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O Itamaraty e a diplomacia da inovação

Interesse Nacional , Carlos Alberto Franco França


O Itamaraty orgulha-se da estreita parceria que mantém com os diferentes atores do sistema brasileiro de ciência, tecnologia e inovação,
no marco daquilo que chamamos de Diplomacia da Inovação. Esse esforço conjunto e coordenado entre estado e sociedade civil é
crucial para a difusão da cultura de internacionalização no campo científico e tecnológico […].
A iniciativa destina-se, igualmente, a contribuir para o fortalecimento da imagem do Brasil como país inovador. Quando se faz referência
a tecnologias vindas do Japão e da Coreia do Sul, por exemplo, a receptividade mostra-se sempre positiva, por serem países que
souberam construir e projetar imagem de potências tecnológicas ao longo das últimas décadas. A China é também exemplo de país
que tem registrado, recentemente, avanços rápidos nessa construção e projeção. Um dos principais objetivos da Diplomacia da Inovação
é fazer que, quando se pense em nosso país, mais e mais pessoas o associem à inovação ambientalmente sustentável, a um novo polo
de tecnologia de ponta no mundo em desenvolvimento, ao avanço científico em tempos de transição energética global.
A Diplomacia da Inovação implica fomentar o debate sobre ações e opções estratégicas de política externa relacionadas à inovação
tecnológica. Em 2021, o Itamaraty, em parceria com o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações e a Fundação Alexandre de
Gusmão (Funag), organizou seminário virtual para debater a associação do Brasil à Organização Europeia de Pesquisa Nuclear
(CERN). O evento demonstrou os impactos da entrada de países na entidade, quer do ponto de vista de nações que já passaram pelo
processo, como Portugal e Turquia, quer da perspectiva da academia e do setor privado brasileiros.
A compreensão dos benefícios da associação do Brasil à organização levou à assinatura, em março último, de acordo que permitirá
nossa participação em um dos maiores centros do mundo de pesquisa e laboratórios em física de altas energias e física de partículas.
O acesso de pesquisadores e empresas brasileiros à estrutura da CERN possibilitará desenvolvimento de tecnologias para novos
materiais com aplicação na indústria 4.0, no setor aeroespacial, na fabricação de isótopos de saúde, entre muitos outros segmentos. A
construção das próximas instalações da CERN exigirá maiores inovações tecnológicas, com aplicações que transcenderão a física de
partículas. O exemplo da CERN é emblemático, pois não se limita à cooperação científica, abrangendo, também, oportunidades de
negócios para empresas do Brasil e de outros países.
Nossas iniciativas contemplam temas na fronteira entre tecnologia e geopolítica. É o caso da atual ‘crise dos semicondutores’, decorrente
da desestabilização das cadeias internacionais de suprimento de microchips, que vem resultando em aumento dos preços e até mesmo
na escassez de componentes essenciais para a indústria brasileira, particularmente nos setores de eletroeletrônicos e automóveis.
Trata-se de situação de alcance global, com repercussões no Brasil e no mundo desde 2020.
O Itamaraty acompanha de perto a questão, seja através dos postos no exterior, seja por meio dos funcionários envolvidos com a
promoção tecnológica no Brasil. Com efeito, a importância do tema levou o Itamaraty a intensificar o diálogo com outros órgãos do
Governo Federal, o Congresso Nacional e a sociedade civil sobre a promoção da indústria nacional de semicondutores e da inserção
do Brasil nas cadeias internacionais de suprimento desses componentes.
Um marco desse diálogo foi a realização de seminário internacional sobre o tema no Palácio Itamaraty, em 27 de abril de 2022, com a
participação de autoridades, empresários e especialistas brasileiros e estrangeiros. O evento analisa e discute os desafios atualmente
enfrentados pelo setor; o quadro regulatório e as políticas aplicáveis às cadeias de suprimento desses insumos; e as perspectivas da
indústria brasileira de semicondutores, de modo a contribuir para o delineamento de estratégia brasileira para o segmento.
Não é de hoje que o Itamaraty trabalha para promover a ciência e a tecnologia brasileiras. Dispõe, desde 1968, de unidade específica
para tratamento do tema com governos e outros interlocutores estrangeiros. A atuação do Ministério das Relações Exteriores já havia
aportado, em momentos anteriores, importantes contribuições para a criação das bases da infraestrutura de pesquisa brasileira, que
resultaram na constituição de entidades que são pilares do nosso sistema nacional de ciência, tecnologia e inovação, como o Conselho
Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico (CNPq), a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), o Instituto de Matemática Pura e
Aplicada (IMPA) e a Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN). O trabalho do Itamaraty nesse campo passou a dar-se em estreita
coordenação com o Ministério da Ciência e Tecnologia a partir de sua criação, em 1985.
As lições aprendidas naquele tempo permanecem válidas. Parcerias na área de tecnologia exigem a construção de laços de confiança,
pois são iniciativas de longa maturação. Esse processo passa pela correta apresentação, ao potencial parceiro estrangeiro, das
oportunidades que se apresentem no Brasil. Frente à crescente complexidade dos mecanismos de fomento à inovação no mundo atual,
o desenvolvimento desses relacionamentos passa a exigir, do diplomata brasileiro, uma nova gama de habilidades.
Com esse pano de fundo, a diplomacia brasileira adapta-se e transforma-se de modo a contribuir para tornar nosso país,
reconhecidamente, um hub de inovação regional e mundial. É um empreendimento que requer especialização na área científica e Comentado [AF1]: HUB é um equipamento muito
tecnológica. Exige, da diplomacia, o empenho de reconhecer e projetar os setores de alta tecnologia do país por meio do fortalecimento presente em lugares onde tem vários computadores. É que a
da ‘marca Brasil’ como selo de inovação e de ganho de imagem para quem nela investe. principal função dele é interligar os aparelhos em uma só
A aquisição dessas habilidades não se faz isoladamente, mas em parceria. Exemplo relevante de arranjos instituídos com demais rede. Ou seja, é ele quem distribui dados entre todos os
computadores que estão ligados nele. Um hub de
entidades foi a realização de seminário de capacitação de diplomatas para atração de investimentos, realizado em coordenação com o
inovação é um espaço de conexão a favor da inovação, que
BNDES, em dezembro de 2021. O evento, realizado em Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo, contou com a presença de diplomatas estimula a interação entre diferentes agentes para o
lotados nas cidades de países exportadores de capitais com alto potencial de direcionar ao Brasil parte de seus investimentos: Berlim, surgimento de ideias inovadoras e proporciona às startups
Copenhague, Estocolmo, Lisboa, Londres, Madri, Nova York, Oslo, Ottawa, Paris, Roma, Singapura, Toronto, Tóquio e Washington. um ambiente para testar sua tecnologia e fazer networking.
Ademais, ao longo de março e abril deste ano, 81 servidores do MRE, em cerca de 50 embaixadas e consulados, foram capacitados na
área de promoção tecnológica, de modo a melhor atender às demandas de nossos pesquisadores e empreendedores. O treinamento
incluiu estudos de caso e boas práticas em iniciativas de ‘incubação cruzada’ de startups, mobilização da diáspora científica, ações de Comentado [AF2]: Startup ->inglês -> “começar algo
diplomacia pública, internacionalização de startups, organização de hackatons (maratonas de programação), produção de inteligência novo”, comumente relacionado à inovação no mundo dos
de mercado e promoção da indústria de jogos eletrônicos, entre outros tópicos. negócios. É uma empresa que está em seu início, sem plano
Desde 2017, o Itamaraty passou a reunir as ações de promoção tecnológica realizadas pelos consulados e embaixadas do Brasil no de negócios ou produto completamente definido, mas que
tem algo novo a mostrar ao mercado.
exterior em torno do Programa de Diplomacia da Inovação, o PDI, em sua maioria executado por 55 postos dotados de setores de
Ciência, Tecnologia e Inovação, os chamados Sectecs. Essas unidades acumulam conhecimento especializado sobre os mercados Comentado [AF3]: aumento da quantidade de
locais para promover parcerias entre centros de pesquisa, ambientes de inovação, para prospectar informações de inteligência, para pesquisadores brasileiros que saem do país em busca de
apoiar a internacionalização de empresas tecnológicas e para atrair investimentos, de maneira a contribuir para consolidar o perfil de oportunidades de emprego e sem intenções de retorno.
país inovador.
As diversas ações da Diplomacia da Inovação executadas pelo Itamaraty têm denominador comum: pragmatismo e foco em melhorar a
vida dos brasileiros. São iniciativas que procuram aumentar a competitividade da economia brasileira por meio do desenvolvimento
tecnológico. É a missão da Diplomacia da Inovação: identificar oportunidades de cooperação, descobrir potenciais nichos de atuação e
abrir caminhos para acelerar qualificação de recursos humanos, aperfeiçoamento institucional e desenvolvimento de empresas e
startups para a conquista de novos mercados.
Data original da publicação: Setembro de 2022

Seminário “A Cadeia Internacional de Semicondutores e o Brasil” Comentado [AF4]: Semicondutores: Materiais capazes de
GOV - Nota à imprensa n° 68 , Ministério das Relações Exterior conduzir corrente elétrica; são matéria prima para produção
O Ministério das Relações Exteriores e a Fundação Alexandre de Gusmão de chips usados em diversos aparelhos eletrônicos; em
(FUNAG) realizarão, em 27 de abril de 2022, o seminário “A Cadeia Internacional de Semicondutores e o Brasil”, evento que contará determinada situação são isolantes e em outra são
condutores; ex.: O silício e o germânio são os
com a participação do Ministro das Relações Exteriores, Embaixador Carlos Alberto Franco França, do Ministro da Ciência, Tecnologia
semicondutores mais utilizados no mercado.
e Inovações, Paulo Alvim, do Ministro das Comunicações, Fábio Faria, e de outras autoridades, especialistas e representantes da
indústria, brasileiros e estrangeiros.
O seminário insere-se no contexto da crise internacional no abastecimento de semicondutores, na esteira da pandemia de COVID-19.
Os gargalos nas cadeias internacionais de suprimento de microchips causaram aumento de preços e escassez de produtos em setores
de alta complexidade tecnológica, como telecomunicações, eletroeletrônicos, automóveis e energias renováveis.
Por sua propriedade físico-química singular e sua aplicação múltipla, trata-se de componente central para o pleno funcionamento da
economia digital. A crise impactou a indústria nacional e, em particular, a indústria automotiva. Recuperação sustentada da produção
automotiva depende, entre outros fatores, de fornecimento confiável e a preços competitivos de semicondutores.
Ao reunir representantes de diferentes elos da cadeia produtiva e de distintas partes do mundo, o seminário promovido pelo Itamaraty
proporcionará discussão aprofundada sobre os desafios logísticos enfrentados pelo setor, o quadro regulatório e as políticas adotadas
por diversos países. Serão discutidas, igualmente, a realidade da indústria brasileira de semicondutores e as perspectivas de ampliação
da capacidade de produção instalada no Brasil.
A realização do seminário, somada à recente prorrogação, até 2026, do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico da
Indústria de Semicondutores (PADIS), entre outras medidas, demonstra o compromisso do Governo Federal com a promoção da
indústria nacional e com a inserção qualificada do Brasil nas cadeias internacionais de suprimento.
Data original da publicação: 26 de abril de 2022
“Chip War” traces the evolution of the semiconductor industry
The Economist , The Economist
Semiconductors are the cornerstone of the modern economy. Everything from emails to guided missiles relies on them. Yet parts of the
supply chain, particularly for cutting-edge chips, depend on choke-points dominated by a small number of firms. For decades few people
worried much about this— until covid-19 and rising tensions between China and America highlighted the sector’s fragility. In “Chip War”,
his elegant new book, Chris Miller of Tufts University shows how economic, geopolitical and technological forces shaped this essential
industry.

In 1947 a group of researchers at Bell Labs, a subsidiary of AT&T, a telecoms giant, invented the transistor, a switch that controls electric
current and is a building block of modern electronics. Within a decade researchers were placing several transistors on a slab of silicon
to make an “integrated circuit”, or chip. A thriving industry grew up around California, outsourcing low-value tasks, such as assembly, to
Asia where labour was cheaper.

Innovation came quickly. In 1965 Gordon Moore, who later co-founded Intel, America’s chipmaking giant, correctly predicted that by
shrinking transistors, engineers would be able to double the number that fit on a chip every two years or so—and that this enhancement
would, in turn, double a chip’s performance.

As the market grew, so did interest from America’s rivals. First, the Soviet Union tried and failed to replicate Silicon Valley. Later, Japanese
firms such as Toshiba and Fujitsu managed to take a share of some chip markets. But the strategic danger comes from China, which
today spends more on importing chips than it does on oil. Xi Jinping, the president, has ordered China’s tech titans to reduce its
dependence on foreign chips; state funds dole out tens of billions a year to that end. Rather than matching America’s know-how, however,
a big priority is to emulate Taiwan, which produces 90% of the world’s premium logic chips, which process data.

Taiwan’s chip dominance can be traced to Morris Chang, founder of the


Taiwanese Semiconductor Manufacturing Company (TSMC), who gave Mr
Miller a rare interview. Mr Chang was born in China and grew up in Hong Kong. After an education in America he joined Texas
Instruments, then a big chipmaker. He was obsessed with eking out efficiencies in the chipmanufacturing process. Passed over for the
top job, in 1985 Mr Chang became involved in Taiwan’s bid to gain a foothold in the semiconductor industry.

He duly put into practice a long-held idea for a firm that made chips designed by customers. At that point, virtually all large chipmakers
designed and manufactured their silicon in-house. But as chips shrank, the cost of the factories that made them (or “fabs”) grew: today
building an advanced fab costs $20bn. At the same time, the economics of the business favoured scale. The more chips a firm produces,
the higher the yield—ie, the share of them that actually work. Thus, reasoned Mr Chang, only outfits that manufactured huge amounts of
chips would be cost-competitive. With lavish support from Taiwan’s government, TSMC was born.

At first, tsmc’s technology lagged behind its American counterparts’. But, thanks to scale and Mr Chang’s leadership, it soon caught up
and overtook. Most American firms stopped making cutting-edge chips and relied on TSMC instead. Its success reshaped the industry,
allowing fab-less design companies to flourish, without the financial burden of building pricey new factories every few years. Today tsmc
is the biggest chipmaker in the world by market value.

It is also one of the choke-points in the chip supply chain. The result of superspecialisation and high costs, these are huge vulnerabilities
in the global economy. Only TSMC and Samsung, a South Korean tech giant, know how to make the world’s most advanced chips. Most
of their fabs are uncomfortably close to either China or North Korea. But the bottlenecks can also favour the West, because many are
controlled by America or its allies. For instance, TSMC does not build chips for firms on America’s blacklist, such as Huawei. Such
obstacles have both slowed China’s chip industry and redoubled its determination to become more self-sufficient.

America and Europe are pursuing greater self-sufficiency themselves. Thanks to the generous subsidies in America’s recent CHIPS Act,
Samsung and TSMC have agreed to build new fabs in Arizona and Texas respectively (albeit not the whizziest type). However, Mr Miller
does not expect this to reduce American dependence on Taiwan and South Korea. Both Samsung and TSMC still concentrate their
investment at home.

The author argues that R&D incentives may in the long run prove the most important part of the CHIPS Act: one lesson of history is that
leaps in chip technology are often boosted by government research grants. That bodes well for the future of this critical and complex
industry. For those seeking to understand it better, “Chip War” is a fine place to start. Data original da publicação: 15 de outubro de
2022

Chip War” traça a evolução da indústria de semicondutores


O Economista, O Economista
Os semicondutores são a pedra angular da economia moderna. Tudo, desde e-mails a mísseis guiados, depende deles. No entanto,
partes da cadeia de suprimentos, especialmente para chips de ponta, dependem de pontos de estrangulamento dominados por um
pequeno número de empresas. Durante décadas, poucas pessoas se preocuparam muito com isso – até que a covid-19 e o aumento
das tensões entre China e Estados Unidos evidenciaram a fragilidade do setor. Em “Chip War”, seu elegante novo livro, Chris Miller, da
Tufts University, mostra como as forças econômicas, geopolíticas e tecnológicas moldaram essa indústria essencial.

Em 1947, um grupo de pesquisadores da Bell Labs, uma subsidiária da AT&T, uma gigante das telecomunicações, inventou o transistor,
um interruptor que controla a corrente elétrica e é um bloco de construção da eletrônica moderna. Dentro de uma década, os
pesquisadores estavam colocando vários transistores em uma placa de silício para fazer um “circuito integrado”, ou chip. Uma indústria
próspera cresceu em torno da Califórnia, terceirizando tarefas de baixo valor, como montagem, para a Ásia, onde a mão de obra era
mais barata.

A inovação veio rapidamente. Em 1965, Gordon Moore, que mais tarde co-fundou a Intel, a gigante americana da fabricação de chips,
previu corretamente que, ao encolher os transistores, os engenheiros seriam capazes de dobrar o número que cabe em um chip a cada
dois anos ou mais - e que esse aprimoramento, por sua vez, , o dobro do desempenho de um chip.

À medida que o mercado crescia, aumentava também o interesse dos rivais americanos. Primeiro, a União Soviética tentou e falhou em
replicar o Vale do Silício. Mais tarde, empresas japonesas como Toshiba e Fujitsu conseguiram uma participação em alguns mercados
de chips. Mas o perigo estratégico vem da China, que hoje gasta mais com importação de chips do que com petróleo. Xi Jinping, o
presidente, ordenou que os titãs da tecnologia da China reduzissem sua dependência de chips estrangeiros; fundos estatais distribuem
dezenas de bilhões por ano para esse fim. Em vez de igualar o know-how da América, no entanto, uma grande prioridade é imitar
Taiwan, que produz 90% dos chips lógicos premium do mundo, que processam dados.

O domínio de chips de Taiwan pode ser atribuído a Morris Chang, fundador da


Taiwanese Semiconductor Manufacturing Company (TSMC), que deu ao Sr.
Miller uma rara entrevista. O Sr. Chang nasceu na China e cresceu em Hong Kong. Depois de estudar nos Estados Unidos, ele ingressou
na Texas Instruments, então uma grande fabricante de chips. Ele estava obcecado em aumentar a eficiência no processo de fabricação
de chips. Rejeitado para o cargo principal, em 1985, o Sr. Chang se envolveu na tentativa de Taiwan de ganhar uma posição na indústria
de semicondutores.

Ele colocou em prática uma ideia de longa data para uma empresa que fabricava chips projetados por clientes. Nesse ponto,
praticamente todos os grandes fabricantes de chips projetavam e fabricavam seu silício internamente. Mas, à medida que os chips
diminuíram, o custo das fábricas que os produziram (ou “fabs”) aumentou: hoje, construir uma fábrica avançada custa US$ 20 bilhões.
Ao mesmo tempo, a economia do negócio favoreceu a escala. Quanto mais chips uma empresa produz, maior o rendimento — ou seja,
a parcela deles que realmente funciona. Assim, raciocinou o Sr. Chang, apenas empresas que fabricassem grandes quantidades de
chips teriam custos competitivos. Com grande apoio do governo de Taiwan, a TSMC nasceu.
No início, a tecnologia da tsmc ficou atrás de suas contrapartes americanas. Mas, graças à escala e à liderança de Chang, logo alcançou
e ultrapassou. A maioria das empresas americanas parou de fabricar chips de ponta e passou a confiar na TSMC. Seu sucesso
reformulou a indústria, permitindo que empresas de design fab-less florescessem, sem o ônus financeiro de construir novas fábricas
caras a cada poucos anos. Hoje a tsmc é a maior fabricante de chips do mundo em valor de mercado.
É também um dos pontos de estrangulamento na cadeia de fornecimento de chips. Fruto da superespecialização e dos altos custos,
são enormes vulnerabilidades na economia global. Apenas a TSMC e a Samsung, uma gigante tecnológica sul-coreana, sabem como
fabricar os chips mais avançados do mundo. A maioria de suas fábricas está desconfortavelmente perto da China ou da Coréia do Norte.
Mas os gargalos também podem favorecer o Ocidente, porque muitos são controlados pelos Estados Unidos ou seus aliados. Por
exemplo, a TSMC não fabrica chips para empresas na lista negra dos Estados Unidos, como a Huawei. Esses obstáculos desaceleraram
a indústria de chips da China e redobraram sua determinação de se tornar mais autossuficiente.
A América e a Europa estão buscando uma maior auto-suficiência. Graças aos generosos subsídios do recente CHIPS Act dos Estados
Unidos, a Samsung e a TSMC concordaram em construir novas fábricas no Arizona e no Texas, respectivamente (embora não sejam
do tipo mais genial). No entanto, Miller não espera que isso reduza a dependência americana de Taiwan e da Coreia do Sul. Tanto a
Samsung quanto a TSMC ainda concentram seus investimentos em casa.
O autor argumenta que os incentivos de P&D podem, a longo prazo, provar a parte mais importante da Lei CHIPS: uma lição da história
é que saltos na tecnologia de chips são muitas vezes impulsionados por subsídios de pesquisa do governo. Isso é um bom presságio
para o futuro desta indústria crítica e complexa. Para aqueles que procuram entender melhor, “Chip War” é um bom lugar para começar.
Um novo livro aponta o grande papel que os governos desempenham na criação de negócios inovadores
A Apple é geralmente considerada a personificação de tudo o que há de melhor nos negócios inovadores. Foi iniciado em uma garagem.
Durante anos, ele desempenhou um papel legal de David para o pesado Golias da Microsoft. Em seguida, mudou a si mesma e a toda
a indústria do entretenimento, mudando seu foco de computadores para dispositivos móveis. Mas falta algo nessa história, argumenta
Mariana Mazzucato, da Universidade de Sussex, na Inglaterra, em seu livro “The Entrepreneurial State” (O Estado Empreendedor).
Steve Jobs foi, sem dúvida, um gênio que entendia tanto de engenharia quanto de design. A Apple foi, sem dúvida, uma inovadora ágil.
Mas o sucesso da Apple teria sido impossível sem o papel ativo do Estado, o facilitador não reconhecido da atual revolução dos
eletrônicos de consumo.

Considere as tecnologias que colocam o smart nos smartphones da Apple. As forças armadas foram pioneiras na internet,
posicionamento GPS e “assistentes virtuais” ativados por voz. Eles também forneceram grande parte do financiamento inicial para o
Vale do Silício. Cientistas acadêmicos em universidades e laboratórios com financiamento público desenvolveram a tela sensível ao
toque e a linguagem HTML. Um órgão obscuro do governo chegou a emprestar US$ 500.000 à Apple antes de abrir o capital. A Sra.
Mazzucato considera uma farsa da justiça que uma empresa que deve tanto ao investimento público dedique tanta energia para reduzir
sua carga tributária transferindo seu dinheiro para o exterior e atribuindo sua propriedade intelectual a jurisdições com impostos baixos,
como a Irlanda.

Da mesma forma, a pesquisa que produziu o algoritmo de busca do Google, a fonte de sua riqueza, foi financiada por uma doação da
National Science Foundation. Quanto às empresas farmacêuticas, elas são ainda maiores beneficiárias da pesquisa estatal do que as
empresas de internet e eletrônicos. Os Institutos Nacionais de Saúde dos Estados Unidos, com um orçamento anual de mais de US$
30 bilhões, financiam estudos que levam a muitas das novas drogas mais revolucionárias.

Os economistas há muito reconhecem que o Estado tem um papel na promoção da inovação. Ele pode corrigir falhas de mercado
investindo diretamente em bens públicos, como pesquisa, ou usando o sistema tributário para estimular as empresas a fazê-lo. Mas
Mazzucato argumenta que o Estado empreendedor faz muito mais do que apenas compensar as deficiências do setor privado: por meio
das grandes apostas que faz em novas tecnologias, como aeronaves ou internet, ele cria e molda os mercados do futuro. Na melhor
das hipóteses, o estado é nada menos do que o inovador schumpeteriano supremo – gerando as rajadas de destruição criativa que
fornecem fortes ventos favoráveis para empresas privadas como a Apple.

A Sra. Mazzucato diz que o estado empreendedor mais bem-sucedido pode ser encontrado no lugar mais improvável: os Estados
Unidos. Os americanos têm sido tradicionalmente divididos entre os jeffersonianos (que pensam que governa melhor quem menos
governa) e os hamiltonianos (que favorecem o governo ativo).
O segredo do sucesso do país está, ela pensa, em falar como os jeffersonianos, mas agir como os hamiltonianos. Qualquer que seja
sua retórica, os governos sempre investiram pesadamente na promoção da disseminação de tecnologias existentes, como as ferrovias
(dando terras gratuitas aos barões ferroviários) e na busca de descobertas científicas potencialmente lucrativas (financiando quase 60%
da pesquisa básica).

Até agora tudo bem. No entanto, a Sra. Mazzucato se omite em reconhecer com que frequência os aspirantes a estados empreendedores
acabam despejando dinheiro em buracos. O mundo está repleto de imitações de Vales do Silício que não produzem nada além de
dívidas. Sim, os empreendimentos do setor privado também falham com frequência, mas seus investidores sabem quando parar: seu
próprio dinheiro acaba. Os governos podem continuar jogando dinheiro dos contribuintes fora. Já foi moda elogiar o Japão como um
estado empreendedor sendo guiado para a dominação mundial pelos pensadores iluminados em seu poderoso ministério da indústria.
Hoje em dia está mais claro que o ministério tem sido uma mão morta atrasando a inovação e o empreendedorismo.

A Sra. Mazzucato lamenta que as empresas privadas sejam muito imediatistas. Mas os governos também fazem investimentos
rotineiramente com base em cálculos políticos de curto prazo, em vez de retornos de longo prazo. Ela teme que a ideologia antiestatista
esteja reduzindo a capacidade do Estado de fazer investimentos importantes para o futuro. Na verdade, a explosão de gastos com
direitos, que está alocando cada vez mais a renda do país para os idosos, está fazendo mais para minar o estado empresarial do que o
tea party. Ela também é muito dura com os negócios: reunir todas essas diferentes tecnologias financiadas pelo estado em iPads e
iPhones fáceis de usar exigia um gênio raro que merece recompensas raras.

O livro oferece apenas dicas, em vez de uma resposta completa, para a questão prática central em tudo isso: por que alguns estados
são empreendedores bem-sucedidos enquanto outros são fracassos? Estados bem-sucedidos são obcecados pela competição; eles
fazem os cientistas competirem por bolsas de pesquisa e as empresas competirem por fundos iniciais - e deixam as decisões para os
especialistas, em vez de políticos ou burocratas. Eles também promovem redes de inovação que se estendem de universidades a
empresas com fins lucrativos, minimizando seu próprio papel. O paradoxo jeffersoniano-hamiltoniano é importante aqui: quanto mais os
governos pensam em termos de poderosos “estados empreendedores”, menos sucesso eles provavelmente terão.
Questões à parte, a Sra. Mazzucato está certa ao argumentar que o estado tem desempenhado um papel central na produção de
avanços revolucionários e que sua contribuição para o sucesso dos negócios baseados em tecnologia não deve ser subestimada. Ela
também tem razão ao apontar que os países “perdulários” que mais sofrem com a crise atual (como Grécia e Itália) são os que menos
gastaram em P&D e educação. Há muitas razões pelas quais os formuladores de políticas devem modernizar o Estado e controlar os
direitos. Mas uma das mais importantes é que um Estado bem administrado é parte vital de um sistema de inovação bem-sucedido.

A new book points out the big role governments play in creating innovative businesses
The Economist , The Economist
Apple is generally regarded as an embodiment of everything that is best about innovative businesses. It was started in a garage. For
years it played a cool David to Microsoft’s lumbering Goliath. Then it disrupted itself, and the entire entertainment industry, by shifting its
focus from computers to mobile devices. But there is something missing from this story, argues Mariana Mazzucato of Sussex University
in England, in her book, “The Entrepreneurial State”. Steve Jobs was undoubtedly a genius who understood both engineering and design.
Apple was undoubtedly a nimble innovator. But Apple’s success would have been impossible without the active role of the state, the
unacknowledged enabler of today’s consumerelectronics revolution.

Consider the technologies that put the smart into Apple’s smartphones. The armed forces pioneered the internet, GPS positioning and
voice-activated “virtual assistants”. They also provided much of the early funding for Silicon Valley. Academic scientists in publicly funded
universities and labs developed the touchscreen and the HTML language. An obscure government body even lent Apple $500,000 before
it went public. Ms Mazzucato considers it a travesty of justice that a company that owes so much to public investment devotes so much
energy to reducing its tax burden by shifting its money offshore and assigning its intellectual property to low-tax jurisdictions such as
Ireland.

Likewise, the research that produced Google’s search algorithm, the fount of its wealth, was financed by a grant from the National Science
Foundation. As for pharmaceutical companies, they are even bigger beneficiaries of state research than internet and electronics firms.
America’s National Institutes of Health, with an annual budget of more than $30 billion, finances studies that lead to many of the most
revolutionary new drugs.

Economists have long recognised that the state has a role in promoting innovation. It can correct market failures by investing directly in
public goods such as research, or by using the tax system to nudge businesses towards doing so. But Ms Mazzucato argues that the
entrepreneurial state does far more than just make up for the private sector’s shortcomings: through the big bets it makes on new
technologies, such as aircraft or the internet, it creates and shapes the markets of the future. At its best the state is nothing less than the
ultimate Schumpeterian innovator—generating the gales of creative destruction that provide strong tailwinds for private firms like Apple.

Ms Mazzucato says that the most successful entrepreneurial state can be found in the most unlikely place: the United States. Americans
have traditionally been divided between Jeffersonians (who think that he governs best who governs least) and Hamiltonians (who favour
active government).
The secret of the country’s success lies, she thinks, in talking like Jeffersonians but acting like Hamiltonians. Whatever their rhetoric,
governments have always invested heavily in promoting the spread of existing technologies such as the railways (by giving the rail barons
free land) and in seeking potentially lucrative scientific breakthroughs (by financing almost 60% of basic research).

So far, so good. However, Ms Mazzucato omits to acknowledge how often would-be entrepreneurial states end up pouring money down
ratholes. The world is littered with imitation Silicon Valleys that produce nothing but debt. Yes, private-sector ventures also frequently fail,
but their investors know when to stop: their own money runs out. Governments can keep on throwing taxpayers’ money away. It was
once fashionable to praise Japan as an entrepreneurial state being guided to world-domination by the enlightened thinkers in its mighty
industry ministry. Nowadays it is clearer that the ministry has been a dead hand holding back innovation and entrepreneurship.

Ms Mazzucato laments that private businesses are too short-termist. But governments also routinely make investments on the basis of
short-run political calculations rather than long-term pay-offs. She worries that antistatist ideology is reducing the state’s ability to make
important investments for the future. In fact, the explosion of entitlement spending, which is allocating ever more of the country’s income
to the old, is doing more to undermine the entrepreneurial state than the tea party. She is also too hard on business: putting all those
different state-funded technologies together into user-friendly iPads and iPhones required rare genius that deserves rare rewards.

The book offers only hints, rather than a complete answer, to the central practical question in all this: why are some states successful
entrepreneurs while others are failures? Successful states are obsessed by competition; they make scientists compete for research
grants, and businesses compete for start-up funds—and leave the decisions to experts, rather than politicians or bureaucrats. They also
foster networks of innovation that stretch from universities to profit-maximising companies, keeping their own role to a minimum. The
Jeffersonian-Hamiltonian paradox is important here: the more governments think in terms of mighty “entrepreneurial states” the less
successful they are likely to be.

Quibbles aside, Ms Mazzucato is right to argue that the state has played a central role in producing game-changing breakthroughs, and
that its contribution to the success of technology-based businesses should not be underestimated. She is also right to point out that the
“profligate” countries that are suffering the most from the current crisis (such as Greece and Italy) are those that have spent the least on
R&D and education. There are many reasons why policymakers must modernise the state and bring entitlements under control. But one
of the most important is that a well-run state is a vital part of a successful innovation system.
Data original da publicação: 31 de agosto de 2013

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