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Tânia Petersen Corrêa 2023

INTRODUÇÃO À MACROECONOMIA

COMÉRCIO EXTERNO

Encontram-se, listadas a seguir, diversas informações e


conceitos sobre assuntos ligados ao comércio externo.

Para poder entender as relações de comércio exterior do país temos que conhecer,
minimamente, o que é o Balanço de Pagamentos, o que é a taxa de câmbio, a evolução
das nossas contas e vulnerabilidades nos últimos tempos.
Um Balanço de Pagamentos mostra o registro contábil de todas as transações
econômicas e financeiras de um determinado país com resto do mundo. É composto por
duas contas principais, que são:

Transações Correntes Conta de capital/financeira

A conta de Transações Correntes nos mostra o resultado do comércio de bens,


serviços e rendas do país com o resto do mundo. A conta Capital/Financeira nos mostra
os movimentos de capitais ocorridos entre os residentes e os não residentes, durante o
período.
Os países que têm Transações correntes positivas (vendem mais do que compram
bens e serviços), em geral mostram na conta capital/financeira, como aplicaram esses
recursos no resto do mundo, já os países, como o Brasil, que têm a conta transações
correntes negativa (compram mais do que vendem bens e serviços), mostram na conta
capital/financeira, como obtiveram recursos para poder “fechar” suas contas, já que têm
que obter recursos para saldar seus débitos, e esses recursos não podem ser em Reais.
Um país que tenha muitos saldos negativos (déficits) em Conta Corrente, terá que
financiar esses déficits com a entrada de investimentos, ou a entrada de empréstimos, do
resto do mundo, o que torna a sua situação de vulnerabilidade, maior.
Se olharmos a situação do Brasil, podemos classificá-lo como um país que tem
déficit em Conta Corrente. Salvo alguns anos em que as nossas exportações de bens foram
muito altas e suficientes para nos dar uma Balança Comercial (exportações – importações
de bens) positiva, capaz de cobrir a balança de serviços e a de rendas, sempre negativas,
o nosso resultado de transações correntes é negativo. Temos que pagar a mais do que
temos a receber, e esse déficit tem que ser coberto de alguma forma.

Vejamos a seguir os dados do Balanço de Pagamentos do Brasil, em 2022.

Obs: Os dados apresentados no material são do site do Banco Central.


www.bcb.gov.br Estatísticas Indicadores econômicos selecionados indicadores
econômicos consolidados.

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Balanço de pagamentos–BRASIL
US$ milhões
Discriminação 2022

Transações correntes -56 068


Receitas 423 270
Despesas 479 338

Balança comercial (bens) 4 135


Receitas 379 783
Despesas 375 648
A conta TRANSAÇÕES
Serviços -40 018 CORRENTES engloba todas
Receitas 39 455
Despesas 79 473
as transações de bens e
serviços, entre residentes e
Renda primária -64 001 não residentes, no período. É
Receitas 36 770
Despesas 100 771
a soma da balança comercial,
da balança de serviços, da
Renda secundária 3 798 conta renda primária e renda
Receitas 6 717
Despesas 2 919
secundária.
Serviços: viagens,
Conta capital 245 transportes, seguros, serviços
Receitas 473 governamentais, ...
Despesas 228
Rendas primárias: receitas e
Conta Financeira: Concessões líquidas (+) -57 350 despesas com remessas de
Captações líquidas (-) lucro, pagamento de juros,
Investimento direto -59 878 pagamento de salários, ...
Investimentos diretos no exterior 30 694 Rendas secundárias: doações.
Ingressos 9 651
Saídas 40 345
Investimentos diretos no país 90 572 Como vemos, a nossa
Ingressos 159 525
Saídas 68 952
balança comercial é positiva,
Investimentos em carteira 4 091 mas as contas de serviços e
Investimentos em carteira – ativos - 251 rendas primárias são
Receitas 40 427 negativas e altas.
Despesas 40 176
Investimentos em carteira – passivos -4 342
Receitas 236 072 A conta de capital considera
Despesas 240 414 as aquisições ou vendas de
Ativos de reserva -7 284 ativos não financeiros e não
Ouro monetário -
Ouro em barras - produzidos, como marcas,
Contas em ouro não alocado - patentes, direitos de autor
Direitos Especiais de Saque 547 ou terrenos de embaixadas,
Posição de reserva no FMI 158 por exemplo.
Outros ativos de reserva -7 990
Moeda e depósitos -6 691

Erros e omissões -1 527

A outra conta Financeira, mostra os valores que entraram e saíram, de movimentos


de capital como: investimentos diretos (investimentos produtivos. Empresas que montam

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outras empresas em outros países), investimentos em carteira (ações e fundos de


investimento, títulos de renda fixa que os estrangeiros compram aqui no Brasil e que os
residentes aqui, compram lá fora), outros investimentos, empréstimos e amortizações.
A melhor forma de observar é confrontando os valores que entram com os que
saem do país. Em 2022 a entrada líquida de capital/Financeira, foi de (57.350+245 =
57.595).
As informações importantes são, portanto: o resultado em conta corrente e o
resultado da entrada e saída de capitais. Se, como no nosso caso, tivemos um déficit em
conta corrente (-56.068) temos que observar se houve entrada líquida de capitais
suficiente para cobrir o déficit, ou não (+ 57.595). Se houve, o país consegue “fechar”
suas contas, porém temos que observar que a entrada líquida de capitais hoje, gera
consequências de remessas de capitais nos próximos períodos. Investimentos entrando,
geram remessas futuras de lucros, e empréstimos entrando, geram pagamento futuro de
juros e amortizações.

No Brasil, nos 12 meses acumulados em junho de 2023, o saldo de transações


correntes foi de (– US$50 bilhões), enquanto a entrada de investimentos diretos foi de
US$80 bilhões. A entrada de investimentos cobre, com folga, o déficit em conta corrente.

ESTRUTURA DO BALANÇO DE PAGAMENTOS (ATUAL)


(USP pág. 313 e 502)
I - Balanço Comercial
II - Balanço de Serviços
III – Balanço de Rendas
IV - Donativos ou Transferências Unilaterais Correntes
V - Saldo do B.P. em T.Correntes (= I + II + III + IV).
VI – Conta capital e financeira
VII - Erros e Omissões
VIII - Saldo total B.P. ( = V + VI + VII)
IX – Haveres da Autoridade monetária (são as variações das Reservas Internacionais)
(= - VIII)

- DÍVIDA EXTERNA

Em fevereiro de 2008 o Banco Central anunciou que o Brasil passou de devedor


a credor externo, isto é: os créditos em moeda estrangeira do governo e das empresas
brasileiras [reservas internacionais (US$188 bilhões), depósitos bancários no exterior e
empréstimos concedidos lá fora (US$14 bilhões)] superam a dívida externa de US$198
bilhões.
ANO DÍVIDA TOTAL DÍVIDA DÍVIDA PRIVADA
PÚBLICA
03/2006 US$193bilhões US$ 89 bi US$ 104 bi
02/2008 US$198 bilhões US$ 84 bi US$ 114 bi
01/2010 US$200,9 bilhões US$ 104 bi US$ 97
12/2010 US$256,8 bilhões US$ 104 bi US$ 152,8
09/2012 US$ 301,2 bilhões US$ 131,1 bi US$ 170,1
12/2013 US$ 287 bilhões US$ 116 bi US$ 171 bi

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07/2014 US$ 330 bilhões US$ 70 bi US$ 260 bi


12/2016 US$ 334,6 bilhões US$ 81 bi US$ 253 bi
09/2017 US$ 317 bilhões(26% do PIB) US$ 132 bi US$ 185 bi
12/2018 US$ 320 bilhões(30% do PIB) US$ 130 bi US$ 190 bi
12/2019 US$ 322 bilhões US$ 154 bi US$ 169 bi
12/2020 US$ 310 bilhões 40% 60%
12/2021 US$ 325,44 bilhões 40% 60%
03/2023 US$ 319 bilhões

A primeira renegociação da dívida externa ocorreu em 1829. Ao longo do tempo,


o Brasil deixou de honrar seus compromissos externos, outras seis vezes, sendo a última
em 1987 (Sarney).
O que se andou publicando na mídia de que a dívida externa do Brasil havia
acabado, é relativo à informação de que a dívida do país, é agora, muito próxima do valor
das reservas internacionais, guardadas no Banco Central. Tínhamos em março de 2011,
reservas no valor de US$ 317 bilhões, enquanto a dívida era de US$ 256,8 bilhões. A
dívida existe, mas as reservas disponíveis são maiores que a dívida. Isso acontece até os
dias de hoje.
O país que tem a maior dívida externa do mundo são os EUA (US$ 20 trilhões), o
que equivale a 100% do valor do PIB norte americano.

2021 - A dívida pública federal externa (DPFe) caiu 7,23%, passando de R$ 255,46
bilhões em março para R$ 237 bilhões em abril. Além da queda de 5,16% do dólar no
mês passado, houve o vencimento de R$ 6,88 bilhões referentes à última emissão de
títulos em euro do Brasil, ocorrida em 2014.

- BRASIL PERDE, O GRAU DE INVESTIMENTO (INVESTMENT GRADE)

O risco país mede a probabilidade média de calote das empresas e governo de uma
nação. Existem agências tradicionais de risco como: Moody´s, Fitch e Standard & Poor´s
e, existem as particulares como a Coface, que é uma seguradora de créditos comerciais,
e só classifica riscos de crédito que ela mesma aceita correr. Classificação: A 1, A2, A3 e
A4, B, C e D. O Brasil estava no A4. A Coface autoriza e incentiva investimentos em todos
os níveis de A.

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O grau de investimento é a nota dada por agências de classificação de risco a


países nos quais o investimento é considerado seguro. O rating é a nota que as agências
atribuem a um emissor (país ou empresa) de acordo com sua capacidade de pagar dívidas.

Em junho de 2023 a Standard & Poor’s mudou a perspectiva para a nota de crédito
do Brasil para positiva.
Julho de 2023: SP (FOLHAPRESS) - A agência de classificação de risco Fitch elevou a
nota de crédito soberano do Brasil a BB, contra BB- antes, com perspectiva estável.
Segundo a Fitch, a decisão reflete um desempenho macroeconômico e fiscal melhor que
o esperado e a agenda de reformas, com o avanço da Reforma Tributária e do arcabouço
fiscal no Congresso no governo de Luiz Inácio Lula da Silva, e a reforma da
Previdência e a independência do BC (Banco Central) nos anos anteriores.

Oficialmente, o Brasil possui contrato para classificação de seu risco de crédito com a
Standard and Poor’s (S&P), a Fitch Ratings (Fitch) e a Moody’s Investor Service. Para
atribuir as notas, as agências usam letras, números e sinais matemáticos (+ ou -). Na
S&P e na Fitch, por exemplo, o grau de investimento vai de BBB- até AAA e o grau
especulativo, de D até BB+.
Muitas vezes, fundos e carteiras de aplicação só podem aplicar em títulos seguros, que
levam certificado de grau de investimento - e, por isso, o grau de investimento é tão
importante e cobiçado. O Brasil conseguiu receber o grau de investimento da S&P em
2008, durante o governo Lula. A Fitch e a Moody’s seguiram a decisão e concederam o
upgrade no rating brasileiro em 2008 e 2009, respectivamente. Mas, em 2015, com a
deterioração das contas públicas durante o governo da presidente Dilma Rousseff, a
S&P retirou do Brasil o grau de investimento. Na época, o rating do Brasil foi de BBB-
para BB+, com a perspectiva negativa da nota sendo mantida. A decisão aconteceu nove
dias após Dilma enviar ao Congresso o projeto de Orçamento com déficit para 2016.

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- RESERVAS INTERNACIONAIS

Reservas Brutas: soma de todas as reservas internacionais do país, incluindo os


empréstimos do FMI, do BIRD e do BID.
Reservas Líquidas: excluem os recursos do FMI (que só podem ser usados, em
último caso, para pagamento de financiamentos e importações), e os títulos da dívida
externa brasileira, recomprados pelo BC, além de outros recursos com depósitos dos
bancos domiciliados no exterior, mas com sede no país. (piso = US$5 bilhões)
A maior parte das reservas está aplicada em Títulos do Tesouro Norte
Americano, que são fáceis de vender e seguros.
Reservas elevadas são um seguro contra a recessão, pois diminuem o risco
incentivando a entrada de capital externo. O nível de reservas considerado ideal é de US$
243 bilhões, segundo o FMI, em 2019.

DATA RESERVAS BRUTAS – US$ BI


Maio/2007 120,000
Fev/2008 188,000
Abril/2009 203,255
Jan/2010 240,8
Jan/2011 288,5
Maio/2012 365
Set/2012 376,5
Dez/2013 375,79
Jul/2014 380
Agosto/2015 370,7
Março/2016 375,28
Out/2017 381,52
Jul/2018 379,44
Dez/2019 361,7
Jan/2021 355
Dez/2021 362,2
Abr/2022 348,26
Jun/2023 343,60
Henrique Meirelles presidente do BC de 2003 a 2011, acumulou reservas e reduziu a dívida
externa.
Quando fazemos pagamentos ao exterior, nossas reservas diminuem e, quando
recebemos valores do exterior, recebemos em dólares, euros, yuans ou libras, e nossas
reservas crescem. As reservas são compostas por valores em moedas fortes, ouro
monetário e direitos especiais de saques (moeda do FMI). Hoje temos uma posição
confortável de reservas, mas já houve época em que tivemos problemas.

A maior parte das reservas é formada por títulos conversíveis em dólares e por
dólares depositados em bancos centrais de outros países, no Fundo Monetário
Internacional (FMI) e no Banco de Compensações Internacionais (BIS). No fim de 2020,
essa parcela chegava a US$ 332,0 bilhões, ou 93,4% das reservas.

Em 2022 nossas reservas eram compostas por: 80,42% em US$, 4,74% em €,


5,37% em Yuans, 3,4% em Libras e 2,2% em ouro e 4,1% em “outros”.

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Em 2023 as RESERVAS da China são de US$ 3,13 trilhões enquanto as do Japão


de US$ 1,2 trilhões, sendo esses os países com maior volume de reservas do mundo.
Vamos fazer um exemplo: suponha que um país tenha déficit em conta corrente
igual a 100, e que durante o ano a entrada líquida de capitais seja de 40, logo o país teria
que tirar a diferença (60), das suas reservas, para honrar seus compromissos. Acontece
que esse país não tem reservas dessa magnitude. Logo não tem como fechar suas contas
do balanço de pagamentos.

O Fundo Monetário Internacional (FMI) tem como objetivo socorrer os países


com problemas no Balanço de Pagamentos. Somos um dos países que faz parte da
formação da instituição, e podemos pedir “socorro” até determinado valor,
correspondente à nossa cota, mas muitas vezes a necessidade é superior à cota, e nesse
caso, se o FMI empresta o valor maior, vai obrigar o país a “se comportar”, e tomar
medidas para conter o déficit. Tivemos muitos problemas na década de 80. Como não
tínhamos reservas e não conseguimos valores tão altos com FMI, BID,... demos calote.
Tivemos que lançar a conta ATRASADOS. Devo, não nego, pago quando puder.

O acordo entre Argentina e FMI, em 2023, tem o objetivo de que o país termine o
ano com reservas de US$ 1 bilhão, bem abaixo da meta estabelecida de US$ 8 bilhões.

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- CÂMBIO (USP pág. 496)

Um dos temas mais controversos na definição da política econômica dos países é a


escolha da política cambial, ou seja, os critérios para a fixação do valor da moeda local,
relativamente às demais. Particularmente em relação aos países em desenvolvimento, essa
é uma tarefa dificultada pelo fato de não serem possuidores de moedas transacionáveis
internacionalmente.
Houve vários períodos, até a década de 70 e na década de 90 em que,
equivocadamente, recomendou-se a esses países, tanto os acadêmicos quanto os órgãos
multilaterais, a adoção de taxas de câmbio fixas, atreladas direta ou indiretamente ao
dólar.
Esta definição mostrou-se radical no caso argentino que manteve o regime de
conversibilidade durante mais de dez anos, com graves consequências para a atividade
econômica, emprego, balanço de pagamentos e estabilidade macroeconômica. O controle
inflacionário foi conseguido com um custo social e econômico muito alto,
desproporcional.
O Brasil manteve sua taxa valorizada de 1994 a janeiro de 1999, embora sem adotar
o regime de conversibilidade. Posteriormente ambos os países adotaram o regime de
câmbio flutuante (Brasil em 1999 e Argentina em 2001), mais adequado às suas
realidades.
No entanto, um regime de câmbio flutuante PURO ou totalmente flexível, é
inadequado para países em desenvolvimento. Aliás, nenhum país, mesmo desenvolvido,
adota a prática de câmbio flutuante puro. Em geral prevalece um regime de câmbio
flutuante SUJO, sistema no qual o Banco Central observa o comportamento do mercado,
decidindo o momento de intervir, para evitar excessivas valorizações ou desvalorizações.
Ocorre que a globalização financeira aumentou a liquidez dos mercados, ampliando
o volume de investimentos e financiamentos entre os países, mas também implicou no
aumento da volatilidade dos mercados, provocando instabilidade.
Todos os dias cerca de US$ 2 trilhões mudam de mãos nos mercados internacionais,
afetando o comportamento das taxas de câmbio e de juros no mundo, que passam a ter
determinação mais exógena.

TIPOS DE TAXAS DE CÂMBIO:

a) TAXAS DE CÂMBIO TOTALMENTE FLEXÍVEIS OU FLUTUANTES.


É o regime cambial no qual a autoridade monetária permite que a taxa de câmbio,
que é um preço, flutue ao sabor da oferta e da demanda por divisas (moedas estrangeiras).
A demanda por divisas é formada por residentes que precisam de dólares, euros,...
para fazer compras (importadores) e/ou pagamentos no resto do mundo.
A oferta de divisas é formada por residentes que têm a receber em dólares, euros,...,
como exportadores, e credores ou tomadores de empréstimos do resto do mundo.

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Vamos tentar entender a dinâmica: suponha que na posição inicial, (X 1; P1), a taxa de
câmbio seja R$4/US$1, no gráfico abaixo.
R$/US$ No ponto (X1; P1) representado ao
lado, o preço em Reais necessário
O1
para comprar um dólar é R$4,00.
5/1 2 Uma crise como a que estamos
4/1 1 enfrentando (vírus) faz com que as
empresas que têm dívidas em US$ e
D2 as pessoas queiram se proteger,
D1 comprando US$. Isso aumenta a
demanda por dólares, para D2.

X1 X2 X (quantidade de divisas)
Teremos, então, um novo equilíbrio, no ponto (X2; P2). O preço (taxa de câmbio)
subiu para R$5/US$1. Isto é, precisamos de mais Reais para comprar o mesmo dólar.
Houve uma desvalorização do Real.
Porém a autoridade monetária (política cambial) não fica confortável com o possível
sobe e desce da taxa de câmbio, pois esses movimentos podem atingir pessoas e empresas.
Por exemplo: uma empresa que utilize insumos importados, verá seus custos crescerem,
pois terá que pagar mais por eles. No Brasil, 30% das importações são de insumos e outros
30% são de bens de capital (máquinas e equipamentos).
A autoridade monetária pode entrar no mercado cambial tentando remediar a
situação. Pode vender títulos cambiais (papéis que são resgatados mais à frente, no valor
da taxa de câmbio vigente), ou pode pegar parte das reservas internacionais e vender, à
vista, no mercado.

R$/US$
Com o aumento da oferta, teremos
O1 O2 queda da taxa de câmbio, como
5/1 2 podemos ver no gráfico ao lado.
O novo equilíbrio (3) se daria com
4/1 1 3 uma taxa de câmbio entre
D2 R$4/US$1 e R$5/US$1.
D1

X1 X2 X (quantidade de divisas)

Por isso dizemos não ser esse o regime flutuante “puro”. Com a autoridade
monetária regulando o sistema é um regime flutuante “sujo”.
O aumento da taxa de câmbio pode fazer os exportadores serem mais bem
remunerados e os importadores terem que pagar mais caro por suas compras, ou ao
contrário, no caso de queda da taxa. Quando o câmbio se desvaloriza, todos os
endividados em dólares (empresas e governos), terão que ter mais Reais para comprar os
mesmos dólares.

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Em 23/04/2020 a taxa de câmbio alcançou o valor de R$5,40/US$1. Além de toda


a turbulência no mundo, o fato de que a taxa de juros no Brasil está baixa, e com tendência
de baixa, faz com que capitais estrangeiros deixem de se dirigir para cá, pois eles vêm
para ganhar os rendimentos proporcionados pelos nossos juros. Se deixam de vir, a oferta
no mercado cambial se reduz. Porém muitas pessoas e empresas que estavam com
dinheiro aplicado aqui, resolvem tirar esse dinheiro do Brasil, para não correr risco. Isso
aumenta a demanda por dólares, pois os Reais devem ser transformados em dólares para
voltar ao exterior.
R$/US$
Vemos ao lado a redução da oferta,
O2 de O1 para O2, e o aumento da
5,4/1 2 O1 demanda de D1 para D2, o que faz o
valor do câmbio subir de R$5/US$1
5/1 1 para R$5,4/US$1.
D2
D1

X1 X2 X (quantidade de divisas)
Obs: No dia 24/04/2020, com o pedido de demissão do Sérgio Moro, tivemos um
aumento grande da insegurança quanto ao futuro, depois da crise do COVID19, o que
levou a demanda por dólares a explodir e, mesmo com o BC vendendo US$ 3 bilhões
(aumentando a oferta de divisas), a cotação subiu para R$ 5,65/US$1. Em 07/05 a cotação
já estava em R$ 5,7/US$1.
Ao longo do ano de 2020, a saída líquida de dólares do país chegou a US$28 bilhões.
Segundo pior resultado da série histórica iniciada em 1982. Em 2019 houve saída líquida
de US$ 44,8 bilhões, assim, em apenas 2 anos tivemos uma saída líquida de US$ 72,7
bilhões.
Em 26 de fevereiro de 2021 a taxa de câmbio subiu para R$5,5/US$1, apesar do BC
ter interferido com operações de venda no mercado à vista, somando US$ 2 bilhões. O
forte movimento de aversão ao risco, no exterior, pelos problemas enfrentados no Brasil,
como votação de PEC emergencial, preocupação com o Problema de comando da
Petrobrás e piora no quadro da pandemia, faz com que a oferta de dólares se reduza e a
demanda por dólares cresça. Em 12/03/2021 o BC ofereceu até US$ 1 bilhão em leilões
de SWAP cambial. Dois dias antes já havia ofertado US$ 1,4 bilhões por esse instrumento.

b) TAXAS DE CÂMBIO FIXAS

Neste sistema cambial a autoridade monetária se compromete a pagar (comprar ou


vender) dólares a um preço fixo. Neste caso o Banco Central (BC) fica obrigado a
financiar o déficit do balanço de pagamentos.
Veja o caso de um país que importe mais do que exporte. Quando os exportadores
vendem, recebem em dólares. Esses dólares ficam no BC, e este paga em Reais para os
exportadores. Porém quando os importadores entregam Reais, ao BC, para comprar os
dólares e pagar ao exterior, o BC “tem que ter os dólares para entregar aos importadores”.

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Se as reservas internacionais forem diminuindo, o BC terá que se endividar para ter


dólares para entregar aos importadores.
Como se monta um sistema de câmbio fixo com vários países?
Em 1945, depois da 2ª guerra, os EUA se comprometeram a converter ouro em
dólares ou vice-versa, garantindo assim o sistema que se criou.

1 onça troy Se US$36 compram uma onça troy de


de ouro ouro (1 onça troy = 31,1034768 gramas),
e 72 Libras compram a mesma
quantidade, então 2 Libras = US$1.
72 Libras $4 marcos alemães = US$1 e eram
US$ 36 144 Marcos necessários apenas 18 centavos de
cruzeiros para comprar US$1.
Cr$ 6,48

Precisamos entender que, na época, era considerado um país grande e forte aquele
que tivesse a sua moeda valorizada.
Marcando esse valor de câmbio, acabamos com o nosso comércio externo por
décadas. Nosso produto era caro para o estrangeiro. Cada US$ deles comprava apenas
Cr$0,18, mas o produto deles era “mega” barato para nós. Cada Cr$0,18 nosso, comprava
R$1, deles. E nós compramos muito.
Só saímos desse sistema de câmbio fixo, em 1967, e o sistema como um todo só
acabou em 1970. Quando a maioria dos países passou a adotar câmbio flutuante. Porém,
alguns países como a China, usam ainda o câmbio fixo. É o governo Chinês que determina
o valor da taxa de câmbio praticada.
Como eles usaram esse preço para alavancar o crescimento, pois marcaram o valor
do Yuan muito baixo (desvalorizado), para poder vender muito para o resto do mundo, os
países como EUA, Alemanha,... reclamam, pois acham que a moeda chinesa deveria se
valorizar. Só que aí, a China venderia menos para o resto do mundo, o que não é de
interesse da China.
A taxa de câmbio flexível aumenta ou diminui de acordo com o movimento
internacional de capitais, tanto pelo pagamento do comércio externo quanto pela parte
financeira do Balanço de Pagamentos.
No entanto, sabemos que existe um outro fator que também influencia no
movimento cambial. Quando o comércio se dá entre países que tenham patamares
próximos de inflação, isso não traz transtorno, porém, caso um dos países tenha inflação
interna maior do que a inflação externa, os problemas aparecem.

c) TAXA DE PARIDADE
- é a taxa que mantém o valor do produto brasileiro, constante, em dólares.

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Sabemos que a inflação interna, no Brasil, em geral, é maior do que a inflação nos
principais países com os quais comerciamos. Quanto maior for esse diferencial de
inflação mais problemas ocorrem. Vamos fazer um exemplo:
Suponha que em janeiro de 2021, a taxa de câmbio era R$5,00/US$1. Suponha também
que o preço médio de um par de calçados seja de R$100,00. Neste caso, olhando o
problema do lado do exportador temos:
1 par de calçados = R$100,00
1 par de calçados = US$20
Suponha, agora que durante o ano de 2021, a inflação aqui dentro seja de 10%, enquanto
a inflação nos EUA seja de 2%a.a. Caso a taxa de câmbio não se altere, teremos:
1 par de calçados = R$110,00
1 par de calçados = US$22
O estrangeiro não aceita o aumento de 10% no preço, em dólares, uma vez que na terra
dele a inflação foi bem menor. Deixa de comprar o produto brasileiro.
Caso haja correção do valor da taxa de câmbio, que elimine o diferencial da inflação, o
problema é eliminado.
Veja: IPABR=10%; IPAEUA=2%; Tx paridade=TP; Taxa de câmbio inicial= TC

1+𝐼𝑃𝐴𝑏𝑟 5 1,10
TP = TC . 1+𝐼𝑃𝐴𝑒𝑢𝑎 TP = 1 . 1,02 = 5 . 1,0784 = 5,39

(o valor da taxa de câmbio deveria passar a ser de R$5,39/US$1, para manter a paridade)
Para corrigir o câmbio pela paridade a taxa de câmbio de janeiro de 2022 deveria ser de
R$5,39/US$1. Dessa forma, teríamos:
1 par de calçados = R$110,00
20,4
1 par de calçados = US$20,4 (veja que 20 = 1,02 , ou seja, para o
estrangeiro o preço do calçado brasileiro teria aumentado exatamente 2%. Valor da
inflação lá no país dele).

1+𝐼𝑃𝐴𝑒𝑢𝑎
Já a taxa de câmbio real, faz o raciocínio contrário: TR = TC . 1+𝐼𝑃𝐴𝑏𝑟

Obs: a teoria da paridade do poder de compra, compara um produto homogêneo vendido


em países diferentes. Exemplo BigMac (Lei do preço único). A taxa PPP (paridade do
poder de compra) é calculada pelo preço do BigMac aqui (R$16,90) e nos EUA
(US$5,58), o que nos dá uma taxa PPP de R$ 3,03/US$1.

12
Tânia Petersen Corrêa 2023

BRASIL
PLANO DATA TIPO DE TAXA CAMBIAL
CRUZADO Março 1986 Congelada (fixa)
I (Sarney)
CRUZADO Nov. 1986 Desvalorização diária
II
BRESSER Junho 1987 Desvalorização diária
MAÍLSON Jan. 1988 Desvalorização diária
VERÃO Jan. 1989 Congelada (fixa)
VERÃO Maio 1989 Desvalorização até 6 vezes por mês
VERÃO Julho 1989 Desvalorização diária
COLLOR I 16 de março 1990 Flutuação livre controlada pelo BC
COLLOR II 01 de fev. 1991 Congela preços e câmbio
ITAMAR Jan. 1993 Controla o câmbio mantendo o
Real valorizado
REAL Julho 1994 Flutuação livre controlada pelo BC
28/02/86 Cr$ 1.000,00 = Cz$ 1,00 (cruzeiro – cruzado)
16/01/89 Cz$ 1.000,00 = NCz$ 1,00 (cruzado – cruzado novo)
16/03/90 NCz$ 1.000,00 = Cr$ 1,00 (cruzado novo – cruzeiro)
01/08/93 Cr$ 1.000,00 = CR$ 1,00 (cruzeiro – cruzeiro real)
01/07/94 CR$ 2.750,00 = 1 UFIR 1 UFIR = R$ 1, 00 (UFIR – Real)

- INTERVENÇÃO DO BC NO MERCADO DE CÂMBIO

- Venda/compra de dólares à vista (das reservas)


- Leilão de linha externa (espécie de aluguel de dólares ao mercado)
- Venda de títulos cambiais
- Leilão para oferecer linhas de crédito à exportação (das reservas), com prazo de
5 dias úteis para que os bancos repassem o dinheiro aos exportadores.

Em setembro de 2020, estava em R$ 5,6/US$1.


O presidente do BC, Roberto Campos Neto, disse em 8/8/2019, que o BC vai
continuar intervindo no câmbio, sempre que houver distorções. Atendendo à demanda no
mercado spot (à vista) e via leilões de linha (venda de dólares com compromisso de
recompra no futuro).
Em abril de 2022, começou a haver, pela primeira vez no ano, saída líquida de
capital do Brasil. Os estrangeiros retiraram R$7,67 bilhões da Bolsa. No ano o saldo ainda
é positivo, com entrada de R$57 bilhões. É o capital especulativo, retornando ao resto do
mundo, com o aumento das taxas de juros nos EUA e na Inglaterra.

13
Tânia Petersen Corrêa 2023

Os juros mais generosos e robustos, tornam a atratividade do dólar maior, e isso


leva à saída de capital daqui, por ser mais arriscado. Assim temos: aumento da demanda
por dólares, por quem está se retirando e diminuição da oferta de dólares, que deixam de
vir para cá. O BC tem, então, que intervir, aumentando a oferta, fazendo leilões de títulos,
na tentativa de frear o aumento da taxa de câmbio que já está em R$5/US$1.

- DESVALORIZAÇÃO CAMBIAL

A desvalorização da moeda frente ao dólar torna mais caro o pagamento da


Dívida Externa (as firmas têm que ter mais reais, para obter os dólares, para poder pagar
juros e amortizações). Porém a desvalorização aumenta a remuneração dos exportadores
e torna nosso produto mais barato no exterior. O aumento da entrada de dólares, via
aumento do valor das exportações, redobra a confiança do mercado na capacidade do
país de pagar suas dívidas, mesmo pressionadas pelo câmbio.
Os países Asiáticos adotam como política econômica permanente ter uma
moeda mais fraca. Aumentando sua competitividade nos mercados mundiais.

R$/US$
7.00

6.00

5.00

4.00
R$/US$

3.00

2.00

1.00

0.00

Voltamos em 2018 ao patamar de onde saímos em 2002, quando a eleição do presidente


Lula fez com que a moeda brasileira se desvalorizasse muito pela incerteza, e voltamos
ao mesmo patamar, pelo mesmo motivo: as eleições de 2018 jogam o Brasil, novamente,
num mar de incerteza quanto à condução da política econômica. De 2002 até 2012, a taxa
de câmbio caiu (o real se valorizou). De 2014 para 2020, o Real se desvalorizou.
(07/09/2020 R$/US$ = 5,6). Em agosto de 2021 está em R$ 5,45 por US$1.
Em fins de março de 2022, a cotação do dólar é de R$ 4,75/US$1. As boas notícias
sobre as negociações da guerra, fizeram a demanda se reduzir e o diferencial das taxas de
juros interna e externa está alto, incentivando a entrada de capital estrangeiro no Brasil,
isto é, aumentando a oferta de dólares. Em 09/09/23 a taxa de câmbio é de R$4,99/US$1.

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Tânia Petersen Corrêa 2023

PRESSÃO PARA A ALTA DO DÓLAR (até 2002) e depois de 2014

Por que o dólar subiu? (para 2020)


O real costuma ser muito afetado pelo que acontece no exterior, ela explica, porque o
país depende muito do investimento estrangeiro para captar dólares.
Quando o mundo está mais avesso a risco, esses investidores costumam tirar o dinheiro
de mercados emergentes, como o Brasil, e levá-los a mercados considerados mais
seguros, ainda que o retorno seja menor. Com menos dólares circulando, o preço sobe.
E, de fato, o Brasil tem assistido a uma saída de investidores estrangeiros — e
domésticos — de seu mercado de capitais.
Conforme as estatísticas do setor externo divulgadas pelo Banco Central, o saldo líquido
entre janeiro e agosto é negativo em US$ 28,3 bilhões, quando se considera o chamado
investimento em portfólio (aquele feito em ações ou títulos de dívida, modalidade
diferente do chamado "investimento direto no país", que contabiliza o fluxo de capitais
no setor produtivo, como a participação direta em empresas, por exemplo).
A estimativa do Institute of International Finance (IIF), que tem projeções para o
investimento em portfólio divididas entre residentes e não-residentes, é que os
estrangeiros, sozinhos, retirem US$ 24 bilhões do Brasil entre janeiro e dezembro de
2020.
Para Martin Castellano, chefe do departamento de pesquisas do IIF para a América
Latina, um dos fatores que explicam a fuga de investidores — e, por consequência, a
desvalorização do real — é o risco fiscal.

11/10/2002 – US$ 1,00 = R$ 3,99 MOTIVOS: eleição, escassez e


especulação, incerteza (primeiro governo Lula).
A incerteza quanto ao resultado das eleições. Prato cheio para quem tem
interesse na alta do dólar. Os que têm papéis do governo, que vencem em 17/10, no valor
de US$3 bilhões, que o governo já avisou que não vai rolar. Como o pagamento dos
papéis é baseado na taxa média diária da cotação do dólar, calculada pelo BC (Ptax)
interessa a estes investidores que o dólar esteja alto. O BC está no corner: se vender moeda
para segurar a cotação, compromete o total das reservas, se renovar a dívida estará se
sujeitando a pagar um cupom cambial (juros que se somam à valorização do dólar nesses
papéis) que já chegou a 50% ao ano.
Até janeiro de 2003 são US$ 22 bilhões vencendo em títulos.
Em 17/10/2002 o BC resgatou US$1,857 bilhões em títulos corrigidos pela
cotação média do dólar (Ptax). O BC tentou renovar parte dos papéis, mas o mercado
pediu juros muito altos.
Em época de incerteza, todos querem dólares. Não há vendedores (escassez).

No início de 2015 o Real desvaloriza-se frente ao dólar por diversos motivos:


- O clima de incerteza em relação à situação da economia brasileira cresce
empurrado por acontecimentos como: Crescente número de corruptos sendo acusados
tendo entre eles muitos políticos, empresários e funcionários públicos do alto escalão,
acusados de fraude e roubo contra os cofres públicos e das empresas estatais.
- A Petrobrás, no olho do furacão, perde o “grau de investimento” fazendo com
que os olhos do mundo se voltem com desconfiança para nossa economia.

15
Tânia Petersen Corrêa 2023

- As informações sobre o descumprimento das metas de inflação e superávit


primário do governo que acumula déficits sucessivos.
- O aumento da taxa de desemprego, atrelada aos problemas das construtoras e
empresas que tinham contratos com o governo.
Tudo isso faz com que as pessoas fiquem com medo. Todos querem se proteger
com moeda estrangeira (aumento da demanda por dólares) e há, também, a diminuição
do fluxo de entrada de capital estrangeiro para o país, reduzindo a oferta de dólares.
Muitas empresas, públicas e privadas, estão endividadas em dólares.
Em agosto de 2019, o dólar volta a ultrapassar os R$ 4,00 (R$4,15/US$1).
Motivos: turbulência mundial (EUA x China), possibilidade de aumento dos juros nos
EUA, as expectativas ruins, aqui no Brasil, fazem os empresários quererem proteção
na divisa estrangeira.
Em 27/08/2019 o BC vendeu dólares à vista, queimando, na prática, parte das
reservas internacionais. Não se fazia isso desde 2009. Em geral o BC faz uma operação
conjugada com os swaps cambiais reversos – compra de dólares no mercado futuro.
As duas operações se anulam.
Em 2020 temos uma época de incertezas de saúde, econômicas e políticas. Quando
a crise se avoluma assim, TODOS querem se proteger na moeda estrangeira,
aumentando muito a demanda por dólares.
Por outro lado, o nível de risco afugenta os capitais estrangeiros que “viriam” para
cá (reduzindo a oferta), e mesmo com o Banco Central vendendo dólares (aumentando
a oferta), nossa moeda está se desvalorizando.

PRESSÃO PARA A QUEDA DO DÓLAR : valorização do Real (2004 a 2012)

- a estabilidade política e econômica, trouxe a queda do risco.


- a incerteza no resto do mundo e a piora da performance da economia dos EUA
fazem com que exista mais capital à procura de oportunidades, dirigindo-se em parte
para o Brasil. Essa enxurrada de capital de curto prazo aumenta a oferta de dólares,
valorizando o Real.
- usar a valorização cambial no auxílio à contenção da inflação, não dá certo no
longo prazo.
Em novembro de 2004 o valor do dólar voltou a ser o que era em junho de 2002.
Esta valorização se dá pela grande entrada de dólares por: exportações, entrada de
investimentos e empréstimos. Com a estabilidade econômica e a queda do risco país, a
entrada de dólares aumentou.
A valorização do Real trouxe as reclamações dos exportadores brasileiros. Dizem
que o dólar abaixo de R$3,00 torna os produtos brasileiros menos competitivos lá fora.
Ocorre que as exportações continuam a crescer. A previsão de superávit comercial
para 2008 é de apenas US$ 28 bilhões, enquanto em 2007 foi de US$ 40 bilhões. Os
motivos para a manutenção do crescimento das exportações são:
- O Euro e outras moedas de países importadores do Brasil, não se enfraqueceram
frente ao Real. A queda do dólar em relação às outras moedas é um fenômeno mundial.

16
Tânia Petersen Corrêa 2023

No Brasil, o câmbio é flutuante e oscila de acordo com o fluxo de recursos que entra
e sai. Enquanto houver maior entrada de recursos do resto do mundo para cá, do que saída
de recursos do Brasil para o exterior, o Real continuará valorizado. Em junho de 2021 a
valorização do Real se dá, principalmente pela entrada de dólares como pagamento aos
exportadores de commodities. A Balança Comercial está com saldo bastante alto.

Rublos Russos
Em 23 de fevereiro de 2022 – no dia anterior à invasão da Ucrânia , o dólar valia ₽ 81,15.
Com a desvalorização provocada pela guerra, a moeda norte-americana passou a valer
mais, e chegou à máxima de ₽ 143,00.

Nesta 5ª feira (31.mar.2022), o dólar equivale a ₽ 83,42.

O Banco Central da Rússia aumentou a taxa de juros para 20% ao ano em ação
emergencial. Além disso, o Kremlim fez controle de capital sobre aqueles que buscavam
trocar rublos por dólares e euros.
18/04/2022 - Yenes Japoneses
A queda do iene para cerca de 125-126 ienes por dólar, ante cerca de 115-116 por dólar
um mês atrás, foi volátil o suficiente para prejudicar as empresas.
"A recente queda do iene, que perdeu cerca de 10 ienes para o dólar em cerca de um mês,
é bastante acentuada e pode tornar difícil para as empresas definir planos de negócios".

- RENDAS

O item “RENDAS” da Balança de Serviços do Balanço de Pagamentos do Brasil


é sempre negativo, pois remetemos mais do que recebemos, rendas. Este item leva em
consideração as remessas de lucros e dividendos que as empresas estrangeiras que fizeram

17
Tânia Petersen Corrêa 2023

investimentos aqui, anteriormente, enviam de volta para o país de origem. Os


brasileiros que trabalham fora, enviam salários e ordenados para o Brasil em maior valor
do que os estrangeiros que aqui estão remetem esses valores, mas este é o único item
positivo. Os demais como: renda de investimento direto, renda de investimento em
carteira, lucros e dividendos, juros de empréstimos e juros de títulos de dívida, são todos
negativos. Remetemos mais do que recebemos.

ROYALTIES
Os royalties, que são definidos como uma porcentagem sobre a venda de um
produto, marca, patente, processo de produção ou uma obra original pelos direitos de sua
exploração comercial, são incluídos juntamente com o pagamento e recebimento de juros
e remessas e recebimentos de lucros, na Renda Líquida Externa que corresponde ao item
RENDAS do Balanço de Transações Correntes, do Balanço de Pagamentos.

- INVESTIMENTOS DIRETOS
As incertezas e aumento do risco geraram escassez de recursos externos com
retração dos investimentos. Isso não é só para o Brasil.
O Brasil recebeu US$236 bilhões em investimentos desde 1980 até 2002. No
mesmo período a China recebeu US$ 448 bilhões e os EUA, US$ 1.351 bilhões, mais
de 1/5 do total mundial de US$ 7,1 trilhões.
Para um país com baixa poupança interna (16% do PIB), enquanto na Coréia do
Sul tem 35% do PIB em poupança interna, o investimento externo é vital.
Os Investimentos Externos Diretos (IED), investimentos produtivos, que eram de
US$ 48,5 bilhões em 2008, foram para US$ 65,3 bilhões em 2012. A entrada desses
investimentos está deixando o Brasil numa posição confortável, pois eles conseguem
cobrir o déficit em Conta Corrente, que foi de US$ 49,5 bilhões em 2019. Caso não
houvessem entrado esses investimentos, estaríamos com sérios problemas para fechar
nossas contas externas. (o investimento externo compensa o déficit).
Em 2020, o investimento externo caiu ao menor patamar desde 2006. Em agosto de
2019, foi de US$ 9,5 bilhões. Em agosto de 2020, foi de US$ 1,4 bilhões. A fuga dos
investidores estrangeiros se deu pela crise mundial do coronavirus, pelo temor do
descontrole dos nossos gastos públicos e pelas notícias sobre o desmatamento.
Já em 2022, a guerra na Ucrânia e o aumento dos preços das commodities no
mundo, faz com que o Brasil se torne uma opção melhor para os capitais estrangeiros.
Neste início de ano houve grande entrada de capital, no Brasil. Porém, se os EUA
aumentarem as taxas de juros e a inflação aqui continuar crescendo, boa parte desse
dinheiro que entrou, pode sair.

18
Tânia Petersen Corrêa 2023

EUA
Nos anos 60 as famílias poupavam de 7 a 10% do salário, hoje (2008) só poupam
0,4%, mas a voracidade do consumo continua alta. As importações norte americanas
suplantam as exportações em cerca de US$ 700 bilhões por ano, levando a uma balança
comercial muito negativa e alta, que tem que ser financiada com a entrada de capitais da
Alemanha, Japão, China, ..., levando a economia americana a uma dependência
indesejada.

Em 2018 os EUA tiveram o maior déficit comercial em dez anos: US$891,3


bilhões. O déficit de Bens e Serviços (transações correntes) foi de US$ 621 bilhões, o que
nos faz entender que a balança de Serviços e Rendas é positiva US$ 270 bilhões.

Mesmo com exportações de bens de US$ 2,5 trilhões, as importações de bens


alcançaram US$ 3,12 trilhões. (Jornal O GLOBO – pág.22, 7/3/2019).

Com o aumento da inflação no mundo, vindo a reboque das grandes emissões de


dólares feitas, para contornar as crises geradas pela pandemia do coronavírus, os EUA
elevaram a taxa de juros (Prime) para valores próximos a 5% a.a.

O Federal Reserve (Fed, o banco central americano) elevou sua taxa de juros em
0,25 ponto percentual, para o intervalo entre 5,25% e 5,5% ao ano. É o nível mais alto
em 22 anos. A decisão veio em linha com a expectativa dos analistas e com o mercado
futuro de juros nos EUA.

Os treasuries são os títulos de dívida do governo dos Estados Unidos. São


considerados os mais seguros do mundo. Não que o governo dos Estados Unidos
não faça suas lambanças, mas a máquina de imprimir dólar está no FED, então o
risco de não pagamento é muito menor.

Veja os 5 países (ou entidades) que mais detêm reservas de ouro no mundo:
1. Estados Unidos: 8,1 mil toneladas
2. Alemanha: 3,3 mil toneladas
3. FMI: 2,8 mil toneladas
4. Itália: 2,4 mil toneladas
5. França: 2,4 mil toneladas

CHINA
Com um superávit comercial muito grande, há uma enxurrada de dólares
chegando à China, o que deixa a economia chinesa com liquidez excessiva (dólares
convertidos em Yuan), gerando fundos para empréstimos até para pagadores duvidosos.
O Banco Central chinês aumenta o depósito compulsório dos bancos, na tentativa
de conter a liquidez excessiva, mas a solução passa pela valorização da moeda chinesa,
coisa que os chineses relutam em fazer. Lá o câmbio não é flutuante. A taxa de câmbio é
determinada pelo governo chinês, e o Iuane (Yuan) é muito desvalorizado. A taxa de

19
Tânia Petersen Corrêa 2023

câmbio Yuan/dólar mexeu-se pouco nos últimos anos, apesar da grande entrada de dólares
no país e do enorme saldo comercial.
O superávit comercial chinês é o maior do mundo e a China já é o nosso principal
parceiro comercial, desbancando os EUA.
Os chineses são 1/5 da população mundial, consomem metade do cimento, 1/3 do
aço e ¼ do alumínio do mundo, mas tem 56% da população no campo com renda
baixíssima e muito analfabetismo. Camponeses têm renda de US$ 50,00 por mês.
Nas últimas três décadas a China cresceu 11% a.a. em média. Este crescimento
está se reduzindo para 9% em 2008 e, possivelmente, 6,1% em 2009. Isso é muito mais
do que os demais países crescerão, mas para os chineses, crescer menos do que 8% a.a.
quer dizer, não dar emprego para os milhares de chineses que chegam ao mercado de
trabalho.
Os EUA, que acusam a China de práticas comerciais injustas, lançaram uma
guerra comercial contra a China no ano passado (2018).

Os americanos não só acusam os chineses de roubar propriedade intelectual,


como querem que Pequim faça mudanças em suas políticas econômicas - que, segundo
Washington, favoreceria injustamente as empresas nacionais por meio de subsídios.

O governo dos EUA também quer exportar mais para conter seu elevado déficit
comercial de US$ 419 bilhões com a China. O déficit comercial significa que as
importações superaram as exportações de um país.

- RISCO CAMBIAL NAS TRANSAÇÕES INTERNACIONAIS A PRAZO

GANHOS OU PERDAS ENVOLVEM JUROS INTERNOS, EXTERNOS E


DESVALORIZAÇÕES CAMBIAIS.

EXEMPLO: suponha que tenhamos: e0 = 5 ; e1 = 4,8 ; iBR = 12,75% ; iEUA = 1% .


Um estrangeiro que tenha K = US$ 100 que valem R$ 500,00 no (tempo zero), e aplica
esse valor, aqui, com iBR = 12,75%, terá no (tempo um) :
K.e0 = 100 . 5 = 500 500 . (1+ iBR) = 500 . 1, 1275 = 563,75 (no tempo um)

Para resgatar o dinheiro e recambiá-lo ao exterior : 563,75 4,8 = 117,45 (US$117,45)

K . e0 . (1 + iBR)
e1
Se o valor K houvesse sido aplicado lá fora o investidor teria: 100 . 1,01 = 101 (US$ 101)

K . (1 + iEUA)

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Tânia Petersen Corrêa 2023

Se US$117,45 > US$101 quer dizer que vale mais aplicar aqui do que lá fora.

K . e0 . (1 + iBR) > K . (1 + iEUA)


e1

K . e0 / e1 . (1 + iBR)
Chamemos de V à divisão dos dois termos acima: V =
K . (1 + iEUA)

e0 . (1 + iBR) Caso V seja maior que 1, vale a pena aplicar o dinheiro no


V= Brasil
e1 . (1 + iEUA) Caso V seja menor que 1, não vale a pena aplicar o dinheiro
no Brasil

No exemplo anterior se o valor de e1 fosse maior: e1 = 5,2 , teríamos que quando


fosse transformado em dólares para ser remetido ao exterior, 563,75 /5,2 = 108,4 > 101.
Ainda valeria a pena aplicar aqui, mas se a desvalorização do Real fosse grande,
possivelmente não seria “negócio” aplicar no Brasil.
Caso haja aumento de iEUA também há diminuição do valor de V, por isso é tão
preocupante a expectativa de aumento da taxa de juros americana. Menos capitais se
dirigiriam para o Brasil.
O saldo de Transações Correntes (Balança Comercial + Balança de serviços e
rendas + Transferências Unilaterais) do Brasil é, em geral, negativo. Temos que pagar a
mais do que recebemos pelo nosso comércio de bens e serviços.
Entre 2004 e 2008, este saldo ficou positivo. O preço das commodities (nossas
exportações) cresceu muito e como o Brasil estava com crescimento baixo, nossas
importações estavam comprimidas, formando um grande saldo na Balança Comercial.
Este saldo ficou grande o suficiente para ultrapassar o saldo negativo da Balança de
Serviços.
Como já tínhamos conseguido a estabilidade, os investimentos continuaram a
aumentar, dirigindo-se para o Brasil, e nós conseguimos até, juntar “reservas
internacionais”. Acontece que desde 2008, nosso saldo em transações correntes voltou ao
seu “normal”: negativo, mas os investimentos estrangeiros continuam vindo para cá, o
que nos permite “fechar” o Balanço de Pagamentos sem problemas.
Em 2010 o saldo em Transações Correntes foi de – US$ 47,5 bilhões, mas a entrada
líquida de Investimentos foi de + US$ 48,46 bilhões. Assim sendo a nossa necessidade
de financiamento externo é próxima de ZERO. No entanto, se os investimentos
estrangeiros tomarem outra direção, no mundo, teremos sérios problemas para “fechar”
nosso Balanço de Pagamentos.

21
Tânia Petersen Corrêa 2023

Possivelmente haverá continuidade de liquidez para os países emergentes, uma vez


que as taxas de juros mundiais estão muito baixas, próximas de zero, enquanto a Selic,
no Brasil está aumentando. Por outro lado, o fluxo de capitais para os países emergentes
é muito mais volátil. Em 2006, do total de ingressos de capitais no Brasil, 37% era de
capitais financeiros, em setembro de 2010, 69% dos capitais que entram são financeiros.
Este é um fluxo propenso a mudar de direção, muito rapidamente.
Em 2020, com a queda da Selic do Brasil para o patamar de 2% a.a., o Brasil deixa
de ser “rentável” para o capital estrangeiro. As taxas de juros no mundo estão muito
baixas, no geral, mas a nossa também caiu bastante, enquanto o grau de risco de aplicar
no Brasil cresceu. Deixamos de ser atrativos.

VULNERABILIDADE

Mudanças de percepção e expectativas podem fazer com que o país ganhe ou perca
grandes volumes de recursos externos.
Antes de 1982 era possível trabalhar com reservas cambiais baixas, pois havia
facilidade na rolagem dos empréstimos de curto prazo que podiam ser automaticamente
renovados. Com a globalização e a melhoria na qualidade e velocidade da transmissão
das informações, as movimentações de capitais podem ser feitas quase que
instantaneamente de um país para outro, no mercado internacional de capitais, causando
instabilidade quando há notícias envolvendo a piora da situação de risco deste ou daquele
país.
Um dos índices de vulnerabilidade das diferentes economias do mundo envolve
três indicadores: Dívida, conta corrente e relação poupança/PIB.

Balanço de Pagamentos: (USP pág. 313 e 502)

Três contas analíticas: • Transações correntes = referem-se à movimentação de


mercadorias e de serviços (inclusive os serviços de remuneração de capitais - juros e
dividendos) – pagamentos e recebimentos de rendas de capital e trabalho e transferências
unilaterais de renda; • Conta Capital = registra transferências unilaterais de ativos reais,
ativos financeiros ou ativos intangíveis entre residentes e não-residentes. • Conta
Financeira = registra todos os tipos de fluxos de capitais entre o país e o resto do mundo.
Conta “variações das reservas internacionais”-(antiga Capitais Compensatórios) - conta
caixa • Conta de Capital e Financeira (antiga Conta de Capitais Autônomos) –
adicionaram-se os atrasados comerciais e empréstimos de regularização do BP 8
ESTRUTURA DO BALANÇO DE PAGAMENTOS (ANTES DE JAN/2001)

A CONTA FINANCEIRA INCLUI: • Investimentos diretos • Investimentos em carteira


• Derivativos • Créditos comerciais (financiamento) • Empréstimos de regularização do
BP • Empréstimos autônomos • Amortizações • Moedas e depósitos (ativo e passivo) •
Outros capitais.

22
Tânia Petersen Corrêa 2023

Portugal EUROS bilhões 2019


Vemos ao lado os dados do Balanço de Pagamentos de
Portugal, no ano de 2019.
Compram mais do que vendem, bens. BC negativa. I. Transações correntes - 0,18
Vendem mais do que compram, serviços: Balança comercial (bens) -16,66
possivelmente ligados ao turismo. Serviços + 17,48
Remetem ao exterior rendas primárias (juros, Renda primária - 5,21
lucros, ...) Renda secundária +4,21
Recebem doações a mais do que fazem ao exterior II. Conta capital + 2,05
(rendas secundárias) III. Conta financeira 3/ +4,69

O resultado em conta corrente é um pequeno saldo Investimento direto - 7,77

negativo. (-0,18) Investimento em carteira +8,51

A conta Capital é positiva (entram mais Euros do Outros investimentos +3,96

que saem)
IV. Erros e omissões +0,52
Os portugueses fazem mais Inv. Diretos no
V. Saldo do Balanço + 7,08
exterior do que recebem (conta negativa acusa
saída)
Os portugueses recebem mais capitais que entram para adquirir ações e títulos em
Portugal, do que aplicam Euros no resto do mundo, adquirindo ações e títulos, lá. (Inv.
em carteira).
Outros investimentos têm entradas maiores do que as saídas. (+3,96)
V) Saldo do Balanço = I + II + III + IV= (-0,18) + 2,05 + 4,69 + 0,52 = +7,08

Explicando: Pelos dados recolhidos ao longo do ano, se estivessem sem nenhum erro e/ou
omissões, deveríamos ter de variação das reservas internacionais: (-0,18) + 2,05 + 4,69,
isto é, as reservas cresceriam +6,56, no ano. Acontece que quando fomos “olhar” no
Banco Central, a variação das reservas que, realmente ocorreu, vimos que elas cresceram
+7,08, e não +6,56, como se pensava ser. A diferença chama-se Erros e Omissões, que no
caso é de (+ 0,52).

Portugal tem uma situação de comércio externo e movimentos de capitais, confortável. O


déficit em conta corrente é pequeno e existe entrada líquida de capitais.

Em 2019 as reservas internacionais de Portugal cresceram.

Outro exemplo: Vemos abaixo os dados do Balanço da Argentina para 2019.


Argentina US$ milhões 2019
A Argentina tem Balança Çomercial positiva, mas as contas
de serviços e renda primária, muito negativas, levando o saldo
I. Transações correntes - 3.997 em conta corrente a ser negativo.
Balança comercial (bens) + 18.227
Com a crise da economia argentina dos últimos anos, o capital
Serviços - 5.215
Renda primária -17.836 estrangeiro deixou de entrar, levando a conta financeira a
Renda secundária +827 acusar a saída líquida de capitais. Assim temos: transações
II. Conta capital + 126 correntes = - 3.997 e cap/fin = - 5.027, somando um saldo
III. Conta financeira 3/ - 5.153 negativo de – 9.024, se os valores estivessem todos corretos.
IV. Erros e omissões - 1.282
V. Saldo do Balanço - 10.306
Só que ao “olhar” no caixa do BC, descobriu-se que havia
uma variação de reservas de (- 9.024 – 1.282 = - 10.306),
sendo este último o valor do saldo do Balanço de Pagamentos.

23
Tânia Petersen Corrêa 2023

O que significa que para fechar o Balanço a Argentina, que no momento tem poucas
reservas internacionais, terá ainda que ter essas reservas diminuídas.
Em fevereiro de 2023, as reservas líquidas da Argentina USS2,66 bilhões. As
reservas brutas já despencaram para US$35 bilhões.
A crise vivida entre 2001 e 2002, ainda é um trauma na memória dos argentinos. Na
época, a maxidesvalorização do peso argentino provocou a renúncia do presidente
Fernando de La Rúa. O país sofreu confisco bancário e anunciou o calote da dívida
pública. Antes disso, em 1989, a inflação da Argentina era de 3.079% a.a.
Agora, em 2023, a seca severa deixou os exportadores com muito menor produção,
reduzindo a entrada de dólares por exportações. As reservas internacionais argentinas
estão praticamente zeradas. O governo tem reservas para operar no mercado de câmbio,
apenas nas duas semanas próximas.
Como o peso argentino se desvaloriza muito, os exportadores reduzem a liquidação de
divisas de exportações, em um movimento especulativo, à espera de um retorno maior,
adiante. Além de que os custos dos produtores aumentam de acordo com a inflação
interna.

O GLOBO 9/9/23

SEM DÓLARES A ARGENTINA JÁ SOFRE COM FALTA DE INSUMOS MÉDICOS,


REMÉDIOS E CARROS.

O país importa 100% dos insumos médicos que utiliza. A escassez de divisas chegou a
um ponto tão dramático que o governo fechou a torneira para todo produto acabado,
importado. As companhias argentinas não conseguem insumos básicos para manter a
própria produção. Já estão autorizando algumas importações, mas não o respectivo
pagamento. Isso significa que o próximo governo assumirá em dezembro terá uma dívida
gigantesca, em pagamento de importações, atrasada.

A pandemia do coronavírus deixará sua marca, no mundo, por muito tempo ainda. Todas
as economias do mundo estão e serão afetadas.
Países como Portugal, Itália e Espanha, por exemplo, que têm grande parte das receitas
de exportações ligadas ao turismo, vão demorar muito tempo até recomporem suas grades
de produção de serviços de hospedagem, alimentação e entretenimento, pois a demanda
por esse tipo de atividade não retornará automaticamente.

Os países estão, agora, se defrontando com a vulnerabilidade de não terem determinadas


produções no seu próprio aparelho produtivo: é mais barato produzir insumos na Índia?
É mais barato produzir respiradores na China? Quem produz os testes para COVID?
Se isso se faz necessário, na hora em que todos precisam, quem é que leva?
O comércio externo será repensado e recalibrado.

Tende fazer um exercício para saber se vale à pena um estrangeiro aplicar dinheiro
no Brasil, em 2020, supondo que: e0 = 4 (R$4/US$1, taxa de câmbio inicial) ; e1 = 5,5
(taxa de câmbio final); iBR = 3% (taxa de juros interna) ; iEUA = 1% (taxa de juros externa).

24
Tânia Petersen Corrêa 2023

EXEMPLO: suponha que tenhamos: e0 = 4 ; e1 = 5,5 ; iBR = 3% ; iEUA = 1% .


Um estrangeiro que tenha K = US$ 100 que valem R$ 400,00 no (tempo zero), e aplica
esse valor, aqui, com iBR = 3%, terá no (tempo um) :
K.e0 = 100 . 4 = 400 400 . (1+ iBR) = 400 . 1,03 = 412 (no tempo um)
Para resgatar o dinheiro e recambiá-lo ao exterior : 412 5,5 = 74,9 (US$ 74,9)

K . e0 . (1 + iBR)
e1

Se o valor K houvesse sido aplicado lá fora o investidor teria: 100 . 1,01 = 101 (US$ 101)

K . (1 + iEUA)

Se US$ 74,9 < US$101 quer dizer que vale mais aplicar lá fora do que aqui. A grande
desvalorização do Real “comeu” o ganho de diferença das taxas de juros.

K . e0 . (1 + iBR) < K . (1 + iEUA) isto é: 74,9 < 101


e1

K . e0 / e1 . (1 + iBR)
Chamemos de V à divisão dos dois termos acima: V =
K . (1 + iEUA)

e0 . (1 + iBR) Caso V seja maior que 1, vale a pena aplicar o dinheiro no


V= Brasil
e1 . (1 + iEUA) Caso V seja menor que 1, não vale a pena aplicar o dinheiro
no Brasil

No exemplo dado, temos:


4 𝑥 1,03 4,12
V = 5,5 𝑥 1,01 = = 0,74 . Não vale à pena aplicar no Brasil.
5,55

Em 2020 somando o saldo em transações correntes com o saldo da conta


Capital/Financeira, temos: (- 12.457 + 281 – 9.656 = - 21.832). Se todos os dados
estivessem perfeitos, essa deveria ser a variação de reservas internacionais. Acontece que
quando foram “ver” no BC, a variação tinha sido de – 19.312, isto é, + 2.520 do que era
para ser. Esse valor é o que representa os ERROS E OMISSÕES.

25
Tânia Petersen Corrêa 2023

Obs: Em 1990 (Collor) a economia se abriu para o resto do mundo. Houve redução das
alíquotas de importação.
Em 1994 (Plano Real) com o objetivo de manter os preços quietos aqui dentro, reduziram-
se as tarifas de importação e apreciou-se o câmbio (R$0,80/US$1), isto é, facilitou-se o
caminho para as importações. Dessa forma, os preços aqui dentro não poderiam aumentar,
pois estavam sendo confrontados com os preços dos produtos importados. Isso segurou a
inflação, mas houve aumento das importações de insumos e máquinas, aumentando a
nossa dependência externa e trazendo deterioração das nossas contas externas.

Quem ganha e quem perde


O real desvalorizado tem impacto não apenas no bolso de quem quer ou precisa comprar
dólares ou de quem adquire produtos importados.
A indústria nacional consome uma série de insumos importados, como é o caso do
segmento eletrônico. E há uma série de itens cuja formação de preços acaba sendo
influenciada pelas cotações internacionais, como é o caso dos combustíveis e das
commodities em geral.
O "dilema do arroz", diz Yoshinaga, é ilustrativa nesse sentido. A desvalorização —
além da maior demanda internacional, que tende a elevar os preços — tende a aumentar
a receita em reais de quem vende para fora.
Assim, o produtor às vezes prefere exportar do que vender no mercado interno. A menor
disponibilidade no mercado interno, por sua vez, empurra o preço para cima no mercado
doméstico.
A mesma lógica vale para o milho, para a soja, para o açúcar… Essa dinâmica ajuda a
explicar porque os alimentos subiram tanto de preço nos últimos meses.
Parte do impacto, contudo, está sendo absorvido pelas próprias empresas, destaca
Mauro Rodrigues, professor do Departamento de Economia da USP e economista do
portal porque.com.br.
Diante do avanço do desemprego e da queda na renda que reprimiram a demanda, os
vendedores não conseguem repassar o aumento de custos para os consumidores. Muitos
preferem reduzir a margem de lucro a perder negócio.

Até agora, houve pouca substituição ao dólar: em fevereiro, apenas uma em cada cinco
transações registradas pelo sistema de pagamentos internacionais Swift não foi realizada
em dólar, patamar que quase não mudou nos últimos cinco anos. Mas uma mudança não
é impossível. Grupos de moedas menores podem ganhar mais liquidez, reduzindo a
necessidade de um intermediário.

O DXY, também conhecido como Dollar Index, é um índice que mostra o dólar contra
uma cesta de moedas. Ele mede a força da sua moeda e a sua valorização em relação a
diversos países desenvolvidos.
Este índice compara a moeda americana com o Euro (Zona do Euro), a Libra esterlina
(Reino Unido), Iene (Japão), Franco Suíço (Suíça), Dólar Canadense (Canadá), Coroa
Sueca (Suécia).

A cesta é feita com uma ponderação de ordem de importância que fica da seguinte
forma:
Euro: 57,6%
Iene: 13,6%
Libra Esterlina: 11,9%

26
Tânia Petersen Corrêa 2023

Dólar Canadense: 9,1%


Coroa Sueca: 4,2%
Franco Suíço: 3,6%

EXERCÍCIOS RESOLVIDOS:

1) Suponha serem verdadeiros os dados abaixo para os anos de 2020 e de 2021:


BRASIL 2020 BRASIL 2021 EUA 2020 EUA2021
Tx. J nominal = 2% Tx. J nominal = 3,5% Tx. J nominal = 2% Tx. J nominal = 1,5%
Tx. Inflação = 4,5% Tx. Inflação = 6% Tx.Inflação=1,5% Tx. Inflação = 2%
R$/US$ = 4,5/1 R$/US$ = 5,4/1 US$/R$ = 0,22 US$/R$ = 0,185
Sabemos que a manutenção de taxas de juros reais negativas já são uma realidade
comum, no mundo atual. Explique o que são taxas negativas de juros, e se, com os valores
acima, algum dos países, Brasil ou EUA, está praticando juros negativos. Com os valores
dados seria melhor um residente no Brasil, levar R$1.000,00 para aplicar no mercado
americano ou um residente nos EUA, trazer US$1.000 para aplicar aqui, de 2020 para
2021? Explique e mostre suas contas.
RESPOSTA: Os juros reais são negativos no caso de a inflação ser maior do que a taxa
de juros nominal do país. Significam que quem aplicar nesses papéis, não está obtendo
nem o valor da inflação nos seus rendimentos.
Pelos valores dados, no Brasil temos: Tx. J nominal = 2% < Tx. Inflação = 4,5%,
configurando juros reais negativos, em 2020 e em 2021. O título rende menos do que a
inflação. Nos EUA temos taxas de juros reais positivas 2020 e negativas em 2021.
Caso 1: residente aqui quer aplicar R$1.000,00 nos EUA.
R$1.000 = US$222,22, que rendem 2% em um ano, tornando-se US$226,66. Este valor
repatriado no fim do prazo, à taxa de câmbio de R$5,4/US$1 é igual a R$1.223,96.
Logo obter R$1.223,96 é melhor do que deixar o dinheiro aqui rendendo 2%.
Caso 2: residente nos EUA, quer aplicar US$1.000, aqui. Trazendo os US$1.000 para cá,
ele tem R$4.500,00 para aplicar, à taxa de 2%, o que dá R$4.590,00 em um ano. Só que
no final do prazo, com o câmbio sendo de R$5,4/US$1, este valor em dólares é de US$850
< US$1.000 iniciais. Não vale à pena, pois o Real se desvalorizou muito.

2) Os juros baixos, praticados no mundo, aliados ao aumento dos gastos


públicos, para combater a pandemia, nos EUA, ampliando a liquidez global, levaram o
dólar a se desvalorizar frente a muitas moedas como: Dólar (Austrália), Rand, Peso
Chileno, Coroa Sueca, Peso Mexicano, Libra, Yuan e Euro. O Real é uma das poucas
exceções. O Real se desvalorizou frente ao dólar. A moeda americana se mantém acima
de R$5,00 desde junho de 2020. Estando agora (2021) em R$5,5/US$1. O que poderia
explicar esse comportamento tão diferente? Explique!
RESPOSTA: Olhando o mundo pela ótica da incerteza trazida pela pandemia, os EUA,
que foram duramente atingidos, sendo durante um tempo o país com maior número de
mortos no mundo, foram também o país que mais gastou e tem gasto com a pandemia.

27
Tânia Petersen Corrêa 2023

Isso tudo fez com que o dólar se desvalorizasse em relação a outras moedas fortes que
estavam em melhor situação. Acontece que aqui no Brasil, a situação em relação à
pandemia consegue ser pior do que nos EUA. Não temos uma direção, somos confusos
em relação aos próximos passos, não cumprimos as regras, não temos estabilidade política
nem econômica, em suma, a incerteza em relação à nossa performance é muito maior.
Assim, a nossa moeda continua se desvalorizando, mesmo frente ao dólar. O dinheiro
internacional cada vez se dirige ao Brasil em menor proporção, reduzindo a oferta de
dólares no mercado de câmbio, enquanto a insegurança aqui dentro aumenta a demanda
por dólares, desvalorizando mais ainda nossa moeda.
3) Os dados divulgados desde o final de março continuam a indicar cenário benéfico
para as contas externas no Brasil. O patamar elevado de preços de commodities, a
persistência das restrições a viagens internacionais e a manutenção da taxa de câmbio em
nível acima do pré-pandemia propiciam essa situação. Observam-se melhora do saldo
comercial, baixos déficits nas contas de serviços e rendas e melhora nos fluxos de entrada
de investimentos diretos e em carteira. As projeções atualizadas para 2021, consideram
continuidade desse cenário favorável.
Com as informações dadas acima você pode explicar como deverá, se nada mudar,
ser o resultado da Balança de Transações Correntes e da Balança de Capitais/Financeira,
do Balanço de Pagamentos do Brasil? O Balanço de Pagamentos do Brasil fechará
positivo? A variação das reservas internacionais será positiva?

RESPOSTA: Pelo cenário apresentado, teremos Balança Comercial extremamente


positiva e, como as contas de Serviços e de Rendas, que são sempre negativas, estão com
déficit “baixo”, nossa Balança de Transações Correntes deverá ser muito próxima de zero,
o que é um resultado excelente, uma vez que essa balança tem tido resultados muito
negativos, nos últimos anos.
Nossa Balança Capital/Financeira é positiva, também nos últimos anos. Com a
pandemia e as incertezas sobre a economia no Brasil, essa Balança deve continuar
positiva, porém bem menos, acusando uma entrada de capitais menor para o Brasil.
Assim sendo, teremos o Balanço de Pagamentos fechando positivo em 2021, o que
levará ao aumento das reservas internacionais, se nada se alterar.

4) Nos últimos 12 meses a inflação acumulada no Brasil foi de 11%, enquanto nos
EUA foi de 8,5%. Há 12 meses atrás a taxa de câmbio era de R$5,4/US$1, e hoje está em
R$4,9/US$1. A desvalorização cambial seguiu a paridade? Qual seria a taxa de câmbio,
hoje, se a paridade tivesse sido seguida?

RESPOSTA:
1 + IPABR 1,11
TAXA DE PARIDADE = = = 1,023
1 + IPAEUA 1,085

Isso significa que para seguir a paridade o Real deveria desvalorizar-se para
1,023(5,4)=5,52. A taxa de câmbio deveria passar de (R$5,4/US$1) para (R$5,52/US$1)
Já que nossa inflação é maior do que a deles.
No entanto, como vemos, nossa moeda que era R$5,4/US$1, valorizou-se para
(R$4,9/US$1). Logo a paridade não foi seguida.

28
Tânia Petersen Corrêa 2023

Balanço de pagamentos – BPM6


US$ milhões
Discriminação 2018 2019 2020 2021 2022

Transações correntes -41 540 -50 697 -12 457 -27 925 -56 068
Receitas 292 975 290 379 254 667 352 755 423 270
Despesas 334 515 341 076 267 124 380 680 479 338

Balança comercial (bens) e Serviços 17 313 5 407 23 372 19 252 4 135


Receitas 274 977 260 130 239 203 317 175 379 783
Despesas 257 663 254 723 215 831 297 924 375 648

Serviços -35 734 -35 066 -19 923 -17 112 -40 018
Receitas 35 440 34 309 28 473 33 164 39 455
Despesas 71 174 69 375 48 396 50 275 79 473

Renda primária -58 825 -57 272 -38 187 -50 471 -64 001
Receitas 13 223 25 129 10 403 29 791 36 770
Despesas 72 047 82 400 48 590 80 262 100 771

Renda secundária - 28 1 168 2 358 3 294 3 798


Receitas 4 776 5 121 5 061 5 788 6 717
Despesas 4 804 3 953 2 703 2 495 2 919

Conta capital 440 369 281 225 245


Receitas 585 519 525 436 473
Despesas 145 150 244 211 228

Conta Financeira: Concessões líquidas (+) -42 422 -50 024 -9 656 -35 834 -57 350
Captações líquidas (-)
Investimento direto -76 138 -46 355 -50 586 -27 285 -59 878
Investimentos diretos no exterior 2 025 22 820 -16 419 19 157 30 694
Ingressos 21 133 6 954 21 230 10 033 9 651
Saídas 23 158 29 774 4 811 29 189 40 345
Investimentos diretos no país 78 163 69 174 34 167 46 441 90 572
Ingressos 153 992 146 559 116 991 130 301 159 525
Saídas 75 829 77 385 82 824 83 860 68 952
Investimentos em carteira 6 861 19 216 14 212 -5 694 4 091
Investimentos em carteira – ativos 458 8 995 11 611 15 164 - 251
Receitas 22 474 17 138 22 720 30 449 40 427
Despesas 22 932 26 133 34 331 45 613 40 176
Investimentos em carteira – passivos -6 403 -10 221 -2 601 20 858 -4 342
Receitas 240 167 273 414 231 840 101 277 236 072
Despesas 246 570 283 635 234 440 80 419 240 414
Ativos de reserva 2 928 -26 055 -14 232 13 967 -7 284
Ouro monetário 101 - - 3 684 -

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Tânia Petersen Corrêa 2023

Ouro em barras 101 - - 3 684 -


Contas em ouro não alocado - - - - -
Direitos Especiais de Saque 432 25 8 15 378 547
Posição de reserva no FMI 398 723 1 338 6 158
Outros ativos de reserva 1 996 -26 803 -15 578 -5 102 -7 990
Moeda e depósitos -22 863 -3 358 10 751 -3 519 -6 691

Erros e omissões -1 322 304 2 520 -8 134 -1 527

IPC Estados Unidos 2022 8,15 % IPCA Brasil 2013 5,91%


IPC Estados Unidos 2021 4,69 % 2014 6,41%
IPC Estados Unidos 2020 1,24 % 2015 10,67%
IPC Estados Unidos 2019 1,81 % 2016 6,29%
IPC Estados Unidos 2018 2,44 % 2017 2,9%
IPC Estados Unidos 2017 2,13 % 2018 3,75%
IPC Estados Unidos 2016 1,26 % 2019 4,31%
IPC Estados Unidos 2015 0,12 % 2020 4,5%
IPC Estados Unidos 2014 1,62 % 2021 10,54%
IPC Estados Unidos 2013 1,47 % 2022 10,6
Acumulado 27,63% Acumulado 88,6%

Sabendo que em 2013, a taxa de câmbio R$/US$ era de R$2,15/US$1, determine qual
deveria ser a taxa de câmbio em 2022, se esta houvesse seguido estritamente a paridade.
1 + IPCABR 1,886
Taxa de paridade = = = 1,478 (47,8% deveria ser a
desvalorização)
1 + IPCEUA 1,276

R$2,15 (1,478) = R$ 3,177 deveria ser a taxa vigente se o câmbio tivesse acompanhado
apenas a paridade. Em 2022 o câmbio está em R$ 5,1/US$1.
O câmbio subvalorizado chinês foi parte de uma estratégia que vem dando certo já
desde os anos 80. Ao promover a competitividade de seus produtos, o governo chinês foi
capaz de implementar, junto com outras políticas, um enorme upgrade na indústria. Esse
modelo de crescimento puxado por exportações tem funcionado muito bem, como aliás
funcionou no Japão, Coréia do Sul, Taiwan e até mesmo na Malásia, Indonésia e
Tailândia. No caso chinês, as reservas foram a 4 trilhões de dólares e o volume de
exportações passa da casa do 1 trilhão (em 1980 Brasil e China exportavam num ano 20
bilhões de dólares).
Para segurar a taxa de câmbio, a China tem um grande aparato de controles de capital
e faz pesadas intervenções no mercado. Transações financeiras com o resto do mundo são
fortemente controladas, muitas delas proibidas até. O governo chinês foi um comprador
voraz dos dólares gerados a partir dos grandes superávits na conta corrente, até 2015. Não

30
Tânia Petersen Corrêa 2023

deixava o câmbio se apreciar de jeito nenhum, como deveria ser num sistema mais pró-
mercado. (Paulo Gala)
Dentre essas medidas que deram suporte e manutenção a uma taxa de câmbio chinesa
estável e competitiva, uma das mais importantes foi o estabelecimento de controles do
movimento de capitais, desde a década de 1990. Outro fator coadjuvante para a
estabilidade do câmbio chinês foi o significativo e elevado processo de acumulação de
reservas da China, desde o início da década de 1990, reflexo direto de seu notável
desempenho exportador, que passou a representar parcelas cada vez mais crescentes de
seu PIB, e também pela maciça entrada de recursos e capitais no país – esses, sobretudo,
na forma de investimento direto estrangeiro.

A frequência maior com que o exportador tem ficado sujeito a medidas de defesa
comercial nos países de destino faz com que esse risco tenha que ser avaliado dentro da
estratégia de venda do produto no mercado externo.

Direito antidumping - Está relacionada à venda de bens a preços abaixo dos praticados
no mercado interno do país de exportação. A prática é voltada para eliminar concorrência
ou conquistar fatia maior no mercado de destino.

Medidas compensatórias - Nesse processo considera-se os subsídios concedidos pelo


governo ou autoridade pública de um país. São considerados como subsídios, qualquer
forma de sustentação de renda ou de preços que confiram vantagem para aumentar
exportações ou reduzir importações de qualquer produto. Também é considerado subsídio
a existência de contribuição financeira por um governo ou órgão público, no interior do
território do país exportador, incluindo-se aí os incentivos fiscais.

Salvaguardas - Medidas temporárias e emergenciais adotadas em situações de surtos


agudos e repentinos de importação que causem prejuízo grave à indústria doméstica do
país importador.

Valor – 12/04/23

Dados do Banco Central apontam que, nesse período, houve entrada de US$ 12,512
bilhões pela conta comercial. Enquanto isso, o fluxo financeiro ficou praticamente
inalterado nos primeiros três meses do ano, ao anotar entrada de US$ 12,1 milhões. O
movimento foi impulsionado pelo resultado da balança comercial brasileira, que registrou
superávit recorde de US$ 16,1 bilhões do início do ano até o fim de março. Os números
mostram que o exportador trouxe ao país boa parte dos dólares que faturou lá fora.

31
Tânia Petersen Corrêa 2023

As reservas internacionais somaram US$328,1 bilhões em fevereiro de 2023.

Exercício:

Suponha que tenhamos: e0 = 5 ; e1 = 4,8 ; iBR = 13,75% ; iEUA = 4% .


Um estrangeiro que tenha K = US$ 100 que valem R$ 500,00 no (tempo zero), e aplica
esse valor, aqui, com iBR = 13,75%, terá no (tempo um) :
K.e0 = 100 . 5 = 500 500 . (1+ iBR) = 500 . 1, 1375 = 568,75 (no tempo um)
32
Tânia Petersen Corrêa 2023

Para resgatar o dinheiro e recambiá-lo ao exterior : 568,75 4,8 = 118,49 (US$118,49)

K . e0 . (1 + iBR)
e1
Se o valor K houvesse sido aplicado lá fora o investidor teria: 100 . 1,04 = 104 (US$ 104)

K . (1 + iEUA)

Se US$118,49 > US$104 quer dizer que vale mais aplicar aqui, do que lá fora.

K . e0 . (1 + iBR) > K . (1 + iEUA)


e1

K . e0 / e1 . (1 + iBR)
Chamemos de V à divisão dos dois termos acima: V =
K . (1 + iEUA)

e0 . (1 + iBR) Caso V seja maior que 1, vale a pena aplicar o dinheiro no


V= Brasil
e1 . (1 + iEUA) Caso V seja menor que 1, não vale a pena aplicar o dinheiro
no Brasil

Note, contudo, que se o Real se desvalorizar, a coisa pode mudar de figura.

Considere e0 = 5 ; e1 = 5,2. Teremos:

K.e0 = 100 . 5 = 500 500 . (1+ iBR) = 500 . 1, 1375 = 568,75 (no tempo um)

Para resgatar o dinheiro e recambiá-lo ao exterior : 568,75 5,3 = 107,3 (US$107,3)

33

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