Você está na página 1de 122

HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA

GRUPO A Faculdade Multivix está presente de norte a sul

MULTIVIX
do Estado do Espírito Santo, com unidades em
Cachoeiro de Itapemirim, Cariacica, Castelo, Nova
Venécia, São Mateus, Serra, Vila Velha e Vitória.
Desde 1999 atua no mercado capixaba,
destacando-se pela oferta de cursos de
graduação, técnico, pós-graduação e
extensão, com qualidade nas quatro áreas
do conhecimento: Agrárias, Exatas,
Humanas e Saúde, sempre primando pela
qualidade de seu ensino e pela formação
de profissionais com consciência cidadã
para o mercado de trabalho.

Atualmente, a Multivix está entre o seleto


grupo de Instituições de Ensino Superior que
possuem conceito de excelência junto ao
Ministério da Educação (MEC). Das 2109 institu-
ições avaliadas no Brasil, apenas 15% conquis-
taram notas 4 e 5, que são consideradas
conceitos de excelência em ensino.

R EE II T O R
R
Estes resultados acadêmicos colocam
todas as unidades da Multivix entre as
melhores do Estado do Espírito Santo e
entre as 50 melhores do país.

MISSÃO

Formar profissionais com consciência


cidadã para o mercado de trabalho, com elevado
padrão de qualidade, sempre mantendo a credibil-
idade, segurança e modernidade, visando à satis-
fação dos clientes e colaboradores.

VISÃO

Ser uma Instituição de Ensino Superior reconheci-


da nacionalmente como referência em qualidade
educacional.

MULTIVIX EAD
2 Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017
BIBLIOTECA MULTIVIX (Dados de publicação na fonte)

Maira Franco Tangerino; Mauricio Tintori Piqueira.

História Contemporânea / Tangerino, Maira Franco; Piqueira, Mauricio Tintori. - Multivix, 2020.

Catalogação: Biblioteca Central Multivix


2020 • Proibida a reprodução total ou parcial. Os infratores serão processados na forma da lei.

MULTIVIX EAD
Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 3
LISTA DE FIGURAS
> Figura 1. Partilha da África. 13
> Figura 2. Francisco Ferdinando. 15
> Figura 9. Capa do Jornal Gazeta de Notícias do Rio de Janeiro
anunciando o fim da Guerra. 24
> Figura 11. Imigrantes Italianos e Alemães empregados na construção da
ferrovia Montenegro-Caxias, início séc. XX. 27
> Figura 1. Domingo Sangrento (1905). 33
> Figura 4. Cartaz de Propaganda da NEP. 39
> Figura 5. Josef Stálin. 41
> Figura 6. Stálin e Mao Tse-Tung. 44
> Figura 1 - Fila de famílias aguardando ajuda em 1929 50
> Figura 2 - Família se mudando andando. 51
> Figura 4 - Cartaz contra a Alemanha na entrada dos EUA na Primeira
Guerra 55
> Figura 5 – Selo representativo do New Deal 60
> Figura 1 - Soldados alemães na invasão à Polônia – setembro de 1939 70
> Figura 2 - Winston Churchill 71
> Figura 3 - Hitler em Paris, em junho de 1940 72
> Figura 4 - A Batalha de Stalingrado 74
> Figura 5 - Wernher von Braun 76
> Figura 6 - Os “pracinhas” brasileiros 77
> Figura 7 - Soldados soviéticos ocupam o Reichstag, em Berlim,
maio de 1945 79
> Figura 8 - A destruição de Hiroshima pela bomba atômica 81
> Figura 9 - A Conferência de Yalta 82
> Figura 1 – Propaganda utilizada durante o Macarthismo. 88
> Figura 2 - Charge ironizando o mundo dividido entre Estados Unidos
e União Soviética 89
> Figura 3 – Rambo I 92
> Figura 1: Marcus Garvey 103
> Figura 2: William Du Bois 103

MULTIVIX EAD
4 Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017
> Figura 4: Bandeira da Argélia 107
> Figura 5: Patrice Lumumba 109
> Figura 6: Kwame Nkruma 110
> Figura 7: Outdoor comemorativo dos 40 anos da independência
de Angola 112
> Figura 8: Robert Mugabe 113
> Figura 12: Greenpeace 116
> Figura 13: Ronald Reagan e Margareth Thatcher 117
> Figura 14: Ataque ao World Trade Center 118

MULTIVIX EAD
Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 5
SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA 9

UNIDADE 1 1 PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL 11


INTRODUÇÃO DA UNIDADE 11
1.1 ANTECEDENTES E TENSÕES  11
1.2 ESTOPIM  14
1.3 GUERRA E INDUSTRIALIZAÇÃO  18
1.4 RECONFIGURAÇÃO DA EUROPA 20
1.5 TRATADO DE VERSALHES  23
1.6 SALDO DA PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL  26

UNIDADE 2 2 REVOLUÇÃO RUSSA DE 1917 31


INTRODUÇÃO  31
2.1. SITUAÇÃO DA RÚSSIA ANTES DA REVOLUÇÃO 31
2.2. IDEOLOGIA DA REVOLUÇÃO RUSSA E GRUPOS SOCIAIS
PARTICIPANTES 34
2.3. POLÍTICAS ECONÔMICAS E REORGANIZAÇÃO DO ESTADO 37
2.4. ASPECTOS E DIFERENÇAS ENTRE OS GOVERNOS DE LÊNIN E STÁLIN40
2.5. TRANSFORMAÇÕES NA RÚSSIA E O LEGADO DA REVOLUÇÃO PARA O
MUNDO 43
2.6. A INFLUÊNCIA DA REVOLUÇÃO RUSSA EM OUTROS MOVIMENTOS
SOCIALISTAS 44

UNIDADE 3 3 CRISE DE 1929, FASCISMO E NAZISMO 47


INTRODUÇÃO DA UNIDADE 47
3.1 ANTECEDENTES DA CRISE DE 1929 47
3.2 EXPLOSÃO DA CRISE: DIA DA QUEBRA DA BOLSA DE NOVA YORK 49
3.3 CONSEQUÊNCIAS DA CRISE PARA A ALEMANHA 53
3.4 CRISE E LITERATURA NORTE-AMERICANA: O CASO JOHN STEINBECK 55
3.5 GOVERNO ROOSEVELT E NEW DEAL: AÇÕES CONTRA A CRISE 58
3.6 ASCENSÃO E CARACTERIZAÇÃO DO FASCISMO ITALIANO 61
3.7 ASCENSÃO E CARACTERIZAÇÃO DO NAZISMO ALEMÃO 63

MULTIVIX EAD
6 Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017
UNIDADE 4 4 SEGUNDA GUERRA MUNDIAL  67
INTRODUÇÃO  67
4.1. MOTIVAÇÕES ALEMÃS PARA A GUERRA 68
4.2. REAÇÃO MUNDIAL AO CONFLITO 71
4.3. ESTRATÉGIAS MILITARES, TECNOLOGIA MILITAR E DESENVOLVIMENTO
CIENTÍFICO 72
4.4. PARTICIPAÇÃO DO BRASIL NA GUERRA: O CASO FEB 76
4.5. DIA D: INVASÃO À ALEMANHA E A DERROTA DE HITLER 77
4.6. O FIM DO CONFLITO E AS NOVAS FORMAS DE HEGEMONIA: URSS E
EUA 79

UNIDADE 5 5 GUERRA FRIA: MACARTHISMO E STALINISMO 85


INTRODUÇÃO DA UNIDADE 85
5.1 ECONOMIA CAPITALISTA E SOVIÉTICA  85
5.2 PODER DE INFLUÊNCIA DAS POTÊNCIAS MUNDIAIS 87
5.3 PRODUÇÃO CULTURAL: FILMES, LIVROS E PROPAGAÇÃO DO MEDO
COLETIVO 91
5.4 CRISE DOS MÍSSEIS EM CUBA 94
5.5 INFLUÊNCIAS DA GUERRA FRIA NO BRASIL: CAÇA AOS COMUNISTAS 95
5.6 CARACTERÍSTICAS DO GOVERNO DE STALIN NA URSS 97

UNIDADE 6 6 DESCOLONIZAÇÃO DA ÁFRICA, PÓS-MODERNIDADE E MOVIMENTOS


SOCIAIS  101
INTRODUÇÃO  101
6.1. PAN-AFRICANISMO 101
6.2. AS GUERRAS PELA LIBERTAÇÃO NACIONAL NA ÁFRICA 105
6.3. OS MOVIMENTOS SOCIAIS: FEMINISMO, PACIFISMO E
AMBIENTALISMO 114
6.4. A ORDEM MUNDIAL APÓS A GUERRA FRIA 117

MULTIVIX EAD
Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 7
ICONOGRAFIA

ATENÇÃO ATIVIDADES DE
APRENDIZAGEM
PARA SABER

SAIBA MAIS
ONDE PESQUISAR CURIOSIDADES

LEITURA COMPLEMENTAR
DICAS

GLOSSÁRIO QUESTÕES

MÍDIAS
ÁUDIOS
INTEGRADAS

ANOTAÇÕES CITAÇÕES

EXEMPLOS DOWNLOADS

MULTIVIX EAD
8 Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017
HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA

APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA
Sejam todos bem-vindos e bom estudos! Juntos vamos realizar a disciplina de
História Contemporânea que tem o objetivo de compreender e analisar as trans-
formações ocorridas mundialmente, no século XX, nos âmbitos político, econômi-
co, social e cultural. Pela exploração dos temas pertinentes, busca-se entender os
processos históricos deste século, destacando os acontecimentos relevantes.
Os processos da História Contemporânea, expressos na comparação e diferen-
ciação dos sistemas políticos e econômicos são a base para revelar a historio-
grafia do século XX, na qual vale destacar a influência e dominação do sistema
capitalista em vários países, bem como a oposição a este sistema em outros mo-
delos, além compreender os movimentos políticos de grupos sociais distintos,
evidenciando o novo papel social da mulher e a valorização da cultura negra.
Entender este processo da História Contemporânea, nos ajuda a compreender
melhor o nosso século, entendo a nossa atualidade como uma construção dos
homens, através da História. Venha mergulhar nessa História dos nossos dias e
juntos vamos dividir reflexões e deslocar no conhecimento.

MULTIVIX EAD
Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 9
HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA

UNIDADE 1

OBJETIVO
Ao final desta
unidade,
esperamos que
possa:

> Compreender a
situação da Europa
nos momentos
que antecedem a
Primeira Guerra
Mundial.
> Analisar e
reconhecer a relação
entre guerra e
capitalismo.
> Reconhecer
as alterações na
configuração dos
países após a guerra.

MULTIVIX EAD
10 Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017
HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA

1 PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL

INTRODUÇÃO DA UNIDADE
Esta unidade explanará sobre a Primeira Guerra Mundial, um dos conflitos mais
importantes do século XX, que envolveu todas as grandes potências mundiais
da época em torno de suas disputas. As tensões políticas invocaram as ques-
tões imperialistas de outros embates já arraigados pelos séculos, culminando
em um conflito que mobilizou mais de nove milhões de combatentes.
Entre o tiro que assassinou o arquiduque austríaco Francisco Ferdinando e
o confronto materializado nas trincheiras europeias, o mundo viu a Europa
desfilar uma avalanche letal de alianças militares dispostas a redesenhar as
fronteiras europeias e da colonizada África. Entre 1914 e 1918, estenderam-se
1590 dias de confrontos, interrompidos, oficialmente, pelo Tratado de Versa-
lhes, documento assinado pelas nações envolvidas com o propósito de con-
figurar a paz armamentista. Entre outras cláusulas, o documento impunha à
Alemanha que reconhecesse sua culpabilidade no conflito, além de deter-
minar a perda de territórios fronteiriços e nas colônias da África, modificando
dramaticamente o mapa da Europa.
Entretanto, a mobilização em torno do embate criou uma esfera de pesquisa
e corrida armamentista, responsável por uma escalada de invenções que, ge-
nuinamente, contribuíram para a indústria e para avanços tecnológicos pre-
sentes até hoje na nossa vida cotidiana. No berço deste conflito, a ciência e
a indústria revelaram seu potencial criador para uma humanidade temerosa
em meio a uma Europa sombria.

1.1 ANTECEDENTES E TENSÕES


O mundo europeu do final do século XIX e começo do século XX vivia a cha-
mada Bella Époque e, talvez, a melhor época da sua história. Os fortes Esta-
dos nacionais, sólidos em seus governos, viam resplandecer seus políticos. As
ricas nações, que migraram todo seu ouro e espólio das suas antigas colônias
americanas e ainda se mantinham das terras dominadas da África, eram a ex-
pressão máxima de poder e dominação do mundo, polarizado no Ocidente. O
Iluminismo era ainda o ideal que inspirava e prosperava o movimento de bus-

MULTIVIX EAD
Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 11
HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA

ca da ciência, que via, em escalada nunca antes possível, os lampiões efême-


ros darem lugar à estável luz elétrica, as carroças aos maciços automóveis, as
estradas empoeiradas aos barulhentos e ágeis trens de ferro. Era o progresso,
no seu grito, rompendo a humanidade.
Contudo, toda luz da Belle Époque e todo som da prosperidade, foram apaga-
dos e calados quando, nas primeiras décadas, grandes tensões começaram a
sacudir as terras da Europa. A Tríplice Entente, aliança política entre a França,
Grã-Bretanha e Rússia, de um lado, e o descontentamento amargurado da Trí-
plice Aliança (Alemanha, do Império Austro-Húngaro e Itália), de outro, foram
o estopim que perturbou o clima de otimismo da Europa.

1. Tríplice Entente

A Tríplice Entente foi uma aliança militar entre o Reino Unido, a França
e o Império Russo.

2. Tríplice Aliança

A Tríplice Aliança foi um acordo econômico, político e militar entre


Alemanha, o império Austro-Húngaro e Itália.

O motivo: a divisão das terras da África deixaram a gulosa França e seus aliados
com a melhor e maior parte de terras para serem exploradas, enquanto o res-
tante dos países ficaram de fora do processo neocolonial. Além disso, peque-
nos territórios fronteiriços destes países, figuravam no meio das desavenças.
As intrigas, inicialmente entre vizinhos, tomaram proporções atormentadoras,
fazendo de uma desavença que parecia quintal, o primeiro grande conflito
mundial. Hobsbawn (1995), assim descreve o início da guerra no seu livro, a Era
dos Extremos:

Ela começou como uma guerra essencialmente europeia, entre a Tríplice


Aliança de França, Grã-Bretanha e Rússia, de um lado, e as chamadas “Potências
Centrais”, Alemanha e Áustria-Hungria, do outro, com a Sérvia e a Bélgica sendo
imediatamente arrastadas para um dos lados devido ao ataque austríaco (que
na verdade detonou a guerra) à primeira e o ataque alemão à segunda (como
parte da estratégia de guerra da Alemanha). A Turquia e a Bulgária logo se

MULTIVIX EAD
12 Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017
HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA

juntaram às Potências Centrais, enquanto do outro lado a Tríplice Aliança


se avolumava numa coalizão bastante grande. Subornada, a Itália também
entrou; depois foi a vez da Grécia, da Romênia e (muito mais nominalmente)
Portugal também. Mais objetivo, o Japão entrou quase de imediato, a fim de
tomar posições alemãs no Oriente Médio e no Pacífico ocidental, mas não se
interessou por nada fora de sua região, e — mais importante — os EUA entraram
em 1917. Na verdade, sua intervenção seria decisiva.

FIGURA 1. PARTILHA DA ÁFRICA.

Fonte: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/a/a8/Scramble-for-
Africa-1880-1913.png

A França, necessariamente, tinha razões muito particulares para se opor a Ale-


manha. No século anterior, ela havia perdido o domínio sobre a Alsácia-Lorena,
um pequeno território entre os dois países, e usou esse ressentimento para for-
talecer suas alianças tentando impedir que a Alemanha, Rússia, Itália e outros
países tivessem sua fatia de exploração das colônias africanas.
Tal processo, notadamente, se relacionava diretamente com a corrida dos paí-
ses para se destacar como potências econômicas mundiais. A Alemanha, Itália
e o Império Austro-Húngaro, estavam, declaradamente, fora deste processo
por escolha da França e seus aliados. O que, a princípio, poderia parecer um
desconforto, passou a hostilidade, criando as bases dos conflitos mundiais se-
guintes, que iriam se perpetuar por pelo menos 30 anos.

MULTIVIX EAD
Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 13
HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA

Que tal criar um Mapa Mental sobre a Primeira


Guerra Mundial? Basta escrever PRIMEIRA
GUERRA no centro de uma folha e vá ligando os
conhecimentos que adquiridos ao longo da unidade.
Se quiser, pesquise sobre Mapa Mental e descubra
os aplicativos gratuitos que te ajudam na criação!
Um Mapa Mental pode alavancar seus estudos.

1.2 ESTOPIM
Enquanto as desavenças dos países avançavam, um estopim em especial ala-
vancou o conflito. O Império Austro-Húngaro (formado por Áustria e Hungria)
exercia uma influência desgostosa no ala eslava do sul da Europa e, princi-
palmente, na Sérvia. O território sérvio era dominado pelo Império apesar do
descontentamento de uma parcela significativa da população.
Em meados de julho de 1914, o arquiduque do Império Austro-Húngaro, Fran-
cisco Ferdinando, decidiu por executar uma visita a Sarajevo, reafirmando o
poderio austríaco na região. Populares contrários, promoveram um ataque
à bomba contra a comitiva do arquiduque, em uma ação frustrada que não
atingiu Ferdinando, alvo da ofensiva. Ironicamente, após ser recebido na Câ-
mara Municipal de Sarajevo, o arquiduque quis prestar seu apoio ao oficial
ferido pela bomba. Contudo, o carro que conduzia o duque e sua mulher, pe-
gou uma rua errada nas ruas eslavas e um dos radicais envolvidos no ataque
frustrado se viu frente a frente com seu alvo, desferindo os tiros que mataram
Francisco Ferdinando e sua esposa.

MULTIVIX EAD
14 Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017
HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA

FIGURA 2. FRANCISCO FERDINANDO.

Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Ferdinand_Schmutzer_-_Franz_Ferdinand_
von_%C3%96sterreich-Este,_um_1914.jpg.

O incidente, aparentemente doméstico, mobilizou, nos próximos dias daquela


primavera de 1914 todas as potências mundiais, acirrando suas desavenças a
borbulhar.
A Alemanha, de um lado, considerava imponderável que a Áustria não exigis-
se da Sérvia uma postura severa em relação aos assassinos do arquiduque. As-
sim, austríacos se ergueram exigindo que crime fosse punido e, embora a Sérvia
concordasse em levar os culpados a julgamento, o sentimento não era de coo-
peração absoluta, visto que estava provado que o governo eslovaco não estava
envolvido no ataque, perpetrado por grupos rebeldes. Os russos se doeram, en-
tendendo que deveriam proteger seus irmãos eslavos das exigências austríacas.
Embora o clima de guerra fosse tomando a Europa, a Áustria tinha clareza
que seu poderio militar daria conta da Sérvia, mas seria massacrado caso a
Rússia resolvesse endossar a defensiva eslava. Ao mesmo tempo, França, Grã-
-Bretanha e Bélgica, se esforçavam ao máximo para trazer à clareza que uma
guerra não era necessária, defendendo uma postura mais amena entre austros
e russos. Entretanto, os alemães, em seu entendimento bastante particular
da situação, estavam convencidos de que era desonroso permitir esta postura
rebelde dos servos.

MULTIVIX EAD
Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 15
HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA

Em um desfecho amargo, a Áustria, convencida de que teria o apoio subs-


tancial da Alemanha no caso de uma ofensiva russa, declarou por fim guerra
à Sérvia. Em pouco tempo, a Rússia tomou seu partido, também entrando
para o confronto. Não demorou para que a França tomasse sua posição, e, em
poucos dias, estava declarada sua ofensiva à Alemanha, colocando no rol do
conflito a antiga briga pela Alsácia-Lorena.
Os belgas, no cinturão do conflito, entre a Alemanha e a França, se viam com-
pelidos quando os alemães declaram que usariam seu território para fazer sua
rota de ataque aos franceses. A Bélgica não queria cooperar, mas ficou sem
escolha quando a Alemanha declarou que pouparia seu território, caso os ger-
mânicos vencessem o conflito.
Com quase toda a Europa envolvida, os bretões clamaram uma posição dos
seus líderes, no medo eminente de ataques dos ousados alemães. A Grã-Bre-
tanha declarou, então, seu apoio aos aliados França e Rússia, tornando a guer-
ra em um conflito mundial, em poucos meses.

Uma Guerra de Fases: Historicamente, costu-


ma-se dividir a Primeira Guerra em três fases.

MULTIVIX EAD
16 Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017
HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA

Fase 1: No início, o objetivo dos soldados era


tomar posições no front. Os alemães se movi-
mentaram rapidamente e em poucas sema-
nas estavam próximos de Paris. Esta era uma
estratégia do século XIX: um ataque da carga
de cavalaria, acompanhada pela infantaria.
Entretanto, a tática não se mostrou eficiente
diante das posições defendidas por metra-
lhadoras nos fronts. Aos poucos, os exércitos
adotaram o mecanismo de trincheiras cava-
das ao longo de toda a frente de combate.

Fase 2: Foi a fase da Guerra de Trincheiras e


a mais sangrenta. As trincheiras eram uma
estratégia defensiva, adotada pelos exércitos
alemães e copiada pelos aliados. O objetivo
era manter as posições conquistadas, mesmo
deixando os soldados expostos aos projéteis
de artilharia, armas químicas e ataques aére-
os, além das intempéries e doenças causadas
pelo ambiente insalubre. Durou até a utiliza-
ção de tanques de guerra, pelos ingleses, em
1916, rompendo as defesas das trincheiras.

Fase final: Com o avanço dos tanques de


Guerra, a Tríplice Aliança foi perdendo a força.
A baixa de soldados já era enorme e a guer-
ra foi chegando ao fim, até, oficialmente, ser
encerrada com o Tratado de Versalhes, docu-
mento que entenderemos mais à frente.

MULTIVIX EAD
Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 17
HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA

Em 2018, foi comemorado o Centenário do Final


da Primeira Grande Guerra Mundial. Conheça
mais relatos como esse disponível no seguinte link:
https://ler.letras.up.pt/uploads/ficheiros/14682.pdf e
aprofunde seus estudos!

1.3 GUERRA E INDUSTRIALIZAÇÃO


A força e influência de uma guerra podem ser medidas pelo seu alcance, pelas
mudanças que perpetua, mas, essencialmente, pelo empenho que se coloca
para estar preparado para ela. Os campos de batalha da segunda guerra mun-
dial foram, sem dúvida, um expressivo exemplo de como a guerra e a indus-
trialização transformaram o mundo tanto pelas relações sociais estabelecidas,
quanto pelas invenções e avanços tecnológicos criados a partir dos combates.
A Primeira Guerra Mundial escalonou a primeira grande mudança nas relações
entre os Estados e os indivíduos. Exigindo um grande contingente de soldados,
dado o tamanho do combate, o alistamento militar obrigatório se deu por conta
desse conflito e passou a figurar como uma regulamentação comum na maior
parte do mundo até hoje, inclusive como documento obrigatório para garantias
legais em alguns lugares. Desde a Primeira Guerra, conscrever-se a um exército
de determinada nação passou a ter o significado de defender os interesses des-
se Estado e seus aliados, a qualquer tempo. É diferente de estar a serviço de um
rei ou imperador como figuras centrais de uma nação, mas colocar-se a serviço
de todo um povo, questionando, até mesmo, seus governantes eleitos, caso es-
tes não correspondam às aspirações populares. Nesse sentido, professores, ope-
rários, comerciantes, artesões, quem quer que fosse, dividiram trincheiras lado a
lado, como soldados rasos à mercê da sorte, o que acabou significando, oficial-
mente, o número de 9 milhões de combatentes mortos.
Acontecendo logo após as primeiras revoluções industriais, o campo de em-
bate da primeira grande guerra também foi diferenciado. Entre os rumores de

MULTIVIX EAD
18 Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017
HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA

ataques, as alianças que se revelavam, era necessário se antecipar e produzir


em larga escala o arsenal necessário para o combate. Sem dúvida, a metalur-
gia experimentou uma expansão fenomenal, visto que a guerra não foi travada
na espada, mas sim, na arma de fogo. O manejo manual e lento foi ganhando
proporção de alcance e rapidez e, graças aos anos de guerra que se segui-
ram, a cadência dos disparos foi ficando cada vez mais automática e veloz. As
bombas também foram evoluindo, dado que seu poder de alcance não mais
estava programado para o campo de combate mas, sim, para destruir as ci-
dades. Necessário reforçar que, como o contingente humano de guerra agora
se impunha a todos os indivíduos passíveis de serem alistados, a nação que
antecipasse a destruição de mais vidas, afetava diretamente a capacidade de
ataque inimiga.
Os automóveis e os aviões foram, sem dúvida, relevantes em todos o contexto
da guerra. Os primeiros significaram um avanço mais rápido de soldados e su-
primentos. Cientistas dedicaram um tempo significativo no aprimoramento e
melhoria dos motores à explosão, intencionando melhorar seu desempenho
para atender os fronts de batalha. Os ataques aéreos, até hoje, figuram como
os mais temidos e destrutivos nas guerras, pois, comprovadamente, seu alcan-
ce é indiscutível e seu poder de destruição também.
Um fato, até curioso, é que a medicina em diversas áreas conheceu avanços
memoráveis por causa da Primeira Guerra Mundial. As cirurgias plásticas fo-
ram aprimoradas para recuperar os atingidos pela guerra. Nessa época, surgi-
ram também os primeiros bancos de sangue. A psicologia que já figurava pela
Europa, impulsionada por Freud e outros estudiosos, também se desenvolveu
ao estudar os feridos das guerras e os traumas desenvolvidos após os conflitos.

O Nieuport 17, foi um avião de caça biplano,


monomotor francês de um só lugar em
configuração de tração, utilizado na Primeira
Guerra Mundial.

MULTIVIX EAD
Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 19
HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA

Obviamente, muitos desses equipamentos sofriam danos no campo de bata-


lha, o que ocasionou a formação de outro front não menos combatente nas
indústrias de produção em massa. Inúmeros setores da economia industrial à
época da guerra tiveram seu desenvolvimento vinculado ao conflito. A manu-
fatura de roupas, sapatos e acessórios, as produções de alimentos mais resis-
tentes para alimentar os soldados, a produção de utensílios, tiveram avanços
alavancados pela pesquisa para o front de batalha.
Toda a riqueza proveniente das colônias tinha seu destino certo nas mãos das
nações fazedoras da guerra.

Muitas invenções surgiram a partir das Guerras.


Acompanhe este documentário e descubra quantas
facilidades do nosso cotidiano têm uma relação
direta com os grandes conflitos. Acesse o link: https://
www.youtube.com/watch?v=zcIh6vXj4zc

1.4 RECONFIGURAÇÃO DA EUROPA


Após a Primeira Guerra Mundial, a Europa passou por reconfigurações tanto po-
líticas quanto territoriais. O conflito tanto fortaleceu alianças, quanto dissolveu
outras, impulsionando mudanças geográficas por todo o território europeu.
A princípio, quatro grandes impérios foram dissolvidos no decorrer e final dos
embates: o Alemão, o Austro-Húngaro, o Otomano e o Russo.
O Império Alemão, surgido em 1871, com a tardia unificação alemã, era o mais
ressentido de não ter sido contemplado nas divisões das terras africanas. Mesmo
com a unificação e todo o investimento na industrialização e militarização para
expandir seus domínios, ele ainda era menor, se comparado às outras potên-
cias. Ao aliar-se ao Império Austro-Húngaro, as intenções alemãs também eram
de expandir seu domínio, o que claramente justifica seus esforços para que a
guerra contra a Sérvia fosse deflagrada. Contudo, a Alemanha perdeu a Guerra
e, com o Tratado de Versalhes, documentos que veremos mais adiante, teve que

MULTIVIX EAD
20 Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017
HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA

abrir mão dos seus territórios ultramar, além da Alsácia-Lorena para França, ou-
tros territórios para a Bélgica e Polônia, país que se restaurou ao final da guerra.
Datado de 1867, o Império Austro-Húngaro era um dos maiores da época. Nas-
cido do acordo entre Áustria e Hungria, a dimensão do Império só era tão gran-
de pois abarcava os países eslavos, incluindo a Sérvia, embora, como já vimos,
estes últimos não usufruíam de direitos aos olhos dos governantes do Império,
causando constantes desconforto entre eles. A questão pontual entre Áustria e
Sérvia serviu de estopim para o início da Primeira Guerra Mundial, incendiando
um sistema de alianças entre os países europeus já bastante frágil e deixando
como saldo a desintegração do Império Austro-Húngaro. A Áustria, enfraque-
cida, perdeu seu contrato de nobreza com a Hungria, tornando-se Repúblicas
separadas e vários grupos étnicos eslavos passaram a exigir independência,
surgindo, a Tchecoslováquia e a Iugoslávia (tomando o território que pertencia
à Sérvia e Montenegro); a Albânia passou a fazer parte do mapa europeu. Mui-
tas dessas regiões ainda enfrentam conflitos constantes, decorrentes de um
saldo mal resolvido da Primeira Guerra Mundial.
O Império Otomano, datado de 1299, já estava em decadência na deflagração
da Primeira Guerra, contudo, com seu histórico de ter sido a única potência
mulçumana a desafiar a Europa, ainda brigava com os austro-húngaros pelo
controle das regiões eslavas, incluindo a Sérvia. Esta região era ainda um dos
redutos para vários povos de origem mulçumana que tentavam se refugiar na
Europa. Um pouco antes da Primeira Guerra, em 1908, aconteceu a guerra civil
turca e o Império Austro-Húngaro anexou a Bósnia e Herzegovina, se aprovei-
tando do enfraquecimento eminente do Império. Rebeldes do governo, co-
nhecidos como Jovens Turcos, tinham um tratado secreto com a Alemanha
contra a Rússia, porém, com a derrota alemã, o governo oficial turco assinou
um tratado entre os Aliados e o Império Otomano em 1920, desmantelando
o império de uma vez por todas. Os territórios do Oriente Médio e todos os
territórios turcos na Europa foram entregues à Grécia, com a exceção de Cons-
tantinopla. A república da Turquia foi formada após a guerra de independên-
cia turca. Quarenta novos países foram criados a partir da desmantelação do
antigo Império Turco Otomano.
Por fim, outro Império que padeceu da guerra foi o Russo. Ele, que durou de 1721
a 1917, cobriu o Leste Europeu, a Ásia Central e até a América do Norte (Alasca),
sendo um dos maiores impérios da história. Pouco antes da guerra, a Rússia era
uma das últimas monarquias absolutistas na Europa, com uma riqueza de mais

MULTIVIX EAD
Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 21
HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA

de duzentos e cinquenta bilhões de dólares. Toda esta riqueza, não evitou crises
econômicas e problemas sociais e políticos, gerados pela insatisfação da popu-
lação com o autoritarismo do sistema dos Czares. Esta insatisfação foi alimen-
tada, principalmente pelo Partido Operário Social-Democrata Russo. Criado em
1898, foi o primeiro partido político baseado nas ideias marxistas. Em 1905, o
partido promoveu uma grande marcha, com um milhão e meio de pessoas
indo em direção ao Palácio de Inverno reivindicar direitos sociais e políticos. A
resposta do Czar foi uma ordem direta para atirar nos protestantes, marcando
este dia como o Domingo Sangrento russo, aumentando os movimentos anti-
governo. A escolha Império Russo de apoiar a Sérvia na Primeira Guerra Mundial
só piorou as coisas. Inicialmente, a opinião pública russa contava com um apoio
legítimo dos governantes aos eslavos, expectativa desfeita quando revelada a
intenção de conquistar novos territórios e obter acesso ao mar Mediterrâneo
pelas conquistas para expandir o Impérios dos Czares. Durante o conflito, a Rús-
sia perdeu muitas terras, viu metade do seu efetivo militar morrer e sofreu com
uma paralisação da indústria, que acarretou a diminuição da produção agrícola
e, consequentemente, uma inflação generalizada. Uma revolução popular der-
rubou o Czar e estabeleceu uma república, fortalecendo o Partido Bolchevique
a tomar o poder e impor o governo socialista soviético. O novo governo retirou
a Rússia da guerra, em 1918. A Rússia, então, abriu mão de territórios, formando
novos países como: Finlândia, Estônia, Letônia, Lituânia, Polônia, Bielorrússia e
Ucrânia (os dois últimos, porém, passaram a integrar a recém-formada União
das Repúblicas Socialistas Soviéticas).
Portanto, a Primeira Guerra Mundial redesenhou o mapa da Europa, gerando
consequências permanentes para o continente.

Clique no mapa para conhecer algumas das


mudanças geopolíticas no mapa da Europa
depois da Primeira Guerra Mundial.

MULTIVIX EAD
22 Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017
HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA

Que tal conhecer este infográfico que marca 100 fatos


sobre a Primeira Guerra? Disponível no link: https://
infograficos.oglobo.globo.com/mundo/primeira-
guerra-mundial-100-fatos.html. Um dos infos vai
contar um pouco mais sobre o novo desenho do
mapa da Europa depois da Guerra.

1.5 TRATADO DE VERSALHES


Em 1917, os Estados Unidos entraram oficialmente na Primeira Guerra, ao lado
da Tríplice Entente. Este reforço obrigou a Tríplice Aliança a reconhecer que
estava sendo derrotada e, por meses, neste mesmo ano, começaram a serem
tratados os termos de paz.
Assim, no dia 28 de junho de 1919, foi assinado o Tratado de Versalhes, assim
chamado pois aconteceu no palácio de mesmo nome, na França. Esse docu-
mento ficou conhecido por ser o principal dos tratados de paz assinado após
a Primeira Guerra Mundial, sendo subscrito pelas potências que formavam a
Tríplice Entente e pela Alemanha. O documento é considerado pela alcunha
de “paz dos vencedores”, uma vez ele impôs duras penas para a Alemanha,
poupando os outros países envolvidos no conflito.

MULTIVIX EAD
Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 23
HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA

FIGURA 9. CAPA DO JORNAL GAZETA DE NOTÍCIAS DO RIO DE JANEIRO ANUNCIANDO O


FIM DA GUERRA.

Fonte: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/3/32/Gazeta_de_Noticias_-_
November_12%2C_1918.jpgS.

O direito de participação nos termos do tratado foi negado à Alemanha, mes-


mo sob protestos da delegação germânica. O chanceler alemão à época, Philip
Scheidemann, renunciou do seu cargo com o intuito de não aderir ao tratado,
porém, a Alemanha nomeou outros representantes para a assinatura.
O principal termo qual estipulava que a Alemanha e a Tríplice Aliança eram
os únicos responsáveis pelo conflito, perdas e prejuízos causados pela guerra,
estipulando que a Alemanha teria de comprometer-se na reparação, embora,
economicamente, todas as outras potências soubessem que não havia condi-
ção financeira para os alemães arcarem com a clausura.
Territorialmente, a Alemanha perdeu 13% de todo o seu território e 10% de
sua população, sendo obrigados a devolver a Alsácia-Lorena para os franceses.
Os territórios de Eupen, Malmedy e Moresnet foram entregues aos belgas e
a região de Sarre tornou-se de domínio internacional, mas a zona carbonífe-
ra desse território passou a ser dominada pelos franceses. O tratado também
determinou a criação de um corredor polonês que separava a Alemanha da
Prússia Oriental. A cidade de Danzig passou a ser uma cidade livre controlada
pela Liga das Nações. O território de Memel foi entregue à Lituânia e Schleswig
à Dinamarca. Figuraram no tratado determinações que impediam a Áustria
de ser unificada com a Alemanha. Sudetos, antigo território austríaco passou
a fazer parte da Checoslováquia. Os alemães também perderam todos os seus
domínios coloniais.
O Tratado de Versalhes tinha a intenção de britânicos e franceses de neutrali-
zar a força militar da Alemanha, evitando que um novo conflito acontecesse.

MULTIVIX EAD
24 Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017
HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA

Assim, a Alemanha ficou proibida de promover recrutamento militar e manter


um exército com mais que 100 mil soldados. O tratado determinava a proi-
bição da existência de uma marinha, aviação de guerra, tanques de guerra e
artilharia pesada alemãs.
Entretanto, as imposições financeiras foram os termos mais contraditórios do
Tratado. Foi estipulado que os alemães deveriam pagar 20 bilhões de marcos
alemães em ouro, com prazo até abril de 1921, mas tempos depois, franceses
e britânicos passaram a exigir mais de 200 bilhões de marcos em ouro. Sem
contar, dois milhões de toneladas de navios mercantes, cinco mil locomotivas,
136 mil vagões e 24 milhões de toneladas de carvão. A última parcela da inde-
nização referente à Primeira Guerra Mundial foi paga em 2010.
Vale refletir em como o Tratado contribuiu menos para paz e muito mais para
a guerra, como afirma Clark (p.353):

Como é que os decisores políticos pensaram tão pouco nos efeitos que as
suas ações provavelmente iriam ter sobre a Alemanha. Os decisores políticos
franceses estavam cientes da forma em que o equilíbrio da ameaça militar
se havia inclinado contra a Alemanha (...). Mas como eles viam suas próprias
ações como inteiramente defensivas e atribuíam intenções agressivas
unicamente ao inimigo, os principais decisores políticos nunca equacionaram
a sério a possibilidade de que as medidas articuladas por eles poderiam estar
a diminuir as opções disponíveis para Berlim.

Cláusulas: O Tratado de Versalhes foi


constituído por 440 artigos divididos em
cinco capítulos: O Pacto da Sociedade das
Nações; Cláusulas de Segurança; Cláusulas
Territoriais; Cláusulas Financeiras e
Econômicas; Cláusulas Diversas. Todas você
encontra no texto!

Tais punições contribuíram para a ascensão nazista ao poder alemão e, conse-


quentemente, para a eclosão da Segunda Guerra Mundial, não muito tempo
depois.

MULTIVIX EAD
Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 25
HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA

Faça um resumo para entender como a Primeira


Guerra aconteceu até aqui. Faça uma lista
relacionando os antecedentes, o estopim da Guerra
até chegar no Tratado de Versalhes. É uma ótima
parada para fixar o que estudamos.

1.6 SALDO DA PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL


A Primeira Guerra Mundial deixou um saldo de devastação e insatisfação por
toda a Europa. Aproximadamente 9 milhões de mortos, o triplo de feridos,
campos agrícolas destruídos, indústrias arrasadas, formam o saldo triste de
uma guerra que poderia ter sido evitada.
Mesmo que o Tratado de Versalhes impusesse punições e sanções para a Ale-
manha, os outros países europeus tinham que lidar com os saldos das suas
próprias investidas na guerra. Além disso, as dificuldades criaram as bases para
os aparecimentos dos regimes totalitaristas e fascistas nos países europeus,
nos anos seguintes à guerra.
A Bélgica e a Sérvia, obviamente, foram muito mais devastadas que os demais
envolvidos no conflito. A primeira, pois ficou no caminho entre o enfretamento
francês e alemão e a segunda, pois foi o primeiro país atacado pelas incursões
militares da Áustria.
A Europa, até então, era o centro da economia mundial e, toda destruída, dei-
xou consequências tanto para as colônias que ainda dependiam das potên-
cias, tanto para outros países que tinham comercialização intensa com a Euro-
pa. Notadamente, muitos civis também deixaram os países europeus e ondas
de imigração aconteceram, principalmente para a América.
Paralelamente, países como os Estados Unidos cresceram seu poderio, pois, ao
mesmo tempo que alimentaram a guerra, fortaleceram seu comércio com ou-
tros países. Nas Américas, como um todo, especialmente no Brasil, não houve
nenhum conflito ligado à guerra nos seus territórios. Esses países iniciaram sua

MULTIVIX EAD
26 Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017
HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA

própria industrialização, utilizando sua matéria prima para fornecer produtos


industrializados para as potências envolvidas. Estes países, também, acolhe-
ram levas de imigrantes fugindo do terror na Europa oferecendo, terra e traba-
lho, como incentivo, para reconstruir suas vidas.
Necessário destacar que a industrialização brasileira tem esta intrínseca rela-
ção com a guerra. O Brasil, nesse momento de fragilidade das potências euro-
peias, fortaleceu a indústria interna, com investimentos diretos do governo e
de incentivos para receber as ondas imigratórias do pós-guerra.

FIGURA 11. IMIGRANTES ITALIANOS E ALEMÃES EMPREGADOS NA CONSTRUÇÃO DA


FERROVIA MONTENEGRO-CAXIAS, INÍCIO SÉC. XX.

Fonte: https://www.flickr.com/photos/fotosantigasrs/15129366118.

Alguns historiadores consideram que o imperialismo liberal, começado com


as grandes navegações, teve seu fim marcado pela Primeira Guerra Mundial
especificamente, pois um novo tipo de capitalismo, o industrial, é fortalecido
na medida em que o eixo econômico e político do mundo deixa de ser a Euro-
pa e vai migrando para, especialmente, os Estados Unidos. O fato de algumas
antigas colônias europeias, como Brasil, também se firmarem como nações
industrializadas, contribuiu para lançar as bases de um mundo de economia
globalizada, concretizado anos depois.
Porém, impiedosamente, a Europa, neste clima e nestes cenários, tinha lan-
çadas as bases para o outro dos maiores conflitos do século 20: a Segunda
Guerra Mundial.

MULTIVIX EAD
Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 27
HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA

Soldados em números

A Primeira Guerra Mundial envolveu a participação de perto de 70


milhões de soldados.

Número de países

Foram 30 países, nos cinco continentes.

Saldo da guerra

Foram 10 milhões de soldados durante os combates, sem contar as


milhões de vidas de civis perdidas devido à fome e ao surgimento de
doenças.

Segue o link: https://www.youtube.com/


watch?v=6P89N-WrnLk para conhecer o pessoal do
Descomplica e acompanhar um super-resumo da
Primeira Guerra Mundial.

MULTIVIX EAD
28 Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017
HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA

CONCLUSÃO

Esta unidade objetivou delinear a Primeira Grande Guerra Mundial, traçando a


historiografia deste período da História Contemporânea, essencial para enten-
der as consequências para o mundo atual.
Nosso percurso começou nos antecedentes da Guerra, considerando as ten-
sões políticas e econômicas envolvendo as potências europeias, formadas pe-
las Tríplices Entente e Aliança.
Entendemos o principal estopim do conflito, marcando as tensões entre o Im-
pério Austro-Húngaro e a Sérvia, com destaque para a participação da Alema-
nha na deflagração dos primeiros embates entre os países.
A guerra delineou um novo mapa da Europa, além de impor um cenário de
devastação e morte por todo este continente. Impérios foram dissolvidos e
novas repúblicas puderam emergir deste cenário. Paralelamente, países como
Estados Unidos e Brasil encontraram crescimento econômico diante de uma
Europa fragmentada e enfraquecida.
O Tratado de Versalhes findou, oficialmente, o fim da Guerra, mas não pode
conter uma onda de insatisfações que assolava a Europa, o que ainda iria cul-
minar, 20 anos depois, em uma nova Guerra.

MULTIVIX EAD
Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 29
HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA

UNIDADE 2

OBJETIVO
Ao final desta
unidade,
esperamos que
possa:

> Compreender
o processo
revolucionário
que consolidou a
Revolução Russa.
> Conhecer as
características de
reorganização da
sociedade e da
economia.
> Diferenciar os
governos de Lênin e
Stálin.

MULTIVIX EAD
30 Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017
HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA

2 REVOLUÇÃO RUSSA DE 1917

INTRODUÇÃO
Esta unidade abordará um dos eventos que mais marcaram o século XX e
até hoje estimulam intensos debates: a Revolução Russa de 1917. Entretanto,
muitas vezes tal tema é abordado de forma parcial e enviesada, postura esta
que deve ser evitada pelo futuro historiador ou professor de História, cujo olhar
deve ser crítico, com uma reflexão embasada nas fontes históricas e nas pers-
pectivas de historiadores profissionais.
Nesse sentido, temos como objetivo compreender o processo revolucionário
inserido no contexto histórico-social russo e mundial, essencial para entender
tanto a consolidação do poder soviético pós-revolução quanto a reorganiza-
ção, em uma perspectiva socialista, de uma economia e sociedade marcada
por fortes traços feudais e cuja transformação capitalista ainda era incipiente.
Por fim, nesse processo histórico também será crucial identificar as diferenças
entre os dois primeiros governos bolcheviques, liderados respectivamente por
Vladimir Lênin e Josef Stálin, e de que forma estes se aproximaram (ou distan-
ciaram) das perspectivas marxistas do século XIX.

2.1. SITUAÇÃO DA RÚSSIA ANTES DA REVOLUÇÃO


As estruturas arcaicas e obsoletas de impérios como o russo eram frágeis, ob-
soletas e, para muitos, fadadas a desaparecer. O Império Russo era governado
como se fosse uma propriedade particular da dinastia Romanov, cujo monar-
ca (czar) ainda tinha poderes absolutos e era “ungido por Deus” segundo a
instituição que dava a sustentação do seu poder, a Igreja Ortodoxa Russa.
Gigantesco, pesado e ineficiente economicamente e atrasado tecnologica-
mente, o Estado russo contava em seu enorme território com 126 milhões de
habitantes em 1897, 80% deles camponeses e 1% nobres feudais, sendo que
praticamente todo o poder econômico estava concentrado nestes últimos.
Desde as últimas décadas do século XIX, o campesinato começou a se or-
ganizar visando encontrar formas de resistência contra a intensa exploração
que sofriam no campo (embora a servidão tenha sido oficialmente extinta em

MULTIVIX EAD
Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 31
HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA

1861). Entre essas diversas formas, podemos citar as comunidades coletivas,


que reuniam camponeses cuja produção era voltada para a coletividade. Tais
comunidades tornaram-se um verdadeiro empecilho para a constituição da
propriedade privada em solo russo, contrariando os interesses da incipiente
burguesia liberal russa, ávida em investir na agricultura. No interior dessas co-
munidades coletivas, surgiram os narodniks.

Os narodniks (populistas em russo) eram um


movimento político-social de caráter socialista
que viam no coletivismo presente em algumas
comunidades russas a base para a construção do
comunismo, sem a necessidade da Rússia passar
pelo mesmo processo de acumulação primitiva do
capital que ocorrera em outros países, como a Grã-
Bretanha, que acarretou a perda das propriedades
comunitárias (os cercamentos), levando milhares de
famílias de camponeses a ficarem sem terra e sem
meios de produção para suprir as suas necessidades,
levando-os à condição de proletariado.

Ao mesmo tempo, o governo russo implementou, a partir da década de 1890,


um projeto de modernização capitalista que implicava em um plano de rápi-
da e intensa industrialização. Tal projeto foi financiado pelos altos impostos
cobrados no campo, que agravaram ainda mais a situação do campesinato, e
por meio de pesados investimentos de bancos e capitalistas estrangeiros, prin-
cipalmente britânicos e franceses.
Os resultados obtidos por meio de uma mescla de capitalismo privado e de
Estado foram espetaculares, embora os lucros de tal desenvolvimento passas-
sem longe de uma classe operária formada, principalmente, por ex-campo-
neses que já tinham alguma experiência em mobilizar-se politicamente. As
principais cidades do Império Russo, como São Petersburgo, Moscou, Varsóvia,
Kiev e Baku, tornaram-se rapidamente em centros urbanos industrializados,
onde se formou uma classe operária sujeita a uma intensa exploração, sem

MULTIVIX EAD
32 Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017
HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA

ter direitos trabalhistas e sem liberdade de mobilizar-se politicamente para


reivindicar melhorias em suas condições de existência.
Na década de 1900, a tensão social cresceu na Rússia. Eram comuns os mo-
tins camponeses contra a exploração da nobreza feudal e a cobrança de altos
impostos pelo Estado czarista, ao mesmo tempo em que ocorreram diversas
greves gerais de operários nos centros urbanos.
Em 1905, uma manifestação pacífica de operários reivindicou ações concretas
do czar Nicolau II em relação à grande fome que os trabalhadores e os po-
bres de São Petersburgo estavam passando, decorrente da crise econômica
decorrente da guerra contra o Japão (1904-1905). Entretanto, ela foi duramente
reprimida pelos soldados russos que guardavam o Palácio de Inverno do czar,
sendo este fato (conhecido como Domingo Sangrento) o estopim da primeira
revolução russa, considerada o verdadeiro “ensaio geral” para 1917. Greves gerais
ocorreram nos grandes centros urbanos, nos quais surgiram os soviets.

FIGURA 1. DOMINGO SANGRENTO (1905).

Fonte: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/8/8c/The_Russian_
Revolution%2C_1905_Q81561.jpg.

MULTIVIX EAD
Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 33
HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA

Os soviets eram conselhos de operários que


organizavam a mobilização dos trabalhadores
nas fábricas, funcionando como uma assembleia
que estimulava a democracia direta, ou seja, a
participação dos próprios operários no órgão,
sem a necessidade de eleger representantes. Tal
experiência foi reproduzida no movimento de 1917,
até estes passarem para o controle dos bolcheviques.

A revolução tornou-se mais ameaçadora para o czarismo graças a diversos mo-


tins camponeses que estouraram no vale do Volga e na Ucrânia, além da revol-
ta no interior das próprias forças armadas, principalmente na Marinha, sendo
a dos marinheiros do Encouraçado Potenkim aquela que teve maior repercus-
são. Além disso, tanto a classe média urbana como setores da burguesia (por
meio do seu partido, o Cadete) começaram a apoiar o movimento revolucio-
nário, aproveitando para reivindicar reformas políticas liberais, como a consti-
tuição de um parlamento (Duma) e realização de eleições. Pressionado, o czar
Nicolau II concordou em atender algumas dessas reivindicações, outorgando
uma constituição em 17 de outubro de 1905.
No entanto, a burguesia revelou-se frágil politicamente. Em 1907, quando a
agitação revolucionária diminuiu, a Duma foi fechada e a Constituição revoga-
da. A tensão revolucionária só voltou a crescer com a I Guerra Mundial (1914-
1918), cuja desastrosa participação russa no conflito tornou ainda mais grave as
contradições existentes na sociedade russa.

2.2. IDEOLOGIA DA REVOLUÇÃO RUSSA E


GRUPOS SOCIAIS PARTICIPANTES
Apesar da inexistência de liberdade política, a classe operária formou seus pri-
meiros movimentos sociais concomitantemente com o avanço da industriali-
zação no país. Boa parte deles era influenciada pelo marxismo e eram filiados
a Segunda Internacional Comunista, fundada na Alemanha por Karl Marx e
Friedrich Engels em 1875. Entretanto, também havia uma forte influência do
pensamento anarquista (cujas algumas de suas principais figuras eram russas,

MULTIVIX EAD
34 Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017
HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA

como Mikhail Bakunin) em alguns sindicatos de operários. O Partido Operário


Social-Democrata, fundado em 1902, integrava essa organização. Todavia, seus
militantes dividiam-se em duas tendências ideológicas que tinham perspecti-
vas diferentes de como deveria ser a revolução na Rússia, que eram as seguintes:

Mencheviques

consideravam que a Rússia não estava pronta para o socialismo,


pois ainda não havia se tornado um país capitalista. Por isso, havia a
necessidade histórica do movimento operário apoiar a burguesia russa
contra as estruturas arcaicas que impediam o desenvolvimento e a
modernização capitalista, no caso o czarismo e as classes sociais que o
apoiavam, no caso o clero ortodoxo e a nobreza feudal;

Bolcheviques

contrários a qualquer conciliação com a burguesia russa e defendendo


a condução do processo revolucionário pela classe operária, embora
reconhecessem o atraso econômico russo. Para eles, a revolução russa
só seria bem sucedida se estivesse articulada a revolução mundial ou,
pelo menos, europeia.

A principal liderança bolchevique era Vladimir


Ilich Ulianov (1870-1924), mais conhecido pelo
codinome Lênin (centelha em russo), cujo ativismo
revolucionário foi herdado do irmão mais velho, um
narodnik condenado à morte por ter participado do
atentado que assassinou o czar Alexandre II, em 1881.

MULTIVIX EAD
Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 35
HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA

Porém, nem todos os movimentos operários estavam ligados ao Partido So-


cialdemocrata. O movimento anarquista tinha também grande representati-
vidade entre os operários, defendendo a extinção do Estado e uma passagem
direta para o socialismo.
A burguesia russa tinha pouca representatividade política, além de ser depen-
dente da política estatal de industrialização planejada pelo czarismo. Entre-
tanto, ela começava a se organizar em um partido político, o Cadete, que de-
fendia o liberalismo econômico e o parlamentarismo.
Entretanto, a maior parte da população era formada por camponeses, cujo
partido, o Socialista Revolucionário, tinha muitos seguidores. Este era herdeiro
das lutas dos narodniks, tendo como principal bandeira a reforma agrária, na
qual os camponeses teriam acesso à propriedade da terra, praticamente res-
trita à nobreza feudal.
Nos primeiros meses de 1917, o czarismo mostrou-se incapaz de administrar
as contradições existentes na sociedade russa. Uma série de manifestações e
greves operárias em São Petersburgo acabou provocando a queda do regime
czarista, com a abdicação de Nicolau II, em fevereiro. No seu lugar, formou-se
um governo provisório de caráter liberal em uma coalizão formada pelos ca-
detes e mencheviques.

Conhecida como a Revolução de Fevereiro, o


movimento teve início com uma manifestação de
operárias em homenagem ao Dia Internacional das
Mulheres (8 de março), originalmente uma data
ligada ao movimento operário internacional que
relembrava a morte de operárias em um movimento
grevista reprimido de forma violenta pela polícia da
cidade de Chicago, Estados Unidos.

MULTIVIX EAD
36 Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017
HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA

Entretanto, a recusa do novo governo de sair


da guerra e romper com os compromissos
internacionais (britânicos e franceses) logo
fez com que caísse em descrédito frente
às massas operárias e camponesas, que
começavam a formar um regime democrático
paralelo de caráter participativo e direto por
meio dos soviets. O potencial desses conselhos
de operários foi reconhecido por Lênin, líder
dos bolcheviques, que ao voltar do exílio na
Suíça, em abril de 1917, proclamou em seu
discurso na Estação Finlândia de trem, em
São Petersburgo: “Todo poder aos soviets!”.

No decorrer dos meses, os bolcheviques alinharam-se com as principais reivin-


dicações populares, ao ponto de adotarem como principais palavras de ordem
das massas: “pão, paz e terra”, ou seja, a defesa da saída da Rússia da I Guerra
Mundial e a realização de uma reforma agrária que democratizasse a posse da
propriedade rural. Assim, o partido de Lênin alcançou a maioria no interior de
boa parte dos soviets.
A credibilidade do governo provisório caiu por terra de vez em agosto de 1917,
quando foi conivente com a tentativa de golpe militar liderada pelo general
czarista Kornilov, fracassada graças à ação dos soviets de camponeses e ope-
rários. Assim, a chamada Revolução de Outubro, que correspondeu à tomada
do Palácio de Inverno por milícias operárias dos soviets, sacramentou a revo-
lução socialista na Rússia.

2.3. POLÍTICAS ECONÔMICAS E REORGANIZAÇÃO


DO ESTADO
Inicialmente, o governo bolchevique extinguiu a propriedade privada dos
meios de produção, colocando-as sob controle do Estado operário. Entretan-
to, o novo regime socialista teve que reorganizar o Estado ao mesmo tem-
po em que resistia à contrarrevolução czarista apoiada pela nobreza feudal e
pela burguesia russa que financiavam os Exércitos Brancos com o apoio das
grandes potências imperialistas vencedoras da I Guerra Mundial (Grã-Breta-
nha, França, Estados Unidos e Japão). Além disso, meses antes o novo Estado

MULTIVIX EAD
Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 37
HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA

soviético teve que sujeitar-se a uma paz punitiva imposta pela Alemanha em
Brest-Litowski, na qual os bolcheviques cumpriram a promessa de tirarem a
Rússia do conflito mundial, mas com um custo enorme, pois territórios como
a Polônia, Finlândia, Ucrânia e as províncias bálticas deixaram de fazer parte
da Rússia.

Para resistir aos avanços do Exército Branco,


os bolcheviques organizaram de forma
improvisada, a partir das milícias operárias
dos soviets, um Exército Vermelho liderado
por Leon Trotsky. Para manter as tropas, Lênin
instituiu o comunismo de guerra, por meio
do qual o governo bolchevique angariou
os recursos necessários para enfrentar a
contrarrevolução, sendo que estes eram
conseguidos principalmente do confisco
da produção dos camponeses mais ricos e
de classe média, os kulaks que, por sua vez,
não se mostraram muito entusiasmados a
colaborar com a revolução, pois viam parte
dos seus lucros serem expropriados por
um novo governo do qual desconfiavam.
Inclusive, boa parte dos kulaks preferiram
sabotar sua própria produção visando não
colaborar com a revolução, gerando uma
grande onda de desabastecimento nas
grandes cidades e, consequentemente,
pobreza e fome. Isso obrigou o governo
soviético a racionar produtos de necessidade
básica e abolir temporariamente a moeda,
pagando salários em espécie.

A contrarrevolução fez com que o governo bolchevique restringisse as práticas


democráticas nos soviets e a criar diversos órgãos de vigilância cujo objetivo
era reprimir as práticas contrarrevolucionárias. Em um ambiente de caos polí-
ticos, aliados de outrora tornaram-se inimigos, como foram os casos dos anar-
quistas e boa parte dos socialistas-revolucionários, que também foram alvo da

MULTIVIX EAD
38 Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017
HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA

polícia política do novo regime, pois eram considerados tão contrarrevolucio-


nários quanto os czaristas e a burguesia.
Apesar dos reveses, a maior parte dos operários e o campesinato mais paupe-
rizado apoiaram o governo bolchevique no decorrer da Guerra Civil, o que foi
essencial para a vitória da Revolução, em 1920.
Contudo, antes mesmo da vitória revolucionária ser consolidada, o regime so-
viético concluiu que o Comunismo de Guerra era inviável e não podia con-
tinuar devido a sua impopularidade junto ao campesinato de classe média.
Além disso, era necessário reorganizar a economia visando à reconstrução do
antigo Império Russo, cujo território passou a formar a União Soviética a partir
de dezembro de 1922.
Dessa forma, estabeleceu-se a Nova Política Econômica (NEP), que aboliu o
confisco da produção dos kulaks, restaurou as relações mercantis monetárias
entre o campo e a cidade e colocou em prática um projeto de industrialização
controlado totalmente pelo Estado. A NEP teve um brilhante êxito na restau-
ração da economia soviética.

FIGURA 4. CARTAZ DE PROPAGANDA DA NEP.

Fonte: https://www.flickr.com/photos/iisg/4753872309.

MULTIVIX EAD
Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 39
HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA

2.4. ASPECTOS E DIFERENÇAS ENTRE OS


GOVERNOS DE LÊNIN E STÁLIN
É importante frisar que Lênin pertencia a um grupo de revolucionários que se
mantinha fiel às perspectivas revolucionárias de Karl Marx e Friedrich Engels,
que viam a necessidade de que a revolução socialista operária deveria ser ne-
cessariamente mundial, pois apenas um movimento operário revolucionário
global seria capaz de destruir um sistema econômico mundializado. Regimes
socialistas que ficassem restritos às suas próprias fronteiras seriam fadados ao
fracasso. Toda a ação revolucionária planejada por Lênin na Rússia contava
com um levante operário mundial, instigado pela ruína econômica do capita-
lismo provocado pela I Guerra Mundial, que seria o verdadeiro coveiro do sis-
tema capitalista. Entretanto, tentativas esparsas de expandir a revolução para
além da fronteira russa fracassaram na Alemanha e na Hungria, fazendo com
que os comunistas russos rapidamente despertassem para a necessidade de
construir o socialismo na Rússia.
No decorrer do seu governo, Lênin adotou políticas como a NEP e procurou até
atrair investimento de países capitalistas (que preferiram boicotar um regime
claramente hostil aos seus interesses), mas não abandonara a crença de que a
revolução mundial era necessária para romper com o isolamento soviético no
cenário internacional.
O principal líder bolchevique, entretanto, faleceu em 1924. Começou uma fe-
roz e breve disputa pelo poder entre Leon Trotsky e Josef Stálin pelo comando
da União Soviética. Cada um defendia perspectivas diferentes tanto da via re-
volucionária quanto da necessidade de como construir um novo regime den-
tro de suas fronteiras.
Trotsky, fiel as perspectivas originais do marxismo-leninismo, defendia a “re-
volução permanente”, na qual a União Soviética deveria, de forma prioritária,
investir em movimentos revolucionários comunistas com o objetivo de expan-
dir a revolução internacionalmente. Já Stálin, de forma mais pragmática, con-
siderava ser necessário que a economia socialista fosse construída na União
Soviética para, apenas posteriormente, se pensar de forma mais incisiva na
propagação da revolução pelo mundo.
Josef Stálin saiu-se vencedor nessa disputa e logo nos primeiros anos de seu
governo mudou vários aspectos da política econômica adotada por Lênin. Com
Stálin, a opção adotada foi não apenas construir o socialismo apenas na Rússia

MULTIVIX EAD
40 Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017
HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA

(pelo menos, a princípio), mas também impor uma política de industrialização


à força: uma espécie de segunda revolução, mas dessa vez não vinda de baixo,
e sim imposta de cima, pelo poder do Estado.

FIGURA 5. JOSEF STÁLIN.

Fonte: http://pngimg.com/download/30107.

As divergências entre Trotsky e Stálin foi a primeira


divisão que ocorreu no interior do movimento
comunista internacional. Derrotado na União
Soviética, Trotsky foi acusado de traição por Stálin,
condenado a viver em um campo de prisioneiros na
Sibéria, do qual fugiu. Nos anos 1930, foi exilado em
vários países europeus, até estabelecer-se no México,
onde foi assassinado por um agente a mando de
Stálin, em 1940.

A nova orientação materializou-se em 1928, com o lançamento do Primeiro


Plano Quinquenal (1928-1933), com o objetivo de estimular a industrialização
a partir de um planejamento de metas de crescimento estabelecidas pelo Es-
tado. Essa opção pela industrialização acelerada deu prioridade absoluta para

MULTIVIX EAD
Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 41
HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA

a montagem de novas empresas estatais em setores estratégicos da indús-


tria pesada. Os setores privilegiados foram os da produção de máquinas-fer-
ramentas, tratores, caminhões, carros, usinas elétricas, ferro e aço, mineração
de carvão, exploração de petróleo e produção de armamentos. O país deveria
deixar de ser “importador de máquinas” e tornar-se “produtor de máquinas”,
de forma a evitar que a União Soviética fosse transformada em mero apêndice
da economia mundial capitalista, em vez de um país independente que cons-
trói o socialismo.
Esta opção por uma versão socialista da política de industrialização acelerada
via substituição de importações enfrentava um problema: qual seria a fonte
de financiamento do desenvolvimento, já que não se poderia contar com o in-
vestimento estrangeiro devido ao bloqueio econômico imposto pelas grandes
potências imperialistas? A opção foi aumentar substancialmente os impostos
sobre os kulaks no campo, justamente a camada social de camponeses que se
beneficiou com as políticas da NEP. Para reforçar tais fundos, o governo sovié-
tico retomou a política do confisco da produção agrícola dos kulaks, principal-
mente daqueles que claramente resistiam às iniciativas do governo.
A reação dos kulaks foi a de fugir às requisições do Estado e vender o máximo
de suas produções aos comerciantes privados que pagavam preços mais eleva-
dos, ou simplesmente não comercializar a produção. O resultado foi uma nova
e grave crise de abastecimento nas zonas urbanas. O poder soviético reagiu a
isto explorando as tensões sociais geradas no campo pelas políticas da NEP,
insuflando os camponeses mais pobres a tomarem as terras dos produtores
mais abastados e agrupá-los em fazendas coletivas. Em contrapartida, o gover-
no fornecia a essas fazendas coletivas máquinas e equipamentos produzidos
pelas novas empresas industriais estatais. O objetivo do governo soviético era
“liquidar os kulaks como classe”. Os kulaks acusados de sabotagem foram pre-
sos e condenados a trabalhos forçados nos campos de prisioneiros conhecidos
como gulags, junto com presos comuns. Tais campos chegaram a ter entre 4
e 13 milhões de prisioneiros. Dessa forma, no governo de Stálin intensificou-se
a repressão contra qualquer tipo de oposição, inclusive no próprio interior do
Partido Comunista da União Soviética. Estabeleceu-se, assim um regime de
caráter autoritário que conflitava contra as perspectivas emancipadoras origi-
nárias dos revolucionários marxistas.

MULTIVIX EAD
42 Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017
HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA

2.5. TRANSFORMAÇÕES NA RÚSSIA E O LEGADO


DA REVOLUÇÃO PARA O MUNDO
Para um país atrasado e primitivo, isolado de ajuda estrangeira, a industriali-
zação acelerada promovida pelo poder soviético, mesmo com todos os seus
desperdícios e ineficiências, funcionou de modo impressionante. Transformou
a União Soviética numa grande economia industrial em poucos anos, capaz
de sobreviver e ganhar a guerra contra a Alemanha (1941-1945). Deve-se acres-
centar que em poucos outros regimes poderia ou quereria o povo suportar sa-
crifícios sem paralelos desse esforço de guerra. Contudo, se o sistema manteve
o consumo da população lá embaixo – em 1940, a economia produziu apenas
pouco mais de um par de calçados por cada habitante da União Soviética
–, por outro lado assegurou-lhe direitos sociais importantes. Deu-lhe trabalho
(reconhecido como um direito social); comida, roupa e habitação gratuitas e
sem gratuitas; aluguéis, pensões, assistência médica; e certa igualdade social,
pois os expurgos, muitas vezes, voltavam-se contra dirigentes estatais ávidos
por privilégios e insatisfeitos com as recompensas que o próprio sistema pro-
porcionava aos quadros técnicos e capacitados, sendo estes acusados e con-
denados por atos de corrupção, nepotismo, etc.
Apesar das restrições democráticas existentes no regime soviético, o gover-
no de Stálin conseguiu construir em pouco tempo uma economia que sofreu
poucos abalos com a Grande Depressão de 1929, cuja industrialização avançou
de forma rápida, estimulando o desenvolvimento do país que, de certa forma,
foi usufruído pelas massas operárias (nem tanto pelos camponeses) por meio
de benefícios sociais que eram raros em outros países do mundo. Não por aca-
so, o sistema soviético influenciou diversas políticas econômicas a partir dos
anos 1930, inclusive as de diversos países capitalistas e a construção do Estado
de Bem-Estar Social.

MULTIVIX EAD
Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 43
HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA

2.6. A INFLUÊNCIA DA REVOLUÇÃO RUSSA EM


OUTROS MOVIMENTOS SOCIALISTAS
A Revolução Russa influenciou, ainda quando estava em andamento e por meio
da Internacional Comunista (fundada em 1919), diversos movimentos socialistas.
Como vimos anteriormente, movimentos revolucionários estouraram na Alema-
nha e na Hungria, sendo derrotados. Os comunistas também tiveram grande
participação na Revolução Espanhola (1936-1939), embora tenham sido derrota-
dos pelas forças de extrema-direita lideradas por Francisco Franco. No decorrer
da II Guerra Mundial (1939-1945), diversos movimentos de resistência ao avanço
do nazifascismo foram liderados por movimentos comunistas que contavam
com o apoio da União Soviética. Entretanto, outros movimentos foram bem-su-
cedidos, como foram os casos da Revolução Chinesa (1949), a Revolução Cuba-
na (1959) e o movimento guerrilheiro do Vietnã (anos 1950-1970), cujos regimes
político e econômico influenciaram-se no sistema adotado na União Soviética.

FIGURA 6. STÁLIN E MAO TSE-TUNG.

Fonte: https://www.flickr.com/photos/andydoro/96678261.

A Revolução Russa também influenciou diversos movimentos anti-imperia-


listas que não necessariamente eram comunistas, que impulsionaram movi-
mentos de diversos países pela independência nos continentes africano e asi-
ático. Entre eles, podemos citar as revoluções em Angola e Moçambique, na
África, que puseram fim à dominação portuguesa, em 1975.

MULTIVIX EAD
44 Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017
HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA

Sobre as contradições do processo revolucionário


soviético e os seus impactos na contemporaneidade,
veja o vídeo “O que sobrou da Revolução Russa
cem anos depois”, do Le Monde Diplomatique,
disponível em: https://www.youtube.com/
watch?v=4hBGDAt1sO8

CONCLUSÃO

Esta unidade teve como objetivo compreender diversos aspectos do processo re-
volucionário na Rússia, em 1917. Marcado por diversas contradições inerentes a
uma sociedade ainda marcada pela transição entre um feudalismo arcaico e um
capitalismo industrial dependente de investimentos externos, a revolução ocorreu
inicialmente como um movimento construído por setores das classes operária e
camponesa, com objetivo de construir uma sociedade mais justa e igualitária.
Entretanto, o trajeto da Revolução não se concretizou da forma como vários re-
volucionários imaginaram. A construção de uma nova sociedade encontrou obs-
táculos tanto no campo externo, com a hostilidade das grandes potências impe-
rialistas que não consideraram legítimo um regime claramente hostil aos seus
interesses e a inviabilidade de propagar de forma bem-sucedida a revolução so-
cialista para além das fronteiras russas, quanto no interno, no qual as reivindica-
ções de operários e camponeses entraram em contradição com os próprios inte-
resses dos novos governantes que se consideravam seus legítimos representantes.
Apesar do fracasso da experiência, podemos concluir que muito do seu legado
permanece na sociedade, como são os casos da China e de Cuba, por exem-
plo, como o recorrente choque político entre as denominadas forças de direi-
ta e esquerda remetem, ainda nos dias de hoje, à experiência da Revolução
Russa. Daí a importância do historiador e do professor de História analisarem
e transmitirem um conhecimento que vá além daquele presente na mídia e
nos debates políticos.

MULTIVIX EAD
Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 45
HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA

UNIDADE 3

OBJETIVO
Ao final desta
unidade,
esperamos que
possa:

> Compreender o
processo da Crise
de 1929 e suas
consequências para o
mundo, bem como a
ascensão dos regimes
totalitários.
> Analisar a produção
cultural da época no
contexto de Crise de
1929.
> Conhecer e
diferenciar os
regimes fascista e
nazista.
> Reconhecer o
vínculo entre a Crise
de 1929 e a ascensão
dos regimes
totalitários.

MULTIVIX EAD
46 Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017
HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA

3 CRISE DE 1929, FASCISMO E


NAZISMO

INTRODUÇÃO DA UNIDADE
O mundo após a Primeira Guerra Mundial conheceu momentos de muita pre-
ocupação: a crise econômica de 1929 desestabilizou o planeta que, ao mesmo
tempo, assistia à ascensão dos regimes totalitários do Nazismo e do Fascismo.
Economicamente, o EUA experimentou ao longo dos anos 20 um crescimen-
to sem igual. Porém, a superprodução não foi acompanhada de um cresci-
mento estável com o poder de consumo equiparado, causando, em 1929, uma
terrível crise.
Ao mesmo tempo, a Europa devastada pela primeira guerra, acompanha o
surgimento do Fascismo na Itália, e o Nazismo na Alemanha.
Esta unidade, portanto, pretende compreender, analisar e reconhecer o papel
destes marcos na história contemporânea, revelando como eles contribuíram
para a historiografia do século XX.

3.1 ANTECEDENTES DA CRISE DE 1929


Nos Estados Unidos, os anos 1920 foram de expansão e de muita prosperi-
dade. As indústrias, através do taylorismo e fordismo, tinham maior produ-
tividade e, assim, aumentaram muito a produção de diversos bens, tanto de
consumo quanto de matéria prima. A agricultura também prosperava com a
alta produção.

1) Taylorismo é sistema de organização do trabalho


concebido pelo engenheiro norte americano
Frederick Winslow Taylor (1856-1915). O sistema tem
o objetivo de alcançar o máximo de produção e
rendimento com o mínimo de tempo e de esforço.

MULTIVIX EAD
Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 47
HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA

2) O Fordismo é um modo de produção em massa


baseado na linha de produção idealizado pelo
empresário estadunidense Henry Ford. Este sistema
racionalizou o processo produtivo e a fabricação,
visando o baixo custo e a acumulação de capital.

Os Estados Unidos, ao longo da Primeira Guerra Mundial haviam se tornado


a maior economia do mundo, dado o crescimento das exportações. Hobsba-
wm (1995, p. 82) afirma que em 1913, os EUA já haviam se consolidado como a
maior economia do mundo. O país produzia mais de um terço de sua produ-
ção industrial, um pouco menos do que o total de Alemanha, Grã-Bretanha e
França juntos. Em 1929, respondiam por mais de 42% da produção mundial
total, se comparado com as potências europeias antes da guerra.
A Europa, que, aliás, ainda se recuperava do conflito, havia parado sua produ-
ção industrial e os campos não tinham condições de retomar seu fornecimen-
to. Nova York se tornou o centro financeiro internacional, tomando o lugar da
devastada Londres.
Os anos 1920 ficaram conhecidos para os americanos como anos dourados ou
anos felizes. A classe média consolidada, aliada a um consumo desenfreado,
criou o famoso “American Way of Life”, e uma aparente sensação de que nada
poderia abalar esta expressão máxima do capitalismo.

O “American way of life” era um estilo de


vida pautado pelo consumismo exacerbado.
Ficou conhecido pelo mundo como um estilo
de vida de alto padrão, baseado na posse
de bens materiais como sinônimo de uma
vida boa. Seu estereótipo representativo
era a típica família americana com mulher,
marido e filhos.

MULTIVIX EAD
48 Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017
HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA

Porém, uma crise rondava esse glamoroso estilo de vida e o resultado foi su-
perprodução e especulação, levando a população a um grande colapso, como
afirmou Hobsbawn (1995).
Toda a prosperidade estava amparada em bases extremamente frágeis: no
crédito desregulado e especulação financeira. Este cenário gerou uma bolha
especulativa que, em poucos anos, foi o estopim para uma das maiores crises
econômicas do século XX.

O contexto de 1929 provocou influências em várias


vertentes, inclusive no cinema. Faça o download do
artigo para saber mais: http://www.snh2011.anpuh.
org/resources/anais/14/1300881347_ARQUIVO_
TEXTODEWAGNERPINHEIROPEREIRAANPUH2011.pdf

3.2 EXPLOSÃO DA CRISE: DIA DA QUEBRA DA


BOLSA DE NOVA YORK
Em 1929, as ações nas bolsas começaram a diminuir juntamente com o núme-
ro de compradores. Os investidores começaram a vender seus bens no dia que
ficou conhecido como a “Quinta-feira Negra”: 24 de outubro de 1929.

MULTIVIX EAD
Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 49
HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA

FIGURA 1 - FILA DE FAMÍLIAS AGUARDANDO AJUDA EM 1929

Fonte: https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=492282depress%C3%A3o-
27121e15fe94

Nesta quinta sombria, o mercado de ações dos Estados Unidos “quebrou”. O


mercado especulativo não conseguia acreditar no cenário, tendo dificuldades
para reconhecer o papel negativo do consumismo desenfreado e da pouca
regulação do governo nos anos dourados.
As doutrinas dominantes seguiram negando o cenário, defendendo que a cri-
se de Wall Street não era reflexo de uma crise fundamental do consumismo
desenfreado, concedendo um papel substancial ao movimento especulativo.
Segundo Galbraith (2010), “ A magia preventiva requeria que um importante
número de pessoas repetisse com o máximo de firmeza que isso não aconte-
ceria. E foi o que fizeram. [...] todos, continuariam não sendo afetados. ”
Porém, era inevitável reconhecer que os índices da produção industrial e da
produção fabril começaram a decrescer e a produção de aço declinou. Prati-
camente, 1/4 da população dos EUA estava desempregada e o estilo do con-
sumismo deu lugar ao que ficou conhecido como a “Grande Depressão”. O
governo não sabia como reverter o quadro. As taxas de suicídio cresceram no
país, vertiginosamente.

MULTIVIX EAD
50 Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017
HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA

FIGURA 2 - FAMÍLIA SE MUDANDO ANDANDO.

Fonte: https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=492288

Uma das justificativas para a crise de 1929 pode ser explicada pelo crescimen-
to dos EUA que estava pautado nas teorias do Liberalismo Clássico de Adam
Smith, tendo como principais bases a não intervenção do Estado na econo-
mia, a ideia da liberdade de mercado e de investimentos e a lei da oferta e
procura como reguladora da economia. Não havia, portanto, uma orientação
do governo para o crescimento econômico.
Na verdade, a desorganização do mercado europeu decorrente da Primeira
Guerra Mundial tinha sido favorável ao crescimento econômico dos norte-
-americanos e não necessariamente uma estrutura sólida do mercado. A bolsa
quebrou, a crise imperou e outros desdobramentos viriam para o já conturba-
do século XX.

MULTIVIX EAD
Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 51
HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA

A Crise de 1929 em números

50%

do PIB nominal dos Estados Unidos caiu.

27%

de desemprego (era 4% antes da crise).

70%

de queda nas importações.

50%

de queda nas exportações.

90%

de queda nos empréstimos internacionais.

1/3

de queda na produção industrial.

50%

de redução na produção de automóveis.

MULTIVIX EAD
52 Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017
HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA

50%

de queda no salário médio da indústria.

Milhares

de falência em empresas e bancos.

Realize o download deste mapa mental da crise de


1929, disponível no link: https://ensinarhistoriajoelza.
com.br/a-crise-de-1929-mapa-mental/. Ele vai te ajudar
a entender de uma outra forma como a crise aconteceu!

3.3 CONSEQUÊNCIAS DA CRISE PARA A


ALEMANHA
A Alemanha do pós-guerra tentava se reconstruir de várias formas. Economi-
camente, o país vivia uma das suas piores fases, pois empregou suas riquezas
na Primeira Guerra Mundial. O sentimento de derrota, acompanhado pelas
clausuras impostas pelo Tratado de Versalhes, sufocavam a nação em um mis-
to de vergonha e insatisfação.
Anteriormente à crise de 1929, portanto, a posição da Alemanha já era descon-
fortável e a instabilidade econômica sem precedentes, tornava a retomada do
crescimento do país, uma das principais metas do governo.
Em 1924, uma comissão internacional, liderada pelo financista e político norte-
-americano Charles Gates Dawes, preparou um plano de ação para apoiar a
Alemanha a saldar suas indenizações de guerra e retornar à estabilidade eco-
nômica. Este plano, o Plano Dawes, logo revelou ser um insucesso pois o acor-
do era insustentável à economia alemã. Além disso, os EUA eram o principal
financiador de empréstimos para os germânicos e, com a crise de 1929 a fonte
do dinheiro secou.

MULTIVIX EAD
Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 53
HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA

A Alemanha, neste cenário de instabilidade e incertezas, estava sem perspecti-


vas. Um dos possíveis caminhos seria sucumbir ao socialismo que crescia com
uma força social e ideológica em vários países Europeus. A Revolução Russa,
era uma das provas mais fortes disso. Entretanto, a crise econômica era tão
assustadora quanto esta possível saída, pelo menos, para a burguesia alemã.
Os burgueses, assim, apostaram em um partido que prometia enfrentar tanto
a crise econômica quanto o avanço do socialismo. A promessa de um estado
forte, germânico e genuíno, capaz de reerguer toda a Alemanha, dilacerada e
envergonhada por uma derrota frente ao mundo. Um partido que apostava na
intervenção estatal para controlar a nação, mas que não tivesse como objetivo
socializar os meios de produção. Era assim, que o Partido Nazista subia ao po-
der e o mundo ainda não sabia o que veria em alguns anos.

Agora que você já estudou a Crise de 1929 e sua


relação direta com a Alemanha, construa seu mapa
mental. Coloque a crise da Alemanha no centro e
relacione todos os fatores que você considera relevante.
O mapa mental é um instrumento para te apoiar na
aprendizagem! Bons estudos!

Para entender melhor como a crise criou bases


para o avanço do Nazismo na Alemanha, acesse o
link: http://www.uel.br/eventos/eneimagem/anais/
trabalhos/pdf/Perosa%20Junior%20_Edson%20
Jose.pdf

MULTIVIX EAD
54 Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017
HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA

3.4 CRISE E LITERATURA NORTE-AMERICANA: O


CASO JOHN STEINBECK
O mundo, até o início do século XX, tinha sua trajetória tanto política, como
econômica, social e cultural atrelada a Europa. O imperialismo vigente desde
a Era Moderna afetava os modelos e crenças de como a humanidade conce-
bia o mundo. Neste sentido, o Imperialismo não só marcou as relações estru-
turais de potências e colônias, mas também determinou laços sobre a cultura,
atrelando os movimentos artísticos ao que estava em voga na metrópole.
Obviamente, isso não significa que as colônias não tivessem produções origi-
nais e intensas. Entretanto, era muito comum valorizar a tendência do mundo
europeu como inspiração primária e ecos das centelhas artísticas do velho
mundo ressoavam em obras magnificas pela temática, mas inebriadas de es-
tilos que nasciam na Europa.
A eclosão da Primeira Guerra Mundial, do modo como se deu, espalhou um
pânico que se confirmou em uma experiência bélica traumática. Tal experi-
ência alimentada e induzida pela difusão das informações através do rádio, já
popularizado, e das primeiras imagens do cinema que, aos poucos começava
a tomar espaço na vida e no imaginário das pessoas.

FIGURA 4 - CARTAZ CONTRA A ALEMANHA NA ENTRADA DOS EUA NA PRIMEIRA


GUERRA

Fonte: https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=16889010

MULTIVIX EAD
Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 55
HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA

Nascia, então, duas constatações preponderantemente relevantes para enten-


der e balizar a produção artística e, especialmente, literária do pós-guerra. A
primeira está calcada em uma crítica consciente e evidente ao racionalismo
inspirado nas potências imperiais. A segunda constatação é que o cinema, a
fotografia e o jornalismo passavam a fazer parte da vida das grandes massas,
veiculando e produzindo para elas. O realismo do final do século XIX, já esbo-
çava na sua produção temas que tratavam da realidade. A grande crítica a este
movimento, porém, refletia que autores traziam a realidade sob uma ótica e
lógica burguesa, afinada com a percepção de realidade sustentada pela con-
dição do imperialismo, subjugando as condições sociais dos mais vulneráveis
como uma escolha de vida e não como condição da desigualdade.
Teorias das ciências também trouxeram sua contribuição crítica a este mo-
mento, especialmente, a recém-nascida psicanálise formulada por Sigmund
Freud. O fundador da psicanálise colocava em evidência as zonas sombrias da
razão, revelando dimensões menos cômodas a respeito do ser humano, como
o inconsciente, a histeria e a pulsão de morte. Indubitavelmente, o Manifesto
Comunista de Karl Marx que inspirou novas perspectivas de olhar sob a relação
entre o controle dos meios de produção e quem realmente produz as rique-
zas, impulsiona ângulos diferentes para fomentar os movimentos artísticos,
ângulos, especialmente, politizados.

1. Freud: O neurologista Sigmund Freud é


considerado o idealizador da psicanálise
sendo responsável por tornar comum o tipo
de tratamento no qual médico e paciente
conversam.

MULTIVIX EAD
56 Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017
HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA

2. Karl Marx: Karl Marx foi um filósofo,


economista liberal, revolucionário alemão e
um dos fundadores do socialismo científico.
A obra de Marx influenciou a Sociologia,
a Economia, a História a Arte e a até a
Pedagogia

Neste contexto, surge com força, tanto na Europa devastada como em suas
colônias, movimentos de vanguarda na arte da História Contemporânea, inspi-
rados por estes olhares. Hobsbawm (1995), p. 145, afirma:

Três coisas se podem observar sobre essa revolução na era dos cataclismos: a
vanguarda se tornou, por assim dizer, parte da cultura estabelecida; foi pelo
menos em parte absorvida pela vida cotidiana; e — talvez acima de tudo —
tornou-se dramaticamente politizada, talvez mais que as grandes artes em
qualquer período desde a Era das Revoluções.

Hobsbawm (1995) ainda continua complementando que a nova vanguarda se


tornou fundamental para as artes estabelecidas, complementando os reper-
tórios e criando novas formas integradas a elas. Exemplo disso é a literatura
pungente e fundamental de John Steinbeck.
Nascido em Salinas, em 1902, no estado da Califórnia, Estados Unidos, sua fa-
mília era de classe baixa, embora não pobre. No seu repertório de mundo, pre-
senciava a vida dos trabalhadores da cidade e do fértil Vale de Salinas, um cen-
tro agrícola a cerca de 20 quilômetros do Oceano Pacífico, tornando-se esta
geografia e suas disparidades sociais, o grande cenário das suas obras. Experi-
mentador incansável, Steinbeck ensaiou vários tipos de escritas. Entretanto, o
sucesso e a genialidade vieram quando revelou o fio condutor que permearia
toda a sua literatura: a observação social, de cunho realista, das camadas de
trabalhadores de classe baixa, entranhados no limbo do sistema econômico.
Sua obra revelava personagens profundos, opostos aos personagens dos rea-
lismos predominantes na Europa do final do século XIX. O autor edificou nos
seus retratos literários a luta pela dignidade humana, o conflito das relações de
afeto frente à crueldade do mundo e a solidão, entendida como um sentimen-

MULTIVIX EAD
Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 57
HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA

to comum dos homens. Entre várias obras, a expressão mais profunda da sua
vasta produção é o romance The grapes of wrath (As vinhas da ira), de 1939. O
livro narra a condição de agricultores do estado americano de Oklahoma que
se mudam para a Califórnia, para trabalhar sazonalmente em fazendas alheias.
O autor foi premiado com o Prêmio Pulitzer de Literatura.
Portanto, a literatura norte americana, expressa no exemplo de Steinbeck, re-
vela uma faceta social protagonizada pela crise, criando um contraponto ao
estilo de vida americano, inspirado no consumismo desenfreado antes da cri-
se. Esta expressão tem ecos do movimento de arte de vanguarda do mundo
pós Primeira Guerra Mundial.

A obra de Steinbeck foi amplamente divulgada no


Cinema e no teatro. A adaptação para o cinema de
As vinhas da Ira, dirigida por John Ford, em 1940
é um dos grandes clássico do cinema! Você pode
pesquisar e apreciar a obra! Bom filme!

3.5 GOVERNO ROOSEVELT E NEW DEAL: AÇÕES


CONTRA A CRISE
Durante a crise de 1929, o presidente norte americano Herbert Hoover presen-
ciou a queda de arrecadação do Estado, fazendo com que a dívida pública
crescesse substancialmente em sua administração. A quebra da bolsa de Nova
York e subsequente situação de pobreza e miséria que assolou o país foram
as constatações cruciais de que uma economia puramente liberal não estava
funcionando.
Em 1932, Franklin Delano Roosevelt assume a presidência dos Estado Unidos,
com o compromisso de implementar uma agenda de reformas para frear a re-
cessão. O liberalismo reformista foi a marca do seu governo, firmado em ações
de fortalecimento dos Estados Unidos, optando por estabelecer uma proteção
egoísta à nação para estruturar a economia interna e evitar outros conflitos
diretos que pudessem abalar os sistemas. Além disso, seu governo era adepto
de uma política de boa vizinhança, estruturando a ideia de uma América forte,

MULTIVIX EAD
58 Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017
HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA

embora, defendesse que uma nação deveria estar preparada com seu próprio
arsenal, caso necessário.

Em seu livro, Saraiva fala sobre as estratégias adotadas


para a política externa norte-americana para o
período. Leia em: SARAIVA, J. F. S. (org.). História
das relações internacionais contemporâneas:
da sociedade internacional do século XIX à era da
globalização. São Paulo: Saraiva, 2008.

Roosevelt tinha como maior desafio reerguer o que tinha sido a maior econo-
mia depois da Primeira Guerra. Ele se inspirou nos princípios do economista
John Maynard Keynes, chamando seu plano de ação para a crise de New Deal
(em português Novo acordo ou Novo trato).

John Maynard Keynes: Economista britânico


cujas ideias mudaram fundamentalmente
a teoria e prática da macroeconomia, bem
como as políticas económicas instituídas
pelos governos.

A base do seu plano era implementar uma participação direta e forte do Esta-
do na economia, defendendo que o governo deveria ter uma postura regula-
dora estabelecendo o controle na emissão dos valores monetários. Além disso,
Roosevelt investiu em setores básicos como na construção de hidrelétricas,
estradas e pontes, gerando empregos temporários e que pagavam um valor
mínimo de salário, mas reativando o poder de consumo dos estadunidenses.
A regulação econômica no governo Roosevelt era feita por uma agência do
governo que conduzia acordos de controle de preços, produção, investimento,

MULTIVIX EAD
Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 59
HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA

marketing e preços praticados. A sustentação para esta regulação buscava


conciliar capital e trabalho estabelecendo uma competição justa. A ideia era
que este processo fosse executado por um comitê triplo de empresários, tra-
balhadores e consumidores, mas, na prática significava a decisão dos primei-
ros sobre a economia.

FIGURA 5 – SELO REPRESENTATIVO DO NEW DEAL

Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:New_Deal_N.R.A._3c_1933_issue_U.S._
stamp.jpg

O New Deal também promoveu políticas sociais e de proteção e regulamen-


tação do emprego. Entre as principais ações podem ser citadas a extinção
do trabalho infantil, a regulamentação das 40 horas semanais de trabalho, e
condições diferenciadas para o trabalho feminino. O programa também con-
cedeu liberdade para que os trabalhadores realizassem a organização sindical
por setores e não por empresas, como era feito anteriormente. Esta caracte-
rística do programa ficou conhecida como Estado do Bem Estar Social e foi
replicada em vários outros países.
De um lado setores da burguesia se beneficiaram do programa, e o crescimen-
to dos Estados Unidos foi reestabelecido de forma lenta. O fortalecimento dos
trabalhadores também começou a aparecer na forma de exigências a medi-
das que protegessem ainda mais os empregos, sem a retirada de direitos tra-

MULTIVIX EAD
60 Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017
HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA

balhistas e que melhorassem as condições de trabalhos, resultando em uma


onda de greves durante o New Deal.
Historicamente, o plano do governo Roosevelt é considerado, em partes, uma
experiência de sucesso, capaz de recuperar a economia e ainda gerar empre-
gos. Entretanto, a intervenção estatal foi incapaz de resolver as contradições
da crise, ou seja, de recuperar as taxas de lucro e permitir um novo ciclo de
acumulação do capital, já que atendeu apenas determinados setores da bur-
guesia. Ainda assim, o New Deal foi importante pelas reformas que promoveu
na indústria e no sistema financeiro, sendo criticado por ter criado caminhos
de concentração ainda maior do capital em poucos monopólios.

Para conhecer mais sobre o New Deal, acesse o livro


Os inventores do New Deal de Flávio Limoncic, no
link: http://livros01.livrosgratis.com.br/cp000086.
pdf. A leitura te apoiará a aprofundar os conceitos
desta Unidade.

3.6 ASCENSÃO E CARACTERIZAÇÃO DO


FASCISMO ITALIANO
Substancialmente, o resultado da Primeira Guerra Mundial produziu reflexos
em todas as partes do globo. Se em alguns países houve crise, na Itália se er-
gueu um episódio da história inteiramente explicado pela insatisfação de per-
der ao lado de vencedores.
Mesmo considerada uma das potências imperialistas, a Itália começou a Pri-
meira Guerra Mundial, embebida na amargura da Alemanha de ter ficado de
fora da divisão colonial dos territórios africanos. Pressões intervencionistas da
França e a Grã Bretanha e boas promessas de compensações financeiras e
territoriais, fizeram com que os italianos mudassem de time, logo no primeiro
ano da guerra. Contudo, a guerra havia destroçado mais do que se imaginava
e o espólio prometido e não agradou a Itália. Obviamente, o país tinha lutado
lado a lado das outras potências e sem receber o devido e combinado, um

MULTIVIX EAD
Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 61
HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA

sentimento de vitória mutilada tomou as geração jovem de combatentes que


tinha se entregue ao conflito.
Do ponto de vista do financiamento da guerra, três indústrias italianas, em
especial, foram beneficiadas do conflito: o grande triângulo industrial da Itália:
Ansaldo (aço), Fiat (veículos), Pirelli (borracha). Deles, o governo comprava in-
sumos essenciais que serviram à guerra com dinheiro oriundo dos contribuin-
tes. Sassoon (2009, p. 46) explica que as associações de veteranos de guerra,
foram construindo um forte sentimento de comunidade, exigindo mais espa-
ço político, e reconhecimento legítimo pelos sacrifícios que a experiência de
violência e brutalidade de uma guerra tinham representado: “O número de
baixas italianas na Grande Guerra foi muito alto: 650 mil mortos e um milhão
de feridos” (p. 46).
Ao mesmo tempo, as ideias socialistas e comunistas tomavam força na Euro-
pa, fortalecidas pela Revolução Russa, e inspiravam levas de trabalhadores no
solo triste da guerra.
As primeiras percepções do que era ou o que significava fascismo foram aci-
dentais e, muito provavelmente, não se projetava uma real possibilidade de
concretização. Mencionava-se a violência, o discurso inflamado, algumas ideias
mais radicais, mas não se arriscava uma aposta concreta que o movimento se
tornaria uma força política estável capaz de tomar o poder.
Acontece que o radicalismo do movimento, que usava a violência, foi dialo-
gando com o sentimento de vergonha e injustiça inspirado pelo fim da guerra.
Adeptos foram surgindo nas zonas rurais e na classe média. O discurso incisivo
demonizava o socialismo e atribuía ao movimento mazelas da Itália. Assim,
o fascismo, movimento liderado por Benito Mussolini, destacava-se capaz de
representar a defesa da propriedade privada, uma política externa nacionalis-
ta e a realização de obras públicas para fomentar a economia rural. Sassoon
(2009) explica: “Relegados, os proprietários fundiários das províncias do norte
e do centro contra-atacavam, tendo como arma principal os esquadrões do
fascismo” (p. 103).
Sassoon (2009) também reconhece que uma das grandes forças do fascismo
foi a juventude propagandeada por Mussolini. Esta força sustentou o partido,
acreditando que o fascismo anunciava a construção do homem novo, apoian-
do-se em filosofias que resgatavam vigor e vitalidade.

MULTIVIX EAD
62 Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017
HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA

O marco da ascensão do Fascismo ao poder,


aconteceu em 1922. O Partido Nacional
Fascista (PNF) realizou a Marcha sobre Roma.
Nesta manifestação exigiu-se que o Rei Vitor
Emanuel III transferisse o poder para as mãos
do partido. O rei, pressionado, convidou
Mussolini para fazer parte do governo.
Inseridos na esfera do poder político central,
os fascistas iniciaram o projeto autoritário e
centralizador iniciando a ditadura fascista,
liderado por Mussolini. As primeiras medidas
foram enfraquecer o poder legislativo, fechar
os meios de comunicação e colocar todos os
partidos (à exceção do PNF) na ilegalidade.

3.7 ASCENSÃO E CARACTERIZAÇÃO DO NAZISMO


ALEMÃO
Na Alemanha quebrada, entre os anos de 1924 e 1929, havia sido instaurada a
chamada República Weimar, que tentava, às custas de financiamentos oriun-
dos de outros países, especialmente dos Estados Unidos, reorganizar a Alema-
nha. Contudo, o fatídico 1929 chegou, e com a quebra da Bolsa de Nova York,
a Alemanha perdeu seu principal financiador.
O socialismo e comunismo rondando a Europa, também se infiltravam em
solo germânico. O Império Alemão e o Austro-Húngaro desfeitos sinalizavam a
necessidade de que um novo líder tomasse as rédeas e ordenasse o caos.

Adolf Hitler: Hitler serviu na Primeira Guerra


Mundial, eloquente, destacou-se no exército
e, pouco antes do final da guerra alimentava
aspirações de fundar um partido que
pudesse fazer de novo a Alemanha grande e
forte.

MULTIVIX EAD
Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 63
HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA

Durante este período, Adolf Hitler conheceu o Partido dos Trabalhadores e


a ele se juntou atraído pelos ideais nacionalistas e pelo desprezo a minorias.
Necessário frisar que este partido, apesar de defender a bandeira dos trabalha-
dores, nutria também especial desprezo pelas doutrinas socialistas, acreditan-
do que o controle absoluto do estado era a solução para o momento de cri-
se instaurado. A expressão “Nazismo” deriva da sigla “Nazi”, abreviatura para o
“Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães”, organizado por Adolf
Hitler na década de 1920.
O partido foi tomando força e o gosto da burguesia alemã, que mais temia a
subida ao poder de um regime socialista que negasse privilégios do que de um
regime totalitário. O primeiro ensaio de tomada do poder de Hitler foi frustrado,
acabando com sua prisão. Antagonicamente, o apoio ao partido que, até este
momento, não passava de 4% de cadeiras no parlamento, subiu vertiginosa-
mente, até alcançar a marca de 37% em 1933. A pressão do partido obrigou o
parlamento a assinar um decreto que tirava os direitos civis dos alemães, ale-
gando que o perigo para o país está no seu interior. A partir disso, Hitler, chama-
do de Füher, ascende ao poder, instaurando o Regime Nazista na Alemanha.
O Nazismo foi um regime totalitário, marcado pela militarização da sociedade
alemã, por uma máquina de propaganda intensiva em torno da figura do líder,
bem como um cuidadoso culto de sua personalidade e dos ritos e símbolos que
o partido desenvolveu. O antissemitismo também foi característica pungente
do regime, culpando outras raças, especialmente os judeus, por toda a deca-
dência da sociedade alemã. A eugenia também era amplamente difundida,
defendendo a necessidade da criação e preservação de uma raça pura alemã.
O regime nazista se sustentou definitivamente na ampla propaganda para as
massas, se valendo da grandiosidade para reforçar seu poder. Hitler acreditava
que seu poder iria atravessar o tempo.

Alemanha Nazista ou Nazi, também chamada de


Terceiro Reich, são nomes comuns para a Alemanha
durante o período entre os anos de 1933 e 1945,
quando o seu governo era controlado por Adolf Hitler
e pelo Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores
Alemães, mais conhecido como Partido Nazista

MULTIVIX EAD
64 Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017
HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA

Para compreender melhor o Nazismo e o Fascismo,


conheça o artigo indicado no link e bons estudos!
http://www.scielo.br/pdf/eh/v30n61/0103-2186-
eh-30-61-0355.pdf

CONCLUSÃO

Nesta unidade você estudou com profundidade a Crise de 1929 e seus desdo-
bramentos para o mundo. Embora a crise tenha provocado um efeito intenso
nos Estados Unidos, seus desdobramentos atravessaram o globo, decaindo,
especialmente, na Alemanha.
Os efeitos da crise tiveram um reflexo expressivo na arte produzida na América
nos anos 20, destacando uma intensa produção de vanguarda que buscava
olhar para a sociedade atingida pelos efeitos da crise. John Steinbeck é um
dos exemplos de literatura mais emblemáticos deste período, consagrando na
sua obra o retrato estadunidense da crise.
O governo Roosevelt implantou medidas para mitigar o colapso de 1929, o
chamado New Deal. O programa propunha uma intervenção mais assertiva
do Estado regulando a movimentação da economia, além de investir em seto-
res de base para gerar empregos e fazer girar a economia.
Por fim, estudamos a ascensão dos regimes Fascista na Itália e Nazista na Ale-
manha, caracterizando cada um deles. Ambos, gerados na insatisfação do pós
guerra, caracterizando-se por um controle total do Estado, na figura do italiano
Mussolini e do austríaco (que se considerava alemão) Adolf Hitler. No regime
Nazista as bases ainda estavam arraigadas na consolidação de uma raça pura
e no antissemitismo.

MULTIVIX EAD
Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 65
HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA

UNIDADE 4

OBJETIVO
Ao final desta
unidade,
esperamos que
possa:

> reconhecer as
características
essenciais da origem
da Segunda Guerra
Mundial a partir das
crises de 1929 e da
democracia alemã;
> relacionar a
ideologia nazista com
as práticas adotadas
pelo III Reich;
> compreender as
táticas de guerra e os
avanços tecnológicos
do conflito;
> entender como o
fim do conflito levou
à reconfiguração
da ordem mundial,
dividida entre o
mundo socialista e
capitalista.

MULTIVIX EAD
66 Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017
HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA

4 SEGUNDA GUERRA MUNDIAL

INTRODUÇÃO
Esta unidade abordará um dos maiores conflitos da história da humanidade, a
Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Na realidade, essa guerra pode ser enten-
dida como uma continuidade da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), ou, como
destacou o historiador britânico Eric Hobsbawm, “a guerra mundial de 31 anos”,
pois muitas das motivações, ligadas ao choque de interesses entre as grandes
potências imperialistas, estavam presentes nos dois conflitos, sendo que o espí-
rito revanchista alemão apenas tornou mais problemático tal contexto.
Entretanto, a Segunda Guerra Mundial não se limitou à rivalidade imperialista.
Por isso, é importante salientar que essa guerra foi além de uma disputa, pois,
no confronto, estava presente um grande conflito ideológico internacional, o
qual fez consideráveis parcelas das populações de determinados países alia-
rem-se aos invasores, pois estes eram adversários dos governantes justamen-
te no campo da ideologia política. Contudo, tal confrontação ainda não teve
como linha divisória a disputa entre o capitalismo e o comunismo (que, por
sinal, foram aliados no conflito), mas sim a disputa entre os ideais da moder-
nidade iluminista – que gerou tanto o liberalismo como o socialismo – contra
a reação ultraconservadora a esses ideais propagados pelo mundo a partir do
fim do século XVIII, com a Revolução Francesa, sendo esta representada pelos
cruéis e violentos ideais do nazifascismo.
Também veremos nesta unidade a participação do Brasil na Segunda Guerra
Mundial, focalizando a participação da Força Expedicionária Brasileira (FEB)
nos campos de batalha italianos. Estudaremos ainda sobre as consequências
do conflito, do qual uma nova ordem mundial (bipolar, em ternos ideológicos
e militares) ascendeu e dominou o cenário político internacional no decorrer
da segunda metade do século XX.

MULTIVIX EAD
Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 67
HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA

4.1. MOTIVAÇÕES ALEMÃS PARA A GUERRA


O conflito foi claramente provocado pela política expansionista dos países do
Eixo (Alemanha, Itália e Japão). E, entre as forças do Eixo, sem sombras de dú-
vida, era a Alemanha de Hitler a mais implacável, motivada ideologicamente
por diversos fatores, como a construção do “espaço vital” da “Grande Alema-
nha”; o projeto anticomunista, que tinha como objetivo final eliminar a União
Soviética; e o espírito revanchista contra as nações vitoriosas da Primeira Guer-
ra Mundial, as quais impuseram o “humilhante” Tratado de Versalhes, no caso,
a Grã-Bretanha e a França.
Em 1933, Adolf Hitler subiu ao poder na Alemanha com o projeto de estabe-
lecer um “espaço vital” para a defesa do país, ou seja, tornar realidade o sonho
megalomaníaco nazista de construir a “Grande Alemanha”, cujo território de-
veria incluir até partes do leste europeu e cuja população de origem germâni-
ca era minoritária, como eram os casos da Polônia, Hungria e Tchecoslováquia.
Hitler também tinha o desejo de avançar suas forças além das fronteiras com
a União Soviética, liderando uma espécie de “cruzada anticomunista” e escra-
vizar grande parte da população eslava, pois a intensa exploração desse povo
seria essencial para a concretização de seu projeto bárbaro e megalomaníaco.
Em 1935, a Alemanha comunicou a ruptura com o Tratado de Versalhes, tornan-
do possível direcionar a sua produção industrial para os esforços de guerra, pos-
sibilitando, em pouco tempo, que ela ressurgisse como grande potência militar.
No mesmo ano, a Alemanha se desligou, com desprezo, da Liga das Nações.
Já em 1936, a Alemanha recuperou a região desmilitarizada da Renânia e
apoiou um golpe militar na Espanha liderado pelo general de extrema-direita
Francisco Franco. Este foi o marco inicial da Guerra Civil Espanhola (1936-1939),
que se tornou uma espécie de ensaio geral para a Segunda Guerra Mundial,
pois envolveu no conflito os defensores da República Espanhola (a Frente Úni-
ca), contando com o apoio financeiro de Grã-Bretanha e França e militar da
União Soviética (cujo Partido Comunista local apoiava o regime republicano).
Os apoiadores de Franco contavam com o auxílio econômico e militar direto
da Alemanha e da Itália. No fim do embate, a extrema-direita espanhola saiu-
-se vencedora do conflito, no qual crimes de guerra protagonizados pela Força
Aérea Alemã, como o bombardeio da pequena cidade de Guernica, ficaram
marcados na História de forma trágica.

MULTIVIX EAD
68 Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017
HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA

Ainda em 1936, Hitler e Mussolini formalizaram a sua aliança com o acordo


denominado Eixo Berlim-Roma, enquanto a Alemanha e o Japão concluíram
um “Pacto-Anti III Internacional” (nome que fazia referência à Internacional
Comunista), mais nominal do que efetivo devido aos diferentes interesses ge-
opolíticos das duas potências.
Em 1938, a Alemanha inicia o seu projeto de expansão militar. A Áustria foi
invadida e anexada em março, sem resistência militar, e, após várias ameaças,
Grã-Bretanha e França preferiram negociar com Hitler, oferecendo boa parte
da Tchecoslováquia (anexada pelos alemães sem o governo tcheco ser sequer
consultado sobre a negociação), mediante o Acordo de Munique. De forma
ingênua, o primeiro-ministro britânico, Neil Chamberlain, considerava que tal
acordo iria satisfazer Hitler e garantir a paz na Europa. Entretanto, poucos me-
ses depois, em março de 1939, o restante da Tchecoslováquia foi anexado pelos
alemães, sendo “rasgado” o Acordo de Munique.
Nesse espaço de tempo, enquanto França e Grã-Bretanha mostravam-se im-
passíveis quanto ao discurso belicista de Hitler e ao avanço militar alemão, a
União Soviética, temendo uma guerra com a Alemanha, procurou aproximar-
-se das duas potências capitalistas europeias. Assim, em vários países euro-
peus, determinou que os partidos comunistas locais estimulassem a formação
de “Frentes Amplas” com sociais-democratas e partidos liberais moderados
visando impedir o avanço nazifascista. Entretanto, os governos francês e britâ-
nico ignoraram tal iniciativa de Stálin e se recusaram a fazer qualquer aliança
com o país comunista. Sem outra alternativa, a União Soviética fez um acordo
de não agressão com a Alemanha, no qual garantiu-se temporariamente que
não haveria qualquer confrontação militar entre a Alemanha e a União Sovié-
tica, além de ficar garantida a divisão da Polônia (na época, administrada por
um governo de extrema-direita que não era simpático ao nazismo) entre as
forças militares de Hitler e de Stálin.
Assim, em setembro de 1939, o avanço militar alemão sobre a Polônia – justifi-
cado pelo fato de que a cidade portuária de Danzig (atual Gdansk) pertencia
à Alemanha até a Primeira Guerra Mundial, cuja boa parte da população era
de origem alemã e que, por isso, deveria fazer parte da “Grande Alemanha” –
deflagrou a Segunda Guerra Mundial, pois Grã-Bretanha e França declararam
guerra à Alemanha como resposta à invasão germânica à Polônia.

MULTIVIX EAD
Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 69
HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA

O “espaço vital” era um conceito originário da


geopolítica do geógrafo alemão Friedrich Ratzel (1844-
1904) para designar as condições espaciais e naturais
necessárias à expansão de um Estado nacional. Tal
teoria foi utilizada como ideologia para justificar o
expansionismo alemão, tanto pelo Império Alemão
no contexto da Primeira Guerra Mundial (1914-1918)
quanto pelo nazismo, que defendia a constituição
de um Estado alemão composto por um grande
território formado por regiões do leste europeu, nas
quais a população alemã era minoria, visando à
segurança do território alemão.

FIGURA 1 - SOLDADOS ALEMÃES NA INVASÃO À POLÔNIA – SETEMBRO DE 1939

Fonte: Wikipedia (1939 [2019]). Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/


Ficheiro:Bundesarchiv_Bild_146-1979-056-18A,_Polen,_Schlagbaum,_deutsche_Soldaten.jpg

MULTIVIX EAD
70 Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017
HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA

4.2. REAÇÃO MUNDIAL AO CONFLITO


A atitude de Adolf Hitler de invadir a Polônia levou boa parte da opinião pública
da Europa Ocidental (com a exceção óbvia dos alemães e dos italianos) a se mo-
bilizar contra o nazismo, algo que até então não ocorria. A maior parte da opi-
nião pública britânica passou a pressionar seus governantes a não fazerem mais
nenhum outro acordo com Hitler, o que abriu espaço para que Winston Chur-
chill, um conservador favorável à guerra, assumisse o posto de primeiro-ministro.
Algo similar também aconteceu, mas com menor intensidade, na França, onde
havia alguns grupos de extrema-direita simpáticos ao nazismo. Mas, mesmo
com a declaração oficial de guerra, Grã-Bretanha e França não mobilizaram
imediatamente suas tropas contra as forças militares alemãs. Assim, entre se-
tembro de 1939 e abril de 1940 não houve confrontação entre as tropas aliadas
e alemãs.

FIGURA 2 - WINSTON CHURCHILL

Fonte: Wikipedia (1940 [2019]). Disponível em: https://commons.wikimedia.org/wiki/


File:Winston_Churchill_As_Prime_Minister_1940-1945_MH26392.jpg

MULTIVIX EAD
Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 71
HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA

4.3. ESTRATÉGIAS MILITARES, TECNOLOGIA


MILITAR E DESENVOLVIMENTO CIENTÍFICO
A guerra começou em 1939 como um conflito puramente europeu. Na prima-
vera de 1940, a Alemanha levou a roldão Noruega, Dinamarca, Holanda, Bél-
gica e França com ridícula facilidade, ocupando os quatro primeiros países e
dividindo a França em uma zona diretamente ocupada e administrada pelos
alemães vitoriosos, tornando-se um Estado-fantoche, com a capital, Vichy, ad-
ministrada por simpatizantes franceses do fascismo.
As vitórias alemãs ocorreram devido à blitzkreag, ou “guerra-relâmpago”, na
qual as tropas alemãs, contando com tanques leves e capazes de atravessar
regiões de difícil acesso rapidamente, com o apoio de artilharia aérea, con-
seguiam avançar sobre o território inimigo. Foi dessa forma que os alemães
dominaram rapidamente a Polônia e, posteriormente, a França, onde a Linha
Maginot, uma das mais extensas e modernas fortificações instaladas na fron-
teira entra a França e a Alemanha, mostrou-se inútil para conter o avanço ale-
mão. Na realidade, pela blitzkrieg, as forças alemãs invadiram a França a partir
da Bélgica, em uma faixa estreita de território montanhoso, de difícil acesso.

FIGURA 3 - HITLER EM PARIS, EM JUNHO DE 1940

Fonte: Wikipedia (1940 [2019]). Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Hitler_


in_Paris,_23_June_1940.jpg

MULTIVIX EAD
72 Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017
HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA

Na ocasião, a Grã-Bretanha quase se rendeu após a vergonhosa retirada de


suas tropas da França, na cidade portuária de Dunquerque. Entretanto, Wins-
ton Churchill manteve a Grã-Bretanha na guerra. Em seguida, a Força Aérea
Alemã (Luftwaff) começou a bombardear as principais cidades britânicas, en-
frentando a forte resistência da Real Força Aérea (RAF). Tal resistência, embora
não tenha impedido uma grande destruição e baixas nas cidades de Londres,
Liverpool, Manchester etc., foi bem-sucedida em tornar inviável o desembar-
que de forças terrestres alemãs nas ilhas britânicas.
O insucesso na Batalha da Inglaterra fez com que as tropas alemãs avanças-
sem pelo leste europeu, pelos Balcãs e pela Grécia (regiões que não atraíam
tanto a atenção dos nazistas, mas que, devido aos insucessos dos aliados ita-
lianos, obrigaram uma intervenção militar).
Parecia que as forças do Eixo teriam uma rápida vitória no conflito. Contudo,
esse cenário mudou com a insensata invasão à União Soviética pelas tropas
alemãs, em 22 de junho de 1941. Para Hitler, a conquista de um vasto império
territorial oriental, rico em recursos naturais e trabalho escravo, era o próximo
passo lógico a ser dado. Entretanto, na realidade, o líder do partido nazista su-
bestimou a capacidade militar soviética e a disposição da maior parte do povo
russo em resistir à invasão germânica.
Novamente, a estratégia da blitzkrieg foi usada e, aparentemente, os alemães
também venceriam facilmente as batalhas na Frente Oriental. De fato, no iní-
cio de outubro de 1941, as tropas nazistas estavam aos arredores de Moscou,
havendo indícios de que o próprio Stálin sentiu-se desmoralizado, ao ponto
de pensar em negociar a paz. Porém, logo esse momento passou, e as gigan-
tescas dimensões territoriais que permitiam transferir a capacidade industrial
soviética para regiões isoladas da Sibéria e do centro da Ásia, a força humana, a
valentia física e o patriotismo russo, somados a um implacável esforço de guer-
ra, derrotaram os alemães e deram à União Soviética tempo para se organizar
efetivamente, compensando a falta de um alto comando militar experiente
e capacitado, pois boa parte dos generais e marechais soviéticos haviam sido
vítimas dos expurgos de Stálin na segunda metade da década de 1930.
Uma vez que a guerra russa (chamada pelos russos de “a grande guerra pa-
triótica”) não se decidira em três semanas, como Hitler esperava, a Alemanha
estava perdida, pois não estava equipada nem podia aguentar uma guerra
longa. Uma nova ofensiva alemã, em 1942, após o inverno terrível, pareceu tão

MULTIVIX EAD
Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 73
HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA

brilhantemente bem-sucedida como todas as outras, e levou os exércitos ale-


mães a fundo no Cáucaso e ao vale do baixo Volga, mas não podia mais deci-
dir a guerra. Assim, os exércitos alemães foram detidos em Stalingrado (verão
de 1942, março de 1943). Depois disso, os soviéticos começaram, por sua vez, o
avanço que só os levou a Berlim, Praga e Viena no fim da guerra. De Stalingra-
do em diante, todo mundo sabia que a derrota da Alemanha era uma questão
de tempo.

FIGURA 4 - A BATALHA DE STALINGRADO

Fonte: Flickr (1943 [2019]). Disponível em: https://www.flickr.com/photos/144890920@


N02/29296501771

O triunfo de Hitler na Europa deixou fragilizada as forças militares de defesa


dos impérios coloniais francês e britânico no Sudeste Asiático, abrindo espaço
para o avanço militar do Japão, que já havia iniciado, nos anos 1930, a ocu-
pação territorial da Coreia e de parte do território da China. Dessa forma, as
forças japonesas instituíram um protetorado sobre as desamparadas colônias
francesas na Indochina.
Os Estados Unidos encararam essa extensão do poder do Eixo no Sudeste Asi-
ático como intolerável, pois essa região também atraía o interesse econômico
norte-americano. Assim, os Estados Unidos aplicaram uma severa pressão eco-
nômica sobre o Japão, cujo comércio e abastecimento ainda era dependente
do comércio marítimo com os norte-americanos. Foi esse conflito que levou à
guerra os dois países. O ataque japonês à base naval norte-americana de Pearl
Harbor, no Havaí, em 7 de dezembro de 1941, tornou a guerra mundial.
Na verdade, foram o embargo norte-americano ao comércio japonês e o con-
gelamento de bens japoneses no exterior que obrigaram o Japão a passar à
ação militar, pois era a única forma de resistir ao estrangulamento de sua eco-

MULTIVIX EAD
74 Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017
HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA

nomia. A jogada que fez era perigosa e se revelou suicida, pois essa estratégia
significava enfrentar um adversário com forças e recursos esmagadoramente
superiores. Não havia como o Japão vencer a guerra.
O questionamento é: por que Hitler, já inteiramente esgotado na União Sovi-
ética, declarou gratuitamente guerra aos Estados Unidos, dando ao governo
de Franklin Delano Roosevelt a oportunidade de entrar no conflito europeu
ao lado da Grã-Bretanha, sem enfrentar resistência da opinião pública norte-
-americana? Isso porque havia pouca dúvida para Washington de que a Ale-
manha nazista constituía um perigo muito mais sério e muito mais global
para a posição internacional dos Estados Unidos do que o Japão. Assim, o Es-
tado norte-americano preferiu concentrar-se mais em ganhar a guerra contra
a Alemanha do que contra o Japão.
Foi nesse período que houve um grande avanço tecnológico na área militar,
o qual, posteriormente, foi assimilado por outros setores da indústria. Como
exemplo, podemos citar os foguetes V1 e V2, desenvolvidos pelos alemães e
utilizados para bombardear Londres, cujos modelos serviram como base para
os foguetes espaciais.

O engenheiro Wernher von Braun (1912-1977) foi o


responsável por desenvolver os foguetes V1 e V2 para
a Alemanha no decorrer da Segunda Guerra Mundial.
Com a derrota alemã, rendeu-se aos norte-americanos
por temer cair prisioneiro dos soviéticos. Nos Estados
Unidos, colaborou com o desenvolvimento do
programa espacial norte-americano que levou o
primeiro astronauta à Lua, em 1969.

MULTIVIX EAD
Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 75
HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA

FIGURA 5 - WERNHER VON BRAUN

Fonte: Wikimedia Commons (1964 [2019]). Disponível em: https://commons.wikimedia.org/


wiki/File:Wernher_von_Braun.jpg

4.4. PARTICIPAÇÃO DO BRASIL NA GUERRA: O


CASO FEB
Às vésperas da Segunda Guerra Mundial, tanto os Estados Unidos como a Ale-
manha tentaram estender sua influência econômica na América do Sul, em um
período em que os investimentos britânicos – que praticamente monopoliza-
vam a região desde as primeiras décadas do século XIX – estavam em declínio.
Apesar de certa afinidade ideológica do governo de Getúlio Vargas com a Ale-
manha nazista, a partir do fim da década de 1930, o Brasil aproximou-se econô-
mica e politicamente dos Estados Unidos. Em 1941, após a entrada dos Estados
Unidos na guerra, o Brasil assinou um acordo de colaboração militar com os nor-
te-americanos, além de bancos norte-americanos se comprometeram a finan-
ciar a construção da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), em Volta Redonda.
Em agosto de 1942, cinco navios mercantes brasileiros foram afundados por
submarinos alemães, fazendo com que boa parte da opinião pública apoiasse
a entrada do Brasil na Segunda Guerra Mundial contra as forças do Eixo. Como
consequência desses fatos, o governo brasileiro declarou guerra à Alemanha.
A principal contribuição brasileira no conflito foi a participação, em conjunto
com as tropas norte-americanas e britânicas, da Força Expedicionária Brasilei-
ra, de batalhas contra forças nazifascistas na Itália, principalmente em Monte
Castelo e Montese. Cerca de vinte mil soldados brasileiros (denominados “pra-
cinhas”) lutaram no conflito, no qual estima-se que 454 deles morreram nos
campos de batalha.

MULTIVIX EAD
76 Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017
HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA

FIGURA 6 - OS “PRACINHAS” BRASILEIROS

Fonte: Flickr (1944 [2018]). Disponível em: https://www.flickr.com/photos/


arquivonacionalbrasil/31335211877

4.5. DIA D: INVASÃO À ALEMANHA E A DERROTA


DE HITLER
A Frente Ocidental foi aberta com o de sembarque de tropas britânicas, norte-
-americanas e da resistência francesa na Normandia, lideradas pelo general
Eisenhower, enfrentando forte resistência alemã, sendo tal ação militar conhe-
cida como o “Dia D”. Os avanços militares foram mais lentos do que o espera-
do, e a colaboração da Resistência francesa foi importante para esse avanço.
Apenas quase três meses após o desembarque, no dia 26 de agosto de 1944,
as tropas aliadas entraram em Paris. Hitler havia ordenado que as suas tropas
destruírem a capital francesa, mas elas se recusaram a fazê-lo. O líder da Re-
sistência francesa, o general Charles de Gaulle, foi recebido como herói e reco-
nhecido como o verdadeiro chefe de Estado do país.
Enquanto isso, na Frente Oriental, após Stalingrado, os soviéticos avançaram
de forma espetacular, enfrentando a tenaz resistência das tropas nazistas. Se
o objetivo de Hitler era escravizar o povo russo e os eslavos em geral, o revan-
chismo soviético embalava homens e mulheres na contraofensiva. Em agosto
de 1944, os soviéticos já ocupavam a Polônia, a Romênia e a Bulgária e estavam
prontos para avançar em território alemão.

MULTIVIX EAD
Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 77
HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA

Em março de 1945, as forças aliadas ocidentais (norte-americanos, britânicos e


franceses) avançaram sobre a Alemanha sob o comando de Dwight Eisenho-
wer, tomando importantes regiões e cidades, como Stuttgart e a região indus-
trializada do Ruhr, chegando às margens do Rio Elba, a 100 quilômetros de
Berlim. No entanto, as mais importantes operações militares eram realizadas
na Frente Oriental. Na região do Rio Danúbio, as forças soviéticas encontraram
forte resistência dos nazistas na tomada da capital húngara, Budapeste, que
acabou conquistada pelo Exército Vermelho. A partir daí, as tropas soviéticas
tinham o caminho aberto até Viena e, mais ao norte, Berlim, com as forças co-
mandadas pelo general Zukov.
Estando na defensiva nas duas frentes europeias, Hitler enviou representan-
tes nazistas para negociar uma paz, separadamente, com norte-americanos
e britânicos. O plano era garantir o fim da guerra no Ocidente e continuar a
luta contra os “bárbaros orientais comunistas” na Frente Oriental. As negocia-
ções chegaram a acontecer na Suíça, onde os diplomatas nazistas se encontra-
ram com uma missão diplomática norte-americana liderada por Allen Dulles.
Contudo, o governo soviético descobriu essas “negociações secretas” e exigiu a
participação de seus diplomatas nas conversações, o que impediu um acordo
entre os alemães e os norte-americanos.
Assim, a invasão a Berlim tornou-se inevitável. Devido à falta de homens, os
nazistas organizaram tropas com crianças e adolescentes de 12 a 16 anos. Ao
mesmo tempo, a SS recebeu ordens de executar qualquer civil que demons-
trasse ter perdido a fé no III Reich. Foi nesse contexto que os soviéticos entra-
ram primeiramente em Berlim, na manhã do dia 16 de abril de 1945.
No dia 28 de abril, Berlim estava totalmente controlada pelas tropas sovié-
ticas. Dois dias depois, enquanto Hitler se suicidava, os soviéticos tomavam
o Reichstag (Parlamento) e hasteavam a bandeira vermelha com a foice e o
martelo. Mesmo assim, as lideranças nazistas relutaram em render-se incondi-
cionalmente aos soviéticos. Apenas no dia 7 de maio, quando as tropas aliadas
ocidentais lideradas pelos norte-americanos já haviam chegado a Berlim que
o almirante Doenitz, sucessor de Hitler, assinou a rendição incondicional. A
guerra europeia estava terminada.

MULTIVIX EAD
78 Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017
HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA

FIGURA 7 - SOLDADOS SOVIÉTICOS OCUPAM O REICHSTAG, EM BERLIM, MAIO DE 1945

Fonte: Wikimedia Commons (1945 [2019]). Disponível em: https://commons.wikimedia.org/


wiki/File:Raising_a_flag_over_the_Reichstag_2.jpg

4.6. O FIM DO CONFLITO E AS NOVAS FORMAS DE


HEGEMONIA: URSS E EUA
Entretanto, no Extremo Oriente o conflito ainda continuava. Os Estados Uni-
dos enfrentavam uma inacreditável resistência japonesa. O Japão recorria às
mais variadas formas de resistir aos avanços norte-americanos. Uma das mais
famosas foi a utilização dos pilotos suicidas, os kamikazes, que se atiravam
com aviões sobre os navios da marinha norte-americana. Lutava-se no ar, no
mar e nas ilhas do Pacífico.
Apesar da resistência, os norte-americanos avançaram sobre as Ilhas Marshall,
Carolinas, Iwo-Jima, Chi-chi Jima, Filipinas e Okinawa. Em julho de 1945, o go-
verno japonês pediu para Stálin intermediar um acordo de paz com os Esta-
dos Unidos e a Grã-Bretanha. Contudo, como o governo japonês recusou-se a
assinar a rendição incondicional, a guerra continuou.
A situação não era confortável para os aliados ocidentais. De um lado, apesar
dos bombardeios sobre as principais cidades japonesas, boa parte das fábricas
estavam intactas, mantendo o poderio bélico japonês. Além disso, os soldados
japoneses demonstravam estarem dispostos a lutarem até o fim para defen-
der o seu país (disposição esta não encontrada na Itália nem na Alemanha).
Além disso, já antecipando a disputa pela hegemonia mundial característica
da Guerra Fria, os Estados Unidos, reconhecendo na União Soviética o seu prin-
cipal adversário no campo geopolítico internacional, considerou que deveria

MULTIVIX EAD
Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 79
HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA

demonstrar o seu potencial bélico visando intimidar os soviéticos, evitando


um possível avanço de suas forças militares na China e na Coreia.
Assim, no início de agosto de 1945, o governo norte-americano decidiu lançar
um poderoso e mortífero armamento, a bomba atômica. Não era inevitável
utilizar tal armamento, pois a derrota japonesa, mesmo que levasse meses, iria
acontecer de qualquer jeito, ainda que houvesse pesadas baixas militares nor-
te-americanas. Truman e seus conselheiros, porém, consideraram que chegara
a hora de mostrar ao mundo que os Estados Unidos eram a potência hege-
mônica mundial. No dia 6 de agosto de 1945, o avião bombardeiro Enola Gay
jogou uma bomba atômica sobre a cidade de Hiroshima. Três dias depois, os
norte-americanos atiraram uma outra bomba atômica, agora sobre a cidade
de Nagasaki. Milhares de japoneses morreram nas duas cidades, enquanto ou-
tros milhares viriam a morrer, anos depois, em decorrência de doenças incurá-
veis causadas pelas radiações. Na época, o ato norte-americano foi condenado
pela maior parte da opinião pública mundial, incluindo a própria norte-ame-
ricana, em que a imprensa fez várias críticas ao emprego do artefato atômico.
Contudo, pelo menos nos Estados Unidos, o argumento de Truman de que era
necessário evitar a morte de milhares de soldados norte-americanos em uma
possível invasão ao Japão convenceu boa parte dos estadunidenses.
Depois da explosão das duas bombas atômicas, o Japão concordou com a
rendição incondicional, assinada no dia 2 de setembro de 1945, dando fim à
Segunda Guerra Mundial.

MULTIVIX EAD
80 Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017
HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA

FIGURA 8 - A DESTRUIÇÃO DE HIROSHIMA PELA BOMBA ATÔMICA

Fonte: Wikipedia (1945 [2019]). Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/


Ficheiro:Hiroshima_Dome_1945.gif

Entretanto, nos meses finais do conflito já se desenhava uma nova ordem


mundial, polarizada, com a constituição de duas superpotências, cada uma
representando sistemas sociais, econômicos e políticos antagônicos e adver-
sários entre si. De um lado, os Estados Unidos, representando o capitalismo e a
democracia liberal, e, do outro, a União Soviética, representando o socialismo
e o bloco comunista. Geopoliticamente, tal divisão foi estabelecida pelas con-
ferências entre os líderes aliados realizadas em Teerã (novembro de 1943), Yalta
(fevereiro de 1945) e Potsdam (julho e agosto de 1945).

MULTIVIX EAD
Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 81
HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA

FIGURA 9 - A CONFERÊNCIA DE YALTA

Fonte: Wikipedia (1945 [2019]). Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/


Confer%C3%AAncia_de_Ialta

MULTIVIX EAD
82 Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017
HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA

CONCLUSÃO

Esta unidade teve como objetivo compreender o contexto que levou à defla-
gração da Segunda Guerra Mundial e o seu desenrolar. Na realidade, conflitos
não resolvidos da Primeira Guerra Mundial, principalmente aqueles envolven-
do a Alemanha, foram alguns dos principais motivadores do conflito, ainda
mais levando-se em conta que uma das bases ideológicas do nazismo era a
construção de uma “Grande Alemanha”, que alimentava o sentimento revan-
chista em amplos setores da sociedade germânica.
A Segunda Guerra Mundial marcou, assim como o primeiro conflito global,
uma era de amplo avanço tecnológico impulsionado para a destruição, o que,
de certa forma, abalou a crença na ciência e na tecnologia como instrumentos
que iriam acabar com todos os males da humanidade. Entretanto, o desen-
volvimento de algumas armas, como os foguetes V-1 e V-2, foi importante para
impulsionar a corrida espacial.
Além disso, o segundo conflito mundial ficou marcado pelo pesado número
de baixas militares e civis, decorrentes da utilização de armamentos com uma
capacidade cada vez maior de destruição em massa (a bomba atômica é um
exemplo), além do fato de que muitos dos alvos militares eram civis ou áreas
civis, o que acabou marcando a vida de muitas famílias em diversos continentes.
Por fim, cabe destacar que a Segunda Guerra Mundial e a ordem mundial que
se instaurou após o fim do conflito caracterizaram-se não apenas por rivalida-
des motivadas pelo imperialismo, mas também por motivações ideológicas.
Muitos passaram a se engajar não apenas para defender a sua pátria, mas tam-
bém ideologias com visões de mundo antagônicas que atraíam (e ainda hoje
atraem) as massas. Tal tendência – presente no decorrer da Segunda Guerra
Mundial com a confrontação entre o nazifascismo, de um lado, e o liberalismo
aliado ao comunismo, do outro – vai reforçar-se no contexto da Guerra Fria e
a confrontação entre os Estados Unidos e a União Soviética, representando o
embate entre o capitalismo liberal e o socialismo.

MULTIVIX EAD
Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 83
HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA

UNIDADE 5

OBJETIVO
Ao final desta
unidade,
esperamos que
possa:

> Conhecer os
aspectos e passos
das disputas dos
blocos capitalista e
socialista.
> Relacionar a corrida
espacial e à disputa
em diversas frentes
entre os blocos.
> Conhecer as
características de
cada economia.

MULTIVIX EAD
84 Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017
HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA

5 GUERRA FRIA: MACARTHISMO E


STALINISMO

INTRODUÇÃO DA UNIDADE
Com as principais potências devastadas por dois difíceis períodos de guerras, a
URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas) e Estados Unidos despontam
como as novas potências, antagônicos no modelo de governo, porém com a con-
cordância em perseguir quem fosse considerado inimigo de seus modelos.
Nesta unidade, vamos abordar os aspectos destas perseguições, caracterizan-
do cada um dos tipos de governo, e seus reflexos no mundo polarizado da
Guerra Fria.

5.1 ECONOMIA CAPITALISTA E SOVIÉTICA


As Economias Capitalista e Socialista, trazem conceitos importantes para o enten-
dimento da História Contemporânea. Bilateralmente estes dois sistemas consti-
tuíram a marca mais importante do mundo no pós Segunda Guerra Mundial.
O capitalismo e o socialismo correspondem a dois tipos distintos de sistemas
político-econômicos, que predominaram na História Contemporânea até o
fim da União Soviética, representante do socialismo, de um lado, e Estados
Unidos, representante do Capitalismo, de outro. Cada um dos sistemas encon-
trava ecos e apoiadores ao redor do mundo.

MULTIVIX EAD
Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 85
HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA

Capitalismo

A base e características do capitalismo são:


• domínio total ou parcial dos meios de produção por uma pessoa ou
um grupo (iniciativa privada).
• desempenho do mercado conforme a livre concorrência e
competição.
• investimentos são altos e determinados para manter o sistema
produtivo.
• divisão da sociedade em classes, estruturadas, principalmente, entre
quem possui os meios de produção no nível mais alto e quem não os
possui em outros níveis.

Socialismo

As bases e características do Socialismo são:


• meios de produção de controle estatais e socializados com todos os
trabalhadores.
• divisão da produção, de forma igualitária, entre os trabalhadores
organizados em associações e cooperativas.
• todos os investimentos convergem para manter a máquina estatal.
• não há distinção entre classes sociais, todos são donos dos meios de
produção.

Leia o capítulo introdutório da obra “A civilização


Capitalista” para compreender as bases do
capitalismo.

COMPARATO, F. K. A civilização capitalista: para


compreender o mundo em que vivemos. 2. ed. São
Paulo: Saraiva, 2013.

MULTIVIX EAD
86 Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017
HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA

Adam Smith foi um filósofo e economista


britânico nascido na Escócia, tendo
formulado as teses da economia moderna é
considerado o pai do Capitalismo.

Karl Marx foi um filósofo, sociólogo, historiador,


economista, jornalista e revolucionário
socialista. Nasceu na Prússia, mas, viveu
grande parte da sua vida e Londres. Formulou
as teorias da mais valia, do materialismo
dialético e das lutas de classes, formando as
bases do Socialismo Moderno.

Crie uma tabela com as características principais da


Economia Capitalista e da Economia Socialista. A
tabela será um bom instrumento de estudo!

5.2 PODER DE INFLUÊNCIA DAS POTÊNCIAS


MUNDIAIS
Ao final da Segunda Guerra Mundial, o mundo ficou dividido em dois lados
antagônicos (COMPARATO, 2013). Esta divisão constituiu uma disputa entre as
duas superpotências Estados Unidos e União Soviética, marcado por intensa
hostilidade, entre 1947 e 1989. Oficialmente, nunca houve um conflito direto
armado entre os dois países, embora, concretamente, vários marcos represen-
taram o poder e a influência de ambos como a corrida armamentista, pesqui-

MULTIVIX EAD
Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 87
HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA

sas ligadas à corrida espacial, e conflitos pontuais em outras regiões do plane-


ta, período que ficou conhecido como Guerra Fria.
Essencialmente para entender este período e a influência destes países, é ne-
cessário se debruçar sobre as posturas políticas do Stalinismo e Macarthismo.
Macarthismo, expressão derivada do inglês “McCarthyism”, foi o período nos
Estados Unidos marcado por forte repressão e perseguição política. A censura
e a difamação por acusações de traição ou subversão, publicações sem evi-
dências foi comum no período. O senador republicano Joseph McCarthy foi o
grande responsável e incentivador de projetos de lei anticomunistas e perse-
guições políticas.

FIGURA 1 – PROPAGANDA UTILIZADA DURANTE O MACARTHISMO.

Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Guerra_Fria#/media/Ficheiro:Is_this_tomorrow.jpg

De outro lado, o Stalinismo, promovido pelo ditador soviético Joseph Stalin, se


baseava nos mesmos princípios de perseguição e repressão aos considerados
adversários.
Tanto o Macarthismo como o Stalinismo estavam pautados no combate aos
inimigos dos sistemas, utilizando métodos como espionagem e doutrinação
ideológica.

MULTIVIX EAD
88 Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017
HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA

FIGURA 2 - CHARGE IRONIZANDO O MUNDO DIVIDIDO ENTRE ESTADOS UNIDOS


E UNIÃO SOVIÉTICA

Fonte: https://en.m.wikipedia.org/wiki/File:Slide-1-728.jpg

Uma das demonstrações da influência e poder das potências foi a corrida ar-
mamentista. A ausência de conflito direto, não significou que os armamentos
estiveram em segundo plano. A competição entre estes países incentivou a
pesquisa e o desenvolvimento de armas. A prática de constante atualização e
produção do arsenal assumiu proporções absurdas e deu origem a material
bélico com capacidade de destruição nunca vistas até então. Desde o final da
Guerra Fria, inúmeros acordos continuam sendo elaborados na tentativa de
defasar os arsenais potencialmente destrutivos.
Entretanto, o ponto alto da disputa foi, sem dúvida, a Corrida Espacial, com
início em 1957, quando os soviéticos lançaram o primeiro satélite artificial cha-
mado Sputnik. Tinha a finalidade de transmissão de sinal de rádio amador.
A bateria do satélite durou 22 dias, mas o suficiente para fazer com que os
Estados Unidos lançassem, no ano seguinte, o Explorer I. Meses depois, em ju-
lho, o então presidente Eisenhower determinou a criação da NASA (National
Aeronautics and Space Administration), agência federal dedicada à explora-
ção espacial. Por sua vez, os soviéticos, em 1959, lançaram a Luna 2, primeira
sonda espacial a atingir a Lua. E, em 1961, o soviético Yuri Gagarin foi o primeiro
homem a orbitar a Terra, na nave espacial Vostok 1. A NASA, na década de 60,
lançou uma nave menor tripulada por chipanzés. Pouco depois, Alan Shepard
foi o primeiro estadunidense a alcançar o espaço.

MULTIVIX EAD
Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 89
HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA

A corrida espacial envolveu o mundo e em 1961, os Estados Unidos lançaram o


Projeto Apollo, com o objetivo de levar o homem à Lua antes do fim da déca-
da. Um conjunto de expedições foi realizado, até que, em 16 de julho de 1969,
a nave espacial Apollo 11 foi lançada, atingindo solo lunar quatro dias depois.
No dia 20 de julho de 1969, Neil Armstrong e Edwin Aldrin pisavam na Lua,
marcando a vitória dos Estados Unidos na Corrida Espacial.

Sputnik foi o nome do programa que


produziu a primeira série de satélites
artificiais soviéticos, produzida para estudar
as capacidades de lançamento de cargas
úteis para o espaço e para estudar os efeitos
da ausência de peso e da radiação sobre
os organismos vivos. Serviu também para
estudar as propriedades da superfície
terrestre com vista à preparação do primeiro
voo espacial tripulado. Na figura, Laika, a
bordo do Sputnik 2, primeiro ser vivo a ser
enviado para o espaço em 1957.

O Projeto Apollo dos Estados Unidos


executou vários fracassos, antes e depois do
sucesso do Apollo 11 que levou o homem à
lua. O emblemático filme Apollo 13 narra
uma parte da saga dos projetos Apollo.

A Guerra Fria foi o pano de fundo de dois grandes


conflitos: A Guerra da Coréia e a Guerra do Vietnã.
Pesquise sobre eles!

MULTIVIX EAD
90 Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017
HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA

Ao pisar na Lua, Neil Armstrong teria proferido a


famosa frase: “Um pequeno passo para um homem,
um grande passo para a humanidade”.

5.3 PRODUÇÃO CULTURAL: FILMES, LIVROS E


PROPAGAÇÃO DO MEDO COLETIVO
Não foi só na corrida espacial e armamentista que a disputa emplacou. Grande
parte da produção cultural do período, direta ou indiretamente, foi influencia-
da pela Guerra Fria. Se você já se envolveu pela imaginação em um mundo de
espiões e super-heróis que vence um supervilão prestes a destruir um mundo
saiba que este é um enredo inspirado na Guerra Fria.
Começando em desenhos do Pica pau e passando pelas sagas dos valentes
James Bond, Indiana Jones, Rambo, até as famosas histórias em quadrinhos
de Superman, Batman ou Capitão América, encontramos o rico estereótipo de
um hipermalvado vilão, perturbado e ameaçador, prestes a apertar o botão e
destroçar a humanidade, vencido por um bondoso mocinho que luta, moral-
mente, pela sua pátria.
A qualidade dos enredos, neste caso, era o que menos importava. A função
destes tipos era propagar o medo e endossar a campanha do capitalismo ver-
sus o socialismo.
A lista de filmes propaganda do período é bem extensa, mas um dos desta-
ques é “Ele pode ser um comunista”, de 1951, filme que trazia um manual de
como reconhecer um potencial comunista. Outro exemplo é “Duck and Cover”,
também de 1951, filme infantil que alardeava uma iminente guerra nuclear.
Tivemos clássicos como “Moscou contra 007”, de 1967, com Sean Connery no
papel de James Bond, “Rambo II” e “Rambo III”, nos anos 1980, Braddok, de
1984, Red Dawn, de 1984. Alguns filmes eram mais sutis na propaganda do
medo, outros já pesavam no enredo, embora, todos, de uma forma ou de ou-
tra, fomentavam uma visão estereotipada quer do americano, quer do soviéti-

MULTIVIX EAD
Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 91
HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA

co, e, ao mesmo tempo, do capitalismo e do comunismo. Hobsbawm (1995, p.


180) afirma que a Guerra Fria foi “a nebulosa disputa entre seus vários serviços
secretos reconhecido e não reconhecidos, que no Ocidente produziu esse tão
característicos subproduto da tensão internacional, a ficção de espionagem e
assassinato clandestino.”

FIGURA 3 – RAMBO I

Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:John_Rambo.jpg

Os EUA sempre era representado como o protetor mundial, o garantidor do


sucesso e do bem da humanidade, pátria mãe dos heróis destemidos capazes
de nos libertarem da tirania dos opressores comunistas, que de outro lado são
representados, invariavelmente, como seres capazes das maiores atrocidades,
ateístas, frios e calculistas, a quem o poder, e somente o poder, importa, capa-
zes de nos guiarem até a destruição total do planeta.
O cinema Hollywoodiano na Guerra Fria investia em enredos do bem contra o
mal, iconizado nos Estados Unidos contra a União Soviética ou, concretamen-
te, no capitalismo contra o comunismo.
De certa forma, este tipo de estereotipização e tipificação de uma outra cul-
tura, ainda permanece em muitos enredos atuais, reduzindo e generalizando
o comunista, o oriental ou o islâmico, a terroristas, inimigos em grande escala
da humanidade.

MULTIVIX EAD
92 Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017
HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA

O romance Doutor Jivago de Boris Pasternak


narra a trajetória do personagem principal nas
mudanças ocorridas na Rússia desde a Revolução
que a transformou em união soviética. A obra foi
censurada pelas críticas ao regime soviético, e só
alcançou fama mundial com ajuda da CIA (Central
de Inteligência Americana). A CIA foi um órgão
organizado especialmente para atuar na frente do
combate ao comunismo e impulsou o livro como
estratégia para desmoralizar os soviéticos.

Conheça mais sobre como as histórias em


quadrinhos foram influenciadas pela Guerra Fria,
consulte a tese disponível em: http://tede2.pucrs.br/
tede2/bitstream/tede/2313/1/416433.pdf

James Bond: Os filmes do espião britânico


foram inspirados nos livros de Ian Fleming e
trazem o contexto da disputa da Guerra Fria.

Superman: Talvez o herói mais representado


tanto em gibis, filmes, cinema e literatura,
inclusive desde antes da Guerra Fria. Nas
cores do uniforme traz as cores da bandeira
estadunidense.

MULTIVIX EAD
Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 93
HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA

O atual sucesso produzido pela Netflix, a série


“Stranger Things” explora no seu enredo o mundo
bipolar da Guerra Fria.

5.4 CRISE DOS MÍSSEIS EM CUBA


Uma das consequências do mundo bipolarizado entre Estados Unidos e União
Soviética foi a Crise dos Mísseis de 1962, em Cuba.
O fato refere-se aos treze dias de impasse entre Estados Unidos e União Sovié-
tica, em outubro de 1962, quando a União Soviética instalou mísseis nucleares
em Cuba.
Cuba já vivia desde 1959 um governo socialista liderado por Fidel Castro. Esta
foi a principal ascensão de um governo inspirado nas bases soviéticas na Amé-
rica e com total apoio da URSS.

Fidel Alejandro Castro Ruz político e


revolucionário cubano que governou a
República de Cuba como primeiro-ministro
de 1959 a 1976 e depois como presidente de
1976 a 2008.

A União Soviética, no propósito de mostrar seu poderio de armas e se aprovei-


tando da proximidade geográfica dos Estados Unidos, instalou mísseis na ilha
direcionados ao território americano.

MULTIVIX EAD
94 Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017
HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA

O então presidente dos Estados Unidos,


John Kennedy, anunciou o bloqueio naval
à ilha e que o país estava preparado para
usar sua força militar caso fosse necessário à
segurança nacional.

O comunicado gerou um pânico mundial generalizado pois, havia o medo de


que as duas potências poderiam, finalmente, iniciar uma guerra sem prece-
dentes, dado o potencial atômico dos dois países.
Segundo Hobsbawm (1995), havia uma preocupação dos dois lados de inter-
pretar qualquer movimento com um gesto afirmativo de guerra. Portanto, um
momento crucial foi a aproximação de navios soviéticos do território america-
no, cessada com uma promessa de que os soviéticos retirariam os mísseis, se
os estadunidenses não invadissem a ilha. Este acordo colocou fim à Crise dos
Mísseis em 28 de outubro de 1962, embora a Guerra Fria estivesse longe do fim.

Aprofunde seus estudos sobre a Guerra Fria


conhecendo este material de aprofundamento,
disponível em: http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.
br/portals/pde/arquivos/2341-6.pdf .

5.5 INFLUÊNCIAS DA GUERRA FRIA NO BRASIL:


CAÇA AOS COMUNISTAS
A Guerra Fria influenciou o mundo como um todo e, no Brasil, não poderia ser
diferente. Durante a Segunda Guerra Mundial, o Brasil esteve em posição que
apoiava o bloco mais ligado ao capitalismo. Porém, a partir de 1961 o presi-
dente João Goulart (apelidado de Jango) optou por implementar uma políti-
ca externa brasileira menos independente das superpotências da Guerra Fria.
Embora, existisse uma aproximação política entre o Brasil e a União Soviética.

MULTIVIX EAD
Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 95
HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA

João Belchior Marques Goulart, conhecido


popularmente como "Jango", foi um
advogado e político brasileiro, 24° presidente
do país, de 1961 a 1964.

Internamente, Jango criou bases de fortalecimento de movimentos sindicais,


estudantis, camponeses e populares. Estes fatores conjugados desencadea-
ram atritos com as lideranças políticas, econômicas e militares do Brasil e, es-
pecialmente, com a elite brasileira acostumada a uma política que desde o
Império servia aos seus interesses. As reformas de base propostas por Goulart
consistiam em um conjunto de reformas sociais preocupantes para os investi-
dores estadunidenses. A política interna brasileira, portanto, ficou bem fragili-
zada diante do contexto da Guerra Fria.
Em março de 1964, Jango foi deposto por um golpe militar apoiado e perpetra-
do pela elite conservadora brasileira e pela CIA. Por duas décadas (1964 – 1985),
o Brasil vivenciou uma ditadura militar. O período foi marcado pela censura à
imprensa, movimentos culturais e sociais, repressão aos opositores do regime
militar, institucionalização da tortura e a perseguição de supostos comunistas
sob a acusação de traição da pátria.
O discurso anticomunismo é um fenômeno histórico que remonta ao século
XIX, sendo encontrado em vários países. Caracteriza-se não apenas pela perse-
guição, mas se estrutura em ideias que defendem a inviabilização da democra-
cia em um contexto socialista, comunista ou socialista democrata. Além disso, o
anticomunismo também se revela no estereótipo do comunista como um vilão
das nações, ladrão ou força exclusiva de um mal que assolará o mundo.
Os discursos do anticomunismo no Brasil não são recentes no contexto, em-
bora tivessem sido mais expressivos no contexto da Ditadura Militar brasileira.
O anticomunismo segue marcado em contextos políticos e acabam figurando,
como recentemente, em disputas partidárias, variando com as circunstâncias
do momento histórico e do local. É comum no Brasil, inclusive recentemente,
por exemplo, associar o comunismo a pautas sociais de caráter mais progres-
sistas, direcionando a opinião pública a combater mudanças necessárias à es-

MULTIVIX EAD
96 Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017
HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA

trutura do país, se valendo do mesmo discurso ideológico de perseguição ao


comunismo, explorado nesta unidade.

O filme O que é isso, Companheiro? De 1997, dirigido


por Bruno Barreto, retrata este momento de tensão
da Guerra Fria e do anticomunismo no Brasil.

5.6 CARACTERÍSTICAS DO GOVERNO DE STALIN


NA URSS
A marcante Revolução Russa de 1917 abriu um novo e intenso capítulo na histó-
ria da Rússia. Vladimir Lênin, protagonista da revolta que levou o partido comu-
nista ao poder e figura importante que reuniu os países formadores da União
da República Socialista Soviética, ficou por curto período de tempo à frente do
novo cenário. Em 1924, a morte de Lênin ascendeu uma intensa agitação políti-
ca no interior do Partido Comunista Russo pois havia a dúvida de quem seria a
liderança capaz de dar prosseguimento às conquistas iniciadas em 1917.
Duas figuras políticas se destacam como sucessores do mito Lênin, porém, de-
fendiam diferentes perspectivas de ação política para a União Soviética. Leon
Trotsky, segundo homem da revolução com destacado papel militar na URSS,
e Joseph Stálin, secretário-geral do Partido Comunista.

Yosef Stalin governou a URSS de 1927 a 1953.


Um governo polêmico que protagonizou um
papel essencial no mundo bipolarizado.

MULTIVIX EAD
Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 97
HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA

Trotsky era um autêntico e inconformado revolucionário e acreditava que o ide-


ário que inspirara as mudanças na Rússia deveria ser propagado para o mundo,
trazendo transformações permanentes para a política e economia de outros po-
vos. Stálin, entretanto, só tinha vivido a esfera burocrática das mudanças, como
secretário geral do partido soviético e estava focado no objetivo de concentrar
seu governo nas questões internas da Rússia, promovendo o socialismo forte e
concreto no país para, depois expandir a revolução. Em 1924, após a convenção
do partido, os líderes bolcheviques optaram pelas propostas de Joseph Stálin.
Trotsky, naturalmente, não aceitou muito bem a derrota e começou a apontar
as falhas e riscos que o regime stalinista ofereceria ao processo revolucionário.
Stálin entendeu que era necessária uma ação mais firme que empreendesse
a subordinação dos sovietes às diretrizes do Partido Comunista, que represen-
tavam, no fundo, a aceitação de sua vitória como líder. Em paralelo, organizou
ações que reprimissem, inclusive de formas violentas e eliminassem aqueles
que fossem contrários às suas determinações, iniciando um período de censu-
ra e perseguição dos inimigos.
Mesmo condenado ao exílio Trotsky, continuava a criticar as ações stalinistas,
acusando o novo líder russo de ter prostituído o marxismo. Fora da Rússia, ele
ainda era perseguido e taxado como uma ameaça muito séria ao regime Stali-
nista. Mesmo fora de seu país, foi perseguido como uma séria ameaça aos planos
stalinistas. Em 1940, foi assassinado no México, a mando de Stálin que eliminava,
assim, a dificuldade definitiva da ampliação dos poderes do Estado soviético.
O Stalinismo durou, portanto, de 1927 a 1953, encerrado pela morte de seu lí-
der. Sem dúvida, Stálin foi um líder de ferro, perseguidor, cruel e centralizador,
empreendendo mudanças de base para a União Soviética.
No campo econômico, Stálin empreendeu a coletivização das propriedades
agrárias criando tanto propriedades estatais quanto propriedades coletivas.
Incentivou o desenvolvimento da indústria de base a partir do financiamento
dos setores de educação e tecnologia, através dos chamados planos quinque-
nais, que orientavam em médio prazo as diretrizes essenciais da economia
russa. Hobsbawm (1995, p.295) assim descreve Stalin:

Stalin, que presidiu a resultante era de ferro da URSS, era um autocrata de


ferocidade, crueldade e falta de escrúpulos excepcionais, alguns poderiam
dizer únicas. Poucos homens manipularam o terror em escala mais universal.
Não há dúvida de que sob um outro líder do Partido Bolchevique os sofrimentos
dos povos da URSS teriam sido minimizados, e o número de vítimas, menor.

MULTIVIX EAD
98 Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017
HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA

Apesar disso, qualquer política de rápida modernização na URSS, nas


circunstâncias da época, tinha de ser implacável e, porque imposta contra o
grosso do povo e impondo-lhe sérios sacrifícios, em certa medida coercitiva.
E a economia de comando centralizado que realizou essa corrida com seus
“planos” estava, de maneira igualmente inevitável, mais perto de uma operação
militar que de um empreendimento econômico. Por outro lado, como os
empreendimentos militares com verdadeira legitimidade moral popular, a
vertiginosa industrialização dos primeiros Planos Quinquenais (1929-41) gerou
apoio exatamente pelos “sangue, esforço, lágrimas e suor” impostos ao povo.

Na política externa, Stálin foi apoiado por diversos partidos comunistas es-
palhados pelo mundo e em troca orientou várias países e grupos partidários
comunistas. Além disso, combateu a oposição dos regimes nazifascistas con-
trários ao comunismo e ao socialismo. Neste sentido, o governo soviético se
consolidou no cenário político estabelecendo várias zonas de influência políti-
ca, ideológica e econômica com a instalação da ordem bipolar.

CONCLUSÃO

Nesta unidade nos debruçamos sobre o marcado conflito entre socialismo e


capitalismo que marcou uma das épocas mais importantes da História Con-
temporânea: a Guerra Fria.
De um lado o Macarthismo caracterizado pela perseguição aos comunistas nos
Estados Unidos e, de outro, a mão de ferro do regime Stalinista na recém formada
União da Repúblicas Socialistas Soviéticas. Ambos os regimes, sedimentados em
técnicas de perseguição e espionagem, representaram um conflito velado que
nunca atingiu o embate entre as potências, mas espalhou terror em várias partes
do mundo. Exploramos também como esta disputa empreendeu a corrida arma-
mentista e espacial, gerando avanços tecnológicos e a conquista do espaço.
Entendemos como a propaganda, em forma de arte, contribuiu para criar uma
visão estereotipada do bem e do mal, na qual, geralmente, o comunista era
um vilão superdotado de maldade a ser derrotado por um mocinho do bem.
Esta disputa fez escola no Brasil e contribuiu para emplacar os ferozes e tristes
anos de ditadura militar, golpe que derrubou o governo democrático financia-
do pela elite brasileira e pelos Estados Unidos.
Por fim, explanamos o regime de Stálin na União Soviética e como ele se forta-
leceu para tornar este país a potência mundial que digladiou com os Estados
Unidos no mundo polarizado.

MULTIVIX EAD
Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 99
HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA

UNIDADE 6

OBJETIVO
Ao final desta
unidade,
esperamos que
possa:

> conhecer as
ideias centrais e
os processos de
independência dos
países africanos;
> reconhecer
a participação
popular nas lutas
pela independência
na África e em
movimentos sociais
do Ocidente;
> compreender a
reconfiguração da
ordem mundial após
a Guerra Fria.

MULTIVIX EAD
100 Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017
HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA

6 DESCOLONIZAÇÃO DA
ÁFRICA, PÓS-MODERNIDADE E
MOVIMENTOS SOCIAIS

INTRODUÇÃO
Esta unidade abordará o processo de descolonização da África, focando em
diversos aspectos, como o Pan-Africanismo e a sua influência nos diversos mo-
vimentos de independência ocorridos no continente africano; as guerras auto-
nomistas e as contradições existentes no processo de criação e consolidação
dos novos Estados africanos; as diversas formas de mobilização social nesse
contexto histórico-geográfico, incluindo a guerra da Argélia; e os movimentos
pela independência das colônias portuguesas na África e suas repercussões
globais e no contexto contemporâneo do século XXI.
Cabe destacar que tal processo histórico está interligado ao próprio contexto
marcado pela Guerra Fria, o que pode ser notado ao constatarmos que diver-
sos movimentos pela independência das colônias africanas tiveram o apoio de
países socialistas, como a União Soviética e Cuba. Entretanto, o fim da União
Soviética e a emergência de uma nova ordem mundial, a partir de 1989, contri-
buíram ainda mais para que se instalasse em boa parte do continente africano
um quadro de caos político e social, marcado pela miséria, fome endêmica,
guerra e pela contínua interferência do imperialismo na região, atraído pela
riqueza de minérios, pedras preciosas, petróleo e matérias-primas no conti-
nente, aspectos dos tempos do neocolonialismo que ainda persistem no con-
tinente africano.

6.1. PAN-AFRICANISMO
O Pan-Africanismo é uma ideologia que defende a união e a integração de to-
dos os povos africanos (mais precisamente os subsaarianos), visando à preser-
vação da identidade cultural de uma etnia marcada pela escravidão, racismo
e exploração colonial.

MULTIVIX EAD
Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 101
HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA

As origens do Pan-Africanismo estão ligadas à mobilização de intelectuais


afrodescendentes originários do continente americano, a partir do fim do sé-
culo XIX, mais precisamente das Antilhas (principalmente de colônias britâ-
nicas como a Jamaica) e dos Estados Unidos. O objetivo dessa ideologia é o
de valorizar a negritude em um contexto ainda marcado pelas heranças de
séculos de escravidão e pelo neocolonialismo, caracterizado pela hegemonia
ideológica, no Ocidente, de teorias racistas que defendiam a superioridade do
homem branco, justificando a dominação e a exploração da África e a exclusão
dos afrodescendentes de qualquer direito de cidadania.
Entre esses intelectuais, podemos citar o jamaicano Marcus Mossiah Garvey
(1887-1940), fundador da Associação Universal para o Progresso dos Negros,
em 1920, cujo objetivo era unir toda a população negra, tanto os nativos como
os seus descendentes americanos, em uma única nação, na África. Para isso,
Garvey defendia a ideia de que todos os afrodescendentes deveriam “retornar”
ao continente de origem, mais precisamente à Libéria, um dos poucos Estados
independentes africanos da época, e cuja origem está relacionada ao retorno
de ex-escravos norte-americanos para a África. A Associação fundada por Gar-
vey chegou a lançar o movimento “Back to Africa”, que defendia a construção
de um “poder negro” para se contrapor ao “poder branco”, algo que somente
seria possível com a consolidação de uma nação negra na África. Entretanto,
a Associação faliu e foi processada nos Estados Unidos por estelionato, o que
impediu a concretização dos ideais de Garvey. O intelectual, contudo, foi forte
influência para líderes de movimentos de luta pela independência de colônias
africanas, nos anos 1950 e 1960, como o ganês Kwame Nkrumah (1909-1972).

MULTIVIX EAD
102 Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017
HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA

FIGURA 1: MARCUS GARVEY

Fonte: Wikimedia Commons (2018).


Disponível em: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Marcus-garvey---mini-biography.jpg

Outro importante intelectual dos primórdios do Pan-Africanismo foi o escri-


tor norte-americano William Du Bois (1868-1963), que defendia não apenas a
constituição de um Estado negro na África, mas também a luta pelos direitos
civis dos negros norte-americanos em seu próprio país. Muitos consideram Du
Bois um pioneiro na luta dos negros contra a segregação racial nos Estados
Unidos, inspirando, entre outros, Martin Luther King (1929-1968).

FIGURA 2: WILLIAM DU BOIS

Fonte: Flickr (1909 [2019]).


Disponível em: https://www.flickr.com/photos/washington_area_spark/28711022721

MULTIVIX EAD
Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 103
HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA

Após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), o Pan-Africanismo distanciou-se


da antiga ideia de formação de um único Estado negro na África e passou
a apoiar a luta pela independência das diversas colônias europeias estabe-
lecidas na África subsaariana. A partir daí, o movimento passou a ter forte in-
fluência marxista-leninista, principalmente das teses sobre o Imperialismo de
Lênin. A luta, agora, não era apenas pela afirmação do povo negro, mas tam-
bém contra os interesses de dominação das grandes potências capitalistas, o
principal obstáculo na luta pela consolidação da independência das colônias
africanas. Além disso, foi a partir da bandeira do anti-imperialismo que o con-
ceito de Pan-Africanismo abrangeu-se, incluindo a África do Norte e os povos
de origem árabe-muçulmana, os quais, embora etnicamente diferentes, em
comum, compartilhavam a opressão imposta pelas nações europeias e, a par-
tir do fim da Segunda Guerra Mundial, dos Estados Unidos.

O Pan-Africanismo continuou a ter forte influência


nos Estados Unidos, mais precisamente nos anos
1960. Há que se destacar que, além de Martin
Luther King e sua luta pacífica, inspirada no indiano
Mahatma Gandhi, havia vertentes mais radicais
na mobilização pela conquista dos direitos civis,
como a de Malcom X (1925-1965), o qual chegou
a defender a constituição de um Estado nacional
negro na América do Norte pela Organização para
a Unidade Afro-Americana. Também vale destacar
os Panteras Negras, movimento social fundado na
Califórnia, em 1966, que inicialmente constituiu
milícias para proteger a população negra da
violência policial e, posteriormente, também atuou
em ações comunitárias nos bairros periféricos das
principais cidades norte-americanas. Influenciados
pelo marxismo, os Panteras Negras foram alvo de
intensa repressão dos aparatos de segurança norte-
americanos, como o FBI.

MULTIVIX EAD
104 Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017
HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA

O filme “Os Panteras Negras” (EUA e Grã-


Bretanha, 1995), de Mario Van Peebles,
apresenta a trajetória do Partido dos
Panteras Negras, de sua origem, em Oakland,
EUA, em 1967, retratando sua atuação social
e perseguição perpetrada pelas autoridades
norte-americanas. Ver: https://www.youtube.
com/watch?v=sKuyDdoo3NI

6.2. AS GUERRAS PELA LIBERTAÇÃO NACIONAL


NA ÁFRICA

6.2.1. A GUERRA NA ARGÉLIA


No norte da África, a França concedeu sem grandes resistências a indepen-
dência para a Tunísia e o Marrocos, em 1956. A mesma concessão não ocorreu
na sua principal colônia na região, a Argélia, onde houve uma longa guerra
pela independência entre os anos de 1954 e 1962. O motivo para isso foi o fato
de que, desde o século XIX, houve uma intensa imigração de colonos franceses
que se tornaram proprietários de terras e dominaram a atividade comercial e
industrial da região. Com o passar dos anos, tais colonos adquiriram direitos e
cidadania francesa, enquanto os nativos de origem árabe, grande parte deles
muçulmanos, eram excluídos de qualquer direito social, desprovidos de qual-
quer cidadania.
Em outras palavras, enquanto foi colônia francesa, vigorou na Argélia um re-
gime político muito parecido com o apartheid sul-africano. Cabe frisar que
sistemas segregacionistas vigoraram em diversas colônias europeias na África,
tornando-se um dos combustíveis para que diversos movimentos guerrilheiros
conquistassem grande popularidade.
Até 1954, o movimento pela independência da Argélia era liderado por mode-
rados, os quais tentavam negociar com a França. Todavia, como os resultados
de tais negociações eram irrisórios, um grupo de nacionalistas árabes criou a
Frente de Libertação Nacional (FLN), que optou pela luta armada. Importante
frisar que, entre os anos 1950 e 1970, o Pan-Arabismo, movimento que defen-

MULTIVIX EAD
Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 105
HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA

dia a união dos povos árabes do Oriente Médio e do norte da África, tinha bas-
tante força graças à expressividade de lideranças como a do então presidente
do Egito, Gammal Abdel Nasser (1918-1970).
A partir de novembro, árabes de origem camponesa e argelinos que haviam
emigrado para a França em busca de trabalho – e que devido ao preconceito
voltaram para a Argélia – começaram a realizar uma série de atentados à bom-
ba não apenas contra alvos militares franceses, mas também contra a popula-
ção de origem francesa residente nas principais cidades argelinas. Destaca-se,
porém, que a FLN não era um movimento ideologicamente politizado. Suas
reivindicações eram pontuais, como a independência da Argélia e a consoli-
dação da identidade árabe-muçulmana, embora alguns camponeses colocas-
sem como bandeira a reforma agrária nas propriedades de terra que seriam
confiscadas dos franceses.
A guerra na Argélia somente foi levada a sério pelos franceses em 1957, quan-
do as forças armadas francesas notabilizaram-se pela prática de torturas con-
tra guerrilheiros argelinos (considerados “terroristas” pelos franceses), sujeitos
a choques elétricos aplicados na língua, em bicos de seios e órgãos genitais.
Tal prática, posteriormente, seria assimilada pelos agentes norte-americanos
da CIA e ensinada pelos órgãos de segurança das ditaduras militares latino-
-americanas (entre elas, a brasileira).
Boa parte das lideranças da FLN se exilaram na Tunísia, local em que mergu-
lharam em divergências internas, enquanto as guerrilhas camponesas eram
abatidas sistematicamente pelas tropas francesas. Na realidade, a França tinha
a situação sob controle. Os guerrilheiros passaram novamente a realizar aten-
tados nas grandes cidades, e foram intensificados ainda mais a repressão e os
métodos de tortura contra os prisioneiros.

O filme “Batalha de Argel” (Itália/Argélia, 1965),


dirigido por Gillo Potecorvo, representa de forma
bem realista o contexto que marcou a guerra pela
independência da Argélia, retratando tanto as
ações terroristas da FLN como a brutal repressão
perpetrada pelas Forças Armadas francesas.

MULTIVIX EAD
106 Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017
HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA

Contudo, a guerra na Argélia levantou a opinião pública internacional contra


o desrespeito aos direitos humanos perpetrados pelos franceses, o que gerou
simpatia à causa da FLN. Nesse contexto, foi a pressão internacional que forçou
o presidente Charles de Gaulle a conceder a independência para a Argélia, em
1962, mediante os acordos de Évian, cujo teor resultou na retirada da popula-
ção de origem francesa da Argélia.
A independência na Argélia, todavia, não trouxe grandes transformações so-
ciais. No poder, a FLN adotou um programa de governo similar ao do Egito
e da Síria, em que a modernização da economia era conduzida pelo Estado,
mas de forma tecnicista, sem reverter nada em benefício da população. As
diferenças sociais foram mantidas, apenas com a ausência da população fran-
cesa; ademais, a reforma agrária somente beneficiou a burguesia local. Além
disso, apesar de ser um Estado laico, o governo estimulou a identidade islâmi-
ca do povo argelino, o que, anos depois, permitiu que uma parte considerável
da população se tornasse sensível ao discurso do fundamentalismo islâmico.

FIGURA 4: BANDEIRA DA ARGÉLIA

Fonte: Wikipedia (2005).


Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Algerian_flag_wavy.jpg

MULTIVIX EAD
Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 107
HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA

6.2.2. MOVIMENTOS PELA INDEPENDÊNCIA


DAS COLÔNIAS DA ÁFRICA SUBSSAARIANA
E AS DIFERENTES CARACTERÍSTICAS DOS
RESPECTIVOS MOVIMENTOS POPULARES
As metrópoles europeias, mais especificamente a Grã-Bretanha, a França e a
Bélgica, negociaram com lideranças nativas confiáveis de suas colônias pela
concessão da independência política, mas com a manutenção da dependên-
cia econômica. Em tempos de Guerra Fria, o objetivo era evitar que os proces-
sos de independência fossem liderados por movimentos de inspiração mar-
xista-leninista e, consequentemente, tivessem o apoio da União Soviética. Tal
política obteve sucesso na maior parte das ex-colônias, com exceção do Congo
Belga, que mergulhou na anarquia e em uma longa guerra civil.
Durante o processo de independência congolês, a riqueza da província de Ka-
tanga (cobre, manganês e diamante, todos controlados pela poderosa União
Mineira Belga) colocou o Congo diante de problemas complicados para a des-
preparada elite política nativa. Na realidade, o Congo era uma colônia domina-
da não apenas pela Bélgica, mas também pelos poderosos trusts (as grandes
corporações multinacionais), os quais monopolizavam a economia, ditando
uma exploração econômica baseada exclusivamente na exploração dos recur-
sos minerais em detrimento da agricultura, resultando em uma população
faminta e miserável.
Sob o reflexo do Pan-Africanismo, surgiram no Congo alguns movimentos de
libertação nacional a partir de 1955, sendo os principais a Associação do Baixo
Congo e o Movimento Nacional Congolês. Assim, as primeiras grandes greves
gerais deixaram Bruxelas em alerta, que decidiu negociar a independência
com as lideranças políticas dos movimentos pela independência e com os
chefes tribais locais.
Em 1959, realizaram-se as primeiras eleições no Congo, já preparando o pri-
meiro governo independente. Enquanto a Associação do Baixo Congo vencia
nas cidades com uma plataforma que defendia um federalismo que poderia
resultar na fragmentação do Congo em vários países, o Movimento Nacional
Congolês venceu na zona rural defendendo a unidade do Congo e um progra-
ma nacionalista com influência socialista. Em 30 de junho de 1960, foi procla-
mada a independência do Congo, e o líder do Movimento Nacional Congolês,

MULTIVIX EAD
108 Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017
HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA

Patrice Lumumba, tornou-se primeiro-ministro, enquanto o líder da Associa-


ção do Baixo Congo, J. Kasawubu, o Presidente da República.

FIGURA 5: PATRICE LUMUMBA

Fonte: Wikimedia Commons (2019).


Disponível em: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/d/d5/Patrice_
Lumumba_official_portrait.jpg

Lumumba tentou colocar em prática um programa de governo nacionalista,


visando transformar o Congo em uma grande nação independente economi-
camente, além de ter forte proximidade com a União Soviética. Contudo, os
grandes trusts multinacionais não simpatizaram com um projeto que ia fron-
talmente contra os seus interesses. Dessa forma, essas empresas patrocinaram
movimentos separatistas na província de Katanga, a qual, em poucos anos,
foi fragmentada em diversos pequenos países que “respeitaram” o monopólio
econômico dos trusts.
Os Estados Unidos, cientes da ameaça que constituía a projeção ideológica de
Lumumba, apoiaram o seu afastamento do governo congolês, incentivando
o fortalecimento do poder do moderado Kasawubu. Por outro lado, a União
Soviética apoiou Lumumba, cedendo armamentos para que o Movimento Na-
cional Congolês organizasse uma guerrilha e resistisse aos avanços imperialis-
tas dos norte-americanos.

MULTIVIX EAD
Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 109
HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA

Golpes e contragolpes destituíram tanto Lumumba quanto Kasawubu. O Con-


go mergulhou em uma terrível guerra civil na qual o coronel Mobutu assumiu
o poder e prendeu Lumumba, entregando-o aos rebeldes de Katanga, os quais
o assassinaram em circunstâncias obscuras. Até hoje, países que formavam a
antiga colônia congolesa (República Democrática do Congo, República Popu-
lar do Congo (a antiga província de Katanga), Ruanda e Burundi) estão mer-
gulhados em instabilidade social e em guerras civis intermináveis, enquanto
os grandes trusts extraem minérios usados para a fabricação, por exemplo, dos
nossos telefones celulares.
Na África britânica, a Costa de Ouro (hoje Gana), que já tinha um partido na-
cionalista fundado pelo talentoso político e intelectual Kwame Nkruma (1909-
1972), recebeu independência em 1957. Nkruma era uma das principais lide-
ranças do Pan-Africanismo e defensor da formação de uma grande nação
africana, cuja constituição, na sua visão, era a única maneira de consolidar uma
autonomia plena do continente africano frente aos antigos colonizadores e
aos interesses imperialistas norte-americanos.
Kwame Nkruma foi o primeiro presidente de Gana. Inicialmente, teve boas re-
lações com o Ocidente. Entretanto, quando passou a defender de forma mais
efusiva os interesses nacionais de seu país frente à constante intromissão bri-
tânica e norte-americana e se aproximou da União Soviética, foi deposto com
o apoio dos Estados Unidos e da Grã-Bretanha.

FIGURA 6: KWAME NKRUMA

Fonte: Wikipedia (2009).


Disponível em: https://en.wikipedia.org/wiki/File:Kwame_nkrumah.jpg

MULTIVIX EAD
110 Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017
HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA

Na África francesa, o presidente Charles de Gaulle propôs, em 1960, um refe-


rendo nas colônias, no qual oferecia a independência política desde que os
futuros países aceitassem continuar dependentes economicamente da França.
A maior parte desses países referendou a proposta francesa, formando, a partir
daí, a Comunidade Francesa. A única ex-colônia que se recusou a fazer parte
da Comunidade foi a Guiné, cujo movimento pela independência foi liderado
por um partido nacionalista de esquerda, o qual foi liderado por Sekou Touré,
que já havia proclamado a independência em 1958. Contudo, para sobreviver,
o país teve que equilibrar-se na Guerra Fria. De um lado, contou com o auxí-
lio financeiro e militar da União Soviética, mas, do outro, cedeu à exploração
de recursos naturais estratégicos, como a bauxita e o alumínio, para empresas
francesas e norte-americanas.
No período final da década de 1950 já estava claro para as antigas potências
imperialistas que o colonialismo formal era algo insustentável. Somente Portu-
gal, ainda sob o regime salazarista, resistiu à dissolução do seu antigo império
colonial na África. Na realidade, sua economia atrasada era ainda dependente
das riquezas minerais de suas colônias, e o fato de que os movimentos de in-
dependência de Angola e Moçambique tinham inspiração comunista permi-
tiram que o seu domínio agonizante resistisse até 1975, quando o salazarismo
foi derrubado pela Revolução dos Cravos e o novo governo decidiu conceder
independência às suas colônias. Entretanto, tanto Angola como Moçambique
sofreram com a grande instabilidade política provocada pela rivalidade entre
os grupos que lutaram em prol da independência e a interferência das super-
potências nesses conflitos.
O caso de Angola é sintomático. Pouco tempo depois da independência, es-
tourou uma guerra civil entre o Movimento Popular pela Libertação de Ango-
la (MPLA) – originalmente de inspiração marxista-leninista e que contou com
apoio financeiro e militar da União Soviética e de Cuba (que chegou a enviar
tropas para o país africano) – e a União Nacional pela Libertação Total de An-
gola (UNITA), apoiada pelos Estados Unidos e pela África do Sul (ainda sob o
regime do apartheid).
O conflito durou de 1975 a 2002 (portanto, sobreviveu ao fim da Guerra Fria) e
praticamente destruiu economicamente o país. Por fim, o MPLA consolidou o
seu poder em Angola, mantendo-o ainda hoje. Entretanto, atualmente, o mo-
vimento renunciou ao marxismo-leninismo, autoidentificando-se como social-
-democrata. Rico produtor de petróleo e com alta demanda para construção

MULTIVIX EAD
Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 111
HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA

civil, Angola é um dos países que mais crescem economicamente na África,


apesar da persistência de uma grande desigualdade social.

FIGURA 7: OUTDOOR COMEMORATIVO DOS 40 ANOS DA INDEPENDÊNCIA DE ANGOLA

Fonte: Flickr (2016).


Disponível em: https://www.flickr.com/photos/carsten_tb/34500039320/

Além dos movimentos pela independência inspirados pelo Pan-Africanismo e


apoiados pelos movimentos sociais nativistas, tivemos também colônias cujas
famílias, descendentes de imigrantes europeus (principalmente britânicos,
holandeses e belgas), lideraram o processo de autonomia visando, principal-
mente, manterem as suas propriedades rurais, o seu poder econômico e o seu
status social, que poderiam ser contestados por movimentos sociais negros
que questionassem a política de apartheid impostas nessas colônias.
Esses foram os casos da Rodésia (atual Zimbabwe) e da África do Sul. No caso
da Rodésia, um movimento de libertação nacional liderado por Robert Muga-
be (1924-2019) derrubou o governo segregacionista branco em 1980, momento
em que foi alterado o nome do país. No decorrer do seu governo, Mugabe de-
sapropriou os antigos colonos descendentes de britânicos de forma violenta,
sendo, por diversas vezes, advertido pelo governo britânico e pela comunidade
internacional. Com o passar dos anos, Mugabe instaurou uma ditadura no país
e foi derrubado do poder apenas recentemente, em 2018.

MULTIVIX EAD
112 Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017
HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA

FIGURA 8: ROBERT MUGABE

Fonte: Wikipedia (2015).


Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Robert_Mugabe_May_2015_
(cropped).jpg

Já a África do Sul, a partir de 1948, tornou-se uma república parlamentaris-


ta. Entretanto, o poder concentrou-se nos afrikâners, descendentes de fazen-
deiros holandeses e alemães que se fixaram nas proximidades da Cidade do
Cabo, no decorrer do século XIX, e cujos principais líderes não escondiam as
suas fortes simpatias ao nazismo. Após a independência, a África do Sul rom-
peu relações com a Grã-Bretanha e instituiu o apartheid, um regime segrega-
cionista que classificava os negros como uma sub-raça inferior, sem qualquer
direito social. Embora isolada nas relações exteriores a partir dos anos 1970,
a África do Sul manteve o regime e tornou-se o país mais próspero do conti-
nente africano graças às suas riquezas minerais e pedras preciosas (principal-
mente o diamante). Ao mesmo tempo, no contexto da Guerra Fria, consolidou
uma aliança com os Estados Unidos, intervindo nas guerras civis de Angola e
Moçambique.
A partir dos anos 1980, os conflitos de rua nas principais cidades aumentaram.
A repressão à mobilização dos negros foi violenta, aumentando ainda mais
o isolamento da África do Sul. Sob pressão internacional, o principal líder do
Congresso Nacional Africano (CNA), Nelson Mandela (1918-2013), foi liberado
da prisão em 1990, após 28 anos preso pelo regime apartheid da África do
Sul por defender a luta armada como forma de combate ao racismo de Esta-

MULTIVIX EAD
Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 113
HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA

do. Renunciando à luta armada, Mandela venceu as eleições presidenciais de


1994, acabando com o regime apartheid na África do Sul. Ainda hoje, porém,
persistem graves problemas sociais no país.

Nos anos 1980, a luta contra o apartheid


na África do Sul ganhou grande espaço na
mídia internacional, algo essencial para o
fim do regime e para a libertação de Nelson
Mandela da prisão. Algumas bandas de pop
rock se destacaram nesse engajamento,
como a banda britânica Simple Minds, com
o hit “Mandela Day”, e o cantor britânico
Peter Gabriel, com “Biko”, uma música em
homenagem a Steve Biko (1946-1977), líder
do movimento negro contra o regime sul-
africano, que foi assassinado pela polícia sul-
africana. Conheça: “Mandela Day” – https://
www.youtube.com/watch?v=xfk13uUuD8Q

6.3. OS MOVIMENTOS SOCIAIS: FEMINISMO,


PACIFISMO E AMBIENTALISMO
A partir da segunda metade da década de 1960, diversos movimentos sociais de
novo tipo apareceram na Europa e nos Estados Unidos. Estes diferiam dos anti-
gos movimentos oriundos do movimento operário e inspirados pelo marxismo-
-leninismo, pois defendiam causas que não eram consideradas relevantes para a
construção do socialismo. Além disso, estavam relacionados a novas demandas
decorrentes dos primeiros sinais de desgaste do Estado de bem-estar social e
do próprio movimento comunista como uma opção alternativa ao capitalismo.
O movimento feminista, cujas origens estão relacionadas à luta pela conquis-
ta do sufrágio universal, na Grã-Bretanha da segunda metade do século XIX,
ganhou uma nova roupagem nos anos 1960, momento caracterizado pela luta
ao reconhecimento da igualdade da mulher com relação ao homem no mer-
cado de trabalho, juntamente com reivindicações ligadas à liberdade sexual
feminina e a uma maior autonomia em relação ao marido e à família. Nos anos
1960 e 1970, diversas manifestações ficaram marcadas pela queima de sutiãs,
vistos pelas feministas como símbolo da opressão masculina.

MULTIVIX EAD
114 Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017
HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA

A filósofa e escritora francesa Simone de Beauvoir


(1908-1986) é considerada uma das principais ativistas
e inspiradoras do movimento feminista mundial.
Contestadora do patriarcalismo (a dominação
masculina sobre a mulher), Beauvoir ficou conhecida
pela famosa frase “não se nasce mulher, torna-se
mulher”, referindo-se ao caráter histórico, cultural e
social da construção da representação feminina.

Inicialmente influenciados pelo movimento


feminista, no mesmo período surgiram
movimentos relacionados à luta dos
homossexuais pelo reconhecimento dos seus
direitos. Um deles diz respeito à resistência
de um grupo de frequentadores de um bar
voltado ao público gay, em Nova Iorque (o
Stonewall Inn), contra a repressão policial.

Os movimentos pacifista e ambientalista, por sua vez, estão inicialmente rela-


cionados à contracultura, mais especificamente aos hippies. Estes criticavam
a sociedade capitalista de uma forma diferente dos comunistas, voltando-se
não tanto à crítica da exploração do trabalho, mas ao estilo de vida individua-
lista, voltado ao consumismo. Tais movimentos pregavam que a humanidade
deve respeitar mais o meio ambiente, defendendo, inclusive, um maior conta-
to do homem com a natureza.

MULTIVIX EAD
Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 115
HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA

O movimento hippie originou-se na Califórnia,


Estados Unidos, em 1965, tendo como principais
bandeiras o pacifismo, a liberdade sexual e o retorno a
uma vida coletiva mais próxima da natureza. Acabou
influenciando a cultura pop da época, principalmente
a juventude, ganhando a simpatia de grandes nomes
do rock da época, como os Beatles.

A cultura hippie teve duas grandes


representações, as quais ficaram marcadas
na História e que servem de fonte para os
historiadores que quiserem pesquisar mais
sobre o movimento. A peça de teatro norte-
americana “Hair”, lançada na Broadway, em
1968, e o Festival de Música de Woodstock,
realizado em 1969, e que contou com artistas
como o guitarrista Jimi Hendrix, a cantora
Janis Joplin e o grupo britânico The Who.

Nos anos 1970, o movimento pacifista mobilizou-se principalmente na Europa,


defendendo o desarmamento nuclear e a proliferação de usinas atômicas. Já
os movimentos ambientalistas conquistaram um maior destaque, defenden-
do a preservação de grandes florestas, como a Amazônica, e denunciando cri-
mes ambientais. Entre os diversos grupos, destaca-se o Greenpeace, fundado
na cidade de Vancouver, no Canadá, em 1971.

FIGURA 12: GREENPEACE

Fonte: Greenpeace Brasil (2019).

MULTIVIX EAD
116 Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017
HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA

6.4. A ORDEM MUNDIAL APÓS A GUERRA FRIA


Com o fim da Guerra Fria e da União Soviética, os Estados Unidos tornaram-
-se a única superpotência do planeta, cuja superioridade econômica e militar,
pelo menos no decorrer da década de 1990 e início do século XXI, parecia
inconteste. Era o que o presidente norte-americano da época, George Bush,
chamou de “a nova ordem mundial”.
A “nova ordem mundial” pode ser definida como a hegemonia dos Estados
Unidos no campo das relações exteriores. Esta se deu no campo militar, de-
monstrada por meio das intervenções militares dos Estados Unidos no Iraque
(1991 e 2003) e no Afeganistão (2001), e também no campo econômico, me-
diante a adoção do modelo neoliberal em boa parte do mundo.

O neoliberalismo é um conjunto de políticas cujo


objetivo é diminuir a intervenção do Estado nas
atividades econômicas e incentivar o livre comércio.
Nos países desenvolvidos, essas políticas foram
implementadas inicialmente nos governos de
Margareth Thatcher, na Grã-Bretanha (entre 1979 e
1990), e Ronald Reagan, nos Estados Unidos (entre
1981 e 1989).

FIGURA 13: RONALD REAGAN E MARGARETH THATCHER

Fonte: Flickr (1982 [2017]).


Disponível em: https://www.flickr.com/photos/levanrami/34997400525

MULTIVIX EAD
Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 117
HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA

Entretanto, o poder norte-americano foi contestado por atentados como os do


World Trade Center, em setembro de 2001, no qual o grupo terrorista saudita
Al Qaeda destruiu o maior prédio de Nova Iorque. Por sua vez, tal ataque foi
respondido com a chamada “Guerra contra o Terror”, declarada pelo presiden-
te George W. Bush.

FIGURA 14: ATAQUE AO WORLD TRADE CENTER

Fonte: Wikipedia (2001 [2019]).


Disponível em: https://pt.m.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:North_face_south_tower_after_
plane_strike_9-11.jpg

Nos últimos anos, entretanto, o poder hegemônico norte-americano começou


a ser questionado por novas potências emergentes no cenário econômico. No
caso, podemos citar a China, país que, em meio a uma série de recessões eco-
nômicas, continuou crescendo consideravelmente, ao ponto de ser a segunda
maior potência econômica do mundo, na atualidade; e a Rússia pós-União
Soviética, a qual, na presidência de Vladimir Putin (a partir de 1999), procurou
retomar a posição de protagonista no cenário internacional.

MULTIVIX EAD
118 Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017
HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA

CONCLUSÃO

Esta unidade teve como objetivo compreender as similaridades e as diferenças


dos diversos movimentos pela independência que ocorreram no continente
africano no decorrer do século XX. Inicialmente, abordamos a importância do
Pan-Africanismo nesse processo, uma ideologia que tem como base a defesa
da identidade africana e afrodescendente e que até hoje exerce uma impor-
tante influência em diversos movimentos sociais e políticos, tanto na África
quanto no continente americano.
Nesta unidade, também abordamos diversos conflitos cuja motivação é a luta
pela libertação nacional na África. Dessa forma, observamos a influência do
Pan-Arabismo na Guerra pela Independência da Argélia, assim como a presen-
ça tanto do Pan-Africanismo quanto do marxismo-leninismo nos movimentos
pela independência da África subsaariana, destacando os conflitos no Congo,
em Angola e nas antigas colônias portuguesas na África, mais precisamente
Angola e Moçambique.
Por fim, vimos a mobilização contra os governos segregacionistas de antigas
colônias britânicas, nas quais a propriedade da terra estava nas mão dos gran-
des latifundiários de origem europeia, enquanto a população negra continuava
segregada, sem direitos e tratada como sub-raça. Quanto à Rodésia, denomi-
nada Zimbabwe após a queda do regime, em 1980, vimos que esta passou por
um processo violento de desapropriação dos colonos brancos que, em pouco
tempo, passou para uma ditadura pessoal de Robert Mugabe. Já na África do
Sul, a pressão internacional e a habilidade política de Nelson Mandela possibi-
litaram a queda do regime apartheid, embora o país ainda seja marcado por
graves problemas sociais.
Quanto aos movimentos sociais pós-modernos, podemos citar a ascensão do
feminismo, do pacifismo e do ambientalismo, cujos conteúdos trouxeram no-
vas pautas, ultrapassando a questão da exploração do trabalho, temática re-
corrente dos movimentos comunistas.
Também há que se destacar alguns aspectos da ordem mundial pós-Guerra Fria,
marcada pela hegemonia econômica e militar dos Estados Unidos no cenário
internacional. Vimos, no entanto, que, nos últimos anos, potências emergentes
(como a China e a Rússia) começam a contestar o poderio norte-americano, in-
dicando transformações importantes nesse cenário nos próximos anos.

MULTIVIX EAD
Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 119
HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA

REFERÊNCIAS
ARARIPE, L. A. Primeira Guerra Mundial. In: MAGNOLI, D. (org.). História das guerras. São Paulo:
Contexto, 2013.

ARRIGHI, G. O longo século XX. Rio de Janeiro: Contraponto, 1994.

BAUMAN, Z. Capitalismo parasitário e outros temas contemporâneos. Rio de Janeiro: Zahar,


2010.

CAÑEDO, L. B. A descolonização da África e da Ásia. São Paulo: Atual, 1994.

CLARK, C. The Sleepwalkers: How Europe went to War in 1914. Nova York: Harper Perennial, 2014.
p. 353.

COMPARATO, F. K. A civilização capitalista: para compreender o mundo em que vivemos. 2. ed.


São Paulo: Saraiva, 2013.

COTRIM, G. História global: Brasil e geral. São Paulo: Saraiva, 2005. Volume único.

FERRAZ, F. C. Os brasileiros e a Segunda Guerra Mundial. Rio de Janeiro: Zahar, 2005.

GALBRAITH, J. K. 1929: A Grande Crise. São Paulo: Larousse do Brasil, 2010.

GAZIER, B. A Crise de 1929. Porto Alegre: L&PM POCKET, 2009.

GILBERT, M. A Primeira Guerra Mundial. São Paulo: Leya, 2017.

GOHN, M. da G. Teorias dos movimentos sociais: paradigmas clássicos e contemporâneos. 6. ed.


São Paulo: Loyola, 2007.

GRAND. A. J. de. Itália fascista e Alemanha nazista: o estilo “fascista” de governar. São Paulo: Ma-
dras, 2014.

HEYWOOD, A. G. Ideologias políticas: do feminismo ao multiculturalismo. São Paulo: Ática, 2010.

HOBSBAWN, E. Era dos extremos: o breve século XX – 1914-1991. São Paulo: Companhia das Letras,
1995.

JANOTTI, M. L. A Primeira Guerra Mundial: o confronto do imperialismo. São Paulo: Atual, 1992.

KUMAR, K. Da sociedade pós-industrial à pós-moderna: novas teorias sobre o mundo contem-


porâneo. Rio de Janeiro: Zahar, 2012.

LOWEN, N. História do mundo contemporâneo. 4. ed. Porto Alegre: Penso, 2011.

MACMAHON. R. Guerra Fria. Porto Alegre: L&PM, 2014.

MARIE, J. História da Guerra Civil Russa: 1917-1922. São Paulo: Contexto, 2017.

MARQUES, A. M. História Contemporânea: documentos e textos. São Paulo: Contexto, 1999.

MAZZUCCHELLI, F. Os Anos de Chumbo. Unesp, 2009.

NOVAES, M. Do czarismo ao comunismo: as revoluções russas do início do século XX. São Paulo:
Três Estrelas, 2017.

MULTIVIX EAD
120 Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017
HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA

OLIVEIRA, C. A. B. D. Processo de industrialização: do capitalismo originário ao atrasado. São


Paulo: FEU, 2002.

REIS, J. C. História da “consciência histórica” ocidental contemporânea: Hegel, Nietzsche, Ri-


coeur. Belo Horizonte: Autêntica, 2013.

SASSOON, D. Mussolini e a ascensão do fascismo. Trad. De Clovis Marques. São Paulo: Agir, 2009.

SARAIVA, J. F. S. (org.). História das relações internacionais contemporâneas: da sociedade in-


ternacional do século XIX à era da globalização. São Paulo: Saraiva, 2008.

SHIRER, W. L. Ascensão e queda do Terceiro Reich. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2017. v. 1.

SCHUMPETER, Joseph A. Capitalismo, socialismo e democracia. Rio de Janeiro: Fundo de Cul-


tura, 1961.

SPINDEL, Arnaldo. O QUE É SOCIALISMO. 25. ed. São Paulo: Brasiliense, 1991.

STEINBECK, J. As vinhas da ira (1939). São Paulo: Abril Cultural, 1972.

MULTIVIX EAD
Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 121
CONHEÇA TAMBÉM NOSSOS CURSOS DE PÓS-GRADUAÇÃO A DISTÂNCIA NAS ÁREAS DE:

SAÚDE • EDUCAÇÃO • DIREITO • GESTÃO E NEGÓCIOS

EAD.MU LTIVIX.EDU.BR

Você também pode gostar