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A Maçonaria e o Brasão de Armas da Bandeira do Estado do Rio

Grande do Sul
1. INTRODUÇÃO

Durante minhas pesquisas, encontrei dentro do website de um tradicional


colégio do Rio Grande do Sul, o Colégio Farroupilha, uma página com um breve
estudo sobre “Os Símbolos do Rio Grande do Sul”. Muito me chamou a atenção o
fato do brasão de armas deste conter alguns elementos maçônicos que pretendo
através desta breve reflexão trazer a você leitor.

Devo lembrar antes de mais nada, que duas obras foram consultadas para chegar
a estes resultados. A primeira de Sérgio Pereira Couto, Dicionário Secreto da
Maçonaria e, a segunda de W. Kirk MacNulty, Freemasonry: Symbols, Secrets,
Significance. Ambas estão nas referências deste artigo e definitivamente
recomendo a consulta de ambas.
2. O VERBETE

Para começar, acho importante frisar que dois elementos são pontuais na
elaboração não só do brasão de armas, bem como a bandeira do estado com suas
três cores tradicionais. Dentro do website do Colégio Farroupilha, temos uma
referência a dois homens, que poderiam ter sido os principais alicerces da
criação de tais símbolos:

Alguns apontam Bernardo Pires, enquanto outros indicam como


autor José Mariano de Mattos. (ANÔNIMO, 2012, p. 1)

Interessante pensar que antes de partirmos do pressuposto de que tudo está


ligado à maçonaria, seria pelo menos prudente ter uma ideia mais clara se, tanto
Bernardo Pires, bem como José Mariano de Mattos teriam sido irmãos maçons.

Dentro de uma ata maçônica que ficou conhecida por ser a Nº. 67 de 1835, ou
ainda, aquela que deu origem a Revolução Farroupilha, temos uma comprovação
de que pelo José Mariano de Mattos teria sido maçom quando lemos que:

Por proposição do Ir:.1 José Mariano de Mattos, o Tronco de


Beneficência foi destinado à compra de uma Carta da Alforria de
um escravo de meia idade, no valor de 350$000, proposta aceita
por unanimidade. (ALMEIDA, 1835, p. 1)

E quanto a Bernardo Pires? A comprovação aparece em um parágrafo sobre o


brasão rio-grandense, onde João A. de Souza Filho corrobora que:

[...] sua origem é desconhecida, mas se acredita que foi


desenhado originalmente pelo padre Hildebrando e desenhado
em arte final pelo Major Bernardo Pires, que era Maçom e fez
toda a alegoria maçônica ao executar a obra. (SOUZA FILHO,
2017, p. 157)

1 Abreviação de irmão.
Para mim, este argumento é suficiente para crer que dentro de alguns estudos
feitos sobre a simbologia maçônica, poderiam existir outros elementos
maçônicos principalmente dentro do brasão como iremos ver a seguir.

O Lema “Liberdade, Igualdade e Humanidade” segundo Elio Moreira, “tem


origem na Maçonaria e na Revolução Francesa” (MOREIRA, 2008, p. 47). Sérgio
Pereira Couto parece cravar essa informação quando diz que:

A Maçonaria Simbólica usa o Lema da Revolução Francesa, com


uma leve alteração (Liberdade, Igualdade e Fraternidade).
(COUTO, 2009, p. 61)

Ora, o Lema da Revolução Francesa é conhecido por ser “Liberdade, Igualdade e


Fraternidade”, nesse caso, a “leve alteração” a qual cita Couto se encaixaria com o
brasão de armas do Rio Grande do Sul quando nele temos a troca da palavra
Fraternidade por Humanidade? Algo a se pensar.

Ainda dentro do brasão de armas temos uma simbologia peculiar que talvez
poderia ser conectada aos maçons. Por partes então:

1. Temos duas colunas que poderiam ser as colunas maçônicas “Boaz” e


“Jakin” respectivamente.
2. Temos um losango verde que poderia ser uma representação do
compasso e do esquadro conectados um ao outro.
3. Dentro do losango temos duas estrelas em amarelo que poderiam ser
ligadas ao Grande Arquiteto, ou ainda como Sérgio Pereira nos explica,
outras estrelas seriam como “alegorias fixas” (COUTO, 2009, p. 31). No
entanto, iremos notar que dentro da elipse em um azul bem
característico, que para mim parece ter uma ligação direta com outro
símbolo maçom, a Abóbada Celeste, temos outras duas estrelas e, para
corroborar com esta ideia da Abóbada Celeste em si, vejamos o que Couto
nos diz:
[...] a chamada Estrela Flamígera de cinco pontas, que está fixa
na Abóbada Celeste sobre o trono do segundo vigilante e é acesa
durante o desenvolvimento do Ritual do Grau de Companheiro.
(COUTO, 2009, p. 32)

Acho que vale uma pequena observação por conta de algumas coincidências
tendo a citação acima como base. A Coluna Jakin que fica à direita da entrada do
Templo, é a coluna que é de total responsabilidade do Segundo Vigilante e
também segundo Couto, “é onde ficam os Companheiros” (COUTO, 2009, p. 20).
Também acredito que não por acaso, é lá que acontece o Ritual que leva o nome
de quem ali estão sentados, os Companheiros.

4. Entrar na Abóbada Celeste requer imaginar esta e especular sobre. Uma


abóbada2 é uma construção arqueada, o que nos faz lembrar da elipse em
azul no brasão de armas, por outro lado, se tomarmos a Terra como ponto
de partida, a abóbada celeste é o céu em si. Como Couto mais uma vez
sinaliza sobre abóbada celeste, “ela não existia no sentido físico, pois era
formada pelo próprio céu” (COUTO, 2009, p. 6). Isso nos faz pensar que os
três morros em verde, os quais dois servem de alicerce para as colunas,
poderiam ser a Terra em si com a Abóboda Celeste à sua volta.
5. O retângulo branco em seu centro, poderia ser uma representação do
famoso pavimento de mosaico que compõe um “dos ornamentos do
centro da Loja” (COUTO, 2009, p. 83).
6. A lança no topo do brasão, pelo menos dentro do que entendi ser este
símbolo, segundo Couto:

É um instrumento usado em certos Ritos que simboliza a força e


a proteção. (COUTO, 2009, p. 60)

Outras observações estão ligadas ao posicionamento das estrelas. Teriam estas,


alguma ligação com os pontos cardeais? O que sabemos é que toda a Loja é

2 Curvado, corcovado: costas abobadadas.


orientada para se encaixar dentro dos pontos cardeais e também, apesar de
algumas fontes sugerirem que as plantas no centro do retângulo sejam
tradicionais do Rio Grande do Sul, levanto dúvidas se pelo menos uma delas não
seria uma acácia, símbolo forte dentro da maçonaria. Até as faixas que adornam
as duas primeiras bandeiras da frente do brasão de armas, aparecem como
símbolos maçônicos na obra de Couto. Acho que por fim, e ainda no campo
especulativo também, Couto poderia ter dado pistas sobre os canhões, a espada e
as bandeiras quando nos apresenta uma tabela em sua obra, relacionada ao
banquete, outro elemento importantíssimo dentro da maçonaria.

a. Bandeja – Bandeira
b. Faca – Espada
c. Copo – Canhão

Claro que as informações acima sobre os elementos do banquete são apenas uma
suposição e logo, podem ter significados completamente diferentes, no entanto,
que estes símbolos constam na obra de Couto, isto é um fato.

Mas acho que outro ponto, ainda que bem discreto e muito interessante, é o
barrete frígio na ponta da espada. Definitivamente um símbolo republicano e
visto que, tivemos em nosso país uma grande massa de maçons republicanos que
trabalharam a favor da República no Brasil, não seria de se espantar achar tal
símbolo dentro do brasão de armas rio-grandense. Dentro da obra de Milton
Fortuna Luz, a explicação do barrete frígio vem de Pereira Lessa o qual
corrobora que:

[...] muitos clubes republicanos menos radicais (pelo menos em


termos de heráldica) usaram bandeiras com o mesmo desenho, as
mesmas cores e o mesmo escudo imperial, onde apenas a coroa foi
substituída pelo barrete frígio ou por uma estrela de prata. (LUZ,
2005, p. 76)

Coincidentemente, a bandeira do Estado de Santa Catarina detém os dois


símbolos em seu brasão de armas.
Para concluir, as baionetas ficaram sem algum tipo de comprovação uma vez que
dentro das obras consultadas, nada foi encontrado sobre estas.
3. REFERÊNCIAS

ALMEIDA, Domingos José de Almeida: Ata maçônica nº. 67 que deu origem a
Revolução Farroupilha. In: Os Templários. Disponível em:
<http://www.ostemplarios.org.br/txt/bib/b1120409082928.pdf> acesso em
22/11/2017.

ANÔNIMO: Os símbolos do Rio Grande do Sul. In: Colégio Farroupilha.


Disponível em: <
http://colegiofarroupilha.g12.br/arquivos/S%C3%ADmbolos%20RGS.pdf>
acesso em: 17/11/2017.

COUTO, Sérgio Pereira: Dicionário secreto da maçonaria. 1ª. Edição. São


Paulo-SP: Universo dos Livros, 1999.

LUZ, Milton Fortuna: A história dos símbolos nacionais. 2ª. Edição. Brasília-DF:
Secretaria Especial de Editoração e Publicações do Senado Federal, 2005.

MACNULTY, W. Kirk: Freemasonty: symbols, secrets, significance. 1ª. Edição.


Nova Iorque-NY: Thames & Hudson Inc., 2006.

MOREIRA, Elio: Semana Farroupilha: o orgulho do gaúcho. 1ª. Edição.


Joinville-SC: Clube de Autores, 2008.

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