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NATAL/RN
2022
GEYSIANE BARROS DO NASCIMENTO
HÉLIDA BARBOSA DE LIMA
NATAL/RN
2022
GEYSIANE BARROS DO NASCIMENTO
HÉLIDA BARBOSA DE LIMA
BANCA EXAMINADORA
_______________________________________________
Prof. Esp. Samara Trigueiro Félix da Silva
Universidade Potiguar
_______________________________________________
Prof. Me. Douglas da Silva Araújo
Universidade Potiguar
RESUMO
This article addresses the issue of confronting domestic and family violence against women
based on analyzes of the Maria da Penha Law in the process of confronting this type of violence.
In this way, it aims to analyze the issue of confronting domestic and family violence against
women through studies on the contributions brought by the Maria da Penha Law, considering
the main advances and challenges faced. Initially, the work introduces the theme and then
addresses the historical and social aspects of violence against women in the light of Brazilian
legislation, and specifically domestic and family violence against women. It then discusses the
Maria da Penha Law in confronting violence against women, addressing the origin of the Law,
the typification of violence against women, as well as the issue of confronting violence against
women. Finally, some of the contributions, advances and challenges in dealing with domestic
and family violence against women based on the Maria da Penha Law are punctuated and
discussed. It is noted that despite the challenges faced, the aforementioned Law makes a
significant contribution to the fight against domestic and family violence against women. For
this, the method of bibliographic research was used, where the review and analysis of the
constituted literature was carried out, using books, scientific articles, magazines and
publications in periodicals, legislation and jurisprudence, analyzing and exposing the authors'
approach about the topic.
Keyword: Violence against women. Maria da Penha Law. Contributions and Challenges.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 6
1 ASPECTOS HISTÓRICOS E SOCIAIS DA VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER
À LUZ LEGISLAÇÃO BRASILEIRA .................................................................................. 7
1.1 A VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER .................... 9
2 A LEI MARIA DA PENHA NO ENFRENTAMENTO À VIOLÊNCIA CONTRA A
MULHER ................................................................................................................................ 11
2.1 A ORIGEM DA LEI .................................................................................................. 11
2.2 TIPIFICAÇÃO DA VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER ...................................... 12
2.3 ENFRENTAMENTO À VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER .............................. 14
3 CONTRIBUIÇÕES, AVANÇOS E DESAFIOS NO ENFRENTAMENTO À
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER A PARTIR DA LEI
MARIA DA PENHA .............................................................................................................. 15
3.1 VEDAÇÃO À APLICAÇÃO DA LEI Nº 9.099/95 AOS CRIMES COMETIDOS
COM VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER ........................... 16
3.2 CRIAÇÃO DE JUIZADOS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR
CONTRA A MULHER ............................................................................................................ 17
3.3 MEDIDAS PROTETIVAS DE URGÊNCIA ............................................................ 18
3.4 O ATENDIMENTO PELA AUTORIDADE POLICIAL ......................................... 20
3.5 A POSSIBILIDADE DE RETRATAÇÃO DA REPRESENTAÇÃO EM
AUDIÊNCIA ............................................................................................................................ 21
3.6 OUTROS AVANÇOS TRAZIDOS PELA LEI MARIA DA PENHA ..................... 21
CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................. 22
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 24
6
INTRODUÇÃO
Assim, a violência contra a mulher por muito tempo não foi visualizada como violência.
Conforme a Cartilha Dialogando sobre a Lei Maria da Penha, elaborada pelo Senado Federal
(2017), desde a legislação portuguesa trazida para o Brasil, conhecida por Ordenações Filipinas,
as mulheres eram consideradas como fracas no que concerne ao entendimento, devendo,
portanto, serem tuteladas na prática de atos da vida civil. Assim, sujeitavam-se ao poder
disciplinar do pai e do marido, de modo que os homens detinham o poder até de matar sua
esposa em caso de adultério, mesmo que supostamente.
Com o advento do Código Criminal de 1830 é afastada a possibilidade de castigo e
morte de mulheres por causa de adultério. Todavia, ainda permaneceu a desigualdade no sentido
de que o adultério quando praticado pela mulher seria crime em qualquer situação, enquanto
quando praticado pelo homem precisaria atender a alguns requisitos para ser considerado crime,
como por exemplo, se o relacionamento adulterino fosse público e estável (SENADO
FEDERAL, 2017).
Cabe ressaltar que o Código Civil de 1916, contribuindo para manutenção do
patriarcalismo, instituiu a figura do pátrio poder e a incapacidade da mulher casada enquanto
durasse a sociedade conjugal. Além disso, apesar dos maus tratos e da tentativa de assassinato
serem considerados motivos que justificavam a separação, o objetivo maior era a manutenção
do casamento (SENADO FEDERAL, 2017).
Apesar tímido avanço trazido pelo Código Criminal de 1830, que como vimos afastou
a possibilidade de castigo e morte de mulheres em caso de adultério, é importante ressaltar que
mais tarde sob a vigência do Código Penal de 1890 foi criada e propagada a tese defensiva de
crimes passionais. Essa tese valeu-se de que o Código Penal de 1890, em seu art. 27 estabelecia
que: “Não são criminosos: [...]§ 4º Os que se acharem em estado de completa privação de
sentidos e de intelligencia no acto de commetter o crime”.
Já sob a vigência do Código Penal de 1940, em seu art. 24 foi estabelecido que: “Não
excluem a responsabilidade penal: I - a emoção ou a paixão;”. Entretanto, ainda assim foi
sustentada por advogados de defesa dos acusados de assassinarem suas companheiras a tese da
legitima defesa da honra.
É importante ressaltar que apenas em 1991, o Superior Tribunal de Justiça (STJ),
passou a refutar a tese amplamente utilizada da legitima defesa da honra, através do julgamento
do REsp 1.517/PR. Em síntese, o STJ tratou a honra enquanto atributo pessoal de cada um dos
cônjuges, de modo que o adultério não coloca o ofendido em estado de legitima defesa, visto
que a honra que não foi preservada foi a da mulher e nada justificaria matá-la, visto que na
9
esfera cível há os caminhos da separação e do divórcio. (REsp 1.517/PR, Rel. Ministro JOSE
CANDIDO DE CARVALHO FILHO, SEXTA TURMA, julgado em 11/03/1991, DJ
15/04/1991, p. 4309).
Infelizmente, ainda assim a tese continuou a ser defendida. Diante disso, em 2021 o
Supremo Tribunal Federal (STF) considerou inconstitucional a tese da legitima defesa da honra,
por violar a dignidade da pessoa humana, bem como violar o direito à vida e a igualdade entre
homens e mulheres. (ADPF 779 MC-Ref, Relator(a): DIAS TOFFOLI, Tribunal Pleno, julgado
em 15/03/2021, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-096 DIVULG 19-05-2021 PUBLIC 20-05-
2021).
Observa-se, assim, que por muito tempo atos violadores de direitos das mulheres não
eram vistos como violência. Nesse cenário, gradativamente foram ocorrendo alterações e
exclusões de leis discriminatórias, bem como foram surgindo leis que caminhavam para a
igualdade de direitos entre homens e mulheres. Dentre essas leis, temos: a Lei n° 11.106/05 que
revogou o crime de adultério; a Lei n° 6.515/77, conhecida como Lei do Divórcio, que além de
estabelecer o dever de manutenção dos filhos por ambos os cônjuges, regulou os casos de
dissolução da sociedade conjugal e do casamento; dentre outras.
Nesse contexto de avanços legislativos, temos a Constituição Federal de 1988, que
trouxe avanços significativos para os direitos das mulheres. Dessa forma, a Carta Magna
estabeleceu em seu art. 5°, I a igualdade entre homens e mulheres. Além disso, em seu art. 226,
§ 8º, estabeleceu que “O Estado assegurará a assistência à família na pessoa de cada um dos
que a integram, criando mecanismos para coibir a violência no âmbito de suas relações”, sendo
este um importante avanço para o enfrentamento às práticas de violência contra as mulheres.
Apesar dos avanços legislativos conquistados ao longo da história, dentre os quais
alguns foram brevemente pontuados, somente em 2006 surge uma lei especifica para o
enfrentamento da violência contra a mulher. Tal lei de n° 11.340/06, conhecida por Lei Maria
da Penha, cria mecanismos para coibir e prevenir a violência doméstica e familiar contra a
mulher. Dessa forma, diante de sua importância, será discutida em um capítulo específico.
A violência não é percebida ali mesmo onde se origina e ali mesmo onde se define
como violência propriamente dita, isto é, como toda prática e toda ideia que reduza
um sujeito à condição de coisa, que viole interior e exteriormente o ser de alguém,
que perpetue relações sociais de profunda desigualdade econômica, social e cultural.
Mais do que isso, a sociedade não percebe que as próprias explicações oferecidas são
violentas porque está cega ao lugar efetivo da produção da violência, isto é, a estrutura
da sociedade brasileira.
A violência doméstica contra a mulher enquadra-se nos termos da Lei Maria da Penha
quando há um vínculo afetivo, doméstico e familiar entre o autor da violência e a vítima. Esse
vínculo não necessariamente precisa ser biológico, podendo ser também afetivo, ou seja, ocorre
quando há uma relação de convivência entre os envolvidos (BIANCHINI, 2012).
As formas de agressão são complexas, covardes, não ocorrem isoladas umas das outras
e têm graves consequências para o ciclo familiar. Abuso sexual, perseguição, atos que causem
sofrimento, violência de qualquer tipo, ocasionadas por como forma de violência de gênero. A
Lei Maria da Penha, criou mecanismos para diminuir a violência familiar e doméstica contra a
mulher.
11
A mulher é subjugada até mesmo por sofrer a violência, sendo vista como culpada em
qualquer situação. Segundo Rocha (2007, p. 91-92)
Em resumo, a violência doméstica e familiar pode ser praticada por qualquer pessoa que
tenha ou teve relação íntima e de afeto com a vítima, independentemente do sexo dessa pessoa.
Proveniente da violência sofrida por Maria da Penha Maia Fernandes quando casada
com Marco Antônio Herédia Viveiros, que após numerosas tentativas de homicídio sofridas,
Maria da Penha o denunciou, sendo o mesmo encarcerado por poucos meses. Decorrente de um
12
ato covarde, ficou paraplégica em consequência de um tiro nas costas, enquanto dormia, sendo
o autor do disparo o seu próprio companheiro. Como se não bastasse, as agressões continuaram
e duas semanas depois ele tentou matá-la novamente, Maria da Penha Fernandes lutou
bravamente para que houvesse justiça, foi quando fez uma denúncia pública. Com o processo
ainda correndo na Justiça, no ano de 1994, Maria da Penha lançou o livro “Sobrevivi…posso
contar”, onde relata as agressões sofridas por ela e por suas três filhas.
Posteriormente, devido à falta de efetividade da justiça, Maria da Penha formalizou uma
denúncia à Comissão Interamericana de Direitos Humanos, pois a legislação brasileira não
respondia de forma satisfatória por não haver medidas de punição adequadas. Criada com o
intuito de reparação e justiça para conter e prevenir a violência doméstica e familiar contra a
mulher, configurando-se como violência qualquer ação ou omissão, baseada no gênero que lhe
cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial (art.5°,
Lei 11.340/2006), em conformidade com o artigo 226, § 8º, da Constituição Federal de 1988 a
Lei Maria da Penha, além de reconhecer a violência contra mulheres como violação dos direitos
humanos, propôs uma política nacional de enfrentamento à violência doméstica e familiar,
alterando o Código Penal Brasileiro, estabelecendo a prisão em flagrante ou a decretação de
prisão preventiva dos agressores, aumentando também a pena máxima, de 01 (um) para 03 (três)
anos. A amplitude da Lei ampara todas as pessoas que se identifiquem com o sexo feminino,
sendo heterossexuais, homossexuais e mulheres transexuais.
Estão classificados cinco tipos de violência doméstica e familiar contra a mulher na Lei
Maria da Penha: física, psicológica, moral, sexual e patrimonial − Capítulo II, art. 7º, incisos I,
II, III, IV e V.
A violência física consiste naquela entendida como qualquer conduta que ofenda a
integridade ou saúde corporal da mulher. Cometida por meio da força física, por meio de
queimaduras, mutilações, pontapés, entre outros.
É uma forma brusca de violência em relação ao risco à saúde da vítima, haja vista que
geralmente ela deixa marcas bastante evidentes no corpo da ofendida, além, é claro, do risco à
vida.
No que concerne à violência psicológica, são ações que causam danos emocionais e
diminuição da autoestima, ou que queira degradar ou a controlar seus comportamentos, crenças
e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento,
vigilância constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem, violação de sua intimidade,
ridicularização, exploração e limitação do direito de ir e vir, ou qualquer outro meio que cause
prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação. Muitas vezes a vítima nem se dá conta de
que agressões verbais, ameaças, silêncios prolongados, tensões, manipulações de atos e desejos
configuram violência e devem ser denunciadas.
Segundo Cunha & Pinto (2013, p.61) por violência psicológica, entende-se a agressão
emocional (tão ou mais grave que a física).
Prosseguindo pela violência sexual que baseia-se fundamentalmente na desigualdade
entre homens e mulheres. Diante disto, definida por ações que desprezem ou diminuam, sexo
sem consentimento ou exposição da vítima, a fazer aborto, a usar anticoncepcionais contra a
sua vontade ou quando a vítima sofre violação sexual, por meio de intimidação, ameaça, coação
ou uso da força; que a induza a comercializar ou a utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade.
É de suma importância evidenciar que o sexo sem consentimento é violência sexual, inclusive
em situações entre marido e mulher.
A violência sexual, para esta lei, abrange outras formas de violência, e não só aquela
que diz respeito a ato sexual em si. Veja que se enquadra nesse tipo de violência a oposição de
olhar imagens pornográficas, o impedimento de utilização de métodos contraceptivos, o
matrimônio forçado ou a imposição de aborto (SALDANHA, 2011, p. 14).
A violência moral que demanda ações que desonram a mulher diante da sociedade com
mentiras ou ofensas. É também acusá-la publicamente de ter praticado crime. Como exemplos,
citamos: insultos, acusações maledicentes, calunias, ocasionando traumas e problemas
psicológicos.
Art. 22. À Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres compete assessorar direta
e imediatamente o Presidente da República na formulação, coordenação e articulação
de políticas para as mulheres, bem como elaborar e implementar campanhas
educativas e antidiscriminatórias de caráter nacional, elaborar o planejamento de
gênero que contribua na ação do governo federal e demais esferas de governo, com
vistas na promoção da igualdade, articular, promover e executar programas de
cooperação com organismos nacionais e internacionais, públicos e privados, voltados
à implementação de políticas para as mulheres, promover o acompanhamento da
implementação de legislação de ação afirmativa e definição de ações públicas que
visem ao cumprimento dos acordos, convenções e planos de ação assinados pelo
Brasil, nos aspectos relativos à igualdade entre mulheres e homens e de combate à
discriminação, tendo como estrutura básica o Conselho Nacional dos Direitos da
Mulher, o Gabinete e até três Subsecretarias.
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Diante de sua importância, a Lei Maria da Penha foi, inclusive, considerada pela
Organização das Nações Unidas (ONU) como a terceira melhor lei do mundo no combate à
violência contra a mulher. Nesse contexto, tendo em vista as contribuições para o enfrentamento
à violência doméstica e familiar contra a mulher, passaremos a analisar algumas das
inovações/avanços trazidos pela referida lei.
Uma das principais inovações trazidas pela Lei Maria da Penha foi a retirada dos crimes
de violência doméstica e familiar contra a mulher da esfera da Lei nº 9.099/95 (Dispõe sobre
os Juizados Especiais Cíveis e Criminais e dá outras providências), conhecida por lei dos
Juizados Especiais.
No contexto da Lei dos Juizados, a violência doméstica e familiar contra a mulher era
tratada como crime de menor potencial ofensivo. Nesse contexto, as penas eram reduzidas a
realização de trabalhos comunitários ou ao pagamento de cestas básicas, não havendo uma
punição mais rigorosa ao autor da violência, o que de certa forma acabava banalizando esse
tipo de violência. Acrescente-se o fato de que, mesmo após realizar a denúncia, a vítima ainda
tinha que levar a intimação até o agressor.
Diante dessa realidade, a Lei Maria da Penha em seu art. 41 expressamente deixou claro
que independentemente da pena prevista, não se aplica a Lei nº 9.099/95 aos crimes praticados
com violência doméstica e familiar contra a mulher. Além disso, em seu art. 17
terminantemente vedou a aplicação de penas de cesta básica, de prestação pecuniária ou
substituição de pena que implique o pagamento isolado de multa.
Dessa forma, com a Lei Maria da Penha veio a identificação do elevado potencial
ofensivo da violência doméstica e familiar contra a mulher, com medidas para prevenir,
proteger e penalizar (SENADO FEDERAL, 2017).
Tal inovação representa um significativo avanço na medida em que deixou de tratar a
violência doméstica e familiar contra a mulher como crime de menor potencial ofensivo em que
se desconsiderava os reflexos da violência na vida da mulher. Trazendo, assim, maior
visibilidade e sensibilidade a condição das mulheres em situação de violência.
17
A partir da Lei Maria da Penha, foi prevista a criação dos Juizados de Violência
Doméstica e Familiar contra a Mulher para o processo, julgamento e execução das causas
decorrentes do crime de violência doméstica e familiar contra a mulher, ressalte-se que tais
Juizados possuem competência cível e criminal, nos termos do art. 14:
Além disso, a referida lei foi além e considerou a situações em que ainda não existam
os respectivos Juizados, de modo que as varas criminais possuirão competências cível e
criminal:
Art. 22. Constatada a prática de violência doméstica e familiar contra a mulher, nos
termos desta Lei, o juiz poderá aplicar, de imediato, ao agressor, em conjunto ou
separadamente, as seguintes medidas protetivas de urgência, entre outras:
I - suspensão da posse ou restrição do porte de armas, com comunicação ao órgão
competente, nos termos da Lei nº 10.826, de 22 de dezembro de 2003 ;
II - afastamento do lar, domicílio ou local de convivência com a ofendida;
III - proibição de determinadas condutas, entre as quais:
a) aproximação da ofendida, de seus familiares e das testemunhas, fixando o limite
mínimo de distância entre estes e o agressor;
b) contato com a ofendida, seus familiares e testemunhas por qualquer meio de
comunicação;
c) freqüentação de determinados lugares a fim de preservar a integridade física e
psicológica da ofendida;
IV - restrição ou suspensão de visitas aos dependentes menores, ouvida a equipe de
atendimento multidisciplinar ou serviço similar;
V - prestação de alimentos provisionais ou provisórios.
VI – comparecimento do agressor a programas de recuperação e reeducação; e
(Incluído pela Lei nº 13.984, de 2020)
VII – acompanhamento psicossocial do agressor, por meio de atendimento individual
e/ou em grupo de apoio. (Incluído pela Lei nº 13.984, de 2020) (BRASIL,2006,
grifo nosso)
Essas medidas obrigam o agressor a não praticar condutas que coloquem a vítima em
situação de risco. Nesse contexto, é importante destacar que tais medidas não impedem a
aplicação de outras previstas na legislação em vigor. Além disso, conforme o art. 24-A da Lei
Maria da Penha, o descumprimento da decisão judicial que defere as medidas protetivas de
urgência configura crime com pena de detenção de 3 (três) meses a 2 (dois) anos.
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Art. 23. Poderá o juiz, quando necessário, sem prejuízo de outras medidas:
I - encaminhar a ofendida e seus dependentes a programa oficial ou comunitário de
proteção ou de atendimento;
II - determinar a recondução da ofendida e a de seus dependentes ao respectivo
domicílio, após afastamento do agressor;
III - determinar o afastamento da ofendida do lar, sem prejuízo dos direitos relativos
a bens, guarda dos filhos e alimentos;
IV - determinar a separação de corpos.
V - determinar a matrícula dos dependentes da ofendida em instituição de educação
básica mais próxima do seu domicílio, ou a transferência deles para essa instituição,
independentemente da existência de vaga. (Incluído pela Lei nº 13.882, de
2019)
Art. 24. Para a proteção patrimonial dos bens da sociedade conjugal ou daqueles de
propriedade particular da mulher, o juiz poderá determinar, liminarmente, as seguintes
medidas, entre outras:
I - restituição de bens indevidamente subtraídos pelo agressor à ofendida;
II - proibição temporária para a celebração de atos e contratos de compra, venda e
locação de propriedade em comum, salvo expressa autorização judicial;
III - suspensão das procurações conferidas pela ofendida ao agressor;
IV - prestação de caução provisória, mediante depósito judicial, por perdas e danos
materiais decorrentes da prática de violência doméstica e familiar contra a ofendida.
Parágrafo único. Deverá o juiz oficiar ao cartório competente para os fins previstos
nos incisos II e III deste artigo. (BRASIL,2006, grifo nosso).
Tem-se, assim, uma expansão das atividades policiais, tornando a atuação da polícia
ainda mais relevante no atendimento às mulheres em situação de violência doméstica e familiar,
apesar das dificuldades encontradas para efetivação desse atendimento nos termos da Lei Maria
da Penha. Dentre essas dificuldades destacam-se a insuficiência de equipamentos públicos para
o atendimento das mulheres, por exemplo, as Delegacias Especializadas de Atendimento à
Mulher – DEAMs, além da dificuldade de capacitação de profissionais para o atendimento a
mulheres em situação de violência, visto que algumas vezes os próprios profissionais possuem
representações de gênero que acabam reproduzindo a violência.
Conforme o art. 16 da Lei Maria da Penha, nas ações penais públicas condicionadas a
representação da ofendida, só é admitida a renúncia à representação perante um juiz, em
audiência designada para tal finalidade e antes do recebimento da denúncia, ouvido o ministério
público.
Tal dispositivo, além de buscar garantir maior segurança na continuidade dos atos
processuais, visa avaliar a situação de risco da mulher por magistrados e Ministério Público
para acatamento ou não do pedido de arquivamento (SENADO FEDERAL, 2017). Ou seja,
busca-se analisar se aquela retratação é fruto legítimo da vontade da vítima ou se ela está sob
ameaça ou constrangimento. Além disso, por se tratar de direito subjetivo da mulher, somente
ela poderá requerer, cabendo apenas nos crimes que dependem da representação da ofendida,
como por exemplo, o crime de ameaça.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
por muito tempo atos violadores de direitos das mulheres não eram vistos como violência. Além
disso, foi abordado especificamente aspectos da violência doméstica e familiar contra a mulher.
Dando continuidade, o item 2 buscou discutir acerca da Lei Maria da Penha no
enfrentamento à violência contra a mulher, onde foi pontuada a origem da Lei, a tipificação da
violência contra a mulher, bem como o enfrentamento à violência contra a mulher. Objetivando,
além de discorrer sobre a criação da referida lei, abordar as formas de violência contra a mulher
tipificadas e analisar a questão do enfrentamento também sob o aspecto preventivo.
Finalmente, o item 3 foi dedicado à discussão acerca das contribuições, avanços e
desafios no enfrentamento à violência doméstica e familiar contra a mulher a partir da Lei Maria
da Penha, tendo em vista à análise de algumas das inovações e avanços trazidos pela referida
lei.
Nesse sentindo, restou cristalina a importância da Lei Maria da Penha no enfrentamento
à violência doméstica e familiar contra a mulher, representando, assim, um avanço.
Considerando que o seu objetivo é a criação de mecanismos para prevenir e coibir a violência
doméstica e familiar contra a mulher, trouxe diversas inovações para enfrentar esse tipo de
violência.
Dentre as inovações, destacam-se, a definição da violência doméstica e familiar contra
a mulher baseada do gênero; o estabelecimento das formas de violência doméstica e familiar
contra a mulher; a vedação à aplicação da lei nº 9.099/95 a esses tipos de crime; a criação dos
Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher; a instituição das Medidas
Protetivas de Urgência; a ampliação da atuação da autoridade policial, a previsão de políticas
públicas articuladas para o enfrentamento integral desse tipo de violência, além da possibilidade
de comparecimento do agressor à programas de recuperação e reeducação, dentre tantas outras
inovações e avanços.
Apesar dos desafios para sua aplicação, conforme alguns foram expostos, a Lei Maria
da Penha se mostra não só importante, mas também necessária, na medida em que não visa
apenas a punição dos agressores, mas também se destina a prevenção da violência. Representa,
dessa forma, um importante instrumento de proteção e visibilidade aos direitos humanos das
mulheres, trazendo significativa contribuição ao enfrentamento da violência doméstica e
familiar contra a mulher.
24
REFERÊNCIAS
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