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A Riqueza das Nações - Segundo Livro - Cap II

DA ACUMULAÇÃO DO CAPITAL, OU DO TRABALHO PRODUTIVO OU IMPRODUTIVO

Trabalho produtivo é o que acresce valor e o improdutivo o que não acresce. O primeiro
seria o trabalho dos empregados na manufatura. O segundo seria o trabalho dos serviçais,
dos servidores públicos, de alguns profissionais liberais, por mais nobre ou útil que seja o
trabalho. O trabalho improdutivo perece no momento que é executado.

Onde há emprego de capital para movimentar trabalho produtivo, o povo é mais industrioso.
Onde há renda para prover o povo, este se torna ocioso.

É a parcimônia, e não a indústria, que é causa imediata da acumulação do capital.

“A quantidade de dinheiro, então, que pode ser empregada anualmente em qualquer país
deve ser determinada pelo valor dos bens de consumo anualmente nele circulados.” (p.197)

Segundo Smith há dois tipos de trabalho. Um que acrescenta algo ao valor do objeto que é
aplicado, conhecido como produtivo e um que não tem esse efeito, conhecido como
improdutivo. Isso não significa que o trabalho improdutivo não tenha seu valor e desmereça
sua remuneração. O que Smith quer dizer é que o trabalho produtivo fixa-se e realiza-se em
um objeto específico ou mercadoria rendável, a qual perdura algum tempo após o fim do
seu trabalho. Assim, uma certa quantidade do trabalho estocado e acumulado possa ser
empregado em alguma outra ocasião podendo posteriormente movimentar uma quantidade
de trabalho igual a que originalmente foi produzida. Ao contrario do trabalho improdutivo,
que não se fixa nem se realiza em um objeto especifico ou mercadoria vendável. Seus
serviços normalmente morrem no próprio instante em que são executados, e raramente
deixam atrás de si algum traço ou valor.
LIVRO QUINTO A Receita do Soberano ou do Estado

(P.244)
Com o avanço da divisão do trabalho, a ocupação da maior parte daqueles que vivem do
trabalho, isto é, da maioria da população, acaba restringindo-se a algumas operações
extremamente simples, muitas vezes a uma ou duas. Ora, a compreensão da maior parte
das pessoas é formada pelas suas ocupações normais. O homem que gasta toda sua vida
executando algumas operações simples, cujos efeitos também são, talvez, sempre os
mesmos ou mais ou menos os mesmos, não tem nenhuma oportunidade para exercitar sua
compreensão ou para exercer seu espírito iventivo no sentido de encontrar meios para
eliminar dificuldades que nunca ocorrem. Ele perde naturalmente o hábito de fazer isso,
tornando-se geralmente tão embotado e ignorante quanto o possa ser uma criatura
humana. O entorpecimento de sua mente o torna não somente incapaz de saborear ou ter
alguma participação em toda conversação racional, mas também de conceber algum
sentimento generoso, nobre ou terno, e, conseqüentemente, de formar algum julgamento
justo até mesmo acerca de muitas das obrigações normais da vida privada. Ele é totalmente
incapaz de formar juízo sobre os grandes e vastos interesses de seus país; e, a menos que
se tenha empreendido um esforço inaudito para transformá-lo, é igualmente incapaz de
defender seu país na guerra. A uniformidade de sua vida estagnada naturalmente corrompe
a coragem de seu espírito, fazendo-o olhar com horror a vida irregular, incerta e cheia de
aventuras de um soldado. Esse tipo de vida corrompe até mesmo sua atividade corporal,
tornando-o incapaz de utilizar sua força física com vigor e perseverança em alguma
ocupação que não aquela para a qual foi criado. Assim, a habilidade que ele adquiriu em
sua ocupação específica parece ter sido adquirida à custa de suas virtudes intelectuais,
sociais e marciais. Ora, em toda sociedade evoluída e civilizada, este é o estado em que
inevitavelmente caem os trabalhadores pobres — isto é, a grande massa da população — a
menos que o Governo tome algumas providências para impedir que tal aconteça.

(conclusão)
Tanto a despesa destinada à defesa da sociedade como a destinada ao sustento da
dignidade do magistrado supremo são aplicadas em benefício geral de toda a sociedade. É,
pois, justo que ambas sejam cobertas pela contribuição geral de toda a sociedade,
contribuindo todos os seus membros, na medida do possível, em proporção com suas
respectivas capacidades. Sem dúvida, também a despesa com a administração da justiça
pode ser considerada como sendo aplicada em benefício de toda a sociedade. Por isso, não
é injusto que ela seja paga com a contribuição geral de toda a sociedade. Entretanto, as
pessoas que causam essa despesa são aquelas que, por sua injustiça, cometida de uma
forma ou de outra, fazem com que seja necessário procurar reparação ou proteção dos
tribunais de justiça. Por sua vez, as pessoas mais diretamente beneficiadas com esse gasto
são aquelas a quem os tribunais de justiça restituem ou mantêm os direitos. Por isso, as
despesas com administração da justiça podem ser muito apropriadamente cobertas pela
contribuição particular de uma ou de outra dessas duas categorias de pessoas, ou pelas
duas, conforme o exige a diversidade de circunstâncias — em outras palavras, com as
taxas judiciárias. Pode não ser necessário recorrer, neste caso, à contribuição geral da
sociedade, a não ser para processar os criminosos que, pessoalmente, carecem de
propriedade ou fundo suficientes para pagar tais taxas. As despesas locais ou provinciais
que beneficiam apenas um lugar ou uma província (por exemplo, as que se aplicam no
policiamento de uma cidade ou de um distrito em particular) devem ser cobertas por uma
receita local ou provincial, sem onerar a receita geral da sociedade. É injusto exigir que toda
a sociedade contribua para custear uma despesa cuja aplicação beneficia apenas uma
parte dessa sociedade. Os gastos despendidos com a manutenção de boas estradas e
comunicações beneficiam, sem dúvida, toda a sociedade e, portanto, sem injustiça, podem
ser cobertos pela contribuição geral de toda a sociedade. Entretanto, esse gasto beneficia
mais imediata e diretamente aqueles que viajam ou transportam mercadorias de um lugar a
outro. e que consomem essas mercadorias. As taxas de pedágio da Inglaterra, e as taxas
denominadas peagens em outros países, impõem essa despesa exclusivamente a essas
duas categorias de pessoas e, com isso, desafogam a sociedade em geral de um ônus bem
considerável. Indubitavelmente, também as despesas com as instituições destinadas à
educação e à instrução religiosa são benéficas para toda a sociedade, podendo, portanto,
sem injustiça, ser cobertas com a contribuição geral da sociedade. Todavia, talvez com igual
justiça e até com alguma vantagem, essa despesa poderia ser paga exclusivamente por
aqueles que auferem o benefício imediato de tal educação e instrução, ou pela contribuição
voluntária daqueles que acreditam precisar de uma ou de outra. Quando as instituições ou
outras obras públicas que beneficiam toda a sociedade não podem ser mantidas
integralmente ou não são assim efetivamente mantidas com a contribuição daqueles
membros particulares da sociedade mais diretamente beneficiados por elas, essa
deficiência deve, na maioria dos casos, ser suprida pela contribuição geral de toda a
sociedade. A receita geral da sociedade, além de cobrir os gastos com a defesa da
sociedade, e sustentar a dignidade do magistrado supremo, tem que suprir a deficiência de
muitos setores específicos da receita. No próximo capítulo procurarei explicar as fontes
dessa receita geral ou pública.

PARTE PRIMEIRA OS GASTOS COM A DEFESA


O primeiro dever do soberano, o de proteger a sociedade contra a violência e a invasão de
outros países independentes, só pode ser cumprido recorrendo à força militar. Em um
estágio social mais avançado, duas causas contribuem para tornar totalmente impossível
manterem-se à própria custa os que vão à guerra: o desenvolvimento das manufaturas e o
aperfeiçoamento da arte bélica.
Contudo, a arte bélica, assim como certamente representa a mais nobre de todas as artes,
da mesma forma, com o avanço do aperfeiçoamento, necessariamente se torna uma das
artes mais complexas. O estágio da mecânica, bem como o de algumas outras artes com as
quais a arte bélica inevitavelmente se relaciona, determina o grau de perfeição que ela pode
atingir em determinada época. Entretanto, para levar a arte bélica a esse grau de perfeição,
é necessário que ela se torne a ocupação exclusiva ou principal de determinada classe de
cidadãos; e a divisão do trabalho é tão necessária para o desenvolvimento dessa arte
quanto o é para o de qualquer outra. Em outras artes, a divisão de tarefas é naturalmente
condicionada pela prudência dos indivíduos, que consideram atender melhor a seus
interesses particulares, limitando-se a uma profissão em especial do que exercendo grande
número delas. Em se tratando, porém, da arte bélica, somente a sabedoria do Estado tem
condições de fazer com que a profissão de soldado seja uma atividade específica, separada
e distinta de todas as outras.
Primeiramente, o Estado pode, adotando uma política extremamente rigorosa e passando
por cima dos interesses, das características e das inclinações do povo, forçar a prática dos
exercícios militares, obrigando todos os cidadãos que estiverem em idade militar, ou certo
número deles, a associarem, até certo ponto, a profissão militar a qualquer ocupação ou
profissão que eventualmente estiverem exercendo. Ou, em segundo lugar, sustentando e
empregando certo número de cidadãos na prática constante dos exercícios militares, o
Estado pode fazer com que a profissão de soldado se transforme em uma ocupação
específica, separada e distinta de todas as demais.

OS GASTOS COM A JUSTIÇA


O segundo dever do soberano, o de proteger, na medida do possível, cada membro da
sociedade da injustiça ou opressão de todos os outros membros da mesma, ou o dever de
estabelecer uma administração judicial rigorosa, comporta igualmente gastos cujo montante
varia muito, conforme os diferentes períodos da sociedade.
O governo civil supõe certa subordinação. Ora, assim como a necessidade de governo
aumenta gradativamente com a aquisição de propriedade valiosa, da mesma forma as
causas principais que criam naturalmente a subordinação aparecem com o crescimento
dessa propriedade valiosa. Parecem ser quatro as causas ou circunstâncias que criam
naturalmente a subordinação, ou que, natural e anteriormente a qualquer instituição civil,
conferem a certas pessoas alguma superioridade sobre a maior parte de seus irmãos. A
primeira delas é a superioridade das qualificações pessoais, da força, da beleza e da
agilidade corporal, da sabedoria, da virtude, da prudência, da justiça, da fortaleza e da
prudência de espírito.
A segunda das causas ou circunstâncias é a superioridade de idade.
A terceira das citadas causas ou circunstâncias é a superioridade de fortuna.
A quarta das citadas causas ou circunstâncias é a superioridade de nascimento.

OS GASTOS COM AS OBRAS E AS INSTITUIÇÕES PÚBLICAS


O terceiro e último dever do soberano ou do Estado é o de criar e manter essas instituições
e obras públicas que, embora possam proporcionar a máxima vantagem para uma grande
sociedade, são de tal natureza, que o lucro jamais conseguiria compensar algum indivíduo
ou um pequeno número de indivíduos, não se podendo, pois esperar que algum indivíduo
ou um pequeno número de indivíduo as crie e mantenha. Também o cumprimento deste
dever exige despesas cujo montante varia muito conforme os diferentes períodos da
sociedade. Depois das instituições e obras públicas necessárias para a defesa da
sociedade e para a administração da Justiça — ambas já mencionadas —, as demais obras
e instituições públicas consistem sobretudo nas que se destinam a facilitar o comércio da
sociedade e nas que visam a promover a instrução do povo. As instituições destinadas à
instrução dividem-se em dois tipos: as que visam à educação da juventude e as que visam
à instrução dos cidadãos de todas as idades. Para examinarmos a maneira mais adequada
de atender às despesas inerentes a esses diversos tipos de obras e instituições públicas,
dividiremos esta terceira parte do presente capítulo em três artigos.

As obras e as instituições públicas destinadas a facilitar o comércio da sociedade. Em


primeiro lugar, as que são necessárias para facilitar o comércio em geral. É um fato
evidente, que não precisa de nenhuma demonstração, que a criação e manutenção das
obras públicas para facilitar o comércio em qualquer país — tais como boas estradas,
pontes, canais navegáveis, portos etc. — necessariamente requerem gastos cujo montante
varia muito, de acordo com os diversos períodos da sociedade. As despesas para construir
e manter as estradas públicas de qualquer país devem forçosamente aumentar ao mesmo
tempo que a produção anual da terra e do trabalho de respectivo país, ou ao mesmo tempo
que a quantidade e o peso das mercadorias que se torna necessário buscar e transportar
nessas estradas.
Não parece necessário que os gastos feitos com obras públicas sejam pagos com aquela
receita pública — como se denominá-las —, cujo recolhimento e aplicação, na maioria dos
países, estão confiados ao poder executivo. A maior parte dessas obras públicas pode ser
facilmente administradas de tal maneira que elas mesmas gerem uma receita específica
suficiente para cobrir seus próprios custos, sem acarretar ônus algum à receita geral do
país.
Os abusos que às vezes se introduzem furtivamente na administração local e provincial de
uma receita local e provincial, por maiores que possam parecer, na realidade são quase
sempre muito insignificantes, em confronto com os que costumam existir na administração e
no dispêndio da receita de um grande império. Ademais, esses abusos são corrigidos com
muito mais facilidade.
As obras e as instituições públicas necessárias para facilitar determinados setores do
comércio. O objetivo das obras e das instituições públicas que acabei de mencionar é
facilitar o comércio em geral. Entretanto, para agilizar certos setores específicos do mesmo,
impõem-se instituições específicas, que também exigem um gasto especial extraordinário.A
proteção ao comércio em geral sempre foi considerada essencial para a defesa do Estado
e, por esse motivo, um elemento necessário dos deveres do poder executivo.Por isso, o
recolhimento e a aplicação das taxas aduaneiras gerais sempre couberam àquele poder.
Ora, a proteção de qualquer setor específico do comércio faz parte da proteção geral devida
ao comércio e, portanto, é um dever inerente ao poder executivo; e, se as nações sempre
agissem coerentemente, as taxas específicas recolhidas para os fins dessa proteção
também deveriam ser sempre colocadas à disposição desse poder.
O valor de uma ação no capital acionário é sempre o preço que ela alcança no mercado; e
este poder pode ser maior ou menor, em qualquer proporção, do que a soma que seu
proprietário possui no capital da companhia.Os negócios de uma companhia de capital
acionário sempre são administrados por um grupo de diretores. Na verdade, este muitas
vezes está subordinado, sob muitos aspectos ao controle de uma assembléia geral de
acionistas.

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