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HISTÓRIA DO BRASIL III

GRUPO A Faculdade Multivix está presente de norte a sul

MULTIVIX
do Estado do Espírito Santo, com unidades em
Cachoeiro de Itapemirim, Cariacica, Castelo, Nova
Venécia, São Mateus, Serra, Vila Velha e Vitória.
Desde 1999 atua no mercado capixaba,
destacando-se pela oferta de cursos de
graduação, técnico, pós-graduação e
extensão, com qualidade nas quatro áreas
do conhecimento: Agrárias, Exatas,
Humanas e Saúde, sempre primando pela
qualidade de seu ensino e pela formação
de profissionais com consciência cidadã
para o mercado de trabalho.

Atualmente, a Multivix está entre o seleto


grupo de Instituições de Ensino Superior que
possuem conceito de excelência junto ao
Ministério da Educação (MEC). Das 2109 institu-
ições avaliadas no Brasil, apenas 15% conquis-
taram notas 4 e 5, que são consideradas
conceitos de excelência em ensino.

R EE II T O R
R
Estes resultados acadêmicos colocam
todas as unidades da Multivix entre as
melhores do Estado do Espírito Santo e
entre as 50 melhores do país.

MISSÃO

Formar profissionais com consciência


cidadã para o mercado de trabalho, com elevado
padrão de qualidade, sempre mantendo a credibil-
idade, segurança e modernidade, visando à satis-
fação dos clientes e colaboradores.

VISÃO

Ser uma Instituição de Ensino Superior reconheci-


da nacionalmente como referência em qualidade
educacional.

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2 Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017
BIBLIOTECA MULTIVIX (Dados de publicação na fonte)

Alana Milcheski.

História do Brasil III / Milcheski, Alana. - Multivix, 2020.

Catalogação: Biblioteca Central Multivix

2020 • Proibida a reprodução total ou parcial. Os infratores serão processados na forma da lei.

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LISTA DE FIGURAS
> Figura 1: Calendário é uma das formas de contagem do tempo 14
> Figura 2: Fotografia de um livro intitulado “The World's Wonders as
Seen by the Great Tropical and Polar Explorers”, de David Bukach
publicado em Londres, 1883 16
> Figura 3: Nota angolana de 500 escudos, com o poeta português
Luiz de Camões, 1973 17
> Figura 4: Pilha de moedas.  18
> Figura 5: Mapa do Theatro da Guerra, província do Rio Grande do São
Pedro do Sul, 1839 20
> Figura 6: Soldados das Forças Armadas 21
> Figura 7: Oficial e soldado do Império do Brasil, uniformes da Guerra
do Paraguai, Hendrik Jacobus Vinkhuijzen, 1867 23
> Figura 8: Representação de São José de Matura, publicada no Le Tour
du Monde, Paris, 1867  24
> Figura 9: Igreja Nosso Senhor do Bonfim em Salvador, Bahia, Brasil 25
> Figura 10: Dom Pedro II, Delfim da Câmara, 1875 28
> Figura 11: Primeira bandeira do Brasil republicano, 1889 30
> Figura 1: Bandeira do Brasil. 36
> Figura 2: Militares fardados. 37
> Figura 3: Alegoria da República Brasileira, homenagem da Revista
Ilustrada 38
> Figura 4: Modernização  39
> Figura 6: Notas e moedas de diversas países 42
> Figura 7: Diferentes tipos de governo 44
> Figura 8: Mapa indicando o Brasil 45
> Figura 9: Mapa marcando o Rio de Janeiro 47
> Figura 1: Cafezal da Fazenda Ibicaba, 1850, Henrique Manzo 52
> Figura 2: Fluxograma sobre a Política do Café com Leite 53
> Figura 3: Batalhão de Fuzileiros da Guarda Nacional (1840–1845) 54
> Figura 4: Fluxograma sobre o coronelismo 55
> Figura 5: Urna de Votação 57

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4 Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017
> Figura 6: Fluxograma sobre a questão eleitoral 57
> Figura 7: Área rural. 59
> Figura 8: Plantação de café 60
> Figura 9: Fluxograma sobre as crises sociais 62
> Figura 10: Médica aplicando vacina em um paciente 63
> Figura 11: Fluxograma sore os movimentos sociais 65
> Figura 12: Trem antigo. 66
> Figura 13: Guerra do Contestado: Infantaria do corpo de polícia
marchando rumo a zona de combate 67
> Figura 1: As fábricas químicas da BASF em Ludwigshafen, Alemanha.
Robert Friedrich Stieler, 1881 72
> Figura 2: Fábrica têxtil pequena 75
> Figura 3: Gráfico econômico. 77
> Figura 4: Vagões ferroviários nos pátios de carga 78
> Figura 5: Jornais. 79
> Figura 6: Peça publicitária produzida nos EUA em 1890 81
> Figura 7: Vista da cidade Ouro Preto, Minas Gerais. 83
> Figura 8: Rua General Carneiro, São Paulo, 1900 84
> Figura 9: Operários e anarquistas marcham portando bandeiras negras
pela cidade de São Paulo, durante a greve geral de 1917. 86
> Figura 1: Passaporte e dinheiro.  90
> Figura 2: Fluxograma sobre a imigração. 90
> Figura 3: Capa da revista "O Imigrante", 1908 91
> Figura 4: Fluxograma sobre os movimentos sociais 93
> Figura 5: Revolta dos 18 do Forte de Copacabana: da esquerda para
direita, tenentes Eduardo Gomes, Siqueira Campos, Nílton Prado e
o civil Otávio Correia, 1922 93
> Figura 6: Globo antigo.  95
> Figura 7: Capa do Jornal do Brasil no dia 12 de Novembro de 1918 96
> Figura 8: Fluxograma sobre a Crise de 1929. 98
> Figura 9: Queima de estoques de café em Santos, São Paulo 99
> Figura 10: Fluxograma sobre o modernismo 100
> Figura 11: Cartaz anunciando o último dia da semana, 1922 101

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> Figura 12: Fluxograma sobre a “Revolução” de 1930 103
> Figura 13: Cartaz de campanha de Getúlio Vargas para Presidente da
República na eleição de 1930 103
> Figura 1: Aluno produtor do próprio conhecimento. 107
> Figura 2: Professor trabalhando com um aluno no computador. 109
> Figura 3: Jovem estudando em biblioteca 111
> Figura 4: Deodoro da Fonseca numa nota de 500 cruzeiros, 1981.
Primeiro presidente da República do Brasil após o golpe militar que
depôs o imperador Dom Pedro II. 113
> Figura 5: Professora e alunos trabalhando juntos no ensino
fundamental. 115
> Figura 6: Close de uma pilha de fotos vintage de família 117
> Figura 7: Colegas estudando juntas. 119

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SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA 11

UNIDADE 1 1 ANTECEDENTES HISTÓRICOS E PROCLAMAÇÃO DA REPÚBLICA 13


INTRODUÇÃO 13
1.1 ABOLIÇÃO DA ESCRAVIDÃO 13
1.2 REVOLTAS SOCIAIS 17
1.3 QUESTÃO MILITAR 21
1.4 QUESTÃO RELIGIOSA 25
1.5 QUEDA DA MONARQUIA 27
1.6 PROCLAMAÇÃO DA REPÚBLICA 29

UNIDADE 2 2 FORMAÇÃO DOS GOVERNOS MILITARES 33


INTRODUÇÃO 33
2.1 CONCEITO DE NACIONALISMO 34
2.2 REPÚBLICA DAS ESPADAS 37
2.3 CONSTITUIÇÃO DE 1891 40
2.4 GOVERNO DE DEODORO DA FONSECA 42
2.5 GOVERNO DE FLORIANO PEIXOTO 44
2.6 REVOLTAS SOCIAIS 46

UNIDADE 3 3 REPÚBLICA OLIGÁRQUICA E CORONELISMO 51


INTRODUÇÃO 51
3.1 POLÍTICA DO CAFÉ COM LEITE 51
3.2 CORONELISMO 54
3.3 FRAUDES ELEITORAIS 56
3.4 POLÍTICA DE COMPROMISSOS 59
3.5 CRISES SOCIAIS 62
3.6 MESSIANISMO 64

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UNIDADE 4 4 INDUSTRIALIZAÇÃO E URBANIZAÇÃO 71
INTRODUÇÃO 71
4.1 ORIGENS DA INDÚSTRIA 71
4.2 INDUSTRIALIZAÇÃO POR SUBSTITUIÇÃO DE IMPORTAÇÕES  74
4.3 INSTAURAÇÃO DO NACIONAL-DESENVOLVIMENTISMO 77
4.4 PUBLICIDADE E CONSUMO 79
4.5 FORMAÇÃO DOS CENTROS URBANOS 83
4.6 PROCESSO DE URBANIZAÇÃO 85

UNIDADE 5 5 MUDANÇAS SOCIAIS E A CRISE FINAL DA PRIMEIRA REPÚBLICAO 89


INTRODUÇÃO 89
5.1 IMIGRAÇÃO 89
5.2 TENENTISMO 92
5.3 PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL 94
5.4 CRISE MUNDIAL DE 1929 98
5.5 SEMANA DE ARTE MODERNA 100
5.6 “REVOLUÇÃO” DE 1930 E FIM DA REPÚBLICA VELHA 102

UNIDADE 6 6 ABORDAGEM DIDÁTICA DOS CONTEÚDOS REFERENTES À PROCLA-


MAÇÃO E INSTAURAÇÃO DA REPÚBLICA 107
INTRODUÇÃO 107
6.1 ENSINO DE HISTÓRIA 108
6.2 PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM 110
6.3 ASPECTOS DIDÁTICOS SOBRE A PROCLAMAÇÃO DA REPÚBLICA  112
6.4 ASPECTOS DIDÁTICOS SOBRE A REPÚBLICA 114
6.5 ABORDAGENS HISTORIOGRÁFICAS SOBRE A FORMAÇÃO DA
REPÚBLICA 116
6.6 ELABORAÇÃO DE ATIVIDADES PRÁTICAS 118

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ICONOGRAFIA

ATENÇÃO ATIVIDADES DE
APRENDIZAGEM
PARA SABER

SAIBA MAIS
ONDE PESQUISAR CURIOSIDADES

LEITURA COMPLEMENTAR
DICAS

GLOSSÁRIO QUESTÕES

MÍDIAS
ÁUDIOS
INTEGRADAS

ANOTAÇÕES CITAÇÕES

EXEMPLOS DOWNLOADS

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HISTÓRIA DO BRASIL III

APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA
A disciplina História do Brasil III pretende proporcionar uma reflexão sobre
o processo histórico que levou à Proclamação da República, bem como os
acontecimentos que se desenvolveram a partir desse marco cronológico.
Objetiva-se apresentar as mudanças sociais que foram fundamentais para
o surgimento dos governos militares e consequentemente para a formação
da República Oligárquica. A análise do processo de industrialização e urba-
nização, bem como as transformações sociais que culminaram na crise final
da República Velha são aspectos indispensáveis para o estudo desse período,
que se constitui, ao todo, como um conteúdo essencial para a formação do
profissional da área de História.

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HISTÓRIA DO BRASIL III

UNIDADE 1

OBJETIVO
Ao final da
unidade,
esperamos que
você seja capaz
de:

> Compreender o
contexto histórico do
final do império;
> Identificar os
principais fatores
que se constituíram
como antecedentes
da proclamação da
República.

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HISTÓRIA DO BRASIL III

1 ANTECEDENTES HISTÓRICOS E
PROCLAMAÇÃO DA REPÚBLICA

INTRODUÇÃO
A Proclamação da República é um dos eventos mais importantes na História
do Brasil, pois simboliza um período de intensas transformações sociais, cul-
turais, econômicas e políticas.
Esta unidade abordará os antecedentes que levaram ao momento histórico
de Proclamação da República, partindo do entendimento de que esse acon-
tecimento foi consequência de um processo social que começou a se desen-
volver muito antes de 1889. Compreender como esses fatores contribuíram
para a mudança no regime governamental, assim como entender de que
forma eles se relacionaram entre si, constituem os objetivos principais dessa
unidade.
A Proclamação da República brasileira, bem como seus antecedentes e con-
sequências, configura-se como um dos assuntos mais importantes na forma-
ção do profissional da área de História, pois, para entender os acontecimentos
recentes, por exemplo, é fundamental retrocedermos nossa análise para esse
contexto histórico. Esse é um dos conteúdos mais complexos e que envolve
diversos agentes históricos, constituindo-se um assunto fundamental para a
História do Brasil. Aproveite a jornada do conhecimento!

1.1 ABOLIÇÃO DA ESCRAVIDÃO


A ideia de república já estava presente antes de sua proclamação e, embora
seja difícil traçarmos com precisão o surgimento e divulgação das ideias re-
publicanas, podemos encontrar referências a elas em fins do período colonial.
Em termos de cronologia, um marco importante foi a criação do Partido Re-
publicano paulista, no ano de 1870, sendo que a partir desse momento diver-
sos outros partidos começar a surgir pelo país, como um todo. É a partir desse
momento que a ideia da abolição da escravidão se associa de forma mais
direta com a ideia da república, sendo que, para a instauração da república,
foi fundamental a eclosão da abolição.

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HISTÓRIA DO BRASIL III

FIGURA 1: CALENDÁRIO É UMA DAS FORMAS DE CONTAGEM DO TEMPO

Fonte: Plataforma Deduca (2020).

A escravidão iniciou no Brasil ainda durante o período colonial, atingindo o


auge durante o século XVIII, e foi motivada principalmente pela necessidade
de mão de obra barata. O sistema escravocrata gerava lucro para os latifundi-
ários e, em termos culturais, era baseado na ausência da concepção de alte-
ridade.

Alteridade: Capacidade de os seres humanos se


reconhecerem como iguais e/ou pertencentes à mesma
espécie, independentemente das variações físicas ou
culturais, sejam elas de gênero, raça, etnia etc.

Os escravos eram colocados sob o controle direto dos latifundiários, donos


das estruturas territoriais chamadas de plantation, compostas pelo latifúndio
(grande área de terra), pela monocultura e pela existência de escravos. Em
termos do controle exercido pelos latifundiários, podemos destacar a rígida
repressão social que era expressa por punições físicas, assim como a presença
de um discurso social que buscava instituir a noção de inferioridade racial.

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Escarvidão Intensificada Extinta


inicia no em
na colônia século XVIII 1888

As condições de vida dos escravos eram péssimas, pois eram associadas à


busca incessante dos latifundiários por altas taxas de lucratividade, que tam-
bém interferiam na escolha de quais matérias-primas seriam produzidas le-
vando em consideração o consumo externo, sendo que, entre as produções,
podemos destacar as do algodão, do açúcar e do café. Territorialmente, as
primeiras regiões que receberam os fluxos populacionais advindos da escra-
vidão foram o Nordeste, por conta da produção de açúcar, e a região de Minas
Gerais, que na época estava em busca do ouro.
Dessa forma, no que se refere à Proclamação da República, entre os diversos
fatores que levaram a esse acontecimento, a abolição da escravidão é consi-
derada como o principal deles. Nesse sentido, cabe compreendermos como
ocorreu o processo de abolição, sendo que também teve diversas causas,
como: a pressão da Grã-Bretanha, o potencial industrial da época, pela am-
pliação do mercado consumidor; a influência das ideias liberais nos intelec-
tuais do período; e o esgotamento dos ciclos de produção existentes, como o
do ouro.
Os escravos foram então gradativamente sendo substituídos por trabalhado-
res livres, oriundos dos processos de imigração, que em um primeiro momen-
to eram vistos como uma opção lucrativa para os latifundiários, pois, quando
havia uma baixa na produção, os trabalhadores poderiam ser dispensados
de suas funções. Alguns acordos internacionais também foram importantes
para a abolição da escravidão, por exemplo, o Congresso de Viena que ocor-
reu em 1815, no qual Portugal reiterou seu compromisso com a extinção do
tráfico escravista, sendo que tal proposta se oficializou com a promulgação
da Lei Eusébio de Queirós (Lei n. 581), em 1850, proibindo a entrada de escra-
vos no país.
A ação direta dos escravos, como as fugas e a formação dos quilombos, tam-
bém foram fatores fundamentais para o processo de abolição da escravidão,
que efetivou-se com a promulgação da Lei Áurea em 1888, gerando uma rea-
ção negativa por parte dos latifundiários contra o Império.

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FIGURA 2: FOTOGRAFIA DE UM LIVRO INTITULADO “THE WORLD'S WONDERS AS SEEN


BY THE GREAT TROPICAL AND POLAR EXPLORERS”, DE DAVID BUKACH PUBLICADO EM
LONDRES, 1883

Fonte: Plataforma Deduca (2020).

Abolição da escravatura. Grupo Estado, São Paulo,


SP, [s.d.]. Disponível em: https://acervo.estadao.com.br/
noticias/topicos,abolicao-da-escravatura,484,0.htm

A expressão “Lei para inglês ver” – é apontada pela historiografia como tendo
surgido durante esse período, justamente pela diferença entre o que a Lei
Eusébio de Queirós propunha na teoria, e o que acontecia na prática.

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1.2 REVOLTAS SOCIAIS


Até mesmo antes da existência do império, houve diversas revoltas sociais
que questionaram de certa forma a autoridade instituída no período, sendo
possível considerarmos que esses conflitos serviram como fatores que viriam
a influenciar o processo que culminou na Proclamação da República. Por or-
dem cronológica, abordaremos como primeiro conflito a chamada “Inconfi-
dência Mineira”, que ocorreu em 1789, caracterizada como um movimento de
ordem separatista no estado de Minas Gerais.
A principal causa que culminou na Inconfidência Mineira foi a imposição de
uma taxa, imposta por Portugal, sobre o ouro encontrado na região, que pos-
teriormente, com o surgimento das casas de fundição, exigia que todo ouro
fosse transformado em barra; porém, boa parte da população não tinha a
quantidade de ouro suficiente para isso. Com a intensificação das cobranças
reais e simultaneamente o esgotamento das minas de ouro, a situação social
ficou muito crítica, atingindo inclusive as classes mais altas, que começaram
uma conspiração contra o governo.

FIGURA 3: NOTA ANGOLANA DE 500 ESCUDOS, COM O POETA PORTUGUÊS LUIZ DE


CAMÕES, 1973

Fonte: Plataforma Deduca (2020).

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A figura histórica mais conhecida foi o al-


feres Joaquim José da Silva Xavier, tam-
bém conhecido como Tiradentes, que,
após ser capturado com outros líderes do
movimento, foi o único que assumiu sua
participação, sendo posteriormente exe-
cutado e transformado em um mártir so-
A expressão “Libertas Quæ cial.
Sera Tamen” é de origem
latina, sendo que atualmente Outra revolta social que marcou o período
está inscrita na bandeira do antecedente à Proclamação da República,
estado de Minas Gerais. A foi a Revolução Pernambucana, que eclo-
frase foi inspirada num verso
do poeta romano Virgílio, diu em 1817, e teve como causas principais
significando: “liberdade ainda a inspiração das ideias iluministas e libe-
que tardia”. rais, assim como as pesadas cobranças da
corte real. No período, a capitania de Per-
nambuco era economicamente a mais lu-
crativa; por isso, boa parte do dinheiro arrecadado lá, era enviado para o Rio de
Janeiro a fim de sustentar os gastos exorbitantes da Família Real, situação essa
que gerou um descontentamento popular cada vez mais crescente.

FIGURA 4: PILHA DE MOEDAS.

Fonte: Plataforma Deduca (2020).

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Justamente pelo seu alto nível de periculosidade, frente à estrutura estatal do


período, e por defenderem a instauração de uma República liberal, indepen-
dente de Portugal, a Revolução Pernambucana teve a repressão mais violen-
ta de todas.

VILLALTA, L. C. Os contrarrevolucionários de 1817 e suas


apropriações da história: “Os perigos das Revoluções”.
História, Franca, v. 36, e 28, 2017. Disponível em: http://
www.scielo.br/scielo.php?script=sci_abstract&pid
=S0101-90742017000100410&lng=en&nrm=iso&tlng=pt

A terceira revolta social a ser abordada, é a Revolução Farroupilha, também


conhecida como Guerra dos Farrapos, que aconteceu em 1835 e teve como
característica principal a orientação separatista que a revolta foi adquirindo
com o passar do tempo. A discordância inicial foi em torno da concepção de
autonomia que as províncias deveriam ter, sendo que São Pedro do Rio Gran-
de, como era chamado o território na época, era contrário à Constituição do
Império, promulgada em 1824.
A Revolta Farroupilha durou 10 anos, de 1835 até 1845, constituindo-se como
um dos principais conflitos armados ocorridos na América, sendo que além
dos motivos mencionados, o fato de a produção rio-grandense ser voltada
para o mercado interno, constituída principalmente pelo charque e pelo cou-
ro, fizeram essa população revoltar-se contra as taxas impostas pelo governo
nacional.

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FIGURA 5: MAPA DO THEATRO DA GUERRA, PROVÍNCIA DO RIO GRANDE DO SÃO PEDRO


DO SUL, 1839

Fonte: Wikimedia.

Os participantes da revolta eram chamados de farrou-


pilhas, pois esse termo expressava uma visão pejorativa
dos revoltosos:

alguns dos combatentes da revolta não possuíam condições


financeiras estáveis, por isso suas roupas eram esfarrapadas,
demonstrando o caráter popular desse movimento. Os soldados
farroupilhas chegaram a ser comparados com os sans-culottes, um
dos grupos da Revolução Francesa, que recebeu esse nome por conta
das calças que usavam.

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1.3 QUESTÃO MILITAR


A chamada “Questão Militar” faz referência a uma série de incidentes que
aconteceu entre os militares e o governo na década de 1880, mais precisa-
mente entre os anos de 1883 e 1887. Entre os fatores que contribuíram para
o desenvolvimento dessa questão, podemos citar como principal a interfe-
rência política no funcionamento das instituições militares, por exemplo, na
promoção de oficiais, que eram promovidos mais por um reconhecimento
pessoal do que por um reconhecimento profissional.
Em 1850, foi realizada uma reforma interna no exército, instituindo as promo-
ções de carreira por merecimento profissional, assim como tornou obrigató-
ria a realização do curso da Real Academia Militar. Essas mudanças impac-
taram no perfil de jovens que se alistavam ao exército, fazendo com que os
membros da elite deixassem de se interessar pela carreira militar, pois seus
privilégios não seriam mais considerados. Por outro lado, os filhos dos milita-
res que estavam na ativa viram nessas alterações a chance de seguirem essa
profissão.

FIGURA 6: SOLDADOS DAS FORÇAS ARMADAS

Fonte: Plataforma Deduca (2020).

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Até a eclosão da Guerra do Paraguai (1864-1870), o exército tinha pouca in-


fluência em termos políticos, porém, com a vitória no conflito, ocorre uma
politização significativa dos militares. Em 1871, foi fundado o Instituto Militar,
porém foi considerado uma ameaça pelo governo e acabou sendo fechado,
situação que, juntamente com a diminuição dos soldos pagos aos militares e
a existência de poucas promoções de carreira, agravaram o descontentamen-
to do exército com o império.

Para obter mais informações sobre a Guerra do Para-


guai, acesse o Atlas Histórico do Brasil no site da
Fundação Getúlio Vargas, disponível no link https://atlas.
fgv.br/marcos/guerra-do-paraguai/mapas/guerra-do-
paraguai-grandes-batalhas

Um outro fator que contribuiu ainda mais para o acirramento da relação entre
exército e monarquia foi os conflitos que ocorreram com o tenente-coronel
Antônio de Sena Madureira. Após várias polêmicas, Sena convidou o janga-
deiro José Francisco do Nascimento, que era abolicionista e havia se recusado
a transportar escravos, para visitar a Escola de Tiros, no Rio de Janeiro, da qual
era o comandante na época.
Sena foi então expulso e o Ministro da Guerra, Alfredo Chaves, pronunciou-
-se publicamente proibindo qualquer tipo de discussão na imprensa, onde
aparece, então, a figura do Marechal Deodoro da Fonseca, que se recusou a
cumprir essa ordem.

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FIGURA 7: OFICIAL E SOLDADO DO IMPÉRIO DO BRASIL, UNIFORMES DA GUERRA DO


PARAGUAI, HENDRIK JACOBUS VINKHUIJZEN, 1867

Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Guerra_do_Paraguai_-_Oficial_e_Soldado.
JPG

Depois de muitos conflitos entre exército e império, Deodoro ficou respon-


sável de negociar com o governo, sendo que, em um primeiro momento, o
marechal enviou uma carta ao imperador falando sobre a punição de Sena
Madureira e de outro oficial, Cunha Matos. Ao não obter resposta, uma sema-
na depois enviou outra carta para Dom Pedro II, acusando-o de traição. Com
o exército cada vez mais descontente, em maio de 1887, o senado aprova uma
moção, ordenando que o governo limpasse a ficha dos oficiais indiciados,
sendo que a chamada “questão militar” é encerrada nesse episódio, porém, o
desgaste do governo perante a instituição e também perante a população se
mantém.
Por fim, o próprio evento da Proclamação em 1889 foi uma espécie de re-
percussão dos conflitos que haviam se estabelecido entre o exército e a mo-
narquia. Favoráveis a ideia da República, alguns militares como Benjamin
Constant, Rui Barbosa e Aristides Lobo convencem o Marechal Deodoro da
Fonseca a liderar o movimento.

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Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 23
HISTÓRIA DO BRASIL III

FIGURA 8: REPRESENTAÇÃO DE SÃO JOSÉ DE MATURA, PUBLICADA NO LE TOUR DU


MONDE, PARIS, 1867

Fonte: Plataforma Deduca (2020).

Deodoro havia resistido em um primeiro momento, por conta da amizade


anterior que tinha com Dom Pedro II, porém, com a eclosão da República,
nenhum grupo social se manifestou favorável à continuação da monarquia.

URT, J. O Brasil: um Estado-nação a ser contruído. O


papel dos símbolos nacionais, do Império à República.
Mana, Rio de Janeiro, v. 18, n. 3, p. 471-509, dez. 2012. Di-
sponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=s-
ci_arttext&pid=S0104-93132012000300003&lng=en&n-
rm=iso. Acesso em 13 out. 2019.

Parte da literatura brasileira abordou o surgimento da república em seus textos,


sendo que, entre os principais nomes contemporâneos ao período, podemos
citar o de Euclides da Cunha, que teve na publicação do livro Os sertões em
1902, sua obra mais conhecida.

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24 Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017
HISTÓRIA DO BRASIL III

1.4 QUESTÃO RELIGIOSA


Outro aspecto fundamental para a compreensão do processo histórico que
culminou na Proclamação da República brasileira é a questão religiosa, sendo
que a relação entre Igreja e Estado se estabelece desde os primórdios da co-
lonização portuguesa. Por isso, com o passar do tempo, houve a necessidade
de existir uma regulamentação da relação entre estado e igreja, oficializada
na Constituição de 1824, a mesma que instituiu o catolicismo como a religião
oficial.

FIGURA 9: IGREJA NOSSO SENHOR DO BONFIM EM SALVADOR, BAHIA, BRASIL

Fonte: Plataforma Deduca (2020).

Para saber mais sobre a Constituição de 1824, acesse


o site da Memória da Administração Pública Brasile-
ira, disponível em: http://mapa.an.gov.br/index.php/
menu-de-categorias-2/305-constituicao-de-1824

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HISTÓRIA DO BRASIL III

Se por um lado essa relação representava gastos para o império, como na


construção dos templos, ao mesmo tempo a Igreja fornecia o apoio neces-
sário para a manutenção do regime político, considerando que a população
católica era a maioria no período. Em teoria, na constituição havia a garantia
da pluralidade de cultos, porém, na prática, era necessário ser adepto do ca-
tolicismo para poder ter acesso a certas funções sociais, como alguns cargos
públicos.
De certa forma, o Estado mantinha controle sobre o funcionamento dos ritu-
ais católicos, para garantir que eles não representassem algum tipo de ame-
aça para o funcionamento do governo. Esse controle era expresso de duas
formas: primeiro pelo regime do padroado, no qual a Igreja fornecia ao Estado
alguns mecanismos de controle como a organização dos grupos religiosos e
a indicação de clérigos, que dava ao imperador a possibilidade de escolher
os representantes eclesiásticos mais importantes; segundo, pelo beneplácito
imperial ou régio, que se constituía na validação e aprovação das normas pa-
pais pelo imperador, sendo que elas deveriam ser obedecidas nacionalmente.

Associação Apoio Rompimento


entre o estado e a mútuo com a
igreja monarquia

O conflito entre a Igreja católica e o império começou a tomar forma prin-


cipalmente após a promulgação da encíclica papal Quanta Cura, em 1864,
que reafirmava o poder papal e a romanização da Igreja católica, assim como
a separação laica do Estado para que a própria Igreja pudesse decidir sobre
suas questões internas.

LEITE, F. C. O laicismo e outros exageros sobre a Pri-


meira República no Brasil. Relig. soc., Rio de Ja-
neiro, v. 31, n. 1, p. 32-60, Jun. 2011. Disponível em:
http: //www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttex-
t&pid=S0100-85872011000100003&lng=en&nrm=iso.
Acesso em: 13 out. 2019.

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HISTÓRIA DO BRASIL III

O ultramontanismo foi um conjunto de ideias que tinha como base a concepção


de que a Igreja deveria ter como referência central o Vaticano, o que causou
uma desavença entre os bispos de Pernambuco e de Olinda, e o império, pois
eles decidiram seguir os postulados papais em vez das ordenações imperiais,
aumentando a crescente insatisfação da Igreja com o Estado.

1.5 QUEDA DA MONARQUIA


Nos anos finais do império, a situação da economia estava consideravelmente
estável, inclusive ganhando destaque no cenário internacional. A abolição da
escravidão foi um fator que agravou a situação social principalmente por de-
monstrar o posicionamento da Coroa e causar descontentamento nas classes
altas, que endossaram o apoio ao ideal da república.
A monarquia tentou, então, resolver algumas das questões sociais, por exem-
plo, com a concessão de empréstimos a taxas razoáveis para os fazendeiros e
a implementação da guarda nacional; entretanto, parte dessas decisões aca-
baram gerando repercussão contrária, como a questão da guarda nacional,
que militares entenderam como oposição.

Império
Abolição da
economia
escravidão
estável

Concessão
Crise no
de
império
empréstimos

Criação da
Guarda
Nacional

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HISTÓRIA DO BRASIL III

Para entender melhor a sociedade nos anos finais do


império, acesse o censo demográfico de 1872, no site do
IBGE, disponível em: https://biblioteca.ibge.gov.br/bib-
lioteca-catalogo?view=detalhes&id=225477.

Por fim, com a pressão dos republicanos, os militares aplicam o golpe de Esta-
do, instituindo a república, sendo que a participação popular foi irrisória e boa
parte das pessoas que estavam envolvidas demoraram a entender a dimen-
são dos acontecimentos.

FIGURA 10: DOM PEDRO II, DELFIM DA CÂMARA, 1875

Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Delfim_da_C%C3%A2mara_-_D._Pedro_
II._1875.jpg

Dom Pedro II permaneceu impassível durante o processo e não tentou de


forma efetiva aplacar o golpe militar, sendo posteriormente enviado para o
exílio com sua família.

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28 Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017
HISTÓRIA DO BRASIL III

OLIVEIRA, E. R. de. A ideia de império e a fundação da


monarquia constitucional no Brasil (Portugal-Brasil,
1772-1824). Tempo, Niterói, v. 9, n. 18, p. 43-63, Jun. 2005.
Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=s-
ci_arttext&pid=S1413-77042005000100003&lng=en&n-
rm=iso. Acesso em: 13 out. 2019.

Dom Pedro II ficou conhecido, entre outras características, por ser considerado
humilde na escolha de suas habitações, em comparação às classes altas do
período, que tinham o costume de ostentar suas posses e status social.

1.6 PROCLAMAÇÃO DA REPÚBLICA


A Proclamação da República ocorreu no Rio de Janeiro, no dia 15 de novem-
bro de 1889, quando os republicanos, sob a liderança do Marechal Deodoro da
Fonseca, deram início a um novo regime político. Inicialmente, a movimen-
tação de centenas de soldados tinha como finalidade derrubar o Visconde
de Ouro Preto, então primeiro-ministro, no dia 20 de novembro, porém, por
conta da divulgação de que haveria prisões de alguns militares, a ação foi
adiantada para o dia 15.
Convencido de que seria preso, Deodoro da Fonseca convocou os soldados a
se rebelarem contra o governo, ocupando primeiramente o quartel-general
do Rio de Janeiro e depois o Ministério da Guerra. No Paço Imperial, o Viscon-
de de Ouro Preto solicitou a Floriano Peixoto que confrontasse os revoltados,
porém Floriano se recusou a enfrentar seus próprios compatriotas. Após a
conquista da Câmara Municipal do Rio de Janeiro e a Proclamação da Repú-
blica, Floriano Peixoto dá voz de prisão ao Visconde de Ouro Preto.

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HISTÓRIA DO BRASIL III

FIGURA 11: PRIMEIRA BANDEIRA DO BRASIL REPUBLICANO, 1889

Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Flag_of_Brazil_(November_1889).svg

José do Patrocínio redigiu a proclamação oficial da República dos Estados


Unidos do Brasil, a qual foi aprovada sem votação, prosseguindo, então, com
o exílio da família imperial e sem existirem reações monarquistas ao golpe
militar. Instaura-se, enfim, a república.

PATTO, M. H. S. Estado, ciência e política na Primeira


República: a desqualificação dos pobres. Estud. av.,
São Paulo, v. 13, n. 35, p. 167-198, Abr. 1999. Disponível
em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttex-
t&pid=S0103-40141999000100017&lng=en&nrm=iso.
Acesso em: 13 out. 2019.

Após o golpe de quinze de novembro, Deodoro da Fon-


seca formou um governo provisório, que se estendeu
até o dia 24 de fevereiro de 1891, quando foi promulgada
a primeira Constituição republicana do Brasil. Não era
simples a tarefa administrativa de Deodoro, visto que
deveria retribuir os esforços daqueles que o apoiaram
na derrubada do gabinete do Visconde do Ouro Preto.
Era necessário formar um governo de coalizão, no qual
estariam representadas todas as alas republicanas que
articularam o fim do Império.

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30 Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017
HISTÓRIA DO BRASIL III

A frase que está inscrita na atual bandeira brasileira é inspirada em uma


sentença de Auguste Comte, cuja tradução seria “O amor por princípio e a
ordem por base”, reforçando o caráter positivista da república.

CONCLUSÃO

Esta unidade objetivou apresentar uma reflexão sobre os fatores que se cons-
tituíram antecedentes à Proclamação da República, compreendendo-a não
somente quanto o ato em si, mas sim como um processo histórico direta-
mente associado ao contexto do período no qual ocorreu.

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HISTÓRIA DO BRASIL III

UNIDADE 2

OBJETIVO
Ao final da
unidade,
esperamos que
você seja capaz
de:

> Analisar o processo


de formação dos
governos militares e
da Constituição de
1891.
> Identificar as
principais revoltas
sociais e suas
motivações.

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HISTÓRIA DO BRASIL III

2 FORMAÇÃO DOS GOVERNOS


MILITARES

INTRODUÇÃO
Esta unidade irá abordar o processo de construção da ideia de nação durante
a república brasileira, iniciando com a abordagem do conceito de nacionalis-
mo. É importante compreendermos que esse conceito tem seu contexto de
origem na Europa, mais precisamente durante a Revolução Francesa.
A República das Espadas foi o período inicial da república brasileira, englo-
bando os governos dos Marechais Deodoro da Fonseca e Floriano Peixoto,
sendo que a terminologia adotada pela historiografia para descrever esse pe-
ríodo em geral faz referência ao termo “ditadura”.
No momento posterior ao da Proclamação da República, foi necessária a cria-
ção de uma junta militar que pudesse inicialmente governar o país em um
período de certa instabilidade social.
Um aspecto fundamental para a compreensão do processo histórico desse
período é a análise da Constituição de 1891, que serviu como base legal para
a formação e desenvolvimento da república, configurando-se como um arco
para o funcionamento do Estado nos anos seguintes.
Esse contexto foi um período de significativas mudanças sociais, que culmi-
naram em diversas tentativas de instituir um sistema de governo diferente, e
possibilitar a participação popular.
As revoltas sociais foram uma das características mais importantes desse
contexto, pois demonstram as tentativas de participação popular na política
brasileira.
Entre as revoltas, iremos destacar algumas como a Revolução Federalista,
que eclodiu em 1893 no Rio Grande do Sul, e que teve como uma de suas
principais características a disputa entre o positivismo e o liberalismo. Outro
conflito que se destacou foi a Revolta da Armada, uma rebelião feita por ofi-
ciais da marinha nacional.

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HISTÓRIA DO BRASIL III

2.1 CONCEITO DE NACIONALISMO


Para compreendermos como ocorreu o processo de formação e consolidação
da república brasileira, é necessário abordarmos o conceito de nacionalismo,
o qual faz referência justamente à consolidação da ideia de nação.
O surgimento da ideia de nacionalismo ocorreu em um contexto histórico
muito específico, consequência de um processo histórico que já vinha se con-
figurando anos antes.
O contexto que serviu para o desenvolvimento dessa ideologia foi o da Revo-
lução Francesa, originada principalmente pelo fato de que a convocação de
soldados que fossem motivados por crenças nacionalistas, era mais barata do
que a convocação de mercenários, que cobravam uma taxa por seus serviços.
Com a consolidação da burguesia industrial, o nacionalismo se consolida en-
quanto ideologia, tendo outros acontecimentos históricos como a Revolução
Industrial inglesa e a independência dos Estados Unidos da América, fatores
que contribuíram ainda mais para a consolidação dessa perspectiva.
Na América Latina, o nacionalismo vai se desenvolver inicialmente de uma
forma diferenciada, surgindo com um caráter revolucionário, que encontrou
em figuras como Simon Bolívar, que auxiliou diversos países latinos em seus
processos de independência, um exemplo de sua ideologia.
Dessa forma, podemos compreender que o nacionalismo assumiu várias ver-
sões que se modificaram conforme o contexto no qual se desenvolveu, po-
dendo assumir um caráter mais revolucionário ou socialmente mais exclu-
dente, como no caso da formação de países que pregaram ao longo de suas
histórias a ideia de uma superioridade nacional.

Nacionalismo

Memória coletiva Símbolos nacionais

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HISTÓRIA DO BRASIL III

O conceito de nacionalismo parte do princípio de que existe uma oposição


dicotômica entre “nós”, os indivíduos que fazem parte da nação e os “outros”
que não fazem parte da mesma unidade.
Tanto o imperialismo quanto o colonialismo tiveram como crenças a ideia da
existência de uma superioridade racial e cultural que basearam as políticas
expansionistas.
A produção dos símbolos nacionais, aos quais são atribuídos significados re-
lacionados com a identidade cultural, são ferramentas fundamentais para o
surgimento e consolidação do nacionalismo.
Além disso, existe ainda a chamada “memória coletiva”, que é responsável por
perpetuar a lembrança de determinados acontecimentos, que são escolhidos
a partir de uma seleção que determina quais os elementos culturais, econô-
micos e/ou políticos que serão mantidos.
Por exemplo, ao afirmarmos que determinado país é mais conservador do
que outro, essa avaliação depende diretamente dos fatores selecionados para
determinar o que é conservador e o que não é, sendo que uma nação pode
ser conservadora em termos políticos, mas liberal em termos econômicos.

MORENO, J. C. Revisitando o conceito de identidade


nacional. In: RODRIGUES, C. C., LUCA, T. R., GUIMARÃES,
V. (org). Identidades brasileiras: composições e
recomposições [on-line]. São Paulo: Editora UNESP;
São Paulo: Cultura Acadêmica, 2014. p. 7-29. Desafios
Contemporâneos collection. ISBN 978-85-7983-515-
5. Disponível em: http://books.scielo.org/id/h5jt2/pdf/
rodrigues-9788579835155-03.pdf. Acesso em: 13 out. 2019.

Na América Latina, o caso brasileiro se destacou dos demais países de co-


lonização espanhola, pois o império não permitiu que os territórios fossem
fragmentados. Dessa forma, mesmo após a independência, o país continuou
mantendo a maior parte das estruturas que possuía enquanto era colônia.
Compreender a formação de uma nação, constitui-se, então, como um as-
pecto mais primordial do que entender qual é a real “essência nacional” de
um país. No caso brasileiro, majoritariamente foi o Estado quem determinou

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HISTÓRIA DO BRASIL III

como seria a configuração da nacionalidade brasileira, deixando o povo au-


sente desse processo.

O nacionalismo também pode ser considerado uma emoção, pois faz referência
à necessidade de pertencimento que os seres humanos compartilham entre
si, permitindo que eles associem os símbolos nacionais à construção da
sua identidade individual. Por isso, em muitos casos a identificação com a
nação ocorre em um nível mais emocional do que racional, processo que é
diretamente influenciado pelos símbolos nacionais.

FIGURA 1: BANDEIRA DO BRASIL.

Fonte: Plataforma Deduca (2020).

Por “tradição inventada” entende-se um conjunto de práticas, normalmente


reguladas por regras tácita ou abertamente aceitas; tais práticas, de natureza
ritual ou simbólica, visam inculcar certos valores e normas de comportamento
através da repetição, o que implica, automaticamente, uma continuidade
em relação ao passado. Aliás, sempre, que possível, tenta-se estabelecer
continuidade com um passado histórico apropriado. (HOBSBAWM, 2015, p. 8)

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2.2 REPÚBLICA DAS ESPADAS


A chamada “República das Espadas” foi o período inicial que sucedeu a Pro-
clamação da República brasileira, entre os anos de 1889 e 1894, sob os gover-
nos dos marechais Deodoro da Fonseca e Floriano Peixoto. Em relação à
conceituação sobre esse período, a maior parte da produção historiográfica
utiliza o termo ditadura militar, para fazer referência ao regime implementa-
do, principalmente pelas violentas repressões aos levantes populares.
Considerando que o império estabeleceu um rompimento com os cafeicul-
tores, por conta da abolição da escravidão, eles começaram a fornecer apoio
ao projeto republicano. Por isso, após a instauração da república, os interesses
dos latifundiários continuaram sendo os principais para o governo.

FIGURA 2: MILITARES FARDADOS.

Fonte: Plataforma Deduca (2020).

No que se refere à organização política, em um primeiro momento foi instau-


rada uma junta militar, sob o comando do Marechal Deodoro da Fonseca. Foi
um período de significativa mudança institucional, que gradualmente alte-
rou a dinâmica do governo que estava instaurado.

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O positivismo foi uma corrente de pensamento


que surgiu no século XIX, primeiramente na França,
disseminando-se pela Europa a partir da metade do
mesmo século. Alguns dos preceitos positivistas são
a valorização da objetividade e da neutralidade na
produção do conhecimento científico, bem como a
defesa do progresso em âmbito social.

QUAL a origem do termo ‘república de bananas’, usado


pelo ‘Guardian’ para se referir ao Brasil? In: BBC [S. l.]:
BBC Mundo, 28 abr. 2016. Disponível em: https://www.
bbc.com/portuguese/brasil/2016/04/160428_republica_
bananas_origem_fn. Acesso em: 13 out. 2019.

Cabe destacarmos que os principais agentes históricos nesse processo foram


os militares e os republicanos civis, sendo que eles foram os maiores expoen-
tes do ideal centralizador da república. O Estado brasileiro nasceu como mo-
nárquico e adquiriu uma nova configuração política nesse contexto, baseada
nos valores republicanos, que ressaltavam, por exemplo, a importância dos
eventos cívicos.

FIGURA 3: ALEGORIA DA REPÚBLICA BRASILEIRA, HOMENAGEM DA REVISTA ILUSTRADA

Fonte: Wikimedia

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Em termos de referência ideológica, o positivismo esteve muito presente na


formação da república, principalmente por meio do ideal de progresso, esta-
belecida por ela. A administração pública nesse período buscou controlar o
nível de intervenção federal nos estados, bem como promoveu uma concen-
tração de poder na figura do presidente.

FIGURA 4: MODERNIZAÇÃO

Fonte: Plataforma Deduca (2020).

O fim da escravidão e a entrada de diversos contingentes populacionais,


por conta dos processos de imigração, promoveram uma reorganização na
sociedade brasileira, sendo que essa primeira década ficou conhecida como a
“década do caos”, ou também como os “anos entrópicos”, termos que fazem
referência ao momento de transição que foi esse período.

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2.3 CONSTITUIÇÃO DE 1891


A Constituição de 1891 foi um marco na consolidação da república, por ser a
primeira carta constitucional republicana, servindo como um aparato legal
para a legitimação dos principais fundamentos dessa organização política.
A elaboração da constituição iniciou em 1889, porém a constituição só veio
a ser promulgada em 1891, sendo utilizada durante todo o período da Re-
pública Velha.
Os principais proponentes dessa constituição foram Prudente de Morais e Rui
Barbosa, sendo que este deu uma característica mais liberal para a redação
do texto, e, como inspiração, foram utilizados diversos documentos, inclusi-
ve a constituição de outros países, como a da Argentina. A Constituição de
1891 era descentralizadora, no sentido de que conferia autonomia aos esta-
dos, característica essa que pode ser atribuída em parte à pressão feita pelas
oligarquias latifundiárias, principalmente os cafeicultores paulistas, durante
a elaboração da carta constitucional, pois eles compreendiam que assim as
oligarquias seriam fortalecidas.

Constituição
de 1891

Pouca participação
Governo forte
popular

Entre os principais aspectos que faziam parte da constituição, podemos


citar a expressa abolição dos resquícios monárquicos e a possibilidade de
os estados terem constituições próprias. Apesar dessa relativa autonomia
atribuída aos estados, cabia ao governo federal a organização das Forças
Armadas, o que na prática significava que ele poderia intervir nos estados,
quando julgasse necessário.
No que se refere à composição dos poderes, estabeleceu-se a divisão entre os
poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, sendo que os dois primeiros eram
eleitos por voto popular direto. O presidencialismo foi a forma de república

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HISTÓRIA DO BRASIL III

adotada, que se caracterizou principalmente pelo presidente ser o chefe do


poder executivo, tendo direito a um mandato de quatro anos. Caso o presi-
dente quisesse se candidatar novamente deveria esperar o próximo mandato
ser cumprido por outra pessoa.
Já o judiciário era representado pelo Supremo Tribunal Federal, e o legislativo
composto pela câmara de deputados, que representavam a população, e o
senado, que representava os estados. Outras características da Constituição
de 1891 foram a oficialização da separação entre a Igreja e o Estado; a respon-
sabilização do governo perante o acesso à educação e a extinção pena de
morte.

BONAVIDES, P. A evolução constitucional do Brasil.


Estud. av., São Paulo, v. 14, n. 40, p. 155-176, dez. 2000.
Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_
arttext&pid=S0103-40142000000300016&lng=en&nrm=i
so. Acesso em 13 out. 2019.

Para saber mais sobre a Constituição de 1891, acesse o


link: https://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/AEraVargas1/
anos20/CrisePolitica/Constituicao1891

No que se refere às eleições, eram


compostas por voto não secreto e censitário
(baseado na renda), sendo que alguns
grupos como os analfabetos e as mulheres
eram excluídos das eleições. Em termos de
representatividade, somente cerca de 5%
da população participava do processo, o
que favorecia que a escolha dos candidatos
pudesse ser direcionada ao interesse das
classes dominantes.

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2.4 GOVERNO DE DEODORO DA FONSECA


Após a Proclamação da República, foi formada uma junta militar, que lidera-
da pelo Marechal Deodoro da Fonseca, ficou no governo no período de 1889
até 1891, constituindo-se como o governo provisório até a promulgação da
constituição. O governo provisório de Deodoro teve poderes ditatoriais, sendo
que o ministério foi renovado, com a entrada de nomes como Campos Sales,
Benjamin Constant e Rui Barbosa.
A primeira eleição da História do Brasil ocorreu em 1891, sendo que presidente
e vice concorriam de forma separada, ao mesmo tempo que era possível tam-
bém se candidatar para os dois cargos. Entre os candidatos que concorreram
com o Marechal Deodoro da Fonseca, destacou-se Prudente de Morais, que se
lançou pelo Partido Republicano Paulista. Para vice, Deodoro apoiava o almi-
rante Eduardo Wandenkolo, enquanto Prudente de Morais apoiava Floriano
Peixoto, o qual também havia se candidato para a presidência. O período do
governo de Deodoro foi bastante conturbado, além da mudança na estrutura
governamental, houve muita instabilidade política, a Crise do Encilhamento
e a Revolta da Armada. As antigas províncias do império foram transformadas
em estados federados, os quais enviaram documentos nos quais afirmavam
a concordância com a instauração da república.

FIGURA 6: NOTAS E MOEDAS DE DIVERSAS PAÍSES

Fonte: Plataforma Deduca (2020).

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A situação social causada por conta da Crise do Encilhamento impactou na


realização das eleições, em fevereiro de 1891, sendo que os militares ameaça-
ram os parlamentares, para que elegessem Deodoro. O fato de, desde o mo-
mento da eleição, a oposição ser majoritária e favorável a Prudente de Morais
foi um dos fatores que levou a renúncia de Deodoro. O governo de Deodoro
foi de fevereiro até novembro de 1891, período no qual esteve de acordo com
os princípios constitucionais, porém, ao sair do poder, Deodoro deu um golpe
para que os militares pudessem continuar no governo.

Crise do
Eleições Golpe
encilhamento

A cisão entre os militares e os civis já estava formada, pois os primeiros de-


fendiam a existência de um governo forte e centralizado, enquanto que os
segundos eram favoráveis a um governo descentralizado e federalista.
O mandato de Deodoro passou por diversos problemas, como a tensão polí-
tica, a oposição do congresso e da população, problemas de saúde do presi-
dente, e ainda atritos com os cafeicultores. No começo de novembro de 1891,
Deodoro dissolve o congresso, ao mesmo tempo em que tropas militares fa-
zem cerco ao legislativo, prendendo quem fosse da oposição, sendo que esse
evento ficou conhecido como o Golpe de Três de Novembro. No final de no-
vembro, com a eclosão da Revolta da Armada, que ameaça bombardear o Rio
de Janeiro, exigindo a renúncia do Marechal Deodoro da Fonseca, assume o
vice-presidente Floriano Peixoto.

192 ANOS DO NASCIMENTO DO MARECHAL


DEODORO DA FONSECA, O PRIMEIRO PRESIDENTE
DA REPÚBLICA. [S. l.]: Aventuras na História, 5 ago
2019. Disponível em: https://aventurasnahistoria.uol.com.
br/noticias/reportagem/192-anos-do-nascimento-do-
marechal-deodoro-da-fonseca-o-primeiro-presidente-
da-republica.phtml. Acesso em: 13 out. 2019.

MULTIVIX EAD
Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 43
HISTÓRIA DO BRASIL III

A Crise do Encilhamento foi uma bolha econômica, que


começou antes da Proclamação da República e veio
à tona no governo do Marechal Deodoro da Fonseca,
sendo que o termo “encilhamento” faz referência ao ato
de preparar o cavalo para a corrida, no hipismo.

O Federalismo é um sistema político em que as diversas unidades territoriais,


como os municípios, são interligadas entre si, fazendo parte de uma unidade
maior, como um país.

2.5 GOVERNO DE FLORIANO PEIXOTO


A participação de Floriano Peixoto no processo de Proclamação da República
foi fundamental, já que Floriano se recusou a comandar o que seria a resistên-
cia imperial ao golpe. Em 1890, torna-se o ministro da Guerra, sendo eleito nas
votações de 1891 como vice-presidente. Quando assume a presidência após a
renúncia do Marechal Deodoro da Fonseca, instaura um governo, que ficou
conhecido como a República Jacobina, pois, além de ser militar, também era
muito rigoroso. Além disso, Floriano Peixoto também queria estabelecer uma
centralização do poder maior do que a prevista na carta constitucional de 1891.

FIGURA 7: DIFERENTES TIPOS DE GOVERNO

Fonte: Plataforma Deduca (2020).

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44 Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017
HISTÓRIA DO BRASIL III

Floriano enfrentou resistência por partes de diversos setores sociais, que alega-
vam ser inconstitucional o seu mandato na presidência, pois, de acordo com a
Constituição de 1891, o vice só poderia assumir a presidência, caso a renúncia
acontecesse dois anos após o presidente ter assumido. Com a oposição, princi-
palmente de setores conservadores, Floriano firma um acordo com o Partido
Republicano Paulista, que seria benéfico para ambos, pois nesse momento já
havia uma preocupação com a continuação da própria república.
O presidente realizou a reabertura do congresso e conseguiu controlar de
certa forma a bolha financeira que tinha se formado por conta da Crise do En-
cilhamento, demitindo também os governadores que eram haviam apoiado
Deodoro. Durante o governo de Floriano Peixoto ocorreram diversas rebeliões,
como a Revolta da armada e a Revolução Federalista. Por conta da repressão
contra esses movimentos adotada por Floriano ter sido muito violenta, ele
recebeu o apelido de “Marechal de Ferro”.
Também houve um fenômeno inédito na história política brasileira, de culto à
imagem do presidente, que ficou conhecido como “florianismo”. Floriano en-
tregou o cargo em 15 de novembro de 1894, para Prudente de Moraes, e veio
a falecer em 29 de junho do ano seguinte.

FIGURA 8: MAPA INDICANDO O BRASIL

Fonte: Plataforma Deduca (2020).

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HISTÓRIA DO BRASIL III

NINGUÉM DEFENDEU A MONARQUIA? [S. l.]: Aventuras


na História, 3 ago. 2019. Disponível em: https://
aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/almanaque/
historia-ninguem-defendeu-monarquia.phtml. Acesso
em: 13 out. 2019.

Para saber mais sobre Floriano Peixoto, acesse o site do


CPDOC: https://cpdoc.fgv.br/sites/default/files/verbetes/
primeira-republica/PEIXOTO,%20Floriano.pdf

Os Jacobinos eram membros do Clube Jacobino durante o período da Re-


volução Francesa no século XVIII, sendo um dos grupos revolucionários mais
radicais.

2.6 REVOLTAS SOCIAIS


As revoltas sociais que aconteceram nesse período demonstram nitidamente
como a concepção de república estava em disputa, sendo que os conflitos
foram motivados por discordância sobre o funcionamento político dessa nova
organização estatal. A Revolução Federalista começou pouco tempo depois
após o início do mandato de Floriano, eclodindo em 1893, a disputa entre os
positivistas e os liberais.

Expandiu
para outros
estados

Eclodiu Revolução Rio Grande


em 1893 Federalista do Sul

Apoio
da marinha

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O partido republicano, encabeçado por Júlio de Castilhos, formou milícias


armadas e contou com o apoio do presidente Floriano Peixoto, que enviou
tropas para o Rio Grande do Sul. Do outro lado, o partido federalista, represen-
tado entre outros por Gaspar Silveira Martins, era contrário à concentração do
poder no executivo, como estava efetivamente acontecendo. Os federalistas
conseguiram formar exércitos privados e conquistaram o apoio de parte da
população.

FIGURA 9: MAPA MARCANDO O RIO DE JANEIRO

Fonte: Plataforma Deduca (2020).

A revolução expandiu para Santa Catarina e posteriormente para o Paraná,


sendo que as tropas enviadas por Floriano Peixoto enfrentaram os federalis-
tas, também conhecidos como maragatos. Os revolucionários contaram com
o apoio da marinha que era contrária à intervenção federal e com esse refor-
ço do Rio de Janeiro os federalistas conseguiram chegar até Curitiba. Porém,
o governo de Floriano Peixoto contava com o apoio dos Estados Unidos da
América, que enviou esquadras estadunidenses para combater a revolução,
conquistando o Desterro, posteriormente renomeado de Florianópolis, e por
fim acabando com a revolução em 1895.

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HISTÓRIA DO BRASIL III

A Revolta da Armada foi motivada por uma rebelião da marinha brasileira con-
tra a forma ditatorial que a república havia assumido nos dois primeiros go-
vernos. Iniciou ainda no governo de Deodoro, quando o presidente, em uma
ação inconstitucional, decidiu fechar o congresso, o que gerou uma reação
por parte da marinha que estava preparada para um ataque. Porém temendo
uma possível guerra civil, Deodoro renuncia para evitar um conflito direto.
Em setembro de 1893, altos oficiais da marinha exigiram que os eleitores fos-
sem convocados para que houvesse uma nova eleição, porém, tendo pouco
apoio popular e político, os oficiais partem para o Rio Grande do Sul para ten-
tar articular os dois movimentos.

Proclamação Ausência de Revoltas


da Repúblcia participação popular sociais

CARVALHO, J. M. de. República, democracia e


federalismo Brasil, 1870-1891. Varia hist., Belo Horizonte,
v. 27, n. 45, p. 141-157, Jun. 2011. Disponível em: http://
www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-
87752011000100007&lng=en&nrm=iso. Acesso em 13 out.
2019.

O termo “maragato” foi usado para fazer referência


aos participantes da Revolução Federalista, sendo eles
identificados por utilizarem um lenço vermelho no
pescoço.

Entre as consequências da Revolução Federalista, podemos citar o enfraque-


cimento do poder simbólico da figura política de Floriano Peixoto, que conse-
guiu vencer os conflitos, porém saiu com sua popularidade diminuída.

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HISTÓRIA DO BRASIL III

CONCLUSÃO

Esta unidade objetivou a apresentar os principais fatores que contribuíram


para a formação e consolidação da república, a começar pelo conceito de
nacionalismo, fundamental para compreendermos o processo social que se
desenvolveu após a proclamação.
É importante aprofundarmos o estudo dos conceitos na produção e ensino
do conhecimento histórico, para podermos compreender em qual sentido os
mesmos são utilizados para se referir aos processos sociais.
O momento inicial de instauração da república deu sequência à República
das Espadas, com os governos dos marechais Deodoro da Fonseca e Flori-
ano Peixoto e a promulgação da Constituição de 1891. Por fim, as revoltas
sociais que aconteceram no período são um assunto de extrema importân-
cia para a compreensão aprofundada da instauração da república, em seus
diversos aspectos.

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HISTÓRIA DO BRASIL III

UNIDADE 3

OBJETIVO
Ao final da
unidade,
esperamos
que você seja
capaz de:

> Entender o que


foi a política do
café com leite;
Compreender o
coronelismo e
o messianismo
como fenômenos
sociais.

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HISTÓRIA DO BRASIL III

3 REPÚBLICA OLIGÁRQUICA E
CORONELISMO

INTRODUÇÃO
Esta unidade abordará uma reflexão sobre a instauração da Política do Café
com Leite, que existiu durante a maior parte da República Velha e era ca-
racterizada pela alternância de poder entre os estados de São Paulo e Minas
Gerais. Outra característica importante desse período foi o coronelismo, que
será entendido como um fenômeno social que ocorreu em diversas regiões
do país, enfatizando dois elementos principais: as fraudes eleitorais e a políti-
ca de compromissos.
Considerando que o período em questão foi de transição gradual em diver-
sos aspectos, como econômico e político, destacaremos as crises sociais que
aconteceram, especialmente as que fizeram parte do messianismo. Esse con-
teúdo é fundamental tanto para a formação acadêmica quanto para a com-
preensão da realidade atual, pois possibilita o entendimento sobre os proces-
sos históricos que ocorreram durante a República Velha.

3.1 POLÍTICA DO CAFÉ COM LEITE


A chamada “Política do Café com Leite”, foi um período específico da Repú-
blica Velha, que teve sua vigência entre os anos de 1898 e 1930, com a alter-
nância do poder presidencial entre os estados de São Paulo e Minas Gerais.
Essa configuração derivou da Política dos Governadores, que fazia referência
a autonomia dos governadores em relação ao governo federal. As oligarquias
paulista e mineira alternaram os governos, começando com o de Campos
Sales, sendo que São Paulo era o maior produtor de café do período e Minas
Gerais o produtor de leite, além de ser também o maior polo eleitoral. Nessa
época o PRP era o Partido Republicano Paulista e, o PRM, o Partido Republi-
cano Mineiro.

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HISTÓRIA DO BRASIL III

FIGURA 1: CAFEZAL DA FAZENDA IBICABA, 1850, HENRIQUE MANZO

Fonte: Wikimedia.

A Política do Café com Leite sucedeu a República da Espada, durando até a


Revolução de 1930, sendo que as eleições presidenciais eram realizadas de
quatro em quatro anos e o candidato era escolhido pelos presidentes dos es-
tados. O que possibilitou a alternância de governo entre Minas Gerais e São
Paulo, foi o poder financeiro que esses estados haviam conquistado, permi-
tindo a projeção política em nível nacional. Além da presidência, São Paulo e
Minas Gerais também revezavam outros cargos, como o de vice-presidente e
alguns ministérios desenvolvendo assim uma política centralizadora.
De acordo com Soares:

Apoiado pelos Estados de São Paulo e de Minas Gerais, Epitácio Pessoa


indicou o mineiro Arthur Bernardes para a sucessão presidencial, o que
muito desagradou pernambucanos, baianos, fluminenses e, especialmente,
gaúchos. A Reação Republicana, como ficou conhecida a candidatura
oposicionista de Nilo Peçanha, denunciava os sucessivos planos de
valorização do café. No Rio Grande do Sul, Borges de Medeiros advogava
políticas de equilíbrio fiscal e de combate à inflação. Acreditava-se, não sem
razão, que as receitas da União não atendiam aos interesses dos Estados
ditos de segun-da grandeza, quais sejam, todos, exceto São Paulo e Minas
Gerais. (SOARES, 2016, p. 36).

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HISTÓRIA DO BRASIL III

Inicialmente, Campos Sales buscou apoio de Minas Gerais pois o estado pos-
suía a maior bancada, com 37 deputados federais ao todo. Após se estabe-
lecerem no governo, ambos os estados manobravam as verbas federais, va-
lorizando mais seus estados, como na questão da política de valorização do
café, adotada por São Paulo, que além de ter recebido a destinação de verbas
federais, também contraiu empréstimos externos, a fim de desenvolver a pro-
dução cafeeira no estado. A Política do Café com Leite terminou durante o
governo de Washington Luís, que era paulista e rompeu com a alternância de
poder ao apoiar o também paulista Júlio Prestes. Os mineiros apoiam então
a Revolução de 1930. A crise de 1929, também influenciou para o fim dessa
política, pois impactou diretamente a produção do café.

FIGURA 2: FLUXOGRAMA SOBRE A POLÍTICA DO CAFÉ COM LEITE

Política do Café
com Leite

São Paulo Minas Gerais


café leite

Fonte: Elaborada pela autora.

Para obter mais informações sobre a Crise de 1929, leia


a reportagem “As cinco piores bolhas da história da
economia - e por que elas ainda assustam”, da BBC,
disponível no link: https://www.bbc.com/portuguese/
geral-42418028

Durante a Política do Café com Leite, dois presidentes foram exceção a alter-
nância de poder entre São Paulo e Minas Gerais, sendo eles Epitácio Pessoa,
que era da Paraíba, e Hermes da Fonseca que era do Rio Grande do Sul.

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Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 53
HISTÓRIA DO BRASIL III

NEGRO, Antonio Luigi; BRITO, Jonas. A Primeira República


muito além do café com leite. Revista Topoi, [s. l.], v. 14,
n. 26, p. 197-201, jan./jul. 2013. Disponível em: http://www.
scielo.br/pdf/topoi/v14n26/1518-3319-topoi-14-26-00197.
pdf. Acesso em: 15 out. 2019.

3.2 CORONELISMO
A origem do coronelismo remonta ao início da república, e, em termos de
cronologia, podemos considerar que se estende até a Revolução de 1930, exis-
tindo durante todo o período da República Velha. O processo de ampliação
do direito de voto foi um dos fatores que contribuiu para o surgimento do
coronelismo, pois com a possibilidade de arrecadarem mais votos, os coronéis
utilizaram de diversas ferramentas para se aproveitar dessa situação.

FIGURA 3: BATALHÃO DE FUZILEIROS DA GUARDA NACIONAL (1840–1845)

Fonte: Wikimedia (2019).

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HISTÓRIA DO BRASIL III

Nesse período a maior parte da população ainda era rural, e em sua gran-
de maioria, sujeita ao controle social estabelecido pelos latifundiários que
usavam de práticas paternalistas e repressivas para manter a submissão do
povo. Ao mesmo tempo estabeleceu-se uma relação de dependência entre
a população e os coronéis, pois o estado era muito ausente, principalmente
nas regiões mais remotas do país. Então o poder se concentrou na mão de
poucas famílias que decidiam, entre outras coisas, quem iria ocupar cargos
estratégicos na sociedade, como os dos juízes. A figura do coronel era então,
dotada de um poder simbólico perante boa parte da população, a qual em
muitos casos, necessitava de condições propiciadas pelos coronéis.
O termo coronelismo é um brasileirismo, ou seja, uma palavra que é perten-
cente somente ao vocabulário brasileiro, sendo que sua origem faz referência
aos coronéis que faziam parte da Guarda Nacional. Com o passar do tempo o
tratamento de “coronel”, começou a ser utilizado para qualquer tipo de che-
fe político. É fundamental compreendermos que o coronelismo só poderia
ter surgido no contexto histórico no qual foi criado, porque reunia as condi-
ções necessárias para isso, como por exemplo, a existência dos latifúndios. O
coronelismo encontrou variações regionais como no caso do Rio Grande do
Sul, onde era chamado de caudilhismo, e no vale do São Francisco, conheci-
do como chefismo. Em termos historiográficos, a primeira menção ao termo
“coronelismo”, foi em 1949, no livro “O Coronelismo, enxada e voto”, de Vitor
Nunes Leal, no qual foi descrito esse fenômeno social.

FIGURA 4: FLUXOGRAMA SOBRE O CORONELISMO

Concentração de terra Paternalismo Coronealismo

Fonte: Elaborada pela autora.

Também conhecida como “República Oligárquica”, essa estrutura de poder


iniciou em âmbito regional, pois o poder dos coronéis era limitado ao espaço
de alcance que possuíam. Todos esses fatores, como a concentração de po-
der na mão de poucas famílias e a ineficiência do estado, eram interligados, o
que possibilitou o desenvolvimento do coronelismo nos mais diversos contex-
tos. De qualquer forma, o coronelismo encontrava sua base no patriarcalismo
existente na sociedade brasileira como um todo, tendo como característica a
utilização do favoritismo para determinar a ocupação de cargos públicos. Dois

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HISTÓRIA DO BRASIL III

fatores que contribuíram para que o coronelismo fosse enfraquecido com o


passar do tempo, foram a diminuição da autonomia municipal, em paralelo
ao crescimento populacional das cidades.

Para saber mais sobre as estáticas referentes a esse


período, leia o documento “Uma breve história das
estáticas brasileiras”, disponível em: https://biblioteca.
ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv42899.pdf

A Guarda Nacional foi criada em 1831, existindo até 1922, tendo enfraquecido
após a Guerra do Paraguai, por conta do fortalecimento do exército, porém o
termo coronel que era utilizado para designar a patente mais alta dentro da
guarda, permaneceu no contexto posterior

FORJAZ, Maria Cecília Spina. Coronelismo, enxada e voto.


Rev. adm. empres., São Paulo, v. 18, n. 1, p. 105-108, Mar. 1978.
Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_
arttext&pid=S0034-75901978000100016&lng=en&nrm=i
so>. Acesso em 16 Out. 2019.

3.3 FRAUDES ELEITORAIS


Uma das questões mais importantes durante o período da República Velha
foi a das eleições, componente fundamental para o funcionamento de um
sistema republicano. Porém na prática, as eleições estavam mais para uma
ferramenta utilizada pelos latifundiários para assegurar suas escolhas, do que
para um instrumento de participação popular na política. Os mecanismos
utilizados pelos coronéis eram diversificados, sendo compostos por fraudes
eleitorais como o alistamento de eleitores já falecidos ou analfabetos.

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HISTÓRIA DO BRASIL III

FIGURA 5: URNA DE VOTAÇÃO

Fonte: Plataforma Deduca (2020).

A intimidação dos eleitores acontecia em diversos momentos, sendo que an-


tes da eleição já era realizada uma pressão psicológica para que os candidatos
escolhidos fossem os indicados pelos coronéis. Outra prática comum eram as
eleições a bico de pena, assim chamadas por que os mesários dispensavam
os eleitores e preenchiam as cédulas eleitorais eles mesmos. Também era co-
mum existirem fraudes na apuração e contagem dos votos, com os mesários
adulterando o resultado conforme as orientações dos coronéis.

FIGURA 6: FLUXOGRAMA SOBRE A QUESTÃO ELEITORAL

Fraudes
eleitorais

Poder Subujugação
dos coróneis da população

Fonte: Elaborada pela autora.

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HISTÓRIA DO BRASIL III

Os chamados “currais eleitorais” eram regiões nas quais os políticos possuíam a


possibilidade de ter um grande eleitorado, por isso os coronéis enviavam seus
capatazes para acompanhar os eleitores aos locais de votação. Nesse momento
eram utilizadas diversas formas de coação, como a intimidação e o uso da força,
afim de assegurar o resultado esperado, também sendo presente a utilização
do suborno, como a oferta de dinheiro e/ou moradia. As cédulas podiam ainda
ser incineradas, o que impedia a verificação do resultado, e o surgimento de
recursos como o voto branco e o voto nulo remontam a esse período, pois tam-
bém facilitavam a eleição dos candidatos apoiados pelos coronéis.

Para saber mais sobre a História das Eleições, acesso o


documento disponibilizado pelo site da Justiça Eleitoral,
no link: http://www.justicaeleitoral.jus.br/arquivos/tse-
periodos-eleitorais-1372189587538

O processo eleitoral no período da República


Velha era muito diferente dos dias atuais,
sendo que diversas práticas consideradas
como fraudes eram realizadas, afim de
garantir que o resultado fosse o esperado
pelos coronéis.

Caso um candidato que não fosse o


escolhido dos coronéis, conseguisse vencer
todas as artimanhas utilizadas, e ser
eleito, era submetido a chamada “degola”,
quando a Comissão de Verificação do Poder
Legislativo barrava a posse do ganhador.

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58 Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017
HISTÓRIA DO BRASIL III

RICCI, Paolo; ZULINI, Jaqueline Porto. Partidos,


competição política e fraude eleitoral: a tônica das
eleições na Primeira República. Dados, Rio de Janeiro,
v. 57, n. 2, p. 443-479, Jun. 2014. Disponível em <http://
www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0011-
52582014000200006&lng=en&nrm=iso>. Acesso em 16
Out. 2019.

3.4 POLÍTICA DE COMPROMISSOS


FIGURA 7: ÁREA RURAL.

Fonte: Plataforma Deduca (2020).

Nessa época o abandono do poder público, principalmente com as populações


mais vulneráveis era muito frequente, sendo que as taxas de analfabetismo
eram altíssimas, assim como a pobreza. Foi um contexto marcado pela ausência
de políticas públicas em vários aspectos, o que gerava um aumento na violência,
por parte dos latifundiários, considerando que a população se tornava depen-

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Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 59
HISTÓRIA DO BRASIL III

dente dos favores oferecidos pelos mesmos. Além disso, em contrapartida aos
favores realizados, os trabalhadores deveriam entregar uma parte do seu tra-
balho, prática que era chamada de meação, e era cobrada como uma espécie
de taxa, pelo fato de o trabalhador poder utilizar terras que não eram suas para
morar e trabalhar. Considerando que nesse período a maior parte da população
residia na área rural, muitas pessoas se encontravam nessa situação, sendo que
os salários eram baixos e as condições de trabalho extremamente precárias.

FIGURA 8: PLANTAÇÃO DE CAFÉ

Fonte: Plataforma Deduca (2020).

No que se refere ao suporte legal, somente os trabalhadores imigrantes con-


seguiam ter algum respaldo, já os outros trabalhadores, tinham seus traba-
lhos baseados somente em acordos orais. O pagamento poderia ser realizado
de diversas maneiras, como por exemplo, através do salário, forma já mencio-
nada, mas também através da venda de mercadoria, que era uma das piores
formas, pois o trabalhador comprava os produtos no comércio do latifundiário
a preços excessivos, tendo o valor descontado do salário.

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60 Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017
HISTÓRIA DO BRASIL III

Para saber mais sobre a expansão do café no Brasil,


acesse o site da Associação Brasileira da Indústria do
Café, disponível no link: http://abic.com.br/o-cafe/historia/
a-expansao-do-cafe-no-brasil/.

Situação social:

A situação social do período era bastante complicada para as


populações mais vulneráveis, pois eram submetidas aos desmandos
dos coronéis, principalmente porque a importância de cada coronel
era diretamente associada ao número de eleitores que o mesmo
possuía, o que agravava ainda mais as condições dos trabalhadores.

Situação legal:

Nesse período os direitos eram praticamente inexistentes, sendo que


a maior parte das relações de trabalho eram baseadas somente em
acertos verbais. Um dos casos que se distinguia minimamente era dos
imigrantes, que possuíam um pouco mais de suporte jurídico do que a
maioria dos trabalhadores.

Situação financeira:

Em termos econômicos, os pagamentos eram realizados através de


salários, mas também existiam outras formas como a compra de
produtos do latifundiário que eram descontados do salário.

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HISTÓRIA DO BRASIL III

CALIARI, Thiago; BUENO, Newton Paulo. O ciclo do café


durante a República Velha: uma análise com a abordagem
de dinâmica de sistemas. Nova econ., Belo Horizonte,
v. 20, n. 3, p. 491-506, Dez. 2010. Disponível em <http://
www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-
63512010000300004&lng=en&nrm=iso>. Acesso em 16
Out. 2019.

3.5 CRISES SOCIAIS


FIGURA 9: FLUXOGRAMA SOBRE AS CRISES SOCIAIS

Mudança Ausência de
Crise social
de governo participação popular

Fonte: Elaborada pela autora.

A transição do regime monárquico para o regime republicano foi um proces-


so que gerou mudanças significativas no contexto do período e que foram
percebidas de forma gradual. Dentre essas alterações, podemos destacar as
questões relacionadas ao aspecto econômico, como os fundos de financia-
mento necessários para o desenvolvimento da agricultura. Todas essas mu-
danças culminaram em uma crise política, que foi permeada por diversas
revolta sociais, como a da vacina, que eclodiu em 1904, na cidade do Rio de
Janeiro.
Diversos fatores levaram à Revolta da Vacina, dentre eles podemos destacar
o crescimento acelerado e desordenado da cidade, que se refletiram na au-
sência das condições básicas para a saúde da população, como por exemplo,
o saneamento básico. As condições higiênicas da população no período eram
bastante precárias, o que facilitava a difusão de diversas doenças, por isso o
prefeito da época, Francisco Pereira Passos decidiu realizar uma reforma ge-

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HISTÓRIA DO BRASIL III

ral na cidade, com a derrubada de cortiços, a instalação do saneamento bá-


sico e a instauração da vacinação obrigatória, que gerou uma enorme reação
popular. A população do período não tinha conhecimento suficiente sobre o
que era a vacinação e reagiu de forma muito negativa, através da eclosão de
um motim popular, acontecimento que deu origem ao nome.

FIGURA 10: MÉDICA APLICANDO VACINA EM UM PACIENTE

Fonte: Plataforma Deduca (2020).

Outra revolta muito importante no período foi a Greve Geral de 1917, que eclo-
diu devido as péssimas condições de trabalho nas fábricas e a influência teó-
rica do anarco-sindicalismo, propondo o fim da propriedade privada.

Acesse o site do Centro de Pesquisa e Documentação


de História Contemporânea do Brasil e leia o verbete
referente ao tenentismo, disponível no link: http://www.
fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbete-tematico/
tenentismo.

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Movimento Tenentista:

O Movimento Tenentista, que aconteceu em 1920, também faz parte


desse contexto, e foi motivado pela insatisfação generalizada dos
tenentes, que tinham pouca participação na política e eram contrários
a corrupção eleitoral existente no período.

Insatisfação popular:

A ausência de mecanismos legais que possibilitassem a participação


popular na política nacional, pode ser considerada como um dos
fatores que levou a eclosão de diversas revoltas sociais.

FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS (Brasil). A reforma


Pereira Passos e a Revolta da Vacina. [S. l.: s. n.], [19--].
Atlas. Disponível em: https://atlas.fgv.br/marcos/reforma-
pereira-passos-e-revolta-da-vacina/mapas/o-rio-no-
tempo-das-revoltas. Acesso em: 16 out. 2019.

3.6 MESSIANISMO
Dentre os movimentos e revoltas sociais que eclodiram durante o período da
República Velha, houveram alguns que possuíram uma característica seme-
lhante, o messianismo. Composto por uma série de revoltas, o messianismo
pode ser definido como um fenômeno social que criou uma expectativa co-
letiva na crença da vinda ou retorno, de um líder religioso, que pudesse ser
considerado um messias.

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FIGURA 11: FLUXOGRAMA SORE OS MOVIMENTOS SOCIAIS

Messianismo

Movimento social Caráter religioso

Fonte: Elaborada pela autora.

Em 1914, no Ceará eclode o movimento que ficou conhecido como a Sedição


de Juazeiro, e encontrou na figura de Padre Cícero, sua liderança, que se tor-
nou também uma forte influência política na região. Além de serem messiâ-
nicos, esses movimentos também questionaram a ordem social estabelecida,
o que gerou uma repressão extremamente violenta por parte do governo.
Na Bahia, aconteceu um dos mais importantes movimentos sociais da his-
tória brasileira, que teve como principal liderança, Antônio Conselheiro, pre-
gador do cristianismo. Formou-se o Arraial de Canudos, que era um campo
santo, no qual haviam em torno de vinte ou trinta mil habitantes. Por conta
da resistência que conseguiram estabelecer contra as investidas do governo,
o movimento foi interpretado como uma rebelião de alta periculosidade, sen-
do que só foi derrotado na quinta expedição enviada, composta por oito mil
homens.

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FIGURA 12: TREM ANTIGO.

Fonte: Plataforma Deduca (2020).

Porém de todos os movimentos messiânicos, o maior foi o do Contestado,


que eclodiu na divisa dos estados de Santa Catarina e Paraná, entre os anos
de 1914 e 1917, e teve diversos líderes, como o Monge João Maria. Na região do
Contestado, a maioria da população vivia em condições precárias e era analfa-
beta, sofrendo com a falta de assistência do estado, que dificilmente chegava
até essa região. Um fator que agravou ainda mais a situação social da região,
foi a contratação de empresas multinacionais como a Brazil Railway Com-
pany e a Southern Brazil Lumber and Colonization Company, para a realiza-
ção da construção da ferrovia que ligaria São Paulo ao Rio Grande do Sul. Essa
construção teve como uma de suas consequências a desapropriação de ter-
ras, deixando várias pessoas sem terem onde morar, as quais se juntaram em
campos santos, onde tinham um estilo de vida comunitário, e conseguiam se
manter através da socialização do trabalho, da pilhagem das fazendas ou das
doações recebidas.

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HISTÓRIA DO BRASIL III

A repressão governamental foi extremamente violenta, sendo que foi oficial-


mente a primeira vez na história brasileira foram utilizadas aeronaves para
fins militares, fazendo com que o movimento do Contestado chegasse ao fim
em 1917, com a destruição do último campo santo.

FIGURA 13: GUERRA DO CONTESTADO: INFANTARIA DO CORPO DE POLÍCIA


MARCHANDO RUMO A ZONA DE COMBATE

Fonte: Wikimedia (2019).

A intervenção do Exército no conflito do Contestado, entre


1914 e 1916, foi antecedida por debates que reanimaram
a disputa entre civis e militares pela liderança política do
país. A campanha eleitoral de 1909-1910, denominada
‘civilista’, confrontou o senador Rui Barbosa com o então
general Hermes Rodrigues da Fonseca, não por acaso
sobrinho do primeiro presidente e ministro da Guerra
entre os anos de 1906 e 1909. (RODRIGUES, 2014, p. 384.)

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HISTÓRIA DO BRASIL III

As condições socioeconômicas da população


eram muito complicadas, sendo que boa
parte das pessoas vivia em situação de
miséria, acrescido a isso a opressão política,
a qual eram submetidas constantemente.
Somando-se a isso, a igreja católica, desde
1860, promovia diversas iniciativas para
estimular a religiosidade popular.

A estrutura social do período contribuía


ainda mais para que existisse um abismo
econômico entre a classe que detinha a maior
parte da riqueza e a classe composta pela
maioria da população, que em muitos casos
não tinha o mínimo para a sobrevivência.

MACHADO, Paulo Pinheiro. Guerra, cerco, fome e


epidemias: memórias e experiências dos sertanejos do
Contestado. Revista Topoi, [s. l.], v. 12, n. 22, p. 178-186, jan./
jun. 2011. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/topoi/
v12n22/1518-3319-topoi-12-22-00178.pdf. Acesso em: 16
out. 2019.

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CONCLUSÃO

Esta unidade objetivou-se a apresentar uma reflexão sobre a República Oli-


gárquica e o fenômeno social do coronelismo, sendo que para tanto, alguns
tópicos de estudo foram fundamentais, a começar pela análise da constitui-
ção da Política do Café com Leite e do próprio coronelismo em si. Outros te-
mas importantes para compreendermos essa conjuntura foram a Política de
Compromissos, característica do coronelismo e as fraudes eleitorais. Por fim
para encerrar a unidade, abordamos as crises sociais que eclodiram no perío-
do, com ênfase para que fizeram parte do messianismo.

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HISTÓRIA DO BRASIL III

UNIDADE 4

OBJETIVO
Ao final da
unidade,
esperamos
que você seja
capaz de:

> Compreender
as origens da
indústria, os tipos
de industrialização
e o processo de
urbanização das
cidades.

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HISTÓRIA DO BRASIL III

4 INDUSTRIALIZAÇÃO E
URBANIZAÇÃO

INTRODUÇÃO
Esta unidade abordará uma reflexão sobre o processo de industrialização e
urbanização que aconteceu no Brasil. O surgimento da indústria em contra-
partida ao trabalho artesanal, é um fator fundamental para a compreensão
dessa temática. Cada contexto histórico é formado por características próprias
tanto no que se refere a política quanto a economia e a cultura, é por isso que
veremos um desenvolvimento diferenciado quanto aos modelos econômicos
adotados, iniciando pela industrialização por substituição de importações.
Na sequência, abordaremos a instauração do modelo nacional-desenvolvi-
mentista que dará uma nova perspectiva para a produção industrial e para
a economia nacional. Outro aspecto fundamental para a compreensão do
processo de industrialização é a publicidade e o consumo, assim como a ur-
banização das cidades, sendo que esse período histórico se configura como
um dos conteúdos mais importantes para o estudo da História do Brasil.

4.1 ORIGENS DA INDÚSTRIA


Para compreendermos o processo de industrialização e urbanização no Bra-
sil, é fundamental entendermos as origens da indústria em seu contexto his-
tórico. A transição da produção artesanal para a produção industrial foi o pro-
cesso nomeado de Revolução Industrial, que começou em meados do século
XVIII, na Inglaterra. Diversos fatores fizeram com que a Inglaterra fosse o berço
da industrialização, por exemplo, as questões sociais, econômicas e políticas.
Dentre esses podemos destacar a mão de obra disponível no período, as polí-
ticas voltadas para o protecionismo da produção nacional e o fato da Inglater-
ra ter a maior marinha mercante. Outro fator que colaborou para o surgimen-
to da Revolução Industrial foi o desenvolvimento tecnológico que possibilitou
a utilização de diferentes fontes energéticas, resultando na criação da máqui-
na a vapor. O enriquecimento inglês, graças à expansão marítima e à difusão
das ideias liberais também podem ser citados como aspectos importantes

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HISTÓRIA DO BRASIL III

nesse processo. Por fim, a instituição da Lei de Cercamentos de Terras, que


delimitou a propriedade privada na Inglaterra, contribuiu para o processo de
migração urbana, que culminou no aumento da mão de obra disponível nas
cidades.
No que se refere à jornada de trabalho, inicialmente podia chegar até 16 horas
de trabalho diário, sendo que as mulheres e crianças também eram inseridas
nas linhas de produção, condições essas que levaram ao surgimento das or-
ganizações sindicais.

FIGURA 1: AS FÁBRICAS QUÍMICAS DA BASF EM LUDWIGSHAFEN, ALEMANHA. ROBERT


FRIEDRICH STIELER, 1881

Fonte: Wikimedia.

A Inglaterra possuía ainda uma das maiores reservas de carvão do período,


condição que foi fundamental para a inovação tecnológica, acrescida da ofer-
ta de capital inicial para o desenvolvimento dos maquinários. Também é ne-
cessário compreendermos qual o conceito de revolução utilizado para fazer
referência a esse processo, sendo que nesse caso o termo aborda as transfor-
mações sociais que a industrialização gerou. Posteriormente, podemos falar
em uma Segunda Revolução Industrial que começa a se desenvolver a partir
de fins do século XIX, e vai ser caracterizada pela entrada de novas formas de
energia, como a eletricidade e o petróleo. Há o entendimento da existência
de uma Terceira Revolução Industrial, que surge em fins do século XX, sendo
representada principalmente pela utilização da energia atômica e pelo pro-

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cessamento de dados computadorizado, e, ainda, de uma Quarta Revolução


Industrial, a qual pode ser caracterizada pela difusão da internet e pela ten-
dência de automatização das fábricas.

Produção Revolução Produção em


artesanal Industrial larga escala

Tecnologia: o conceito de tecnologia é polissêmico, ou


seja, possui múltiplos significados, variando conforme o
contexto histórico no qual é utilizado. Porém, em geral,
esse conceito faz referência ao estudo e utilização das
mais diversas técnicas, ferramentas e métodos para
aprimorar as condições de vida.

A obsolescência programada é uma característica da sociedade industrial,


baseada na concepção – proposital – produção de produto que não irá funcionar
depois de um tempo – obsoleto – afim de manter a venda e compra – não
somente no que se refere à funcionalidade, mas também às especificações
estéticas. Além dos impactos sociais, há também uma crescente preocupação
com os impactos ambientais que essa prática gera. Recentemente, uma
iniciativa foi tomada na Europa, com a aprovação de uma lei que estipula que
os aparelhos tenham uma maior durabilidade e que o conserto dos mesmos
seja mais fácil.

NICOLACI-DA-COSTA, Ana Maria. Revoluções tecnológicas


e transformações subjetivas. Psic.: Teor. e Pesq., Brasília,
v. 18, n. 2, p. 193-202, ago. 2002. Disponível em: <http://
www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-
37722002000200009&lng=en&nrm=iso>

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4.2 INDUSTRIALIZAÇÃO POR SUBSTITUIÇÃO DE


IMPORTAÇÕES
No Brasil, o processo de industrialização acontece em um contexto diferen-
te do que em outros países se compararmos, por exemplo, em relação aos
países europeus próximos a Inglaterra. Um dos fatores que contribuiu para
que o processo de industrialização acontecesse de forma tardia no Brasil
foi a manutenção do sistema colonial que, entre outros aspectos, proibia a
criação de fábricas em território brasileiro. Dessa forma, os produtos eram
importados de Portugal, que servia como um intermediário, pois adquiria
as mercadorias da Inglaterra, fazendo com que elas chegassem até o Brasil
com um valor muito exacerbado.
Em relação ao processo de industrialização, um marco histórico foi a vinda
da Família Real em 1808, que proporcionou a Abertura dos Portos às Nações
Amigas e o fim da proibição quanto à criação de fábricas. Nesse período, a
Inglaterra dominava o mercado consumidor interno, enquanto havia uma
carência das condições necessárias para a industrialização do país, principal-
mente por conta da mão de obra, que ainda era escrava. Dessa forma, num
primeiro momento, o Brasil se estabeleceu como produtor de gêneros agríco-
las destinados à exportação, tendo então o perfil primário-exportador.

Sistema
colonial

Importação Industrialização
de produtos tardia

Por outro lado, também havia a ausência de consumidores, o que se confi-


gurou como um dos motivos para a Inglaterra ser contrária a manutenção da
escravidão. Além disso a existência dos latifúndios controlados pelos grandes
proprietários de terra, fazia com que houvesse uma certa reserva de recur-
sos naturais, em contrapartida a inexistência de recursos tecnológicos. Em
termos cronológicos, podemos considerar que o processo de industrialização
brasileiro inicia efetivamente na década de 1840, sendo que em 1844 foram
estabelecidas as tarifas de importação sobre os produtos industrializados.

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Após o estabelecimento de tratados comerciais com a Inglaterra, com um au-


mento nas tarifas de importação, e com o fim do tráfico de escravos em 1850,
havia uma produção composta por gêneros de baixa qualidade. Porém, havia
diversos empecilhos como a falta de uma infraestrutura básica, por exemplo,
o transporte das matérias-primas e das mercadorias. Com o fim da escravidão
e a Proclamação da República, o processo de industrialização recebe um con-
siderável aumento, principalmente por conta dos capitais que anteriormente
eram investidos na compra de escravos.
Inicialmente, a indústria têxtil é a que se consolida primeiro, atrelada ao de-
senvolvimento de uma burguesia urbana e industrial, e um proletariado, for-
mado em parte pelos imigrantes. A industrialização por substituição de im-
portações ocorreu pela necessidade de substituir mercadorias básicas que
durante o começo do século XX não puderam ser importadas, principalmen-
te por conta da Primeira Guerra Mundial e da Crise de 1929.

FIGURA 2: FÁBRICA TÊXTIL PEQUENA

Fonte: Plataforma Deduca (2020).

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HISTÓRIA DO BRASIL III

Para obter mais informações sobre a aplicação do modelo


de Industrialização e Substituição de Importações no
Brasil, acesse o artigo disponível no link: https://revistas.
ufpr.br/economia/article/viewFile/17054/11249

A indústria têxtil é voltada para o processo de manufatura de fibras que serão


transformadas em tecidos e poderão ser utilizadas em diversos produtos,
como vestuário e artigos têxteis domésticos.

MARSON, Michel Deliberali. A industrialização brasileira


antes de 1930: uma contribuição sobre a evolução da
indústria de máquinas e equipamentos no estado de São
Paulo, 1900-1920. Estud. Econ., São Paulo, v. 45, n. 4, p. 753-
785, Dez. 2015. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.
php?script=sci_arttext&pid=S0101-41612015000400753&ln
g=en&nrm=iso>. Acesso em 16 out. 2019.

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4.3 INSTAURAÇÃO DO NACIONAL-


DESENVOLVIMENTISMO
FIGURA 3: GRÁFICO ECONÔMICO.

Fonte: Plataforma Deduca (2020).

Após o desenvolvimento do modelo de industrialização por substituição de


importações, houve um processo de crescimento e aprofundamento das in-
dústrias em geral. Esse novo cenário deu origem ao chamado nacional-de-
senvolvimentismo, uma política econômica, baseada na ideia de autossufici-
ência da indústria nacional, buscando fornecer as condições necessárias para
que o país pudesse produzir os itens consumidos internamente, em todas as
etapas de produção. Dessa forma foram estabelecidas metas de crescimento
para a produção industrial, e realizados diversos investimentos na infraestru-
tura necessária para o desenvolvimento das indústrias.
Nesse modelo, existe uma participação ativa do estado, que fornece um su-
porte para a economia e estimula o aumento do consumo para movimentar
a produção. A primeira proposta do nacional-desenvolvimentismo surge em
fins do século XVIII, e se consolida nos séculos seguintes, tendo na concepção
de economia social uma política diferenciada, que busca um meio termo no
que se refere a presença do estado na sociedade. Na teoria, esse modelo é

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composto por altos índices de crescimento, diminuição das taxas de desem-


prego, melhora nas condições de trabalho, entre outras.
Até 1930, o modelo exportador era utilizado no Brasil de forma predominante,
tendo na cafeicultura, sua principal atividade. A intervenção estatal na esfera
econômica se manifestou principalmente através da instituição de uma po-
lítica fiscal e do controle de câmbio. Com o desenvolvimento do setor indus-
trial e os investimentos em infraestrutura houve uma melhora considerável
nas redes de comunicação, de transporte e de energia, resultando num cres-
cimento do setor industrial no início do século XX.

FIGURA 4: VAGÕES FERROVIÁRIOS NOS PÁTIOS DE CARGA

Fonte: Plataforma Deduca (2020).

Para obter mais informações sobre a História dos


Transportes no Brasil, acesse o artigo disponível no
link: https://www.revistatransportes.org.br/anpet/article/
view/172

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O nível de intervenção do estado na economia varia conforme o modelo


adotado pelo país, sendo que a máquina estatal pode escolher pela mínima
intervenção, quando há pouca ou nenhuma regulação do mercado, ou pela
máxima intervenção, quando o funcionamento do mercado é atrelado as
decisões governamentais.

MEMORIAL DA DEMOCRACIA (Brasil). Nacional-


Desenvolvimentismo: A chave para o Brasil moderno. [S.
l.], [20--]. Disponível em: http://memorialdademocracia.
com.br/card/nacional-desenvolvimentismo. Acesso em:
16 out. 2019

4.4 PUBLICIDADE E CONSUMO


FIGURA 5: JORNAIS.

Fonte: Plataforma Deduca (2020).

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Um fator indispensável para a existência e manutenção da indústria é o con-


sumo, sendo que atualmente o mesmo determina mais do que a escolha por
um produto, também influenciando no estilo de vida contemporâneo. A pu-
blicidade ocupa um papel fundamental nesse processo, sendo que quando a
mesma surgiu no Brasil era somente falada e acompanhou o surgimento das
mídias impressas, como a criação do primeiro jornal, a Gazeta do Rio de Janei-
ro, em 1808, o qual teve também o primeiro anúncio veiculado. Nesse período,
os anúncios em geral negociavam imóveis, compra e a venda de escravos,
carruagens, serviços, entre outros, sendo que em geral eram impressos em
cartazes ou panfletos.
A publicidade era então, em sua maior parte, veiculada nos meios de comuni-
cação impressos, sendo que em 1913 foi fundada a primeira agência de publi-
cidade no Brasil. Outro marco importante, foi a primeira lei formulada sobre
a publicidade que foi promulgada em 1968. Com o tempo, a publicidade in-
corpora outros aspectos que vão além da descrição dos produtos, associando
também a venda de ideias às mercadorias anunciadas.

Produção Publicidade Consumo


industrial

Cabe destacarmos que a Proclamação da República não trouxe mudanças


tão imediatas no que se refere a questão da industrialização, porém contri-
buiu para a formação de uma classe média urbana liberal. Na segunda meta-
de do século XIX, o processo de industrialização começa a surgir com a parti-
cipação de imigrantes que abrem estabelecimentos industriais e comerciais.
Porém, atribuir as mudanças sociais do período a essa classe média é um tan-
to equivocado, pois ela era dependente da elite agrária e acabava por optar
pela manutenção de uma relação cordial com a classe dominante.
Dessa forma, podemos considerar que a classe média tinha como caracterís-
tica ser mais conservadora, defendendo pautas relacionadas as oligarquias
agrárias. Essa condição fazia com que a classe média não fosse tão entusiasta,
pelo menos inicialmente, ao processo de industrialização brasileira, vindo a
se modificar lentamente nos anos 20 com a adesão ao Partido Democráti-
co, com características liberais e reformistas. As oligarquias tradicionais foram
gradativamente perdendo espaços para as novas oligarquias que surgiram
por conta da produção do café, e se consolidam na criação do Partido Repu-

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HISTÓRIA DO BRASIL III

blicano Paulista. De toda forma, cabe destacarmos que o Brasil da Primeira


República não pode ser considerado industrializado, pois de acordo com o
censo de 1920, a maioria da população estava empregada na agricultura. Por
outro lado, o processo de industrialização que se inicia nesse período e o seu
crescimento não pode ser excluídos, sendo que foram o início de todo o de-
senvolvimento fabril que se assistiu nas décadas seguintes.

FIGURA 6: PEÇA PUBLICITÁRIA PRODUZIDA NOS EUA EM 1890

Fonte: Wikimedia

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HISTÓRIA DO BRASIL III

De forma similar ao estabelecimento da prensa, a


formação do fenômeno publicitário foi o resultado de
um processo longo, reunindo vários fatores (técnico,
social, econômico etc.). Mesmo que não haja uma data
de nascimento precisa (os elementos necessários para
sua emergência se desenvolvem de modo mais ou
menos independente), a criação das agências pode
ser considerada como o momento do take-off do
fenômeno publicitário. O editor de jornal deixa de ser o
responsável pela comercialização de espaço publicitário.
Por conseguinte, aparece a agência de publicidade
como instância intermediária, pois através dela partia a
iniciativa e a comercialização efetiva dos espaços para
anúncios.

O colonato e o proletariado urbano formavam a base da pirâmide social


nas primeiras décadas do século XX, porém lutaram de diversas formas,
estabelecendo resistência a exploração social.

SANTOS, Moacir José dos; CARNIELLO, Monica Franchi.


História da Publicidade e da Propaganda: Campo
da Historiografia da Comunicação e da História do
Brasil. ALCAR 2015: 10° Encontro Nacional de História
da Mídia, Porto Alegre, 3 - 5 jun. 2015. Disponível
em: http://www.ufrgs.br/alcar/encontros-nacionais-1/
encontros-nacionais/ 10o-encontro-2015/historia-
da-publicidade-e-da-comunicacao-institucional/
historia-da-publicidade-e-da-propaganda-campo-da-
historiografia-da-comunicacao-e-da-historia-do-brasil/
at_download/file. Acesso em: 16 out. 2019.

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4.5 FORMAÇÃO DOS CENTROS URBANOS


FIGURA 7: VISTA DA CIDADE OURO PRETO, MINAS GERAIS.

Fonte: Plataforma Deduca (2020).

Para compreendermos o processo de formação dos centros urbanos é neces-


sário entendermos o desenvolvimento histórico de algumas das principais ci-
dades. Na segunda metade do século XIX, algumas melhorias técnicas, como
a instauração de um sistema hidráulico, a criação de uma rede de iluminação
e a implementação do transporte coletivo foram avanços significativos para o
desenvolvimento do cenário urbano. Também na paisagem começam a apa-
recer as primeiras mudanças como o aumento da existência de praças, a cria-
ção de vias arborizadas, e em 1930 o processo de êxodo rural, que aumenta o
contingente populacional nas cidades.
A concentração fundiária continua a ser a forma de organização rural, porém
a mecanização do campo começa a dar seus primeiros sinais. Na última dé-
cada do século XIX, houve um aumento no mercado interno, principalmente
por conta da produção de matéria-prima e de medidas protecionistas adota-
das pelo estado. Nesse período surgem as fábricas de médio porte, voltadas
principalmente para os setores de tecelagem, bebidas, calçados e alimentos.

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HISTÓRIA DO BRASIL III

As condições de trabalho eram semelhantes ao surgimento da Revolução In-


dustrial, sendo extremamente precárias. Entre os fatores que contribuíram
para o desenvolvimento da indústria nacional, podemos citar, além da forma-
ção dos centros urbanos, a criação e intensificação do mercado interno.

FIGURA 8: RUA GENERAL CARNEIRO, SÃO PAULO, 1900

Fonte: Wikimedia

Urbanização: processo que utiliza diversas técnicas afim


de modificar aspectos relacionados a infraestrutura
e funcionamento de uma cidade, de acordo com o
conceito de urbanismo.

Se uma pessoa que visitasse o Brasil com um intervalo de 10 anos no início do


século XX, ficaria surpreso com as mudanças que aconteceram na paisagem
social do período, principalmente por conta do processo de urbanização.

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HISTÓRIA DO BRASIL III

SAFFIOTI, Heleieth Iara Bongiovani; ACKERMANN,


Maria das Graças Grossi. Considerações sobre o
fenômeno urbano no Brasil. Rev. adm. empres.,
São Paulo, v. 13, n. 1, p. 83-90, mar. 1973. Disponível
em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_
arttext&pid=S0034-75901973000100008&lng=en&nr
m=iso>. Acesso em 16 out. 2019.

4.6 PROCESSO DE URBANIZAÇÃO


No século XX, associado com o processo de industrialização, ocorre um con-
siderável deslocamento populacional, que migra da área rural em direção à
área urbana, constituindo o chamado êxodo rural. É nesse período que ocorre
uma mudança no modelo econômico adotado pelo país, que deixa de ser
agrário-exportador, para adquirir características de um modelo urbano-in-
dustrial. Na prática isso significa que o Brasil deixa de ter quase que a totali-
dade de sua economia baseada na produção agrícola e na exportação, para
investir no desenvolvimento das cidades e das indústrias.

Urbanização

Formação
Êxodo rural
das cidades

Até 1950, a população ainda era majoritariamente rural, sendo que as princi-
pais atividades eram relacionadas a exportação agrícola, tendo o café como
principal produto. O processo de urbanização se intensificou no século XX
simultaneamente ao processo de industrialização, sendo que podemos ob-
servar já de 1890 até 1900, um aumento considerável no espaço urbano. Um
exemplo dessa relação é o fato de que as cidades que tiveram o maior cres-
cimento, eram as que já podiam contar com a presença das indústrias, como
por exemplo, Recife, que se configurava uma das metrópoles do período.

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HISTÓRIA DO BRASIL III

Uma das consequências da industrialização é o crescimento urbano, justa-


mente pela polarização criada entre campo e cidade, sendo que no primei-
ro encontram-se as matérias-primas, e na segunda as indústrias. Com o de-
senvolvimento industrial que se seguiu nas décadas posteriores, as indústrias
foram surgindo em diversos lugares, fortalecendo o mercado regional em
alguns contextos. O aumento da população urbana foi intensificado pelo
operariado que era empregado nas indústrias, porém esse crescimento não
necessariamente refletiu na melhoria das condições de vida da população.
Podemos considerar então que o sistema industrial instituiu um modo de
vida urbano, baseado em ideias de modernização, como o desenvolvimento
da comunicação de massa.

FIGURA 9: OPERÁRIOS E ANARQUISTAS MARCHAM PORTANDO BANDEIRAS NEGRAS


PELA CIDADE DE SÃO PAULO, DURANTE A GREVE GERAL DE 1917.

Fonte: Wikipedia

Para obter mais informações sobre a urbanização no


Brasil acesse o link: http://www.ipea.gov.br/desafios/
index.php?optioncom_content&view=article&id=994

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HISTÓRIA DO BRASIL III

A Greve Geral de 1917 teve mais de 70.000 participantes. E, entre outras causas
reivindicavam a abolição da exploração do trabalho de menores de 14 anos e
abolição do trabalho noturno feminino.

ROLNIK, Raquel; KLINK, Jeroen. Crescimento


econômico e desenvolvimento urbano: por que nossas
cidades continuam tão precárias?. Novos estud. -
CEBRAP, São Paulo, n. 89, p. 89-109, Mar. 2011. Disponível
em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_
arttext&pid=S0101-33002011000100006&lng=en&nrm
=iso>. Acesso em 16 out. 2019.

Surgimento Aumento da Concentração


do operariado população urbana nas cidades

CONCLUSÃO

Esta unidade objetivou apresentar uma reflexão sobre o processo de indus-


trialização e urbanização do Brasil durante a Primeira República, sendo que
nas primeiras décadas do século XX, diversos aspectos modificaram-se para
dar origem a uma sociedade mais moderna, de acordo com os preceitos da
época. Em uma sociedade agrária e oligárquica, começaram a despontar as
condições necessárias para o desenvolvimento de uma sociedade mais ur-
bana e industrializada, ao mesmo tempo em que o contexto internacional,
através da Crise de 1929, por exemplo, também influenciava nesse processo,
contribuindo para as mudanças que ocorreram.

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HISTÓRIA DO BRASIL III

UNIDADE 5

OBJETIVO
Ao final da
unidade,
esperamos
que você seja
capaz de:

> Identificar os
principais fatores
que culminaram
no fim da Primeira
República; e
> Compreender o
contexto histórico
do período.

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HISTÓRIA DO BRASIL III

5 MUDANÇAS SOCIAIS E A CRISE


FINAL DA PRIMEIRA REPÚBLICAO

INTRODUÇÃO
Esta unidade abordará uma reflexão sobre os principais fatores que culmi-
naram no fim da República Velha, sendo que, para desenvolver essa reflexão,
partiremos do conceito de processo histórico, buscando evidenciar que um
regime político não começa ou termina de forma abrupta, mas que é con-
sequência de diversos acontecimentos anteriores. Entre os fatores, podemos
identificar os que são considerados internos ao contexto brasileiro, como a
imigração, o tenentismo e a Semana de Arte Moderna de 1922, enquanto que
em relação aos fatores externos, podemos destacar a Primeira Guerra Mun-
dial e a Crise de 1929.
Nesse sentido, é importante destacarmos que esses fatores não aconteceram
de forma estanque, mas sim relacional, ou seja, interagiram uns com os ou-
tros, culminando na chamada “Revolução” de 1930 e, consequentemente, no
fim da República Velha.

5.1 IMIGRAÇÃO
Os primeiros imigrantes que chegaram ao Brasil, além dos portugueses e
africanos, vieram somente após a Abertura dos Portos para as Nações Ami-
gas, em 1808.

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FIGURA 1: PASSAPORTE E DINHEIRO.

Fonte: Plataforma Deduca (2020).

Inicialmente, as primeiras levas de imigrantes foram de chineses, suíços e ale-


mães, sendo que, a partir da metade do século XIX, a Grã-Bretanha pressio-
nou para que o tráfico de escravizados chegasse ao fim. Com o término da
entrada de novos escravizados e com uma alta taxa de mortalidade infantil, a
população escrava em geral diminuía constantemente. Parte dos escraviza-
dos que se mantiveram nas plantações de café durante o século XIX, foram
submetidos a um novo regime de trabalho, o colonato, sendo que, nesse caso,
era pago um salário, composto por um valor em dinheiro e pela cessão de um
pedaço de terra para plantação.
Por muito tempo, dentro da historiografia, foi aceita a interpretação de que
um dos principais fatores que contribuiu para a imigração foi a escassez de
mão de obra, porém, algumas pesquisas mais recentes têm questionado esse
entendimento, apontando que outros fatores seriam responsáveis pela imi-
gração. Entre esses fatores podemos destacar a tentativa intencional de criar
um exército de reserva, no que se referia aos postos de trabalho oferecidos,
pois assim os empregadores poderiam manter os salários mais baixos.

FIGURA 2: FLUXOGRAMA SOBRE A IMIGRAÇÃO.

Fim da Substituição da
Imigração
escravidão mão de obra

Fonte: Elaborado pela autora (2019).

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A imigração, nesse período, era majoritariamente europeia e estava relacio-


nada com uma política de embranquecimento, sendo que São Paulo foi o
estado que mais adotou essa postura. A maior concentração foi de imigrantes
portugueses, de acordo com o censo de 1920, seguida de espanhóis e italia-
nos. As jornadas de trabalho eram bastante longas e a maioria dos ambientes
possuíam condições precárias, sendo que houveram também diversos casos
de xenofobia. Essa situação dificultou a organização política dos trabalhado-
res, porém não impediu que houvesse diversas tentativas de união e luta de
sua parte, como, por exemplo, os movimentos sindicais.
Nesse período, existiam muitas áreas desocupadas no sul do Brasil e uma mi-
gração para os centros urbanos, principalmente por conta dos processos de
industrialização e urbanização. Esses imigrantes podiam vir com suas próprias
verbas, receber subsídio do país de origem ou do Brasil, e ainda dos fazendei-
ros, sendo que, no período de 1890 a 1929, entraram em torno de 3 milhões e
meio de imigrantes. O último fluxo de imigrantes destinados à ocupação dos
postos de trabalhos criados aconteceu em 1920, principalmente pelo cresci-
mento das migrações internas na própria Europa.

FIGURA 3: CAPA DA REVISTA "O IMIGRANTE", 1908

Fonte: Wikimedia Commons (2006).

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Para obter mais informações a ocupação do território


brasileiro, acesse o link: https://brasil500anos.ibge.gov.br/
territorio-brasileiro-e-povoamento.html.

Podemos considerar que desde a chegada


dos portugueses em território americano,
os fluxos imigratórios nunca estagnaram de
forma definitiva.

Nos mais diversos contextos históricos do


país podemos encontrar deslocamentos
populacionais, de maior ou menor
intensidade, que adentraram em território
brasileiro e contribuíram para a sua formação
enquanto nação.

OSSE, J. S. Abertura dos Portos: uma revolução no Brasil.


Aventuras na História, São Paulo, 28 jan. 2019. Disponível
em: https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/
reportagem/historia-brasil-abertura-portos.phtml.
Acesso em: 28 out. 2019.

5.2 TENENTISMO
Esse movimento surgiu já no começo da república. Ao todo, foram três le-
vantes militares motivados por oficiais de baixa patente. Entre as motivações
do Tenentismo podemos destacar as condições de vida e trabalho, que eram
bastante precárias, e nos quartéis havia uma insatisfação generalizada com o
modelo político vigente.

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As principais críticas eram ao funcionamento da República Oligárquica e ao


coronelismo, porém, não tinha como finalidade uma transformação social
muito radical, bem como eram contrários ao clientelismo e às fraudes eleito-
rais, sendo que defendiam um processo que garantisse o mínimo de legitimi-
dade ao processo eleitoral.

FIGURA 4: FLUXOGRAMA SOBRE OS MOVIMENTOS SOCIAIS

Tenentismo

Reivindicação social Críticas ao modelo


político

Fonte: Elaborado pela autora (2019).

Entre as propostas defendidas, encontrava-se o voto secreto, como forma de


modificar a situação social do período, porém os confrontos se tornaram mais
violentos e houve enfrentamento direto com os representantes da república
oligárquica, situação que contribuiu para o fim do regime como um todo.

FIGURA 5: REVOLTA DOS 18 DO FORTE DE COPACABANA: DA ESQUERDA PARA DIREITA,


TENENTES EDUARDO GOMES, SIQUEIRA CAMPOS, NÍLTON PRADO E O CIVIL OTÁVIO
CORREIA, 1922

Fonte: Wikimedia Commons (2008).

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Para obter mais informações sobre a ocupação do


território brasileiro, acesse o link: https://cpdoc.fgv.br/
producao/dossies/AEraVargas1/anos20/CrisePolitica/
MovimentoTenentista.

Dentre as diversas revoltas que aconteceram


na República Velha, algumas delas tiveram
características mais específicas, pois foram
motivadas por uma mesma causa ou por
um mesmo grupo.

Os movimentos que são considerados como


tenentistas, foram: a Revolta dos 18 do Forte
de Copacabana (1922); a Revolta Paulista de
1924; a Comuna de Manaus (1924) e a Coluna
Prestes (1925-1927).

AMELIA, C. FORJAZ. Tenentismo e política - tenentismo


e camadas médias urbanas na crise da Primeira
República. Rev. adm. empres., São Paulo, v. 17, n. 5, p. 100-
101, set./out. 1977. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/
S0034-75901977000500007. Acesso em: 28 out. 2019.

5.3 PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL


A Primeira Guerra Mundial recebeu esse nome por ter sido um conflito que al-
cançou proporções globais, pois mesmo os países que não participaram dire-
tamente foram impactados de alguma forma. Durante o período de 1914 até
1918, algumas das grandes potências se enfrentaram na guerra, sendo com-
posto dois grupos: os Aliados (Reino Unido, França, Rússia) e a Tríplice Aliança

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(Alemanha, Áustria-Hungria e Itália), porém, cabe ressaltar que essas configu-


rações se modificaram no decorrer do conflito. Estima-se que, ao todo, mais
de setenta milhões de militares participaram da Primeira Guerra Mundial, se
configurando como um dos conflitos mais violentos de todos os tempos.

FIGURA 6: GLOBO ANTIGO.

Fonte: Plataforma Deduca (2020).

Entre as principais causas podemos destacar as políticas imperialistas das po-


tências europeias, as quais causavam diversos atritos entre os países, sendo
que o estopim para o conflito foi o assassinato do arquiduque Francisco Fer-
nando da Áustria. Em 1918, os Aliados forçaram o recuo dos alemães, contan-
do com o apoio dos Estados Unidos da América, sendo que surge então a Liga
das Nações, que foi precursora da Organização das Nações Unidas.
O Brasil inicialmente tinha uma posição neutra, porém tentou não restringir
as exportações, especialmente do café, principal produto do período. Entre os
países com os quais negociava, estavam a Alemanha, a Inglaterra e a França.
Considerando que a economia era baseada principalmente em produtos des-
tinados para a exportação, houve um impacto significativo na mesma, pois as
exportações diminuíram com o conflito. Porém, mesmo com o país tentando
se manter neutro, em 1915 a Alemanha atacou um submarino brasileiro que
estava transportando café, sendo criada a Liga Brasileira pelos Aliados.

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Após a divulgação da notícia, o ministro Lauro Müller teve que renunciar, pois
defendia a neutralidade brasileira em relação ao conflito, e em 1917 o Brasil
declara guerra à Alemanha. Os movimentos sindicais e anarquistas eram con-
trários à declaração de guerra, o que foi um dos fatores que culminou na Gre-
ve Geral de 1917, a qual foi violentamente repreendida pelo Estado. Em 1918, a
Primeira Guerra Mundial chega ao fim com a assinatura do armistício e com
a Conferência de Paz de Paris, que deu origem ao Tratado de Versalhes.
O Brasil conseguiu o pagamento com juros, como forma de indenização, pe-
las sacas de café que haviam sido apreendidas nos portos alemães. Se ini-
cialmente houve uma diminuição das exportações, com a continuidade do
conflito, em termos econômicos, surgiram outras oportunidades, principal-
mente em relação a produção de alimentos, o que fez aumentar o número de
fábricas durante a guerra.

FIGURA 7: CAPA DO JORNAL DO BRASIL NO DIA 12 DE NOVEMBRO DE 1918

Fonte: Wikimedia Commons (2018).

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Para conhecer mais sobre a Primeira Guerra Mundial, veja


um acervo de fotos sobre o conflito, disponível no link:
http://g1.globo.com/mundo/noticia/2014/07/entenda-1-
guerra-mundial-em-20-fotos-da-epoca.html.

Durante a Primeira Guerra Mundial,


muitas mudanças surgiram por conta das
necessidades que a o conflito causou.

Um exemplo foram as comidas


industrializadas que se popularizaram de
forma significativa, sendo que produtos
como o saquinho de chá surgiram nesse
contexto.

CORREIA, S. A. B. Cem anos de historiografia da Primeira


Guerra Mundial: entre história transnacional e política
nacional. Topoi, Rio de Janeiro, v. 15, n. 29, p. 650-673,
dez. 2014. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.
php?script=sci_arttext&pid=S2237-101X2014000200650
Acesso em: 28 out. 2019

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5.4 CRISE MUNDIAL DE 1929


FIGURA 8: FLUXOGRAMA SOBRE A CRISE DE 1929.

Crise de 1929

Recessão econômica Quebra da Bolsa


de Nova Iorque

Fonte: Elaborado pela autora (2019).

Também conhecida como “Grande Depressão”, a Crise Mundial de 1929 foi


uma crise econômica que só terminou efetivamente com a 2ª Guerra Mun-
dial. Foi caracterizada por ser o período mais longo de recessão econômica do
século XX. Teve como principais características as altas taxas de desemprego,
queda do PIB (Produto Interno Bruto) de diversos países e a quebra da bolsa
de Nova Iorque.
A crise atingiu inicialmente os Estados Unidos da América, porém vários paí-
ses foram impactados pelos seus efeitos. No caso do Brasil, uma das principais
consequências foi a diminuição na exportação do café, inclusive porque os
Estados Unidos da América eram o maior comprador. Para tentar reverter
esse cenário, o governo brasileiro comprou e queimou toneladas de café, epi-
sódio que ficou conhecido como a queima do café. Os cafeicultores se recu-
savam a diminuir o plantio, o que agrava ainda mais a situação, fazendo com
que o país contraísse diversos empréstimos a altas taxas de juros, justamente
por conta da crise. Ao todo, foram queimadas cerca de 80 milhões de sacas
do produto na tentativa de controlar a oferta dele no mercado internacional,
sendo que a produção queimada seria suficiente para abastecer o consumo
desse mercado por cerca de três anos.

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FIGURA 9: QUEIMA DE ESTOQUES DE CAFÉ EM SANTOS, SÃO PAULO

Fonte: Memorial da Democracia (2017).

PIB: A sigla PIB faz referência ao Produto Interno Bruto,


que é composto pela soma de tudo o que foi produzido
em um território por um determinado período. Também
serve como um dos principais indicadores para avaliar a
situação econômica de um país.

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HISTÓRIA DO BRASIL III

A quebra da bolsa de Nova York, que


aconteceu em outubro de 1929, é o evento
mais marcante da Grande Depressão,
levando diversas empresas a falência.

A Crise de 1929 causou graves problemas


econômicos, sociais e políticos, culminando
num período de recessão que duraria por
décadas e impactaria diversos lugares.

SCHIFFERES, S. Crises financeiras: As lições da História.


BBC, 22 jan. 2008. Disponível em: https://www.bbc.
com/portuguese/reporterbbc/story/2008/01/080122_
economiacriseslicoes_ba.shtml Acesso em: 28 out. 2019.

5.5 SEMANA DE ARTE MODERNA


A Semana de Arte Moderna aconteceu em São Paulo entre os dias 11 e 18
de fevereiro de 1922, no Teatro Municipal da cidade, durante o governo de
Washington Luís, o qual apoiou o movimento. O movimento tornou-se um
marco histórico do modernismo brasileiro, constituindo-se uma vanguarda
artística, composta por nomes como Mário de Andrade, Oswald de Andrade,
Anita Malfatti e Heitor Villa-Lobos.

FIGURA 10: FLUXOGRAMA SOBRE O MODERNISMO

Semana de
Modernismo Marco histórico
Arte Moderna

Fonte: Elaborado pela autora (2019).

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Se observamos a Semana de Arte Moderna em seu contexto histórico, vere-


mos que a mesma contrastava com a República Velha e com as oligarquias
cafeeiras. O movimento foi muito influenciado pelas correntes artísticas euro-
peias, o que gerou uma reação da parte mais conservadora da sociedade, que
teceu duras críticas à Semana de Arte Moderna. Porém, em geral, na época o
evento não teve muita repercussão, ganhando renome posteriormente. Po-
demos considerar que a Semana de Arte Moderna surgiu principalmente por
um desejo de renovação artística e cultural, expressa através da valorização da
liberdade, tanto em relação aos temas quanto às formas das obras expostas,
sendo que destacamos a presença de elementos que remetiam ao futurismo
e às raízes da cultura popular brasileira.

FIGURA 11: CARTAZ ANUNCIANDO O ÚLTIMO DIA DA SEMANA, 1922

Fonte: Wikimedia Commons (2008).

Para obter mais informações sobre a Semana de Arte


de Moderna de 1922, acesse o link: https://super.abril.
com.br/mundo-estranho/o-que-foi-a-semana-de-arte-
moderna-de-1922/.

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Semana de Arte Moderna:

A inauguração da Semana de Arte Moderna de 1922 foi com uma


palestra do escritor Graça Aranha, sendo que no primeiro dia ainda
houveram apresentações de outros artistas, como Heitor Villa-Lobos.

Repercussão social:

A Semana de Arte Moderna, como representante do modernismo,


causou uma repercussão em diversos setores da sociedade, sendo que
os mais conservadores foram contrários à arte apresentada.

WALDMAN, T. À "frente" da Semana de Arte Moderna:


a presença de Graça Aranha e Paulo Prado. Estud.
hist., Rio de Janeiro, v. 23, n. 45, p. 71-94, jun. 2010.
Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_
arttext&pid=S0103-21862010000100004. Acesso em: 28
out. 2019.

5.6 “REVOLUÇÃO” DE 1930 E FIM DA REPÚBLICA


VELHA
A crise que levou ao fim da República Velha aconteceu de forma processu-
al, sendo que os outros tópicos abordados também podem ser considerados
como fatores que contribuíram para o término desse período. Durante a Po-
lítica do Café com Leite havia um consenso entre oligarquias dos estados de
São Paulo e Minas Gerais, porém, no governo de Washington Luís, houve o
rompimento do revezamento político realizado. O então presidente Washing-
ton Luís indicou para a sucessão no cargo o também paulista Júlio Prestes,
rompendo com o estabelecido anteriormente pelos dois estados.
Dessa forma, a oligarquia mineira se aliou com os políticos do sul e do nor-
deste, formando uma chapa concorrente, composta por Getúlio Vargas como
candidato a presidente e João Pessoa para vice-presidente.

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FIGURA 12: FLUXOGRAMA SOBRE A “REVOLUÇÃO” DE 1930

Política do Café São Paulo e


Revolução de 1930
com Leite Minas Gerais

Fonte: Elaborado pela autora (2019).

Com o assassinato de João Pessoa, eclode a “Revolução” de 1930, que se confi-


gurou enquanto um movimento armado liderado pelos estados de Minas Ge-
rais, Paraíba e Rio Grande do Sul. Existe um debate em torno da terminologia
que deve ser adotada para referenciar esse movimento, sendo que parte da
historiografia, considera o termo “revolução” como mais adequado, enquanto
que outra parte considera que termo “golpe de estado” é mais apropriado. Os
argumentos de que não foi uma revolução se baseiam principalmente no fato
de que não houve uma modificação profunda nas estruturas sociais, sendo
mais um movimento que estabeleceu uma configuração diferente da ante-
rior, porém que continuou sem participação popular, por exemplo.
Iniciando-se com a tomada do quartel geral de Porto Alegre, as tropas gaú-
chas marcharam até São Paulo, contendo em torno de 80.000 homens. Com
o apoio de vários outros estados, Washington Luís foi deposto através um gol-
pe e foi instaurada uma junta militar, tendo como chefe político Getúlio Var-
gas, o qual deu início a um Estado forte e centralizado, configurando-se como
uma ditadura.

FIGURA 13: CARTAZ DE CAMPANHA DE GETÚLIO VARGAS PARA PRESIDENTE DA


REPÚBLICA NA ELEIÇÃO DE 1930

Fonte: Wikimedia Commons (2011).

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HISTÓRIA DO BRASIL III

Insurgiram-se os mineiros e, com eles, os gaúchos.


O estado de Minas Gerais não aceitaria uma nova
presidência paulista em detrimento do pacto de Ouro
Fino. Os gaúchos, a seu turno, não suportariam um
novo governo voltado para os interesses exclusivos
de São Paulo. Apressaram-se os mineiros em lançar a
candidatura oposicionista de Antônio Carlos Ribeiro de
Andrada, então Presidente do Estado de Minas Gerais.
Mas a necessidade de consolidar robusta aliança com os
gaúchos inclinou Antônio Carlos a ceder a candidatura
em benefício de Getúlio Vargas. (SOARES, 2016, p. 39)

Podemos encontrar, ainda na década de


1920, alguns indícios do que viria a ser
a Revolução de 1930, partindo de uma
perspectiva processual.

Fatores como a industrialização e a


urbanização modificaram a sociedade da
época, levando a população a questionar
sua participação na política do período.

LAMOUNIER, B. O modelo institucional dos anos 30 e a


presente crise brasileira. Estud. av., São Paulo, v. 6, n. 14, p.
39-57, abr. 1992. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.
php?script=sci_arttext&pid=S0103-40141992000100004
.Acesso em: 28 out. 2019.

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HISTÓRIA DO BRASIL III

CONCLUSÃO

Nesta unidade, objetivou-se apresentar uma reflexão sobre os diversos fato-


res que culminaram na “Revolução” de 1930 e no fim da República Velha, en-
quanto forma de organização política. Dentre esses fatores, destacamos ini-
cialmente a imigração, que ocorreu principalmente após o fim da escravidão
e impactou na sociedade brasileira do período de diversas formas, como, por
exemplo, na questão cultural. Ainda em relação aos fatores internos destaca-
mos o tenentismo, como um movimento que questionava a organização da
República Velha.
Em relação aos fatores externos, destacamos a eclosão da Primeira Guerra
Mundial e a Crise de 1929, como acontecimentos que influenciaram direta-
mente o cenário nacional. A Semana de Arte Moderna de 1922 foi um outro
aspecto bastante significativo para o contexto estudado, pois representou as
mudanças culturais que começavam a se delinear no período. Por fim, a “Re-
volução” de 1930 foi o ponto final do regime anterior, instaurando um novo
capítulo na História do Brasil.

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HISTÓRIA DO BRASIL III

UNIDADE 6

OBJETIVO
Ao final da
unidade,
esperamos
que você seja
capaz de:

> Assimilar
a utilização
de diferentes
abordagens
didáticas acerca
do conteúdo
trabalhado;
> Compreender as
especificidades
dos conteúdos
referentes à
República.

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HISTÓRIA DO BRASIL III

6 ABORDAGEM DIDÁTICA DOS


CONTEÚDOS REFERENTES À
PROCLAMAÇÃO E INSTAURAÇÃO
DA REPÚBLICA

INTRODUÇÃO
Esta unidade abordará uma reflexão sobre a importância das práticas de en-
sino em relação ao conteúdo trabalhado, pois tão importante quanto o do-
mínio dos temas é a forma que eles são abordados. Para começar, teceremos
algumas considerações sobre o ensino de História em geral, pontuando al-
gumas mudanças que aconteceram na área e influenciaram no processo de
produção do conhecimento histórico. Na sequência, abordaremos o processo
de ensino e aprendizagem, partindo da compreensão de aprendizagem ati-
va, na qual o aluno deve se ver como produtor do seu próprio conhecimento.

FIGURA 1: ALUNO PRODUTOR DO PRÓPRIO CONHECIMENTO.

Fonte: Plataforma Deduca (2019).

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HISTÓRIA DO BRASIL III

Outro tópico importante faz referências aos aspectos didáticos existentes nos
conteúdos referentes à República, e à proclamação dela, considerando que
existem diversas formas de abordar esses temas. Ao enfatizar questões como
a participação popular e contexto histórico do período, já é possível trabalhar
esses conteúdos de forma mais aproximada da realidade dos alunos. Assim
como existem diferenças em relação a abordagem didática sobre a repúbli-
ca na historiografia, também houve diversas mudanças de acordos com as
tendências teóricas, que possibilitaram compreender esse tema de forma di-
versa. Por fim, a elaboração de atividades práticas é um tópico que busca
ressaltar a importância de desenvolver com os alunos ações que permitam a
construção de um conhecimento crítico e reflexivo.

6.1 ENSINO DE HISTÓRIA


Para muitas pessoas, a História é uma ciência que estuda somente o passado
e produz um conhecimento estático, ou seja, que não se renova de acordo
com as mudanças sociais. Porém na realidade, o conhecimento histórico está
diretamente associado com o contexto no qual é produzido, sendo que não
estuda somente o passado, mas o tempo como um todo, incluindo, nesse
sentido, a noção de presente e de futuro.
Um dos conceitos mais importantes para a produção e ensino do conhecimen-
to histórico é o de consciência histórica, desenvolvido pelo historiador alemão
Jörn Rüsen. Nessa perspectiva, o foco do processo de ensino deixa de ser o ensi-
no positivista desenvolvido no século XIX, que tinha na memorização de datas e
nomes a sua principal intencionalidade, para enfatizar a importância do enten-
dimento do conhecimento histórico numa abordagem mais ampla.
Dessa forma, a importância do ensino de História é a de desenvolver uma cons-
ciência histórica que permita ao aluno se localizar temporalmente, ao mesmo
tempo que consiga fazer com que o mesmo entenda que os contextos históri-
cos são diferentes entre si. Qualquer tema histórico pode ser abordado por essa
perspectiva, pois é possível enfatizar a interpretação sobre os acontecimentos e
sua influência no contexto do período independente do conteúdo trabalhado.
Quando se altera o entendimento acerca da forma que o conteúdo deverá ser
trabalhado também será necessário modificar o processo avaliativo, pois uma
avaliação que exija dos alunos somente a memorização de datas e nomes não
será compatível com um processo de ensino diferenciado.

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HISTÓRIA DO BRASIL III

Além das mudanças referentes à produção e ensino do conhecimento his-


tórico, também é necessário compreendermos que outros fatores, como a
inserção da tecnologia digital na educação e a mudança no acesso à informa-
ção, impactam no ensino de História, sendo fundamental a problematização
dessas questões na educação.

FIGURA 2: PROFESSOR TRABALHANDO COM UM ALUNO NO COMPUTADOR.

Fonte: Plataforma Deduca (2020).

Para obter mais informações sobre a teoria de Jörn Rüsen,


acesse o texto disponível no link: http://www.scielo.br/pdf/
edreal/v37n3/15.pdf

O ensino de História varia muito conforme o local no qual é realizado, sendo


que, ao redor do mundo, poderemos encontrar diversas formas de abordar
os conteúdos históricos, sendo que questões como a cultura, a política e a
economia do local influenciam diretamente na História que é ensinada.

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HISTÓRIA DO BRASIL III

6.2 PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM


No que se refere ao processo de ensino e aprendizagem, é importante desta-
carmos que para a abordagem da História ser diferenciada é necessário que
o aluno possa se ver como um agente ativo na construção do conhecimento.
De acordo com essa perspectiva, o aluno deve ser protagonista no processo de
aprendizagem, enquanto o professor tem a função de mediar o conhecimento,
aplicando técnicas de ensino que auxiliem na compreensão do conteúdo.
O desenvolvimento de atividades que possibilitem ao aluno a assimilação re-
lacional dos conteúdos referentes a área de História é uma das técnicas pos-
síveis de serem utilizadas, sendo que nessa perspectiva o aprendizado não
ocorre somente em sala de aula, embora, esse seja um espaço privilegiado
para a construção do saber. Um conceito fundamental nessa concepção é
o de autonomia, pois é importante que o aluno possa se ver como capaz de
construir seu conhecimento de diversas formas, sem ficar estritamente de-
pendente do professor.
A construção ativa do conhecimento também pressupõe a interação com os
colegas, seja presencial ou on-line, pois parte do entendimento de que a troca
de informações sobre o conteúdo abordado é necessária para o desenvolvi-
mento de diferentes perspectivas acerca dele. Outro ponto que é fundamen-
tal em relação ao processo de ensino e aprendizagem se refere à necessidade
de estabelecer uma relação entre o conteúdo abordado e o contexto do aluno.
Se considerarmos que os alunos vivenciam realidades distintas, podemos con-
siderar que ao trabalharmos o conceito de processo histórico poderemos essa
relação. Isso se deve ao fato de que, partindo do entendimento do processo
histórico, os acontecimentos na História estão relacionados entre si, indepen-
dentemente da distância temporal. Dessa forma, o processo de ensino e apren-
dizagem deve considerar que a construção do conhecimento histórico pode
ser voltada para o desenvolvimento da consciência histórica e do saber crítico.

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HISTÓRIA DO BRASIL III

FIGURA 3: JOVEM ESTUDANDO EM BIBLIOTECA

Fonte: Plataforma Deduca (2020).

Para obter mais informações sobre a educação, acesse


o portal do Ministério da Educação, no link: http://portal.
mec.gov.br/

É importante compreendermos que as teorias didáticas levam em consideração


situações hipotéticas e que, justamente por isso, devem ser aplicadas de
acordo com a realidade na qual serão realizadas.

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HISTÓRIA DO BRASIL III

VASCONCELOS, C.; PRAIA, J. F.; ALMEIDA, L. S. Teorias de


aprendizagem e o ensino/aprendizagem das ciências:
da instrução à aprendizagem. Psicologia Escolar e
Educacional, Campinas, v. 7, n. 1, p. 11-19, jun. 2003.
Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/pee/v7n1/v7n1a02.
pdf. Acesso em: 9 jan. 2020.

6.3 ASPECTOS DIDÁTICOS SOBRE A


PROCLAMAÇÃO DA REPÚBLICA
Abordamos, anteriormente, a importância do ensino ser contextualizado his-
toricamente para que os acontecimentos e fatos possam ser compreendidos
de forma relacional. Dessa forma, em relação ao conteúdo sobre a Proclama-
ção da República, existem alguns aspectos que podem ser destacados, a co-
meçar pela associação da Proclamação da República com a ideia de moder-
nidade.
Ao mesmo tempo em que a república tentava representar uma mudança em
direção à modernização do Brasil, fazia também oposição em relação à mo-
narquia, que, nesse sentido, era associada à ideia de tradição. Assim, abordar
com os alunos o significado que a alteração de regime político tinha no con-
texto do período, é uma forma de abranger a ideia de processo histórico, pois
enfatiza a compreensão de que a república não foi instituída repentinamente,
mas foi consequência de ações anteriores.
Alguns outros pontos que podem ser destacados com a intencionalidade de
enfatizar a noção de processo histórico em relação aos temas sobre a Procla-
mação da República são a análise da participação popular nesse momento
e posteriormente na consolidação do regime, assim como as mudanças so-
ciais que a instauração da República provocou. A abordagem do conceito de
república em seu significado original também pode possibilitar aos alunos o
entendimento sobre esse acontecimento histórico e suas repercussões. No
caso brasileiro, podemos encontrar algumas especificidades em comparação
a outros processos de instauração da República, pontos que podem ser abor-
dados a fim de relacionar a teoria com a prática na aula de História.

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HISTÓRIA DO BRASIL III

FIGURA 4: DEODORO DA FONSECA NUMA NOTA DE 500 CRUZEIROS, 1981. PRIMEIRO


PRESIDENTE DA REPÚBLICA DO BRASIL APÓS O GOLPE MILITAR QUE DEPÔS O
IMPERADOR DOM PEDRO II.

Fonte: Plataforma Deduca (2020).

A Proclamação da República é um episódio da


modernização à brasileira. Nas décadas finais do Império,
o vocábulo república expandiu seu campo semântico
incorporando as ideias de liberdade, progresso, ciência,
democracia, termos que apontavam, todos, para um
futuro desejado. (MELLO, 2009)

A importância de trabalharmos os aspectos didáticos de um conteúdo em


específico é buscar neles os elementos que permitem o desenvolvimento de
uma abordagem mais pedagógica, identificando os tópicos que facilitam o
estudo dos temas relacionados.

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HISTÓRIA DO BRASIL III

MELLO, M. T. C. de. A república e o sonho. Varia Historia,


Belo Horizonte, v. 27, n. 45, p. 121-39, jan./jun. 2011. Disponível
em: http://www.scielo.br/pdf/vh/v27n45/v27n45a06.pdf.
Acesso em: 9 jan. 2020.

6.4 ASPECTOS DIDÁTICOS SOBRE A REPÚBLICA


É necessário o estabelecimento de marcos temporais, porém eles devem ser
compreendidos como pontos de referência para a compreensão do contexto
histórico e não como o objetivo em si. Abordar aspectos relacionados à cons-
tituição da república, por exemplo, suas principais características, é uma das
possibilidades que permitem o ensino de forma contextualizada.
Entre essas características, podemos destacar os governos militares, os movi-
mentos sociais e a instituição da Política do Café com Leite, buscando abor-
dar com os alunos questões reflexivas sobre esses temas. Também é possível
estabelecer comparativos sobre os diversos regimes políticos que existiram
no Brasil a fim de fornecer condições para que seja possível distinguir e apro-
ximar um regime do outro. Ao propor uma análise que considere a relação
estabelecida entre os diversos aspectos sociais, como o político, o econômico
e o cultural, além da compreensão acerca dos eventos que aconteceram após
a Proclamação da República se torna mais ampla.
Outros dois tópicos que também pode ser trabalhados são os das eleições e da
promulgação da Constituição de 1891, traçando um paralelo com a realidade
contemporânea. Ao estabelecer uma aproximação entre tópicos semelhan-
tes, porém em contextos distintos, é fundamental que o professor de História
tome cuidado com o anacronismo, ao tentar transpor valores ou conceitos de
um contexto para o outro. Em geral, podemos considerar que não há conte-
údo que não possa ser abordado de forma didática, sendo que o que varia é
a perspectiva escolhida para trabalhar com os temas referentes ao conteú-
do. Para além da abordagem selecionada, a realização de atividades voltadas
para a construção do conhecimento de forma reflexiva podem auxiliar.

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HISTÓRIA DO BRASIL III

FIGURA 5: PROFESSORA E ALUNOS TRABALHANDO JUNTOS NO ENSINO FUNDAMENTAL.

Fonte: Plataforma Deduca (2020).

Anacronismo: Tendência a interpretar contextos


históricos temporalmente distantes de acordo com os
valores e ideias do contexto contemporâneo. É uma
postura que deve ser evitada pelo profissional da área da
História a fim de minimizar as interpretações errôneas
sobre outros períodos históricos.

Compreender o contexto histórico de um determinado período se configura


como um dos principais objetivos do ensino de História, pois por meio dessa
perspectiva é possível analisar diversos aspectos da sociedade em questão.

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HISTÓRIA DO BRASIL III

BITTENCOURT, C. F. Reflexões sobre o ensino de História.


Estudos Avançados, São Paulo, v. 32, n. 93, p. 127-49,
maio/ago. 2018. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/
ea/v32n93/0103-4014-ea-32-93-0127.pdf. Acesso em: 9 jan.
2020.

6.5 ABORDAGENS HISTORIOGRÁFICAS SOBRE A


FORMAÇÃO DA REPÚBLICA
Com as mudanças que aconteceram na produção do conhecimento histórico
ao decorrer do tempo, a perspectiva sobre alguns conteúdos que por vezes
já pareciam estar cristalizados na área foi revista. Um exemplo dessa revisão
historiográfica foi o surgimento de correntes historiográficas, como os Anna-
les, que buscaram priorizar o enfoque cultural em vez do político. Ao deixar
de focar no viés estritamente político da formação da república, foi possível
descobrirmos outros aspectos da sociedade na época da Primeira República.
Essas interpretações, longe de serem excludentes, são capazes de se comple-
mentar, proporcionando um entendimento mais apurado dos acontecimen-
tos. Nesse sentido, uma mudança fundamental para o surgimento de novas
perspectivas sobre os acontecimentos históricos foi a ampliação do conceito
de fonte. Registros históricos que nunca haviam sido identificados como fon-
te a partir do século XX, receberam esse status e puderam oferecer informa-
ções inestimáveis sobre diversos aspectos das sociedades que os produziram.
De acordo com o paradigma positivista desenvolvido no século XIX, as fon-
tes deveriam ser documentos oficiais ou ligados aos grandes nomes políti-
cos. Porém, com as mudanças historiográficas, registros como fotos, cartas,
jornais, filmes, músicas, entre outros, puderam ser entendidos como fontes
históricas que possibilitam acesso ao período no qual foram produzidos. Com
a inclusão de suportes diferenciados na compreensão de fonte histórica, tam-
bém foi possível a inserção de novos sujeitos, deslocando a centralidade das
figuras públicas e ligadas ao poder governamental. Dessa forma, grupos mi-
noritários, como as mulheres e trabalhadores, começaram a fazer parte dos
estudos, ganhando visibilidade histórica pelos papéis que desempenharam
no decorrer da História.

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116 Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017
HISTÓRIA DO BRASIL III

FIGURA 6: CLOSE DE UMA PILHA DE FOTOS VINTAGE DE FAMÍLIA

Fonte: Plataforma Deduca (2020).

A escola dos Annales é uma linha historiográfica que sur-


giu no século XX e renovou a produção do conhecimento
historiográfico, principalmente por características como
a interdisciplinaridade e os estudos culturais.

As mudanças que ocorrem na produção do conhecimento histórico, em nível


acadêmico, não são em sua grande maioria divulgadas simultaneamente; por
isso, a população que não é especializada na área não tem acesso a todos os
avanços realizados.

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HISTÓRIA DO BRASIL III

GOMES, T. de M. A força da tradição: a persistência do


antigo regime historiográfico na obra de Marc Bloch.
Varia Historia, Belo Horizonte, v. 22, n. 36, p. 443-59, jul./
dez. 2006. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/vh/
v22n36/v22n36a11.pdf. Acesso em: 9 jan. 2020.

6.6 ELABORAÇÃO DE ATIVIDADES PRÁTICAS


A exibição teórica do conteúdo deve estar associada com o desenvolvimento
de atividades práticas que permitam a reflexão sobre o conteúdo abordado.
Dessa forma, a proposta acerca da realização de atividades é que elas sejam
compreendidas como uma experiência pelos alunos, auxiliando dessa forma
a reflexão sobre os conteúdos abordados. Entre as atividades que podem ser
aplicadas, destacamos, por exemplo, a criação de um fórum sobre o tema
abordado, pois os alunos terão que ler e escrever sobre os conteúdos apreen-
didos.
O trabalho com fontes também é uma possibilidade que permite a reflexão
sobre os conteúdos estudados, por exemplo, em relação à temática republi-
cana existe uma variedade considerável de fontes que podem ser abordadas,
desde manchetes de jornais até imagens do período. A metodologia utilizada
para abordar essas fontes deve ser diferenciada, pois cada suporte exige um
tipo de análise específica, como no caso das imagens. Estimular os alunos
para que desenvolvam tarefas em conjunto, sejam elas presenciais ou on-line,
também é uma forma interessante de estimular a reflexão sobre os conteú-
dos abordados.

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HISTÓRIA DO BRASIL III

FIGURA 7: COLEGAS ESTUDANDO JUNTAS.

Fonte: Plataforma Deduca (2020).

Para obter mais informações sobre as metodologias ativas


acesse o link: https://novaescola.org.br/conteudo/11897/
como-as-metodologias-ativas-favorecem-o-
aprendizado

Para muitos profissionais, a História é uma área na qual a realização de


atividades práticas é impensável, por se tratar de uma disciplina muito teórica,
porém existem diversas propostas que possibilitam desenvolver a relação
entre o conteúdo estudado e a aplicação dele.

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HISTÓRIA DO BRASIL III

MACEDO, K. D. da S. et al. Metodologias ativas de


aprendizagem: caminhos possíveis para inovação no
ensino em saúde. Escola Anna Nery, Rio de Janeiro, v. 22,
n. 3, jul. 2018. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/ean/
v22n3/pt_1414-8145-ean-22-03-e20170435.pdf. Acesso
em: 9 jan. 2020.

CONCLUSÃO

Para além do estudo sobre os conteúdos históricos, também é necessária a


discussão como o conhecimento deve ser produzido e estudado, pois existem
diversas formas de realizar essas atividades. A área da História possui suas es-
pecificidades e por isso necessita de metodologias adequadas para abordar
os temas que fazem parte da disciplina, buscando enfatizar a importância do
contexto histórico.
No que se refere aos conteúdos pertinentes à república e à sua proclamação,
podemos perceber que enfatizar os aspectos referentes ao contexto do perío-
do auxilia na compreensão do conceito de processo histórico. Questões como
a instauração do novo regime, a formação da junta militar, o sistema eleitoral
e a Política do Café com Leite são aspectos que podem se relacionar entre si,
proporcionando um entendimento mais amplo desse assunto.

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ANOTAÇÕES

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HISTÓRIA DO BRASIL III

REFERÊNCIAS
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