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2022 E 2023
Este trabalho visa fazer uma análise crítica às reivindicações das confederações sindicais
CGTP e UGT. A análise é feita sob o ponto vista da necessidade de aplicação de medidas
que façam face a estas reivindicações, aplicação e consequências que essa aplicação
teria na vida dos trabalhadores, na economia e a importância que teriam para o
desenvolvimento económico.
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PLATAFORMA REIVINDICATIVA CGTP 2022
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A CGTP refere ainda algo muito importante relativamente ao progresso
tecnológico e a forma como os seus resultados são distribuídos. A Intersindical Nacional
alerta para que os avanços científicos e tecnológicos que permitem a utilização de novas
técnicas de produção estão a ser usados com o objetivo de aumentar ainda mais as
desigualdades e a exploração dos trabalhadores e para intensificar os ritmos de
trabalho. Esta análise que a CGTP faz da distribuição dos resultados destas inovações faz
sentido e pode ser corroborada factualmente com os dados relativos à evolução da
produtividade do trabalho comparativamente com a evolução dos salários a estes
pagos. Ao longo dos últimos anos o aumento da produtividade do trabalho tem sido
superior ao aumento dos salários. Tal significa que o contributo que os trabalhadores
dão para a criação adicional de riqueza decorrente dessa produtividade não é
compensada por uma remuneração justa, que faça jus a essa criação de riqueza. Por
outras palavras, pode dizer-se que existe uma apropriação do rendimento gerado pelos
trabalhadores por parte do capital.
Uma primeira medida proposta pela CGTP seria a de “aumento geral dos
salários”, nomeadamente o SMN e a “valorização das profissões e carreiras”. Esta
medida serviria para que as famílias pudessem fazer face às suas necessidades. No
mesmo plano a CGTP acrescenta que não aceita que “em pleno século XXI, subsistam
situações de pobreza que afetam quem trabalha e trabalhou”
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No mesmo documento afirma-se ainda que a resolução destes problemas não
passa apenas pelo aumento da produção de riqueza, mas também (e principalmente)
por uma mais justa redistribuição da mesma.
Apesar de nem a CGTP nem a UGT dizerem isto, pelo menos de forma clara, é
importante que se diga – e seria muito importante que ambas as confederações o
dissessem – que na verdade é perfeitamente possível conseguir ter um modelo
económico socialista, que defenda os direitos dos trabalhadores e que coloque fim a
exploração do homem pelo homem e às desigualdades gritantes que se assistem, sem
que o modelo-base de economia de mercado (capitalismo) seja abolido. A isto se chama
o socialismo de mercado, que mais tarde evoluiu para a social democracia.
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Fontes: CGTP-IN com base dados DGERT e GEP; trabal. abrangidos pelo SMN no eixo da direita; o aumento salarial de
2021 refere-se ao 1º semestre
Ainda na questão salarial, a CGTP fala dos aumentos dos salários como
instrumento essencial para impulsionar as qualificações dos trabalhadores e dos mais
jovens em particular, não deixando de salientar o importante papel que este aumento
da remuneração dos trabalhadores deve ter também na redução das desigualdades. A
mesma confederação fala ainda na importância do aumento dos salários para a
promoção do emprego mediante a dinamização da economia.
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- O aumento do salário mínimo nacional para 850€ a curto prazo
Esta última proposta é sempre geradora de polémica e alguma euforia por parte
dos representardes do capital, no âmbito político e económico. Mas na verdade, o
aumento do SMN já em 2022 seria uma medida absolutamente razoável sob o ponto de
vista da portabilidade de gastos para as empresas.
Contratação Coletiva:
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Fonte: CGTP-IN a partir de dados da DGERT e do GEP (QP); os valores dos QP para 2019 e 2020 são estimados com
base na evolução dos trabalhadores por conta de outrem (INE, Inquérito ao Emprego).
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progressividade nos impostos e a eliminação de todos os regimes de paraíso fiscal, não
esquecendo de referir que a grande parte dos benefícios fiscais existentes a nível de IRC
são absorvidos pelas grandes empresas, havendo a necessidade de apoiar mais as
pequenas e médias empresas e taxar mais as grandes empresas, ou pelo menos não
conceder este conjunto atual de benefícios fiscais.
Entre outras reivindicações a UGT fala ainda do aumento geral das pensões, mas
sem referir um número concreto.
A UGT propõe, a nível salarial, um aumento dos salários nos setores público e
privado entre 2% e 4% garantindo um aumento não inferior a 50€ para todos os
trabalhadores em 2022.
Sob uma perspetiva de resultados, podemos observar que a grande maioria das
reivindicações da CGTP e UGT não foram concretizadas pelo governo, apear de existir
algum aumento salarial os trabalhadores do público e do privado, mas que será inferior
à inflação verificada, o que significa uma perda de poder de compra e uma perda de
salário real.
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acordo assinado, com outras associações representantes dos patrões e o governo. A
CGTP não assinou este cordo e distancia-se da posição de UGT que é claramente
condescendente com os interesses do capital e não valoriza da mesma forma a luta dos
trabalhadores.
Sob uma perspetiva mais crítica, podemos afirmar que a UGT, contrariamente à
CGTP não assume uma posição de rotura com o sistema capitalista e com as políticas
neoliberais perpetradas por sucessivos governos nas últimas décadas. Há, aliás, alguma
tendência de convergência com esta confederação sindical e muitos dos governos. Esta
posição é perfeitamente criticável, uma vez que se pode considerar que a mesma como
conformista, colocando em causa a verdadeira defesa dos direitos dos trabalhadores.
Por outro lado, esta mesma forma de atuar da UGT pode ser considerada responsável e
cautelosa, se tivermos em conta que, contrariamente ao que acontece com a CGTP, a
UGT colherá mais frutos do diálogo com o governo e os representes dos patrões, uma
vez que o seu grau de abertura para cedências e negociação poderá considerar-se
superior. Nesta mesmo lógica, uma crítica que pode ser feita à CGTP pelos setores mais
centristas, será a de que esta confederação não tem interesse a chegar a acordos com
o governo e os patrões – uma vez que isso significaria interromper a luta de classes – e
uma vez que a CGTP se caracteriza politicamente por integrar um vasto conjunto de
marxistas, comunistas e socialistas, tal fará sentido. Mas a crítica fara sentido. Afinal, se
o objetivo da concertação social e das negociações será encontrar um consenso ou pelo
menos tentar aproximar posições para que o governo tome decisões o mais consensuais
ou o menos fraturantes possíveis, uma posição considerada mais radical de forte
inconformismo ou de indisponibilidade para fazer cedências será contraproducente com
os objetivos a atingir. A verdadeira questão é saber se essa crítica é realista – ou seja, se
a posição da CGTP é de facto radical e demasiado inconformista tendo em vista a
continuação da luta de classes cega e não o consenso – ou se essa crítica não fará
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sentido, e nesse caso a CGTP estará a fazer um bom trabalho, sendo intransigente com
a imposição contínua de políticas que prejudicam os trabalhadores e que criam
injustiças sociais.
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BIBLIOGRAFIA
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