Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Mundo Afora - Itamaraty , Maria Luiza Ribeiro Viotti e Daniella Poppius Brichta
A brasileira Bertha Lutz destacou-se ainda por sua iniciativa ─ apoiada pelo diminuto,
porém diligente grupo de delegadas presentes à Conferência de
São Francisco ─ de propor a inclusão no preâmbulo da Carta das Nações Unidas de
menção expressa à igualdade de direitos entre homens e mulheres ─ uma novidade
para a época.
A superação do conflito Leste-Oeste, nos anos 1990, propiciou um olhar renovado sobre
itens da agenda internacional ─ como meio ambiente e direitos humanos ─ antes
obscurecidos pelas tensões que marcavam o mundo bipolar. A emergência desses novos
temas se traduziu na longa série de conferências globais realizadas sob os auspícios das
Nações Unidas naquela década.
O mais recente avanço no âmbito das Nações Unidas traduziu-se, sem dúvida, na
decisão da Assembleia Geral de estabelecer a Entidade das Nações Unidas para a
Igualdade de Gênero e o Fortalecimento da Condição da Mulher, mais conhecida pelo
acrônimo ONU-Mulheres. A nova entidade ─ estabelecida pela Resolução 64/289, de
julho de 2010, adotada por consenso ─ resultou de longo processo de negociações
intergovernamentais. Na prática, a ONU-Mulheres integrou, em uma só instância,
quatro unidades preexistentes que tratavam, sob diferentes perspectivas, da questão de
gênero: a Divisão para o Avanço da Mulher (DAW, na sigla em inglês); o Escritório da
Assessora Especial do
Secretário-Geral da ONU para Assuntos de Gênero (OSAGI); o Instituto de Pesquisa e
Treinamento para o Avanço da Mulher (INSTRAW); e o Fundo das Nações Unidas para as
Mulheres (UNIFEM). Ao estabelecer a ONUMulheres, os Estados-membros pretenderam
não só conferir maior perfil político ao tema, mas também dotar as Nações Unidas de
maior agilidade operacional, apoiando técnica e financeiramente o reforço das
capacidades nacionais na promoção dos direitos das mulheres.
É muito auspicioso que o Secretário-Geral da ONU, Ban Kimoon, tenha designado
Michelle Bachelet para a primeira Subsecretária-Geral e Diretora-Executiva da ONU-
Mulheres. A ex-Presidenta do Chile elegeu cinco áreas principais de atuação para a nova
entidade: aumento da participação feminina nas esferas de poder; combate à violência
de gênero; implementação da agenda de “mulheres e paz e segurança”;
empoderamento econômico das mulheres; e incorporação da perspectiva de gênero em
planos, orçamentos e estatísticas em todos os níveis.
Também o Conselho de Segurança das Nações Unidas (CSNU) tem dedicado crescente
atenção à questão de gênero, nos aspectos relacionados à manutenção da paz e da
segurança internacionais. Marco no tratamento do tema, a Resolução 1325 (2000) sobre
“Mulheres e paz e segurança” inovou ao reconhecer o papel fundamental que
desempenham as mulheres na prevenção e resolução de conflitos armados, bem como
nos processos de reconstrução da paz. Posteriormente, e como resultado da continuada
preocupação do órgão com o tema, adotaramse as Resoluções 1820 (2008), 1888
(2009), 1889 (2009) e 1960 (2010), as quais enfocam temas relevantes tais como a
participação de mulheres em operações de manutenção da paz, inclusive nos
contingentes militares e policiais; a inclusão de uma perspectiva de gênero nas
operações de paz; e a prevenção e a repressão da violência sexual em situações de
conflito armado.
Em seu mandato como membro não permanente do CSNU no biênio 20102011, o Brasil
tem sublinhado a interdependência das dimensões de segurança, paz e
desenvolvimento. No debate promovido pela Presidência brasileira do Conselho, em
fevereiro deste ano, realçamos a importância de que esforços no plano da segurança
sejam acompanhados de avanços nas condições de desenvolvimento econômico e social
para que se possa garantir uma paz verdadeiramente duradoura. A dimensão de gênero
ocupa, nesse cenário, papel fundamental, não só pela relevância da contribuição
feminina ao desenvolvimento econômico e social, mas também pela oportunidade que
processos de reconstrução representam para a superação de papéis e estereótipos
tradicionalmente atribuídos a homens e mulheres.
*Maria Luiza Ribeiro Viotti foi Embaixadora do Brasil junto à Organização das Nações
Unidas em Nova York.
*Daniella Poppius Brichta atuou como diplomata na Missão Permanente do Brasil junto
à Organização das Nações Unidas em Nova York.
As norueguesas, que conquistaram o direito ao voto em 1913, exigiram a partir dos anos
1960 a inclusão de novos temas na agenda política, como direito a aborto, creches
públicas, expediente de seis horas diárias de trabalho e equidade de salários. O direito
da mulher de tomar decisões sobre seu corpo constitui princípio basilar do direito à
saúde e à reprodução (o aborto foi legalizado em 1978), bem como o acesso a
contraceptivos e o direito a serviços gratuitos durante a gestação e o parto. Em linha
com a elevação do nível educacional e da participação no mercado de trabalho, a idade
média da mulher norueguesa ao ter o primeiro filho é de 28 anos.
A participação feminina na política tem sido incentivada, e alguns partidos instituíram
cotas para mulheres. Nas eleições passadas, realizadas em 2009, as mulheres
conquistaram 40% das cadeiras do Stortinget (Parlamento). Já em 1986, a então
Primeira-Ministra Gro Harlem Brundtland - conhecida pelo trabalho no âmbito da
Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento da ONU - atraiu atenção
internacional ao formar gabinete constituído por oito ministras e dez ministros. Nesse
contexto, Brundtland teve papel destacado na ampliação do modelo social-democrata
norueguês mediante a promoção de políticas de plena inclusão da mulher na força de
trabalho nacional. Desde aquela época, a participação feminina no governo tem-se
mantido expressiva. Atualmente, no governo do Primeiro-Ministro Jens Stoltenberg, há
dez ministras e nove ministros. Ademais, cinco dos sete principais partidos políticos são
liderados por mulheres.