçavam
deixar a sua cabeça com entradas cada vez mais profundas na testa. Mesmo assim,
pesado e calvo, a sua tora ainda era fantástica e mesmo depois da gozada que ele tinha
dado em minha boca, ali estava ele, duro e enorme mais uma vez socando dentro de
mim.
Ele me botou de quatro algum tempo depois e naquela posição eu fui às nuvens algumas
vezes, gemendo feito uma cadela no cio enquanto ele enfiava até o talo dentro de mim
sem camisinha.
Ele resolveu obedecer direitinho aos meus pedidos insistentes para que terminasse o
serviço sem tirar de dentro e me deu o melhor sexo que eu tinha experimentado desde o
começo da gravidez. Quando ele esporrou, eu já estava extenuada de tanto transar e nós
caímos cansados no sofá com um sorriso de orelha a orelha.
Se ele concordasse, ia querer o pau amigo do meu irmão dentro de mim até o fim da
minha gestação e nem tinha culpa em pensar aquilo. Se com Roque não estava
funcionando, com Mauro funcionava e muito bem, como sempre.
Capítulo 21 – Reunião em família
EU OPTEI POR UM PARTO normal alguns meses depois das visitas de Mauro à
minha casa e a minha filha Micaela veio ao mundo grande e saudável. Ao vê-la pela
primeira vez, eu fui às lágrimas — chorando até mais que tinha chorado de dor durante
o parto — e o Roque não saiu do meu lado um só segundo, segurando a minha mão na
sala cirúrgica.
A cara de bobo quando ele olhou a filha em meu colo e percebeu que ela era ruiva como
ele deveria ter sido fotografada de tão hilária e eu usei aquilo por muito tempo para lhe
tirar um sarro. Toda a minha família compareceu para visitar o meu bebê lindo e não
teve ninguém que não ficou encantado com Micaela ao bater os olhos na garota a
primeira vez.
Mamãe estava bastante emocionada e logo que teve a oportunidade de segurar a neta no
colo, não parou de enchê-la de beijos carinhosos. Apesar de toda a dor que eu tinha
sentido, o desconforto e o mal-estar, eu estava muito feliz ao ter dado à luz aquela
criança maravilhosa. Eu olhava a minha menina em meu colo e tinha a certeza exata que
nada no mundo era mais importante do que ela. Pela primeira na vida, eu soube
reconhecer o que era amor incondicional e ninguém ia me fazer deixar de amar a minha
filha. Jamais.
Se eu tinha dúvidas que o Roque seria um bom pai para a Micaela, essas dúvidas se
encerraram completamente pela total dedicação que vi aquele homem despender à
menina desde o primeiro segundo em que ela veio ao mundo. Quando chegamos em
casa no primeiro dia, até pelo meu estado meio debilitado, ele fez questão de cuidar da
bebê dando banho, trocando fralda e tudo o mais que um pai dedicado precisava fazer.
Até mesmo na hora que ela precisava mamar em meu peito ele gostava de ficar por
perto olhando, zelando por ela com cara de apaixonado.
Passava todo o resto do tempo grudado na criança e era um amor vê-lo na cadeira de
balanço que tinha comprado cantando para Micaela em seu colo. Roque tinha uma voz
grave e melodiosa e a menina ficava calminha em seus braços até pegar no sono
enquanto o pai cantava. Podia ser impressão nossa, mas a canção preferida dela parecia
ser “Can’t Help Falling in Love” do Elvis. Enquanto Roque entonava o refrão, às
vezes, quase dava para ver um sorriso se formando no rostinho rosado de Micaela. Era a
coisa mais linda de se ver.
Eu estava amando ainda mais o meu marido por estar se mostrando um pai tão
carinhoso, e o amor que ele sentia pela filha era como uma benção que havia recaído
sobre nós após todo aquele medo de que ele não estava preparado para a paternidade.
Ele não sabia, mas aparentemente, Roque tinha nascido para aquela função.
Naquele Natal, nós reunimos a família inteira na mansão de Moema e foi bastante
emocionante o discurso que mamãe fez à mesa pouco antes da ceia. Estávamos todos
nós juntos ali, as suas filhas, os seus dois enteados, as suas esposas e os filhos deles. O
carrinho de bebê duplo de Elisa estava logo ao lado dela com Cleber e Cleide
observando tudo, curiosos, e a minha Micaela dormia tranquilamente em seu próprio
carrinho perto de Roque. Mamãe parecia emocionada, até meio ofegante, e em suas
palavras, ela nos agradeceu por termos lhe dado uma família tão linda.
— Agradeço a Deus por ter me dado tempo na Terra de ver as minhas filhas lindas
crescerem e construírem as suas próprias famílias ao lado desses meus genros tão
maravilhosos — e ela olhou agradecida ao Peterson primeiro e depois para o Roque —,
nunca pensei que teria a chance de conhecer os meus netinhos e não tenho palavras para
descrever o quanto sou feliz em ter visto Cleide, Cleber e Micaela nascerem. Eles são
bebês muito especiais e vê-los tão bonitos e saudáveis me enche de orgulho. Eu com
certeza sou a avó mais abençoada do mundo todo.
Assim como a Elisa, ver mamãe falando com tanta emoção nos olhos me fez chorar e
não pude deixar de perceber o tom de despedida que ela parecia querer imprimir em
suas palavras. Ela estava mais magra do que o normal e eu fiquei preocupada pela
maneira meio ofegante com que ela estava falando. Não podia estragar aquele momento
tão emocionante e preferi comentar a minha desconfiança sobre a saúde da dona Vilma
mais tarde com Elisa. Começava a rezar para que não fosse nada grave.
Após a ceia, como de costume, houve uma troca de presentes diante do pinheiro
enfeitado que mamãe havia montado na sala e as crianças ficaram muito animadas com
os presentes que ganharam. Jonathan agora era um lindo garotão loiro de quase sete
anos, a sua irmã Janete tinha acabado de completar três anos e a caçulinha da casa
Jéssica, tinha agora a mesma idade que o Pedro, o filho de Mauro com Solange, ambos
com um aninho.
Priscila, a irmã de Pedro, tinha agora dois anos, e mesmo tão novinha, encantava a todos
com a sua inteligência. Tinha adivinhado o seu presente só em sacudir a caixa
embrulhada e tirou dela um teclado infantil cor de rosa. Ficou radiante com o presente e
eu me espantei com a maneira com que ela tinha adivinhado o que era o presente do tio
Renato antes de abrir.
— Como você sabia o que tinha dentro, Pri? — Perguntei, me ajoelhando em sua frente.
Nós demos muita risada, e em seguida, a ouvimos começar a tocar meio desajeitada as
notas do “Atirei o pau no gato”. Solange dizia que a filha levava jeito com a música e
que desde de quando tinha começado a falar, vivia cantarolando pelos cantos. Era um
prodígio!
Jonathan estava muito feliz com o carrinho de controle-remoto que eu havia comprado
para ele e o menino não parava de me abraçar agradecido. Disse, falando baixinho, que
eu era a tia preferida dele, e quando viu a Elisa se aproximar, escapou correndo,
colocando o indicador sobre os lábios e me pedindo segredo sobre aquilo. Eu dei risada
pouco antes de o ver controlando o carrinho por toda a sala, batendo o seu para-choque
de plástico nos pés dos mais desavisados. Fiquei distraída um instante o vendo brincar
todo alegre e foi então que minha irmã me chamou de canto, dizendo que havia tido a
mesma impressão sobre a saúde de mamãe mais cedo.
— Vamos perguntar a ela se está tudo bem — indicou Elisa, aproveitando que os nossos
maridos estavam com nossos bebês.
— A senhora está se cuidando aqui sozinha, dona Vilma? Está tudo bem?
Ela deu uma última ordem para que a Ruth levasse a travessa para a sala de jantar e
respondeu, obviamente escondendo alguma coisa de nós duas:
— A senhora andou perdendo alguns quilos, deu para reparar. Não é melhor irmos a um
médico fazer um checkup, mãe? É sempre bom saber como anda nossa saúde.
Ela acariciou o meu rosto com as duas mãos e outra vez dando um riso forçado, alegou
que estava tudo bem e que nós não precisávamos nos preocupar com ela. Insistiu que
agora tínhamos a nossa própria família para cuidar e que ela estava bem ali em sua casa
lidando com as suas coisas. Tinha dado o assunto como encerrado.
Capítulo 22 – Em frustração
O FATO É QUE ME DOÍA o coração em ver mamãe tão sozinha naquela mansão
enorme e mesmo que Ruth ainda lhe fizesse companhia em metade do dia, não era a
mesma coisa de quando ela tinha várias pessoas andando para um lado e para outro
dando vida à casa.
No começo do ano seguinte, depois das férias, Elisa estava fazendo planos de retornar
ao trabalho na construtora e ela chamou mamãe para cuidar dos gêmeos enquanto
estivesse fora. A minha irmã pagava muito bem para que a babá fizesse aquele serviço,
mas ela queria dar uma ocupação à mamãe para lhe tirar do ócio, no que ela pensou que
nada a poderia revigorar mais do que cuidar dos netos que tanto amava.
Quando Elisa retornou de vez para a Suares & Castilho, mamãe acabou se mudando
para a casa da filha e passou a ocupar o quarto de hóspedes enquanto a mansão
permanecia trancada aguardando o seu retorno. Ruth foi com ela para ajudar na cozinha,
e por um tempo, o brilho em seus olhos retornou, nos fazendo enxergar a velha e
radiante dona Vilma de volta.
Eu sentia falta do homem pervertido e fogoso que me pegava toda e quase não me dava
folga quando estávamos sozinhos em casa. Daquele homem que quando me penetrava
me fazia ver estrelas na cama, no sofá e no chuveiro, do tarado incansável com a qual eu
havia me casado. Roque não demonstrava mais ter tesão por mim e algo em nosso
relacionamento parecia quebrado. Eu começava a temer que não tivesse mais conserto.
De todas nós, entre Vânia, Solange, Elisa e eu, a minha irmã era a única que tinha
conseguido voltar rápido à forma de antes da gravidez e uma das únicas que não teve
problemas com o marido para voltar a fazer sexo após os filhos. Apesar de ter dado à
luz a gêmeos, ela não havia engordado muito durante a gestação e todos os quilos que
ganhou, acabou perdendo rápido em alguns meses.
Vânia, por sua vez, havia ganhado bastante peso durante a gravidez da terceira filha, a
Jéssica, e nunca mais tinha conseguido voltar à forma que tinha antes do casamento. Eu
sentia que havia ficado com uma bunda enorme e não gostava nada do que via no
espelho quando tentava me admirar sem roupa. Havia uma saliência desnecessária em
minha barriga e os meus seios agora estavam levemente caídos. Eu estava me sentindo
muito infeliz.
O meu marido começou a ganhar muito bem com os meus irmãos e uma das suas
primeiras providências com o novo salário foi vender o Honda preto que ele dirigia
desde a época de faculdade para comprar um Volvo zero quilômetro como o que o
Renato tinha na garagem em Campo Belo.
Como agora tinha tempo de sobra com a conclusão da faculdade, Roque se matriculou
numa academia de musculação a duas quadras da construtora e passou a frequentar o
lugar três vezes por semana. Chegava em casa todo empolgado e vivia se admirando em
frente ao espelho, exibindo o abdômen cada vez mais riscado. Ele nunca fora do tipo
magrelo, mas estava cada vez mais gostoso agora, o que estranhamente começou a me
incomodar. Ele costumava dizer que tinha casado com a “mulher mais gostosa que ele
conheceu na vida” e agora eu sabia que não estava mais fazendo jus àquela afirmação.
Foi quando tomei uma decisão.
— Amor, eu vou começar a ir com você para a academia. Preciso perder peso e definir
o corpo.
Às vezes, eu o notava dando secadas em algumas delas pelo espelho ou enquanto fingia
que estava descansando após um exercício, e dava para perceber o desejo em seus olhos.
Eu estava morrendo de medo de perder Roque por não ser mais o que ele esperava de
mim. Vivia em agonia imaginando o que se passava em sua cabeça ou o que ele estava
pensando sobre a sua esposa fora de forma.
Não demorou muito, comecei a ter crise de ansiedade e passei muitas madrugadas
chorando sozinha no banheiro. Aquela insegurança me acompanhou por muito tempo
ainda e eu só consegui controlar a minha paranoia depois que passei a perder peso na
academia e voltar à minha antiga forma — ou perto disso. A nossa vida sexual deu uma
estabilizada, mas estava longe de ser a mesma coisa que era há alguns anos. A
frustração agora me definia.
Capítulo 23 – Férias e Macarena
MICAELA ESTAVA COMPLETANDO três anos quando eu usei outra parte do que
me cabia da herança de papai para abrir um estúdio de arquitetura e design próprio na
região da Vila Mariana.
O estúdio era uma sociedade entre eu e as minhas duas melhores amigas de faculdade, a
Marina Martins — a Nana — e a Maria Eduarda Silva — a Duda. Ocupava um andar
inteiro num prédio de frente para uma construtora que era rival à Suares & Castilho —
de nome Construtora Monterey — e a maioria dos nossos clientes fazia negócios com
eles sem ter a mínima ideia de que eu era parente de dois dos donos da S&C.
A minha outra cunhada, Solange, era a designer oficial da S&C e trabalhava mais
próximo dos clientes depois que as plantas eram entregues. Às vezes, ela lidava
diretamente com as empreiteiras que prestavam serviço para a construtora — uma delas
a Ao Cubo, onde Roque trabalhava enquanto namorávamos — e não era raro que a Sol,
às vezes, prestasse serviços de freelance para mim e a A3.
Eu adorava trabalhar com a esposa do meu irmão Mauro e o seu extremo bom gosto, e
sentia que era recíproco. Nós nos dávamos muito bem profissionalmente falando.
Agora que éramos todos profissionais formados e bem-sucedidos, dinheiro não era mais
problema em nossas contas, o que nos fez começar a esbanjar. Eu, Roque e a nossa
pequena Micaela viajávamos juntos pelo menos a cada seis meses e aproveitamos
aquele período de estabilidade financeira para conhecer alguns pontos do mundo que
ainda não conhecíamos.
Nas férias seguintes, eu e Elisa levamos mamãe para visitar os seus parentes espanhóis
em Córdoba e aproveitamos para conhecer uma dúzia de tios, primos e primas que
nunca havíamos visto na vida. Fomos muito bem acolhidas numa fazenda de centenas
de hectares próximo a El Higueron — a mais de 400 km de distância da capital
espanhola, Madrid — de propriedade de uma tia nossa, a Iolanda Estéban, e nos
divertimos aprendendo a ordenhar leite de vaca e a caçar pato.
Mamãe era a única fluente em castelhano entre nós três e eu e Elisa apanhamos bastante
para nos comunicar, embora as duas tivessem tido aulas de espanhol na escola. Os
nossos parentes europeus eram, em sua grande maioria, muito gentis e divertidos, a tal
ponto que dois primos nossos de segundo grau chegaram a se engraçar com nós duas,
dizendo que éramos as brasileiras mais lindas que eles tinham conhecido.
Juan, que tentou me cortejar — mesmo vendo pela aliança em meu dedo que eu era
comprometida — era um baixinho de nariz adunco e voz anasalada, mas o José, que deu
em cima de Elisa, era bastante atraente, o suficiente para que a minha irmã ficasse toda
fogosa para o seu lado, se segurando por pouco para não cair em tentação.
— O José é tão sexy com aquela pele morena e aqueles olhos claros! — Me confessou
ela à noite, enquanto dividíamos um aposento que uma das nossas tias havia nos cedido
durante a hospedagem na fazenda.
Tanto o José quanto o Juan tinham idades próximas às nossas e ambos trabalhavam
como administradores da fazenda de gado da nossa tia Iolanda. Eram solteiros, não
tinham filhos e nem qualquer outra preocupação além de gerenciar os hectares que os
rodeavam naquela parte afastada do país europeu.
— Ele me olhou de um jeito tão… tão incisivo. Era como se quisesse me comer com os
olhos!
Insisti na pergunta:
— Mas você teria coragem de trair o Peterson se o José desse em cima de você outra
vez?
Elisa não fazia o tipo tímida em quase nenhuma oportunidade, mas naquele momento,
cobriu o rosto com o lençol antes de admitir com a voz abafada pelo tecido branco:
No dia seguinte àquele nosso diálogo dentro do quarto, José e Juan nos chamaram para
visitar uma cidadezinha que ficava localizada a menos de dez quilômetros da fazenda.
Enquanto mamãe fazia companhia para a tia Iolanda e matava as saudades das pessoas
que não via há muitos anos, a minha irmã e eu embarcamos na pick-up do Juan e fomos
passear com os nossos primos distantes.
Uma vez na cidade, fomos conhecer um bar muito animado chamado Tapería de
Malasaña, e por lá, já arriscando um portunhol muito do sem-vergonha, nós duas fomos
muito bem recebidas pelos locais que nos identificaram logo como brasileiras e
começaram a fazer várias referências à nossa cultura.
A cerveja artesanal que o dono do bar tinha como o seu principal produto de
comercialização era realmente muito saborosa e senti que fiquei bêbada já na metade da
minha segunda caneca. Elisa que sempre tinha sido mais resistente ao álcool que eu,
aguentou firme até a terceira caneca, mas depois disso, já estávamos as duas dando
vexame na taberna, chamando todas as atenções para a nossa mesa ao fundo do
estabelecimento.
Em pouco tempo, éramos as brasileiras bêbadas que estavam agitando um bar numa
cidadezinha perdida da Espanha a mais de 300 km de Madrid, mas aquele momento foi
inesquecível. Há muito tempo que eu não ria tanto quanto os minutos em que requebrei
os meus quadris com aqueles desconhecidos do outro lado do mundo e quando voltamos
para a fazenda na companhia dos nossos primos, era como se tudo não tivesse passado
de um sonho.
— Não só dançamos como também botamos aqueles espanhóis para nos acompanhar,
mana!
José e Juan nos olhavam do banco da frente sorridentes, ainda impressionados com a
nossa desenvoltura na dança. Em espanhol, diziam que nunca tinham visto duas
“chicas” com tanto molejo nos quadris quanto nós duas e que éramos as mulheres mais
animadas que eles já tinham conhecido.
Ainda sob efeito do álcool que havia ingerido em demasia, Elisa se inclinou no banco de
trás livre do seu cinto de segurança e deslizou a mão dos cabelos crespos de José até a
altura do seu pescoço, para depois dizer:
— Você ainda não viu o quanto nós podemos ser flexíveis, niño!
Eu tinha consciência do que estava fazendo e nem tentei colocar a culpa dos meus atos
na cerveja artesanal da Tapería de Malasaña, mas alguns quilômetros depois do bar,
quando um dos primos estacionou a camionete a menos de uma quadra da fazenda, eu
me vi tomada de um desejo sem igual pelo primo baixinho e resolvi me atracar com ele
no banco de trás do veículo.
Do lado de fora, Elisa estava num fogo só com o José encostada na lataria da pick-up e
dava para ouvir as suas risadas exageradas a ecoarem enquanto ela o deixava enfiar o
rosto entre seus peitos miúdos, os chupando com extrema gula.
Juan, por sua vez, não perdeu tempo em querer experimentar o meu beijo e foi só ele
começar a serpentear a sua língua na minha para que eu perdesse quase que
completamente o meu controle.
O que eu estou fazendo? Eu sou uma mulher casada… eu tenho uma filha pequena…
Oh, Jesus! Mas ele é tão gostoso!
Juan dedilhou a minha vagina por baixo da saia que eu vestia e me levou ao orgasmo
me penetrando habilmente com seus dedos grossos. Retribuí como eu pude lhe pagando
um boquete, mas estava zonza demais para saber se estava caprichando ou se estava
apenas fazendo movimentos erráticos naquele pênis razoavelmente ereto.
Depois de um final feliz para os dois casais, nós, enfim, voltamos para a fazenda e
tivemos que fingir que nada muito fora do comum havia acontecido. A tia Iolanda
estranhou o nosso comportamento ébrio tão logo botamos a cara para dentro de casa,
mas foi da nossa mãe as perguntas mais enfáticas assim que nos vimos as três a sós
dentro de um dos quartos.
— A gente não conseguiu resistir, mãe — tentou se explicar Elisa, ainda alegre em
excesso e confessando tudo o que eu e ela tínhamos feito com os nossos primos de
segundo grau.
— Suas malucas! — Mamãe estava abismada com o nosso comportamento — Foi pra
isso que vocês quiseram viajar para a Espanha?
Nenhuma de nós tinha pensado naquilo anteriormente, mas como estava fora da nossa
alçada mudar tudo o que havia ocorrido durante aquele tempo na fazenda dos Estéban,
decidimos que aquela história morreria ali. No Brasil, trabalhando duro enquanto nos
divertíamos na Espanha, Roque e Peterson jamais souberam daquela história dos primos
e até a mamãe prometeu guardar segredo para manter a paz em família.
Capítulo 24 – Amor de pai
Em meio àquela pasmaceira, Renato sugeriu que fizéssemos uma reunião só com os
casais na casa de veraneio do papai — que depois da sua morte, havia ficado sob
responsabilidade do meu irmão mais velho —, no litoral norte e não demoramos a
considerar o convite para fazermos outra tentativa de animar o nosso relacionamento.
— Por que a gente não faz como o velho fazia antigamente? A gente se reúne na praia,
providencia umas bebidas, uns cigarros e se diverte por um fim de semana inteiro só a
gente. Sem filhos, sem trabalho, sem aporrinhação. A gente merece curtir um pouco,
não merece?
Elisa estava acabando com o seu segundo caneco de chope e foi a primeira a apoiar a
ideia. Mauro bebericou a sua caneca, e em seguida, indagou, curioso:
Aquele final de semana estava bastante ensolarado no litoral e chegamos à Praia da Vila
a bordo de um helicóptero que Renato alugou para nos deslocar de São Paulo até ali. O
caseiro que cuidava do lugar na ausência de papai tinha arrumado tudo para a nossa
chegada e o Mauro carregou o cooler de bebidas para a cozinha tão logo entramos na
casa de dois andares.
Além de toda a propriedade que ficava numa praia particular, papai havia deixado de
herança dois veleiros de trinta pés cada para os dois filhos homens, veículos que
ficavam atracados no porto à espera de um passeio oportuno pelo mar. Elisa quis
passear pela ilha cerca de uma hora depois da nossa chegada e o Renato fez questão de
levar todos nós a bordo de um dos barcos. Eu, a minha irmã, a Vânia e a Solange
aproveitamos o sol para nos bronzear um pouco e vestimos roupas de banho
apropriadas.
Depois de ter voltado à minha forma de antes da gravidez, eu já arriscava usar biquíni e
Elisa me acompanhou, mostrando que ainda tinha um corpo de dar inveja. As nossas
cunhadas foram mais discretas ao optarem por maiôs, mas todas nós conseguimos
desfrutar de tudo que a bela ilha tinha a oferecer naquele passeio ao redor dela. Renato
conhecia o lugar como a palma da mão por frequentar o lugar desde criança com o papai
e nos conduziu por uma paisagem mais linda que a outra.
Além dos passeios à beira-mar e da visitação às belezas naturais de Ilhabela, todos nós
desfrutamos de todo conforto que a aprazível residência deixada por meu pai tinha a
oferecer. Além da piscina com largura de raia olímpica, o casarão ainda dispunha de
ofurô e banheira de hidromassagem, itens de luxo que nenhum de nós quis deixar de
aproveitar entre uma parada ou outra para jogar Dominó, Truco, Blackjack ou outros
jogos em grupo na mesa principal da sala de recreação.
A ideia de Renato de deixar de lado as nossas vidas estressantes, nem que fosse por um
final de semana, tinha sido muito bem aproveitada e nós nem tínhamos precisado
recorrer às drogas, às prostitutas e as intensas relações incestuosas das quais o meu pai
Jaime era adepto nos idos anos 70. Mesmo sem nada daquilo, o passeio à praia tinha
sido muito divertido e eu consegui me reconectar ao meu marido de um jeito que nem a
viagem para a Espanha tinha feito.
Alguns dias depois da viagem para o litoral, em nossa volta para a casa na Saúde, em
São Paulo, como há muito tempo não acontecia, Roque e eu voltamos a estremecer o
quarto com o nosso ímpeto sexual e por várias noites socamos a cama contra a parede
em nossa volúpia da mesma forma como fazíamos no antigo apartamento dele em início
de namoro.
Numa daquelas noites de luxúria desenfreada, fizemos tanta bagunça que acabamos
acordando a Micaela em seu quarto e a menina apareceu à nossa porta sem entender
nada o que estava acontecendo. Não costumávamos usar o trinco com frequência, e em
nosso descuido, a nossa filha nos flagrou nus sobre a cama em pleno ato sexual.
— Papai? Mamãe?
O susto foi tão grande ao ouvir a vozinha de Mica que nos sobressaltamos e a vimos
parada em pé alarmada perto da cama. Ela tinha nove anos na época e os seus olhos se
fixaram no pênis duro e molhado do pai, que eu tentei cobrir logo com o lençol
amarfanhado.
Ela fez uma cara de choro ao perguntar aquilo tão inocentemente a Roque. Na mesma
hora, ele estendeu os braços em sua direção pedindo que ela subisse em nossa cama. O
cheiro de sexo estava impregnado em cada milímetro das paredes, mas tínhamos plena
ciência que a menina não ia entender à princípio.
Já coberto com o lençol da cintura para baixo, o meu marido recebeu Mica em seus
braços e a abraçou carinhosamente.
— O papai não tava machucando a mamãe, meu amor. Não se preocupa, viu?
— O papai estava amando a mamãe, Mica. Os adultos fazem isso às vezes. Não tem
nada demais, tá?
Eu acariciei os seus cabelos ruivos e ela demonstrou que tinha entendido, me encarando
com os olhos verdes lindos enquanto apoiava a cabeça no ombro forte do pai. O nosso
clima tinha acabado completamente após aquela interrupção e os dois a ouviram pedir,
manhosa:
— Posso dormir aqui com vocês hoje? Não consigo dormir em meu quarto.
Ainda estávamos nus, mas decidimos permitir para evitar mais perguntas embaraçosas.
Mesmo com Micaela mais crescidinha, aquela mania de ela querer dormir entre nós na
cama se tornou um hábito que o meu marido incentivava em vez de reprimir. Tudo era
desculpa para que ela viesse ao nosso quarto de noite; de medo de tempestades a
insônia.
Eu ficava bastante chateada pelo fato de que aquelas visitas, às vezes, interrompiam um
clima romântico que estava sendo construído entre eu e Roque, mas ele não parecia se
importar, tudo para que continuasse mimando a nossa filha lhe dando tudo que ela
queria de bandeja.
Embora ele fosse um excelente pai, por muitas vezes, eu notava que Roque era
permissivo em exagero aos caprichos de Micaela e ela estava crescendo sabendo
manipulá-lo direitinho.
Eu estava vestida com um shortinho bem curto e largo embaixo, e quanto mais
massageava aquela coisa imensa, mais molhada eu estava ficando. Prestes a cair de boca
em meu marido bem-dotado, Micaela irrompeu do nada no quarto, berrando:
Ela já estava com seus dez anos na época, tinha idade suficiente para entender que os
pais tinham necessidades físicas para satisfazer além do direito à privacidade, mas outra
vez me vi frustrada com a indulgência do meu marido.
— Vem cá, meu amor. Deita aqui com o pai. Vai ficar tudo bem.
Micaela se metia bem entre nós dois, e feito uma criancinha boba, se aninhava em
nossos braços. Como mãe, eu não podia simplesmente ignorá-la e é claro que eu a
acolhia. Fazia questão de demonstrar a Roque como aquilo me chateava, mas ele
parecia não ligar. Quando a disputa era entre eu e a filha, ele sempre optava por ela.
O carinho entre Roque e Micaela era agora exacerbado e a minha filha parecia mesmo
apaixonada pelo pai tal era a proximidade que ela tinha com o meu marido. Perto dele, a
menina vivia fazendo manha e conseguia do tonto tudo que queria; de presentes caros à
satisfação de todos os seus desejos, mesmo os mais simples.
Eu era o lado sensato na educação da garota e estava tentando salvar o que o mimo de
Roque ameaçava estragar. Cheguei a ter uma conversa com ela sobre as suas escapadas
para a nossa cama à noite e ela prometeu se comportar, entendendo que o papai e
mamãe faziam “coisas” ali que ela ainda não precisava presenciar.
Embora as fugas noturnas tivessem acabado, os dois agora viviam agarrados em outros
horários pela casa, vendo filme juntos na sala, preparando o almoço na cozinha — ele
até havia aprendido a cozinhar para agradar os gostos de Mica — ou jogando
videogame. Era muito raro vê-los separados quando Roque tinha uma folga do trabalho
ou quando ela não tinha aula, e ambos viviam aos beijos no rosto e abraços. Eu estava
começando a morrer de ciúmes daquela relação e cheguei a me queixar com Elisa certa
vez.
— Pois é a mesma coisa aqui em casa! — Confessou a minha irmã naquela tarde,
enquanto os filhos se divertiam na piscina com o pai. Aquele era um sábado ensolarado
e estavam todos em casa. — Se você olhar lá fora agora, provavelmente, vai ver a
Cleide pendurada no pescoço do Peterson. Eles não se desgrudam também!
Eu fui até a janela envidraçada da casa de Elisa e dei uma espiada. Os gritos das
crianças ecoavam lá de fora e a Cleide estava nas costas do Peterson, que se preparava
para jogá-la na água enquanto o Cleber dava braçadas nadando de um lado para outro da
piscina.
Entre nós duas, Elisa era mesmo a mais ligada a nosso pai. Até demais!
— Eu devo estar ficando louca tendo ciúmes da minha própria filha — eu continuava
bisbilhotando o trio lá fora. Peterson agora jogava água no filho.
— O Roque faz o tipo pai babão como o Peterson. Eles ficam derretidos com as filhas
mulheres. É normal que eles as mimem. Aqui não tenho do que reclamar, já que o
Cleber me faz companhia. Ele é muito ligado a mim. Bem mais do que é com o pai. É
natural. Por que você não arruma um menino? Ia equilibrar bastante a balança.
Ter um segundo filho definitivamente não estava em meus planos, mas depois daquela
conversa com a Elisa, eu procurei desencanar das minhas desconfianças a respeito do
carinho excessivo entre o Roque e a Mica.
Capítulo 25 – A decepção
OS ANOS SEGUINTES FORAM de muito trabalho tanto para mim com a A3 quanto
para o Roque na Suares & Castilho. Por ser um dos principais engenheiros da equipe do
competente e exigente Eliéser Valentim, o chefe de engenharia da construtora, o meu
marido tinha começado a ficar muito requisitado na maioria dos projetos que a empresa
conseguia como contrato, e por algum tempo, tanto ele quanto o Peterson começaram a
viajar a trabalho para localidades que iam desde o interior de São Paulo até outras
regiões como o Centro-Oeste e o Sul do Brasil.
A empresa tinha conseguido se estabilizar depois de anos correndo atrás dos prejuízos
que os meus irmãos, em sua inexperiência inicial, haviam causado à saúde financeira do
grupo e o pulso firme do intransigente João Suares à frente da diretoria havia mesmo
colocado o barco no prumo, evitando que ele naufragasse levando todos os Castilho
para o fundo do oceano.
Como aquele era um dos clientes mais exigentes que o grupo S&C havia conseguido
nos últimos meses, o meu irmão Mauro exigiu que a sua esposa Sol nos acompanhasse
diretamente no comando das equipes de arquitetura e design de interiores, o que fez
com que eu tivesse que levantar também a minha bunda da cadeira e acompanhasse a
decoração do banco pessoalmente, como há muito tempo não fazia em meu ofício.
Naquele período, eu tinha ficado bastante ocupada em meu serviço para que as pessoas
que trabalhavam comigo dessem conta de cada um dos projetos em que a A3 estava
envolvida. As minhas sócias estavam muito assoberbadas devido a carga massiva de
trabalho a que estavam sendo incumbidas de fazer e foi aí que decidimos contratar
alguns jovens estudantes freelances para a agência em troca de um pagamento justo.
Na primeira semana, eu entrevistei cerca de quinze universitários à procura de estágio
na área de Arquitetura ou Design e acabei contratando dois deles por um período de
teste. O primeiro, se chamava Vincent, estava no terceiro ano de Arquitetura, morava na
região de Indianópolis, tinha várias especializações em softwares de construção 3D
como AutoCAD, 3D Max, SketchUp e mais uma porção de outros. O seu currículo era
mesmo impressionante, e além disso, ele era um rapaz muito simpático e divertido.
Nana e Duda se conectaram muito rapidamente por ele ser queer, do signo de leão e ser
fã da Lady Gaga. Para elas, algumas daquelas qualidades eram imprescindíveis para
alguém que passaria um bom tempo trabalhando com a gente no escritório.
A segunda candidata a freelancer era uma garota de vinte e três anos especialista em
Design Gráfico e de Interiores que me tinha sido muito bem recomendada pela minha
cunhada Solange. A mulher do meu irmão a tinha conhecido numa entrevista para a
vaga de assistente administrativo de um dos escritórios da Ao Cubo, mas como a vaga
para o cargo já tinha sido preenchido por lá, ela a enviou para mim assim que soube que
eu estava em busca de bons profissionais que fossem hábeis com os softwares com que
trabalhávamos na A3.
Rosana era uma mocinha franzina que aparentava uns dezesseis anos no máximo apesar
da carteira de identidade dizer que tinha mais, porém, ela era muito comunicativa e
inteligente. Assim como o Vincent, era versada num sem-número de programas de
computador para construção 3D e me aguçou a curiosidade saber porque ela tinha
buscado, inicialmente, um cargo de assistente administrativo na empreiteira Ao Cubo.
— Eu já tinha experiência de um ano na área e usei o salário que recebia para custear as
mensalidades da minha faculdade — respondeu ela com seus olhos castanhos grandes
mirados em minha direção atrás da minha mesa —, aí, quando vi a vaga na Ao Cubo,
decidi tentar a sorte. Infelizmente, o cargo já estava ocupado.
— Então, você nunca trabalhou com nada relativo à arquitetura ou design, correto?
Eu me sentia uma idosa todas as vezes que alguém da idade de Rosana me chamava de
“senhora”.
— Ela parece meio desnutrida, a coitada — caçoou Nana falando a respeito do tipo
físico meio esquálido da garota —, mas pelo que vi do currículo, acho que merece uma
chance.
— Se a sua cunhada a mandou aqui é porque a menina deve ser mesmo boa no que faz,
Carla — disse a Duda na sequência —, a Sol é uma das melhores designers do mercado.
Ela deve saber do que está falando, não é?
Algum tempo depois, Rosana completou o seu teste e nós três analisamos o projeto que
a garota de cabelos encaracolados havia desenvolvido em quarenta e cinco minutos
diante do iMac. Salvo alguns pequenos defeitos de estruturação, o arquivo estava a
contento e nós decidimos pela sua contratação em período de tempo limitado. Dois dias
depois das entrevistas, tanto ela quanto Vincent estavam inteirados sobre a maioria dos
nossos projetos e começaram a botar a mão na massa para nos ajudar com o
cumprimento dos prazos.
Ele chegou bastante cansado do aeroporto e não demorou a se queixar de fome e sono
tão logo pisou na sala. Cuidei para que ele estivesse bem alimentado pouco após o
banho relaxante que tomou em nossa jacuzzi e enquanto ele comia um frango grelhado
que a nossa cozinheira Lourdes havia preparado pouco antes de sair de casa, eu me
produzi toda no quarto para provocá-lo assim que ele viesse ao meu encontro.
Roque voltou para o nosso aposento cerca de trinta minutos após o seu jantar e me
encontrou deitada de bruços sobre a cama. A lingerie que eu havia providenciado era
um conjunto de camisolinha transparente por cima e uma calcinha de renda finíssima
embaixo que deixava pouco a se imaginar das minhas curvas. Eu sabia o quanto a minha
bunda atraía os olhares do meu marido e provocava a sua libido e não fiz questão de
escondê-la assim que ele apontou na porta.
Roque pareceu um tanto surpreso ao passar pelo batente e se aproximou com um sorriso
cínico no rosto. Se sentou na beirada da cama do lado onde costumava dormir e deu
uma olhada rápida em direção ao meu traseiro.
— Gostou da minha lingerie?
Me movimentei sobre a cama de maneira que ele enxergasse mais pele do que eu já
estava mostrando e foi aí que ele viu que não havia sutiã por baixo da peça delicada e
translúcida que cobria o meu corpo.
— É nova?
O tom de Roque era ligeiramente displicente e estava visível em seu rosto que ele não
estava animado em me ver daquele jeito tão sexy como eu achei que ele ficaria.
Estávamos há uma semana sem nos ver e sem nos tocar e era como se ele não estivesse
nem ligando para mim ou preocupado em sanar o nosso afastamento momentâneo.
Todo o clima de sedução que eu tinha preparado claramente não estava funcionando e
então, eu me ajoelhei na cama para ficar cara a cara com ele.
Eu estava agora envergonhada pelo clima que tinha tentado criar sem sucesso e todo o
meu tesão passou antes mesmo que eu percebesse o papel ridículo a que estava me
prestando. Desviei o olhar para que ele não notasse a minha decepção, e então, veio a
pergunta:
— A Mica não está em casa? Por que ela não veio me receber quando eu cheguei?
A menção à nossa filha me fez ficar ainda mais chateada, e sem mais nenhuma vontade
de querer agradar o meu marido, eu me levantei da cama e comecei a me enrolar em um
robe de seda que havia deixado sobre a poltrona ao lado da janela do quarto. Lágrimas
já ameaçavam rolar pelos meus olhos e eu resolvi sair rápido do quarto antes que eu me
acabasse de chorar na frente de Roque.
Sem dizer mais nada, eu saí porta afora e me tranquei no banheiro. As lágrimas
explodiram quentes pelos meus olhos e eu cobri a boca para que o eco do meu choro
desenfreado não atraísse a atenção de Roque e ele tivesse a certeza absoluta de o quanto
estava me magoando me tratando daquela maneira tão indiferente.
Mirabel era uma mocinha de vinte e dois anos que havia conseguido uma vaga no setor
onde trabalhava apenas e tão somente por seu parentesco com o manda-chuva da área de
engenharia, o senhor Eliéser Valentim. Ela era a sobrinha mais nova do homem e a sua
única expertise no papel que desempenhava era ser incrivelmente bonita e educada.
Segundo Elisa, a chefe da seção administrativa da S&C, a garota não tinha qualquer
outro predicado que justificasse a sua presença na viagem até as obras dos escritórios e
foi em uma conversa franca com a minha irmã que comecei a desconfiar dos motivos
que haviam feito o meu marido voltar tão desinteressado de Goiás.
— Está sugerindo que o Roque está tendo um caso com essa mocinha?
Eu e ela estávamos sentadas uma de frente para a outra na sala envidraçada de onde
Elisa comandava todo o setor de ADM do prédio. Assim como os meus irmãos, ela era
um braço fundamental para o bom funcionamento da construtora, e mesmo possuindo
apenas 5% das ações totais do grupo Suares & Castilho, Elisa tinha voz ativa frente a
diretoria e João Suares costumava ouvi-la sempre que as suas opiniões lhe eram
pedidas.
A porta de vidro da sala da minha irmã estava fechada. Do lado de fora, a sua secretária
baixinha de nome Mariana atendia um dos meninos do setor de TI lhe dando algumas
instruções em frente à sua escrivaninha.
— Mas daí a justificar a falta de interesse dele em sexo pela sua desconfiança de que ele
está transando com uma ninfetinha recém-saída da faculdade é um passo muito grande,
não acha, mana? — Elisa me questionou aquilo em tom baixo sentada em sua poltrona
presidencial — Ele devia estar só cansado da viagem… são horas de voo de Goiás até
São Paulo… vai ver, foi só isso!
— Você consegue chamar essa garota aqui e agora na minha presença, Lisa?
Elisa ficou atônita e não conseguiu dizer nada por alguns segundos.
Elisa queria evitar escândalos em sua sala durante o expediente e me fez jurar que eu
não teria nenhuma reação explosiva caso o que a menina tivesse a me dizer não fosse do
meu agrado. Quinze minutos depois, uma moça de estatura mediana, corpo esguio, seios
empinados e um rosto muito juvenil adentrou a sala da diretoria comigo sentada diante
da mesa envernizada da minha irmã.
Eu tinha motivo para bater aquele narizinho empinado contra a mesa à minha frente só
pelo tratamento de “senhora”, mas resolvi me conter em respeito ao pedido de Elisa de
não fazer barracos.
— Eu soube que você acompanhou o meu marido até Goiás há algumas semanas,
Mirabel — decidi ser direta e reta em meu intento de pegar a ninfeta no contrapé —,
posso saber qual foi exatamente o itinerário de vocês por lá?
A assistente administrativa não era exatamente a idiota que a Elisa havia tentado me
convencer de que ela era, e a menina era até bem articulada em sua fala. Dizia tudo com
um sorriso irritante no rosto incrivelmente jovem sem qualquer marca de expressão e
possuía um português muito correto de professorinha do pré-escolar. Eu conseguia
enxergar nela vários predicados que a tornariam um alvo de interesse de Roque e
haviam vários quesitos em seu corpo que eu já não podia mais oferecer ao meu marido,
principalmente aqueles peitinhos durinhos e empinados aparecendo pelo decote.
— … mas, via de regra, eu só acompanhei o senhor Roque e o senhor Antunes pela obra
do prédio de escritórios durante os cinco dias. Basicamente foi isso.
Ela tinha me explicado com muita calma cada um dos dias em que estivera à serviço do
meu marido e do seu colega engenheiro em Goiás e não me parecia haver lacunas da
qual ela e Roque pudessem se aproveitar para se refestelar na cama enquanto eu
trabalhava feito uma idiota em São Paulo.
A moça lançou um olhar em direção à Elisa por de trás da sua mesa e perguntou, agora
com uma feição preocupada no rosto:
Assim como eu, a minha irmã também odiava ser tratada de “senhora” ou “dona” e ela
foi enfática em sua resposta:
— Não sou “dona” de coisa nenhuma, Mirabel. E não, você não fez nada de errado.
Agora pode voltar para o seu setor. Está dispensada.
Mirabel acenou para nós duas antes de deixar a sala e fechou a porta às suas costas.
Elisa esperou até que a menina desaparecesse pelo corredor que levava até o elevador
do lado de fora e só então me encarou.
— Satisfeita, Carla?
Mais uma vez, achei que estava ficando paranoica e saí da sala da minha irmã, algum
tempo depois, sem saber exatamente o que pensar.
Se o Roque não tem uma amante, então por que ele não tem mais interesse em mim? Eu
estou tão feia assim? Será que ele ainda está me achando gorda? Ele deixou de me
amar?
Dois dias depois da visita ao décimo quinto andar da torre noroeste da Suares &
Castilho, eu parei de queimar os meus neurônios com a minha suspeita de que Roque
estava me traindo e voltei a me concentrar nas toneladas de trabalhos a serem
concluídos que a A3 ainda tinha pela frente.
Rosana e Vincent tinham se encaixado muito bem à minha pequena equipe — que além
de mim e as minhas duas sócias ainda contava com a minha secretária Nádia Lins, a
moça que trabalhava na copa Alzira e o segurança do andar, o Romeu — e durante
aquelas primeiras semanas foram uma “mão na roda” para que a minha agência
conseguisse entregar todos os projetos nos prazos acordados.
Eu estava em minha sala viabilizando uma planta 3D para a criação de uma cafeteria a
ser construída futuramente na área urbana do bairro Paraíso, em São Paulo, em minha
sala aquela tarde. Eu tinha pedido uma caneca de café passado na hora para a Alzira há
menos de cinco minutos e o aroma do expresso chegava ao meu nariz enquanto eu
movia o mouse do meu computador e acertava as setas direcionais do teclado num
comando do software na minha tela quando senti o meu celular vibrar sobre a mesa do
meu lado direito. Fiz uma pausa para salvar as alterações feitas no arquivo e me virei
para saber do que se tratava. Era uma ligação de Elisa.
Eu conhecia a minha irmã bem demais para adivinhar o que costumava vir depois que
ela dava uma suspirada longa seguida de um “então”. Meu coração chegou a tremelicar
dentro do peito.
— Aquele dia em que você me visitou no escritório… Eu fiquei com a nossa conversa
martelando dentro da cabeça e resolvi te ajudar. Eu botei a Mariana, a minha secretária,
para investigar um pouco a viagem do Roque para Goiás e ela descobriu algumas coisas
sobre ele e a tal da Mirabel…
— Parece que sim — respondeu Elisa, agora com pesar na voz —, eu não sei até que
ponto essa fonte em Goiás é precisa, mana, mas eu confio na Mariana. Ela não ia
inventar uma história dessas e acho que a minha funcionária também confia bastante na
pessoa que trabalha no hotel. Eu sinto muito.
A vagabunda dormiu com os dois ao mesmo tempo? O Roque participou de um ménage
à trois com o colega engenheiro e essa ninfetinha? Eu não posso acreditar!
MEU MARIDO AINDA ERA a mesma máquina de sexo com a qual eu tinha casado,
mas eu estava cada vez mais afastada dele sendo agora sempre colocada de lado para
dar a vez a meninas cada vez mais novas.
Embora eu ainda estivesse em forma, me mantendo daquele jeito à duras penas com
aulas cada vez mais esparsas na academia, voltei a me sentir depressiva por conta da
descoberta da infidelidade de Roque e a minha autoestima sofreu um abalo naquele
período. Enquanto o meu marido se divertia com aquelas novinhas cheirando a leite
fresco, eu estava cada vez mais enterrada em meu trabalho, cada dia mais sufocada
pelas tarefas da A3 e cada dia mais infeliz. Eu estava precisando de uma injeção de
ânimo e não fazia ideia de onde conseguir uma seringa.
Era um rapaz robusto vestindo um blusão de moletom e pensei que era jovem demais
para ser um cliente. Já estávamos perto do horário de encerrar as atividades naquele dia
e a Nádia até já tinha organizado as suas coisas sobre a mesa para ir embora. Entreguei a
planta em sua mão e pedi que a guardasse, ao mesmo tempo que indiquei com a cabeça
o rapaz, indagando sem palavras de quem se tratava.
— Ah, não é um cliente. Ele é o meu irmão Gilson. Veio me buscar no trabalho.
Absorto no que fazia em seu celular, o tal rapaz nem se deu conta que falávamos dele e
continuou encarando a tela pequena, ainda sentado na longarina de espera. Ele tinha
ombros largos e porte de atleta, além de um rosto másculo com barba de três dias por
fazer. O achei extremamente interessante.
Quantos anos será que tem? Uns vinte, vinte e um? Pensei, curiosa.
Na semana seguinte, Gilson apareceu mais uma vez no estúdio para buscar a irmã, mas
não a encontrou em sua mesa na antessala do meu escritório. Nádia estava trabalhando
com a gente há quase dois anos e eu a considerava extremamente competente em seu
ofício. Não era de se atrasar, não reclamava de pegar no pesado e mantinha tudo por ali
numa organização quase militar.
Naquela tarde, eu tinha pedido que ela fosse encomendar um buquê de rosas vermelhas
que a Nana enviaria para um de nossos clientes no dia seguinte em agradecimento a um
trabalho concluído e eu mesma informei ao rapaz.
— A floricultura é ali na esquina. Você pode esperar pela Nádia aqui mesmo, se
preferir.
Olha só esses braços! Eu o estava secando sem nem disfarçar e aproveitei que
estávamos só nós ali para fazer algumas perguntas.
Não havia sinal de aliança no dedo e morar com a mãe era um indício de que, muito
provavelmente, ele era solteiro.
— E você pratica algum esporte? É meio forte… Ombros largos! — Eu dei uma risada
meio esganiçada e me senti meio oferecida. Ele não pareceu se importar, me
respondendo educadamente:
— Eu pratico judô. Dou aula numa academia perto de casa. Tenho algumas turmas de
crianças e adolescentes.
— Que interessante — ele continuou me olhando sem dizer nada —, você parece ser
bem calmo. O judô deve te dar bastante disciplina.
— Eu comecei a praticar esporte para aprender a ter foco e disciplina. O judô é muito
bom para isso. Se a senhora quiser, eu posso lhe passar algumas aulas grátis na
academia para ter uma noção de como funciona.
— Olha que eu aceito, mas só se não me chamar mais de senhora, por favor.
— Perdão, senhorita…
Não era comum que eu me interessasse daquela maneira por homens mais jovens do que
eu — exceto o breve affair que tinha rolado entre eu e o meu primo Juan na Espanha —,
mas eu me vi estranhamente atraída por Gilson.
Embora tivesse visto a aliança em meu dedo anelar direito e tivesse se informado sobre
mim com a irmã, ainda assim, o Gilson parecia que também tinha se interessado e
voltou no dia seguinte para buscar Nádia. Ele saía da academia onde dava aula por volta
das dezesseis horas, e às vezes, passava ali para dar carona à irmã em seu carro. Os dois
moravam no Jardim Novo Mundo e dali da Vila Mariana levavam algum tempo para
chegar em casa com o tráfego pesado da Hora do Rush.
Aquela noite, enquanto Nádia se preparava em sua mesa para ir embora, inventei uma
desculpa qualquer para atraí-lo até a minha sala e o abordei:
— Você disse que dá aulas para adolescentes, não é, Gilson? — Ele anuiu, sentado no
banco de espera. — Eu tenho dois sobrinhos que vão adorar começar a fazer judô. Você
pode vir aqui um minuto e me passar os contatos da academia?
Nádia observou a minha encenação sem desconfiar de nada e achou natural aquela
conversa com o seu irmão. Ele se levantou e caminhou até a minha sala. Me sentei atrás
da escrivaninha e diminuí o tom para que só ele me ouvisse:
— Anota o meu número. Vamos marcar de tomar uma cerveja qualquer dia desses. Só
eu e você.
De maneira charmosa, ele me piscou um olho, e naquele momento, percebi que ele era
bastante perspicaz. O meu coração disparou no peito depois que ele saiu da minha sala e
eu estava me sentindo feito uma adolescente de novo.
O que eu estou fazendo? Pensei, admirada comigo mesmo no momento em que o moço
forte atravessou a porta de saída e rumou até os elevadores acompanhado de Nádia.
Capítulo 28 – Reencontrando o prazer
O MEU CASO COM O GILSON aconteceu de maneira muito repentina, de modo que
nenhum de nós poderia prever o seu desfecho. Numa semana, estávamos num bar
bebendo cerveja enquanto compartilhávamos momentos divertidos da nossa vida, e na
seguinte, estávamos indo para um motel.
O judoca dirigiu o seu Volkswagen até a portaria e fez questão de pagar pela suíte mais
cara. Eu sabia que ele não ganhava muito bem na academia onde dava aula, e mesmo
sendo dona de uma herança milionária, o deixei fazer aquela gentileza.
Ao contrário da pedra, a sua pele era quente e ele me acendeu rápido também com o seu
fogo. Eu estava usando uma lingerie bonita toda preta, mas ele não reparou muito.
Arrancou o meu sutiã num puxão e deu uma admirada em meus seios antes de enfiá-los
na boca. Tinha medo de decepcioná-lo, mas ele pareceu bastante entusiasmado
enquanto me chupava feito um neném faminto.
A boca daquele modelo de estátua grega foi descendo e lambeu a minha barriga
enquanto os dedos ágeis procuravam puxar a minha calcinha. Senti um calor intenso me
tomar o ventre quando ele me deixou nua e enfiou a cara entre as minhas pernas. Ele
devia estar acostumado àquelas menininhas depiladas feito bebês, devia gostar de
lamber uma vulva adolescente, mas, outra vez me surpreendeu enfiando a língua entre
os meus pelos castanhos sem nem pestanejar.
Abria os lábios com os dedos e enfiava a língua inteira a mexendo frenética lá dentro,
vibrando e me causando sensações incríveis. Há quanto tempo alguém não me chupava
daquele jeito!
Ele me olhou com aqueles olhos castanhos vívidos lá de baixo, e sem tirar a língua de
dentro, fez expressão de contentamento. Estava adorando me matar de prazer.
Assim como no sexo oral, Gilson também era um furacão enquanto penetrava e me senti
totalmente subjugada quando ele se deitou sobre mim, segurou uma das minhas coxas e
me fodeu. O seu pau parecia uma britadeira me furando sem pausas e eu cheguei a
perder o fôlego de tanto que gemia. Fui obrigada a fechar os olhos tal era a satisfação
que estava sentindo e o arranhei inteira, ainda sentindo o aroma másculo que exalava do
seu suor.
O judoca não tinha um único pelo no corpo fora a barba e não havia um centímetro de
músculo que não fosse definido. Os cabelos eram cortados bem baixinhos à máquina e
aquela barba por fazer roçava em mim me causando arrepios.
Ao ouvir aquilo, Gilson começou a me foder mais forte e o meu orgasmo explodiu tão
intenso que eu me sacudi embaixo dele. As minhas pernas ficaram trêmulas. A minha
pulsação acelerou. Eu senti um jorro quente saindo de mim. O pau dele com a
camisinha ficou encharcado com o meu mel. Eu tinha esguichado.
Dois dias depois daquele momento mágico no motel, eu entrei em contato com ele
novamente pelo celular e pedi que me esperasse próximo ao prédio onde ficava a A3
depois que todos já tivessem saído. Inventei uma desculpa para as minhas sócias de que
precisaria terminar um projeto para o dia seguinte e dispensei a Nádia, a irmã de meu
amante.
O avisei por mensagem de texto que estava sozinha no escritório e ele subiu pouco
depois. O deixei entrar e tranquei a porta indicando que ele fosse até a minha sala. Senti
o coração disparar e a adrenalina subir. Eu nunca tinha feito nada parecido com aquilo.
Já havia transado com outros homens que não fossem o Roque, mas era a primeira vez
que fazia aquilo com a iminência de um flagra embaraçoso e com alguém pelo qual eu
sentia tanto desejo.
Havia um sofá bastante confortável em minha sala que eu usava para deliberar com
Nana e Duda ou para descansar as ideias após horas estressantes de trabalho em frente
ao computador. Naquele dia, eu tinha outros planos para o móvel. Pedi que Gilson se
deitasse e eu mesma me encarreguei de tirar a sua roupa peça por peça. Estava usando
uma blusa social que eu tirei ficando de sutiã na frente dele. O deixei naquela posição e
comecei a beijar o seu corpo, cada milímetro.
— Tenho vontade de passar a língua nesse corpo o dia todo! Oh, Deus!
O judoca ficou lá à minha mercê e eu tratei de aproveitar. Beijei e lambi toda a região
do seu peitoral até o abdômen riscado. Botei a minha língua em cada um dos gomos
daquela massa muscular, e então, cheguei onde mais queria.
Lá de baixo, o olhei com cara de devassa e dei uma lambida suave na cabecinha rosada.
Era um belo pau. O menor dos que eu estava acostumada, mas duro e grosso como eu
gostava. Eu tinha aprendido uma técnica infalível de boquete em meus vários anos de
experiência, e se eu quisesse, eu o faria explodir em minha boca em poucos minutos. Eu
não queria. Chupei aquela preciosidade até que ele gemesse, o que não demorou a
acontecer.
Havia certo desespero nele e resolvi atender ao seu pedido. Passei mais trinta minutos
mamando aquele cacete delicioso e não o larguei até que eu estivesse satisfeita, com
vontade de foder.
Como no motel, Gilson me comeu de uma maneira espetacular sobre aquele sofá e
confesso que cheguei a ouvir o móvel ranger embaixo de nós, lutando para manter sua
coesão física e nos suportar.
Ele me botou em seu colo de frente e acabou com a minha buceta, me perfurando sem
qualquer pena com a britadeira que tinha entre as pernas. O fato de ele ser um atleta o
ajudava bastante com seu fôlego invejável, mas quando terminamos, tudo que eu queria
era água. Muita água.
Ainda nus, ficamos curtindo o momento pós-sexo deitados e a noite engolfou a cidade
do lado de fora da janela. As buzinas e o movimento do tráfego se intensificaram na
avenida em frente ao prédio e eu sabia que já era Hora do Rush. Eu estava deitada em
seu peito e lhe dava beijos enquanto ele acariciava os meus cabelos. Nunca havia
sentido uma química como a que senti com aquele rapaz em minha vida, pelo menos
não até conhecer Roque. Tinha acontecido da mesma maneira que com o meu marido.
Foi um momento rápido e os meus olhos encararam a aliança em meu dedo direito
enquanto eu alisava a pele do meu amante. Gilson pareceu notar.
Eu fiquei em silêncio por um instante e o encarei com o queixo pousado sobre o seu
peito. Ele continuou:
— Ele tem a mulher mais perfeita do mundo dentro de casa e a deixa passar necessidade
dessa maneira!
Além de viril na cama, Gilson era extremamente gentil e carinhoso. Sempre que
terminávamos de transar, ele me enchia se carícias me fazendo sentir especial.
Ele então percorreu o polegar por meu rosto e falou com voz polida:
— Discordo.
Ele se curvou para tocar a minha boca e beijou os meus lábios de maneira doce.
— Você tem lábios perfeitos.
Senti a sua boca em meu pescoço após ele tirar os meus cabelos da frente.
Desceu os lábios em meus seios e os apalpou antes de passar a língua em meu mamilo
esquerdo.
Foi lambendo a minha barriga e alcançou a minha vagina. Beijou entre os pelos e falou,
sorrindo:
Me virou de costas no sofá e se debruçou atrás de mim. Apalpou o meu bumbum e deu
um chupão indecente numa das bandas, me arrepiando inteira.
Eu o estava olhando toda envaidecida com os elogios. Sabia que ele podia estar falando
aquilo num momento de empolgação — talvez ele só fosse bastante galanteador —, que
não fosse sincero, mas confesso que fiquei balançada. Ele voltou para próximo do meu
rosto e me deu um beijo na boca mais romântico do que tórrido, concluindo a sua
observação:
— Se eu fosse o seu marido, não te trocaria por nenhuma outra garota, por mais jovem
ou interessante que fosse. Você é a mais perfeita de todas as mulheres.
Eu não consegui dizer nada a Gilson e o agradeci cedendo o meu corpo mais uma vez,
deixando que o seu vigor incansável consumisse o resquício de energia que ainda havia
em mim.
Saímos daquele escritório bem perto das onze horas da noite. Estávamos cansados,
suados, mas muito realizados.
Capítulo 29 – As confidentes
O meu marido era mais animado para confraternizar com os outros pais e adorava
participar também das celebrações que aconteciam com certa frequência na instituição,
como o Dia dos Pais, dia da Independência do Brasil, Páscoa, Natal, etc. Naquele dia de
março, no entanto, ele tinha um encontro muito importante com os demais engenheiros
da Suares & Castilho e eu o acabei substituindo na reunião de pais.
Micaela tinha ficado muito apegada a uma das suas amigas do Dom Pedro II, e como
ela não parava de falar da tal Kelly em casa, fiquei curiosa para conhecer a mãe da
garota. Quando cheguei à sala de aula onde ia acontecer a reunião com o professor
principal da turma, não foi difícil percebê-la entre as demais mães.
Claudia era, com segurança, uma das mulheres mais bonitas que havia dentro daquele
lugar, e enquanto as outras apresentavam apenas a beleza comum de mulheres naquela
idade — 30 e poucos — ela se destacava muito. Tinha cabelos loiros ondulados na
altura dos ombros, mais ou menos 1,70 de altura, olhos verdes e um corpo de dar inveja.
Estava usando uma regatinha preta comportada, mas o par empinado de seios ficava
bastante evidente por baixo dela.
Eu tinha conseguido voltar à minha antiga forma física depois de dar uma relaxada de
alguns anos após o nascimento de Micaela, mas apesar de não ficar devendo em quase
nada à Claudia fisicamente falando, me sentia um pouco menos gostosa que a moça. Ao
final da reunião resolvi socializar um pouco. Me aproximei e começamos a conversar.
Depois daquela reunião de março, decidi aparecer mais vezes no colégio da minha filha,
e assim como Micaela tinha ficado amiga de Kelly, eu e Claudia também passamos a
nos conhecer melhor.
Na reunião de pais de junho daquele ano, trocamos ideias divertidas entre nós duas
ainda no pátio do Dom Pedro II e foi ali que conheci também a Silvana, a mãe da
terceira perna do tripé de meninas mais populares da turma, a Nicole.
Claudia e Silvana eram vizinhas no bairro do Itaim Bibi e se conheciam há algum tempo
por causa das filhas. As duas tinham matriculado Kelly e Nicole há três anos naquele
colégio e era curioso como nós nunca antes tínhamos nos encontrado por ali.
— Como foi que a gente nunca se conheceu antes, sendo que nossas filhas estudam
juntas há tanto tempo, meninas? — Perguntei, sentada na mesa de um barzinho onde
fomos dar uma relaxada aquela tarde. Claudia estava à minha frente bebendo uma
cerveja e a Silvana estava sentada do meu lado esquerdo, nos acompanhando com um
copo de suco de gengibre. O tempo estava bastante agradável, fazia um calor ameno e o
bar estava pouco movimentado àquela hora.
— Você mesma disse que vinha pouco as reuniões de pais, Carla — disse Claudia,
sorridente com os óculos de sol servindo de arco para os cabelos bem-hidratados —, eu
lembro de ter visto o seu marido uma vez. Ele é um ruivo de cavanhaque, não é?
— Isso mesmo — respondi, após dar um gole em minha cerveja —, pra ser sincera, eu
acho essas reuniões um saco!
— A gente paga os olhos da cara nas mensalidades desse colégio para dar a melhor
educação para as nossas filhas e eles nem mudam o roteiro das reuniões! — Disse
Silvana, com tom debochado. — É sempre a mesma coisa. Também acho cansativo às
vezes. Só venho porque a minha Nic só tem a mim para essas coisas. O padrasto dela
não se envolve nesses assuntos.
Silvana era tão linda quanto Claudia. Cabelos loiros bem claros, um par de olhos azuis
hipnotizantes e seios fartos. Trabalhava como enfermeira num hospital particular, era
divorciada há alguns anos e o pai de Nicole morava no Espírito Santo, onde era gerente
de uma agência de turismo.
Depois daquela segunda reunião por conta das obrigações com a escola, nós três
passamos a nos falar com frequência via WhatsApp e até marcamos alguns encontros
em barzinhos para jogar conversa fora. Tínhamos uma sintonia tão boa entre nós que
não demorou para nos tornarmos confidentes umas das outras, e assim como acabei
confessando que estava traindo o meu marido com o judoca, Claudia me falou de
algumas escapadas que deu com o próprio primo, um garotão de vinte e três anos que
era instrutor de esportes radicais no Rio de Janeiro.
— Mas ele é seu primo de primeiro grau? — Perguntei interessada, enquanto Silvana se
empertigava na cadeira para saber a resposta. Eram umas vinte horas, e naquele dia, a
enfermeira loira não ia dar plantão no hospital particular onde trabalhava. Tínhamos
todo o tempo do mundo para fofocar.
Não dava para comparar o meu Gilson com o personal trainer de Silvana ou o primo
sarado de Claudia, mas dava para ver no rosto das minhas amigas o quanto elas estavam
realizadas sexualmente falando, assim como eu. Naquela identificação, nos tornamos
muito próximas e Claudia fez questão que eu estivesse presente na próxima festa de
aniversário da sua filha, me entregando o convite pessoalmente na porta da A3 na Vila
Mariana.
— Eu diria que você pode levar o seu judoca gostoso — disse ela, diminuindo o tom de
voz como quem me confessasse um segredo —, mas acho melhor levar o seu marido
mesmo para evitar escândalos!
Eu dei uma gargalhada enquanto apanhava o convite vermelho laminado que ela me
estendia e fui obrigada a confessar:
— Provavelmente, iria me divertir muito mais com o meu judoca na pista de dança, mas
concordo que preciso ser discreta. Vou levar o Roque mesmo desta vez.
Exceto a falta de atenção recente na cama, Roque sempre foi um excelente marido para
mim e mais ainda um ótimo pai para Micaela. Desde o nascimento da menina, eu tinha
descoberto nele uma paternidade que nunca estivera lá antes e que ele negava
totalmente mesmo em contato com os meus sobrinhos. Ele não queria ser pai, mas
quando pegou Mica no colo pela primeira vez, acabou descobrindo que tinha nascido
para aquilo, o que provavelmente se estendeu para uma paixão quase doentia que ele
começou a sentir pela menina.
Eu sabia dos meus encantos e todas as qualidades que tinha a oferecer a um homem viril
como Roque. Desde sempre, ele fora muito voraz na cama e aquela fome por sexo não
diminuiu com a sua idade. Pelo contrário. Ele tinha bem mais de trinta anos, mas tinha o
mesmo ímpeto sexual de um garoto de vinte.
Aquilo pareceria abjeto, perverso para qualquer outra pessoa fora do nosso círculo de
convivência, mas não para mim que era uma Castilho. Eu entendia o que meu marido
estava sentindo e não conseguia competir com aquele seu desejo por novidade e “carne
fresca”. Eu cedi, e desde então, comecei a ficar cada dia mais sozinha, mais solitária.
Enquanto ele fazia sexo com as suas novinhas com cada vez mais frequência, eu vi na
masturbação um meio de me aliviar, até que Gilson apareceu em minha vida e eu voltei
a me sentir uma mulher desejada.
Capítulo 30 – A festa de aniversário
EU NUNCA SOUBE O quanto da vida sexual de Kelly a minha amiga Claudia tinha
conhecimento, mas numa tarde qualquer, eu acabei descobrindo que a menina tinha
visitado Micaela em nossa casa na Saúde e coincidiu de ser bem num dia em que o meu
marido tinha chegado mais cedo do seu trabalho como engenheiro na Suares &
Castilho.
Nenhum dos dois confessou para mim o que aconteceu naquela tarde, provavelmente,
muito animada que eles passaram juntos com a menina Kelly, mas eu tinha uma leve
desconfiança que tinham feito um ménage à trois enquanto eu trabalhava na A3. Agora
que eu sabia que Roque era adepto da prática e tendo em vista a admiração que a minha
filha sentia por ele, eu já não achava mais impossível que o meu marido fosse capaz de
envolver Mica e a amiga em seus joguinhos sujos em busca do prazer, e aquela foi uma
pulga que comecei a carregar por muito tempo atrás da orelha.
Pelas poucas vezes que tinha encontrado com a menina em nossa casa ou no colégio em
que estudava, não tinha percebido em Kelly aquele mesmo comportamento lascivo que
parecia exalar da minha Micaela. A filha de Claudia demonstrava maior recato, algo
como se ela fosse uma freira comparada à minha filha — que onde chegava gostava de
chamar todas as atenções —, mas o seu comportamento contido em nada deveria refletir
àquilo que ela devia fazer pelas costas da mãe quando ninguém podia ver. No dia em
que a fomos buscar na porta do seu apartamento para a sua tão badalada festa de
aniversário, eu tive a certeza absoluta disso.
Claudia me ligou alguns dias antes da festa à fantasia que estava bancando para
comemorar o aniversário de Kelly e pediu que eu fosse a responsável por buscar a
garota em casa no dia da comemoração.
— Sei exatamente como se sente, Claudia. Eu sou exatamente igual! — Confessei, aos
risos.
— Seria muito abuso pedir que você buscasse a minha neném em casa no dia da festa?
Eu poderia mandar que um Uber a pegasse, mas tem a questão da fantasia. Ela escolheu
um modelo meio curtinho, não quero que a Kelly fique exposta na rua.
Eu tinha me sentido bastante lisonjeada por Claudia me pedir aquele favor e não tive
nenhuma intenção de me recusar a atendê-lo, já que Micaela tinha adorado a ideia de ser
uma das primeiras pessoas a ver a aniversariante no dia de sua festa, e uma vez que as
duas não se desgrudavam mais.
— Que abuso o quê, mulher! — Disse a ela. — Vai ser um prazer buscar a Kelly em
casa nesse dia tão importante. A Mica vai adorar ir com a amiga para o salão de festas.
Essas duas viraram unha e carne!
Assim como elas, a Nádia também ficou encantada como o vestido branco longo com
uma fenda na perna esquerda me caiu bem. Me olhando no espelho, achei que o meu
corpo tinha ficado bastante sinuoso dentro daquele tecido que imitava uma
transparência — quase como se quisesse revelar a minha nudez por baixo dele — e a
tira em volta do pescoço sustentou bem o busto do traje avantajando meus seios. As
costas nuas e os adornos dourados nos pulsos, braços e a tiara na cabeça completavam o
meu visual fazendo eu me sentir como uma deusa de verdade.
O Gilson ia adorar me ver com essa roupa. Acho que vou mandar fotos para ele, pensei
na mesma hora em que me vi dentro do vestido da deusa grega.
Naquele mesmo dia, Roque tinha saído mais cedo do trabalho para acompanhar Micaela
até a loja de fantasias onde eles iam buscar as suas roupas e a minha filha não parou
mais de me mandar pelo celular fotos e vídeos dela vestida como a personagem de
desenho animado que tinha escolhido. Como era de se esperar, Mica havia optado por
um modelo bem curtinho, e embora eu tivesse achado um pouco indecente na parte
traseira — com as popas da bunda evidentes — o Roque adorou e a incentivou a usar.
No dia da festa, saímos de casa mais cedo, como eu tinha combinado com Claudia, e
fomos da Saúde até o Itaim para buscar Kelly e Nicole no prédio em que elas moravam.
A filha de Silvana estava morando com Claudia devido um desentendimento sério que
havia acontecido entre a menina e a mãe por causa do padrasto da mesma — o tal
personal trainer gostoso —, mas nenhuma delas quis entrar em muitos detalhes, o que
me fez respeitar sua privacidade.
Embora tivesse passando por momentos complicados com a sua família, Nicole estava
bastante animada quando a encontramos com Kelly à porta do condomínio onde viviam,
e as duas logo se juntaram a Micaela no banco de trás do SUV novo de Roque,
competindo para ver qual delas estava mais linda.
Nicole estava vestida de TinkerBell e exalava charme com um delineado delicado nos
olhos e uma sombra que destacava ainda mais o belo par de faróis azuis que herdara da
mãe. Foi divertido ver as três tagarelando o caminho todo enquanto meu marido dirigia
sorridente até a Vila Madalena, mas eu tinha percebido olhares meio estranhos entre
Roque e Kelly pelo retrovisor.
Estaria eu vendo coisas por conta daquela desconfiança sobre o ménage à trois dos
dois e Micaela? Pensei, um tanto quanto receosa.
Eu já havia visitado o site da Illuminare, agência de Publicidade de Claudia, e conhecia
alguns dos seus trabalhos, mas quando chegamos ao prédio onde a festa de Kelly ia
acontecer, eu fiquei positivamente impressionada com o requinte e o luxo com que a
equipe da publicitária havia organizado tudo.
Claudia trabalhava com duas jovens irmãs gêmeas que cuidavam de toda a parte visual
da sua agência e as garotas tinham ajudado bastante na organização da festa. Eu as
cumprimentei pessoalmente e passamos um bom tempo conversando sobre a decoração
que tanto havia me encantado.
Naquele meio tempo, Micaela, Kelly e Nicole ficaram bajulando o DJ famoso que
Claudia havia contratado para dar o som da festa, e vestido de pirata, Roque aproveitou
para encostar no balcão do bar instalado na lateral esquerda do salão onde uma dupla de
bartenders sarados já começavam os trabalhos servindo drinques dos mais variados. Eu
estava encarregada em conduzir o carro de volta para casa em segurança naquela noite e
queria que meu marido se divertisse bastante, nem que para isso ele precisasse beber
muito.
Perto das dezenove horas, o salão superior já estava apinhado de convidados e enquanto
a molecada dançava animadamente em várias rodas de amigos, os mais velhos se
mantinham à margem, conversando próximo do balcão do bar — onde os atendentes
gostosos serviam bebidas quase sem parar com performances impressionantes de
malabarismo com garrafas e coqueteleiras — ou no andar inferior, nas mesas dispostas
do bufê.
Após uma hora frenética de dança no meio da pista acompanhada de Claudia, das duas
gêmeas vestidas de mafiosas, de Natalie Schneider — a irmã do tal Henrique com quem
a publicitária se relacionava sexualmente às vezes — e das amigas da garota, eu precisei
dar uma relaxada e fui até o bar pedir um suco. Eu não me divertia daquele jeito desde a
festa de dezoito anos da minha sobrinha Janete, a filha do meu irmão Renato, e perdi o
fôlego para acompanhar Dana e Dona. As garotas tinham corpos esbeltos e possuíam
uma energia inesgotável, além de contagiante. Quando reencontrei Roque no balcão, eu
estava esbaforida.
— Não dá para aguentar o ritmo dessas meninas por muito tempo não! — Confessei ao
pé do ouvido do meu marido, apoiando uma das mãos em seu ombro. — Elas parecem
elétricas!
Roque lançou um olhar pelo salão com um sorriso estampado no rosto, e mais à frente,
viu as gêmeas sacudindo os quadris com muito charme dentro de seus ternos risca-de-
giz e o chapéu fedora na cabeça. Próximo a elas, Natalie, Rafaela Albuquerque — uma
amiga de infância dos irmãos Schneider — e um grupo de mais quatro outras meninas
também dançavam efusivamente cheias de alegria. Claudia já havia se afastado delas
para dar conta de algum pormenor da organização da festa e as nossas filhas estavam
em algum lugar no meio daquela multidão de jovens saltitantes. Por alto, dava para
saber que devia ter umas cem pessoas ali em cima.
— Essa festa lembra bastante aquelas que íamos juntos na época de faculdade. Você se
lembra, amor? — Disse Roque bem próximo ao meu ouvido tentando se fazer escutar
apesar do som pesado e ritmado comandado pelo DJ “Maverick”.
Um dos bartenders sem camisa veio logo me atender junto ao balcão. Usava apenas
uma calça com suspensório e exibia um corpo musculoso magnífico. Me serviu o suco
que eu havia pedido prontamente e sem que Roque percebesse, ele deu uma piscadinha
de olho para mim ao me passar o copo. O meu marido já estava na quarta dose de vodca
àquela altura da festa. Eu retribuí o gracejo do saradão com um sorriso.
— Como poderia esquecer? — Respondi, enfim — Foi numa dessas festas que você me
mostrou o gingado desses quadris!
Roque não gostava muito de dançar em público. Dizia que era desengonçado e sem
ritmo, mas eu sabia que nada daquilo era verdade. Nós dançávamos muito juntos em
nossa casa quando Micaela ainda era um bebê de colo e muito antes disso também. Ele
era o homem mais ritmado que eu conhecia, e naquele dia, quis mostrar isso para todo
mundo.
Eu o puxei para o meio do salão e nós voltamos a dançar juntos como quando éramos
jovens. Por um tempo, esquecemos completamente nossos problemas de relacionamento
e voltamos a ser o casal feliz e animado que sempre fomos. Foi o momento mais
maravilhoso da noite.
Capítulo 31 – A grande surpresa
Assim como ela era amiga de infância dos Schneider, família a qual pertencia também a
anfitriã da festa, a garota e seu irmão Maxwell eram bem próximos dos Monterey, o que
nos fez sentarmos todos juntos à mesa enquanto o som abafado das batidas de uma
música eletrônica soava sobre nossas cabeças.
— Eu conheci a Micaela quando ela fez uma visita à nossa construtora há algumas
semanas — disse Rodrigo Monterey, pouco depois que um garçom serviu um prato de
fettuccine a ele e a sua irmã mais nova Carina, de dezoito anos —, agora sei de quem ela
puxou as sardinhas e os cabelos ruivos!
O rapaz disse aquilo apontando para o meu marido sentado ao meu lado e ele sorriu. Os
dois irmãos eram extremamente simpáticos, e por um tempo, nem me pareceram que
eram herdeiros de uma das fortunas mais consideráveis da burguesia paulista. Não
exalavam toda aquela arrogância tão comum a filhos de empresários ricos naquela idade
e eu achei Rodrigo bem charmoso. Charmoso até demais!
— Depois da visita à construtora, ela e a Kelly visitaram a nossa casa nos Jardins. As
duas até tomaram um banho de piscina aquele dia!
Carina tinha um sorriso fácil no rosto bonito e a maquiagem escura exagerada em seu
rosto a tinha deixado com o ar exato das performers do Moulin Rouge que ela procurava
emular com a sua fantasia. A pele clara combinava bastante com as dançarinas francesas
do cabaré mais famoso do mundo e não dava para negar o quanto a garota tinha ficado
exuberante naquela roupa vermelha e preta.
Micaela tinha comentado, há algum tempo, alguma coisa sobre a casa de um tio de
Kelly que ela havia visitado certa vez nos Jardins e eu tive alguma dificuldade para
relacionar aquelas informações com o que os Monterey tinham acabado de dizer.
— A Mica falou alguma coisa sobre um tio da Kelly… Mas você não é parente dela,
certo? — Questionei a Rodrigo, embocando uma garfada de um macarrão com molho
branco em seguida.
A porção em meu prato estava deliciosa, assim como quase tudo que estava sendo
servido à nossa volta no bufê. Os dois irmãos se entreolharam e deram uma risada
cúmplice. Rafaela parecia também ter entendido a piada interna entre eles e aguardou
que o rapaz respondesse.
— Eu conheci a Kelly quando ela tinha uns dez aninhos por meio da prima dela, a
Natalie. Desde aquela época, ela pegou mania de me chamar de “tio Rodrigo” e o
apelido acabou pegando. Até hoje a Kelly me chama de “tio” quando me vê, mas é
porque eu namoro a prima dela.
Embora não tivesse dado a devida importância àquele fato antes, eu me lembrava de já
ter ouvido a minha filha mencionar um tal “tio Digo” nas conversas por áudio com
Kelly pela casa e agora eu entendia de quem se tratava.
Apesar de ser uma das acionistas da empresa, eu não tinha quase nenhuma participação
ativa na tomada de decisões dos negócios, mas sabia o suficiente sobre como a
Monterey Construtora era uma adversária ferrenha da Suares & Castilho há vários anos,
além da animosidade que parecia existir entre Fausto Monterey, pai de Rodrigo e
Carina, e de João Suares, o sócio majoritário da S&C.
— Confesso que não fazíamos ideia que vocês dois eram filhos do velho Monterey
quando se sentaram à nossa mesa! — Disse Roque, até um pouco constrangido com
aquela constatação.
— Espero que não tenhamos causado nenhum desconforto — disse Rodrigo, bastante
educado —, o papo está muito bom até agora e eu não gostaria que ele fosse estragado
por conta da rivalidade comercial entre as nossas famílias.
Carina e Rafaela pareciam concordar e foi a primeira quem estabeleceu outra relação
entre todos nós.
Algum tempo depois, a minha sobrinha Janete apareceu no bufê para se juntar a nós e
trouxe com ela uma outra amiga chamada Rarissa Vecchio. Todos pareciam já se
conhecer muito bem, e tanto eu quanto Roque adoramos ser envoltos por toda aquela
energia juvenil.
Apesar de muito jovens — Rodrigo que era o mais velho da mesa tinha vinte e três anos
—, eles eram muito inteligentes e tinham cultura suficiente para render horas e horas de
conversa. Mesmo Janete, a minha linda sobrinha de dezoito anos que era a menos
conhecida dos demais, se entrosou perfeitamente com eles tendo Rafaela para fazer a
ponte entre ela e os irmãos Monterey.
Apesar de saber que o herdeiro milionário era o namorado da prima de Claudia e Kelly,
era inegável a química que parecia haver entre o rapaz e a exuberante morena de
cabelos cacheados que havia chegado à mesa. Rarissa estava vestida de colegial sexy e
embora tentasse disfarçar, o seu olhar se cruzava o tempo todo com o de Rodrigo. Os
dois ficavam tentando fingir que não, mas aquilo era tensão sexual pura no ar.
Eu conhecia muito bem como aquilo funcionava, mas preferi me manter calada sobre as
minhas suspeitas a fim de evitar problemas com a família Schneider.
Certeza que esses dois já se pegaram, e se não, estão doidos para se pegar, pensei, um
tanto quanto venenosa.
Algum tempo depois, próximo dos parabéns para a aniversariante que estava radiante
dançando com as amigas, eu voltei para a pista de dança e foi muito gostoso me juntar
às minhas sobrinhas Janete, Priscila e Cleide para sacudir a bunda. Maverick tinha
sequências contagiantes de músicas brasileiras “na agulha” e quando ele botou para
tocar os mixes que tinha feito com vários funks populares, foi impossível não me deixar
levar com as meninas.
Naquele momento, Micaela trouxe Kelly e Nicole para dançar com a gente e até Claudia
entrou na bagunça remexendo com muito talento em seu visual de cortesã dos anos 20,
à la Betty Boop. Eu trouxe Roque para requebrar comigo e não demorou para que os
meninos se aproximassem também trazendo mais de nossos conhecidos para perto da
nossa roda.
O clima não parecia muito bom entre os dois, mas vi Rodrigo e Natalie se divertindo
juntos procurando imitar os passos de dança dos demais. Os irmãos Albuquerque,
Rafaela e Maxwell, entraram rápido no ritmo com Carina e Rarissa, depois, foi a vez
dos meus sobrinhos Cleber e Pedro entrarem na coreografia mostrando que tinham
bastante gingado.
Aquela tinha sido a festa à fantasia mais bem produzida e animada que eu já tinha
participado em minha vida toda e tinha certeza que seria inesquecível. A dona da festa
estava explodindo de felicidade ali no meio e a minha filha não desgrudou da menina
um segundo sequer dançando, às vezes, de maneira bem empolgante com ela, colada em
seu traseiro como uma amante quente e ávida. Estavam todos se divertindo muito para
que eu pensasse melhor a respeito na hora, mas estava mais do que claro que Micaela e
Kelly estavam deixando rolar algo mais tórrido do que uma simples amizade. As duas
não estavam querendo esconder de ninguém e quando me dei conta, senti um choque
percorrer todo meu corpo. Aquela era a grande surpresa do dia.
Capítulo 32 – Entre mãe e filha
POR MUITO TEMPO EM minha vida, eu senti que tinha sido um completo fracasso
como mãe e que tinha negligenciado a educação da minha filha Micaela por pensar mais
em crescer profissionalmente do que no desenvolvimento dela. Eu não passava de uma
garota imatura na época em que tinha ficado grávida de Roque e tive que descobrir aos
pouquinhos o real significado da palavra mãe, com meus erros e acertos.
Na verdade… Mais erros do que acertos.
Eu tinha um exemplo muito bom em minha própria casa de mãe carinhosa, mas quando
lembrava do meu passado com os constantes problemas de saúde da dona Vilma e as
regulares puladas de cerca do papai, eu mal conseguia recordar dos seus momentos de
companheirismo ou de um ponto exato onde ela tinha, de fato, me ensinado como eu
deveria lidar com a maternidade quando fosse a minha hora.
Mamãe passou muito tempo da sua vida absorta em seus próprios problemas e durante
um período bastante extenso, ela também negligenciou a minha e a educação da Elisa,
as suas únicas filhas, preferindo nos deixar com babás e empregados para poder surtar
em paz atrás de um marido alcoólatra, dependente químico e viciado em sexo.
Quando chegou a minha vez de ser mãe, mesmo com o apoio da minha irmã e a
reaproximação de Vilma, eu ainda não estava me sentindo pronta.
Conforme Micaela crescia, eu me vi despreparada para lidar com a realidade de que ela
tinha passado a ser o pedaço mais importante da minha vida e que uma vida tão pequena
e desprotegida agora dependia totalmente de mim, dos meus próprios esforços. Aquilo,
de certa maneira me apavorou por um longo tempo.
Quando o Roque começou a desenvolver um amor incondicional pela menina e passei a
sentir que ele a amava até mesmo mais do que eu, o meu lado mulher começou a entrar
em conflito com o meu lado mãe e essa briga interna me causou diversos problemas
psicológicos com as quais eu tive que conviver por anos.
Até aquele momento, o meu marido era a pessoa mais importante do meu mundo, assim
como eu era dele, mas Micaela havia modificado aquela dinâmica e mais uma vez eu
não soube lidar com o fato de que as coisas tinham mudado, talvez, para sempre.
Quando olhei Micaela naquela festa de aniversário dançando de maneira tão íntima com
a garota Kelly Ferraz, com as duas trocando carícias e se encarando de um jeito
apaixonado, pela primeira vez, eu tinha me ligado que a minha filha não era mais aquela
criancinha mimada que fazia birra quando queria algo e que vivia agarrada ao pescoço
do pai porque sabia que ele faria de tudo por ela, inclusive, lhe dar o mundo se fosse
possível. Mica havia crescido e se desenvolvido quase como se eu nem tivesse prestado
a atenção, e por um momento, vendo aquela cena no salão de festas, eu senti uma
pontada de culpa.
Teria eu errado tanto assim na educação da minha filha? Teria eu, de fato,
negligenciado o meu papel de mãe da mesma maneira como a dona Vilma tinha feito
comigo durante anos do meu desenvolvimento? Teria sido por minha culpa que a
Micaela se tornasse lésbica?
Eu me vi em choque quando realizei que a minha filha pudesse ser homossexual, mas
quando enfrentei os meus próprios medos e reavaliei a minha ignorância assim como os
meus preconceitos, as coisas começaram a fluir de um jeito um tanto quanto naturais na
minha mente conturbada.
— Ninguém “se torna homossexual”, Carla — me explicou a minha amiga Nana alguns
dias depois da festa de aniversário na Vila Madalena. Nós estávamos em nosso horário
de almoço numa lanchonete a duas quadras da A3 e eu tinha contado à morena sobre o
que tinha visto acontecer entre a minha filha e a garota Kelly —, as pessoas
simplesmente nascem com predileção sexual pelo mesmo gênero e é assim que a vida
funciona. A Micaela não “virou” lésbica. Ela sempre foi.
Eu tinha pedido um sanduíche light para um lanche rápido e a Nana tinha escolhido um
cheese salada bem gorduroso para se saciar. Eu não estava com muita fome, mas
precisava botar algo para dentro do estômago se não quisesse cair dura no meio do
escritório mais tarde.
— Mas ela sempre demonstrou gostar de meninos — disse, me relembrando das nossas
várias conversas em casa sobre os artistas masculinos pelos quais Mica sentia atração e
pelos meninos da escola pelos quais ela se dizia a fim de namorar —, até mesmo o seu
agarramento com o pai, que sempre me deixou enciumada, a mim era uma prova de que
ela gostava de homens e não de mulheres.
— O “b” da sigla LGBTQI+, por acaso, não quer dizer “Brasil”, Carla… se a Mica
sempre demonstrou afeição por meninos e agora está a fim de uma menina, adivinha:
ela é bissexual!
Ao longo da minha vida, eu tinha visto todo tipo de relacionamento entre amigas
próximas, parentes distantes, familiares mais chegados — inclusive, os inconfessáveis
casos incestuosos entre mim e Mauro, Elisa e Renato e mais uma dezena de outros que
aconteciam desde os mais idos tempos — e eu não tinha razão para estar tão angustiada
— ou mesmo chocada — com o fato de que a minha filha pudesse demonstrar
sentimentos por outra garota.
Depois que Nana me abriu os olhos durante aquela conversa no horário do almoço, eu
me senti um pouco mais preparada para ter uma conversa de mulher para mulher com a
Micaela e não abstive da minha responsabilidade como mãe.
Aquele dia, eu saí mais cedo da A3 deixando a resolução das questões mais imediatas de
nossos contratos nas mãos das minhas sócias. Segui com o meu Volkswagen até a
Avenida Paulista e resolvi, eu mesma, buscar a Micaela na saída do colégio Dom Pedro
II onde ela estudava há alguns anos.
Cerca de quinze minutos depois de eu estacionar em frente ao portão movimentado
daquele que era considerado um dos colégios mais tradicionais de São Paulo, não tive
dificuldades de localizar a minha filha em meio ao emaranhado de adolescentes que
descia as escadas aos empurrões, gritos e palavrões diante da instituição cara de ensino.
Aqueles cabelos vermelhos se destacavam em qualquer ambiente e era como se a minha
filha emanasse mesmo um brilho que ofuscava as outras meninas ao seu redor. Micaela
era dona de uma beleza rara.
Como previsto, ela chegou próximo ao meu carro acompanhada da Kelly e se
surpreendeu ao me ver ali no lugar do Valmir, o motorista da família Castilho que
costumeiramente a carregava para cima e para baixo desde que era uma criancinha.
— Mãe? O que tá fazendo aqui?
A garota de cabelos alourados e olhos verdes ficou ao lado sorridente e eu acenei para
ela em cumprimento.
— Vim te buscar pra gente ter uma conversa. Pode ser?
Minha filha não deixou o semblante feliz murchar no rosto sardento, mas tinha
percebido que aquela conversa não teria espaço para a amiga loira. As duas se
despediram do lado de fora e antes de entrar pela porta do passageiro, Micaela deu um
beijo leve nos lábios de Kelly.
— Me chama no “zap” mais tarde!
A filha de Claudia Ferraz seguiu o seu rumo e se juntou aos demais jovens que se
espalhavam pela calçada em frente ao Dom Pedro II. Esperei Mica afivelar o cinto de
segurança e parti dali em direção a um bistrô que costumava frequentar na Vila
Mariana.
Os olhos cor-de-jade da minha filha se arregalaram quando ela se ligou no assunto que
eu queria tratar com ela aquele início de noite. Eu tinha pedido ao maître um Petit
Gâteau para que degustássemos enquanto conversávamos e Micaela, como de costume,
ficou na defensiva comigo.
— Ai, mãe! Nada a ver esse papo chato!
Dei uma colherada no doce saboroso à minha frente e insisti:
— Mica, eu sou a sua mãe. Que mal há em você se abrir comigo só pra variar um
pouquinho?
Conforme Micaela crescia, nós duas tínhamos nos afastado e era como se a garota
tivesse criado uma casca protetora em torno de si mesma que me impedia de acessá-la a
hora que eu quisesse. Cada dia que passava, aquela casca se tornava cada vez mais
sólida.
— Eu vi o seu comportamento com a Kelly durante a festa de aniversário. Vi o beijo
que trocaram hoje quando se despediram… se abra comigo. Você sabe que pode confiar
em mim.
A íris esverdeada foi de um canto a outro da mesa logo depois de ela dar uma colherada
generosa no Petit Gâteau. Ficou saboreando o doce por um tempo, correu a língua
levemente na superfície dos lábios grossos e se virou em minha direção.
— A gente tem… se curtido. Acho que é essa a palavra.
Esperei que ela tivesse vontade de continuar a falar.
— Não foi uma decisão tomada do dia pra noite, sabe? — A feição teimosa começava a
se amenizar. Ela estava começando a confiar em mim para falar mais abertamente sobre
o assunto. — A gente ficou uma vez na casa do tio Digo… aí depois rolou lá em casa de
novo… e foi ficando bom. A gente não escolheu ficarmos juntas. Só aconteceu. Foi
isso.
Pensei em tentar esclarecer aquela minha cisma com relação ao possível ménage à tróis
que eu desconfiava que havia ocorrido entre ela, Kelly e Roque, mas senti que podia
estar pulando etapas demais dentro do círculo de confiança entre mãe e filha ali
estabelecido.
— Mas, você sente que ama a Kelly? Tipo… como um homem ama uma mulher ou
vice-versa?
Ela soltou um risinho cheio de ironia.
— Século XXI, dona Carla! Não tem mais só esse negócio de “homem e mulher”!
Eu merecia ouvir aquilo.
— O que eu quero dizer é se você ama a Kelly o suficiente para começar um
relacionamento mais sério com ela…
Mica pensou por um instante, enfiou outra colherada do doce na boca, saboreou e
respondeu:
— Acho que sim. Mas, a gente prefere esperar pra ver o que vai rolar, sabe? Não
estamos com pressa. Por enquanto, tem sido divertido eu e ela juntas. Acho que isso que
importa, não é?
Sim, é isso que importa, pensei, embora sem muita certeza se concordava 100% com
aquela afirmação.
Capítulo 33 – Insegurança de meia-idade
Caminhei acompanhada do Lulu até a sala de jantar e encontrei a minha filha em torno
da mesa a filar de maneira gulosa alguns sanduíches com Kelly, Nicole e mais uma
mocinha muito bonita de cabelos lisos escuros, nariz arrebitado e sardinhas a salpicarem
os seus contornos.
— Oi, meninas.
— Oi, mãe. O pai não veio com você? — Indagou minha filha, ainda sentada à mesa.
Roque tinha se reaproximado dos amigos de faculdade com quem tocava no início da
sua vida adulta e eles agora ensaiavam só por diversão no estúdio musical de um deles o
som barulhento que curtiam na juventude. O meu marido tinha resolvido desempoeirar a
guitarra elétrica que mantinha guardada na casa do velho pai no Brooklin, e desde então,
vinha se divertindo à noite relembrando os tempos de astro de Rock N’ Roll de garagem.
Eu estava faminta àquela hora da noite e me aproximei da mesa do lanche das garotas
com a intenção de roubar um pedaço de peito de peru de cima de uma baixela colocada
ali pela Lourdes.
— Nossa, eu nem posso mais comer essas coisas, mas só o cheiro desse peito de peru já
me dá fome!
Eu abocanhei a fatia após dobrá-la numa trouxinha e ri, como se estivesse envergonhada
em ter acabado de cometer um crime.
— Ai, para, mãe! Você tá magérrima! Uma fatia de peito de peru não vai te matar!
— Fala pra sua mãe que o cineminha quinta-feira tá de pé, viu, Kelly? Não esquece.
— Agora deixa eu subir pra tomar um banho e dar uma relaxada. Fiquem à vontade,
meninas. E Mica, não deixa ninguém sair muito tarde daqui de casa. Essa cidade é
muito perigosa à noite.
Aqueles elogios fizeram muito bem ao meu ego e eu parti para o meu banho
cantarolando de tão feliz.
Capítulo 34 – O martírio
A sua pele ainda tinha o meu perfume e me senti protegida por seu abraço
aconchegante.
Me virei de frente para ele e nos beijamos como sempre: com as nossas línguas
agitadas, trocando saliva, causando erupções vulcânicas por todo nosso corpo.
Equilibrei a taça e assim que os lábios dele se separaram dos meus, eu sorvi o restante
da bebida.
A pergunta era repentina, mas eu não titubeei em responder aquilo que era óbvio em
meu semblante:
Deixei a taça sobre a amurada e abracei Gilson. Aninhei a minha cabeça naquele peito
largo e ele ficou acariciando os meus cabelos. O seu coração batia agitado quase como
que se ele estivesse adivinhando o que eu iria dizer em seguida.
— Preciso voltar para casa, Gil. O meu marido e a minha filha já devem estar
preocupados.
Eu tinha alugado aquele apart-hotel para os nossos encontros casuais e havia botado na
conta da A3 para que Roque não acabasse descobrindo inspecionando os meus gastos
com o cartão de crédito. Tínhamos dinheiro o suficiente para que as inspeções de contas
não fossem necessárias, mas eu não queria que o meu marido soubesse sobre o Gilson.
Pelo menos não tão já. Estávamos tendo aquele caso há seis meses e eu me sentia cada
dia mais envolvida por ele.
— Eu sei, amor, eu sei — e eu lhe dei um selinho —, mas por enquanto, tem que ser
assim. Precisamos manter o nosso namoro em segredo pra não machucar ninguém.
Você não contou nada à Nádia, contou?
Não era a primeira vez que eu desconfiava da sua lealdade a mim e ele pareceu
desconfortável em ter que me responder aquilo mais uma vez.
— Já te disse que a minha irmã não sabe de nós e nem vai saber. Confia em mim.
Eu estava ficando um pouco paranoica com aquela situação inédita para mim e o
abracei, buscando a sua proteção. Ficamos um tempo juntos ainda naquela sacada, mas
logo nos movimentamos para o interior do apartamento e começamos a arrumar tudo
para partir.
Nós nos despedimos à porta do lugar, de frente para a Rua Vergueiro onde tínhamos nos
acostumado a nos encontrar nos últimos meses, e cada um seguiu para o seu lado de
carro. Ele para o Jardim Novo Mundo, eu para a Saúde.
A minha mente estava agitada aquela noite e o caminho para casa foi cheio de reflexões
e paranoias. Eu não era mais completamente feliz ao lado de Roque e tinha encontrado
nos braços de um judoca pobretão a solução daqueles anos de carência e necessidades.
Eu sabia bem que jamais conseguiria construir uma vida ao lado de Gilson —
especialmente, porque ele era quase dez anos mais jovem —, mas estava difícil
continuar a ser ignorada por meu marido que, agora, parecia ter encontrado outra
prioridade em sua vida que não o nosso casamento.
No fundo, eu ainda acreditava que uma conversa franca e sincera poderia colocar o
nosso matrimônio nos trilhos, mas me faltava coragem de iniciá-la. Por enquanto, eu
queria continuar ao lado de Gilson, pois era com ele que eu havia feito as pazes com a
minha autoestima e restabelecido a vontade de sentir prazer sem culpa,
independentemente de o quanto ele tinha de dinheiro na carteira.
Me parecia justo.
Assim que o meu carro apontou na esquina de casa e eu acionei o portão eletrônico
remotamente, deu para ouvir os latidos do Steve na parte de dentro da residência.
Estacionei o meu Tiguan ao lado do Corolla Cross de Roque na garagem e já estava
pensando numa desculpa boa o bastante para dar que justificasse o horário em que
estava chegando em casa.
Como de praxe, Steve correu para me receber à porta abanando o seu rabo e eu lhe fiz
um carinho entre as orelhas já dando uma olhada para dentro de casa. A TV estava
ligada sintonizada num canal de filmes e vozes animadas ecoavam em direção à porta.
Roque e Micaela estavam fazendo companhia um ao outro sentados lado a lado no sofá.
Uma tigela de pipoca jazia vazia sobre a mesa de centro a uns dois metros deles e
haviam latas de refrigerante espalhadas sobre o tapete persa que eu havia ganhado de
presente da minha mãe no último Natal.
— Estou até as tampas de trabalho na A3, filhota. Não estou conseguindo mais sair cedo
por causa disso.
— Eu liguei na agência não tem nem uma hora e ninguém atendeu, Carla.
Eu comecei a subir as escadas até o andar de cima com medo que qualquer um dos dois
me interrogasse mais a respeito do avançado da hora e mandei que o Steve voltasse a se
deitar em sua cama, no canto leste da sala. O cãozinho me observou por um instante
como que absorvendo a mensagem de que não era para subir atrás de mim, deu uma
volta de 360° em torno de si mesmo e retornou para a sala.
As vozes animadas de Roque e Mica continuaram a soar por algum tempo enquanto o
filme de ação barulhento que eles assistiam quase encobria o que diziam. Liguei o
registro do chuveiro e não demorei a entrar embaixo d’água enquanto a minha mente
fervia em decorrência do peso que começava a carregar pelas mentiras cada vez mais
frequentes que tinha que inventar para a minha família. O meu caso com o judoca já se
estendia por mais tempo que eu imaginava que fosse durar no início e eu estava me
sentindo perigosamente conectada a ele.
“Poderíamos nos mudar de vez pra cá. Não quero mais ter que te dividir com o seu
marido”.
Aquela frase ecoava dentro da minha cabeça enquanto eu me mantinha inclinada e
imóvel deixando a água descer pela minha cabeça, encharcando os meus cabelos
castanhos.
Roque e eu não estamos mais nos entendendo. Ele tem preferido as estagiárias da
empresa ou qualquer outra vagabundinha de peitinho empinado e bundinha em pé…
Eu não sou mais uma prioridade para ele… E o Gil me trata tão bem… Ele é tão
carinhoso…
Eu tinha deixado a porta corrediça do box aberta e o som de uma batida no vidro
temperado me tirou dos meus pensamentos conflitantes.
— Problemas na agência, amor?
Roque estava parado com a cabeça a trinta centímetros para dentro do box e eu tomei
um susto quando empurrei os cabelos molhados para trás e o vi ali a me encarar. Entrei
em pânico só em pensar se o Gilson não havia me deixado alguma marca visível de
chupada ou arranhão em meu corpo e me esquivei para mais perto do jato de água que
descia do chuveiro. Daquela distância, eu sabia que não faria a menor diferença.
Qualquer marca em minha pele clara, por menor que fosse, estaria ao alcance dos olhos
do meu marido.
— Vários, na verdade — respondi, mal conseguindo disfarçar a minha apreensão em ter
Roque tão perto de mim.
— Tem algo que eu possa fazer para ajudar?
Ele estava estranhamente solícito aquela noite. Tinha fixado os seus olhos nos meus e
não desceu para o meu corpo nu em nenhum momento.
Graças a Deus! Pensei, um pouco aliviada.
— Não precisa se preocupar, amor. Eu só preciso relaxar um pouco. Me deixa terminar
o meu banho. Já falo contigo, tá?
Roque assentiu e quando se afastou da porta do box, a minha pulsação começou a
desacelerar. Analisei a minha pele de cima a baixo tentando encontrar alguma possível
marca deixada em meu corpo pelo meu amante, mas por sorte, ele havia me obedecido
como sempre e não tinha exagerado nem nas sugadas e nem com os arranhões.
O Gilson é um bom menino, pensei, me dando ao luxo de relembrar nós dois na cama
dentro do flat há poucas horas.
Depois do banho, eu fui até a cozinha beliscar as sobras do jantar que a Lourdes havia
feito para o Roque e a Mica e me contentei em comer um pouco de arroz com um
pedaço de tofu e algumas folhas de escarola.
Enquanto comia, ouvi as passadas leves de Mica subindo em direção ao quarto no andar
de cima e a menina me desejou boa noite com um grito. Respondi no mesmo tom e
terminei o meu prato alguns minutos depois.
Larguei o prato sujo e os talheres dentro da cuba da pia sem muita paciência para mexer
com detergente e água, depois, caminhei até a sala. Roque continuava em frente à
televisão, desta vez, assistindo a um noticiário noturno, e não o quis incomodar. Subi de
fininho para o meu quarto e uma vez lá dentro, me pus debaixo dos lençóis a refletir
sobre tudo que havia acontecido aquele dia.
Voltei a pensar na frase de Gilson me pedindo para morar com ele no flat, suspirei em
meu travesseiro me recordando dos nossos momentos ternos, do sexo avassalador que
me satisfazia cada dia mais e da minha incrível vontade de me entregar de vez àquela
paixão retumbante que me apertava o peito.
Passei quase uma hora ali sozinha sem que o sono viesse e quando voltei a mim, Roque
estava se deitando ao meu lado e as suas mãos começaram a me procurar por baixo do
lençol. Ele tocou o meu quadril, puxou de leve o short que eu usava e alisou a minha
coxa. Eu não estava com desejo aquele momento e decidi fingir que estava dormindo
para que ele parasse de me tentar. Quando ele finalmente desistiu e se virou de costas
para mim, o meu peito voltou a se encher de angústia e eu comecei a chorar baixinho.
Capítulo 35 – Amor e Poder
EU TINHA PASSADO AQUELE FIM de semana inteiro em conflito sobre o meu caso
com Gilson Lins e o acordo de paz — embora forçado — de Roque embaixo do
chuveiro. O meu marido tinha se tornado mais atencioso e bondoso comigo
praticamente da noite para o dia e nós dois passamos o sábado e o domingo num clima
muito gostoso de casal de namorados recém-reconciliados.
Apesar de tudo isso, a minha mente não parava de me lembrar da sonsa daquela
secretária jovenzinha no escritório da diretoria da minha irmã dizendo na minha cara
que ela e o meu marido mal tinham se visto no final de semana em que ele passou em
Goiânia, sendo que a verdade era que a vagabunda tinha feito até um ménage à tróis
com ele e o outro engenheiro da construtora chamado Antunes.
Eu sabia que Roque não era nenhum santo e que a sua libido exagerada havia feito com
que ele pulasse a cerca do nosso casamento por mais de uma vez, porém, eu também
não era mais inocente naquela história e tinha ficado verdadeiramente balançada pelo
charme quase irresistível do irmão sarado da minha secretária.
Se por um lado a minha consciência me mandava engolir as suas traições aceitando
mesmo que o Roque era o homem da minha vida e que por isso eu não devia me separar
dele, por outro lado, a voz tranquila de Gilson me pedindo para largar o meu casamento
para ficar de vez com ele me atormentava como uma tentação que ia e vinha várias
vezes ao longo do dia, tirando o meu juízo.
Eu estava a ponto de explodir sem saber para que lado a minha felicidade pendia mais e
alguns dias depois, a decisão foi tirada das minhas mãos de uma maneira abrupta e veio
na forma de um vídeo enviado através de um mensageiro anônimo.
Eu estava em minha sala no nono andar do prédio onde trabalhava quando o sinal
sonoro de mensagem chegou e fez tremer o meu celular. Estava no meio de uma
videoconferência com Pedro Augusto de Alcântara, que aquele dia estava em
Copenhagen visitando um financiador para a empreiteira. Esperei até que a minha
reunião virtual com o CEO da Ao Cubo terminasse para só então apanhar o meu
aparelho e ver quem estava me chamando.
O remetente não era ninguém que constasse em minha lista de contatos e pensei em
ignorar por achar que fosse algum tipo de mensagem publicitária mais invasiva ou
qualquer coisa do gênero. Em vez disso, resolvi dar uma olhada na mensagem escrita
que antecedia o arquivo de vídeo enviado em anexo e o meu coração tremelicou dentro
do peito.
“Você não sabe quem é o seu namorado de verdade”.
Naquele momento, eu fiquei com receio de apertar o “play” para executar o vídeo e
tentei identificar o remetente. Não havia foto de perfil ou frase de boas-vindas e o
número do telefone não me parecia familiar. Hesitei em assistir ao vídeo o máximo que
consegui, começando a roer o canto de uma unha de tanta ansiedade. Esperei o ambiente
do lado de fora do escritório ficar mais calma com Nana, Duda, Alzira e Bárbara
perambulando de um lado para o outro quase a todo momento, e então, apertei o maldito
botão.
O vídeo amador era escuro, o ambiente filmado era mal iluminado, mas dava para ver
nitidamente as figuras de dois jovens se acariciando em cima da cama num clássico
clima antes do sexo. O cenário parecia o de um quarto de motel e eu quase conseguia
achá-lo familiar. Eu teria visto de imediato que aquela era a mesma suíte que eu mesma
já havia visitado há pouco menos de um ano se os meus olhos não estivessem vidrados
no corpo definido, nos cabelos cortados à máquina, nos braços musculosos e naquelas
coxas lisas e rijas que eu tão bem conhecia.
— Ai, Deus… isso não pode ser verdade!
Embaixo daquela massa rígida de músculos estava uma garota um tanto quanto
curvilínea e relativamente alta de cabelos pretos sobre a cabeça, nariz arrebitado no
rosto e seios durinhos no torso que se abria em sorrisos sentindo toda a tonicidade do
deus grego a penetrá-la. Eu demorei a realizar que aquele vídeo de quase quarenta
minutos completos era mesmo real, mas quando ele terminou, as lágrimas escaparam
sem controle dos meus olhos.
— Por que ele fez isso comigo?
O vídeo anônimo mostrava uma noite de sexo intenso entre Gilson Lins e uma das
garotas com quem a minha filha estudava no Dom Pedro — e que certa vez eu havia
recebido em minha própria casa. Diferente de Kelly e Nicole a quem eu tinha muita
estima e conhecia há algum tempo, eu não sabia nada sobre a tal Michele Souto. Assim
que terminei de assistir aquele vídeo, no entanto, não importava mais saber quem ela
era. Eu só conseguia sentir um desejo muito grande de esganar a putinha com as minhas
próprias mãos.
Por que você fez isso comigo, Gilson? Por que? POR QUÊ?
Eu senti muita dificuldade de enfrentar sóbria aquela terça-feira até o horário
costumeiro dos nossos encontros, e antes de chamar um Uber que me conduzisse até a
Rua Vergueiro em segurança, eu tomei uma garrafa de tequila quase inteira.
O esperei na esquina que dava para o prédio do flat por mais de quinze minutos e
quando o seu Volkswagen dobrou a rua e estacionou a uns nove metros da entrada
principal, eu saquei a chave magnética do bolso da minha calça jeans.
Como sempre, ele andou para perto de mim e evitou me cumprimentar com beijos ou
abraços como havíamos combinado. Nós nunca demonstrávamos carinho um pelo outro
em público e esperávamos até que estivéssemos a sós para nos soltar.
Subimos o lance de escadas até a porta do flat sem dizer nada um ao outro e ele já
estava estranhando o meu silêncio — sem falar que o meu hálito de tequila devia estar
dando para sentir de longe.
Entramos no apart-hotel sem muita empolgação desta vez e assim que fechei a porta às
minhas costas, ele se precipitou a me abraçar, no que eu o rechacei fazendo esforço para
mantê-lo longe de mim.
— Ei, amor! O que houve?
Eu estava emocionalmente instável e nem bem abri a minha boca, comecei a chorar.
— “O que houve”, Gilson? Me diz você!
Eu saquei o meu celular do bolso traseiro da calça e com os dedos trêmulos por efeito
da mistura mortal do meu nervosismo com a tequila, comecei a executar o vídeo que
havia recebido por mensagem anônima. Os gemidos da putinha de peitinhos duros no
filminho pornô caseiro começaram a ecoar no ambiente e eu joguei o meu celular para
que ele o apanhasse. Meio desajeitado, ele segurou o aparelho e virou a tela em modo
paisagem para começar a assistir a sua performance incrível de sexo explícito.
— O que é isso? Quem…? Como foi que…?
As lágrimas já tinham banhado o meu rosto e as minhas mãos tremiam.
— Por que você me traiu, Gilson? Não tem nem um mês você estava aqui nesse flat me
pedindo pra gente morar junto, pra gente começar um relacionamento sério, pra eu
largar o meu marido… Por que você me traiu? Por quê?
Os meus gritos reverberavam no ambiente de poucos metros quadrados, e àquela altura,
se tivesse alguém ocupando os apartamentos ao lado, essa pessoa teria uma boa noção
do barraco que eu tinha começado a armar ali dentro.
— Quem te mandou isso, Carla? Eu… Eu… Não foi…
— Não importa quem me mandou, Gilson, o que importa é o que você fez com essa
vadiazinha… num motel… o mesmo motel em que me levou na nossa primeira vez
juntos… O MESMO LUGAR!
Gilson desistiu de assistir o vídeo e bloqueou a tela do smartphone o botando de lado.
Veio para o meu lado tentando se explicar com as mãos estendidas na esperança de me
acalmar e o meu escândalo só aumentava.
— Eu passei o fim de semana inteiro considerando o seu pedido da gente morar junto
aqui no flat, eu pensei uma dúzia de vezes em dar um basta em meu casamento, largar
tudo pra ficar com você… E olha só o que recebo em troca! — Apontei para o celular
sobre a amurada que dividia a sala da cozinha americana do flat.
— Carla, me ouve. Isso não significa nada. Essa garota é só uma aluna do dojô onde eu
treino… Eu nem a conheço direito. Ela começou a fazer aulas de judô recentemente…
Eu fraquejei… Não era pra ter acontecido nada… Eu nem queria ir pra cama com ela…
— Eu conheço essa garota, Gilson — eu o vi ficar branco com a revelação. Era como se
todo o sangue do seu rosto tivesse se esvaído de uma só vez —, ela estuda na mesma
escola que a minha filha. As duas têm a mesma idade… Você comeu essa vadiazinha e
ainda fez um vídeo de sacanagem com ela!
— Eu não fiz vídeo nenhum… Eu nem sabia que ela estava filmando…
— Seu escroto! Seu maldito escroto!
Eu tentei estapear Gilson, mas estava zonza demais por conta da bebida para sequer
conseguir encostar nele. Voltei a chorar sem qualquer controle das minhas emoções, e
desequilibrada, caí sentada no chão de onde não queria mais levantar.
— Só me escuta, Carla. Eu amo você, de verdade. Eu nunca fui tão louco por alguém
quanto eu sou por você. Me perdoa pelo que eu fiz… Só me perdoa e vamos continuar
da onde a gente parou. Vamos recomeçar…
Ele tinha se ajoelhado próximo a mim ainda tentando me acolher em seus braços
enormes e eu só o rechaçava de maneira quase débil.
— Não, Gilson. Para de mentir pra mim… Você não me ama coisa nenhuma. Você só
estava se divertindo comigo… Sai daqui… Some da minha frente… Vai pro inferno!
— Carla, só me ouve…
— VAI PRO INFERNO!
Gilson parou de tentar me convencer de qualquer outra coisa e se levantou
vagarosamente em direção à porta. De ombros caídos, parecia arrasado como eu nunca
o tinha visto antes, mas no meio tempo em que abaixei a cabeça para desabar em choro,
ele sumiu porta afora atendendo o meu último pedido.
Passou mais de uma semana sem que eu quisesse ter qualquer tipo de contato com
Gilson e depois que eu o bloqueei em meu celular, a sua última tentativa de falar
comigo foi ir pessoalmente até o andar da A3 usando uma visita à irmã como pretexto.
O vi em pé próximo à entrada bonito como sempre, mas resisti ao desejo ainda pulsante
de me esparramar naqueles braços fortes e não me mexi do lugar até que ele fosse
embora.
Por conta do término com Gilson, eu perdi o pouco da vontade que ainda tinha de
socializar com quem quer que fosse e a minha fase depressiva chamou a atenção das
pessoas mais próximas a mim. Nana e Duda foram as primeiras a perceberem que havia
algo de errado comigo, mas eu ainda não estava preparada para revelar a elas que, até
muito recentemente, eu estava dando para o irmão gostoso da nossa secretária
A culpa para o meu desânimo acabou recaindo nas costas de Roque, e como essa
desculpa elas já ouviam há vários anos, mais uma vez as duas acabaram acreditando que
o meu casamento estava mesmo me fazendo mais mal do que bem.
Na segunda semana sem a companhia de Gilson, eu decidi me abrir sobre o meu caso
extraconjugal com o meu marido, mas para isso, ocultei a identidade do meu amante a
fim de evitar represálias ao garoto. Apesar da sua traição, eu não queria que nada de
ruim o acometesse e a gente nunca podia adivinhar as coisas que um marido chifrudo
era capaz de fazer para “limpar a sua honra”.
Naquele dia, a Mica tinha ido a um evento de música na companhia das primas Cleide e
Priscila e estávamos só nós dois e o Steve em casa. Chamei Roque até a sala, me sentei
de um lado do sofá, mandei que ele se sentasse do outro e comecei a falar de maneira
muita franca sobre os últimos oito meses.
— Eu estava me sentindo muito sozinha. Além do meu trabalho, eu não tinha mais
nada. Até a nossa filha andava afastada de mim. Eu estava me sentindo péssima,
angustiada… Eu simplesmente encontrei alguém que me dava atenção, que me ouvia,
que queria cuidar de mim… e você não estava mais fazendo nada disso, Roque.
Roque se manteve frio e calculista por uns cinco minutos só a ouvir o meu relato, mas
não conseguiu segurar a pose por muito mais tempo. Quando comecei a detalhar os
meus momentos íntimos com o meu amante dentro do flat e como ele me fazia sentir
como a mulher mais desejada do mundo novamente, ele pediu que eu parasse.
— Eu não queria que nada disso precisasse acontecer, Roque. Eu passei anos tentando
segurar as paredes que mantinham o nosso casamento em pé, equilibrando daqui,
empurrando dali… mas, essa não devia ser uma tarefa para uma só pessoa. Nós somos
um casal e os dois deviam estar lutando para manter a coesão dessas paredes. Eu
sozinha não poderia conseguir… quando simplesmente desisti de segurar, me senti
aliviada.
Ele ficou cabisbaixo sem dizer nada.
— No dia em que transamos embaixo do chuveiro, eu estava quase que 90% convencida
a te largar de vez, Roque. Não foi a transa em si que me fez mudar de ideia, mas o que
você me falou sobre a nossa filha…
Os olhos verdes voltaram a mirar os meus. Ele me ouvia com atenção redobrada.
— A minha mãe passou quase a sua vida inteira sendo submissa ao meu pai adúltero e
foi essa a imagem que ela transmitiu a mim e à Elisa enquanto a gente crescia: a da
mulher fraca que abaixa a cabeça para tudo que o marido diz e faz. Quando você me
jogou na cara que eu estava servindo de mau exemplo para a Mica, aquilo me sacudiu
por dentro. Eu não quero que a minha filha se lembre de mim no futuro como uma
pessoa detestável ou alguém que não se importa com o que ela pensa e faz. Eu quero ser
um exemplo não só de mãe para ela, mas de ser-humano. Eu quero que a Mica sinta
orgulho de mim, coisa que eu nunca senti pela minha própria mãe. Mas, para isso dar
certo, eu preciso ser uma pessoa melhor a partir de agora.
Roque tinha desarmado completamente as suas defesas e atingido pelas minhas palavras
e procurando se redimir dos seus erros, ele também resolveu confessar um a um os
casos que tinha tido nos últimos meses em que estávamos afastados um do outro. Além
de Mirabel, o meu marido havia transado com mais três garotas que tinham feito parte
temporariamente do quadro de estagiários da S&C. Segundo ele, todas aquelas meninas
não passavam de casos passageiros com as quais ele não mantinha qualquer vínculo ou
relação após irem juntos para a cama. Roque fez questão de enfatizar que ninguém
ocupava ou sequer ameaçava ocupar o mesmo espaço que eu ainda tinha em sua vida.
— Eu posso ser o maior canalha do mundo, Carla, mas jamais dei a outra mulher a
mesma importância que dou a você. Nenhuma outra jamais vai ocupar o mesmo espaço
que você sempre teve aqui — e ele tocou o próprio peito por cima da camiseta.
Foi difícil ouvir o meu marido confessar todas as suas traições durante aquela conversa,
mas foi ainda mais difícil ter que admitir que eu mesma estive na iminência de pedir o
divórcio para seguir a minha vida ao lado de outro homem depois de tanto tempo de
casamento.
Nós tínhamos agora inúmeras diferenças para corrigir e uma quantidade grande de
feridas para cicatrizar, mas naquele dia, optamos mesmo pela reconciliação. Roque e eu
firmamos um pacto de que não teríamos mais relações extraconjugais por mais tênues
ou passageiras que fossem. Concordamos também em sermos francos e diretos caso
percebêssemos que a nossa própria relação estivesse se estagnando ou enfraquecendo
por qualquer motivo existente em nossas vidas e a decisão de seguirmos juntos foi
mútua.
A mácula causada pela traição de Gilson ainda precisava ser curada, bem como as
marcas causadas pela infidelidade de Roque, mas até que tudo aquilo fosse resolvido de
vez, eu queria ser mais presente para a Micaela e estar por perto sempre que a minha
filha necessitasse ou pedisse. Independentemente de ser ou não a esposa de alguém, a
minha posição de mãe era indefectível e eu não abria mão dela jamais.
22/11/2020
22/07/2022