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Pedagogia de Projetos: a transgressão necessária

Izabel Alcina Soares Evangelista

Com base em experiências de sala de aula e supervisão pedagógica em escola do


ensino básico e instituição de ensino superior, têm-se muitas razões para valorizar os projetos
e especificamente a Pedagogia de Projetos, visto que as atividades humanas na atualidade
exigem criatividade que impõe nova forma de organização para realizar as ações com sucesso.
E as instituições de ensino são as que mais vivenciam sua prática pautada nos projetos, seja
ação, intervenção ou pesquisa.
O projeto hoje é uma exigência básica para todas as profissões em diversas áreas do
conhecimento, sabe-se que não há médicos, engenheiros, advogados, psicólogos,
farmacêuticos e muitos outros que não pesquisem e planejem muito bem suas atividades
buscando parcerias no caminho do interdisciplinar. Isto por que as ações exitosas requerem
bons projetos sempre elaborados por múltiplos profissionais, ou seja, um grupo com objetivos
colimados. Neste viés, considera-se pertinente trocar informações com os profissionais da
educação, de todos os níveis de ensino, da educação infantil a pós-graduação e as
modalidades de ensino, sobre a importância de se valorizar a Pedagogia de Projeto.
Pode-se afirmar que é incontestável a existência de inúmeras maneiras, ou melhor,
metodologias de ensinagem e aprendizagem como nos revelam a historia da educação, desde
a Grécia antiga até a atualidade, com a diversidade de recursos didáticos para favorecer
aprendizagem significativa nos mais variados espaços.
Muitas metodologias adotadas ou postura didática tiveram boa aceitação na prática
docente unidirecional, como aulas expositivas objetivando transmitir conhecimentos para
serem copiados pelos estudantes, a memorização, o uso de manuais, as leituras, os ditados e
na atualidade, os mais modernos que utilizam os recursos audiovisuais, experiências em
laboratórios, dinâmicas de grupos, debates, simpósio, seminários, projetos de pesquisa e
outros.
Todas as formas e ou tendências pedagógicas surgem visando facilitar o ensinar e
aprender, buscando sempre minimizar as dificuldades da aprendizagem e da aquisição de
conhecimentos dos envolvidos neste processo, seja em ambiente escolar ou não escolar. Tais
questões nos levam a questionar qual a pedagogia que deve ser adotada? Que pedagogia faz
realmente a diferença? Que projeto deve-se valorizar? Pedagogia de Projetos ou Metodologia
de Projetos? Como desenvolver a pedagogia de projetos? E por que a pedagogia de projetos é
uma transgressão necessária? Pretende-se neste capitulo responder estas e outras questões que
são pertinente ao saber, saber fazer e ao querer e gostar de fazer acontecer a Pedagogia de
Projetos em qualquer nível ou modalidade de ensino, seja no ambiente escolar ou não.

Historiando a Transgressão da Pedagogia de Projetos

A idéia de projeto não é nenhuma grande novidade, a idéia de projeto é tão antiga
quanto há humanidade, podemos afirmar que a origem do planejamento está intimamente
ligada ao ser humano. Ou seja, é uma prática inerente ao ser racional que desde os primórdios
da história da humanidade, quando habitava as cavernas, produzia e usava ferramentas e
utensílios produzidos com pedras, madeiras, ossos e outros, para caçar, alimentar-se e utilizar
as peles de animais como proteção. A descoberta do fogo deu mais poder de ação e criação
para planejar mudanças e iniciar migração de um continente para outras regiões provocando
alterações no seu modo de vida. Para Vasconcelos (2000, p. 65), o “planejamento tem como
um dos pilares básicos a ação; subtrair a idéia de ação do planejar é descaracterizá-lo por
completo”.
A gênese da atividade de planejar perpassa o processo de hominização, visto que, o
homem, na sua evolução, foi constituindo personagem principal na transformação do mundo
por sua ação, sempre movido pelo desejo, pela curiosidade e pela necessidade de interagir
com a realidade, através de atividades configuradas como trabalho. A capacidade de pensar
não é anterior à ação, mas vai formando-se no contexto da ação do homem sobre o mundo
objetivando buscar os meios para sua própria sobrevivência.

A história do homem é um reflexo do seu pensar sobre o presente, passado e futuro.


O homem pensa sobre o que fazer; o que deixou de fazer; sobre o que está fazendo e
o que pretende fazer. ... O ato de pensar não deixa de ser um verdadeiro ato de
planejar (MENEGOLLA; SANT’ANA, 2003, p. 15).

Os indícios na história antiga mostram-nos que devem ter existido muitos


planejamentos elaborados com liderança e sistema de avaliação. Senão, como explicar as
grandes construções épicas (as pirâmides, palácios e monumentos), as grandes batalhas
durante o império romano.
Os egípcios reconheciam o valor do planejamento das atividades e o orientador ou
supervisor que organizasse os grupos de trabalho. Eles desenvolveram extensos projetos
arquitetônicos e de engenharia, indo além das pirâmides, como canais de irrigação, palácios e
muitas outras edificações. Os homens envolvidos nas grandes construções egípcias, não só
sabiam como elaborar um projeto, como também demonstraram grande habilidade em
mobilizar recursos humanos.
Não e de hoje que se observa nas diferentes áreas do conhecimento o projeto como base
para construir algo. Revisitando a historia desde o período do Renascimento que foi um
importante movimento de ordem artística, cultural e científica que ocorreu entre a passagem
da idade Media para a Moderna ou entre o período do século XIV ao XVI, na Itália mas
precisamente em Florença considera-se o nascimento dos primeiros esboços de projeto,
considerados como projetos técnicos de: arquitetura, engenharia mecânica, urbanismo, isto e,
uma antevisão, são antecipações metódicas para evitar o erro. Barsosa e Horn (2008, p. 15),
consideram Leonardo Dinci como um exímio projetista, pois, antes de realizar seus trabalhos,
desenhava os esboços do que resultaria em grandes obras: seus desenhos, suas culturas, suas
telas. Foram encontrados em seus cadernos projetos de maquinas como helicóptero, bicicleta,
armas de fogo, os quais rascunhou sem ter a chance de vê-los implementados.
O século XVIII e marcado pelo conjunto de idéias do movimento Iluminista, que
emergem as discussões sobre os projetos sociais voltados para pensar como utilizar o
conhecimento em favor do homem vive melhor no futuro.
Na transição do século XIX para o século XX, organizaram um movimento educacional
denominado de Escola Nova, que teve um papel fundamental no questionamento aos novos
sistemas educacionais que emergiram no mundo ocidental. Este movimento fazia criticas
severas a escola tradicional, bem como a concepção de criança e de aprendizagem. Uniram-se
educadores de vários pontos da Europa e da America do Norte, chegando a outros
continentes. E no bojo da Escola Nova que surge a pedagogia de projeto como uma razão ou
alternativa para se contrapor a pedagogia tradicional, ao quadro coercitivo das escolas.

Em geral, os escolanovistas procuram criar formas de organização do ensino


que tivessem características como globalização dos conhecimentos, o
atendimento aos interesses e as necessidades dos alunos, a sua participação no
processo de aprendizagem, uma nova didática e a reestruturação da escola e da
sala de aula. Barsosa e Horn (2008, p. 16)

Os fundadores e principais representantes deste movimento foram Ovideo Decroly,


Maria Montessori, John Dewey, uniram-se em favor de idéias renovadas ou reformistas. O
Brasil, por meio de um documento denominado de Manifesto dos Pioneiros da Educação
(1932), educadores como Lourenço Filho, Paschoal Lemme, Cecília Meireles e Anízio
Teixeira, muitos outros deixam de lado suas divergências políticas e ideológicas e se unem em
defesa da democratização da educação para beneficio das crianças brasileiras.
Mas a escola só reconheceu a importância do projeto no século XX, é a partir deste
século que a Pedagogia de Projeto surge na escola para valorizar o desenvolvimento do aluno.
A idéia de ensinar por projetos apareceu em 1908, em Massachussetts (Estados Unidos),
época em que a palavra projeto era empregada para designar o trabalho de caráter prático
desenvolvido pelas crianças fora da escola. A equipe de educadores americanos que
compunham a Junta Federal de Educação Vocacional de Educação Americana decidiu
desenvolver o método de projetos nas escolas, com esta decisão, os professores passaram a
utilizar a Pedagogia de Projeto em sala de aula.
A Pedagogia de Projeto foi rapidamente difundida nas escolas americanas, logo
surgindo criticas e elogios, inúmeras opiniões sobre projetos. Para muitos estudiosos era uma
boa idéia para outros um modismo que logo passaria. Mas, para um grupo, trabalhar com
projeto era a esperança da valorização do alto valor educativo que consistiria em realizar algo
no ambiente natural.

Os Transgressores da Linearidade da Pedagogia Projetos

A Pedagogia de Projetos tem em John Dewey, o maior representante, o filosofo norte-


americano que defendia a democracia e a liberdade de pensamento como instrumentos para a
maturação emocional e intelectual da criança. No Brasil inspirou o movimento da Escola
Nova, liderado por Anízio Teixeira, ao colocar a atividade prática e a democracia como
importantes ingredientes da educação. Dewey é considerado o maior referencial da corrente
filosófica que ficou conhecida como pragmatismo embora ele preferisse o nome de
instrumentalismo.

Desde o inicio do século XX, John Dewey, um dos fundadores da Escola


Ativa, critica as instituições de ensino que obrigam os alunos a trabalharem
com uma excessiva compartimentação da cultura em matérias, temas, lições,
e com grande abundancia de detalhes simples e pontuais. (SANTOME, 1998,
p.14)
Isto nos faz compreender a necessidade da escola juntar, unir os saberes curriculares,
fazer acontecer a comunicação entre as disciplinas, valorizar a educação holística, como
afirma, Yus no livro: Educação integral uma educação holística para o século XXI.
Dewey e Kilpatrick são considerados os principais representantes da pedagogia de
projetos, Dewey acreditava que o conhecimento só e obtido através da ação, da experiência,
pois o pensamento e produto do encontro do individuo com o mundo. Para Barbosa e Horn
apud Dewey (2008, p. 18). Quatro passos são considerados norteadores da planificação de um
projeto: decidir o propósito do projeto, realizar um plano de trabalho para sua resolução,
executar o plano projetado e julgar o trabalho realizado. Para Dewey projetar e realizar e
viver em liberdade. Ele levantou oito princípios como fundamentais para a elaboração de
projetos na escola, como: princípio da intenção, situação-problema, ação, real experiência
anterior, investigação cientifica, prova final e eficácia social.

A partir dos estudos de Dewey sobre aprendizagem que valorizava a ação e a situação
problema, é que William Heard Kilpatrick, seu seguidor também norte-americano em 1919,
levou para a sala de aula o método de projeto. Deve-se a Kilpatrick, inspirado em Dewey o
famoso Método de Projeto, é um método ativo socializador, que tem como base desenvolver
atividades embasadas em problemas exigindo a realização e execução de algo concreto.
Kilpatrick, sistematizou a Pedagogia de Projetos estabelecendo quatro fases: intenção
(definição dos objetivos que se deseja alcançar); preparação (consiste em fazer o projeto do
objeto a ser estudado); execução (inicio do trabalho de execução); avaliação (momento de
comprovação da eficácia do produto). Para Gomes (2002), os estudos realizados por muitas
décadas revelam que:
A Pedagogia de Projetos traduz uma concepção globalizante de conhecimento escolar,
que se de um lado defende uma prática pedagógica motivadora da capacidade de
resolver problemas relevantes para um dado grupo social, de outro não descarta o
constante defrontar dos alunos com os conteúdos acumulados socialmente e
organizados nas disciplinas.

A revolução que a Pedagogia de Projeto provocou na escola do inicio do século XX


iniciou com os maiores precursores da Escola Nova, cerca de cinco séculos antes,
consideramos os transgressores da educação tradicional. É correto afirmar que, trabalhar com
projetos é transgredir o formato da educação tradicional, e transgredir a linearidade
estabelecida, é viabilizar com intensidade o uso das inteligências múltiplas.
O movimento de renovação da educação começou com o italiano Vitorino de Feltre,
(1378 – 1446), no final da Idade Media, jovem estudante demonstrava certo talento para o
exercício do magistério, como pedagogo preocupo-se em educar os alunos pela ação.
Defendia uma educação individualizada, a auto-gestão do aluno e a competição. O seu
compromisso com a educação escolar fez com que criasse a Escola Alegre ou Casa Jocosa.
No final do século XVIII, o filosofo suíço Jean-Jacques Rousseau (1712–1778),
contribui com o Movimento da Escolanovista publicando o livro Emilio ou da Educação. Ele
denunciou a educação de sua época, as práticas predominantes e sugeriu uma experiência
educacional com um aluno imaginário (Emilio), uma educação, cujo centro é a criança.
Johann Friedrich Pestalozzi (1746–1827), o educador suíço aplicou em classe seu
principio de educação integral, para ele o processo educativo deveria englobar três dimensões
humanas, identificadas com a cabeça, a mão e o coração. Formação tripla intelectual, física e
moral.
Friedrich Frõebel (1782–1852), o alemão considerava a educação infantil
indispensável para a educação de crianças. O objeto das atividades nos jardins-de-infância era
possibilitar brincadeiras criativas.
Adolphe Ferrière (1879–1960), professor suíço fundador do movimento da educação
progressiva. Ele fundou uma escola experimental.
Nadejda Krupskaia (1869–1939), escritora e educadora soviética realizou experiências
com projetos integrados.
Anton Makarenko (1888-1939), mestre ucraniano desenvolveu uma pedagogia que
transformou centenas de crianças e adolescentes marginalizadas em cidadãos do bem.
Concebeu uma escola baseada na vida em grupo, na autogestão, no trabalho e na disciplina.
Maria Montessori (1870 – 1952), pesquisadora italiana, primeira mulher a se formar
em medicina em seu País, foi pioneira também no campo pedagógico para ela nem a educação
nem a vida deveriam se limitar às conquistas materiais.
Ovide Decrolly ( 1871-1932), médico e educador Belga defensor da aprendizagem das
crianças com base numa visão do todo. Na virada do século 19 para o 20, contestou o modelo
de educação da época. Foi um dos defensores do método ativo, fundamentados na
possibilidade do aluno conduzir o próprio aprendizado para aprender a aprender. Criou os
centros de interesses, onde os conteúdos são organizados de maneira globalizados.
Década 30
Célestin Freinet (1896-1966), Pedagogo Frances propôs a valorização do trabalho e da
atividade em grupo para estimular a cooperação, a iniciativa e a participação. Desenvolveu
atividades atualmente comuns, como aulas-passeio, correspondência entre escolas, o jornal de
classe, cooperativa escolar, o contato freqüente com os pais, e os planos de trabalho. Criou um
projeto de escola popular, moderna e democrática.

Década 60
Paulo Freire (1921-1997), considerado o mais celebre educador brasileiro,
reconhecido internacionalmente. Autor de Pedagogia do Oprimido, Pedagogia da Autonomia,
Pedagogia da Esperança e muitos outros. Propôs uma educação baseada na pergunta, no
dialogo, uma pedagogia da problematizasão. Destaca-se com a introdução do debate político e
da realidade sociocultural no processo escolar com a educação libertadora e os chamados
temas geradores.

Década 90 ao Século XXI

Jurjo Torres Santomé, defende a idéia de globalização e interdisciplinaridade: o


currículo integrado, no livro editado em 1998.

O currículo globalizado e interdisciplinar converte-se assim em uma


categoria guarda-chuva capaz de agrupar uma ampla variedade de praticas
educacionais desenvolvidas nas salas de aula... (SANTOMÉ, 1998, p. 27).

E preciso que as escolas percebam a urgência de se valorizar o trabalho em parcerias,


uma educação pautada na colaboração em sala de aula, favorecendo a aprendizagem mais
criativa, abandonando a idéia de disciplina, de fechado ou formatado em fragmentos.
Fernando Hernández (2000, p. 184), chama projeto de trabalho o enfoque integrador
da construção de conhecimento que transgride o formato da educação tradicional de
transmissão de saberes compartimentados e selecionados pelos professores e reforça que o
projeto não e uma metodologia, mas uma forma de refletir sobre a função da escola.
Ana Maria Kaufman e Adelia Lerner ambas na Argentina, divulgam estudos sobre
propostas educativas globalizadoras. Para Kaufman a única forma de alfabetizar e ver a leitura
e a escrita como praticas sociais. As letras, as palavras e as normas gramaticais, não servem
para formar leitores e escritores, se forem ensinadas de forma solta.
Antoni Zabala na Espanha entende que a complexidade do projeto educativo deve ser
elaborado por um enfoque globalizador no qual a interdisciplinaridade estar presente.
Miguel Arroyo (1994, p. 31) entre outros educadores brasileiros, defende a presença
na escola dos temas emergentes, de um currículo plural que aponte as questões problemas do
nosso tempo como objeto de conhecimento.

O que é projeto?

A palavra projeto, do latim projectu, significa lançar para frente uma idéia. O projeto é a
menor unidade do planejamento. É um empreendimento com fins definidos nos objetivos e
metas declarados em função de uma necessidade, problema, interesse, questão e outros
dependendo da previsão individual, grupal ou instituição organizacional. Todo projeto requer
planejamento das ações que são delineados nas etapas que se pretende realizar. (Antunes,
2001), um projeto e, na verdade, uma pesquisa ou uma investigação, bem elaborada e
desenvolvida com profundidade sobre uma temática, problema ou tópico que se acredita ser
interessante conhecer ou resolver.

O projeto e a expressão de uma vontade explícita e partilhada do estabelecimento


escolar para responder as necessidades dos alunos. Ele visa ao cerne da pedagogia e
considera o conjunto dos meios para converter-se no fundamento da ação coletiva.
(THURLER, 2001, p. 117)

Desenvolver atividades com base em projeto é uma prática atual, que vem se tornando
comum em todas as áreas do conhecimento e setores organizacionais. E particularmente na
área educacional, o volume de ações embasadas em projetos é percebido em todos os níveis e
setores do sistema da educação sejam pública ou privada.

Na área educacional, os primeiros grandes projetos de ensino, destinados a produzir


novos recursos didáticos, desenvolver novos métodos e concepções de ensino e
inovar quanto ao conteúdo curriculares, foram desenvolvidos nas décadas de 1950 e
60. Dentre vários projetos voltados para a introdução de inovação no conteúdo e na
forma de ensinar, destacam-se o PSSC – Physical Science Study, e o BSCS –
Biologia Science Curriculum Study (MOURA E BARBOSA, 2006, p. 20).

Para a elaboração destes dois projetos educacionais foi reunido um grande número de
cientistas, professores, psicólogos, escritores e muitos outros especialistas. Estes projetos
foram mais conhecidos no Brasil nos anos de 1960 e 1970, são considerados marcos
importantes no ensino de ciências, tendo grande repercussão em nosso meio educacional.
Atualmente tem ocorrido uma grande valorização de métodos e técnicas voltados para o
trabalho com projetos que deram origem a diferentes modelos de planejamento, gestão,
acompanhamento e avaliação de projetos. Dentre os mais conhecidos (MOURA e BARBOSA
2006, p. 20), citam: PMI – Project Management Institute (Instituto de Administração de
Projeto); ZOPP – Zielorientierte Projek Planung (Planejamento de projetos Orientado para
Objetivos); Logical Framework ou Log Frame (Quadro Lógico).
Muitos órgãos e instituições nacionais e internacionais que apóiam os projetos para o
desenvolvimento educacional, científico, cultural e econômico, apresentam modelos
específicos de planejamento e gestão de projetos, citamos: Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq; Fundações de Amparo à pesquisa –
FINEP; Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Pará – FAPESPA; United Nations
Educational – UNESCO e muitos outros projetos.

Projeto educacional é um empreendimento de duração finita, com objetivos


claramente definidos em função de problemas, oportunidades, necessidades,
desafios ou interesses de um sistema educacional, de um educador ou grupo de
educadores, com a finalidade de planejar, coordenar e excetuar ações voltadas para
melhoria de processos educativos e de formação humana, em seus diferentes níveis e
contextos (MOURA E BARBOSA, 2006, p. 23).

Com esta citação podemos perceber que não só as instituições educacionais que
propõem projetos, mas toda e qualquer instituição, empresa, setor organizado da sociedade,
organizações não governamentais, comunidades e outras, podem e devem elaborar bons
projetos e desenvolvê-los com sucesso. Fica muito claro compreender a abrangência dos
projetos visto que eles vão desde projetos simples, particulares de indivíduos ou pequenos
grupos, até grandes projetos que envolvem diversos componentes de um sistema educacional,
ou de outra sistemática. Como podemos perceber o atual megaprojeto do governo federal
batizado de PAC, que é o Programa de Aceleração do Crescimento prevendo gastos de R$
636 bilhões até 2010, pelo seu volume e complexidade para viabilizar qualidade de vida para
os brasileiros, podemos afirmar que este é um megaprojeto interdisciplinar.
Além da abrangência do projeto temos que conhecer sua tipologia, ou seja, a
existência na área educacional dos vários tipos de projetos que podem ser elaborados nas
instituições de ensino. Na literatura especializada encontramos muitas classificações de
projetos citando alguns que ocorrem na área educacional: projetos de intervenção, projeto de
ação, projeto de pesquisa, projeto de ensino, projeto pedagógico, projeto de desenvolvimento
e outros.
Cada um com sua especificidade, mas com um só “viés” pesquisar em sala de aula,
pesquisar na escola, na comunidade ou através da Internet, leva os alunos ao caminho da
descoberta, do saber pensar, do aprender a aprender a desconstruir e construir e seu próprio
conhecimento, deixando de ser um copiador do professor.
Não importa a nomenclatura que o professor e sua escola venha a adotar seja (Projetos
educativos interdisciplinares, Pedagogia do projeto, Pesquisa na escola, Metodologia de
projeto e outros), o que realmente faz a diferença é o caminho que se pretende seguir com os
alunos, os objetivos, as metas, as estratégias a serem alcançadas, para que eles tenham a
possibilidade de estudar temáticas do interesse de todos os envolvidos no projeto. Valorizar o
trabalho em grupo é promover a interdisciplinaridade valorizando a Pedagogia de Projetos.
O projeto permite a participação de todos, é correto afirmar que só se aprende a “fazer
fazendo”, neste fazer envolvendo-se a um projeto os alunos são motivados a buscarem
respostas para o problema, eles não ficam parados, só ouvindo o professor falar. Esses são
construtores do conhecimento, assumem responsabilidades, e o professor vê a concretude da
prática interdisciplinar. Num projeto interdisciplinar seja de ação, intervenção ou pesquisa se
consegue perceber e valorizar as relações entre as pessoas, os objetos, a natureza. Para
Fazenda (2001), no projeto interdisciplinar não se ensina, nem se aprende: vive-se, exerce-se.
A responsabilidade é de todos, mas é a responsabilidade individual é fundamental, pois esta, é
a marca do projeto interdisciplinar.
A característica básica de um projeto interdisciplinar é a atitude do professor, é a
ousadia deste, ler, estudar e escrever, é a coragem de buscar, de pesquisar para transformar a
sua insegurança num exercício do pensar novo, do construir algo, criar, inovar, realmente ir
além, fazer o diferencial da sua profissão e da instituição onde estiver desenvolvendo suas
atividades.
O planejamento do projeto interdisciplinar é uma das etapas mais importante do
projeto, visto que é no ato de planejamento que são percebidos e traçados os pontos de
convergência entra as disciplinas e a temática em questão. Deve-se valorizar as fases ou
etapas (o quê, por quê, para quê, quando, quem e como) do planejamentos e seus elementos
(identificação, objetivos, justificativa, procedimentos, resultados e referências), para o sucesso
de qualquer Projeto Interdisciplinar as ações não podem estar fora do ato de planejar.

Só planejamento das ações e das possíveis atividades de cada uma das


disciplinas envolvidas não garantirá o sucesso do Projeto, já que, para ele ter
a conotação de Projeto Interdisciplinar, deverá haver a maior correlação e
integração possível das disciplinas. Para tanto, as atividades previamente
planejadas devem neste segundo momento privilegiar a integração, ou seja,
devem ser colocadas em analise pela equipe, para esta prever (planejar) as
possíveis convergências. (NOGUEIRA, 2001, p. 137)

Pedagogia de Projeto a Transgressão é Necessária

A Pedagogia de Projeto nascida nos ideais do Método de Projeto, vem reafirmar que a
transgressão e necessária, por que, transgredir o formato da linearidade, do tradicional, da
estagnação ou da mesmice que se impõem desde longas datas nas escolas do mundo inteiro e
em particular as escolas brasileiras, atualmente mostra ser um caminho sem volta, uma
exigência atual das escolas no Brasil.
Tem-se inúmeras razões para realizar a defesa da implementação das ações definidas a
partir da Pedagogia de Projetos em qualquer escola e nível de ensino, visto que, estabelecer a
metodologia embasada em projeto aproxima a escola da realidade, do cotidiano, da vida diária
daqueles que participam, se envolvem em atividades que vão transformar idéias em
realidades.
Seja qual for a configuração que a escola ira definir entre os inúmeros defensores e
suas nomenclaturas já consagradas em muitas publicações como: Método de Projeto,
Pedagogia de Projeto, Metodologia de Projeto, Projeto de Trabalho, Projetos Educativos,
Projetos Interdisciplinar, Trabalho com Projeto e outros, seja qual for a nomenclatura
assumida pela escola, o importante e que esta escola, valorize a coletividade, a participação o
currículo integrado, globalizado e interdisciplinar.
Como afirma Santos (1996), a Pedagogia da Transgressão e um caminho para o
autoconhecimento. Significa dizer que cabe a escola inserir o estudante num caminho do
universo da globalidade, da educação holística, que valoriza o ser na sua completude, negando
a fragmentação.
Os projetos viabilizam com intensidade no dizer de Antunes (2002), o uso das
inteligências múltiplas, organizando para expressar os resultados de estudos através da:
Inteligência Lingüística, lógico-matemática, Sinestésico-corporal, Espacial, Musical,
Naturalística e Interpessoais. Percebe-se que as escolas podem e devem transgredir o formato
de educação vigente, se não transgredimos a linearidade, não vamos conseguir mudar os
resultados do atual Índice Desenvolvimento da Educação Básica – Ideb, que e um indicador
que se baseia no desempenho do aluno em avaliação e em taxas de aprovação.

REFERÊNCIAS

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Petropolis, RJ: Vozes, 2001.

BARBOSA, Maria Carmen Silveira e HORN, Maria da Graça Souza. Projetos


pedagógicos na educação Infantil. Porto Alegre: Artmed, 2008.

HERNADEZ, Fernando. Transgressão e Mudança na Educação: os projetos de


trabalho. Trad. Jussara Haubert Rodrigues. Porto Alegre: ArtMed, 1998.

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aprendizagem em sala de aula. Campinas, SP: Armazém do Ipê, 2005. (Autores
Associados).

MOURA, Dácio Guimarães; BARBOSA, Eduardo F. Trabalhos com projetos:


planejamento e gestão de projetos educacionais. Petrópolis, RJ: Vozes, 2006.

NOGUEIRA, Nilbo Ribeiro. Pedagogia dos Projetos: uma jornada interdisciplinar


rumo ao desenvolvimento das múltiplas inteligências. São Paulo: Érica, 2001.

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ensinar: técnicas e reflexões pedagógicas para formação de formadores. 7. ed. São
Paulo: Loyola, 2002.

SANTOMÉ, Jurjo Torres. Globalização e Interdisciplinaridade: o currículo


integrado. Trd. Claudia Schilling. Porto Alegre: Artmed, 1998.
THURLER, Monica Gather. Inovar no Interior da Escola. Porto Alegre: Artmed
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Traduzido por Daise Vaz de Moraes. Porto Alegre: Artmed, 2002.

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