Você está na página 1de 17

Espelho Negro: Representações da Racialidade na Série "Black Mirror

Artigo elaborado para a conclusão da disciplina “Análise Crítica de Mídia” na USP , 2023

Introdução:

A série "Black Mirror" é reconhecida por sua crítica à relação entre tecnologia e sociedade,
tornando-se um campo relevante de análise para questões culturais Desde sua estreia em
2011 até sua última temporada em 2023, a série oferece uma visão das transformações
sociais ao longo de mais de uma década. Neste trabalho, investigaremos as representações
nos episódios "O Hino Nacional", o primeiro da série, e "Demônio 79", o último episódio da
última temporada. Analisaremos criticamente esses dois extremos temporais para explorar
as mudanças no tratamento das questões raciais.

A escolha desses pontos não é aleatória; está fundamentada em uma trama maior que
atravessa o universo da série. O episódio inaugural, "O Hino Nacional", apresenta Michael
Callow, um primeiro-ministro preocupado com questões humanistas, enquanto o último,
"Demônio 79", introduz Michael Smart, um extremista racista que supostamente sucede
Callow no poder por meio de um golpe de estado. Nosso objetivo é destacar essa
progressão e sua relação com as abordagens raciais nas narrativas, explorando as
diferenças, nuances e continuidades presentes.

Será adotado um método qualitativo baseado na análise textual e visual de "Black Mirror"
com foco nas representações raciais, incluindo a relação entre a narrativa e o contexto
sociopolítico, os elementos visuais e simbólicos nos episódios e a caracterização dos
personagens negros, buscando por características individuais e a evolução de seus papéis
ao longo das narrativas e considerando sua complexidade e contribuição para a trama.

Para atingir esse objetivo, serão utilizadas, entre outros teóricos, as ideias de Stuart Hall
sobre representações e identidades como base para nossa análise. Sua abordagem nos
permitirá compreender como as representações raciais são construídas, moldam
percepções e interagem com o contexto sociopolítico. Além disso, as reflexões de Oyèrónkẹ́
Oyěwùmí sobre a primazia da sensorialidade do olhar acrescentam uma profundidade
crítica e uma percepção que investiga de fora o pensamento ocidental, subvertendo a
ordem posta entre observador e observado.

Contexto Sócio Político

Conforme Xavier (2003), a experiência visual é um convite incessante a observar o mundo


sob diferentes ângulos, porém, para enxergar verdadeiramente mais, é necessário
questionar os termos desse olhar. Observar o mundo com uma perspectiva crítica,
examinando não apenas o que está visível, mas também os mecanismos que tornam visível
o que está fora do campo de visão. Por este ângulo é proposta a análise do material
audiovisual como metáfora para as novas sensorialidades que organizam o modo como se
produzem as transformações na experiência e não só na estética (Martín-Barbero 1997).

"Black Mirror" capturou as tensões e complexidades dessa era, abordando temas como
tecnologia, poder, identidade e sociedade de maneira provocativa e crítica. As narrativas
sombrias e especulativas da série refletiram as incertezas e as questões profundas que
permeavam a sociedade pós-moderna, fazendo dela um espelho distorcido das
preocupações e dilemas da época. A continuidade da série em 2023 se dá em um cenário
global que continua sendo marcado por transformações significativas, moldando as bases
em que as narrativas distópicas da série continuam a ecoar.

Bakhtin (apud Shohat e Stam, 2006) formula a noção de que metáfora artística, a literatura
e o cinema não se referem diretamente ao "mundo", mas representam suas linguagens e
discursos, ressaltando o discurso artístico como uma versão mediada de um mundo
sócio-ideológico que transcende a veracidade referencial ingênua. Essa visão sustenta que
as representações artísticas são intrinsecamente sociais, pois refletem discursos sociais e
históricos. então, se a discussão sobre identidade, diversidade e representatividade
permanece central, "Black Mirror" continua sendo um espelho distorcido que reflete esses
complexos dilemas, questionando a natureza da humanidade em um mundo onde o tempo
tende a zero.

A Série Black Mirror

No entanto, eu aprecio essas coisas. Eu fico animado com


aparelhos, me delicio com cada novo aplicativo milagroso. Como um
viciado, eu verifico minha linha do tempo do Twitter no momento em
que acordo. E frequentemente me pergunto: tudo isso é realmente
bom para mim? Para nós? Nada dessas coisas foi imposta à
humanidade – nós as abraçamos alegremente. Mas para onde isso
está nos levando? Se a tecnologia é uma droga – e parece mesmo
uma droga – então, precisamente, quais são os efeitos colaterais?

A série "Black Mirror" é uma produção televisiva britânica de ficção científica, criada por
Charlie Brooker. Sua abordagem concentra-se na obscuridade das consequências não
previstas de novas tecnologias. Através de episódios independentes, a narrativa se
desenrola em cenários de um presente alternativo ou um futuro próximo fazendo dos
gadgets e seus usos interseção entre os fascículos, o que não apenas expõe dilemas
éticos e morais, mas também desempenha o papel de uma espécie de DNA da cibercultura,
elementos que se entrelaçam na tessitura das interações sociais, contribuindo para a
produção de modos de subjetivação, conforme discutido por Pocahy e Cruz (2020).

A série estreou originalmente no canal Channel 4, no Reino Unido, em dezembro de 2011.


Posteriormente, a Netflix adquiriu os direitos e encomendou uma terceira temporada
inicialmente composta por 12 episódios. No entanto, esses episódios foram divididos em
duas temporadas de seis episódios cada. A quarta temporada estreou na plataforma em 29
de dezembro de 2017. A quinta temporada, confirmada em março de 2018, foi lançada em 5
de junho de 2019, e a sexta temporada foi lançada em junho de 2023. As duas primeiras
temporadas foram produzidas pela Zeppotron para a Endemol. Comparada a uma mistura
de "The Twilight Zone" e "Tales of the Unexpected", suas histórias carregam uma aura de
"paranoia tecnológica", o lado obscuro de nossa dependência de dispositivos
eletrônicos.(Brooker 2011).
Hino Nacional

“Todos / Todos por aqui / Todos estão muito perto / Todos estão com
medo / Estão esperando / Estão esperando”

Na origem a história é inspirada pela música "The National Anthem" da banda inglesa
Radiohead, cuja letra aborda temas de medo e expectativa. De maneira curiosa, a cena do
porco no episódio foi retirada de uma revista em quadrinhos dos anos 70 chamada
"Fabulous Furry Freak Brothers" onde um policial é obrigado a ter relações com um porco.
Ademais, o termo "pig" (porco) é frequentemente utilizado como gíria depreciativa para
"policial" tanto em inglês britânico quanto norte-americano e a expressão "fuck the pigs"
(fodam-se os porcos) é um xingamento comum usado por grupos vulnerabilizados
perseguidos pela polícia (Costa, 2022). Essa referência na trama representa uma
interessante interseção entre a metáfora conceitual e a literalidade ficcional, uma
proposição “muito Black Mirror”.

.O enredo do episódio "Hino Nacional" apresenta o primeiro-ministro britânico confrontado


com uma exigência extrema: submeter-se a um ato profundamente humilhante como
condição para o resgate da Princesa Susannah, uma figura querida pelo público e herdeira
da coroa britânica. A trama provoca reflexões sobre o poder da manipulação midiática e
suas implicações para tanto indivíduos quanto estruturas governamentais.

No estudo realizado por Costa (2022), o autor explora várias perspectivas acadêmicas em
relação ao filme. Ele menciona que o episódio pode ser interpretado como uma crítica ao
"controle da informação pelas mídias de massa", abordando também o "embate entre
diferentes obrigações morais em conflito". Além disso, Costa destaca a visão de que o
episódio trata da "incapacidade geral, tanto do Estado quanto da sociedade civil, em conter,
moderar ou reprimir conteúdos nocivos na internet". No entanto, ele acrescenta que, de
maneira especial, "Hino Nacional" lida com a experiência de um indivíduo que, pressionado
pelas estruturas sociais ao seu redor, se vê completamente esvaziado de poder. Isso
ressalta a complexidade das dinâmicas sociais e a influência da tecnologia na sociedade
contemporânea.

Para Pocahy e Cruz (2020) 'Black Mirror' nos oferece uma cartografia complexa das
subjetivações contemporâneas, explorando mapas processuais, planos de significação, fluxos e
afecções micropolíticas, destacando que o personagem central do episódio personifica um
modelo universal de ser humano, enraizado no contexto do norte global e caracterizado
como um homem branco, casado, cristão, heterossexual e dotado de poder. Essa
figuratividade levanta o questionamento sobre a representação do poder e como ela
frequentemente remete a figuras da comunidade ocidentocêntrica, imbricando, desta forma,
elementos de racialidade, pretensamente biológicos (Hall, 2006), em articulação com
categorias do discurso de poder, autoridade e liderança.

Costa (idem) deduz que “Hino Nacional” trabalha com o desvirtuamento dos clássicos
contos de fada e das crônicas arturianas, nos quais um cavaleiro honrado, justo e corajoso
enfrenta dificuldades draconianas para salvar a princesa-donzela de um perigo mortal, ideia
ratificada por Mendes (2019), que a sustenta nas proposições greimasianas, dispondo que
o eixo central da narrativa, focado no resgate da princesa Suzannah, reconstrói e
reinterpreta, à luz da ficção científica do século XXI, narrativas folclóricas, míticas e
populares e que estes elementos das narrativas clássicas são incorporados ao contexto da
série, adicionando camadas de significado à personalização do primeiro-ministro e ao
enredo como um todo.

A representação da princesa em perigo e seu subsequente resgate também encapsulam


outro arquétipo profundamente enraizado na narrativa cultural, pelo qual se observa o forte
apelo emocional na audiência quando uma mulher branca é apresentada em situação de
perigo. Esse arquétipo da "vítima feminina branca pura" é endêmico nas culturas midiáticas
anglo-americanas (Munt, 2017) e possui uma influência significativa no imaginário coletivo,
provocando questionamentos sobre como a atenção e a simpatia são distribuídas de
maneira desigual em relação a outros grupos sociais e como essa dinâmica não pode ser
dissociada da herança de uma hierarquia de poder e privilégios legada pelo colonialismo, o
que faz ainda mais sentido diante de uma análise da imagem da inglesidade (englishness)
que, como desenhada por Hall (2006) é uma identidade social construída no interior da
representação, através da cultura, e não fora dela.

Costa (idem) descreve essa ideia nacionalista como estruturada sobre “fortes associações
masculinas”, em paralelo ao papel secundário feminino como “guardiã do lar” e “mãe dos
filhos da nação”, fazendo notar como esta visão pode ser alinhavada com a noção da
infantilidade do personagem Callow, que em inglês, significa: “inexperiente”; “destreinado”.
Na fatura do filme, o dilema se resolve na elaboração de uma persona que carece do
acompanhamento de outra pessoa mais madura, a fim de orientar seu comportamento e no
amparo das figuras secundárias da “esposa preocupada, protetora do lar e da família
tradicional inglesa” bem como na chefe de gabinete, que é apresentada como uma espécie
de “cuidadora do primeiro-ministro”.

A soma destes aspectos ao estereótipo da princesa donzela levam a afirmação de que “a


inglesidade atuou como uma verdadeira ideologia, influenciando os realizadores de Black
Mirror a reproduzirem, de forma inconsciente, estes papéis.” Essa observação deixa claro
que as representações culturais e identitárias desempenham um papel significativo na
configuração dos personagens e dos enredos. Essa abordagem é alinhada à visão de
Bakhtin (citado por Shohat e Stam, 2006) sobre a arte como uma forma de enunciação
socialmente situada. A narrativa do filme é uma rede de signos que são direcionados por
sujeitos historicamente formados, e endereçados a outros sujeitos que também são
construídos socialmente.

No que diz respeito aos recursos imagéticos, na primeira parte do episódio, a cenografia
adota uma paleta de cores azuis intensificada, criando um contraste marcante com a
imagem da televisão que exibe o apelo emocionado da refém. Esse uso da cor azul remete
à emocionalidade reduzida, à racionalidade e ao discurso impessoal que são atribuídos
culturalmente à identidade do que poderíamos chamar de "norte global". A escolha
cromática não é acidental. O azul, frequentemente associado a elementos como frieza,
tecnologia e impessoalidade, serve como um contraponto visual ao apelo emocional exibido
na tela da televisão. Essa discrepância entre a frieza da paleta azul e o drama humano
exibido no aparelho de TV cria uma tensão visual que espelha a desconexão entre a
emoção humana e a abordagem mais lógica e racional frequentemente associada às
decisões de poder. Esta leitura também é referenciada por Costa, que a sinaliza ao avaliar a
constituição identitária de Alex Cairns, secretária de gabinete, ressaltando que “na
sequência em que mostram o vídeo para o primeiro-ministro, de madrugada, todo o cenário
está azulado e escurecido, exceto por uma fonte de luz amarela que está sobre as mãos de
Alex Cairns, representando sua capacidade de agência. “

Analisando a sequência sob a lente da racialidade, é perceptível que enquanto a cena se


desenrola dentro do círculo íntimo do poder, mais especificamente na residência do
primeiro-ministro e seus principais assessores, a presença é exclusivamente composta por
pessoas brancas, predominantemente homens, o que reafirma o atravessamento
hegemônico da “inglesidade”. Somente quando a narrativa começa a se desenvolver na
esfera midiática é que um indivíduo que não pode ser lido como branco é introduzido. Essa
personagem é uma mulher chamada Malaika, cujo nome já sugere uma conotação não
ocidental, o que é reforçado na corporeidade da atriz elencada, Chetna Pandya.
A abordagem pós-modernista que permeia a série é fundamentada nas características de
intertextualidade, hiper-realismo e metalinguagem (Cardoso, 2020), claramente evidentes
no episódio inaugural. Em “Hino Nacional” o primeiro plano é o embate entre a política
institucionalizada e os novos agentes da comunicação, denunciando a reconfiguração das
dinâmicas tradicionais de influência e impacto. Sendo assim, o ambiente midiático é
retratado como um centro de poder, e é dele que Malaika emerge como uma figura
singular. Sua presença desafia o protagonismo preestabelecido nas figuras do ministro e
seus assessores.

No momento em que surge na cena, a personagem está em conflito com uma figura que
representa a liderança do editorial, mais uma vez masculina e branca. Enquanto este traz
em sua fala o respeito aos acordos de conduta propostos pelo Estado, Malaika desafia seus
argumentos, buscando direcionar a ação para além dos limites éticos. Conforme Costa
(2022):

“Martin, o editor da UKN, insiste em respeitar a notificação do


Governo, enquanto Malaika encabeça a turma dos jornalistas
descontentes, relembrando a todo tempo que a internet já noticiou e
dá ampla cobertura para o caso do sequestro. O editor diz na
reunião que não é obrigado a cumprir a notificação, mas faz isto
como um gesto de cortesia, e que seguirá o procedimento porque “a
vida de uma mulher está em perigo”

É crucial observar essa interação sob o prisma da ideologia identitária, já recortada aqui,
como um fenômeno que transcende o enredo. Assim o discurso da personagem Malaika é
constituído dentro de uma representação que corresponde às narrativas ocidentais sobre
corpos femininos negros. Ao adotar os conceitos de Oyěwùmí (2002), revela-se no cenário
duas categorias sociais que emergiram da construção do pensamento europeu: o "homem
da razão" (o pensador) e a "mulher do corpo" e essas categorias foram construídas de
maneira opositiva e dicotômica.

A continuidade da sequência apontada negrita essa oposição conflituosa, conforme


transcrito por Costa (idem):
Insatisfeita, Malaika quer que o “primeiro-ministro se foda”. “Isso é
como o 11 de setembro”, exagera Malaika, “e estamos transmitindo
receitas de sanduíche”.Neste momento, chega a informação de que
emissoras no mundo todo estão cobrindo o tema. Martin não tem
outra opção a não ser coordenar a equipe para acompanhar o
desenrolar dos acontecimentos.

Sendo assim Malaika não se inscreve no papel feminino de mãe e guardiã que fomenta as
personagens femininas brancas, ela é caracterizada como "irresponsável, impetuosa,
aborrecida e nervosa", além de ser “ambiciosa e determinada a conquistar sucesso e
mudança em sua carreira e vida por meio de uma reportagem impactante” (Costa, 2022).
Na abstração de um vilão, posto que o “terrorista” que está a manipular os fatos só se
enuncia ao final, Malaika emerge como uma figura singular, assumindo a função de
anti-herói e desempenhando o papel crucial de articuladora. Sua presença subverte a
autoridade originária, é ela o antônimo do “englishness".

Nesse ponto, a construção da alteridade, tal como foi estabelecida desde os tempos do
projeto colonial, entra em ação e, sob esta influência, a presença da figura feminina e negra
é requisitada. Conforme Ferreira e Hamlin (2010) isto ocorre porque, tal qual algo
considerado monstruoso, o "outro" é algo que, a princípio, não deveria circular e, ao mesmo
tempo, algo que não pode deixar de circular, pois isso resultaria na perda da oposição
fundamental que sustenta o discurso civilizador. O "outro" é o elemento oposto ao que é
considerado civilizado. Na sua feiura, desproporção e desordem, o "monstro" é a
representação desse "outro" em relação ao civilizado. A presença do "monstro" é essencial
para a definição do que é considerado "civilizado", já que a oposição entre eles é crucial
para o funcionamento do discurso civilizador. Anzaldua (1980) exclama: “Por que somos
monstros perigosos? Porque desequilibramos e muitas vezes rompemos as confortáveis
imagens estereotipadas que os brancos têm de nós.”

Colacionando o trabalho de Fonseca e Silva (2018), que investiga especificamente a


atuação da personagem em relação à atividade de jornalismo, temos uma breve descrição
do roteiro que sustenta Malaika:

Decidida a produzir sozinha uma matéria sobre o paradeiro de


Susannah, ela telefona para um rapaz que trabalha na assessoria de
comunicação do Primeiro-Ministro na busca por informação. “Não
será possível ajudar”, responde o rapaz. “Eu sou muito amigável
quando eu bebo, mais ainda quando estou grata”, insinua-se Malaika
para o rapaz. “Nada a declarar no momento”, afirma o funcionário,
desligando o telefone. Após o diálogo, a jornalista envia ao rapaz
uma imagem em que ela aparece trajando apenas um sutiã na
tentativa de convencê-lo a fornecer informações. Em retribuição, o
rapaz repassa à jornalista a possível localização do cativeiro de
Susannah. Como forma de agradecimento, Malaika envia outra
imagem sua. A narrativa não deixa claro, mas, dada a reação do
rapaz, a fotografia enviada provavelmente devia apresentar nudez.
Em outro trecho, o trabalho citado descreve o desfecho da personagem:

“Mesmo o local estando cercado, Malaika consegue burlar a barreira


policial e adentrar o recinto, transmitindo as suas ações para o seu
chefe via celular. Ele, apesar de reticente sobre a atitude da
jornalista, não a proíbe de seguir em frente. No local, os militares
encontram apenas um manequim de loja amarrado a uma cadeira.
Malaika, que está na sala ao lado gravando a sua ação, faz barulho
com o seu celular. Os agentes a ouvem, ordenando que ela se
abaixe. Assustada, ela sai correndo do prédio e consegue chegar até
a área externa, mas é atingida pelos tiros dos policiais, ficando
ferida.”

Como apontado, ela é retratada como impulsiva e sexualizada, desafiadora das noções de
racionalidade e ordem valorizadas pela sociedade. Através de suas ações e diálogos,
Malaika tem uma atitude transgressora se tornando um contraponto à autoridade legitimada.
Se Costa (2022) se questiona quanto ao plot da jornalista, que somado ao fato dos papéis
predominantemente maternais reservados às mulheres, sugerirem um viés machista na
condução do filme, a teoria de Kilomba (2019) é pertinente para compreender Malaika. Ela
se alinha à concepção de que no contexto branco, o corpo negro é frequentemente
associado a aspectos reprimidos e tabus, como agressividade e sexualidade. A moldura
estigmatizante acaba por fazê-la coincidir com a ameaça, o perigo, o violento, o excitante e
também o sujo, mas desejável (Kilomba, idem) . Sua presença não apenas confronta o
protagonismo branco, mas leva a refletir sobre a transmutação da diferença em estigma
(Soares, 2015), ressaltando a complexidade (ou a ausência de complexidade) das relações
étnicas representadas na narrativa.

Memmi (citado por Shohat e Stam, 2006) ressalta o peso do "excesso de valor simbólico"
atribuído a essas alegorias no discurso hegemônico, observando que "todo papel subalterno
é visto como uma sinédoque que resume uma comunidade vasta, mas homogênea." Essa
abordagem acaba por contribuir para a construção de Malaika como um sujeito alegórico,
resultando na simplificação e generalização de comportamentos negativos atribuídos aos
grupos oprimidos. Essa construção alegórica também permite, no desfecho dos eventos,
que a ficção coloque a personagem em uma situação de vulnerabilidade e violência sem
desconfortar o espectador. Isso porque a representação alegórica já contextualizou a
violência como elemento aceito e esperado .

Butler, por sua vez, (2019) categoriza os atos performativos de fala como agentes políticos
que exercem o poder de criar o campo de sujeitos culturalmente aceitáveis. Esses atos não
apenas nomeiam, mas também constituem os referentes, moldando a compreensão da
realidade.O posicionamento acrítico, ao revés de normalizar a diferença, flui para a
manutenção de estereótipos, preconceitos e atos de exclusão. No vácuo de uma discussão
mais aprofundada sobre as articulações normativas racializadas e de gênero (Butler, 2019)
que estruturam o campo de Malaika, resta que o regime de violência que pesa sobre seu
corpo acaba sutilmente permeado por estigmas que vão reverberar nas representações
sociais.

A inserção de Malaika em um espaço que carrega conotações de poder e distinção é


notável. No entanto, essa presença aparentemente oferece uma solução ilusória para os
questionamentos raciais. A complexidade reside no fato de que, embora a questão não seja
discutida explicitamente ao longo do episódio, a narrativa determina o o personagem negro
dentro do campo do estereótipo, o que ilustra como a estigmatização racial pode ser
moldada não apenas pela intenção declarada, mas também pelas estruturas narrativas e
culturais que permeiam a produção audiovisual.

Demon 79

Conforme destacado por Charlie Brooker, a denominação "Red Mirror" para o episódio
"Demon 79" reflete uma direção divergente em relação ao enfoque usual em tecnologia. A
introdução do episódio com a sequência de título "Red Mirror presents" sinaliza uma
distinção, indicando que ele se situa em um território distinto, porém interligado, em relação
a "Black Mirror". Enquanto a série costuma se concentrar em representações de distopias
tecnológicas e sátiras midiáticas, o episódio em questão apresenta uma dimensão
sobrenatural mais proeminente, evocando o horror característico da década de 1970.1

“Os anos 70 parecem suficientemente distantes para não serem agora, mas tão distantes
que parecem completamente separados de nós.Ainda estamos a falar dos típicos partidos
políticos britânicos, estamos a falar do mesmo tipo de slogans e retórica de campanha”, diz
Paapa Essiedu, ator que dá vida ao personagem Gaap2. A imersão retrô provoca o público

1
BROCKLEHURST, Harrison. Here’s what you need to know about "Red Mirror," Black Mirror’s new
horror direction. The Tab, [S.l.]. Disponível em:
https://thetab.com/uk/2023/06/20/heres-what-you-need-to-know-about-red-mirror-black-mirrors-new-h
orror-direction-313366. Acesso em: 3 ago. 2023.
2
As estrelas de Demon 79 de Black Mirror falam do cenário de época, dos fatos estranhos e do
regresso à série após 7 anos". Junho 26, 2023. Disponível em:
https://pt.gameme.eu/as-estrelas-de-demon-79-de-black-mirror-falam-do-cenario-de-epoca-dos-fatos-
estranhos-e-do-regresso-a-serie-apos-7-anos/. Acesso em: 3 ago. 2023.
a sondar as origens e as estruturas do movimento extremista que desemboca no discurso
de ódio.

O despertador toca às 7:30, marcando o início do dia para uma mulher. O plano se
desenrola, revelando a simplicidade de seu espaço e uma rotina solitária. No espelho, ela
avalia sua aparência e ensaia um sorriso, em busca de um vislumbre de conexão consigo
mesma. Um porta-retrato exibe uma fotografia de uma indiana vestida em trajes
tradicionais, localizado no centro da sala, trazendo à tona o pertencimento da personagem.

Nida Huq é uma mulher normal, porém está perigosamente deslocada das suas fronteiras e
empregada em uma loja de sapatos nas Midlands. A co-roteirista Bisha K. Ali concorda que
a intenção era retratá-la como uma figura solitária e, consequentemente, vulnerável3. O
próprio nome da personagem, com sua semelhança fonética com "need a hug" (preciso de
um abraço), contribui para essa caracterização.

Enquanto Nida sai de casa e se dirige ao trabalho, a cenografia desenha um mundo tão
castanho quanto a sua pele. Anjana Vasan, intérprete de Nida, compartilha suas impressões
sobre o cenário da loja de departamentos: “Lembro-me de como o departamento de
calçados era fantástico quando entrei no cenário e me misturei no fundo como uma flor de
parede."4 É como se o destino da protagonista fosse o de se camuflar na paisagem.

A ocupação de Nida em uma loja de departamentos, um ícone da época, surge como um


reflexo marcante do contexto histórico. Ao chegar ao trabalho, ela cumprimenta os clientes,
embora sua presença seja praticamente ignorada por eles. A invisibilidade da protagonista
diante das pessoas brancas que a circundam é uma tônica dominante durante a primeira
metade da trama. Essa invisibilidade carrega consigo camadas de significado, sugerindo
uma representação sutil das tensões raciais subjacentes no enredo.

3
HOOSE, Mo. Black Mirror: ‘Demon 79’ (Review and Easter Eggs). By Mo Hoose, [S.l.].
Disponívelhttps://bymohoose.com/2023/08/03/black-mirror-demon-79-review-and-easter-eggs/.
Acesso em: 3 ago. 2023.
4
As estrelas de Demon 79 de Black Mirror falam do cenário de época, dos fatos estranhos e do
regresso à série após 7 anos", idem
A dinâmica de isolamento que a personagem experimenta ressoa com as discussões sobre
estigmas e representações sociais previamente apresentadas. Nida emerge como um
exemplo vivo da intrincada tessitura das interações sociais, onde as representações das
minorias podem ser distorcidas pela hegemonia cultural, resultando em sua vulnerabilidade
à invisibilidade e à marginalização (Shohat e Stam, 2006). Esse fenômeno é encapsulado
na dialética de "subhumanidade", um termo que encontra eco analítico nas reflexões de
Butler (2018) as quais exploram a concepção de um domínio que escapa ao
reconhecimento sob as normas estabelecidas, contudo, é discernível através das
perspectivas contra-hegemônicas: uma porção da humanidade é oficialmente legitimada
como tal, enquanto outra, igualmente humana, é privada desse reconhecimento. A
experiência de Nida nos permite vislumbrar as interações que delineiam essa ideologia de
inclusões e exclusões.

Paralelamente, o enredo do filme edifica sua base na exposição das relações de


branquitude, destacando como os indivíduos brancos engendram a manutenção de seus
privilégios ao associarem Nida ao estigma de subumanidade. Essa progressão é
acompanhada por um vínculo de proteção recíproca e incentivo entre os brancos,
potencializando a influência do capital social e das redes de relacionamento dos
privilegiados. É necessário notar que as representações desfavoráveis do grupo
hegemônico não amplificam distorções nem estereótipos, pois essa coletividade é
intrinsecamente percebida como naturalmente diversificada, conforme bem pontuado por
Shohat e Stam (mesma fonte).

As interdições raciais, de igual modo, desempenham um papel essencial como ponto de


partida para a introdução do elemento sobrenatural na trama. De maneira fortuita, Nida se
fere em um móvel antigo, levando seu sangue a escorrer sobre uma peça de madeira que
ostenta um símbolo de aparência enigmática e essa imagem evoca uma referência muito
britânica; Macbeth de Shakespeare: "Pelo corte de meus polegares / Algo perverso vem por
aí".5 Esse momento desvenda o primeiro dos "easter eggs" que conectam o episódio
"Demon 79" ao multiverso de "Black Mirror". O talismã que Nida encontra é uma variante do
símbolo apresentado previamente no episódio "Urso Branco", que prenuncia uma sociedade
distópica caracterizada pelo culto à violência e pela banalização do sofrimento.6

5
PITÃO, Maria Eduarda; ETTENHOFER, Valerie. Black Mirror acaba de abrir a porta para um novo
mundo de terror. IGN Brasil, [S.l.]. Disponível em:
https://br.ign.com/black-mirror/110380/feature/black-mirror-acaba-de-abrir-a-porta-para-um-novo-mun
do-de-terror. Acesso em: 3 ago. 2023.
6
LEONARDO, Breno. Urso Branco: o culto à violência e a banalização do sofrimento. 19 de janeiro
de 2018. In: Angústias contemporâneas em Black Mirror: um olhar da Psicologia. Disponível em:
https://encenasaudemental.com/cinema-tv-e-literatura/urso-branco-o-culto-a-violencia-e-a-banalizaca
o-do-sofrimento/. Acesso em: 3 ago. 2023.
Nida não é retratada como um personagem hiperssexualizado. Esta abordagem é feita de
maneira crítica, seguindo um viés que direciona a violência do dominante para o resistente.
Embora Nida seja objetificada e fetichizada pelo ambiente branco e masculinista, sua
construção como um ser desejante toma um tom romântico, na figura de um ídolo pop.
Enquanto assiste aos telejornais que noticiam a ascensão do partido conservador e da
extrema direita de Thatcher, Nida decide mudar de canal e sintonizar em um programa de
parada musical. O que se desdobra diante dela é o grupo Boney M, com a performance de
Bobby Farrell que a atrai.

A declaração de Gaap, ao se transformar em Farrel, "Vi sua alma e parecia que este te
atrai", introduz um subtexto significativo que evoca a inscrição do corpo negro como belo.
Essa fala do personagem traz à tona questões sobre a percepção e a representação do
corpo negro. Neste ponto o roteiro dialoga com um contexto mais amplo de construção de
superioridade branca que permeia a mídia. Essa estética, meticulosamente formulada,
tece-se através de diversos suportes de mídia e enraiza narrativas de beleza, cultura,
ciência e filosofia que perpetuam a superioridade branca (Reis da Silva, 2016),
paralelamente inferiorizando outras existências culturais e étnicas, moldando percepções e
definindo gostos.
Ao se apresentar como um demônio, Gaap estabelece um elemento sobrenatural no
enredo, evocando a curiosidade e o desconforto dos espectadores. Essa caracterização
também ressalta o contraste entre a natureza humana da protagonista Nida e a natureza
aparentemente não humana de Gaap, e vai destacar uma simbiose entre ambos. Torna-se
aparente que o demônio não é apenas um elemento externo, mas também uma
personificação dos impulsos internos reprimidos de Nida, presentificando a sua própria
agressividade contida e seus desejos reprimidos. Assim, o sobrenatural não é apenas uma
entidade externa, mas também uma manifestação de conflitos internos profundos. A
relação entre os personagens funciona como um elemento figurativo da fragmentação das
identidades proposta por Hall (2006), segundo o qual as mudanças estruturais que
fragmentam nossas localizações como indivíduos sociais estão abalando a ideia que temos
de nós próprios como sujeitos integrados.

O cenário de intensificação do extremismo conservador desempenha um papel fundamental


como pano de fundo no episódio, delineando uma mudança dramática no cenário político
entre as figuras do primeiro-ministro estável e dotado de preocupações humanistas, como
apresentado no episódio inaugural da série, para contrastar com a ascensão abrupta do
extremista racista por meio de um golpe de Estado. Essa transição é condensada em uma
sequência dinâmica, na qual a ascensão de Michael Smart ao poder é visualmente
retratada, sugerindo que ele tomou o lugar de Callow após um golpe, instaurando assim um
regime de opressão.A série recorre ao uso característico de seus "easter eggs" para
construir essa narrativa. A inclusão dos cães predadores de "Metalhead" e a representação
de uma imagem de reconhecimento facial em um nível ocular explorada em "Hated In The
Nation" são elementos que estabelecem conexões que sugerem a atmosfera de violência e
controle que Gaap pressagia após sua ascensão ao poder.7

A escalada de violência profetizada por "Black Mirror" atualiza a proposta colonialista de


segregação e aniquilamento. Embora na modernidade esse projeto tenha assumido a forma
de um sistema escravista, no pós-moderno ele se disfarça sob a roupagem do
ultranacionalismo, mas aponta para a mesma dialética presente nos dos "textos" dos
corpos, os quais, como discutido por Oyěwùmí (2002), são o alicerce sobre o qual a ordem
social ocidental é fundamentada. Ao colocar Essiedu, um afrodescendente, e Vasan, uma
mulher de ascendência indiana, lado a lado, indivíduo e alter ego, a construção da narrativa
destaca que a questão da racialidade continua sendo central no discurso ocidentocêntrico e
que estes corpos, como dito por Anzaldúa (1980), sempre serão exilados, apartados do que
é considerado “normal”, o “branco-correto”; em qualquer lugar estarão estrangeiros e
vigiados.

7
HOOSE, idem.
Outro aspecto a ser considerado em relação à intérprete de Nida é que a própria Vasan teve
participação em um pequeno papel na terceira temporada, funcionando como um
contraponto à imagem de "branquitude perfeita" dos personagens considerados "valorosos"
no episódio "Queda Livre"8. O fato de que ela agora assuma o papel de uma protagonista
complexa reflete, por si, uma evolução nas representações étnicas presentes na série,
como também apontam os outros elementos colhidos nesta análise.

Não obstante essa reconfiguração de lugares, é forçoso notar que, seja pelo viés da
loucura, seja pela crença em uma percepção sobrenatural, Nida Huq é disfuncional, e ainda
que o enredo busque justificá-la em uma postura defensiva, ela se brutaliza e mata. Quanto
ao seu coadjuvante, bem… Gaap é um demônio. Isso também reverbera na esfera do
simbólico.

Conclusão:

A série "Black Mirror", ao abordar as questões de interseccionalidade, demonstra esforço


em oferecer representações mais autênticas e inclusivas, ao mesmo tempo que se
compromete em denunciar a contínua perpetuação de violências e privilégios. Contudo, é
notável que a ideologia dos idealizadores da série permeia a narrativa e, mesmo com uma
reformulação dos elementos da trama, estereótipos e reducionismos ainda podem emergir.
A despeito das insurgências contra a manutenção de valores racistas, uma observação
merece ser feita: os personagens negros ainda são retratados de forma disfuncional.

Malaika é associada à uma descontrolada natureza, Nida dissocia da realidade como forma
de liberar sua violência interna, enquanto Gaap é um ser essencialmente maligno.
Reconhecemos que o gênero do terror prima por construções sombrias e alteradas, mas a
análise crítica deve também contemplar o fato de que o excesso do peso simbólico atribuído
às representações se concretiza um problema, especialmente considerando o alcance
massificado da série. A série "Black Mirror" enfrenta um desafio ainda não resolvido na
busca por equilibrar a denúncia de questões sociais da pós-modernidade com a criação de
personagens que evitem a reificação de preconceitos.

8
NIRAULA, Nischal. This ‘Black Mirror’ Season 6 Actress Was Also in One of the Show’s Best
Episodes. PUBLISHED JUN 21, 2023. Disponível em:
https://collider.com/black-mirror-season-6-demon-79-cast-anjana-vasan/. Acesso em: 3 ago. 2023.
Revisão Bibliográfica

"As estrelas de Demon 79 de Black Mirror falam do cenário de época, dos fatos estranhos e
do regresso à série após 7 anos". Junho 26, 2023. Disponível em:
https://pt.gameme.eu/as-estrelas-de-demon-79-de-black-mirror-falam-do-cenario-de-epoca-
dos-fatos-estranhos-e-do-regresso-a-serie-apos-7-anos/. Acesso em: 3 ago. 2023.

ANZALDÚA, Gloria. Falando em línguas: uma carta para as mulheres escritoras do terceiro
mundo. 21 de maio de 1980. Disponível em:
https://periodicos.ufsc.br/index.php/ref/article/view/9880. Acesso em: 3 de agosto de 2023.

COSTA, Felipe Beiragrande da. Influências da Modernidade Tardia na (Des)construção de


Identidades Sociais: Uma Análise de Discurso Crítica do Episódio "Hino Nacional" da Série
"Black Mirror". 2022. 161p. Dissertação (Mestrado em Letras). Universidade Federal do
Amazonas, Manaus/AM.

BUTLER, Judith. Corpos em aliança e a política das ruas: notas para uma teoria
performativa de assembleia. Tradução Fernanda Siqueira Miguens; revisão técnica Carla
Rodrigues. 1ª ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2018.

BROCKLEHURST, Harrison. Here’s what you need to know about Red Mirror, Black Mirror’s
new horror direction. The Tab, [S.l.]. Available at:
https://thetab.com/uk/2023/06/20/heres-what-you-need-to-know-about-red-mirror-black-mirro
rs-new-horror-direction-313366. Access on: 3 Aug. 2023.

BROOKER, Charlie. The dark side of our gadget addiction. The Guardian, [S.l.], 1 dez. 2011.
Disponível em:
https://www.theguardian.com/technology/2011/dec/01/charlie-brooker-dark-side-gadget-addi
ction-black-mirror. Acesso em: 3 ago. 2023.

CARDOSO, Arzirio Alberto. Ambivalências nas relações entre poder e tecnologia em Black
Mirror. 2020. Dissertação (Mestrado em Estudos de Linguagens) - Universidade Tecnológica
Federal do Paraná, Curitiba, 2020.

FERREIRA, Jonatas; HAMLIN, Cynthia. Mulheres, negros e outros monstros: um ensaio


sobre corpos não civilizados. Estudos Feministas, Florianópolis, 18(3): 811-836,
setembro-dezembro/2010.

FONSECA, Ethiene Ribeiro; SILVA, Mayara Martins da Quinta Alves da. A Produção de
Notícia no Contexto da Sociedade de Consumo: Reflexões sobre a Representação do
Jornalismo na Telessérie Black Mirror. In: XX Congresso de Ciências da Comunicação na
Região Nordeste, 20, 2018, Juazeiro – BA. Anais do XX Congresso de Ciências da
Comunicação na Região Nordeste – Juazeiro – BA

HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. 11ª edição. Tradução Tomaz Tadeu
da Silva, Guaracira Lopes Louro. Rio de Janeiro: DP&A, 2006.
HOOSE, Mo. Black Mirror: ‘Demon 79’ (Review and Easter Eggs). By Mo Hoose, [S.l.].
Disponívelhttps://bymohoose.com/2023/08/03/black-mirror-demon-79-review-and-easter-egg
s/. Acesso em: 3 ago. 2023.

LEONARDO, Breno. Urso Branco: o culto à violência e a banalização do sofrimento. 19 de


janeiro de 2018. In: Angústias contemporâneas em Black Mirror: um olhar da Psicologia.
Disponível em:
https://encenasaudemental.com/cinema-tv-e-literatura/urso-branco-o-culto-a-violencia-e-a-b
analizacao-do-sofrimento/. Acesso em: 3 ago. 2023.

MARTÍN-BARBERO, Jesús. Dos meios às mediações: comunicação, cultura e hegemonia.


Prefácio de Néstor García Canclini. Tradução de Ronald Polito e Sérgio Alcides. Rio de
Janeiro: Editora UFRJ, 1997.

MENDES, Conrado Moreira. Entre o sensível e o inteligível: uma leitura semiótica do


episódio Hino nacional, do Seriado Black Mirror / Between the Sensible and the Intelligible:
A Semiotic Reading of the Episode The National Anthem of the Series Black Mirror.
Bakhtiniana: Revista de Estudos do Discurso, São Paulo, v. 14, n. 2, p. 128-149, abr./jun.
2019. ISSN 2176-4573. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.1590/2176-457337406>.
Acesso em: 3 ago. 2023.

MUNT, Sally. Argumentum ad Misericordiam: as intimidades críticas da vitimidade. Dossiê


"Comunicação e Desigualdades", v. 5, n. 1, p. 40-50, 2017. Edição: Revista Parágrafo,
Janeiro-Junho de 2017.

NIRAULA, Nischal. This ‘Black Mirror’ Season 6 Actress Was Also in One of the Show’s Best
Episodes. PUBLISHED JUN 21, 2023. Disponível em:
https://collider.com/black-mirror-season-6-demon-79-cast-anjana-vasan/. Acesso em: 3 ago.
2023.

OYĚWÙMÍ, Oyèrónkẹ́. Visualizando o Corpo: Teorias Ocidentais e Sujeitos Africanos. In:


COETZEE, Peter H.; ROUX, Abraham P.J. (eds). The African Philosophy Reader. Tradução
para uso didático de Wanderson Flor do Nascimento. Nova York: Routledge, 2002, p.
391-415.

PITÃO, Maria Eduarda; ETTENHOFER, Valerie. Black Mirror acaba de abrir a porta para um
novo mundo de terror. IGN Brasil, [S.l.]. Disponível em:
https://br.ign.com/black-mirror/110380/feature/black-mirror-acaba-de-abrir-a-porta-para-um-n
ovo-mundo-de-terror. Acesso em: 3 ago. 2023.

POCAHY, F.; CRUZ, T. CORPO, GÊNERO E SEXUALIDADE EM BLACK MIRROR:


CARTOGRAFIAS AUDIOVISUAIS. Communitas, [S. l.], v. 4, n. 7, p. 91–108, 2020.
Disponível em: https://periodicos.ufac.br/index.php/COMMUNITAS/article/view/2836. Acesso
em: 9 ago. 2023.

REIS DA SILVA, C. R. (2016). Beleza negra, orgulho crespo: no corpo (des) constrói-se a
(in) diferença, o estigma. Projeto História : Revista Do Programa De Estudos
Pós-Graduados De História, 56. Recuperado de
https://revistas.pucsp.br/index.php/revph/article/view/25602

SHOHAT, Ella; STAM, Robert. Crítica da Imagem Eurocêntrica. Tradução: Marcos Soares.
São Paulo: Cosac Naify, 2006.

SOARES, Rosana de Lima. Mídias e estigmas sociais: sutileza e grosseria da exclusão.


Tese de Livre Docência. Escola de Comunicações e Artes, Universidade de São Paulo, São
Paulo, 2015. Disponível em: DOI:10.11606/T.27.2016.tde-24062016-141728. Acesso em: 3
ago. 2023.

WIKIPEDIA. The National Anthem (Black Mirror). Disponível em:


https://pt.wikipedia.org/wiki/The_National_Anthem_(Black_Mirror). Acesso em: 3 ago. 2023.

XAVIER, Ismail. O olhar e a cena: melodrama, Hollywood, cinema novo, Nelson Rodrigues.
São Paulo: Cosac & Naify, 2003.

Você também pode gostar