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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA

DEPARTAMENTO DE CIENCIAS HUMANAS


CAMPUS IV
BACHARELADO EM DIREITO

MAURÍCIO ALMEIDA LIMA

VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER EM TEMPOS DE PANDEMIA POR COVID-19

Jacobina BA
2022
MAURÍCIO ALMEIDA LIMA

VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER EM TEMPOS DE PANDEMIA POR COVID-19

Monografia apresentada ao Curso de


Bacharelado em Direito da
Universidade do Estado da Bahia -
UNEB, como parte dos requisitos
necessários à conclusão do curso.

Orientador: Me. Valmir Lacerda


Cardoso Junior

Jacobina BA
2022
MAURÍCIO ALMEIDA LIMA

VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER EM TEMPOS DE PANDEMIA POR COVID-19

Monografia apresentada ao Curso de


Bacharelado em Direito da
Universidade do Estado da Bahia –
UNEB, Campus IV, - Jacobina,
Departamento de Ciências Humanas,
como requisito obrigatório para a
conclusão de curso, sob orientação
do Professor Me. Valmir Lacerda
Cardoso Junior.

Banca Examinadora:

___________________________________________________________________

Prof. Valmir Lacerda Cardoso Junior -


Orientador
Universidade do Estado da Bahia - UNEB
_______________________________________________

Profª. Andréa Tourinho


Universidade do Estado da Bahia - UNEB
_______________________________________________

Prof. Henrique Galvão


Universidade do Estado da Bahia - UNEB
_______________________________________________

Aprovado em: ___/___/_____


______________________________________

Coordenação do Curso de Direito


_______________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
AGRADECIMENTOS

A minha mãe, Célia, que sem dúvidas, me deu o maior suporte possível para
chegar onde estou atualmente. Outro amor em minha vida, minha Vó Isabel, uma
ternura em pessoa, que sempre me apoiou e se preocupou nas minhas jornadas. E
a outra grande mulher, minha irmã Iara.

Ao meu pai Lourival, por sempre reforçar a importância dos estudos para a vida.

A minha querida namorada, Luzyana Kessia, pelo carinho e apoio.

A todos meus amigos(as) que convivi todos esses anos nesta universidade
maravilhosa. Aprendi muito como discente e pessoa.

A todos os professores e ao meu orientador Me. Valmir Lacerda Cardoso


Junior, pelo auxílio na construção deste trabalho.
“A força do direito deve superar o direito da força.” (Rui Barbosa)
RESUMO

Este trabalho tem como objetivo demonstrar o aumento da violência contra mulher
no âmbito familiar, durante o isolamento social decorrente da pandemia da Covid-19,
principalmente nos primeiros meses do ano de 2020. As quarentenas foram
decretadas como a melhor forma para diminuir a disseminação do vírus,
considerando, sobremaneira, a ausência de vacinação. Nesse contexto, o lar que
deveria ser um local seguro para as mulheres, tornou-se um ambiente propício para
sofrerem as mais diversas formas de violência. O interrompimento parcial ou total
de atendimentos presenciais pelos principais órgãos de defesa dos direitos
femininos deixou as mulheres desamparadas, notadamente para registro de
denúncias. Mesmo existindo canais de tele atendimentos para pedidos de socorro,
estes não foram suficientes para que elas tivessem voz. Foram analisados dados a
nível mundial, nacional, os quais sinalizaram que as companheiras tiveram muita
dificuldade em formalizar boletins de ocorrência e se tornaram, em alguma medida,
invisíveis para a Segurança Pública e, por consequência, para os órgãos de
Persecução Penal. Nesse sentido, essa pesquisa procurará demonstrar as falhas e
o que poderia ter sido feito para que a Lei Federal nº 11.340/06, conhecida como
“Lei Maria da Penha”, tivesse tido maior eficácia da tutela de mulheres, vítimas e em
situação de violência doméstica e familiar.

Palavras chave: pandemia Covid-19; isolamento social; violência doméstica; lei


Maria da Penha.
ABSTRACT

This work aims to demonstrate the increase in violence against women within the
family, during social isolation resulting from the Covid-19 pandemic, especially in the
first months of 2020. Quarantines were decreed as the best way to reduce the
spread of the virus. virus, especially considering the absence of vaccination. In this
context, the home, which should be a safe place for women, became an environment
conducive to suffering the most diverse forms of violence. The partial or total
interruption of face-to-face services by the main bodies for the defense of women's
rights left women helpless, notably for the registration of complaints. Even though
there were tele-service channels for requests for help, these were not enough for
them to have a voice. Data were analyzed at a global and national level, which
indicated that the companions had great difficulty in formalizing police reports and
became, to some extent, invisible to Public Security and, consequently, to the
Criminal Prosecution bodies. In this sense, this research will seek to demonstrate the
flaws and what could have been done so that the Federal Law nº 11.340/06, known
as "Maria da Penha Law", would have had greater effectiveness in the protection of
women, victims and in situations of violence. domestic and family.

Keywords: Covid-19 pandemic; social isolation; domestic violence; Maria da Penha


Law.
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ADI Ação Direta de Inconstitucionalidade


CEPAL Comissão Econômica para a América Latina e Caribe
CNJ Conselho Nacional de Justiça
CP Código Penal
ESPII Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional
FBPS Fórum Brasileiro de Segurança Pública
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
MMFDH Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos
OMS Organização Mundial da Saúde
ONG Organização não Governamental
ONU Organização das Nações Unidas
RMP Ronda Maria da Penha
SPM-BA Secretaria de Políticas para as Mulheres da Bahia
SSP-BA Secretaria de Segurança Pública da Bahia
STF Supremo Tribunal Federal
STJ Supremo Tribunal de Justiça
SUS Sistema Único de Saúde
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...........................................................................................................10

1. O ESTADO DE EMERGÊNCIA PÚBLICA E A PANDEMIA POR COVID-19.......14


1.1. O que é a Covid-19? ................................................................................14
1.2. As quarentenas se tornam necessárias para evitar a disseminação
exponencial da doença. ..................................................................................15
2. A VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER NOS PRIMEIROS MESES DA PANDEMIA
....................................................................................................................................17
2.1. Mulher e identidade de gênero.................................................................17

2.2. Violência e suas várias vertentes.............................................................19

2.3. O que é violência doméstica?...................................................................19

2.4. Surgem os primeiros dados do aumento da violência contra mulheres nos


lares em vários países.....................................................................................21

2.5. A Lei Maria da Penha e o trabalho das Polícias Militares........................24

3. ESTATÍSTICAS SOBRE A VIOLÊNCIA DOMÉSTICA NOS PRIMEIROS MESES


DE LOCKDOWN EM ALGUNS ESTADOS DO BRASIL .........................................28
3.1. Homicídios dolosos contra mulheres........................................................29
3.2. Feminicídios..............................................................................................30
3.3. Lesão corporal dolosa em decorrência de violência doméstica...............32
3.4. Violência sexual .......................................................................................33
3.5. Medidas protetivas de urgência ...............................................................34
3.6. Ligue 180 .................................................................................................35
4. DADOS DA VIOLÊNCIA CONTA MULHER NO ESTADO DA BAHIA ................37
4.1. Ronda Maria da Penha.............................................................................42
4.2. Ronda Maria da Penha em Jacobina.......................................................43
5. FATORES QUE CONTRIBUÍRAM PARA O AUMENTO DA VIOLÊNCIA
DOMÉSTICA CONTRA A MULHER DURANTE A PANDEMIA POR COVID-
19............................................................................................................................... 45
5.1. Pesquisa Datafolha intitulada “Visível e Invisível”....................................50
5.2 Surgem às primeiras ações para tenta barrar o aumento da violência
contra a mulher em decorrência da pandemia por covid-
19.....................................................................................................................53
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................................................60
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..........................................................................65
10

INTRODUÇÃO

No início do ano de 2020 foi identificado um novo tipo de vírus que ataca o
sistema respiratório, batizado de Sars-Cov-2, que começou a infectar seres
humanos na cidade de Wuhan, na China, em dezembro de 2019, em que a
população local passou a ter sintomas respiratórios graves, hospitais ficaram
superlotados e pessoas morreram rapidamente. Um caos sem explicações.

O alto potencial de transmissibilidade e a letalidade do vírus, quando este


acomete aos seres humanos, acionou o alerta da sociedade global, haja vista que,
em três meses, mais de 1.000.000 (um milhão) de pessoas no mundo foram
diagnosticadas com Covid-19 e mais de 60.000 (sessenta mil) morreram por causa
da doença1.

Posteriormente, começaram a surgir às primeiras repostas: um vírus que


ataca principalmente o sistema respiratório, de rápida disseminação e de grande
capacidade mortal, até então nunca detectado pela comunidade médica. Uma
doença nova, sem medicamentos comprovadamente eficazes, leitos hospitalares
lotados, disseminação rápida, milhares de óbitos e poucas respostas. A China
revela ao mundo que não sabia o que fazer.

Rapidamente o vírus ultrapassa continentes, outros países passam a viver o


mesmo caos vivenciado pela China. Então, vem à primeira decisão drástica, em
desespero, o mundo resolve que a única solução possível para amenizar a
disseminação é o isolamento social. Fábricas fechadas, megalópoles desertas e
pessoas confinadas em suas casas.

Diante desse quadro, a Organização Mundial de Saúde (OMS), em 30 de


janeiro de 2020, declarou Emergência de Saúde Pública de Importância
Internacional (ESPII), dado o grau de avanço dos casos de contaminação pelo novo
coronavírus, classificando-o como uma pandemia, cobrando ações dos governos
compatíveis com a gravidade da situação a ser enfrentada. No Brasil, o Ministério da
Saúde, em 03 de fevereiro de 2020, por meio da Portaria n. 188, declarou ESPIN,
em decorrência da Infecção Humana pelo novo coronavírus (2019-nCoV).

1
MOTA, Camila Veras. Coronavírus: as respostas para as perguntas mais buscadas pelos
brasileiros no Google. BBC, 2020. Disponível em: <https://www.bbc.com/portuguese/geral-
52114980>. Acesso em: 20 de Jun. 2022.
11

Os números de óbitos e contaminações pela Covid-19 no Brasil cresciam


exponencialmente a cada dia. Extrai-se do sítio eletrônico2 que acompanha e
registra os casos em todo o país que são 31.195.118 (trinta e um milhões, cento e
noventa e cinco mil e cento e dezoito) casos confirmados e 667.041 (seiscentos e
sessenta e sete mil e quarenta e um) óbitos (dados atualizados em 06 de junho de
2022).

Com efeito, como visto, as recomendações emitidas pelas autoridades


sanitárias se circunscreveram ao isolamento social extremo, dada a letalidade e o
alto poder de transmissão do vírus. Fato é que a disseminação em potencial do novo
coronavírus contribuiu para o colapso do sistema de saúde, visto que, como é
cediço, as unidades de saúde do país possuem déficit acentuado de vagas, de
pessoal e de recursos como um todo.

Do ponto de vista jurídico, ressurge um problema, de forma mais grave, muito


comum a nível mundial e nacional, a violência contra vulneráveis, especialmente a
mulher. Os primeiros meses de confinamento com seus companheiros, em situação
de stress, desemprego, falta de suprimentos básicos para sobrevivência, pressão
para cuidar das casas e dos filhos, dependência financeira, colaboram para que o
número da violência aumente significativamente nos primeiros meses de 2020.

Para piorar essa situação, os órgãos essenciais de proteção à mulher


também se viram obrigados a reduzir o quadro de servidores disponíveis para
atendimento ao público nos períodos de quarentena: Delegacias Especializadas,
Ministério Público, Defensoria Pública, Centros de Apoio Psicológico, entre outros. É
notável o aumento das diversas formas de violência e o pior, aumento dos
feminicídios.

As mulheres se viram com parcos apoios, sem voz, sem meios de


comunicação para efetuar denúncias, realizar boletins de ocorrência, continuamento
do apoio psicológico, situação semelhante a um cárcere dentro de suas casas, com
seus próprios algozes.

2
MINISTÉRIO DA SAÚDE. Corona vírus Brasil. Governo Federal, 2022. Disponível em:
<https://covid.saude.gov.br>. Acesso em: 06 de Jun. 2022.
12

A Lei Federal nº 11.340 de 07 de Agosto de 2006, conhecida como “Lei Maria


da Penha”, tornou mais rigorosa à punição aos crimes cometidos contra vítimas
femininas no âmbito doméstico e familiar. De acordo com as Nações Unidas, a
violência contra a mulher corresponde a "qualquer ato de violência de gênero que
resulte ou possa resultar em danos ou sofrimentos físicos, sexuais ou mentais para
as mulheres, inclusive ameaças de tais atos, coação ou privação arbitrária de
liberdade, seja em vida pública ou privada” 3,4.

Nesse contexto, o Congresso Nacional Brasileiro, em atendimento aos


proclames da seara internacional, os quais consagravam e entediam a violência
doméstica como problema de saúde pública, editou a referida legislação especial
criminal, com vistas a criar mecanismos para coibir as mais diversas formas de
violência doméstica contra pessoas do sexo feminino, nos termos do §8º do Art. 226
da Constituição da República, o qual preleciona: “O Estado assegurará a assistência
à família na pessoa de cada um dos que a integram, criando mecanismos para coibir
a violência no âmbito de suas relações”.

Com efeito, após a edição e entrada em vigor da Lei Maria da Penha, a


violência doméstica passou a ser tipificada como uma das formas de violação aos
direitos humanos e os crimes a ela relacionados passaram a ser julgados em Varas
Criminais, até que sejam instituídos os juizados de violência doméstica e familiar
contra a mulher nos estados.

Nesse contexto, aliado ao cenário desvelado pela decretação da pandemia e


o estado de emergência pública, enviesado pelo isolamento social irrestrito, a
referida legislação, responsável pela tutela de mulheres em situação de violência
doméstica e familiar, que já tinha uma grande dificuldade em combater os casos de
violência, tornou-se ineficiente para exercer seu dever de proteção às mulheres no
período de confinamento nos lares.

3
BRASIL. Lei 11.340, 7 de Agosto de 2006. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11340.htm>. Acesso em: 01 de Dez.
2021.
4
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA A MULHER. OPAS – ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DA
SAÚDE. 2022. Disponível em: <https://www.paho.org/pt/topics/violence-against-women>. Acesso em
06 de Jun. 2022.
13

Doravante, este trabalho procurará demonstrar quais circunstâncias


contribuíram para o aumento desses índices de violência contra mulher, quais falhas
ocorreram nos órgãos de proteção à mulher em situação de vulnerabilidade e
hipóteses de ações que poderiam ter sido utilizadas para que feminicídios e outros
delitos pudessem ter sido evitados.

O presente trabalho foi idealizado com base em pesquisa bibliográfica, a qual


se fundamenta por meio de coleta de informações contidas em literatura existente,
bancos de dados de Secretarias de Segurança Pública dos Estados, Ministério da
Justiça, secretarias da mulher, materiais de autores renomados na área jurídica,
assim como sites de internet e artigos científicos.
14

1. O ESTADO DE EMERGÊNCIA PÚBLICA E A PANDEMIA POR COVID-19

1.1. O que é a Covid-19?

Covid-19 (ou coronavírus) é o nome da doença causada pelo vírus SARS-


CoV-2, que causa infecção respiratória grave e tem alta transmissibilidade. Corona é
o nome dado a uma enorme família de vírus, comuns em várias espécies de
animais, incluindo o homem, morcegos, gados e gatos. Foi detectada inicialmente
em dezembro de 2019 em Wuhan, província de Hubei na China e rapidamente se
espalhou por este país, atravessou continentes e se disseminou pelo mundo.5

Posteriormente, em 20 de março de 2020, o Congresso Nacional aprovou


pedido de reconhecimento do estado de calamidade pública vivenciado pelo país6,
depois de pedido oficial do Presidente da República, diante da pandemia vivenciada,
decorrente da penetração do coronavírus em território nacional.

Entre outros efeitos, a medida buscou o fortalecimento do Sistema Único de


Saúde (SUS) e adoção de medidas econômicas em benefícios da população,
principalmente na renda dos principais afetados com as medidas de restrição
impostas e ações para impedir a expansão do vírus.

Antes disso, a Organização Mundial da Saúde (OMS), após constatar o


registro de mais de 118.000 (cento e dezoito mil casos) em 114 países e 4.200
(quatro mil e duzentas) pessoas mortas pela ação do vírus, decretou a pandemia,
poucos dias depois de assinalar que o “surto” do novo coronavírus representava
Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional (ESPII), até então, o
mais alto nível de alerta da Organização.7

A Organização Mundial da Saúde (OMS) elevou a classificação do


novo coronavírus (SARS-CoV-2) para pandemia. O anúncio foi feito

5
MINISTÉRIO DA SAÚDE. O que é a Covid-19? . Disponível em: <https://www.gov.br/saude/pt-
br/coronavirus/o-que-e-o-coronavirus>. Acesso em: 03 de Dez. 2021.
6
CÂMARA DOS DEPUTADOS. Aprovado o decreto que coloca o País em estado de calamidade
pública. Disponível em: <https://www.camara.leg.br/noticias/646493-APROVADO-O-DECRETO-
QUE-COLOCA-O-PAIS-EM-ESTADO-DE-CALAMIDADE-PUBLICA>. Acesso em: 06 de Jun. 2022.
7
MINISTÉRIO DA SAÚDE. OMS classifica coronavírus como pandemia. Disponível em:
<https://www.gov.br/pt-br/noticias/saude-e-vigilancia-sanitaria/2020/03/oms-classifica-coronavirus-
como-pandemia> . Acesso em: 04 de Dez. 2021.
15

nesta quarta-feira (11). Mais de 118 mil pessoas já foram infectadas


em 114 países. No Brasil, já são 52 casos confirmados da doença.
Pandemias são quando uma determinada doença atinge todos os
continentes do mundo. O SARS-CoV-2 é o primeiro coronavírus a ser
classificado como pandemia. Diante dessa situação, o diretor-geral da
OMS, Tedros Adhanon, ressaltou que todos os países devem ativar e
ampliar os mecanismos de resposta a emergências em saúde.
(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2020).

Em 08 de Abril de 2020, aproximadamente quase 04 meses após a


confirmação do primeiro caso na China, o mundo já contabilizava mais de 1.800.000
(um milhão e oitocentos mil) casos confirmados pelo mundo, 87.706 óbitos. No
Brasil, na mesma data, 15.927 casos confirmados e 800 mortos pelo novo Corona
vírus. Em 24 de março de 2022 o Brasil já estava com 29.767.681 casos
acumulados e 658.310 óbitos de acordo com dados do Ministério da Saúde.8

Com o avanço da doença de forma exponencial em vários países do mundo,


incluindo o Brasil, os países passaram a discutir estratégias para evitar a
transmissão comunitária. A Organização Mundial da Saúde passa a recomendar o
isolamento total dos casos suspeitos e infectados e o distanciamento social como
formas de evitar a disseminação rápida da doença e evitar o colapso nos sistemas
de saúde. 9

1.2. As quarentenas se tornam necessárias para evitar a disseminação


exponencial da doença.

A quarentena passa a ser a medida mais segura e eficaz para impedir a


disseminação da doença pelo novo vírus como noticiou a revista científica The
Lancet:

...pesquisadores da Universidade de Hong Kong avaliaram a eficácia


de medidas restritivas implementadas desde 23 de janeiro de 2020
em quatro cidades e 10 províncias na China. Eles concluíram que
essas medidas foram responsáveis por diminuir substancialmente a
taxa de infecção não somente por casos importados, mas também
por contaminação local. De acordo com os dados compilados no

8
MINISTÉRIO DA SAÚDE. Covid no Brasil. Disponível em:
<https://infoms.saude.gov.br/extensions/covid-19_html/covid-19_html.html>. Acesso em 05 de Dez.
2021.
9
ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. As observações de abertura do diretor-geral da OMS
na coletiva de imprensa sobre COVID-19. Disponível em: <https://www.who.int/director-
general/speeches/detail/who-director-general-s-opening-remarks-at-the-media-briefing-on-covid-19---
16-march-2020>. Acesso em: 10 de Jan. 2022.
16

estudo, o número de pessoas contaminadas por dia nas cidades


analisadas chegou a ser superior a 600 no início de fevereiro, no
momento em que as medidas de restrição foram adotadas. (THE
LANCET, 2020)

Mas os regimes de isolamento social geraram uma série de consequências


para milhões de pessoas. Crianças deixaram de frequentar escolas, o fechamento
do comércio e de indústrias trouxe o desemprego a milhões de trabalhadores e
empresas decretaram falência. Desde a introdução de medidas de isolamento social
para impedir a propagação da COVID-19, quatro bilhões de pessoas em todo o
mundo estão se abrigando em casa. 10

10
ONU MULHERES. Violência contra as mulheres e meninas é pandemia invisível, afirma
diretora executiva da ONU Mulheres. Disponível em:
<https://www.onumulheres.org.br/noticias/violencia-contra-as-mulheres-e-meninas-e-pandemia-
invisivel-afirma-diretora-executiva-da-onu-mulheres/>. Acesso em: 06 de Jun. 2022.
17

2. A VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER NOS PRIMEIROS MESES DA PANDEMIA

2.1. Mulher e identidade de gênero

Relatos mais antigos dos agrupamentos humanos apresentam a distinção das


pessoas considerando aspectos sexuais como uma realidade, fixando-se desde os
tempos mais remotos uma dicotomia entre homens e mulheres, com a indicação de
atividades e condutas adequadas a cada grupo, considerando o espaço geográfico e
o momento histórico.

Estas características vinculadas a um ou outro grupo, portanto, passaram por


diversas mudanças em diversas sociedades, apresentando várias alterações e
cumprindo ao ordenamento jurídico adequar-se a esta realidade, seguindo a
evolução da sociedade e a ela se adequando, com o objetivo de efetivar-se como
regramento que efetivamente atenda aos anseios daqueles que a ele se submetem.

As mudanças estruturais das sociedades decorrem de descobertas


científicas, interpretações contemporâneas dos fatos, revogação de dogmas e
criação de perspectivas antes inexistentes, fazendo com que se estabeleçam novas
realidades sociais a serem resguardadas pela legislação. Um dos mais fortes
motores da evolução social é o tempo, não sendo possível a manutenção de
conceitos e normas que não mais se identificam, e que se sustentam apenas para à
perpetuação de uma tradição ou como clara expressão de segregação.

“Conceitos impostos, certezas universais, pensamentos sustentados


como certos já ruíram inúmeras vezes no decorrer dos séculos,
demonstrando que as evidências sociais e científicas sempre vão se
sobrepor aos preconceitos, demore mais ou menos tempo, não sendo
admissível que a resistência em aceitar as mudanças venha a servir
como uma ferramenta de fomento à discriminação.” (CUNHA, 2018)

Desta forma deve-se afirmar que a questão da identidade de gênero


encontra-se, na atualidade, em uma fase de transição, vez que é uma realidade
social inconteste que ainda não conseguiu se fixar como um tema revestido do
efetivo respaldo legislativo. A apreciação do gênero já apresenta considerável
importância nas discussões acerca da igualdade, tendo sido superado o período em
que a mulher era vista como um ser humano inferior ao homem, desprovida de força
18

intelectual para realizar dados atos que tidos como uma prerrogativa exclusiva dos
homens.

De forma simples, gênero pode ser definido como um agrupamento de


indivíduos, objetos e ideias que possuem características em comum. Segundo a
OMS, o gênero tem implicações para a saúde ao longo da vida de uma pessoa em
termos de normas, papéis e relações. O gênero não é determinado biologicamente,
como resultado das características sexuais de mulheres ou homens, mas é
construído socialmente. 11

“Surgem às figuras da intersexualidade e da transexualidade,


realidades sociais presentes na humanidade desde sempre, não
sendo uma novidade do século XXI. O respeito à situação vivenciada
por tais grupos é situação que passa necessariamente pela
perspectiva dos direitos humanos, da dignidade da pessoa humana e
dos direitos da personalidade. Não se pode conceber uma sociedade
civilizada, fraterna, humanitária e garantidora dos direitos dos cidadãos
que os diferencie por características sexuais físicas, identidade de
gênero, ou pela orientação sexual.” (CUNHA, 2018).

Portanto, no âmbito da identidade de gênero, mulher não é apenas as que


possuem o órgão sexual do sexo feminino. Nossa legislação foi claramente criada
sob uma perspectiva heterossexual deixando de lado a identidade de gênero. Dessa
forma a Lei 11.340 de 2006 já vem ocorrendo julgados em que as vitimas são
mulheres lésbicas, mulheres transexuais, mulheres travestis entre outras da
comunidade LGBTQIA+.

Recentemente, em Abril deste ano, a Sexta Turma do Superior Tribunal de


Justiça (STJ) estabeleceu que a Lei Maria da Penha se aplica aos casos de
violência doméstica ou familiar contra mulheres transexuais. Considerando que, para
efeito de incidência da lei, mulher trans é mulher também, o colegiado
deu provimento a recurso do Ministério Público de São Paulo e determinou a
aplicação das medidas protetivas requeridas por uma transexual, nos termos

11
ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DA SAÚDE. Equidade gênero em Saúde. Disponível em:
<https://www.paho.org/pt/topicos/equidade-genero-em-saude>. Acesso em: 01 de Set. 2021.
19

do artigo 22 da Lei 11.340/2006, após ela sofrer agressões do seu pai na residência
da família. 12

O ministro Rogerio Schietti Cruz ressaltou entendimentos doutrinários


segundo os quais o elemento diferenciador da abrangência da lei é o gênero
feminino, sendo que nem sempre o sexo biológico e a identidade subjetiva
coincidem. "O verdadeiro objetivo da Lei Maria da Penha seria punir, prevenir e
erradicar a violência doméstica e familiar contra a mulher em virtude do gênero, e
não por razão do sexo", declarou o magistrado.

O reconhecimento da identidade de gênero como um direito da personalidade


é condição sine qua non para o real estabelecimento de um verdadeiro Estado
Democrático de Direito, já que o respeito às minorias se mostra como pilar elementar
de sua existência e a leniência do Estado em viabilizar tal situação é uma afronta a
toda a humanidade.
2.2. Violência e suas várias vertentes

A violência foi definida pela Organização Mundial da Saúde (OMS, 2002)


como o uso intencional da força ou poder em uma forma de ameaça ou
efetivamente, contra si mesmo, outra pessoa ou grupo ou comunidade, que
ocasiona ou tem grandes probabilidades de ocasionar lesão, morte, dano
13
psíquico, alterações do desenvolvimento ou privações.

2.3. O que é violência doméstica?

De acordo com o art. 5º da Lei Maria da Penha, violência doméstica e familiar


contra a mulher é “qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause
morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial”.

12
STJ. Lei Maria da Penha é aplicável à violência contra mulher trans. Disponível em:
<https://www.stj.jus.br/sites/portalp/Paginas/Comunicacao/Noticias/05042022-Lei-Maria-da-Penha-e-
aplicavel-a-violencia-contra-mulher-trans--decide-Sexta-Turma.aspx>. Acesso em: 28 de Jun. 2022.
13
SACRAMENTO, Lívia de Tartari e; REZENDE, Manuel Morgado. Violências: lembrando alguns
conceitos. Aletheia, Canoas, n.24, p.95-104, dez. 2006. Disponível em
<https://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-
03942006000300009&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 02 de Set. 2021.
20

Na lei Maria da Penha estão previstos cinco tipos de violência doméstica e


familiar contra a mulher, são elas a: física, psicológica, moral, sexual e
patrimonial − Capítulo II, art. 7º, incisos I, II, III, IV e V.14

2.3.1. Violência física

Entendida como qualquer conduta que ofenda a integridade ou saúde


corporal da mulher. Espancamento, atirar objetos, sacudir e apertar os braços,
estrangulamento ou sufocamento, lesões com objetos cortantes ou perfurantes,
ferimentos causados por queimaduras ou armas de fogo, tortura.

2.3.2. Violência psicológica

É considerada qualquer conduta que: cause dano emocional e diminuição da


autoestima; prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento da mulher; ou vise
degradar ou controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões. Ameaças,
constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento (proibir de estudar e viajar
ou de falar com amigos e parentes), vigilância constante, perseguição contumaz,
Insultos, chantagem, exploração, limitação do direito de ir e vir, ridicularização, tirar a
liberdade de crença, distorcer e omitir fatos para deixar a mulher em dúvida sobre a
sua memória e sanidade (gaslighting).

2.3.3. Violência sexual

Trata-se de qualquer conduta que constranja a presenciar, a manter ou a


participar de relação sexual não desejada mediante intimidação, ameaça, coação ou
uso da força. Estupro, obrigar a mulher a fazer atos sexuais que causam desconforto
ou repulsa, impedir o uso de métodos contraceptivos ou forçar a mulher a abortar,
forçar matrimônio, gravidez ou prostituição por meio de coação, chantagem, suborno
ou manipulação, limitar ou anular o exercício dos direitos sexuais e reprodutivos da
mulher.

14
INSTITUTO MARIA DA PENHA. Tipos de Violência. Disponível em:
<https://www.institutomariadapenha.org.br/lei-11340/tipos-de-violencia.html>. Acesso em: 03 de Set.
2021.
21

2.3.4. Violência patrimonial

Entendida como qualquer conduta que configure retenção, subtração,


destruição parcial ou total de seus objetos, instrumentos de trabalho, documentos
pessoais, bens, valores e direitos ou recursos econômicos, incluindo os destinados a
satisfazer suas necessidades. Controlar o dinheiro, deixar de pagar pensão
alimentícia, destruição de documentos pessoais, furto, extorsão ou dano,
estelionato, privar de bens, valores ou recursos econômicos, causar danos
propositais a objetos da mulher ou dos quais ela goste.

2.3.5. Violência moral

É considerada qualquer conduta que configure calúnia, difamação ou injúria.


Acusar a mulher de traição, emitir juízos morais sobre a conduta, fazer críticas
mentirosas, expor a vida íntima, rebaixar a mulher por meio de xingamentos que
incidem sobre a sua índole, desvalorizar a vítima pelo seu modo de se vestir.

2.4. Surgem os primeiros dados do aumento da violência contra mulheres nos lares
em vários países

De repente, as mulheres passam a viver uma espécie de cárcere privado em


suas próprias casas. Esse cenário abriu azo para o agravamento de um problema de
saúde pública, incansavelmente debatido pelos órgãos de Política Criminal e pela
sociedade civil como um todo.

“Com grande parte do mundo sob quarentena, começa-se a ouvir


que um dos efeitos da pandemia é o aumento da violência contra as
mulheres, especialmente a violência doméstica perpetrada por
parceiros íntimos, pois as mulheres agora estão “presas” em casa
com seus agressores.” (ONU BRASIL, 2020)

Milhares de mulheres que já viviam em situação de violência doméstica


tiveram que ficar mais tempo em seus lares com seus companheiros, filhos e em
situação precária de renda e de itens essenciais à sobrevivência como alimentos
para o dia a dia, agravado por uma tímida politica pública de apoio financeiro, o
22

Auxilio Emergencial criado pelo Governo Federal15, a famílias em situação de


miserabilidade.

Em pesquisas realizadas nos principais noticiários da internet e sites oficiais,


como o da Organização das Nações Unidas (ONU), este foi um fenômeno percebido
em nível mundial. Os primeiros meses de isolamento social em 2020 trouxeram um
aumento significativo dos índices de violência doméstica na China, Reino Unido,
França, Itália, Brasil entre outros países.

A principal dificuldade representada por essa situação é que, com o contato


ininterrupto com os companheiros agressores, as mulheres não conseguiam
formalizar as denúncias, devido à presença do mesmo ou por não poderem sair de
suas casas.
“A Itália viu uma queda acentuada nos relatórios oficiais de violência
doméstica à medida que se aproxima de um mês sob o bloqueio do
Corona vírus, aumentando a preocupação entre alguns grupos de
apoio de que o confinamento forçado está deixando as vítimas
lutando para buscar ajuda. Citando dados oficiais, um comitê
parlamentar sobre violência contra mulheres disse na semana
passada que as denúncias à polícia sobre abuso doméstico caíram
para 652 nos primeiros 22 dias de março, quando a Itália entrou em
confinamento, de 1.157 no mesmo período de 2019. O Telefone
Rosa, a maior linha de ajuda contra violência doméstica da Itália,
disse que as ligações caíram 55%, para 496 nas duas primeiras
semanas de março, de 1.104 no mesmo período do ano
passado. Outros grupos de ajuda disseram ter visto declínios
semelhantes.” (REUTERS, 2020).

Na França, relatos de violência doméstica tiveram um aumento de 30% desde


o lockdown16 em 17 de março, em Chipre e Singapura, linhas de apoio registaram
um aumento de chamadas de 30% e 33%, respectivamente. Na Argentina as
chamadas de emergência para casos de violência doméstica aumentaram 25%
desde o bloqueio em 20 de março. Aumento de casos domésticos de violência e
demanda a abrigos de emergência também foram relatados no Canadá, Alemanha,

15
O Auxílio Emergencial foi criado em 2020 pelo Governo Federal para ajudar famílias vulneráveis
durante a crise sanitária da Covid-19. No ano passado, foram cinco parcelas depositadas no valor de
R$ 600 ou R$ 1,2 mil, caso de mães chefes de família.
16
“Lockdown”, traduzido no Google Translate, significa bloqueio total ou confinamento total.
23

Espanha e nos Estados Unidos de acordo com dados publicados pela ONU
mulheres. 17

O Brasil inicia as primeiras medidas de restrição social, a fim de evitar o


máximo possível de aproximação entre pessoas em espaços públicos como bares,
restaurantes, praças, shoppings, até mesmo o fechamento de centros comerciais e
indústrias que não se enquadravam em serviços essenciais. Quanto às datas não
houve unanimidade quando iniciaram os decretos Estaduais/Municipais das
restrições e medidas para evitar a disseminação pelo novo coronavírus.

O Supremo Tribunal Federal (STF) teve que decidir sobre imbróglio


envolvendo o Governo Federal que queria, de forma unânime, decidir sobre ações
relacionadas ao isolamento social no Brasil. A Suprema Corte reconheceu a
competência dos Estados e Municípios para decretar suas próprias regras de
isolamento social de forma concomitante com a União, que também legisla sobre o
tema.

O Tribunal, por maioria, referendou a medida cautelar deferida pelo


Ministro Marco Aurélio (Relator), acrescida de interpretação conforme
à Constituição ao § 9º do art. 3º da Lei nº 13.979, a fim de explicitar
que, preservada a atribuição de cada esfera de governo, nos termos
do inciso I do art. 198 da Constituição, o Presidente da República
poderá dispor, mediante decreto, sobre os serviços públicos e
atividades essenciais, vencidos, neste ponto, o Ministro Relator e o
Ministro Dias Toffoli (Presidente), e, em parte, quanto à interpretação
conforme à letra b do inciso VI do art. 3º, os Ministros Alexandre de
Moraes e Luiz Fux. Redigirá o acórdão o Ministro Edson Fachin.
Falaram: pelo requerente, o Dr. Lucas de Castro Rivas; pelo amicus
curiae Federação Brasileira de Telecomunicações - FEBRATEL, o
Dr. Felipe Monnerat Solon de Pontes Rodrigues; pelo interessado, o
Ministro André Luiz de Almeida Mendonça, Advogado-Geral da
União; e, pela Procuradoria-Geral da República, o Dr. Antônio
Augusto Brandão de Aras, Procurador-Geral da República. Afirmou
suspeição o Ministro Roberto Barroso. Ausente, justificadamente, o
Ministro Celso de Mello. Plenário, 15.04.2020. (Resolução
672/2020/STF).

Bem de ver, com a decisão do STF permitindo que cada Estado e Município
também possam legislar sobre medidas de contenção durante a pandemia por
Covid-19, cada Estado apresentou uma dinâmica peculiar quanto às estatísticas
17
ONU MULHERES. A Pandemia das Sombras: Violência Contra a Mulher e Meninas e COVID-
19. Disponível em:
<https://www.unwomen.org/sites/default/files/Headquarters/Attachments/Sections/Library/Publications/
2020/Issue-brief-COVID-19-and-ending-violence-against-women-and-girls-Infographic-en.pdf>.
Acesso em: 30 de Set. 2021.
24

relacionadas aos crimes mais comuns praticados em detrimento da mulher em


situação de violência doméstica, quanto ao número de boletins de ocorrências,
ameaças, lesões corporais, número de medidas protetivas, feminicídios e
subnotificações de casos.

2.5. A Lei Maria da Penha e o trabalho das Polícias Militares

Quando discutimos violência doméstica no Brasil automaticamente lembramo-


nos da Lei n. 11.340, publicada em 07 de agosto de 2006, conhecida como Lei Maria
da Penha, que foi um marco na história do país, notadamente quanto à busca pela
criação de mecanismos para coibir e prevenir a violência doméstica e familiar contra
a mulher.

A referida legislação especial, quando se tratava de projeto de lei, foi


amplamente discutido pela sociedade civil, encabeçado, principalmente, pelos
movimentos sociais feministas e demais órgãos diretamente envolvidos com a
temática, de maneira que foram viabilizados diversos seminários, debates, oitivas e
18
oficinas. De acordo com a Exposição de Motivos para criação da legislação
protetiva, tem-se:

O projeto delimita o atendimento às mulheres vítimas de violência


doméstica e familiar, por entender que a lógica da hierarquia de
poder em nossa sociedade não privilegia as mulheres. Assim, busca
atender aos princípios de ação afirmativa que têm por objetivo
implementar “ações direcionadas a segmentos sociais, historicamente
discriminados, como as mulheres, visando a corrigir desigualdades e a
promover a inclusão social por meio de políticas públicas específicas,
dando a estes grupos um tratamento diferenciado que possibilite
compensar as desvantagens sociais oriundas da situação de
discriminação e exclusão a que foram expostas”.

Bem de ver, a necessária edição de legislação específica aceca da temática


para criação de mecanismos aptos ao enfrentamento e prevenção de delitos de
violência doméstica e familiar contra pessoas do sexo feminino, prevista na Carta
Magna e nos tratados internacionais dos quais o Brasil é signatário, é reforçada
pelos noticiários diuturnos que chegam ao cidadão comum sobre ocorrência de
crimes desta estirpe, bem como de dados que comprovam a ocorrência no cotidiano
feminino, cada vez mais recorrente.

18
BRASIL. Exposição de Motivos: Lei n.11.340/2006 – Lei Maria da Penha. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/projetos/expmotiv/smp/2004/16.htm >. Acesso em 07 de Out.
2021.
25

Fato é que, mesmo após a entrada em vigor da Lei específica, os desafios


para o enfrentamento desse problema, já etiquetado como um caso de saúde
pública, são enormes, mormente para se evitar que mulheres continuem sendo
vítimas do ódio desenfreado de seus parceiros.

Nesse contexto, a atuação conjunta dos órgãos de segurança pública, bem


como dos órgãos de persecução penal é tida como providencial para evitar a
consumação e, por consequência, a prevenção de crimes desta natureza.

Com efeito, o artigo 10 da Lei n. 11.340, Lei Maria da Penha, preleciona que,
na hipótese da iminência ou da prática de violência doméstica e familiar contra a
mulher, a Autoridade Policial que tomar conhecimento da ocorrência adotará, de
imediato, as providências legais cabíveis. 19

Entre os operadores do direito que diariamente lutam para aplicação da


referida lei e proteger vidas de mulheres, estão as Polícias Militares dos Estados, os
profissionais que são os primeiros a se fazerem presentes nos locais onde ocorrem
as diversas formas de violência doméstica.

As polícias dispõem do numero de atendimento 190 (cento e noventa) para


receber qualquer tipo de denúncia relacionada a algum crime, previsto no Código
Penal ou legislação extravagante, inclusive os crimes relacionados à violência
doméstica e familiar.

É um número para ligação não tarifada, mas não é disponibilizado para todas
as cidades. No Estado da Bahia, os municípios que não dispõe deste serviço, os
destacamentos de polícia tem que utilizar um telefone celular para atendimento de
qualquer tipo de denúncia. Os números para contato desses telefones funcionais
são adesivados nas viaturas para a população ter ciência.

É nesse contexto que surge a primeira dificuldade para que as denúncias


cheguem às Policias Militares. Como não é um serviço de chamada gratuito, requer
custos para ligação. A população de baixa renda ou de extrema pobreza, nem

19
BRASIL. Lei 11.340, 7 de Agosto de 2006. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11340.htm>. Acesso em: 10 de Out.
2021.
26

sempre conseguem fazer as denúncias chegarem ao conhecimento dos agentes


públicos.

Existem locais na zona rural que não dispõem de rede de telefonia móvel,
incapaz de acionar qualquer órgão de segurança pública, de maneira que
permanecem totalmente incomunicáveis. É nessas localidades que a violência
doméstica contra mulher se torna praticamente invisível para os policiais militares e,
por consequência, para os demais órgãos se persecução penal, incidindo na
chamada cifra negra.

Por outro lado, quando a notícia da ocorrência da infração penal chega ao


conhecimento das autoridades de segurança pública, não é raro que o ciclo da
violência se encontre em uma etapa bastante avançada, isto é, na fase da violência
física grave ou pior, no feminicídio (homicídio praticado contra a mulher em situação
de violência doméstica e familiar ou por menosprezo/discriminação à condição de
mulher – Art. 121, §2º-A, VI do Código Penal Brasileiro).

O Estado da Bahia ainda não dispõe de Delegacias Especializadas em todos


os municípios. Geralmente, as ocorrências de violência doméstica às vitimas são
encaminhadas para Delegacias comuns. O atendimento a mulheres por profissionais
do sexo masculino, portanto, gera um constrangimento enorme às vítimas, o que
favorece a ocorrência de revitimização.

Existem episódios de mulheres serem revitimizadas nas Delegacias não


especializadas, de forma que fazem despertar o sentimento de auto culpa pelas
violências sofridas. Nesse sentido, a Lei Maria da Penha é taxativa, ao prever, no
inciso III, do Art. 10:

Não revitimizar a depoente, evitando sucessivas inquirições sobre o


mesmo fato nos âmbitos criminal, cível e administrativo, bem como
questionamentos sobre a vida privada. 20

Não bastasse a carência de Delegacias Especializadas em atendimento à


mulher no Estado, existem cidades que não dispõem de Delegacias comuns.
Nesses casos, as polícias precisam se deslocar para a sede de outros municípios,
às vezes muito distantes, para lavratura de Auto de Prisão em Flagrante. Esse
20
BRASIL. Lei 11.340, 7 de Agosto de 2006. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11340.htm>. Acesso em: 15 de Out.
2021.
27

cenário, portanto, representa mais uma dificuldade para a vítima de crimes desta
natureza, notadamente para o êxito do deslocamento à guisa de formalizar Boletim
de Ocorrência, oitiva perante a Autoridade Policial Judiciária e, em caso de crime
não transeunte, submissão a exames e perícias.

Neste contexto, a pandemia vem como agravante para as mulheres dispostas


a frear a violência que as vitimam, as quais já viviam em situação de violência
doméstica. Na mesma linha, as autoridades e agentes públicos, que já tinham uma
grande dificuldade em fazer valer o que está expresso no texto da lei para a defesa
das mesmas, não dispõem de meios aptos a viabilizar ação rápida e efetiva a fim de
evitar o aumento das estatísticas de violência durante os primeiros meses de
isolamento social devido à pandemia por covid 19.

Pelo menos desde 2017 o Fórum Brasileiro de Segurança Pública


vem chamando a atenção para o incremento da violência de gênero
no Brasil. Os registros de agressão no ambiente doméstico, de
violência sexual e feminicídios tem apresentado crescimento em todo
o país, embora com intensidades distintas em cada localidade. O
fenômeno não é novo e/ou circunscrito ao momento de pandemia.
(FORUM SEGURANÇA, 2020)

Nos primeiros meses de 2020 começam a serem publicadas as primeiras


pesquisas abordando essa problemática no Brasil. Entre elas, as pesquisas do
Fórum Brasileiro de Segurança Pública, uma organização não governamental,
apartidária, sem fins lucrativos, composta por cientistas, pesquisadores, operadores
do Direito de diversas áreas como policiais federais, civis, militares, membros do
judiciário, profissionais de entidades civis que visam contribuir dando transparência
sobre a violência no país, politicas de segurança pública e encontrar soluções
baseadas em evidencias. 21

“O FBSP estrutura suas atividades em torno de um pensamento


estratégico que valoriza a informação como eixo de transformação e
mudança social. Na prática, isso se traduz em um programa de
trabalho pautado na circulação de dados e de conhecimento acerca da
realidade da área e, ainda, na aproximação e na construção de pontes
de diálogo entre diferentes segmentos que lidam cotidianamente com
o tema. É assim que a atuação do FBSP vem permitindo que os dados
existentes sejam convertidos em insumo para a ação política.” (FBSP,
2022).

21
FÓRUM BRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA (FBSP). Quem somos. Disponível em:
<https://forumseguranca.org.br/quem-somos/>. Acesso em 02 Abr. 2022.
28

Após a implantação de medidas mais rigorosas para evitar a disseminação da


Covid-19, os lokdowns, já foi perceptível o aumento em alguns dados relacionados à
violência contra a mulher comparada ao mesmo período do ano de 2019.

A princípio, apenas algumas Secretarias de Segurança dos Estados


colaboraram com pesquisas, repassando dados sobre alguns crimes. Nessas
unidades federativas, houve uma dinâmica diferente nas estatísticas uma das
outras, já que cada uma teve o inicio dos seus decretos de restrição sanitários
publicados em data diferentes.

Outra observação que será demonstrada é que, em alguns Estados, mesmo


demonstrando uma queda nos números de denúncias, inversamente subiu o número
de feminicídios. Tais dados, geralmente são diretamente proporcionais, o que
sinaliza a ocorrência de subnotificação, notadamente quanto às diversas formas de
violência contra a mulher, chegando, infelizmente, posteriormente às autoridades, o
conhecimento apenas da morte das mesmas.

3. ESTATÍSTICAS SOBRE A VIOLÊNCIA DOMÉSTICA NOS PRIMEIROS MESES


DE LOCKDOWN EM ALGUNS ESTADOS DO BRASIL

Os primeiros estudos a respeito do tema foram realizados e publicados em


Abril de 2020 pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública. O Estado da Bahia, à
época não disponibilizou dados para o referido Fórum, mas, posteriormente, será
tratado em tópico especifico deste trabalho, com dados recentes, disponilizados em
sites oficiais do Estado.

Através dos entes federativos que foram transparentes na disponibilização


das estatísticas de alguns crimes, já se pode ter uma dimensão de como foram os
primeiros dias de isolamento social no Brasil, em relação à violência contra a mulher
nos seus lares junto com seus companheiros.

Foram coletados dados em relação ao número de boletins de ocorrência


relacionados a alguns crimes, como homicídios dolosos contra mulheres,
feminicídios, número de lesões corporais dolosas decorrentes de violência
doméstica, estupro e estupro de vulnerável.
29

Também será demonstrado o número de atendimentos à mulher, solicitados


por meio do número 190 da Polícia Militar, 180, correspondente ao número criado
pelo Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH), assim
como a quantidade de medidas protetivas expedidas pelos Tribunais de Justiça.

As tabelas a seguir demonstrarão o panorama de alguns tipos de violência


contra mulher em confinamento com seus companheiros nos meses de março e abril
de 2020 no Brasil. Foi verificado que os registros de diferentes crimes caíram no
período acima citado, mesmo diante de adoções de medidas, como a possibilidade
de realização de boletins de ocorrência de forma virtual.

3.1. Homicídios dolosos contra mulheres

A tabela 01 demonstrará o número de homicídios praticados contra mulheres.


Dos Estados participantes desta pesquisa, o Acre apresentou um aumento de 75%
(setenta e cinco por cento), eis que de 04 (quatro) vítimas em março e abril de 2019,
esse número subiu para 07 (sete) no mesmo período do ano de 2020.

O Estado do Amapá apresentou acréscimo de zero para 02 (dois) casos em


2020. A partir dos registros deste crime, são feitos cálculos que demonstram que
uma porcentagem desses homicídios são classificados como feminicídios.

O Ceará foi o Estado que demonstrou índice elevado no número de


homicídios de mulheres, mas os registros de feminicídios caíram, o que pode
sinalizar a ocorrência de subnotificações de casos deste crime. Todos os outros
Estados apresentaram um crescimento diretamente proporcional de homicídios de
mulheres e de feminicídios, enquanto o Ceará demonstrou variáveis inversas.

Em reportagem publicada no site Sobral On Line, a pesquisadora Samira


Bueno, Diretora Executiva do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, enfatizou que
o Ceará é o Estado brasileiro com a maior taxa de homicídios de meninas e
mulheres e que, dentre os casos que resultaram nestas mortes no Estado, apenas
1,7 a cada 100 mil mulheres foi enquadrado como feminicídio. 22

22
SOBRAL ON LINE. Ceará registra a maior taxa de homicídios femininos do Brasil. Disponível
em: <https://sobralonline.com.br/ceara-registra-a-maior-taxa-de-homicidios-femininos-do-brasil/>. Acesso em: 17
de Out. 2021.
30

O dado do Ceará é o mais significativo. A taxa de mortalidade por


homicídios de mulheres no Estado foi de 20 por grupo de 100 mil
mulheres e a taxa nacional é de três. É praticamente seis vezes
superior à média nacional. Só que a proporção de homicídios
femininos que foram qualificados como feminicídio foi de apenas
8%. (BUENO, 2021).

Para ela, a taxa de feminicídio do Ceará pode ser ainda muito maior do que
os registros oficiais apontam.

Tabela 01:

3.2. Feminicídio

A Lei 13.104 de 05 de Março de 2015 alterou o art. 121 do Decreto-Lei nº


2.848, de 07 de dezembro de 1940, Código Penal, para prever o feminicídio como
circunstância qualificadora do crime de homicídio, e o art. 1º da Lei nº 8.072, de 25
de julho de 1990, para incluir o feminicídio no rol dos crimes etiquetados como
hediondos. Prevê que o homicídio praticado contra mulher em razão do sexo
feminino será tratado com essa nova alteração. Considera-se que há razões de
31

condição de sexo feminino quando o crime envolve violência doméstica e familiar e


menosprezo ou discriminação à condição de mulher. 23

O feminicídio aparece como o crime mais cruel de todos os que são descritos
no ciclo da violência contra mulher, caracterizados com crimes inicialmente mais
brandos no inicio da relação, tais como ameaças, violência psicológica, moral,
patrimonial, lesão corporal, chegando ao fim trágico quando a vida da mulher é
ceifada por seus companheiros. 24

“Em alguns casos, o ciclo da violência termina com o feminicídio, que é o


assassinato da vítima.” (INSTITUTO MARIA DA PENHA, 2021)

Doravante, o Acre apresentou o pior índice de feminicídios nos meses de


março e abril de 2020, comparado com o mesmo período de 2019, de 01 (um) para
04 (quatro) feminicídios. O Maranhão novamente aparece com um índice alarmante
de violência contra mulher; o Estado apresentou um aumento nos meses de março e
abril de 2020, comparado com mesmo período de 2019 de 06 (seis) para 16
(dezesseis) feminicídios, respectivamente, o que representa um aumento de 166%
(cento e sessenta e seis por cento).

Em seguida, o Mato Grosso aparece com um aumento de 150% (cento e


cinquenta por cento), saindo de 06 (seis) feminicídios em 2019 para 15 (quinze) em
2020 para os meses de março e abril. Alguns estados tiveram queda nos índices
deste crime nos primeiros meses de pandemia, o Rio de Janeiro apresentou uma
redução de -55,6% (cinquenta e cinco vírgula seis por cento), Espirito Santo -50%
(menos cinquenta por cento) e Minas Gerais -22,7% (menos vinte e dois vírgula sete
por cento).

23
BRASIL. Lei nº 13.104, de 9 de março de 2015. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13104.htm>. Acesso em: 18 de Out.
2021.
24
INSTITUTO MARIA DA PENHA. Ciclo da violência. Disponível em:
<https://www.institutomariadapenha.org.br/violencia-domestica/ciclo-da-violencia.html>. Acesso em:
25 de Out. 2021.
32

Tabela 02:

3.3. Lesão corporal dolosa em decorrência de violência doméstica

Segundo a Lei 11.340/2006, configura violência domestica contra mulher


qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão,
sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial, no âmbito da
unidade doméstica, no âmbito familiar ou em qualquer relação intima de afeto, no
qual o agressor conviva ou tenha convivido com a ofendida, independentemente de
coabitação. 25

A tabela 03 apresenta o crime de lesão corporal dolosa. Em todos Estados foi


verificada a redução do número desses crimes de forma unânime. Em alguns
Estados foi perceptível essa redução de forma drástica, como no Maranhão,
comparando os meses de março e abril de 2019 com o mesmo período de 2020,

25 o
BRASIL. Decreto Lei n 2.848, de 7 de Dezembro de 1940. Código Penal. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848compilado.htm>. Acesso em: 27 de Out.
2021.
33

houve uma queda de 331 (trezentos e trinta e um) casos para 09 (nove), redução de
97,3% (noventa e sete vírgula três por cento).

Em seguida, vem o estado do Rio de Janeiro, que teve uma queda nos
registros desse crime de 3.641 (três mil, seiscentos e quarenta e um) em 2019 para
1.875 (um mil, oitocentos e setenta e cinco) em 2020, redução de 48,5% (quarenta e
oito vírgula cinco por cento). Em terceiro aparece o estado do Pará que apresentou
1250 (um mil, duzentos e cinquenta) registros em 2019 e 653 (seiscentos e
cinquenta e três) em 2020, que corresponde a uma queda 47,8% (quarenta e sete
vírgula oito por cento).

Tabela 03:

3.4. Violência sexual

De acordo com a Organização Mundial da Saúde violência sexual é definida como

“todo ato sexual, tentativa de consumar um ato sexual ou


insinuações sexuais indesejadas, ou ações para comercializar
ou usar de qualquer outro modo à sexualidade de uma pessoa
por meio da coerção por outra pessoa, independentemente da
relação desta com a vítima, em qualquer âmbito, incluindo o lar e
o local de trabalho”. (PAHO, 2018)

Assim como em outros crimes os dados apresentados indicam que a


diminuição do numero de registros não demonstra que essas violações contra as
34

mulheres estão diminuindo, pelo contrário, que as mulheres não estavam


conseguindo chegar até as delegacias de polícia para registrarem os boletins de
ocorrências. A média das estatísticas disponibilizadas pelos estados representa uma
média de queda de -28,2% dos registros do crime de estupro e estupro de
vulnerável.

Tabela 04:

3.5. Medidas protetivas de urgência

As medidas protetivas de urgência foram criadas pela Lei nº 11.340/2006,


mais conhecida como a Lei Maria da Penha, e são mecanismos legais que visam
proteger a integridade ou a vida de uma menina, adolescente ou mulher em situação
de risco. 26

Entre as medidas protetivas de urgência que obrigam o agressor está previsto


no artigo 22 desta lei: suspensão da posse ou restrição do porte de armas com
comunicação ao órgão competente; afastamento do lar, domicílio ou local de
convivência com a ofendida; proibição de determinadas condutas, entre as quais a
26
BRASIL. Políticas para mulheres. Disponível em: <https://www.gov.br/mdh/pt-br/navegue-por-
temas/politicas-para-mulheres/publicacoes-1/MEDIDAS_PROTETIVAS_SALVE_MULHER.pdf>. Acesso em 10
de Nov. 2021.
35

aproximação da ofendida, de seus familiares e das testemunhas, fixando o limite


mínimo de distância entre estes e o agressor; contato com a ofendida, seus
familiares e testemunhas por qualquer meio de comunicação, frequentação de
determinados lugares a fim de preservar a integridade física e psicológica da
ofendida; restrição ou suspensão de visitas aos dependentes menores, ouvida a
equipe de atendimento multidisciplinar ou serviço similar; prestação de alimentos
provisionais ou provisórios; comparecimento do agressor a programas de
recuperação e reeducação; acompanhamento psicossocial do agressor, por meio de
atendimento individual e/ou em grupo de apoio. 27

De acordo com os dados disponibilizados pelos tribunais de justiça dos


estados foi percebido a diminuição do número de medidas protetivas de urgência, o
que significa que as mulheres tiveram dificuldade em acessar os órgãos públicos
para registro de denúncias. O estado do Acre apresentou uma queda de 31,2%
(trinta e um vírgula dois por cento), 8,2% (oito vírgula dois por cento) no Pará, 3,7%
(três vírgula sete por cento) São Paulo e 28,7% (vinte e oito vírgula sete por cento)
no Rio de Janeiro.

Tabela 05:

3.6. Ligue 180

O ligue 180 é um serviço de denúncia oferecido pelo Ministério da Mulher, da


Família e dos Direitos Humanos em funcionamento desde 2005 quando foi criado. É

27
BRASIL. Lei 11.340, 7 de Agosto de 2006. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11340.htm>. Acesso em: 15 de Nov.
2021.
36

um canal de atendimento telefônico criado para o enfrentamento da violência contra


mulher. É uma ligação sem custos, que serve para realização de denúncias contra
agressores. O serviço também orienta as mesmas sobre seus direitos, legislação
vigente e sobre as redes de acolhimento de mulheres em situação de
28
vulnerabilidade.

O próximo gráfico demonstra o numero de denúncias realizadas para o ligue


180. Houve um salto maior quando comparado o mês de abril de 2020 com o
mesmo mês de 2019, um aumento significativo de 37,6% (trinta e sete vírgula seis
por cento), demonstrando o incremento da violência contra mulher devido às
medidas restritivas por conta da pandemia por covid 19.

Tabela 06:

Tabela 07 – Total de denúncias de violência contra a mulher registradas no ligue 180

28
MINISTÉRIO DA MULHER, DA FAMÍLIA E DOS DIREITOS HUMANOS. O que é Central de
Atendimento à Mulher – Ligue 180?. Disponível em: <https://www.gov.br/mdh/pt-
br/assuntos/denuncie-violencia-contra-a-mulher/o-que-e-central-de-atendimento-a-mulher-2013-ligue-
180.> Acesso em: 17 de Nov. 2021.
37

Somando o total do bimestre março e abril de 2019 com o mesmo período de


2020 o salto do número de denúncias foi de 15.683 (quinze mil, seiscentos e oitenta
e três) para 19.915 (dezenove mil, novecentos e quinze), aumento de 26% (vinte e
seis por cento) o numero de ligações para o Ligue 180.

4. DADOS DA VIOLÊNCIA CONTRA MULHER NO ESTADO DA BAHIA

A Bahia não participou da pesquisa mencionada acima acerca da violência


contra a mulher. Através da coleta de dados realizada no site institucional do
Governo, especificamente na página da Secretaria de Segurança Pública (SSP-BA),
foram encontrados alguns crimes relacionados à mulher para fazer um comparativo
2019 e 2020 e ver como a Bahia se comportou nos primeiros meses de restrições
devido à pandemia por covid 19. 29

Na página institucional da SSP-BA, os anuários com estatísticas criminais


publicitou apenas o feminicídio como único crime contra mulheres. No comparativo
entre 2019 e 2020, foi perceptível o aumento do número de mulheres que tiveram
suas vidas ceifadas por seus companheiros como demonstrado nas tabelas a seguir:

29
GOVERNO DA BAHIA. Secretaria de Segurança Pública. Disponível em:
<https://www.ssp.ba.gov.br2021/09/10644/SSP-e-SEI-lancam-anuario-com-estatisticas-
criminais.html> . Acesso em: 09 de Mar. 2022.
38

Tabela 01:

De acordo com a planilha disponibilizada pela Secretaria de Segurança


Pública, entre 01 de janeiro a 31 de dezembro de 2019 foram registrados 101(cento
e um) feminicídios na Bahia. Outros crimes como homicídios dolosos, tentativa de
homicídio e estupro não há clareza quanto ao gênero das vitimas, dificultando
entender melhor como foi à dinâmica de outros crimes que as mulheres podem ter
sofrido durante a pandemia. A tabela seguinte mostra os dados no mesmo período,
mas em relação ao ano 2020, quando foram registrados 113 (cento e treze) casos,
demonstrando um aumento no número de feminicídios na Bahia em 12% (doze por
cento) de acordo com registros oficiais do governo.
39

Tabela 02:

Em notícia veiculada no site institucional da Secretaria de Políticas para as


Mulheres (SPM-BA) do Governo da Bahia, especificamente comparando apenas o
mês de maio de 2019 com mesmo período de 2020, quando as medidas restritivas
se mostravam ainda rígidas com os decretos de lokdowns em vigor para evitar a
disseminação da Covid-19, houve um aumento de 150% (cento e cinquenta por
cento) no número de feminicídios na Bahia, registrando 06 (seis) óbitos em maio
2019 e 15 (quinze) em 2020 para o mesmo mês. 30

Desta forma, Bahia segue a tendência nacional para os primeiros meses de


pandemia no ano de 2020, cai o número de denúncias, de medidas protetivas de
urgência e aumentam o número de feminicídios, demonstrando assim como em
30
BAHIA, Secretaria de políticas para mulheres. Feminicídios crescem em 150% na Bahia em
maio; pedidos de medida protetiva caíram. Disponível em:
<http://www.mulheres.ba.gov.br/2020/06/2862/Feminicidios-crescem-em-150-na-Bahia-em-maio-
pedidos-de-medida-protetiva-cairam.html> . Acesso em: 25 de Mar. 2022.
40

outros Estados divergências em estatísticas de alguns crimes que geralmente são


diretamente proporcionais.

Com a pandemia, as recomendações para ficar em casa e com os órgãos


funcionando apenas em atendimento remoto, muitas mulheres ficaram mais tempo
convivendo com seus agressores, o que as impossibilitou de denunciarem os casos
à polícia para tentar romper o ciclo da violência.

Para a Secretaria de Políticas para as Mulheres esta situação de


confinamento das mulheres com seus companheiros explicam as subnotificações de
casos de violência contra mulher que foi perceptível a partir de Março de 2020.

A Bahia atualmente dispõe de 15 (quinze) delegacias de Atendimento às


Mulheres (Deams) espalhadas pelo estado. De acordo com dados da SPM-BA
houve uma queda brusca em todos os tipos de ocorrências registradas desde que as
medidas de isolamento foram adotadas. Os boletins de ocorrência por tentativa
feminicídio, por exemplo, foram os que tiveram maior decrescimento, comparados
com 2019: - 78,6% (setenta e oito vírgula seis por cento).

Entre março a junho de 2019, as Deams registraram 14 (quatorze) tentativas


de feminicídio. No mesmo período de 2020, o número diminuiu para apenas 06
(seis) registros, equivalendo a uma redução de 58% (cinquenta e oito por cento).

Para o crime de lesão corporal a queda foi de 33,1% (trinta e três vírgula um
por cento) do número de denúncias comparando março a junho de 2019 com o
mesmo período de 2020.

Em relação às medidas protetivas de urgência seguindo as mesmas


comparações dos citados meses, comparando 2019 com 2020, a queda foi de -
46,78% (menos quarenta e seis vírgula setenta e oito por cento) de acordo com a
Secretaria de Políticas para as Mulheres. 31

Analisando os dados da Secretaria de Segurança Pública da Bahia sobre a


violência contra mulher do ano 2021 percebeu-se a melhora na transparência sobre

31
BAHIA, Secretaria de políticas para mulheres. Feminicídios crescem em 150% na Bahia em
maio; pedidos de medida protetiva caíram. Disponível em:
<http://www.mulheres.ba.gov.br/2020/06/2862/Feminicidios-crescem-em-150-na-Bahia-em-maio-
pedidos-de-medida-protetiva-cairam.html> . Acesso em: 25 de Mar. 2022.
41

crimes contra mulheres como ameaça difamação, importunação sexual, injúria, lesão
corporal dolosa, tentativa de feminicídio, tentativa de homicídio, estupro, homicídio
doloso, feminicídio e lesão corporal seguida de morte.

Os anuários da criminalidade dos anos 2019 e 2020 apresentam apenas


registros de feminicídios. Segue tabela referente à violência contra a mulher
referente ao ano 2021.

Tabela 03:

Fazendo um comparativo do número de feminicídios entre o ano de 2020 e


2021, o número de feminicídios caiu respectivamente de 113 (cento e treze) para 88
(oitenta e oito), uma redução de 23% (vinte e três por cento) do número de óbitos.

Uma análise pode indicar que no ano de 2021, ano do inicio das vacinações
da população Brasileira, retomada de forma mais eficiente dos serviços que compõe
a rede proteção às mulheres e as vítimas conseguindo sair dos lares para efetuarem
denúncias, contribuíram para a diminuição dos feminicídios na Bahia.

Outra análise, apenas tabela do ano de 2021, a mesma apresenta um número


alto de homicídios contra mulher em relação ao de feminicídios, 341 (trezentos e
42

quarenta e um) mulheres mortas para 88 (oitenta e oito) feminicídios. Uma


observação deve ser feita sobre estes crimes, indicando que poderia ser um número
maior de feminicídios como é apresentado em dados oficiais do estado.

De acordo com a cientista social e pesquisadora da Rede de Observatórios da


Segurança e Iniciativa Negra, Luciene Santana, a mesma questiona a necessidade
de classificar os tipos de violência corretamente. Supõe que muitos casos de
homicídios de mulheres poderiam ser classificados como feminicídios, indicando que
há subnotificações de casos. “Não há investigações eficientes para concluir se o
crime foi ou não motivado pelo gênero, o que poderia caracterizar que ocorrem mais
feminicídios do que é divulgado.” Afirmou a pesquisadora.32

4.1. Ronda Maria da Penha

A Polícia Militar da Bahia dispõe um serviço pioneiro, especializado na


proteção da mulher, chamado Ronda Maria da Penha (RMP). Reconhecida
nacionalmente, a Ronda Maria da Penha é fruto da assinatura de um termo de
cooperação técnica entre as secretarias estaduais de Políticas para as Mulheres
(SPM-BA) e de Segurança Pública (SSP), Defensoria Pública, Ministério Público e
Tribunal de Justiça da Bahia. A SPM-BA preside o comitê gestor da Ronda Maria da
Penha. 33

A RMP prevê cooperação mútua entre os órgãos envolvidos para promover a


capacitação de policiais militares, além da qualificação dos serviços de atendimento
com apoio e orientação nas ocorrências policiais envolvendo mulheres vítimas de
violência doméstica. A Ronda, ainda, trabalha na prevenção e repressão de atos de
violações de dignidade das mulheres, no enfrentamento à violência doméstica e
familiar, na garantia do cumprimento das Medidas Protetivas de Urgência, na
dissuasão e repressão ao descumprimento de ordem judicial e no encaminhamento

32
GLOBO. Mais de 180 mulheres foram mortas na BA em 2020: 'É preciso entendimento social
para mudar esses dados', diz pesquisadora. Disponível em:
<https://g1.globo.com/ba/bahia/noticia/2021/03/04/mais-de-180-mulheres-foram-mortas-na-ba-em-
2020-e-preciso-entendimento-social-para-mudar-esses-dados-diz-pesquisadora.ghtml> . Acesso em:
30 de Mar. 2022.
33
BAHIA, Secretaria de políticas para mulheres. Ronda Maria da Penha. Disponível em:
<http://www.mulheres.ba.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=36> . Acesso em: 30 de
Mar. 2022.
43

das mulheres à Rede de Atendimento à Mulher Vítima de Violência Doméstica no


âmbito municipal ou estadual. 34

4.2. Ronda Maria da Penha em Jacobina

Em pesquisa de campo realizado com a Ronda Maria da Penha em Jacobina


foram feitos alguns questionamentos acerca da violência doméstica nos primeiros
meses da pandemia por Covid-19. A Ronda Maria da Penha é um policiamento
especializado em Jacobina pertencente à 24ª Companhia Independente de Polícia
Militar do Estado da Bahia.

É composta por 03 policiais militares, duas do sexo feminino e um do sexo


masculino, que tem a incumbência de realizar visitas a mulheres que já sofriam
situação de violência doméstica e ainda continuam recebendo ameaças mesmo
após separação dos corpos. Por esse motivo possuem medidas protetivas, devido à
eminência de ocorrer o crime de feminicídio.

Observação a ser feita que a Ronda Maria da penha não atende pelo
telefone 190, os casos em que ocorrem os flagrantes, o primeiro contato nos locais
dos pedidos de ajuda das vitimas é realizado pelo policiamento ordinário. Após todos
os trâmites alguns inquéritos podem ou não gerar uma medida protetiva de acordo
com as conclusões dos juízes das varas crime.

Esses policiais possuem um cronograma de visitas a essas vítimas. Atendem


na sede do munícipio e nos distritos de Novo Paraíso, Junco, Caatinga do Moura,
Palmeirinha, Itaitú, Cachoeira Grande e Batata. Atualmente, em 2022, atendem a
173 (cento e setenta e três) mulheres com medidas protetivas em todas estas
localidades.

De acordo com a atual comandante da RMP, a Sargento Policial Militar Aidê


Santos Costa, que de forma solicita a esta pesquisa esclareceu como foi o trabalho
desenvolvido durante os primeiros meses de Pandemia por Covid – 19.

34
BAHIA, Secretaria de políticas para mulheres. Ronda Maria da Penha. Disponível em:
<http://www.mulheres.ba.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=36> . Acesso em: 30 de
Mar. 2022.
44

Relatou que, principalmente nos períodos mais críticos, em que houve as


quarentenas, as visitas às casas das vitimas passou a ser apenas em rondas
externas nas ruas onde as ameaçadas residiam. O diálogo nos lares, o acolhimento,
as conversas no sentido de fortalecer e apoiar as vitimas foram interrompidos após
recomendações da Secretaria de Segurança Pública da Bahia.

Outros desafios enfrentados por esses profissionais da segurança pública é a


falta de efetivo, na pesquisa os policiais da RMP desta cidade afirmam que não
conseguem fazer cumprir as rondas de forma mais eficiente por ser apenas 03(três)
policiais em uma viatura para cobrir um número alto de medidas protetivas com uma
abrangência territorial grande. Ideal seria no mínimo duas viaturas e mais policiais
para poderem ter uma eficiência melhor.

Na pesquisa, foram disponibilizados dados referentes ao período de janeiro a


dezembro de 2019 e feito um comparativo com o ano de 2020, primeiro ano da
pandemia. Os números dizem respeito apenas ao número de medidas protetivas
concedidas pelo Juiz da vara crime do Fórum Jorge Calmon da comarca desta
cidade.

Tabela 01:

N° DE MEDIDAS PROTETIVAS

2019 2020

Janeiro a Dezembro 96 68

Fonte: Ronda Maria da Penha, Jacobina Bahia.

Em 2019 receberam 96 (noventa e seis) medidas protetivas da vara crime de


Jacobina e em 2020 a quantidade de medidas recebidas foi de 68 (sessenta e oito),
o que representou uma redução de 29,1% (vinte e nove vírgula um por cento) após o
inicio da pandemia por Covid-19.

Até então todas essas estatísticas apresentadas até então neste trabalho, a
nível nacional, do Estado da Bahia e de Jacobina, confirmam que as medidas de
restrição impostas devido à pandemia por covid-19 foi um agravante para as
mulheres que já viviam o ciclo da violência com seus companheiros.
45

De forma geral, houve uma queda dos registros policiais por ameaça, lesão
corporal, tentativas de homicídio e estupros contra mulheres. Em sentido contrário
ocorreu o aumento da violência letal, feminicídios e homicídios, demonstrando que
aumentou os conflitos nos lares.

5. FATORES QUE CONTRIBUÍRAM PARA O AUMENTO DA VIOLÊNCIA


DOMÉSTICA CONTRA A MULHER DURANTE A PANDEMIA POR COVID-19

Essa alta letalidade nesse período demonstrou que as mulheres estavam


tendo mais dificuldade em realizar denúncias em relação ao período que antecedeu
a pandemia devido ao maior convívio com o agressor e do consequente aumento da
violência psicológica e física.

As pesquisas que foram se formando sobre o tema apresentava como


principais causas para o aumento dos casos de violência doméstica as restrições às
redes institucionais e familiares de apoio à mulher, diminuição da renda familiar,
maior controle do agressor sobre a vítima em razão do maior tempo de convivência,
aumento dos níveis de estresse e aumento do consumo de álcool experimentado no
período. 35

Existiam dificuldades de deslocamento e acesso as redes de proteção à


mulher, que a época essas instituições passavam por períodos de instabilidade.
Muitos servidores foram afastados por suspeita ou por estarem contaminados pela
covid-19, acarretando diminuição nos quadros de atendimentos, redução dos
horários de expediente, além das restrições de mobilidade que o transporte público
sofreu.

Na Bahia, em Junho de 2020 o Sindicato de Policiais Civis (SINDPOC)


denunciaram à imprensa à situação crítica que estava ocorrendo nas delegacias
baianas, especificamente em algumas delegacias da capital. Há época mais de 700

35
MARQUES, E.S.; MORAES, C.L; HASSELMAN, M.H; DESLANDES, S.F; REINCHEHEIN, M.E. A
Violência contra mulheres, crianças e adolescentes em tempos de pandemia pela covid-19:
panorama, motivações e formas de enfrentamento. Cadernos de Saúde Pública 2020, 36 (4).
46

policiais civis estavam afastados por estarem infectados ou suspeitos de portarem o


vírus Covid-19. 36

Desse montante de servidores em baixa na policia civil, 700 estavam


afastados por fazerem parte do grupo de risco e outros 73 por licenças médicas.
Além de 02 óbitos desses profissionais devido à doença. O sindicato reclamou que o
estado não disponibilizava até a data da matéria jornalística materiais para
desinfecções nas delegacias assim como equipamentos de proteção individual,
EPIS, exemplo de máscaras descartáveis.

“Temos cinco policiais na 5ª delegacia que estão em tratamento. Na 5ª


delegacia e na Deam de Periperi, que são delegacias que trabalham juntas, já
somaram-se mais de 10 policiais, em termos de suspeitos e confirmados com a
Covid-19.” Relatou o secretário geral do sindicatos dos policiais civis (Sindpoc),
Marcos Maurício.

Consequentemente todas essas situações impactaram as mulheres. As que


conseguiam se deslocar até as delegacias não conseguiam realizar os boletins de
ocorrência. Na mesma reportagem uma vitima de violência doméstica relatou toda
peregrinação para conseguir denunciar um agressor que a ameaçava.

Narrou que esteve na Deam de Brotas, mas não havia profissionais atendendo. A
mesma então se deslocou a Deam de Periperi, mas ao chegar foi informada que
faltava escrivão para ouvi-la.

“Estou na casa de minha vó. Não estou podendo voltar para casa por causas
das ameaças. Fui à delegacia de Brotas, mas ao chegar lá fui informada que não
poderia ser atendida porque só estavam fazendo liberação de cadáveres e
realizando boletins de ocorrência por furto e roubo. Mandaram eu ir até a Deam de
Periperi e chegando lá o policial disse que não poderia me atender por causa da
pandemia. Voltei para outra delegacia em Pau da Lima e prestei queixa porém o
rapaz que estava lá disse que teria que voltar com oito dias para conversar com a
delegada e com o escrivão.” contou.

36
GLOBO. Com mais de 700 policiais civis afastados por causa da Covid-19, sindicato reclama
de baixa distribuição de EPIs. Disponível em:
<https://g1.globo.com/ba/bahia/noticia/2020/06/02/com-mais-de-700-policiais-civis-afastados-por-
causa-da-covid-19-sindicato-reclama-de-baixa-distribuicao-de-epis.ghtml > . Acesso em: 02 Abr.
2022.
47

Fica evidente que mesmo alguns órgãos essenciais que fazem parte da rede
de proteção às mulheres não fecharem nos períodos críticos da pandemia houve
uma imensa dificuldade em conseguir de fato a realização das denúncias.

Outro aspecto negativo que essas vítimas podem passar nas delegacias é
revitimização. Um fenômeno em que a vítima se torna “culpada” por sofrer algum
tipo de crime, o que seria uma nova violência causada pelo Estado contra as
mesmas. O tratamento envolve descaso, culpabilização delas e que tem quer ser
combatido dentro dos órgãos oficiais. 37

A situação financeira das famílias se tornou mais um agravante para elevar os


níveis de atrito entre os casais. Devido os lockdowns, milhares de empresas no
Brasil acabaram não resistindo financeiramente, vindo à falência por terem que
fechar parcialmente ou totalmente em cumprimentos aos decretos que
determinavam os fechamentos.

De acordo com pesquisa publicada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e


Estatística (IBGE), até julho de 2020, 716 mil empresas já haviam fechado as portas
devido à pandemia. O levantamento mostra que o novo Corona vírus teve um
impacto em todos os seguimentos da economia, mas os principais afetados foram o
38
comércio com 39,4% e serviços com 37%.

De acordo com números divulgados pelo IBGE39 o Brasil encerrou o ano de


2020 com uma taxa de desemprego de 13,9%, o que equivale a 13,4 milhões de
brasileiros desempregados.

37
UOL. Revitimização: o que é e como podemos impedir que vítimas revivam o trauma.
Disponível em: <https://www.uol.com.br/universa/noticias/redacao/2020/12/18/revitimizacao.htm>
Acesso em: 04 Abr. 2022.
38
ELPAIS. 716.000 empresas fecharam as portas desde o início da pandemia no Brasil,
segundo o IBGE. Disponível em:<https://brasil.elpais.com/brasil/2020-07-19/716000-empresas-
fecharam-as-portas-desde-o-inicio-da-pandemia-no-brasil-segundo-o-ibge.html> . Acesso em: 05 Abr.
2022.
39
ISTO É DINHEIRO. 716.000 empresas fecharam as portas desde o início da pandemia no
Brasil, segundo o IBGE. Disponível em: <https://www.istoedinheiro.com.br/brasil-encerra-2020-com-
desemprego-de-139-por-causa-da-pandemia/>. Acesso em: 05 de Abr.2022.
48

Em 2020, “a necessidade de medidas de distanciamento social para o


controle da propagação do vírus paralisaram temporariamente
algumas atividades econômicas, o que também influenciou na decisão
das pessoas de procurarem trabalho”, disse a analista do IBGE
Adriana Beringuy.

Em consequência disto vem o aumento significativo do desemprego e perda


de renda de uma grande parte da população. Milhões de desempregados tiveram
que recorrer ao auxilio emergencial40 disponibilizado pelo Governo Federal, valores
que não suficientes nem para suprir as necessidades mínimas de uma família,
principalmente uma alimentação digna.

De acordo com reportagem veiculada no site da Comissão Econômica para a


América Latina e Caribe, da ONU,

“A pobreza e a extrema pobreza alcançaram em 2020 na América


Latina níveis que não foram observados nos últimos 12 e 20 anos,
respectivamente, bem como uma piora dos índices de desigualdade
na região e nas taxas de ocupação e participação no mercado de
trabalho, sobretudo das mulheres, devido à pandemia da COVID-19 e
apesar das medidas de proteção social emergencial que os países
adotaram para freá-la.” (CEPAL, 2020).

Vale ressaltar que famílias humildes que já viviam com um orçamento


apertado, algumas dependentes de programas assistenciais como o programa Bolsa
Família41, passaram a viver em situação de extrema pobreza. Famílias
desestruturadas, com muitos filhos, residentes nas periferias, que sem dúvidas, são
as mais invisíveis para o Estado.

Consequentemente muitas mulheres que viviam essa situação crítica de


pobreza extrema nunca teriam os meios necessários para poderem denunciar os
agressores. Ter um aparelho celular para efetuarem uma ligação para as Policias
Militares é algo que muitas não possuem. Um computador com internet para

40
FEDERAL, Caixa Econômica. Auxílio Emergencial. Disponível em:
<https://www.caixa.gov.br/auxilio/auxilio2021/paginas/default.aspx>. Acesso em 07 Abr. 2022.
41
MINISTÉRIO DA CIDADANIA. Bolsa família. Disponível em: < https://www.gov.br/ci dadania/pt-
br/acoes-e-programas/outros/bolsa-familia > Acesso em: 07 Abr. 2022.
49

realizarem uma denúncia de forma remota seria algo improvável para essa classe
que mal tem do que se alimentar.

Para Mary Ferreira, professora da Universidade Federal do Maranhão


(UFMA) e integrante do Fórum de Mulheres Maranhenses, situação de pobreza e
miséria é um ponto que leva a essa dinâmica dos altos índices de feminicídios no
estado. O Maranhão ainda é um estado patriarcal, pois vivemos uma oligarquia
durante muito tempo e essas relações ainda estão presentes. É preciso um projeto
estrutural de educação de gênero para construir novas mentalidades e discutir as
estruturas patriarcais, não apenas medidas paliativas. “É fundamental, necessário e
urgente.” Disse a pesquisadora. 42

A crise sanitária causada pelo novo Corona vírus revela a piora no


enfrentamento a violência doméstica contra mulher, tão difícil quanto já era antes da
pandemia.

“A violência de gênero é hiperendêmica no Brasil. A expressão, no


vocabulário da saúde pública, descreve doenças persistentes e de alta incidência.
Mais do que uma epidemia, portanto, em que uma enfermidade avança de forma
expressiva, não esperada e limitada no tempo, esse problema é melhor descrito no
país pelo conceito de hiperendemia, que se refere à manutenção, em patamares
altos, de uma doença social que já se manifesta com frequência.” (VISÍVEL E
INVISÍVEL: A VITIMIZAÇÃO DE MULHERES NO BRASIL, 2021)

A experiência de epidemias recentes, como as dos vírus da Zika (2015) e


Ebola (2013), indicam que crises sanitárias exacerbam desigualdades já existentes,
incluindo aquelas baseadas em status socioeconômico, idade, raça e gênero das
pessoas (ONU MULHERES, 2020).

42
PONTE. Maranhão lidera no aumento de feminicídios no Nordeste. Disponível em:
<https://ponte.org/nordeste-feminicidios-pandemia/ > Acesso em: 09 Abr. 2022.
50

5.1. Pesquisa Datafolha intitulada “Visível e Invisível”

Em 2021 foi realizada uma pesquisa quantitativa intitulada “Visível e Invisível:


a Vitimização de Mulheres no Brasil”. Foi idealizada pelo Fórum Brasileiro de
Segurança Pública em parceria com o instituto de pesquisas Datafolha que teve por
objetivo central medir a taxa de vitimização de mulheres no país. 43

Foi desenvolvida nas regiões metropolitanas e interior, onde entrevistou


homens e mulheres acima de 16 anos, de todas as classes, a fim de ter uma
conclusão sobre os relatos de violência em decorrência da emergência sanitária
devido a Covid-19 no Brasil.

As entrevistas foram realizadas em 130 cidades, entre 10 a 14 de maio de


2021. A amostra total de mulheres foi de 2079 entrevistas, destes 1.089 eram
mulheres, sendo que destas 879 aceitaram responder a planilha com os
questionários. Com essas amostras foi permitido fazer a uma leitura nível Brasil já
que houve coletas no Norte, Nordeste, Centro-Oeste, Sudeste e Sul do país.

A margem de erro para o total da amostra nacional é de 2,0 pontos para mais
ou para menos. A margem de erro para o total da amostra de mulheres participantes
do autopreenchimento é de 3,0 pontos para mais ou para menos. As principais
conclusões das entrevistas foram divididas da seguinte forma:
A violência contra as mulheres durante a pandemia

 1 em cada 4 mulheres no Brasil (24,4%) acima de 16 anos relatou ter sofrido


algum tipo de violência ou agressão nos últimos 12 meses, durante a
pandemia de covid-19. Isso significa que cerca de 17 milhões de mulheres
sofreram violência física, psicológica ou sexual em 2020.

Principais mudanças na rotina da população (homens e mulheres) em função


da pandemia de covid-19

43
Ficha Técnica do Projeto Visível e Invisível: A Vitimização de Mulheres no Brasil - 3ª edição –
2021 Samira Bueno, Juliana Martins, Amanda Pimentel, Amanda Lagreca, Betina Barros, Renato
Sérgio de Lima ISBN 978-65-89596-08-0
51

 52,6% afirmam que permaneceram mais tempo em casa.

 48,0% afirmam que a renda da família despencou.

 Para 44,4%, o período da pandemia de covid-19 significou também


momentos de mais estresse em casa.

 40,2% informaram que os filhos tiveram aulas presenciais interrompidas.

 33,0% perderam o emprego.

 30,0% tiveram medo de não conseguir pagar as despesas de casa.

Mudanças na rotina foram sentidas de forma desigual por homens e mulheres

 Mulheres reportaram níveis mais altos de estresse em casa em função da


pandemia (50,9% em comparação com 37,2% dos homens) e permaneceram
mais tempo nos lares, fato provavelmente vinculado aos papéis de gênero
tradicionalmente desempenhados, dado que historicamente cabe às mulheres
o cuidado com a casa e os filhos, o que aumenta a sobrecarga feminina com
o trabalho doméstico e com a família.
 14,4% da população afirma ter passado a ingerir mais bebidas alcoólicas no
último ano, valor ligeiramente superior à média foi observado entre os
homens (17,6%). O dado preocupa já que o consumo abusivo de bebidas
alcóolicas potencializa situações de violência doméstica.

Precarização das condições de vida no último ano é maior entre as mulheres


que sofreram violência

 61,8% das mulheres que sofreram violência no último ano afirmaram que a
renda familiar diminuiu neste período. Entre as que não sofreram violência
este percentual foi de 50%.
 46,7% das mulheres que sofreram violência também perderam o emprego. A
média entre as que não sofreram violência foi de 29,5%.
 Mulheres que sofreram violência relatam níveis ainda maiores de stress
(68,2%) do que entre as que não sofreram violência (51,0%).
52

 Mulheres que sofreram violência passaram a consumir mais bebida alcoólica


(16,6%) do que as que não sofreram (10,4%).

Violências sofridas pelas Brasileiras de 16 anos ou mais durante a pandemia


de covid-19

 4,3 milhões de mulheres (6,3%) foram agredidas fisicamente. Isso significa


dizer que a cada minuto, 8 mulheres apanharam no Brasil durante a
pandemia do novo Corona vírus.
 O tipo de violência mais frequentemente relatado foi à ofensa verbal. Cerca
de 13 milhões de brasileiras (18,6%) experimentaram este tipo de violência.
 5,9 milhões de mulheres (8,5%) relataram ter sofrido ameaças de violência
física como tapas, empurrões ou chutes.

 Cerca de 3,7 milhões de brasileiras (5,4%) sofreram ofensas sexuais ou


tentativas forçadas de manter relações sexuais.

 2,1 milhões de mulheres (3,1%) sofreram ameaças com arma branca ou arma
de fogo.

 1,6 milhão de mulheres foram espancadas ou sofreram tentativa de


estrangulamento (2,4%).

A vítima

 Verificou-se que quanto mais jovem maior foi à prevalência de violência,


sendo que 35,2% das mulheres de 16 a 24 anos relataram ter sofrido algum
tipo de violência, 28,6% das mulheres de 35 a 34 anos, 24,4% das mulheres
de 35 a 44 anos, 19,8% das mulheres de 45 a 59 anos e 14,1% das mulheres
com 60 anos ou mais.

 Em relação ao perfil racial, mulheres negras sofreram níveis mais elevados de


violência (28,3%) do que as pardas (24,6%) e as brancas (23,5%).

 Mulheres separadas e divorciadas apresentaram níveis mais elevados de


vitimização (35%) do que em comparação com casadas (16,8%), viúvas
(17,1%) e solteiras (30,7%), o que se acentua com o aumento da
53

gravidade/intensidade da violência física. O que revela que a separação é, ao


mesmo tempo, a tentativa de interrupção da violência, mas também o
momento em que ela fica mais vulnerável.

O lar é o espaço mais inseguro para a mulher

 A residência segue como o espaço de maior risco para as mulheres e 48,8%


das vítimas relataram que a violência mais grave vivenciada no último ano
ocorreu dentro de casa, percentual que vem crescendo. A rua aparece em
19,9% dos relatos, e o trabalho aparece como o terceiro local com mais
incidência de violência com 9,4%.

O que pensam as mulheres vítimas sobre a sua própria experiência com a


violência

 25,1% das mulheres que sofreram violência durante a pandemia destacaram


que a perda de emprego e renda e impossibilidade de trabalhar para garantir
o próprio sustento são os fatores que mais pesaram para a ocorrência de
violência que vivenciaram.

 21,8% afirmam que a maior convivência com o agressor em função da


pandemia de covid-19 também contribuiu.

5.2. SURGEM AS PRIMEIRAS AÇÕES PARA TENTA BARRAR O AUMENTO DA


VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER EM DECORRÊNCIA DA PANDEMIA POR
COVID-19

Diante de todas essas estatísticas demonstradas até o momento neste


trabalho, sobre o aumento da violência contra a mulher devido à pandemia por
covid-19, surgem os primeiros movimentos dos órgãos que fazem parte da rede de
proteção às mulheres para tentar, de forma rápida e emergencial, evitar mais
mortes.

Na Itália foi feito a requisição de quartos de hotéis que serviram de abrigo


para essas vítimas que puderam cumprir a quarentena de forma segura e distante
54

dos agressores. Outra adequação foi à melhoria do aplicativo de denúncias via


celular para que as ofendidas solicitassem ajuda com mensagens e fotos sem que
seu parceiro tivesse conhecimento. 44

Na França e Espanha, onde foi percebido aumento do número de casos e


subnotificações de denúncias, esses países também transformaram quartos de
hotéis em abrigos para mulheres. A Espanha em parceria com aplicativo de
mensagens Whatsapp, criou um meio para denuncia onde as mulheres quando
estiverem em casa com seus agressores ou em farmácias digitam a palavra-código
“Mascara 19” acionando autoridades do Governo. 45

Nos Estados Unidos, onde também foi percebida uma queda no número de
denúncias nos canais online durante o mês de março de 2020, alguns tribunais de
alguns estados criaram acesso remoto para pedidos de proteção por telefone ou e-
mail. 46

A China, porém foi discreta com as medidas tomadas pelo governo para
combater a violência contra a mulher durante a pandemia. Embora lugares como a
província de Hubei, onde fica Wuhan, tenha recebido um aumento considerável de
denúncias, com um crescimento estimado em 260% em relação ao mesmo mês de
março 2019 em comparação ao mesmo mês de 2020, ONGs e ativistas
denunciaram a grave situação enfrentada pelas mulheres chinesas. 47

A ONU Mulheres publicou um documento sobre os impactos e implicações da


pandemia e as diferenças entre os gêneros. Nessa publicação, reforçou que em

44
THE NEW YORK TIMES. Uma nova crise covid-19: abuso doméstico sobe em todo o mundo.
Disponível em: < https://www.nytimes.com/2020/04/06/world/coronavirus-domestic-violence.html> .
Acesso em: 14 Abr. 2022.
45
REUTERS. Na Itália, grupos de apoio temem que o confinamento esteja silenciando vítimas
de violência doméstica. Disponível em: <https://www.reuters.com/article/us-health-coronavirus-italy-
violence-idUSKBN21M0PM > . Acesso em: 15 de Abr. 2022.
46
THE GUARDIAN. Em quarentena com um abusador: aumento de relatos de violência
doméstica ligados ao coronavírus. Disponível em:< https://www.theguardian.com/us-
news/2020/apr/03/coronavirus-quarantine-abuse-domestic-violence > . Acesso em: 16 Abr. 2022.
47
BBC NEWS. Coronavirus: Cinco maneiras de a revolta do vírus atingir as mulheres na Ásia.
Disponível em: <https://www.bbc.com/news/world-asia-51705199> . Acesso em: 17 Abr. 2022.
55

contexto de emergência há o aumento de violência contra a mulher por causa da


48
dificuldade de rompimento das relações abusivas.

No Brasil, em maio de 2020, Governo Federal lançou a campanha de


conscientização e enfrentamento à Violência Doméstica devido à pandemia do novo
Corona vírus, para incentivar as denúncias de violência contra a mulher. A
campanha foi intitulada “Denuncie a violência doméstica”. 49

A campanha incentiva às denúncias com peças de publicidade como


cartazes, materiais para internet, rádio, televisão e também em condomínios. Nos
cartazes, na campanha aparece uma mulher segurando um bilhete com a frase
“Estou em casa 24 horas com quem me agride”.

Para incentivar a denúncia contra os agressores, a campanha divulga os


canais de atendimento da Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos: o Disque 100, o
Ligue 180 e o aplicativo Direitos Humanos Brasil, responsáveis por receber, ouvir e
encaminhar denúncias de violações aos direitos humanos.

Vários Estados passam a disponibilizar o Boletim de Ocorrência eletrônico


para vítimas de violência doméstica, permitindo que façam o registro da ocorrência
pela internet e não precisem se deslocar a uma delegacia. Os casos devem ser
priorizados na análise da delegacia da área. 50

Para a promotora de Justiça Celeste, promotora de Justiça do Ministério


Público de São Paulo, o boletim de ocorrência online é uma ferramenta a mais para
o combate à subnotificação de delitos e garantia dos direitos da vítima, pois estimula
a denúncia. Mas ela deve ser aliada a outros métodos para que haja a integral

48
ONU. COVID-19 e violência contra a mulher. Disponível em:
<https://www.who.int/emergencies/diseases/novel-coronavirus-2019/advice-for-public/healthy-
parenting > . Acesso em 18 de Abr. 2022.
49
MINISTÉRIO DA MULHER, DA FAMÍLIA E DOS DIREITOS HUMANOS. Denuncie a violência
doméstica. Para algumas famílias, o isolamento está sendo ainda mais difícil. Disponível em:
<https://www.gov.br/pt-br/noticias/assistencia-social/2020/05/governo-lanca-campanha-para-
incentivar-denuncias-de-violencia-domestica> . Acesso em: 19 Abr. 2022.
50
UOL. O que acontece após a vítima de violência doméstica fazer um B.O. online? Disponível
em: <https://www.uol.com.br/universa/noticias/redacao/2020/04/21/o-que-acontece-apos-a-vitima-de-
violencia-domestica-fazer-um-bo-online.htm> . Acesso em: 19 Abr. 2022
56

proteção prevista na Lei Maria da Penha e na Declaração dos Princípios Básicos de


Justiça Relativos às Vítimas da Criminalidade e Abuso de Poder da ONU.

O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) idealizou uma campanha que teve por
objetivo oferecer um canal silencioso de denúncia à vítima que, do seu domicílio,
não consegue denunciar a violência sofrida: ao conseguir sair de casa, dirige-se a
uma farmácia ou drogaria previamente cadastrada na campanha, onde algum
funcionário aciona a polícia quando percebem o “sinal de socorro”. O “X” escrito na
palma da mão da vítima com um batom vermelho indica um pedido de socorro. 51

A escolha desse tipo de estabelecimento se deu porque permaneceria aberto


mesmo em eventual caso de confinamento rigoroso, lockdowns, e fechamento do
comércio.

Em 08 Julho de 2020 é sancionada a lei n° 14022 de combate à violência


doméstica durante pandemia. O atendimento às vítimas passa a ser considerado
serviço essencial e não poderá ser interrompido enquanto durar o estado de
52
calamidade pública causado pelo novo Corona vírus.

De acordo a lei, o atendimento às vítimas é considerado serviço essencial e


não poderá ser interrompido enquanto durar o estado de calamidade pública
causado pelo novo Corona vírus. Denúncias recebidas nesse período pela Central
de Atendimento à Mulher em Situação de Violência (Ligue 180) ou pelo serviço de
proteção de crianças e adolescentes com foco em violência sexual, disque 100,
deverão ser direcionadas às autoridades em até 48 horas.

Obriga o atendimento ágil às demandas que impliquem risco à integridade da


mulher, exigindo que os órgãos de segurança criem canais gratuitos de
comunicação para atendimento virtual, acessíveis por celulares e computadores.

51
CNJ. Cartilha Sinal Vermelho. Disponível em: <https://www.cnj.jus.br/wp-
content/uploads/2021/03/cartilha-sinal-vermelho-AMB_farma%CC%81cias.pdf> . Acesso em: 20 Abr.
2022.
52
CÂMARA. Sancionada lei que combate a violência doméstica durante a pandemia. Disponível
em: <https://www.camara.leg.br/noticias/674399-sancionada-lei-de-combate-a-violencia-domestica-
durante-pandemia> . Acesso em: 21 Abr. 2022.
57

O atendimento presencial se tornou obrigatório para casos que possam


envolver: feminicídio; lesão corporal grave ou gravíssima; lesão corporal seguida de
morte; ameaça praticada com uso de arma de fogo; estupro; crimes sexuais contra
menores de 14 anos ou vulneráveis; descumprimento de medidas protetivas; e
crimes contra adolescentes e idosos.

A nova lei permite que medidas protetivas de urgência possam ser solicitadas
por meio de atendimento online. Previstas na Lei Maria da Penha, as medidas
protetivas são um conjunto de imposições ao agressor com o objetivo de garantir a
integridade da vítima.

As medidas protetivas já em vigor, segundo a lei, serão automaticamente


prorrogadas durante todo o período de calamidade pública em território nacional. O
ofensor será intimado pelo juiz, ainda que por meios eletrônicos, para ser notificado
da prorrogação das medidas.

“O aumento da violência doméstica durante este período de pandemia tem


nos preocupado e nos provocado a pensar em medidas para garantir a proteção da
mulher, em relação à doença e à violência que ocorre dentro de casa”, destacou a
deputada Natália Bonavides (PT-RN).

Importante também destacar as últimas alterações na lei Maira da Penha, antes,


durante e pós-pandemia.

Em maio de 2019, a Lei nº 13.827 permitiu a adoção de medidas protetivas de


urgência e o afastamento do agressor do lar pelo delegado ou policial. O dispositivo
também determinou que o registro da medida protetiva de urgência seja feito em
banco de dados mantido pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ). 53

Supremo Tribunal Federal (STF) considerou válida a lei para permitir que, em
casos excepcionais, a autoridade policial afaste o suposto agressor do domicílio ou
do lugar de convivência quando for verificado risco à vida ou à integridade da

53
MINISTÉRIO DA MULHER, DA FAMÍLIA E DOS DIREITOS HUMANOS. Lei Maria da Penha:
Confira o que mudou nos últimos três anos. Disponível em: <https://www.gov.br/pt-
br/noticias/assistencia-social/2021/08/lei-maria-da-penha-confira-o-que-mudou-nos-ultimos-tres-
anos#:~:text=J%C3%A1%20em%202020%2C%20a%20Lei,para%20o%20afastamento%20do%20lar
> Acesso em: 25 Abr. 2022.
58

mulher, mesmo sem autorização judicial prévia. A decisão, na Ação Direta de


54
Inconstitucionalidade (ADI) 6138, julgada em 23 de março de 2022, foi unânime.

O ministro Alexandre de Moraes destacou que durante a pandemia


aumentaram os casos de violência doméstica e nesse período, 24,4% das mulheres
brasileiras sofreram algum tipo de violência. Segundo o magistrado, 66% dos
feminicídios ocorreram na casa da vítima e 3% na do agressor. Em 97% dos casos
não havia medida protetiva contra o agressor.55

Em junho, a Lei nº 13.836 de 2019 tornou obrigatório informar quando a


mulher vítima de agressão doméstica ou familiar é pessoa com deficiência. Em
setembro, a Lei nº 13.871/19 determinou a responsabilidade do agressor pelo
ressarcimento dos serviços prestados pelo Sistema Único de Saúde (SUS) no
atendimento às vítimas de violência doméstica e familiar e aos dispositivos de
segurança por elas utilizados.

Em outubro a lei nº 13.882/19 passou a da garantia de matrícula aos


dependentes da mulher vítima de violência doméstica e familiar em instituição de
educação básica mais próxima de seu domicílio. A lei 13.880/19, sancionada no
mesmo mês, prevê a apreensão de arma de fogo sob posse de agressor em casos
de violência doméstica.

Também em outubro, a lei nº 13.894/19, passou competência aos Juizados de


Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher para a ação de divórcio, separação,
anulação de casamento ou dissolução de união estável. A norma ainda estabelece a
prioridade de tramitação dos procedimentos judiciais em que figure como parte
vítima de violência doméstica e familiar.

Já em 2020, a Lei nº 13.984/20 estabeleceu obrigatoriedade referente ao


agressor, que deve frequentar centros de educação e reabilitação e fazer
acompanhamento psicossocial.

54
STF. ADI 6138. Disponível em: <https://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=5696989>
. Acesso em: 01 Maio 2022.
55
TJRJ. STF valida mudança na Lei Maria da Penha que autoriza delegados e policiais a
concederem medidas protetivas. <https://www.tjrj.jus.br/web/portal-conhecimento/noticias/noticia/-
/visualizar-conteudo/5736540/85727773> . Acesso em: 03 de Maio 2022.
59

Em 2021, foi sancionada a lei nº 14.188, que incluiu a existência da violência


psicológica como item para o afastamento do lar e definiu o programa de
cooperação Sinal Vermelho contra a Violência Doméstica como uma das medidas
de enfrentamento a violência doméstica e familiar contra a mulher. 56

Continuando em 2021, foram publicadas três normas diretamente


relacionadas à Lei Maria da Penha. Entre elas, a Lei nº 14.132/21, que inclui artigo
no Código Penal (CP) para tipificar os crimes de perseguição (stalking), e a Lei nº
14.149/21, que institui o Formulário Nacional de Avaliação de Risco, com o intuito de
prevenir feminicídios.

A Lei n° 14.164/21 altera a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional


para incluir conteúdo sobre a prevenção à violência contra a mulher nos currículos
da educação básica, além de instituir a Semana Escolar de Combate à violência
contra a Mulher, a ser celebrada todos os anos no mês de março.

Em 2022, a lei n° 14/310, 08 de março, modificou o Parágrafo único do artigo


38-A, para determinar de forma cogente que as medidas protetivas de urgência
serão, após sua concessão, imediatamente registradas em banco de dados mantido
e regulamentado pelo Conselho Nacional de Justiça, garantido o acesso instantâneo
do Ministério Público, da Defensoria Pública e dos órgãos de segurança pública e de
assistência social, com vistas à fiscalização e à efetividade das medidas protetivas.

56
TJSC. Sinal Vermelho para a Violência Doméstica. Disponível em:
<https://www.tjsc.jus.br/web/violencia-contra-a-mulher/campanhas/sinal-vermelho-para-a-violencia-
domestica > . Acesso em: 04 de Maio de 2022.
60

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Quando surgiu a ideia do desenvolvimento deste tema, havia o propósito de


apontar erros e eventuais culpados sobre os indicies alarmantes de violência
doméstica nos primeiros meses de 2020 quando ocorreram os lockdowns em todo
mundo. Mas, no desenvolver das pesquisas e coletas de dados foi-se percebendo
que o mundo todo foi pego de surpresa. O fenômeno da pandemia pela covid-19 foi
um evento extremamente inesperado, rápido e de alta letalidade.

Diante de tanto caos, desespero e pânico, as autoridades do mundo todo não


souberam raciocinar rápido a fim de pensar nas mulheres que já viviam em situação
de vulnerabilidade nos seus lares com companheiros agressivos. Posteriormente
quando surgem os primeiros, “gritos” de desespero dessas mulheres em seus lares,
algumas até já tendo suas vidas ceifadas, que começam algumas medidas para
tentar ajudar.

O que vai diferenciar é que alguns países souberam agir de forma mais rápida
que outros, tentando assim evitar o máximo possível às mortes dessas mulheres.
Outros países apenas utilizaram medidas brandas, não sendo tão eficazes e não
dando a importância devida a essa problemática.

A Itália, por exemplo, requisitou quartos de hotéis nos meses em que se


encontravam fechados devido à pandemia e abrigou vitimas de violência doméstica,
conseguindo assim afasta-las dos seus agressores durante os períodos de
confinamento e ao mesmo tempo tendo o cuidado com o vírus da covid-19, que não
seria possível algum tipo de abrigo temporário a essas mulheres dividindo mesmo
espaço, já que o vírus ainda disseminava-se rapidamente fazendo muitas vítimas
nos hospitais. 57

Como já foi dito anteriormente, a problemática da violência de gênero é algo


endêmico no Brasil, uma enfermidade que continua em patamares altos. Uma

57
REUTERS. Na Itália, grupos de apoio temem que o confinamento esteja silenciando vítimas
de violência doméstica. Disponível em: <https://www.reuters.com/article/us-health-coronavirus-italy-
violence-idUSKBN21M0PM > . Acesso em: 15 de Abr. 2022.
61

doença social que sempre se manifestou com frequência e com a pandemia por
covid-19 voltou a demonstrar indicies extremamente altos.

As quedas de registros em alguns crimes, em que era necessário a presença


das vítimas, o aumento nas estatísticas de feminicídios indicam que houve
subnotificação de números de diversos crimes. A violência continuava aumentando
de forma silenciosa em relação a patamares pré-pandemia. 58

No Brasil, surgem as primeiras medidas a partir de maio de 2020. O Governo


Federal lança campanhas publicitárias a fim de ajudar as vítimas realizarem suas
denúncias e relembrando da existência canais de tele atendimento para pedirem
ajuda. Cabe observar que poderiam haver circunstâncias em que as mulheres não
conseguiriam realizar uma ligação telefônica estando no mesmo ambiente com o
agressor. 59 60

Os Estados também iniciam campanhas publicitárias, informando sobre os


números telefônicos das policias militares para realizarem denúncias. Como
comentado anteriormente em relação à campanha do governo federal, as vitimas
estando no mesmo ambiente seria difícil efetuarem denúncias pelo canal telefônico.
Houve um fato ocorrido durante a pandemia e amplamente divulgado pela mídia em
que uma mulher conseguiu ligar para o nº 190 e fingiu está pedindo uma pizza,
dando seu endereço, quando na verdade pedia ajuda. 61

58
BAHIA. Secretaria de políticas para mulheres. Feminicídios crescem em 150% na Bahia em
maio; pedidos de medida protetiva caíram. Disponível em:
<http://www.mulheres.ba.gov.br/2020/06/2862/Feminicidios-crescem-em-150-na-Bahia-em-maio-
pedidos-de-medida-protetiva-cairam.html> . Acesso em: 25 de Mar. 2022.

59
MINISTÉRIO DA MULHER, DA FAMÍLIA E DOS DIREITOS HUMANOS. O que é Central de
Atendimento à Mulher – Ligue 180?. Disponível em: <https://www.gov.br/mdh/pt-
br/assuntos/denuncie-violencia-contra-a-mulher/o-que-e-central-de-atendimento-a-mulher-2013-ligue-
180.> Acesso em: 17 de Nov. 2021.

60
MINISTÉRIO DA MULHER, DA FAMÍLIA E DOS DIREITOS HUMANOS. Denuncie a violência
doméstica. Para algumas famílias, o isolamento está sendo ainda mais difícil. Disponível em:
<https://www.gov.br/pt-br/noticias/assistencia-social/2020/05/governo-lanca-campanha-para-
incentivar-denuncias-de-violencia-domestica> . Acesso em: 19 Abr. 2022.
61
GLOBO. Mulher finge pedir pizza e liga para polícia para denunciar agressões do marido, no
DF. Disponível em: <https://g1.globo.com/df/distrito-federal/noticia/2021/09/30/mulher-finge-pedir-
62

Outra medida realizada pelas Secretarias de Segurança Pública dos Estados


foi a possiblidade de efetuarem os boletins de ocorrência de forma remota, em suas
casas. Uma possibilidade de ajuda, mas que certamente não consegue contemplar
todas as mulheres. 62

O Brasil, nos últimos anos, voltou a ter famílias em situação de extrema


pobreza e com a pandemia por Covi-19, muitas ficaram desempregadas e a mercê
de politicas públicas assistencialistas para tentarem se manter durante os meses de
estado de emergência. Desta forma essas mulheres em situação social crítica não
dispõe de um computador e internet em casa para realizarem denuncias de forma
remota.63

Dados apontam que, mesmo antes da pandemia por Covid-19, essas


mulheres em situação de miserabilidade são maioria nos dados de feminicídios. São
maioria mulheres negras e habitam em bairros periféricos ou favelas em metrópoles.
É necessário politicas urgentes para ajudar essas vitimas invisíveis ao Estado.
64
Assim como as outras.

Posteriormente, ainda durante a pandemia, o CNJ, lança a campanha do


Sinal Vermelho, ajudando mulheres a pedirem socorro quando iam presencialmente
até farmácias e tinham um sinal escrito nas mãos. Posteriormente em 2021, dada a
repercussão e eficácia do movimento, foi sancionada a lei nº 14.188 que definiu o

pizza-e-liga-para-policia-para-denunciar-agressoes-do-marido-no-df.ghtml > . Acesso em: 16 de


Maio. 2022.
62
UOL. O que acontece após a vítima de violência doméstica fazer um B.O. online? Disponível
em: <https://www.uol.com.br/universa/noticias/redacao/2020/04/21/o-que-acontece-apos-a-vitima-de-
violencia-domestica-fazer-um-bo-online.htm> . Acesso em: 19 Abr. 2022
63
CEPAL. Pandemia provoca aumento nos níveis de pobreza sem precedentes nas últimas
décadas e tem um forte impacto na desigualdade e no emprego. Disponível em:
https://www.cepal.org/pt-br/comunicados/pandemia-provoca-aumento-niveis-pobreza-sem-
precedentes-ultimas-decadas-tem-forte > . Acesso em: 08 Abr. 2022.
64
Ficha Técnica do Projeto Visível e Invisível: A Vitimização de Mulheres no Brasil - 3ª edição –
2021 Samira Bueno, Juliana Martins, Amanda Pimentel, Amanda Lagreca, Betina Barros, Renato
Sérgio de Lima ISBN 978-65-89596-08-0
63

programa de cooperação Sinal Vermelho contra a Violência Doméstica como uma


das medidas de enfrentamento a violência doméstica e familiar contra a mulher65.66

Em Julho de 2020 é sancionada a lei n° 14.022 de combate à violência


doméstica durante pandemia. O atendimento às vítimas passa a ser considerado
serviço essencial e não poderá ser interrompido enquanto durar o estado de
calamidade sanitária. A sanção desta lei se mostrou muito útil em evitar que órgãos
de proteção à mulher continuassem com atendimentos presenciais interrompidos. 67

A nova lei permitiu que medidas protetivas de urgência possam ser solicitadas
por meio de atendimento online. As medidas protetivas já em vigor, segundo a lei,
serão automaticamente prorrogadas durante todo o período de calamidade pública
em território nacional.

Destaca ressaltar outras alterações importantes que houveram na lei


11.340/2006, lei Maria da Penha. Entre elas em maio de 2019, a Lei nº 13.827
permitiu a adoção de medidas protetivas de urgência e o afastamento do agressor
do lar pelo delegado ou policial. O dispositivo também determinou que o registro da
medida protetiva de urgência seja feito em banco de dados mantido pelo Conselho
Nacional de Justiça (CNJ).68

O STF, através da ADI 6138 julgada este ano, considerou válida esta lei para
permitir que, em casos excepcionais, a autoridade policial afaste o suposto agressor
do domicílio ou do lugar de convivência quando for verificado risco à vida ou à
integridade da mulher. 69

65
CNJ. Cartilha Sinal Vermelho. Disponível em: <https://www.cnj.jus.br/wp-
content/uploads/2021/03/cartilha-sinal-vermelho-AMB_farma%CC%81cias.pdf> . Acesso em: 20 Abr.
2022.
66
BRASIL. Lei n°14.188. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-
2022/2021/lei/L14188.htm > Acesso em 15 Out. 2021.
67
BRASIL. Lei n°14.022. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-
2022/2020/lei/L14022.htm > Acesso em 28 Nov. 2021.
68
BRASIL. Lei n°13.827. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-
2022/2019/lei/L13827.htm > Acesso em 05 Dez. 2021.
69
STF. ADI 6138. Disponível em: < https://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=5696989
> . Acesso em: 01 Maio 2022.
64

Sem dúvidas foi um importante avanço no sentido de rapidez para evitar que
a vitima continue sofrendo agressões. Cabe ressaltar que estes profissionais da
segurança pública são os primeiros a se fazerem presentes no local do crime. Até
que essas medidas sejam determinadas por um juiz podem demorar tempo, algo
que nem sempre as vitimas conseguiram aguardar em vida.

Em 2021 foi tipificado o crime de perseguição (stalking), lei nº 14.132,


alteração feita no Código Penal a fim de ser mais uma medida legal a fim de evitar
mais crimes contra as mulheres. 70

Do ponto de vista dos órgãos de segurança pública é claro e notório a


necessidade de investimentos em profissionais e infraestrutura para fazer que a lei
Maria da Penha seja cumprida de forma eficiente.

As Polícias Judiciária e Técnica estão sucateadas. Policias Militares com


efetivo reduzido. Inexistência de delegacias especializadas de atendimento a mulher
em todas as cidades. Estes profissionais são essenciais no primeiro contato com as
mulheres em situação de vulnerabilidade. 71

Portanto, a pandemia por Covid-19 mostrou o quanto ainda são frágeis as


politicas de enfrentamento a violência contra a mulher, algumas medidas foram
tomadas após esses 02 anos do surgimento deste vírus, mas há que se fazer muito
ainda para que tente reverter essa doença social que continua a ceifar milhares de
mulheres todos os anos. A lei Maria da Penha se mostra uma legislação muito forte
para este problema, mas na prática ainda não se mostra eficiente como deveria ser.

70
BRASIL. Lei n° 14.132. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-
2022/2021/lei/L14132.htm > . Acesso em: 15 Jan. 2022.
71
GLOBO. Com mais de 700 policiais civis afastados por causa da Covid-19, sindicato reclama
de baixa distribuição de EPIs. Disponível em:
<https://g1.globo.com/ba/bahia/noticia/2020/06/02/com-mais-de-700-policiais-civis-afastados-por-
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