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A nova gestão no agronegócio

No passado, produtores rurais exerciam menos atividades no decorrer do ano. Sua rotina consistia na compra de
insumos, na condução da lavoura, do plantio à colheita, e na venda da produção em armazém. Atualmente, esta
rotina é diferente. Com o cultivo da segunda safra, o agricultor passou a exercer mais atividades na lavoura. Isto
aliado à necessidade de se atualizar sobre as novas tecnologias e novas alternativas de comercialização no
mercado, o que requer do produtor atribuições que extrapolam as divisas de sua propriedade.
Hoje há mecanismos que permitem ao agricultor fixar preços de venda do produto antes da colheita, como a
comercialização antecipada da produção por meio de contratos futuros. Assim, surgiu a necessidade de
conhecimento e acompanhamento do mercado agropecuário, que é influenciado: pela cotação dos preços das
commodities nas Bolsas de Valores e Mercadorias, onde ocorrem as negociações e a formação dos preços futuros;
pelo valor do dólar; pelas estimativas de safras, tanto mundial quanto nacional/local; pelo quadro de oferta e
demanda de produção; entre outros. Isto porque, a agricultura está inserida no denominado “mercado de
concorrência perfeita”, onde quem tem os piores resultados são excluídos, recusando desempenhos ruins.
Um bom exemplo disso foi o rápido crescimento dos grandes grupos produtores de Mato Grosso. Em 2005, a área de
soja plantada pelos 20 maiores grupos foi de 500 mil hectares, o que representava 8% dos 6,11 milhões de hectares
plantados em todo o Estado. Em 2013, a área plantada pelos mesmos 20 grupos foi de 1,49 milhões de hectares, ou
seja, um crescimento de 197%, enquanto a área total de Mato Grosso evoluiu 29%, totalizando 7,89 milhões de
hectares cultivados.
Vale ressaltar que o aumento das áreas destes grupos foi mais intenso nos anos de crise ou após eles. O que
confirma a necessidade de uma gestão eficiente do pequeno e médio agricultor, para que não sejam englobados
pelos grandes grupos.
Atualmente, o produtor rural não deve se considerar apenas um simples fazendeiro, mas sim um empresário rural,
devido ao valor da terra e do maquinário agrícola. Um agricultor que possui uma área de lavoura a partir de 50
hectares, levando em consideração o preço das áreas agricultáveis, de R$ 20.000,00 por hectare, pode ser
considerado um milionário.
Assim, a necessidade de uma gestão eficiente foi gerada pelo próprio negócio e seu tripé deve contemplar as
exigências ambientais, sociais e econômicas. A primeira está relacionada à mudança de percepção da sociedade
sobre a necessidade de preservar o meio ambiente e à adequação dos produtores às novas regras do Código
Florestal. A social situa-se pela preocupação maior com os trabalhadores, que pode ocorrer pelo cumprimento das
normas regulamentadoras criadas para estabelecer preceitos, que devem ser observados nas organizações e nos
ambientes de trabalho, tornando compatíveis os planejamentos e o desenvolvimento das atividades. E a econômica,
pelo respeito ao dinheiro do produtor. Não adianta a produção de uma propriedade rural ser ambientalmente e
socialmente correto, sem retorno econômico.
Neste cenário, a tomada de decisão deve ser com base em fatos e números, e não no “achismo”. A elaboração de
um planejamento estratégico é muito importante neste sentido, onde o produtor deve determinar quais são os
objetivos, as metas para cada objetivo, as estratégias para atingir as metas determinadas e as ações que serão
realizadas na execução do plano.
Com isso o agricultor pode determinar os próximos passos e decidir: “Está na hora de aumentar a área? Eu tenho
capacidade para isso? Ou seria melhor trocar as máquinas para ser mais eficiente? Meus funcionários estão
capacitados para conduzir as máquinas mais modernas? Está no momento certo de comprar insumos? E de vender a
minha produção? Os preços estão em movimentos de alta ou de baixa? Qual é o retorno que eu espero sobre o meu
capital investido?” São questões que um planejamento bem elaborado pode auxiliar na hora de bater o martelo.
Uma gestão eficaz pode abrir portas ao produtor, trazendo algumas oportunidades e benefícios. O financiamento em
bancos oficiais ou estrangeiros pode ser facilitado, além da possibilidade de aquisição de recursos com outras fontes,
como fundos de investimentos voltados para a agricultura, que podem apresentar menores taxas de juros em
comparação aos financiamentos convencionais. Mas para isso é necessário a apresentação de um projeto bem
estruturado, uma vez que nenhuma instituição financeira arriscaria investir seu capital a um tomador de empréstimos,
sem a projeção de retorno do investimento e conhecimento de quais são os riscos, as ameaças, as oportunidades e
as forças existentes.
O produtor atual, ou seja, o empresário rural deve utilizar seu conhecimento e as informações de mercado no
planejamento e na tomada de decisão no exercício das atividades em sua propriedade. Deve estar atento às
oportunidades que podem auxiliá-lo, como o ingresso em cooperativas ou pools de compra e/ou de vendas, o que
permite maior capacidade de barganha na compra de insumos ou na venda da produção, podendo resultar em
redução de custo de produção e aumento da receita.
Outra oportunidade pode ser a certificação da produção para fornecer alimentos para os mercados mais exigentes.
Com uma gestão eficiente, este processo pode ser um marketing próprio e trazer benefícios na hora da venda da
produção.
Além disso, um negócio bem-sucedido pode aumentar a probabilidade de ocorrer uma sucessão familiar bem-
sucedida, porque se a empresa rural for eficiente e gerar lucro, isto incentivará os filhos a continuar no negócio.
Gerenciar uma empresa do agronegócio atualmente é mais do que conduzir as atividades dentro da porteira. É
gerenciar diversos fatores externos que podem influenciar diretamente nos resultados. O mercado está aí: pronto
para alavancar quem sobressair ou derrubar quem falhar.
(*) Otávio Behling é administrador e trainee do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea).

http://www.atribunamt.com.br/?p=128647

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