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RESUMO

O diagnóstico de morte encefálica traz consigo a urgência da entrevista


familiar para que o seu posicionamento quanto a doação de órgãos seja conhecido,
e se possível, para que a doação seja rapidamente efetivada, pois a deterioração
dos órgãos após a morte do paciente acontece de forma veloz. A retirada de órgãos
para fins de transplante e tratamento é regulamentada por lei, e só poderá ser
autorizada após a realização, no doador, de todos os testes de triagem diagnóstica
em intervalos de tempo variáveis, próprios para determinadas faixas etárias. Sua
notificação à Central de Notificação, Captação e Distribuição de Órgãos e Tecidos é
compulsória para todos os estabelecimentos de saúde, desde a suspeita diagnóstica
de morte encefálica. A doação de órgãos hoje é um importante passo para a
reabilitação e para o aumento na expectativa de vida do ser humano. O transplante
de órgãos exige uma técnica cirúrgica complexa e de grande porte associada à
dificuldade de gerenciar pacientes imunossuprimidos e à constante escassez de
órgãos. Durante a pandemia da COVID-19, as Organizações de Procura de Órgãos
(OPOs) sofreram modificações no funcionamento de suas atividades e o impacto
disso, a longo prazo, é algo a se considerar. O objetivo deste estudo é descrever e
quantificar, utilizando-se da análise de prontuários de potenciais doadores de órgãos
atendidos em um hospital de Manaus (AM), do ano de 2016 a 2020, determinando
assim quais são as causas que levam a não efetivação da doação de órgãos e
tecidos no estado do Amazonas nos últimos anos. É um estudo descritivo,
exploratório, transversal, documental, retrospectivo e com abordagem quantitativa.
Será realizado a partir de um banco de dados construído por prontuários de
pacientes oriundos de hospitais públicos e privados da cidade de Manaus-AM com
diagnóstico de morte encefálica e acompanhados por uma organização de procura
de órgãos (OPO). A variável desfecho do estudo será avaliada a partir dos motivos
que levaram a não efetivação da doação de órgãos destes pacientes, a saber:
Contraindicações Médicas, Problemas Logísticos e Recusa Familiar. A organização
dos dados será realizada utilizando a planilha eletrônica Excel 2013 para Windows,
tais dados serão dispostos e apresentados sob forma de tabela para análise dos
resultados. Ter conhecimento sobre quais são os principais motivos que levam a não
efetivação da doação de órgãos pode possibilitar novas ferramentas para que os
profissionais atuantes no processo de doação e transplante possam realizar este
processo de forma direcionada e adequada, obtendo assim mais órgãos e tecidos
para transplante.

ABSTRACT

The diagnosis of brain death brings with it the urgency of the family interview so that
their position regarding organ donation be known, and if possible, so that the
donation can be quickly effected, since the deterioration of organs after the patient's
death occurs in a hurry. The removal of organs for the purpose of transplantation and
treatment is regulated by law, and can only be authorized after performing, on the
donor, all diagnostic screening tests at variable time intervals, suitable for certain age
groups. Its notification is mandatory for all health establishments situated in Brazil, of
all those cases diagnosed with suspected brain death. Organ donation today is an
important step towards rehabilitation, and it increases human life expectancy. Organ
transplantation requires a complex and large surgical technique associated with the
difficulty of managing immunosuppressed patients and the constant shortage of
organs. During the COVID-19 pandemic, Organ Procurement Organizations (OPOs)
have undergone changes in the way they operate, and the long-term impact of this is
something to consider. The objective of this study is to describe and quantify, using
the analysis of medical records of potential organ donors treated at a hospital in
Manaus (AM), from 2016 to 2020, thus determining what are the causes that lead to
the non-effectiveness of the organ and tissue donation in the state of Amazonas in
the past few years. It is a descriptive, exploratory, cross-sectional, documentary,
retrospective study with a quantitative approach. It will be managed from a database
built by medical records of patients from public and private hospitals in the city of
Manaus-AM with a diagnosis of brain death and accompanied by an organ
procurement organization (OPO). The outcome variable of the study will be evaluated
based on the reasons that led to the non-effectiveness of the organ donation of these
patients, namely: Medical Contraindications, Logistical Problems and Family Refusal.
The organization of the data will be managed using the Excel 2013 spreadsheet for
Windows, such data will be arranged and presented in the form of a table for analysis
of the results. Knowing what are the main reasons that lead to the non-effectiveness
of organ donation can provide new tools so that professionals working in the donation
and transplantation process can carry out this process in a directed and appropriate
way, thus obtaining more organs and tissues for transplantation.

INTRODUÇÃO

A morte de um ente querido é um momento delicado e traumático para o


núcleo familiar, e traz à tona uma série de sentimentos muitas vezes conflitantes. O
diagnóstico de morte encefálica é acompanhado da entrevista familiar realizada por
um profissional de saúde para que o posicionamento dessa família em relação a
doação de órgãos seja conhecido, e se possível, para que a doação seja
rapidamente efetivada, visto que a deterioração dos órgãos após a morte do
paciente acontece de forma veloz. Esta pressa acerca da entrevista por vezes leva a
família a tomar decisões precipitadas, embasadas em fatores muito mais subjetivos
e emocionais do que objetivos. É notável que este turbilhão de sentimentos e
conflitos leva inúmeras vezes a não doação de órgãos saudáveis, órgãos estes que
poderiam salvar muitas vidas.
A retirada de órgãos para fins de transplante e tratamento é regulamentada
por lei, e só poderá ser autorizada após a realização, no doador, de todos os testes
de triagem diagnóstica em intervalos de tempo variáveis, próprios para determinadas
faixas etárias. Sua notificação à Central de Notificação, Captação e Distribuição de
Órgãos e Tecidos é obrigatória e compulsória para todos os estabelecimentos de
saúde, desde a suspeita diagnóstica, independentemente da intenção familiar de
doação ou da condição clínica do potencial doador (ABTO, 2014).
O processo de doação de órgãos e tecidos é formado por etapas distintas, as
quais são compostas pela: busca ativa do possível doador, paciente com critérios
clínicos para iniciar o diagnóstico de morte encefálica (ME); identificação, avaliação
e validação do potencial doador (PD) de órgãos e tecidos, paciente com diagnóstico
de ME concluído; manutenção hemodinâmica desse PD; realização da entrevista
familiar; logística da retirada, transporte e distribuição dos órgãos e tecidos,
conforme critérios definidos pela legislação (BRASIL, 1997, Decreto nº 9.175).
Há, no mundo todo, um desequilíbrio entre a oferta e a demanda por órgãos
para transplantes. Muitas respostas para essa questão advém de estudos
comparativos entre famílias doadoras e não doadoras de órgãos (RECH, 2012).
Os doadores vivos podem doar medula óssea, um dos rins, parte do fígado e
parte do pulmão. Já os doadores não vivos em morte encefálica, possibilitam a
doação de coração, pulmões, rins, córneas, fígado, pâncreas, ossos, tendões, veias
e intestino (PEREIRA, 2012).
O potencial doador é o paciente com diagnóstico de ME, no qual tenham sido
descartadas as contra indicações clínicas que representam riscos aos receptores
dos órgãos (SES-SP, 2008).
Ademais, quando se aborda a necessidade de transplantes no Brasil, há
outros fatores associados a considerar. Entre tais fatores, destacam-se as baixas
taxas de notificação de potenciais doadores e de efetivação da doação, atribuíveis a
contraindicações médicas, recusa dos familiares, desejo de não doação por parte do
potencial doador em vida, demora no diagnóstico de morte encefálica, crenças
religiosas ou culturais, além de falta de conhecimento e informação sobre doação de
órgãos (IRVING, 2012).

METODOLOGIA

Estudo descritivo, exploratório, transversal, documental, retrospectivo e com


abordagem quantitativa, foi realizado a partir de um banco de dados construído por
prontuários de pacientes, oriundos de hospitais públicos e privados da cidade de
Manaus-AM com diagnóstico de morte encefálica e acompanhados por uma
organização de procura de órgãos (OPO). A variável desfecho do estudo será
avaliada a partir dos motivos que levaram a não efetivação da doação de órgãos
destes pacientes, a saber: Contraindicações Médicas, Problemas Logísticos e
Recusas Familiares.
A construção do banco de dados iniciou com a avaliação de prontuários de
pacientes suspeitos de morte encefálica, sendo elegíveis somente aqueles com
diagnóstico de morte encefálica concluída e que resultaram na não efetivação da
doação. Os prontuários de pacientes cujos órgãos foram doados ou com registros
incompletos serão excluídos desta análise.
Na tabela abaixo estão listadas as principais causas da não-efetivação da
doação em morte encefálica, esta tabela se encontra no formulário III de Notificação
de Abertura de Protocolo para Diagnóstico de ME no estado do Amazonas. Tais
formulários assinalados encontram-se no banco de dados, e serão o objeto de
estudo deste projeto de pesquisa.

A tabela acima se encontra no Formulário III utilizado na notificação de


abertura de protocolo para diagnóstico de Morte Encefálica, utilizado pela Secretaria
de Estado de Saúde na Central de Transplantes do Amazonas.

RESULTADOS

Os dados desta pesquisa foram obtidos a partir da análise de 313 protocolos


de morte encefálica abertos do ano de 2016 a 2020 que se encontram no banco de
dados de um hospital de grande porte na cidade de Manaus - AM. Destes
protocolos, 63 resultaram em doações de órgãos efetivadas, e 250 em não
efetivações de doação. São o alvo deste presente estudo os 250 casos de não
efetivação de doação. Tal estudo possibilitou analisar as atuais causas que lideram
a não efetivação da doação no estado do Amazonas, avaliando suas principais
motivações, assim como a quantidade de protocolos de morte encefálica abertos
neste período de tempo.
Tabela 1 – Os três grupos de causas da não efetivação de doação de órgãos e a
sua ocorrência quantificada durante o período de tempo analisado (2016-2020).

Causa Casos

Problemas Logísticos / Estruturais / 135


Outros

Recusa Familiar 63

Contra Indicação Médica 52

Total 250

Na Tabela 1 é possível observar as principais causas da não efetivação da


doação de órgãos no estado do Amazonas no período analisado, e
surpreendentemente os problemas logísticos e estruturais apresentaram-se como a
principal causa, indo na contramão do que se observa no restante do Brasil
conforme demonstram diversos artigos. Isso nos leva a refletir o porquê desta tão
elevada ocorrência estar presente em nosso estado e no que pode ser feito para
diminuir nos anos seguintes esses números.
A seguir está a análise detalhada de cada um dos três grupos de causas.

Tabela 2 – Quantidade de problemas logísticos e estruturais no período de 2016 a


2020, e suas subcausas.

PROBLEMAS LOGÍSTICOS / ESTRUTURAIS / OUTROS

casos código causa porcentage


m

116 25 PCR - antes da finalização 85.92%


do protocolo

10 26 PCR - antes da entrevista 7.40%


1 27 PCR - antes da cirurgia de 0.74%
retirada

1 28 equipe de retirada não 0.74%


disponível

4 29 família não localizada 2.96%

1 31 pd sem identificação 0.74%

2 33 outros 1.48%

Total: 135 -- -- 100%

Na Tabela 2, é possível observar a principal causa da não efetivação neste


período, que foram os problemas logísticos e estruturais. A subcausa predominante
foi a Parada Cardiorrespiratória antes da finalização do protocolo (85.92%), seguida
da Parada cardiorrespiratória antes da entrevista com os familiares (7.40%) e da
Família não localizada (2.96%), entre outras subcausas.

Tabela 3 – Quantidade de Recusa Familiar no período de 2016 a 2020, e suas


subcausas.

RECUSA FAMILIAR

casos código causa porcentage


m

1 12 familiares desejam levar o 1.58%


corpo/ residente de outro
município

30 4 familiares desejam o corpo 47.61%


íntegro

10 11 familiares com opiniões 15.87%


divergentes

1 14 outros 1.58%

4 7 convicções religiosas 6.34%

9 2 paciente contrário a doação 14.28%


em vida

4 6 receio de demora na 6.34%


liberação do corpo

1 5 familiares descontentes com 1.58%


o atendimento hospitalar

3 1 desconhecimento do desejo 4.76%


do potencial doador

Total: 63 -- -- 100%

Na Tabela 3 podemos observar a segunda principal causa da não efetivação,


que é a recusa familiar. Suas principais motivações são: familiares desejam o corpo
íntegro (47.61%), familiares possuem opiniões divergentes (15.87%) e o paciente
era contrário a doação enquanto vivo (14.28%), entre outras subcausas.

Tabela 4 – Quantidade de Contra indicações médicas no período de 2016 a 2020, e


suas subcausas.

CONTRA INDICAÇÃO MÉDICA

casos código causa porcentage


m

24 24 outros 46.15%

4 21 fora da faixa etária 7.69%


12 19 infecção grave 23.07%

7 20 portador de neoplasia 13.46%

1 15 sorologia positiva hiv 1.92%

4 22 outras doenças crônico- 7.69%


degenerativas

Total: 52 -- -- 100%

Na tabela 4 obtivemos a terceira causa da não efetivação, que são as contra


indicações médicas. Evidenciou-se a predominância da subcausa “outros” (46.15%),
tais dados não foram fornecidos para uma análise mais minuciosa nesta pesquisa.
Seguido da subcausa Infecção Grave (23.07%) e pacientes portadores de neoplasia
(13.46%), entre outras subcausas.

DISCUSSÃO

Para essa pesquisa foram analisados 313 protocolos de morte encefálica


datadas de 2016 a 2020. Destes protocolos abertos, 63 resultaram em doações de
órgãos efetivadas, e 250 em não efetivações de doação. Observou-se o alto índice
de não efetivação devido a problemas logísticos, seguidos da recusa familiar e de
contra indicações médicas.
A logística é responsável pelo fornecimento de recursos específicos, como o
abastecimento de materiais para uso, agendamento e programação de salas
cirúrgicas, profissionais de qualidade e todas as informações entre as partes que,
muitas vezes, são necessárias no processo (ANDRIOLI, 2015).
As dificuldades logísticas são um dos problemas responsáveis por não serem
concluídas todas as doações de órgãos no Brasil. A falta de ferramentas é uma das
causas que prejudicam na tomada de decisão e para a escolha de voos no
transporte destes órgãos dentro de um limitado período (CARRARA et al., 2014).
A manutenção do possível doador é um ponto importante, porque muitas
vezes falta o entendimento por parte dos profissionais, de que os pacientes em ME
(morte encefálica) são potenciais doadores, necessitam dos mesmos cuidados
intensivos que um paciente com sobrevida/perspectiva de vida (BASSO et al., 2018).
De acordo com a literatura, entre 10 e 20% do total de potenciais doadores
não são efetivados por apresentarem parada cardiorrespiratória irreversível durante
o processo de doação/transplante (ABTO, 2003).
A prioridade das equipes em face de uma aceitação familiar para doação
passa a ser a proteção e a perfusão dos órgãos com o objetivo de garantir o melhor
suporte fisiológico possível para o sucesso dos transplantes (PESTANA et al., 2013).
Observando o banco de dados, é possível concluir que 50.8% dos potenciais
doadores do Amazonas no período analisado sofreram parada cardiorrespiratória
antes de efetivar a doação, o que pode ser explicado pelo fato de que a maioria dos
pacientes não estavam sob os cuidados da unidade de tratamentos intensivos
recomendada para tal situação em que o organismo se encontrava, ou mesmo que
os cuidados intensivos não foram minimamente efetivos)para a conservação do
estado fisiológico adequado, pois, segundo Santos (2021), em casos de morte
encefálica (ME) o corpo necessita de monitorização hemodinâmica contínua, pois
ocorrem nesses pacientes a perda do tônus simpático, gerando uma profunda
vasodilatação e hipotensão arterial grave, sendo esta a alteração fisiológica mais
grave da ME, ocasionando uma disfunção cardiovascular grave que se não tratada
pode progredir para uma parada cardíaca (Santos, 2021).
Os problemas de estrutura impedem de 5 a 10% dos potenciais doadores
efetivarem a doação. São comuns em hospitais de menor resolubilidade, que podem
apresentar falta de leitos em UTIs; laboratórios sem condições para realizar as
sorologias necessárias; falta de equipamentos para o diagnóstico de morte
encefálica; impossibilidade de transporte do potencial doador (ABTO, 2003).
Quanto à autorização familiar, a lei 10. 211 de 23 de março de 2015 deixa
claro que a retirada dos órgãos só ocorrerá após a realização de todos os exames e
da autorização expressa do cônjuge ou parente de primeiro grau, maior de idade.
Sendo então possível a negação da família caso não seja a favor da doação. A
recusa familiar é um dos obstáculos para a não realização do transplante,
colaborando com a escassez de órgãos e a consequente diminuição do número de
doadores efetivos (CAJADO, 2016).
A família é o principal componente para que ocorra a doação de órgãos, e
para promover resultados positivos da doação, os profissionais de saúde precisam
facilitar o processo (AHMADIAN; RAHIMI; KHALEGHI, 2019).
É necessário agir com objetividade e clareza durante a transmissão de
informação para os familiares do doador para assim ajudar no processo de tomada
de decisão. Nessa perspectiva, a família é considerada como elemento principal
desse processo e deve ser informada e esclarecida sobre o quadro do seu ente
querido, para que, no momento da decisão, possa fazê-la com independência.
Todas essas fases denotam a complexidade do processo de doação de órgãos
(MACHADO et al., 2015).
Considerando que a doação depende exclusivamente de autorização familiar,
a ampliação do debate sobre o tema torna-se importante, pois a falta de
conhecimento por parte da população e o medo da comercialização de órgãos
dificulta o processo de doação, sendo reflexo da pouca divulgação no contexto
nacional. Em relação às recusas ligadas à religião, no Brasil os indivíduos que
apresentam fortes crenças religiosas tendem a ter atitudes menos favoráveis à
doação de órgãos, sendo mais propensos a se opor à doação (PESSOA;
SCHIRMER; ROZA, 2013).
A abordagem familiar dos potenciais doadores também faz parte das
condutas de enfermagem, visto ser uma abordagem multiprofissional. Esse ponto é
um dos mais críticos do processo de doação, visto o grande obstáculo interposto
pelos familiares. O trabalho com a família, respeitando seus limites, é essencial para
boa efetivação do transplante (FORMANEK e SCHÖFFSKI, 2010).
Outro fator que é complicador do processo de doação é a demora na remoção
dos órgãos, já que provoca sofrimento à família, tornando a situação angustiante e
aumentando a sensação de impotência mediante o ato da espera (CINQUE e
BIANCHI, 2010).
Pode-se notar que o domínio que o profissional possui sobre a situação pode
ser determinante sob diversos aspectos que podem influenciar significativamente a
decisão de doação. A repercussão das diversas abordagens seja no aspecto
fisiológico com o paciente seja no aspecto psicológico e esclarecedor que o
profissional adota se revela na porcentagem de sucesso em uma doação de órgãos
(MENDES et al., 2012).
Com relação às contraindicações médicas, não podem ser doadores de
órgãos os pacientes portadores de insuficiência orgânica que comprometa o
funcionamento dos órgãos e tecidos doados, como insuficiência renal, hepática,
cardíaca, pulmonar, pancreática e medular; portadores de doenças contagiosas
transmissíveis por transplante, como soropositivos para HIV, doença de Chagas,
hepatite B e C, além de todas as demais contra-indicações utilizadas para a doação
de sangue e hemoderivados; pacientes com infecção generalizada ou insuficiência
de múltiplos órgãos e sistemas; e pessoas com tumores malignos - com exceção
daqueles restritos ao sistema nervoso central, carcinoma basocelular e câncer de
útero - e doenças degenerativas crônicas (BRASIL, 2010, Portaria Nº 2.600).
Ao longo dos anos, observa-se envolvimento significativo dos enfermeiros no
processo de doação de órgãos e tecidos. Esse processo é composto por diferentes
etapas, as quais exigem conhecimento legal e científico, cuidado, sensibilidade,
tomada de decisão e, acima de tudo, humanização e respeito para com a dor do
outro. Compreende-se que o enfermeiro é o profissional responsável pela gestão e
supervisão do cuidado em cada etapa deste processo, visando torná-lo mais ágil,
seguro e efetivo (CASTRO et al., 2018; e KNIHS et al., 2020).
Com a regulamentação do transplante de órgãos no País, o Conselho Federal
de Enfermagem (COFEN), na Resolução n. 292/2004, resolveu que ao Enfermeiro
incumbe planejar, executar, coordenar, supervisionar e avaliar os procedimentos de
Enfermagem prestados ao doador de órgãos e tecidos. Uma das ações é notificar às
Centrais de Notificação, Captação e Distribuição de Órgãos (CNCDO), a existência
de potencial doador (CFM, 1997).
Uma abordagem mais assertiva depende do conhecimento e experiências
profissionais ou pessoais vivenciadas. Quanto mais abordagem o profissional tiver
realizado, mais ele será capaz de reconhecer precocemente possíveis dificuldades
familiares normalmente evidenciadas, as quais podem ser contornadas,
atenuadamente, e potencializar a possível doação (FREIRE et al., 2015).
A necessidade de melhoria advém de um planejamento e organização do
cuidado, uma vez que os profissionais devem estar atualizados e capacitados para
realizar uma assistência qualificada. Dessa forma, pode-se alcançar maior eficiência,
qualidade e excelência no cuidar, garantindo melhoria contínua desse processo e
beneficiando tanto os profissionais quanto familiares e receptores (LIMA; BATISTA;
BARBOSA, 2013).
CONSIDERAÇÕES FINAIS

A doação e alocação de órgãos é um processo trabalhoso e delicado que


depende da confiança da população no sistema e do comprometimento dos
profissionais de saúde no diagnóstico de morte encefálica. O Brasil é o segundo país
do mundo em número de transplantes e, para consolidar essa conquista, é crucial a
atuação do Ministério da Saúde, dos governos estaduais, das entidades e
profissionais de saúde em todo o processo de doação e transplantes (ABTO, 2021).
Profissionais de saúde com conhecimento sobre quais são os principais
motivos que levam a não efetivação da doação de órgãos podem criar e utilizar
novas ferramentas educacionais, assim como planejar estratégias que os auxiliem
para que o processo de doação e transplante consiga obter mais órgãos e tecidos,
realizando este difícil processo de forma direcionada e adequada, trabalhando de
acordo legislação vigente, atribuindo a este serviço uma maior humanização e
credibilidade. Com estes dados disponíveis e embasando futuras adequações neste
serviço, é possível, por exemplo, corrigir falhas que levam a não conservação
adequada do corpo durante e após o diagnóstico de morte encefálica, assim como
os casos de insatisfação e revolta de familiares com relação à equipe de captação,
entre outra situações frequentes, visando assim reverter as tão elevadas taxas de
não efetivação de doação de órgãos no estado do Amazonas.

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