Você está na página 1de 45

CARMEM DE BARROS BARBOSA

A APRECIAÇÃO JURÍDICO PENAL DO CRIME DE


FEMINICÍDIO

Cidade
Ano

SÃO PAULO
2022
CARMEM DE BARROS BARBOSA

A APRECIAÇÃO JURÍDICO PENAL DO CRIME DE


FEMINICÍDIO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à


Anhanguera, como requisito parcial para a obtenção do
título de graduado em Direito.

Orientador: (Nome do Tutor)

SÃO PAULO
2022
CARMEM DE BARROS BARBOSA

A APRECIAÇÃO JURÍDICO PENAL DO CRIME DE


FEMINICÍDIO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado


à Anhanguera, como requisito parcial para a
obtenção do título de graduado em Direito.

BANCA EXAMINADORA

Prof. Juan Carlos Matarazzo Sanchez

Prof(a). Maria Claudia Trajano Marques de Souza


Santos

São Paulo, 19 de Maio de 2022.


Dedico este trabalho primeiramente à Deus, pelo
dom da vida. Sem ele eu não estaria aqui
escrevendo estas palavras.
Para meus filhos, o amor de vocês é o que me
move. Obrigado pela compreensão e carinho
durante este período no qual não pude dedicar-
lhes a devida atenção
Dedico esta conquista а minha mãe e irmãs Vera e
Eliane e a minha sobrinha Elaine pelo apoio
contínuo, amor incondicional. Muito obrigado!
Dedico este trabalho a todo o corpo docente do
curso de Direito, por todos os ensinamentos,
vocês foram parte fundamental desta caminhada.
AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus que me conduziu com sabedoria, amor e


dedicação hoje e sempre.
A minha mãe Sebastiana de Barros (in memorian) meu amor infinito, que
sempre acreditou que eu podia concretizar os meus sonhos e sempre me motivou e
contribuiu para que eu conseguisse superar todos os obstáculos.
Aos meus filhos Bárbara e Guilherme que conseguiram ter paciência e
acreditaram que eu podia conseguir chegar onde sempre sonhei conquistando
minha formação.
A minhas irmãs Vera e Eliane e minha sobrinha Elaine que sempre
contribuíram com muito amor e carinho me ajudando a superar todos os obstáculos.
A minha amiga e mãe de coração Sonia que sempre me ajudou
espiritualmente a trilhar os caminhos mais difíceis.
A meu Pastor Arlen Vilcinskas que com carinho, orientação e muita oração
me ajudou a concretizar todos meus sonhos
BARBOSA, Carmen de Barros, Apreciação Jurídico Penal do Crime de
Feminicídio. 2022. 45 de folhas. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em
Direito) – Faculdade Anhanguera, São Paulo, 2022.

RESUMO

O presente trabalho tem por objetivo uma revisão bibliográfica crítica acerca da
apreciação jurídico penal do crime do feminicídio, transpassando pelo viés feminista
do estudo de gênero e da relação social da construção do papel da mulher ao longo
dos séculos. A sociedade patriarcal impõe a dominação dos homens nas mulheres,
e, diante disso, o gênero feminino se encontra inferiorizado numa relação de poder
amplamente enraizada na sociedade, se tornando um alvo fácil para agressões
físicas e mentais, que, num ato extremo, levam a morte, caracterizando assim o
crime de feminicídio. A luz do direito penal buscou-se um debate acerca do
feminicídio e suas implicações.

Palavras-chave: Feminicídio; Patriarcado; Violência de Gênero; Lei Maria da


Penha; Violência contra a mulher.
BARBOSA, Carmem. The Legal Assessment of the Feminicide Crime. 2022. 45
folhas. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Direito) – Faculdade
Anhanguera, São Paulo, 2022.

ABSTRACT

The present work aims at a critical bibliographic review about the penal legal
appreciation of the crime of feminicide, going through the feminist bias of the gender
study and the social relation of the construction of the woman's role throughout the
centuries. The patriarchal society imposes the domination of men over women, and,
in view of this, the female gender is inferiorized in a power relationship widely rooted
in society, becoming an easy target for physical and mental aggression, which, in an
extreme act, leads to death, thus characterizing the crime of feminicide. In the light of
criminal law, a debate about feminicide and its implications was sought.

Keywords: Feminicide; Patriarchy; Gender Violence; Maria da Penha Law; Violence


against women.
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 9
2. UMA QUESTÃO DE GÊNERO ............................................................................ 10
2.1 VIOLÊNCIA DE GÊNERO E VIOLAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS ........... 12
2.2 CENÁRIO BRASILEIRO ................................................................................. 14
3. LEGISLAÇÃO BRASILEIRA QUANTO A VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER .... 19
3.1 LEI MARIA DA PENHA ................................................................................... 19
3.2 MODALIDADE DE VIOLÊNCIA ...................................................................... 22
4. FEMINICÍDIO ....................................................................................................... 25
4.1 FEMINICÍDIO – IMPACTO NO BRASIL .......................................................... 25
4.2 AS FORMAS DE VIOLÊNCIAS RECEPCIONADAS PELA LEI MARIA DA
PENHA ................................................................................................................. 26
4.3 FEMINICÍDIO E HOMICÍDIO .......................................................................... 28
4.4 AS CARACTERÍSTICAS DO FEMINICÍDIO ................................................... 32
4.5 DAS MEDIDAS PROTETIVAS ....................................................................... 34
4.5.1 Suspensão da Posse ou Restrição do Porte de Armas, com Comunicação
ao Órgão Competente, nos Termos da Lei n. 10.826/2003 ............................... 34
4.5.2 Afastamento do Lar, Domicílio ou Local de Convivência com a Ofendida.
...........................................................................................................................35
4.5.3 Proibição de Aproximação da Ofendida, de Seus Familiares e das
Testemunhas, Fixando Limite Mínimo de Distância Entre Estes e o Agressor. 35
4.5.4 Proibição de Contato com a Ofendida, Seus Familiares e Testemunhas
por Qualquer Meio Eletrônico ............................................................................ 36
4.5.5 Proibição de Frequentar Determinados Lugares a Fim de Preservar a
Integridade Física e Psicológica ........................................................................ 36
4.5.6 Prestação de Alimentos Provisionais ou Provisórios. ............................... 37
5. CONDIERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 38
REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 41
9

1. INTRODUÇÃO

A violência contra as mulheres, sobretudo doméstica, é um problema cada


vez mais presente nas pautas e preocupações dos movimentos de luta dos direitos
humanos e movimento feministas. Sabe-se que a violência não é um fenômeno
contemporâneo, sendo presente desde os tempos remotos, porém, a visibilidade
política e social é algo visto nos últimos 50 anos, onde, a partir de dados estatísticos,
foi possível visualizar o tamanho da problemática enraizada na sociedade patriarcal.
Foi somente a partir da década de 1950 que as mulheres passaram a se
organizar de forma concisa para questionarem a naturalização da opressão e da
discriminação de que eram vítimas, assim, movimentos de lutas, universitários e
produções literárias do tema emergiram como ações de resistência. A criação de
grupos feministas são pilares frontais para as futuras legislações e conquistas das
mulheres.
A condição social das mulheres e fruto de uma construção histórica do
patriarcado e do capitalismo, onde, passou a ser analisada in loco com a discussão
trazida por Simone de Beauvoir em ―O segundo sexo‖, onde se inicia de forma
profunda uma reflexão acerca da mulher e seu papel na sociedade.
Diversas mudanças nas últimas décadas trouxeram direitos muito buscados,
porém, apenas mudanças legislativas, e não de como a sociedade enxerga o gênero
feminino, não são suficientes para se combater a violência de gênero.
Dessa forma, o presente trabalho objetivo analisar o processo histórico da
construção da mulher, tramitando pelo conceito e entendimento de gênero. Além
disso, busca-se apresentar o fenômeno da violência doméstica e familiar contra a
mulher, essa, enraizada na sociedade brasileira, afim de sanar a questão chave:
quais os critérios para o homicídio se qualificar como feminicídio perante o direito
brasileiro?
Com base em uma pesquisa bibliográfica de autoras centrais acerca do
feminismo, além de dados estatísticos de órgãos nacionais e o Código Penal
brasileiro, em conjunto a artigos científicos, far-se-á o entendimento do crime de
feminicídio e suas aplicações legais e sociais.
10

2. UMA QUESTÃO DE GÊNERO

Desde tempos muito antigos (depois que o cristianismo se tornou a


religião estatal no século IV), o clero reconheceu o poder que o
desejo sexual conferia às mulheres sobre os homens e tentou
persistentemente exorcizá-lo, identificando o sagrado com a prática
de evitar as mulheres e o sexo. Expulsar as mulheres de qualquer
momento da liturgia e do ministério dos sacramentos; tentar roubar
os poderes mágicos das mulheres de dar vida ao adotar trajes
femininos; e fazer da sexualidade um objeto de vergonha — esses
foram os meios pelos quais uma casta patriarcal tentou quebrar o
poder das mulheres e de sua atração erótica. (FEDERICI, 2017, p.80
em ―CALIBÃ E A BRUXA: Mulheres, corpo e a acumulação
primitiva‖).

É assim que Silvia Federici, autora de CALIBÃ E A BRUXA (2017) coloca que
a sexualidade feminina se transformou em algo acintoso, errado, digno de
confessionário; um tema de discussão. Na igreja, como salienta Federici (2017), as
mulheres não eram nada. Dado momento em que a Igreja compreendeu como uma
ameaça o controle da reprodução, que se encontrava nas mãos das mulheres, foi
colocado como uma possível explosão demográfica, o que seria um problema para a
estabilidade econômica e social da época.
Os grupos hereges, que vivem em harmonia entre homens e mulheres,
praticando o ―amor livre‖, passaram a ser perseguidos, principalmente pelos seus
aspectos sexuais, sendo acusados de sodomia e de licenciosidade sexual em seus
informes.

Agora eles também os acusavam de cultuar animais, de praticar o


infame bacium sub cauda (beijo sob o rabo) e de regozijarem-se em
rituais orgiásticos, voos noturnos e sacrifícios de crianças
(FEDERICI, 2017, p.85).

Aliado a perseguição pela Igreja, os considerando como adoradores de


Lúcifer, se iniciou a caça às bruxas, onde, ―a figura do herege se tornou, cada vez
mais, a de uma mulher, de forma que, no início do século XV, a bruxa se
transformou no principal alvo da perseguição aos hereges‖. A perseguição e morte
de milhares de hereges foi palco de lutas e resistência, onde, anos mais tarde, com
11

o início de uma burguesia migrada do campo, novas classes e grupos sociais se


formaram, com a maioria virando as costas para a Igreja.
Foi dentre os trabalhadores que os protestos mais radicais emergiram,
havendo rebeliões contra a Igreja e contra a nobreza, visando uma revolução do
proletariado, período ocorrido durante o século XIV. Tempos depois, no final do
século XV, ―foi posta em marcha uma contrarrevolução que atuava em todos os
níveis da vida social e política‖ (FEDERICI, 2017, p.103).

Em primeiro lugar, as autoridades políticas empreenderam


importantes esforços para cooptar os trabalhadores mais jovens e
rebeldes por meio de uma maliciosa política sexual, que lhes deu
acesso a sexo gratuito e transformou o antagonismo de classe em
hostilidade contra as mulheres proletárias. (...) autoridades
municipais praticamente descriminalizaram o estupro nos casos em
que as vítimas eram mulheres de classe baixa. Na Veneza do século
XIV, o estupro de mulheres proletárias solteiras raramente tinha
como consequência algo além de um puxão de orelhas, até mesmo
nos casos frequentes de ataque em grupo. O mesmo ocorria na
maioria das cidades francesas. Nelas, o estupro coletivo de mulheres
proletárias se tornou uma prática comum, que se realizava aberta e
ruidosamente durante a noite, em grupos de dois a quinze que
invadiam as casas ou arrastavam as vítimas pelas ruas sem a menor
intenção de se esconder ou dissimular (FEDERICI, 2017, p.103).

Federici (2017) coloca que, como praticamente sendo um esporte, o estupro


de tais mulheres oriundas de classes pobres, era em sua maioria feito por seus
próprios ―patrões‖, esses, mantendo tais mulheres trabalhando em suas casas como
empregadas domésticas, criadas ou lavadeiras.

Para estas mulheres proletárias, tão arrogantemente sacrificadas por


senhores e servos, o preço a pagar foi incalculável. Uma vez
estupradas, não era fácil recuperar seu lugar na sociedade. Com a
reputação destruída, tinham que abandonar a cidade ou se dedicar à
prostituição (ibid., p.104).

O clima da legalidade do estupro causou na sociedade um clima de misoginia


que feriu todas as mulheres, de todas as classes sociais. ―Os primeiros julgamentos
por bruxaria ocorreram no final do século xiv; pela primeira vez, a Inquisição
registrou a existência de uma heresia e de uma seita de adoradores do demônio
completamente feminina‖ (ibid.).
12

Um remédio contra a violência causada pela juventude proletária, e, também


para a cura da homossexualidade, os bordeis foram geridos publicamente e
financiados por impostos, onde, em 1453, só Amiens tinha 53 bordéis.
Pinafi (2006, p.3) salienta que durante a Revolução Francesa (1789), as
mulheres participaram ativamente visto que o ideal do período era de busca de
igualdade, fraternidade e liberdade seriam estendidos a sua categoria. Porém, ―ao
constatar que as conquistas políticas não se estenderiam ao seu sexo, algumas
mulheres se organizaram para reivindicar seus ideais não contemplados‖.

No século XIX há a consolidação do sistema capitalista, que acabou


por acarretar profundas mudanças na sociedade como um todo. Seu
modo de produção afetou o trabalho feminino levando um grande
contingente de mulheres às fábricas. A mulher sai do locus que até
então lhe era reservado e permitido — o espaço privado, e vai a
esfera pública. Neste processo, contestam a visão de que são
inferiores aos homens e se articulam para provar que podem fazer as
mesmas coisas que eles, iniciando assim, a trajetória do movimento
feminista (PINAFI, 2006, p.3).

Foi a partir daí, perante ao questionamento da construção social de diferença


entre os sexos e os campos de articulação de poder, que as mulheres organizadas
do movimento feminista criaram o conceito de gênero, ―abrindo assim, portas para
se analisar o binômio dominação-exploração construído ao longo dos tempos‖ (ibid.,
p.4).
Conforme colocado por Hirata et al. (2000), segundo o Dictionnarie critique du
féminisme, as mulheres se encontram excluídas do entendimento de poder como
força, visto que as mesmas estão sujeitas a seus maridos e a outros homens ao seu
entorno. Dessa forma, a independência e liberdade é um privilégio masculino, e,
além disso, não só sujeitas aos seus maridos, mas também ao Estado, onde esse
possui um carácter patriarcal de poder.
Dessa maneira, a violência de gênero, em suma contra a mulher, pelo poder
do patriarcado, é intimamente ligada as relações de poder. Tais medidas frutos da
relação patriarcal atribui o direito aos homens de dominar e controlar as mulheres,
podendo assim, chegar aos limites da violência.

2.1 VIOLÊNCIA DE GÊNERO E VIOLAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS


13

Como colocado por Porto (2004, p.30), a violência se caracteriza por ser um
dos fenômenos mais angustiantes do mundo moderno, visto que, está em todas as
esferas sociais, e, na atualidade, se tornou banalizada e rotineira, assim, por
consequência, ―um estado de indiferença, onde o ato violento ou não-violência são
vistos como um simples dado do cotidiano‖.
No ano de 1979, a Assembleia Geral das Nações Unidas adotou a
Convenção para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a
Mulher (CEDAW), conhecida como a Lei Internacional dos Direitos da Mulher. Tal
convenção buscou a promoção dos direitos das mulheres pela igualdade de gênero,
assim como repudiar qualquer tipo de discriminação.
Como colocado pela CEDAW (1979), em seu Artigo 1º:

Para os fins da presente Convenção, a expressão ―discriminação


contra a mulher‖ significará toda a distinção, exclusão ou restrição
baseada no sexo e que tenha por objeto ou resultado prejudicar ou
anular o reconhecimento, gozo ou exercício pela mulher,
independentemente de seu estado civil, com base na igualdade do
homem e da mulher, dos direitos humanos e liberdades
fundamentais nos campos político, econômico, social, cultural e civil
ou em qualquer outro campo.

Tal medida de igualdade precisa ser tomada pois, como colocado por Porto
(2014), uma das violações contra os direitos humanos mais praticadas e legitimada
no mundo é a violência contra as mulheres, podendo afetar a vítima de forma
corporal, psíquica, sua saúde e também seu senso de segurança. Tal cenário é
caracterizado como um problema de saúde pública.
Ainda, conforme o CEDAW (1979, p.3), os Estados que se comprometeram a
adotar tal Convenção, conforme Artigo 2º, deve-se:

a) consagrar, se ainda não o tiverem feito, em suas constituições


nacionais ou em outra legislação apropriada, o princípio da igualdade
do homem e da mulher e assegurar por lei outros meios apropriados
à realização prática desse princípio;
b) adotar medidas adequadas, legislativas e de outro caráter, com as
sanções cabíveis e que proíbam toda discriminação contra a mulher;
c) estabelecer a proteção jurídica dos direitos da mulher numa base
de igualdade com os do homem e garantir, por meio dos tribunais
nacionais competentes e de outras instituições públicas, a proteção
efetiva da mulher contra todo ato de discriminação;
d) abster-se de incorrer em todo ato ou a prática de discriminação
contra a mulher e zelar para que as autoridades e instituições
públicas atuem em conformidade com esta obrigação;
14

e) tomar as medidas apropriadas para eliminar a discriminação


contra a mulher praticada por qualquer pessoa, organização ou
empresa;
f) adotar todas as medidas adequadas, inclusive de caráter
legislativo, para modificar ou derrogar leis, regulamentos, usos e
práticas que constituam discriminação contra a mulher;
g) derrogar todas as disposições penais nacionais que constituam
discriminação contra a mulher.

E, para isso, é preciso que o Estado atue nas esferas públicas, e incentive a
esfera privada, para que os meios sociais, econômicos e culturais apresentem
medidas apropriadas, inclusive se tratando do caráter legislativo, para ―para
assegurar o pleno desenvolvimento e progresso da mulher, com o objetivo de
garantir-lhe o exercício e gozo dos direitos humanos e liberdades fundamentais em
igualdade de condições com o homem‖ (CEDAW, 1979, p.3 – Artigo 3º).
Assim, cabe colocar, conforme Guimarães e Pedroza (2015, p.264), é
precioso aliar as dimensões ética, política e cultural, e essas precisam se encontrar
em um constante diálogo para que haja uma reflexão, e, após isso, ações para se
seguir o proposto nos direitos humanos.
Assim, quando se compreende a violência como uma violação dos direitos
humanos, é possível se atentar aos índices altos de violência contra mulheres e
promover dignidade a igualdade.

2.2 CENÁRIO BRASILEIRO

Os direitos humanos, mais precisamente relacionados as mulheres, trazemos


duas questões que são o cerne do problema. A primeira é como se pode entender a
gramática contemporânea dos direitos humanos das mulheres e a segunda é
relacionado aos principais desafios e expectativas para proteger o direito da mulher
no cenário brasileiro.
A Declaração de Direitos Humanos de Viena de 1993, em face do processo
de internacionalização, preceituou em seu parágrafo 18, que os direitos humanos
das mulheres e das meninas são parte inalienável, integral e indivisível dos direitos
humanos universais. A ideia partiu da Plataforma de Ação de Pequim, de 1995. O
legado de Viena menção ao processo de especificação do sujeito de direito e à
justiça enquanto reconhecimento de identidades como também endossa a
15

universalidade e a indivisibilidade dos direitos humanos invocada pela Declaração


Universal de 19482.
A primeira fase de proteção dos direitos humanos foi marcada pela visão da
proteção geral, que demonstrava o medo da diferença baseando-se na igualdade
formal. Para se ter uma visão mais clara, é só avaliar quem é o destinatário da
Declaração Universal de 1948.
Importante analisar a Convenção para a Prevenção e Repressão ao Crime
de Genocídio, também de 1948, que tem como escopo a punição da lógica da
intolerância pautada na destruição do ―outro‖, em razão de sua nacionalidade, etnia,
raça ou religião. Sob esse prisma, alguns sujeitos de direitos, ou algumas violações
de direitos, exigem um retorno diferenciado.
Para as mulheres, junto com o direito à igualdade, também terá como direito
fundamental o direito à diferença. O que importa é a diversidade e o respeito à
diferença, que por sua vez, assegura um tratamento especial para elas. Diante do
contexto vivenciado, as mulheres têm a necessidade de serem vistas diante de suas
peculiaridades e sua condição social.
Nas últimas décadas, foi realizado um movimento internacional de proteção
aos Direitos Humanos, em que o cerne da questão foram: a) os direitos sexuais e
reprodutivos; b) a violência contra a mulher e c) a discriminação contra a mulher; em
relação a esse tópico foi realizado um Convenção a respeito da eliminação das
formas de discriminação contra a mulher.
A Convenção ocorreu em 1979 e contou com 165 Estados-partes, inclusive o
Brasil, que por sua vez ratificou em 1984. Essa grande conquista foi uma grande
vitória a partir da primeira Conferência Mundial sobre a Mulher e obteve um grande
resultado de reivindicação do movimento de mulheres.
Essa Convenção se pautou na dupla obrigação de assegurar a igualdade e
eliminar a discriminação. Foram consagradas duas vertentes: a vertente positiva-
promocional voltada à promoção da igualdade e a vertente repressiva- punitiva
voltada à proibição da discriminação. Cumpre ressaltar que a Convenção tem como
escopo não só erradicar a discriminação em face da mulher, mas também traçar
estratégias para promover a igualdade.
Em que pese à violência contra a mulher, cumpre destacar à Declaração
sobre a Eliminação da Violência contra a Mulher, aprovada pela ONU, em 1993,
16

bem como ―Convenção de Belém do Pará‖, de 1994 e à Convenção Interamericana


para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher.
Essas convenções mencionadas reconhecem que a violência contra a mulher,
no âmbito público ou privado, é clara e grave violação aos direitos humanos,
limitando total ou parcialmente o exercício dos demais direitos fundamentais. Afirma-
se que a violência pautada no gênero reflete relações de poder historicamente
desiguais e assimétricas entre homens e mulheres.
A Constituição Federal acolheu grande parte das reivindicações realizadas
pelas mulheres, tendo em vista que a nossa Carta Magna é um marco jurídico muito
importante da transição democrática e institucionalização dos direitos humanos. Em
relação aos avanços constitucionais, o êxito do movimento de mulheres, é
evidenciado pelos dispositivos constitucionais que asseguram:

1. A proibição da discriminação no mercado de trabalho, por


motivo de sexo ou estado civil (artigo 7º, XXX, regulamentado pela
Lei 9.029, de 13 de abril de 1995);
2. a proteção especial da mulher do mercado de trabalho,
mediante incentivos específicos (artigo 7º, XX, regulamentado pela
Lei 9.799, de 26 de maio de 1999;
3. o planejamento familiar como uma livre decisão do casal,
devendo o Estado propiciar recursos educacionais e científicos para
o exercício desse direito (artigo 226, parágrafo 7º, regulamentado
pela Lei 9.263, de 12 de janeiro de 1996);
4. o dever do Estado de coibir a violência no âmbito das relações
familiares (artigo 226, parágrafo 8o). Além destes avanços, cumpre
destacar que a Lei 9.504, de 30 de setembro de 1997, estabelece
normas para as eleições, preceituando que cada partido ou coligação
deverá reservar o mínimo de trinta por cento e o máximo de setenta
por cento para candidaturas de cada sexo;
5. a igualdade entre homens e mulheres em geral (artigo 5º, I) e
especificamente no âmbito da família (artigo 226, parágrafo 5º);

Cumpre ressaltar que esses movimentos, convenções internacionais


influenciam nas decisões no Brasil, pois observa-se os avanços e os progressos
ocorridos na esfera internacional e com isso, passa a ser implementado no Brasil.
Assim as questões relacionadas a violência contra à mulher estão aos poucos sendo
combatidas.
No fator discriminação contra a mulher, o Brasil está afinado com as medidas
e parâmetros de proteção internacionais, tanto pelo ângulo repressivo punitivo,
quanto pela questão promocional, visando sempre promover a igualdade mediante
políticas compensatórias.
17

Muito embora a Constituição de 1988 seja a primeira a explicitar a respeito da


violência contra a mulher, inclusive no que se trata de assédio sexual, não há ainda
uma legislação específica para a tratar, da violência doméstica. È necessário
urgentemente adotar políticas públicas voltadas à punição, prevenção e erradicação
da violência contra a mulher, visto que constitui grave violação aos direitos humanos
das mulheres.
A história da Lei Maria da Penha se deu devido aos anos de violência que a
Sra. Maria da Penha Maia Fernandes sofreu, violência esta praticada pelo seu
marido. No Brasil, um dos maiores problemas enfrentados é a prática da violência
sexual, onde a principal vítima é a mulher.
É alto o número de casos relacionados a este crime, porém, poucos são
levados até a autoridade para apuração. Isso não é de agora, vem desde os
primórdios, desde os valores patriarcais históricos do Brasil, até os dias de hoje.
Infelizmente, ainda são incentivados valores machistas e violentos que por sua vez,
incidem na prática da violência contra a mulher.
Aquele velho paradigma de que o homem é superior à mulher, que deve
subjugá-la e não permitir que a mulher tenha poder de decisão sobre sua vida, bem
como, sobre outros assuntos ainda prevalece, se mantendo até nos dias atuais e
atinge a sociedade como um todo.
Alguns fatores acabam desencadeando tais ações. Fatores como: droga,
ciúmes, bebida e desemprego são estopins. Infelizmente para justificar os
espancamentos e assassinatos, utilizam o alcoolismo puro e simples. Como se a
bebida ou a droga fosse motivo para a prática da violência em face da mulher.
O homem que se embriaga não ataca o amigo de bar nem as pessoas,
contudo, agride a mulher. Segundo estudo realizado em 2015, no Brasil, a cada 7
minutos uma mulher é vítima de violência doméstica, e ainda mais de 70% da
população feminina brasileira vai sofrer algum tipo de violência ao longo de sua vida.
Apurou-se ainda que 1 em cada 4 mulheres afirma ter sido vítima de violência
psicológica ou física. Outro estudo realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada juntamente com o Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, restou
demonstrado que o índice de violência doméstica é maior para mulheres
economicamente ativas (52,2%).
Tal índice é praticamente o dobro do registrado pelas que não compõe o
mercado de trabalho (24,9%). Explica-se tal assertiva porque, em um casal, a
18

participação feminina na composição da renda familiar, lhe dá poder, ou seja,


aumenta-se o seu poder de barganha. Assim, reduz a probabilidade de sofrerem
violência conjugal. Veja-se:

O problema da violência doméstica não é um fenômeno novo, tal


violência começou a ganhar visibilidade a partir dos a nos 70 por
força e iniciativa das organizações a favor dos direitos das mulheres,
principalmente feministas, que desenvolviam trabalho em casas
abrigo para mulheres vítimas da violência, tornando-se assim um
problema digno de atenção (GIDDENS, 2004, p.196; VICENTE,
2002, p. 188).

Tal situação é triste, pois as famílias que são atingidas pela violência
doméstica sofrem graves consequências. Os filhos dos casais acabam sendo
criados nesse clima de conflito, sem paz, dentro de um cenário violento e machista,
assistindo os pais agredirem suas mães. Isso acaba atingindo as crianças
psicologicamente, desenvolvendo nelas problemas comportamentais.
19

3. LEGISLAÇÃO BRASILEIRA QUANTO A VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER

3.1 LEI MARIA DA PENHA

O artigo 226, parágrafo 8º da Constituição Federal dispõe que ―o Estado


assegurará a assistência à família na pessoa de cada um dos que a integram,
criando mecanismos para coibir a violência no âmbito de suas relações".
A Lei 11.340 de 2006 surge como mecanismo de efetivar o previsto
constitucional e proporcionar o cumprimento a diversos tratados internacionais
ratificados pelo Brasil. Em consonância:

No ano de 1975, a Organização das Nações Unidas realizou na


cidade do México a I Conferência Mundial sobre á Mulher,
proclamando o ano de 1975 como o Ano Internacional da Mulher e
de 1975 até o ano de 1985 a Década das Narões Unidas para a
Mulher. Como resultado dessa Conferência surge a Convenção
sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as
Mulheres, ou simplesmente Convenção da Mulher, adotada pela
Assembleia Geral da ONU em 18 de dezembro de 1979, entrando
em vigor no dia 3 de setembro de 1981 (LIMA, p. 897, 2016).

Visando compensar as desigualdades sociais históricas entre os gêneros


masculinos e femininos, a fim de promover a isonomia constitucional prevista no
artigo 5º, inciso I, da Constituição Federal, a comunidade internacional, por meio da
Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as
Mulheres, passou a prever a possibilidade de ações afirmativos a fim de combater a
discriminação contra a mulher e promover a igualdade de gêneros (LIMA, p. 897,
2016).
A Lei 11.340 entrou em vigor na data de 22 de setembro de 2006,
apresentando normatização referente a violência doméstica e familiar contra a
mulher. Ficou conhecida popularmente como ―Lei Maria da Penha‖, em virtude da
violência que vitimou Maria da Penha Maia Fernandes. Nesse sentido:

[...] em 29 de maio de 1983, na cidade de Fortaleza, a farmacêutica


Maria da Penha, enquanto dormia, foi atingida por disparo de
espingarda desferido por seu próprio marido. Por força desse
disparo, que atingiu a vítima em sua coluna, Maria da Penha ficou
paraplégica. Porém, as agressões não cessaram. Uma semana
depois, a vítima sofreu nova violência por parte de seu então marido,
tendo recebido uma descarga elétrica enquanto se banhava. O
agressor foi denunciado em 28 de setembro de 1984. Devido a
20

sucessivos recursos e apelos, sua prisão ocorreu somente em


setembro de 2002. Por conta da lentidão do processo, e por envolver
grave violação aos direitos humanos, o caso foi levado à Comissão
Interamericana de Direitos Humanos, que publicou o Relatório n°
54/2001, no sentido de que a ineficácia judicial, a impunidade e a
impossibilidade de a vítima obter uma reparação, mostra a falta de
cumprimento do compromisso assumido pelo Brasil de reagir
adequadamente ante a violência doméstica. Cinco anos depois da
publicação do referido relatório, com o objetivo de coibir e reprimir a
violência doméstica e familiar contra a mulher e superar uma
violência há muito arraigada na cultura machista do povo brasileiro,
entrou em vigor a Lei n° 11.340/06, que ficou mais conhecida como
Lei Maria da Penha (LIMA, p. 897, 2016).

Os primeiros artigos da lei são direcionados ao reforço dos direitos e


garantias fundamentais da mulher, bem como o artigo 4º prevê que para
interpretação dessa lei, deverão ser considerados os fins sociais a que ela se
destina e, especialmente, as condições peculiares das mulheres em situação de
violência doméstica e familiar.
Considerando que a Lei 11.340/2006 foi criada com o fito de tutelar a mulher
que se encontra em situação de vulnerabilidade na relação doméstica, familiar ou de
afeto, seus dispositivos deverão ser interpretados em favor dessa que mereceu
maior proteção do legislador e não em sentido contrário.
O artigo 5º do dispositivo legal define o que é considerado violência doméstica
e familiar para fim de aplicabilidade da legislação especial. Nesse sentido:

Art. 5o Para os efeitos desta Lei, configura violência doméstica e


familiar contra a mulher qualquer ação ou omissão baseada no
gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou
psicológico e dano moral ou patrimonial: I - no âmbito da unidade
doméstica, compreendida como o espaço de convívio permanente de
pessoas, com ou sem vínculo familiar, inclusive as esporadicamente
agregadas; II - no âmbito da família, compreendida como a
comunidade formada por indivíduos que são ou se consideram
aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou por vontade
expressa; III - em qualquer relação íntima de afeto, na qual o
agressor conviva ou tenha convivido com a ofendida,
independentemente de coabitação. Parágrafo único. As relações
pessoais enunciadas neste artigo independem de orientação sexual
(BRASIL, 2018).

O autor Lima nos ensina que a incidência da Lei Maria da Penha está
condicionada a presença de 03 requisitos cumulativos, quais são: a mulher como
sujeito passivo; a prática de violência física, psicológica, sexual, patrimonial ou
21

moral; e a violência dolosa praticada no âmbito doméstico, familiar ou em qualquer


relação intima de afeto (p.900, 2016).
O sujeito ativo não precisa necessariamente ser do sexo oposto ao da vítima,
a interpretação atual consiste no sentido de que a aplicabilidade da Lei pode ser
realizada tanto nas relações heteroafetivas quanto nas relações homoafetivas.
Assim, lésbicas, travestis, transexuais e transgêneros de identidade feminina
estão sob a proteção do dispositivo legal, quando a violência ocorrer entre pessoas
que possuem relações domésticas, familiares e íntimas de afeto (LIMA, p. 900,
2016).
Há parte da doutrina que discorda da aplicação da Lei em relações
homoafetivas, por entenderem que não se encontra presente o requisito de
superioridade hierárquica, basilar para configurar a vulnerabilidade que a legislação
busca tutelar.
Nesse aspecto, o pressuposto para aplicação ou não da legislação consiste
na configuração da vulnerabilidade, caracterizada pela relação de poder e
subordinação presente na relação. Em relação ao sujeito passivo, o requisito é ser
do gênero feminino.
Em consonância:

[...] estão protegidas pela Lei Maria da Penha não apenas esposas,
companheiras, amantes, namoradas ou ex-namoradas, como
também filhas e netas do agressor, sua mãe, sogra, avó, ou qualquer
outra parente do sexo feminino com a qual haja uma relação
doméstica, familiar ou íntima de afeto (LIMA, p. 901, 2016).

Considera-se violência doméstica aquela praticada no âmbito da unidade


doméstica, a qual é compreendida como ―o espaço de convívio permanente de
pessoas, com ou sem vínculo familiar, inclusive as esporadicamente agregadas‖
(LIMA, p.901, 2016).
Dessa forma, não exige que exista o laço familiar de sangue ou afetivo, refere-
se, exclusivamente, ao espaço físico em que a agressão se perpetua. Como, por
exemplo, o caso de agressão a empregadas domésticas.
Para fins de aplicabilidade da lei, o ―âmbito familiar‖ é compreendido como ―a
unidade formada por indivíduos que são ou se consideram aparentados, unidos por
laços naturais. por afinidade ou por vontade expressa‖ (LIMA, p. 901, 2016). Ao
22

contrário do requisito anterior, nesse caso é exigido que exista laço de natureza
familiar entre o agressor e a vítima.
Em relação a previsão referente a ―relação intima de afeto‖, entende-se que
deve ser interpretado de forma restritiva, considerando somente as relações que
impliquem em envolvimento sexual e amoroso, mesmo que não exista coabitação.
Como, por exemplo, a relação de noivado (LIMA, p. 902, 2016).
Pode se observar que a estrutura da legislação consiste em identificar qual a
ação que configura violência doméstica ou familiar contra a mulher, posteriormente
menciona os espaços onde ocorre a violência e, finalmente, descreve
minuciosamente as condutas que configuram a violência física, psicológica, sexual,
patrimonial e moral (DIAS, p. 01, 2018).
Importante ressaltar que as formas de violência elencadas pela legislação não
são de conteúdo exclusivamente criminal. Assim, nem todas ações que configuram a
violência doméstica vão incidir em delitos e serem alvo do direito penal (DIAS, p. 01,
2018).
Desse modo, pode-se afirmar que a Lei Maria da Penha considera violência
doméstica as ações narradas em seu artigo 7º quando essas ocorrem no âmbito das
relações domésticas, familiares ou afetivas (conforme ensina o artigo 5º).
No entanto, referidas condutas tipificadas em lei e reconhecidas como
violência doméstica, não configuram, por isso, crimes que desencadeiam uma ação
penal (DIAS, p. 02, 2018).

3.2 MODALIDADE DE VIOLÊNCIA

O artigo 7º da Lei 11.340 de 2006 elenca as modalidades de violência


doméstica, ou seja, quais as ações que configuram a violência que a lei reprime.
Transcrevo:

Art. 7o. São formas de violência doméstica e familiar contra a mulher,


entre outras:
I - a violência física, entendida como qualquer conduta que ofenda
sua integridade ou saúde corporal;
II - a violência psicológica, entendida como qualquer conduta que
lhe cause dano emocional e diminuição da auto-estima ou que lhe
prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar
ou controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões,
mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação,
isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz, insulto,
23

chantagem, ridicularização, exploração e limitação do direito de ir e


vir ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à saúde
psicológica e à autodeterminação;
III - a violência sexual, entendida como qualquer conduta que a
constranja a presenciar, a manter ou a participar de relação sexual
não desejada, mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da
força; que a induza a comercializar ou a utilizar, de qualquer modo, a
sua sexualidade, que a impeça de usar qualquer método
contraceptivo ou que a force ao matrimônio, à gravidez, ao aborto ou
à prostituição, mediante coação, chantagem, suborno ou
manipulação; ou que limite ou anule o exercício de seus direitos
sexuais e reprodutivos;
IV - a violência patrimonial, entendida como qualquer conduta que
configure retenção, subtração, destruição parcial ou total de seus
objetos, instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens,
valores e direitos ou recursos econômicos, incluindo os destinados a
satisfazer suas necessidades;
V - a violência moral, entendida como qualquer conduta que
configure calúnia, difamação ou injúria (g.n.) (BRASIL, 2018).

A aplicação da expressão ―violência‖ na esfera penal designa somente a


violência física ou corporal, refere-se a um sujeito ativo empregando força física
sobre o corpo do sujeito passivo de modo a executar determinado crime (LIMA, p.
910, 2016).
Dessa forma, o termo violência não engloba a grave ameaça, tampouco a
chamada ―violência imprópria‖, a qual corresponde ao uso de qualquer meio capaz
de reduzir a possibilidade de resistência por parte da vítima (LIMA, p. 910, 2016).
Em sentido diverso, a Lei 11.340 de 2006 utiliza o termo ―violência‖ de forma
ampla, considerando não somente a violência física, mas também a violência
psicológica, sexual, patrimonial e moral (o que se observa ao ler o artigo 7º do
referido dispositivo legal).
Isto posto, será abordado brevemente cada tipo de violência disposto na
legislação em pauta. A primeira espécie de violência que o artigo 7º elenca, no inciso
I, é a violência física, a qual é compreendida como qualquer conduta que ofenda a
integridade física ou corporal de outrem.
Assim, em consonância com o sentido da expressão ―violência‖ empregado
pela legislação penal, a violência física consiste no emprego da força física do
sujeito ativo sobre o corpo do sujeito passivo, objetivando lesionar a integridade ou
saúde corporal.
Exemplificando os tipos de violência física, o autor Lima nos ensina que são
aquelas ―ofensivas à Integridade, as fraturas, fissuras, escoriações, queimaduras,
24

luxações, equimoses e hematomas‖, bem como, considera ofensa à saúde corporal


o que ―compreende as perturbações fisiológicas (desarranjo no funcionamento de
algum órgão do corpo humano) ou mentais (alteração prejudicial da atividade
cerebral)‖ (p. 918, 2016).
A violência psicológica, elencada pelo inciso II, é conceituada e entendida
como qualquer conduta que proporcione dano emocional e diminua a auto estima da
vítima, bem como prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento, e objetive
degradar ou controlar as ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante
ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, vigilância
constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem, ridicularização, exploração e
limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à saúde
psicológica e à autodeterminação (LIMA, p. 918, 2016).
A violência sexual, prevista no inciso III, consiste em qualquer conduta que
constranja a vítima a presenciar, a manter ou a participar de relação sexual não
desejada, mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da força.
Bem como, qualquer conduta que ―induza a comercializar ou a utilizar a
sexualidade, que impeça de usar qualquer método contraceptivo ou que force ao
matrimônio, à gravidez, ao aborto ou à prostituição‖ por emprego de coação,
chantagem, suborno ou manipulação (LIMA, p. 918, 2016).
A violência patrimonial, prevista no inciso IV, refere-se a conduta que
configura retenção, subtração destruição dos objetos da vítima, instrumentos de
trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos econômicos,
inclusive os destinados a satisfazer suas necessidades (LIMA, p. 919, 2016).
Por fim, o inciso V prevê a violência moral, a qual consiste em calunia,
difamação ou injuria, todas as condutas tipificadas pelo Código Penal. A calúnia
consiste em imputar falsamente a alguém fato definido como crime, a difamação
consiste em imputar a alguém fato ofensivo a sua reputação e a injuria consiste em
ofender a dignidade ou o decoro de alguém (LIMA, p. 919, 2016).
Cumpre esclarecer, que mesmo não ocorrendo crime, sempre que a
autoridade policial tomar conhecimento da prática da violência doméstica, essa
deverá realizar providencias determinadas na Lei Maria da Penha, como as
previstas no artigo 11, que consistem em garantir a proteção da vítima, encaminha-
la a atendimento médico, conduzi-la a local seguro ou acompanha-la para retirar
seus pertences (DIAS, p. 02, 2018).
25

4. FEMINICÍDIO

4.1 FEMINICÍDIO – IMPACTO NO BRASIL

O termo feminicídio foi adotado no Brasil para nomear o homicídio praticado


em face às mulheres em situação que as mesmas passam a sofrer violência
relacionada ao gênero; a aprovação da respectiva lei fez com que o Código Penal
passasse a viger com a redação do art. 121, com modificação em seu § 2º, inciso VI,
o delito de feminicídio praticado contra a mulher por razões da condição de sexo
feminino.
O § 2º-A estabelece que:

§ 2o-A Considera-se que há razões de condição de sexo feminino


quando o crime envolve: (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015);
I - violência doméstica e familiar; (Incluído pela Lei nº 13.104, de
2015)
II - menosprezo ou discriminação à condição de mulher. (Incluído
pela Lei nº 13.104, de 2015).

Dessa forma, o feminicídio passou a ser um crime qualificado, ou seja,


homicídio qualificado. O feminicídio passou a ter um aumento de pena de 1/3 (um
terço) até a metade. Tal previsão está disposta no §7º de mesmo artigo, em caso de
a prática do crime ocorrer:

§ 7o A pena do feminicídio é aumentada de 1/3 (um terço) até a


metade se o crime for praticado: (Incluído pela Lei nº 13.104, de
2015)
I - durante a gestação ou nos 3 (três) meses posteriores ao parto;
(Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015);
II - contra pessoa menor de 14 (catorze) anos, maior de 60
(sessenta) anos, com deficiência ou portadora de doenças
degenerativas que acarretem condição limitante ou de
vulnerabilidade física ou mental; (Redação dada pela Lei nº 13.771,
de 2018);
III - na presença física ou virtual de descendente ou de ascendente
da vítima; (Redação dada pela Lei nº 13.771, de 2018);
IV - em descumprimento das medidas protetivas de urgência
previstas nos incisos I, II e III do caput do art. 22 da Lei nº 11.340, de
7 de agosto de 2006. (Incluído pela Lei nº 13.771, de 2018).

Com a alteração, no art. 1º da Lei dos Crimes Hediondos (Lei nº 8.072/1990)


o inciso VI do art. 121, § 2º do Código Penal, foi inserido no referido diploma legal
26

qualificando o feminicídio como crime hediondo. Tal inclusão pode ser considerada
uma conquista das mulheres após os vários movimentos feministas.
O feminicídio é uma situação muito triste que assola vários países. Atinge
mulheres de várias idades, cores, classe social, etnia. Não existe diferença sob
esses aspectos. É um problema social e de saúde pública, com grande desiquilíbrio
e desigualdade estrutural.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde, aproximadamente 35,6%
das mulheres do mundo sofreram violência sexual ou física praticada pelo parceiro
ou violência sexual praticada por qualquer outro homem. A ONU Mulheres estima
que no mundo 66 mil mulheres foram mortas pelo gênero, ou seja, simplesmente por
ser mulher em meados de 2004 a 2009 (BRASIL, 2013).
Foram realizados alguns estudos recentemente e concluiu-se que os
feminicídios domésticos, aqueles que são praticados dentro de casa,
compreenderam cerca de metade dos casos de mulheres assassinadas no Brasil
entre 2009 e 2014, e ainda, em 40% desses casos, parceiros ou ex-parceiros são os
autores dos delitos.
Nesse contexto, o feminicídio que consiste no homicídio de mulheres por
conta do gênero acabou se tornando uma ferramenta para manutenção da
subordinação das mulheres perante os homens. As mulheres são vítimas em todos
os lugares, na rua, no trabalho, em casa, mas na maioria das vezes são vítimas em
sua intimidade.
Chegou-se à conclusão de que a residência é onde ocorre o maior número de
mortes das mulheres vítimas de violência, tendo em vista que o índice de mulheres
morta na rua, por se envolverem em crimes, brigas ou outros delitos é baixo. O
índice de homicídio comum tem caído, no entanto, o índice de feminicídio tem
aumentado dia após dia (ONU, 2013).

4.2 AS FORMAS DE VIOLÊNCIAS RECEPCIONADAS PELA LEI MARIA DA


PENHA

De acordo com o artigo 4º da Lei 11.340/2006, sob o entendimento desta Lei,


serão considerados os fins sociais a que ela se destina e, especialmente, as
condições peculiares das mulheres em situação de violência doméstica e familiar.
(BRASIL, 2006).
27

Configura crime acolhido pela Lei Maria da Penha e configura violência


doméstica a conduta do agente, uma ação ou omissão, que cause sofrimento físico,
mental, sexual, moral ou dano patrimonial em razão do gênero, nas condições
previstas no artigo 5, caput e inciso I, ou seja, no ―âmbito da unidade doméstica,
âmbito da família ou em qualquer relação íntima de afeto‖.
Segundo Aline Corrêa (2010, p. 37), a lei Maria da Penha, em seu artigo 8º,
preceitua acerca da necessidade de implementação de políticas públicas que
tenham como finalidade prevenir a violência doméstica e familiar em face da mulher,
dessa forma, dispõe de alguns elementos necessários e adequados para atingir o
seu objetivo.
A referida lei, juridicamente falando possui falhas quanto à tipificação ou
forma de atuação Estatal no que tange à violência, tendo em vista que se faz
necessário uma complexa apuração diante de sua especificidade. Sob esse
pensamento, Valéria Diez Scarance Fernandez escreveu:

[...] menciona essas falhas, que chama de violência institucional de


ordem jurídica, sob os seguintes aspectos: a) negação do delito
quando há tipificação ou a tipificação não é eficiente; b) invisibilidade;
caracterizada por minimizar o ato do agressor ou análise inadequada
das causas do delito; c) encobrimento: desconsideração do
depoimento da mulher, que é levada ao silêncio; d) ausência de
proteção: referente à falta ou demora na proteção das vítimas, de
medidas protetivas ou efetivas para rompimento da violência
(FERNANDES, 2015, p. 58).

Cumpre salientar que é indispensável mencionar a importante relevância das


políticas públicas, tendo em vista que a cultura é a maior expressão da organização
de uma sociedade. Ocorre que o conceito de cultura não se trata somente de
simples caracterização de forma de vida social ao exprimir de forma singular a
reação de pessoas diante de uma determinada situação, logo, condutas iguais
(LIMA FILHO, 2007).

Por conseguinte, a cultura é capaz de sofrer mudanças no decorrer


dos anos, sendo capaz de adaptar-se ao meio de forma diferente e
com maior agilidade do que a evolução biológica, como exemplo
mais visível temos a utilização de roupas, superando a espera pela
evolução daquilo que nos aquecessem. Além disso, a cultura é capaz
de acumular mudanças com o tempo, passando de pai para filho,
alguns valores que irão interagir com status de herança, e que
28

poderão ser reformulados diante das novas circunstâncias


(CAVALCANTI, 2010, p. 79).

Novas providências estão sendo tomadas acerca da proteção feminina, logo,


o combate a qualquer tipo de violência contra mulher está se concretizando. A título
de exemplo temos a Lei Maria da Penha, percebe-se que os primeiros passos já
foram dados. Este pensamento ainda está difundindo na sociedade crenças de
submissão feminina e valoração do corpo, busca-se demonstrar que a mulher
precisa ter seus direitos garantidos e respeitados.

4.3 FEMINICÍDIO E HOMICÍDIO

Como dito, quando se fala em feminicídio, trata-se na verdade de homicídio


contra a mulher, contudo, não é a única definição, mas com certeza é a principal.
Esta vertente é chamada de específica devido as seguintes questões:
1) a nomenclatura é própria, tendo em vista tratar de homicídio em face da
mulher;
2) em um contexto geral, nem todos os homicídios são feminicídios.
Cumpre observar que as mulheres matam menos que os homens, porém
morrem mais que eles. O caráter é desigual deste fenômeno, na medida em que as
mulheres morrem em taxas desproporcionalmente superiores ao que matam
(UNODC, 2011).

Enquanto os homens são assassinados com maior frequência que as


mulheres, raras vezes se assassinam aos homens simplesmente
porque são homens. Inclusive, em raríssimos casos em que as
mulheres matam homens é pouco provável que matem porque a
vítima é homem (RADFORD, 2006, p.48)

Em pesquisas, restou demonstrado que no ano de 2014, no Brasil, somente


7% dos estabelecimentos prisionais estavam destinados à população carcerária
feminina, o que por sua vez, pode-se presumir a baixa incidência das mulheres na
criminalidade. Conforme pesquisas do Departamento Penitenciário Nacional em
2014, somente 2,3% das mulheres cometeram o crime de homicídio.
O que se destaca nos feminicídios é o modus operandi, ou seja, o contexto de
produção, as reais condições e motivos que levaram o cometimento do crime, bem
29

como as suas circunstâncias. As relações conjugais com homens ainda é a


motivação de grande parte dos homicídios praticados pelas mulheres.
Por vezes, situações em que a vítima tentava romper um relacionamento
altamente violento, assim, com intuito de estancar a situação, muitas vezes o
desfecho não é dos melhores. Acabam incorrendo no crime de homicídio. (Suely
Souza de ALMEIDA, 1998, GOMES, 2010).
Nos demais contextos, a exploração sexual ou do tráfico de drogas, mesmo
com maiores dificuldades de identificação da violência por conta do gênero como
real motivação do delito, em geral, a forma de como o delito ocorre, envolvendo por
muitas vezes tortura e violência sexual, mutilação nos órgãos genitais, são indícios
suficientes para identificar que houve machismo, misoginia e sexismo (Maria das
Dores Brito MOTA, 2010).
Nesse prisma, analisar as motivações para compreensão do feminicídio é
fundamental na análise do fenômeno, considerando os contextos de ocorrência.

É evidente que somente uma caracterização precisa do modus


operandi, presente em cada tipo particular de crime, e a elaboração
de uma tipologia (o mais precisa possível) das diversas modalidades
de assassinato de mulheres permitiria chegar à resolução dos casos,
à identificação dos agressores e ao tão anelado fim da impunidade.
Por isso está diferenciação dos casos se torna um imperativo (Rita
Laura SEGATO, 2008, p.44).

Existem várias formas de analisar os feminicídios. Inicialmente, havia a


indicação de apenas três tipos de feminicídio: íntimo, não íntimo e por conexão,
quando a vítima estava na ―linha de fogo‖, por exemplo: homicídio ocasionado por
vingança de uma discussão entre homens. Posteriormente Carcedo e Sagot (2010)
construíram a noção de ―cenários de feminicídio:

Definimos o conceito cenário de femicidio como: os contextos


socioeconómicos, políticos e culturais nos que se produzem ou
propiciam relações de poder entre homens e mulheres
particularmente desiguais e que geram dinâmicas de controle,
violência contra as mulheres e femicídios que adotam ou incluem
características próprias (CARCEDO, 2010, p.15).

Resta claro que sempre existe uma ligação dos elementos quando ocorre os
feminicídios. A tipologia e a conceituação de cenários são aproximações
necessárias e bastante elucidativas, que são elaboradas a partir a partir da análise
30

dos feminicídios na América Latina. A partir de pesquisas e legislações, foi possível


identificar que consiste feminicídio os homicídios nos casos:
 Ocorreu violência sexual e/ou estupro;
 Havia relações de poder que implicavam confiança, autoridade e
subordinação atual ou pregressa
 Havia relação familiar, afetiva e/ou de intimidade entre as partes (atual
ou pregressa).
 Houve violência pregressa por parte do autor do crime;
 A vítima era prostituta.
 O crime ocorreu no marco de rituais de grupos, gangues ou com
finalidade religiosa.
 O crime foi precedido de sequestro
 Foram cometidas ações que aumentaram o sofrimento da vítima e/ou
revelaram sinais de misoginia e ódio contra a vítima mulher.
 O crime foi cometido na frente de filhos e filhas da vítima
 O corpo foi exibido em lugar público e/ou construção de cena
humilhante, moralmente, para a vítima.
Os tópicos acima indicam clara desigualdade de gênero, que possuem como
características a dominação, exploração e posse, noção de poder, que são impostas
e reconhecidas pelo autor em face da vítima. Existem algumas outras situações
específicas, que podem levantar várias dúvidas ou trazer outras realidades, assim,
os motivos que ensejam a violência podem surgir baseando-se nos contextos
vivenciados pelas partes envolvidas.
No caso dos feminicídios configurados baseados no homicídio de mulheres,
se faz necessário a observância de diversos sinais, como por exemplo as políticas
sociais vigentes, violência urbana, a questão do tráfico de entorpecentes, tráfico de
mulheres, turismo sexual.
Todos esses elementos tornam complexos as ocorrências do fenômeno. A
aprovação da lei 13.104/2015, bem como o contexto em que ela está sendo inserida,
traz vários questionamentos e debates, tendo em vista que vários questionamos já
são realizados desde a inserção da Lei Maria da Penha diante de vários pontos
inconclusivos que a lei menciona.
31

Dentre estes pontos, menciona-se o recrudescimento penal desacompanhado


de políticas públicas efetivas, visto que o Estado tem dado mais atenção ao direito
penal e se empenhando no aumento da repressão. Cumpre salientar que o direito
penal pode assumir contornos paternalistas face a proteção das mulheres.
Pois passará a tratar com pessoa vulnerável ou vítima, visto que no passado,
a mulher era vista como o sujeito passivo dos crimes sexuais, considerada como
pessoa doméstica, incapaz de ofertar perigo a alguém, um ser frágil. O papel de
vítima coube a mulher e ao homem coube o papel de agressor, sendo visto como
indivíduo perigoso, violento e dominador.
O divisor de águas acerca da violência contra mulher, bem como uma vitória
dos movimentos feministas ocorreu somente em 2006, com a promulgação da Lei
Maria da Penha. Mesmo assim, surgiram diversas críticas a referida lei, por tratar de
modo diferente gêneros envolvidos em crimes supostamente idênticos que ocorrem
sob um contexto de violência doméstica ou familiar.
Esta crítica paira tanto sob a Lei do Feminicídio como na Lei Maria da Penha,
dessa forma, é preciso se atentar às práticas que possam fortalecer a mulher como
vítima e proteger do homem agressor deixando claro a importância de políticas
públicas que visem a solução para essas relações de poder existentes entre homem
e mulher.
Ao feminicídio pode-se associar:
1) um conceito se aplica apenas aos homicídios praticados contra mulheres;
2) a discussão sobre o assunto implica na criação de nova tipificação penal,
ou alguma nova forma de tratativa penal, porém, tais compreensões são limitadas,
tendo em vista que a judicialização é um dos pontos principais acerca da discussão
sobre o feminicídio.
Há muito tempo as mulheres clamam por justiça face as barbaridades
sofridas. No passado, vários movimentos feministas foram realizados com o intuito
da criação de dispositivo protetivo e punitivo relacionado a violência contra a mulher.
Após muito se clamar, o Estado passou a se mobilizar e responder às demandas
pela criação de um tipo penal que coibisse a violência sofrida pelas mulheres.
No ano 2000, alguns Estados passaram a responder criminalmente ao
problema da violência por conta do gênero, pois houve grande pressão social e
vários movimentos feministas, ante a gravidade e a incidência dos feminicídios e o
alto grau de impunidade destes crimes.
32

Até 2015, foram nove os países que tentaram fazer modificações em sua
norma penal na tentativa de enquadramento do feminicídio: Colômbia em 2015,
Costa Rica em 2007, Chile em 2010, Guatemala em 2008, Peru em 2011, México
em 2013, El Salvador em 2012, Brasil em 2015. (GARITA, 2013; GOMES, 2015).
São inúmeras as críticas e forte a resistência para uma resposta penal aos
crimes de feminicídio. Muitas das críticas realizadas tratam de argumentos
relevantes, porém, a maioria dos argumentos necessita de se comprovar a
gravidade para ser reconhecido, a comprovação da brutalidade e da desigualdade
perpetradas em situações que ocorrem as violências praticadas contra as mulheres.
Mesmo que todos estes argumentos tenham fundamento jurídico, o que se
espera é demonstrar quais os significados para garantir ou desconstituir uma lei
penal, que pune violência de contra as mulheres. O reconhecimento penal de forma
específica e adequada do feminicídio é uma forma de nomear um complexo
conjunto, que por sua vez, ocasiona morte e a violência direcionada as mulheres.
Não existe palavra para descrever e expressar o horror vivenciado pela
prática do feminicídio, não é nada comparado com a violência de gênero que a
palavra tenta descrever, desde as vivências posteriores como as anteriores da
violência da mensagem que se queria anunciar.
Para Enriquez (2010, p.74), tipificar ―confronta a universalidade da lei com a
singularidade do que ela nomeia‖ e é por isso que, mais do que acreditar da força e
na eficácia do Direito Penal, se socorrer a ele significa demonstrar de que lado está
politicamente falando, em meio a disputas de poder.
O que se percebe é que o feminicídio se constituiu em uma categoria
sociológica, nitidamente diferençável e que adquiriu especificidade normativa a partir
da Convenção de Belém do Pará, a Convenção Interamericana para Prevenir, Punir
e Erradicar a Violência contra a Mulher, adotada pela Assembleia Geral da
Organização dos Estados Americanos (OEA) em 09 de junho de 1994 e ratificada
pelo Brasil em 27 de novembro de 1995.

4.4 AS CARACTERÍSTICAS DO FEMINICÍDIO

É a morte intencional e violenta de mulher por conta do seu gênero, pela


simples condição de ser do sexo feminino. Não é evento isolado na vida da mulher,
in tese, é resultado das diferenças de poder entre homens e mulheres em face do
33

contexto socioeconômico em que atuam e, ao mesmo tempo, ficando claro que o


crime é condição para a manutenção dessa diferença.
Para a qualificação de feminicídio é necessária a superação de duas
dificuldades: A equiparação entre os feminicídios e os popularmente chamados de
crimes passionais e a demonstração de que as mortes de mulheres são diferentes
das mortes que decorrem da criminalidade comum.
Ocorre que uma das maiores dificuldades para se qualificar tal crime é a falta
de dados oficiais que permitam se conhecer o número de mortes de mulheres e os
contextos em que eles ocorreram. A caracterização do feminicídio depende das
circunstâncias e peculiaridades em que é cometido:
Feminicídio íntimo: crimes cometidos por pessoas com os quais a vítima tem
ou teve uma relação íntima, familiar, de convivência ou afins. Incluem os crimes
cometidos por parceiros sexuais com quem tiveram outras relações interpessoais,
tais como maridos, companheiros (as), namorados (as), sejam em relações atuais ou
passadas.
Feminicídio externo: Ou o ―femicídio‖ defendidos pelas feministas que não foi
aceito pela Lei do feminicídio: são aqueles cometidos por pessoas com os quais a
vítima não tinha relações íntimas, familiares ou de convivência, mas com as quais
havia uma relação de confiança, hierarquia ou amizade, tais como amigos ou
colegas de trabalho, trabalhadores da saúde, empregadores, ou mesmo sociopata e
psicopata.
Feminicídio por conexão: Aberratio Ictus, são aqueles em que as mulheres
foram assassinadas porque se encontravam entre o criminoso e a vítima mulher, ou
seja, são casos em que as mulheres tentam intervir para impedir a prática de um
crime contra outra mulher e acabam morrendo. Independem do tipo de vínculo entre
a vítima e o agressor, que podem inclusive ser desconhecidos.
O conceito que descreve femigenocídio, estende o argumento nas cortes
internacionais e gera grandes debates amplos com as várias denúncias dos
movimentos sociais. A que se atentar para o risco de que os feminicídios, quando
reconhecidos criminalmente significarão apenas a expressão de um fato horrível,
que será divulgada como um fato a mais pela imprensa e disposta da mesma forma
no Código Penal.
Hoje, após alguns anos da promulgação das primeiras legislações de
feminicídios sancionadas na América Latina, caberia realizar uma avaliação e
34

reflexão a respeito dos possíveis avanços alcançados. As legislações penais são


apenas alguns caminhos que podem construir a prevenção e a erradicação dos
feminicídios.
4.5 DAS MEDIDAS PROTETIVAS

Preliminarmente, cumpre informar que as medidas cautelares possuem sua


classificação: a) reais, que se está relacionada com o patrimônio; b) pessoais,
referente ao agente e c) probatórias, que são destinadas à preservação da prova. A
Lei Maria da Penha traz e seu bojo as medidas protetivas de urgência com fito de
proteger à vítima.
Para garantia e eficácia da execução das medidas, o juiz poderá, a qualquer
tempo, solicitar auxílio de força policial. Dessa forma, as providências tomadas pelo
juiz têm o intuito de assegurar o resultado prático, aproximado ao cumprimento de
uma a obrigação. Conforme preceitua o artigo 22 da Lei Maria da Penha. Vejamos:

Art. 22. Constatada a prática de violência doméstica e familiar contra


a mulher, nos termos desta Lei, o juiz poderá aplicar, de imediato, ao
agressor, em conjunto ou separadamente, as seguintes medidas
protetivas de urgência, entre outras:
I - suspensão da posse ou restrição do porte de armas, com
comunicação ao órgão competente, nos termos da Lei no 10.826, de
22 de dezembro de 2003;
II - afastamento do lar, domicílio ou local de convivência com a
ofendida;
III - proibição de determinadas condutas, entre as quais: a)
aproximação da ofendida, de seus familiares e das testemunhas,
fixando o limite mínimo de distância entre estes e o agressor; b)
contato com a ofendida, seus familiares e testemunhas por qualquer
meio de comunicação; c) frequentação de determinados lugares a
fim de preservar a integridade física e psicológica da ofendida;
IV - restrição ou suspensão de visitas aos dependentes menores,
ouvida a equipe de atendimento multidisciplinar ou serviço similar; V -
prestação de alimentos provisionais ou provisórios (BRASIL, 2006,
s/p).

4.5.1 Suspensão da Posse ou Restrição do Porte de Armas, com


Comunicação ao Órgão Competente, nos Termos da Lei n. 10.826/2003.

Com o deferimento da medida, existirá uma comunicação ao Sistema


Nacional de Armas e à Polícia Federal, o órgão público competente para concessão
35

da autorização do uso da arma de fogo. Tal medida é de suma importância, pois


ajuda a evitar um mal maior e a efetivação da produtividade que pretende a Lei
Maria da Penha.
A existência de arma de fogo no seio de um lar, bem como no contexto da
violência pode resultar em um resultado extremamente gravoso. Imperioso evitar
que o indivíduo agressor tenha por perto um instrumento capaz de matar a vítima.
Assim, o magistrado determinará a cautelar e a busca e apreensão da arma,
conforme preceitua o artigo 240, § 1º, d, do Código de Processo Penal.

4.5.2 Afastamento do Lar, Domicílio ou Local de Convivência com a Ofendida.

A interpretação diante de tal medida é de que ao afastar o agressor do lar, é


uma decisão muito difícil, tendo em vista que envolve muitas coisas e pessoas
diversas, filhos e direitos patrimoniais sobre o imóvel do casal. Importante lembrar
que para se adotas a medida, deverá ter uma audiência de justificação.
A audiência de justificação possibilita uma melhor avaliação do caso. Isso
poderá contribuir para se obter um conhecimento aprofundado da real situação da
família. Se realmente é necessária a aplicação da medida, permitindo assim adoção
de uma decisão efetiva e eficaz.

4.5.3 Proibição de Aproximação da Ofendida, de Seus Familiares e das


Testemunhas, Fixando Limite Mínimo de Distância Entre Estes e o Agressor.

Via de regra, essa medida evita novos ataques, pois a própria vítima fiscaliza
seu cumprimento, noticiando a Delegacia de Polícia, caso o agressor se aproxime.
Nessa medida, é estipulado uma metragem em que o agressor fica proibido de se
aproximar da vítima de seus familiares.
Se no caso concreto, o agente ultrapassar a metragem fixada pelo
magistrado, o agressor poderá ser preso por violar uma ordem judicial. Uma nova
solução uma para assegurar o distanciamento é a monitoração eletrônica, que foi
introduzida no Código de Processo Penal no artigo 319 e inciso IX, redação pela Lei
n. 12.403/2011.
Cumpre que a efetividade da medida de justifica na limitação de distância que
é imposta ao agressor, distância tanto da vítima como de seus familiares e
36

testemunhas, tendo em vista que é comum o agressor tentar intimidar e ameaçar a


vítima e testemunhas.

4.5.4 Proibição de Contato com a Ofendida, Seus Familiares e Testemunhas


por Qualquer Meio Eletrônico.

Essa medida protetiva consiste na medida conjunta com a de proibição de


aproximação e comunicação por palavras, gesto escrito ou como dito, até mesmo
por meios virtuais, como, redes sociais, WhatsApp, etc. Neste caso, a medida será
eficaz quando o agressor for informado acerca da extensão da proibição.
O agressor será informado que está proibido de procurar a vítima através de
meios indiretos, como mensagens em redes sociais, mensagens de textos recados,
ou redes de relacionamentos. Cumpre salientar, que nos dias de hoje é muito
comum ocorrer represália por parte do agressor pelas mídias sociais. A internet se
tornou uma grande aliada desses agressores, por isso, necessária a medida.

4.5.5 Proibição de Frequentar Determinados Lugares a Fim de Preservar a


Integridade Física e Psicológica.

O agressor na maioria das vezes, por inconformismo passa a seguir a vítima


nos lugares onde está costuma frequentar. Isso é uma forma de intimidação. Na
maioria das vezes, por medo vergonha, e exposição, a vítima fica intimidada e nem
sair de casa quer mais, chegando até abandonar o emprego ou estudo.
Mesmo quando o agressor nada mais tem com a vítima, este comportamento
causa intimidação à vítima. Isso faz com que ela se sinta coagida, ameaçada e
amedrontada e o agente ainda continua a exercer o domínio sobre a vítima, mesmo
que esse controle seja psicológico.
A medida cautelar proíbe o agente de frequentar lugares onde a vítima exerça
suas atividades. A imposição da medida pode atingir a residência da vítima, bem
como, de seus parentes, trabalho, faculdade, escola dentre outros locais
frequentados frequentemente por ela.
Isso evita os encontros desagradáveis e por outro lado, de maneira sutil, faz
com que a vítima, aos poucos retome sua rotina, ou seja, faz com que esta consiga
37

prosseguir com sua vida, sem sombra do passado, sem medo de ter que encontrar
aquela pessoa que só trouxe amargura e dor para sua vida.
Se ocorrer o descumprimento da medida imposta pelo juiz, esta pode ser
noticiada por qualquer e, após registrado em boletim de ocorrência por
desobediência, o agressor poderá ser advertido e até ter sua prisão decretada. Isso
também é uma forma de assegurar a liberdade da vítima e forma de fazer com que
ela se sinta segura.

4.5.6 Prestação de Alimentos Provisionais ou Provisórios.

Essa medida é urgente, pois não é destinada a solucionar a questão


alimentar, mas sim permite que a vítima e seus dependentes consigam se manter
durante o processo penal, até que se solucione a ação civil. A prestação alimentícia
tem como escopo a subsistência da mulher e de seus filhos, visto que, devido a
violência praticada, surgiu a necessidade econômica.
Enfim, para tentar prevenir a violência, se faz necessário a desnaturalização
da desigualdade de gênero combinado com a criação de uma conscientização
coletiva acerca de papeis diferenciados e expectativas socialmente atribuídas ao
feminino e masculino. Tais papéis se fundem a outras estruturas discriminatórias,
como por exemplo: o racismo e o preconceito de classe, que levam a hierarquização
de vidas.
Sob este aspecto, as mídias sociais e as medidas educativas são
mecanismos fundamentais para a conscientização e para difundir as relações e
essenciais para tentar combater o feminicídio no Brasil. Por fim, as medidas estão
ao alcance de todos, mas se faz necessário vontade e quebrar barreiras, como por
exemplo, acreditar que o lar é uma zona de perigo para mulheres expostas a esse
tipo de violência.
38

5. CONDIERAÇÕES FINAIS

Em suma, celeumas ideológicas à parte, temos que: O feminicídio é o crime


de homicídio em que a vítima é uma mulher, cuja motivação envolve o fato dela ser
mulher. O que não quer dizer que todo assassinato de uma mulher seja um
feminicídio, mas que todo assassinato de mulher que se justifica pelo fato de a
vítima ser mulher, ou de convivência familiar, ou conjugal, ou, ainda, amoroso.
O feminicídio existe na realidade - é a expressão mortífera e representa a
forma mais cruel e da violência de gênero. A necessidade da afirmação demonstra a
dificuldade de tornar visível e relevante as experiências vivenciadas pelas mulheres,
inclusive aquelas que passam por grande sofrimento, sofrem abusos e são
violentadas.
Tais elementares, por vezes, se expressam na forma do assassinato,
apresentando mutilação ou ataques genitais, por exemplo. Em outras vezes, o
feminicídio verifica-se apenas na motivação, como a escolha de uma mulher para
ser morta ou no fato do comportamento de determinada mulher ser a justificativa
para assassiná-la.
O feminicídio é toda morte violenta de uma mulher, morte que poderia ter sido
evitada, mas diante do contexto social vivido, passa despercebida, tendo em vista
que nesse contexto social se faz presente um misto de dominação e exploração,
sustentado por uma sociedade conservadora e patriarcal, racista e capitalista que
atinge a mulheres e homens de modo contraditório.
Sob esse prisma, as relações sociais são marcadas por desigualdades, que
por sua vez, ultrapassam limites e extrapolam a condição de gênero, se misturando
com uma condição de classe social, de raça/etnia e se estendem até às identidades
sexuais, questões religiosas e às vivências sócio-territoriais.
Ora, se os homicídios de mulheres marcados pela violência de gênero foi
motivo de denúncia realizados pelos movimentos feministas desde os anos 70, o
que dizer então dos feminicídios ocorridos recentemente, que são fortemente
marcados pelas singularidades territoriais e protagonizados, principalmente, pelos
agressores, esposos, companheiros das vítimas?
A avalanche de denúncias, de justificativas do Estado que insistiam em
privatizar e despolitizar os casos, o que certamente não é possível, tendo em vista
que é caso claro de política criminal devido ao contexto social, e o conjunto de
39

pesquisas realizadas deu margem para uma imensidão de críticas e


questionamentos acerca da existência dos feminicídio.
A Lei do Feminicídio, Lei nº 13.104/15, torna o assassinato de mulheres pela
sua condição de gênero e doméstico num crime de homicídio qualificado, tornando-
o, automaticamente, em hediondo. Tal circunstância torna a motivação do
assassinato de mulheres, baseado no sexo dessa, num ato repugnante para os
valores sociais, entendido como um dos piores tipos de atentado àquilo que a
própria sociedade tenta defender.
O feminicídio qualifica o crime, ou seja, torna-o mais grave, pois é um
atentado direto a todo o gênero feminino, um crime de misoginia comparável a, por
exemplo, crimes de extermínio, com motivação baseada em uma característica
alheia aos atos da mulher como mulher.
Além disso, a lei aponta para situações agravantes no feminicídio que podem
aumentar a pena do matador, com adicional de 1/3 sobre a pena original, quais
sejam, se a vítima estava grávida ou em até três meses após o nascimento da
criança; se a mulher tinha menos de 14 anos e mais de 60 anos ou se a mulher era
deficiente; e, se a mulher for assassinada na presença dos seus filhos ou do seus
pais.
A diferença prática entre o homicídio simples e o homicídio qualificado por
feminicídio é sua gravidade, pelo fato de o segundo ser considerado hediondo desde
a aprovação da Lei do Feminicídio. Nos homicídios simples a Lei prevê prisão de 6 a
12 anos, enquanto o crime hediondo apresenta pena acima de 12 anos.
Além de oferecer pena dobrada em relação a um homicídio simples, a lei do
feminicídio ataca diretamente a violência doméstica, ao estabelecer legalmente uma
gravidade muito maior do crime contra a mulher pelo fato de ela ser mulher. Os
legisladores aceitaram a tese de que o feminicídio ocorre com mais frequência em
ambiente doméstico, o que justifica, por exemplo, as três agravantes positivadas.
A bem da verdade foi um feminicídio íntimo anunciado, o qual poderia com
certeza ter sido evitado, caso a vítima tivesse se recorrido das medidas protetivas da
Lei Maria da Penha, mas, infelizmente optou por não fazê-lo, com data e hora para
acontecer. Como se não bastasse, com requintes de crueldade, emboscada e sem
chances de defesa para a vítima. Lamentavelmente.
Quando se nomeia atos como, um conjunto de violência contínua, de
desigualdade, mortalidade, crueldade, brutalidade, intencionalidade de feminicídio,
40

ou seja, atos de violência praticados em função do gênero, se está publicando,


politizando e colocando em evidência o problema de morte violenta de mulheres,
que por sua vez, não é simples, trata-se de um fenômeno social, tendo em vista que
está em perigo metade da população do mundo.
Espera-se das autoridades, Polícia, Ministério Público e do Poder Judiciário, a
punição exemplar dos indivíduos envolvidos, para que seja enaltecida a mais lídima
Justiça.
41

REFERÊNCIAS

ANDRADE, Clara de Jesus Marques; FONSECA, Rosa Maria Godoy Serpa da.
Considerações sobre violência doméstica, gênero e o trabalho das equipes de
saúde da família. Rev. Esc. Enferm. USP. 2008.

ARTICLE19. OS DADOS SOBRE FEMINICÍDIO NO BRASIL. [S.l.]: ARTIGO 19,


2017. Disponível em: <http://artigo19.org/wp-content/blogs.dir/24/files/2017/12/Os-
Dados-Sobre-Feminic%C3%ADdio-no-Brasil.pdf>.Acesso em: 08 abr 2021.

BRASIL.Decreto-Lei nº 2.848/40. Código Penal. Disponível em:


<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848compilado.htm>. Acesso
em: 30 abr. 2021.

BRASIL, Constituição Federal de 1988. Constituição da República Federativa


doBrasil_de_1988.
Disponível_em:_<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm
Acesso em: 30 abr. 2021.

BRASIL. LEI Nº 11.340, DE 07 DE AGOSTO DE 2006. Cria mecanismos para coibir


a violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos do § 8 o do art. 226 da
Constituição Federal, da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de
Discriminação contra as Mulheres e da Convenção Interamericana para Prevenir,
Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher; dispõe sobre a criação dos Juizados
de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher; altera o Código de Processo
Penal, o Código Penal e a Lei de Execução Penal; e dá outras
providências.Disponível em:http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-
2006/2006/lei/l11340.htm.Acessado em:20/04/2021.

BRASIL.Lei nº. 13.104/2015. Altera os arts. 121 e 129 do Decreto-Lei no 2.848, de 7


de dezembro de 1940 (Código Penal), e o art. 1º da Lei nº 8.072, de 25 de julho de
1990 (Lei de Crimes Hediondos). Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13142.htm#art3>.
Acesso em: 30 abr. 2019.

BRASIL. . Lei nº. 8.072/1990. Dispõe sobre os crimes hediondos, nos termos
do art. 5º, inciso XLIII, da Constituição Federal, e determina outras providências.
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8072.htm>. Acesso em: 30
abr. 2019.

CASTRO, Lana Weruska Silva. O crime passional de Doca Street. Canal Ciências
Criminais. Atualizado em 18/12/2020. Disponível em :
https://canalcienciascriminais.com.br/crime-passional-doca-street/. Acesso em 20 de
abr de 2021.
42

DIAS, Maria Berenice. A Lei Maria da Penha na Justiça. Disponível


em:http://www.mariaberenice.com.br/manager/arq/(cod2_799)17 a_lei_maria_da_
penha_na_justica.pdf. Acessado em:04.10.2018.

FEDERICI, Silvia. Calibã e a bruxa. Mulheres, corpo e acumulação primitiva. São


Paulo: Editora Elefante, 2017.

FERNADES, Valéria Diez Scarance. Lei Maria da Penha: o processo penal no


caminho da efetividade : abordagem jurídica e multidisciplinar (inclui Lei de
feminicídio). Imprenta: São Paulo, Atlas, 2015.

GUIMARÃES, M. C.; PEDROZA, R. L. S. Violência contra a mulher: problematizando


definições teóricas, filosóficas e jurídicas. Brasília/DF, Brasil: Psicologia &
Sociedade, 27(2), 256-266, 2015. Disponivel em:
<http://www.scielo.br/pdf/psoc/v27n2/1807-0310-psoc-27-02-00256.pdf>.Acesso em:
08 out. 18.

LIMA, Renato Brasileiro de. Legislação criminal especial comentada: volume


único - 4. ed. rev., atual. e ampl.- Salvador: JusPODIVM, 2016.

LOURO, Guacira Lopes. Gênero, sexualidade e educação: uma perspectiva pós-


estruturalista. Petrópolis- RJ: Vozes, 1997.

MACHADO, M. R. D. A. A violência doméstica fatal: o problema do feminicídio


íntimo no Brasil. Brasília: colaboração: Fernanda Emy Matsuda. [et al.]., 2015.
Disponível em: <http://www.justica.gov.br/seus-direitos/politicas-de-
justica/publicacoes/Biblioteca/publicacao_feminicidio.pdf/>.Acesso em: 08 out. 18.

OLIVEIRA, A. C. G. D. A.; COSTA, M. J. S.; SOUSA, E. S. S. FEMINICÍDIO E


VIOLÊNCIA DE GÊNERO: ASPECTOS SÓCIOJURÍDICOS. [S.l.]: v. 16, n. 24/25,
janeiro a dezembro de 2015, 2015. Disponível em:
<http://revistatema.facisa.edu.br/index.php/revistatema/article/viewFile/236/pdf>.
Acesso em: 08 out. 18.

PINAFI, T. Violência contra a mulher: políticas públicas e medidas protetivas na


contemporaneidade. [S.l.]: Núcleo de Estudos sobre Violência e Relações de Gênero
- NEVIRG, 2006. Disponível em:
<http://www.historica.arquivoestado.sp.gov.br/materias/anteriores/edicao21/materia0
3/texto03.pdf>.Acesso em: 08 out. 18.

PIOVESAN, Flávia. A MULHER E O DEBATE SOBRE DIREITOS HUMANOS NO


BRASIL. Disponível em:
<http://www.dhnet.org.br/direitos/militantes/flaviapiovesan/piovesan_mulher_debate_
dh_br.pdf>, Acesso em:14 jun.2021.

Pires, Albernaz Amon. O FEMINICÍDIO E O CÓDIGO PENAL BRASILEIRO.


Disponível em:
<https://www.researchgate.net/profile/AmomPires/publication/327558178_O_feminici
dio_no_Codigo_Penal_brasileiro_da_nomeacao_feminista_as_praticas_juridicas_no
_plenario_do_juri/links/5b9677cc92851c78c40e43ab/O-feminicidio-no-Codigo-Penal-
43

brasileiro-da-nomeacao-feminista-as-praticas-juridicas-no-plenario-do-juri.pdf>.
Acesso em: 15 de jun. 2021

PORTO, J. R. R. Violência Contra a Mulher: Expectativas de um acolhimento


humanizado. Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2004.
Disponivel em:
<https://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/4784/000415296.pdf?.1>.Acesso
em: 08 out. 18.

OLIVEIRA, Amanda Muniz; BASTOS, Rodolpho Alexandre Santos Melo. A FAMÍLIA


DE ONTEM, A FAMÍLIA DE HOJE: CONSIDERAÇÕES SOBRE O PAPEL DA
MULHER NO DIREITO DE FAMÍLIA BRASILEIRO. Revista Jurídica Cesumar. v.
17, n. 1, p. 235-262, 2017.

ROMIO, J. A. F. Feminicídios no Brasil, uma proposta de análise com dados do


setor de saúde. CAMPINAS: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS, 2017.
Disponivel em:
<http://repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/330347/1/Romio_JackelineAparec
idaFerreira_D.pdf>.Acesso em: 08 out. 18.

RUBIN, Gayle. O tráfico de mulheres: notas sobre a ―economia política do sexo‖.


Recife, PE: Sos Corpo, 1993.

SANTOS, Cecília Masdowell Santos/ IZUMINO, Wânia Pasinato. Violência contra


as mulheres e violência de gênero: notas sobre estudos feministas no Brasil. E. I.
A. L. Vol. 16. Nº 1. 2015.

SCOTT, Joan Wallach. Gênero: uma categoria útil de análise histórica. Educação
& Realidade. Porto Alegre, vol. 20, nº 2, jul./dez. 1995, pp. 71-99.

SENADO FEDERAL. Panorama da violência contra as mulheres no Brasil


indicadores nacionais e estaduais. Brasília: Observatório da Mulher contra a
Violência, 2016. Disponivel em:
<http://www.senado.gov.br/institucional/datasenado/omv/indicadores/relatorios/BR.p
df>.Acesso em: 08 out. 18.

SOLYKO, Izabel. FEMINICÍDIO: UM LONGO DEBATE. Disponível em:


<https://www.scielo.br/j/ref/a/BRBjpfrdF9vBbMmqPC9Lzsg/?format=pdf&lang=pt>.
acesso em: 15/06/2021.

SOUZA VIEIRA DE, Juliete. FEMINICÍDIO: ANÁLISE DA INSERÇÃO E


TIPIFICAÇÃO NO ORDENAMENTO JURÍDICO PENAL BRASILEIRO. Disponível
em:<http://repositorio.aee.edu.br/bitstream/aee/17181/1/Juliete%20Vieira%20de%20
Souza.pdf>. Acesso em: 15 de jun de 2021.

SOUZA ANDERSON, Luciano. DE BARROS PECORA, Paula. FEMINICÍDIO E


VIOLÊNCIA DOMÉSTICA. Disponível em:
<https://delictae.com.br/index.php/revista/article/view/133/92 >. Acesso em: 15 de
jun de 2021.
44

TOLOSA, T. D. S. R. Violência de Gênero: Caracterização do Feminicídio no


Município de Belém. Belém-PA: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ, 2017.
Disponivel em: <http://ppgsp.propesp.ufpa.br/ARQUIVOS/dissertacoes/2015/02-
Disserta%C3%A7%C3%A3o%20Tatiane-%20vers%C3%A3o%20final-27-
06_17.pdf>.Acesso em: 08 out. 18.

WAISEILFISZ,J.J. Mapa da Violência 2015: Homicídios de Mulheres no Brasil.


Instituto Sangari. São Paulo, Abril 2015
45

Você também pode gostar