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Economia circular

BIOPOLÍMEROS USAM FONTES


NATURAIS E BIOTECNOLOGIA
Texto de Antonio Carlos Santomauro, Fotos Divulgação

M
atérias-primas oriun- Biodegradáveis são os plásticos 13.432 e ASTM D6400 (respecti-
das de fontes reno- que, em condições adequadas de umi- vamente, europeia e norte-america-
váveis são aponta- dade, calor, presença de oxigênio e na). Em linhas gerais, elas certifi-
das como agentes micro-organismos, degradam-se na- cam como biodegradável um políme-
de processos produ- turalmente, transformando-se em ro que, compostado, converte 90% de
tivos ambientalmen- água, gás carbônico e biomassa sem sua massa em água e CO2, e o restante
te mais saudáveis. E resíduos tóxicos (há também a biode- em biomassa. Calcada nelas, a norma
ganham espaço tam- gradação anaeróbica, que ocorre sem brasileira NBR ABNT 15448 2 pro-
bém na indústria do plástico, na qual ou com pouco oxigênio, gerando me- põe um período máximo de 180 dias
se amplia a oferta dos biopolímeros, tano, além de CO2 e resíduo orgâni- para a biodegradação de embalagens
ou seja, materiais plásticos total ou co). Pode-se acelerar esse processo submetidas à compostagem (conside-
parcialmente derivados de cana-de- mediante compostagem, que otimi- rando, entre outros itens, a espessura
-açúcar, milho, celulose de madei- za as condições ambientais para bio- das embalagens).
ra, óleos vegetais, entre outras fontes degradação. Existe uma oferta razoavelmente
naturais renováveis, mediante proces- Normas definem a biodegradabi- diversificada de plásticos provenien-
sos químicos ou biotecnológicos. Al- lidade e regem a compostagem. En- tes de fontes renováveis e biodegra-
guns deles têm uso já bem estabeleci- tre elas, destacam-se as normas EN dáveis: casos, entre outros, do PLA
do, outros buscam seu lugar (poliácido láctico), PHA (poli
no mercado; em conjunto, hidroxialcanoato), PBS (poli-
eles perfazem um percen- succinato de butileno), PHB
tual ainda pequeno, porém, (polihidroxibutirato), PHV
crescente, da oferta global (poli-hidroxivalerato), e ace-
de resinas (ver tabela na tato de celulose.
pág. 22). Obtido a partir do amido
Não é bom confundir de milho, o PLA, por exem-
conceitos. Um biopolíme- plo, é uma das bases dos po-
ro não é necessariamente límeros biodegradáveis eco-
biodegradável. Por exem- vio, da Basf. Nessa linha, ele é
plo, o polietileno de cana- combinado com o PBAT (po-
-de-açúcar produzido pela libutileno tereftalato adipato),
Braskem, que ajudou a con- polímero de fonte fóssil, mas
ferir maior escala ao con- também biodegradável (exis-
ceito e à utilização dos te quem denomine ‘bioplás-
bioplásticos, é reciclável, ticos’ também esses plásticos
mas não biodegradável. que, como o PBAT, é biode-
Em contrapartida, cabe
ressaltar a existência de
resinas plásticas biode- Spedo: com PBAT, PLA supera
gradáveis provenientes de resistência mecânica do PEAD
fontes petroquímicas.
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Óleo de mamona é a base das
poliamidas da Arkema

gradável, a despeito da origem fóssil). plásticas convencionais”, ele ressal- descartáveis. Tem, ainda, caracte-
Na Europa, a linha ecovio é uti- ta. “Feito com esse produto, um filme rísticas menos favoráveis em quesi-
lizada em aplicações como sacolas de mulching nem precisa ser tirado da tos como resistência térmica e quí-
e filmes de mulching (filmes que re- terra”, acrescenta Spedo. mica. “Mas é um produto novo, irá
cobrem solos de cultivo). Na Améri- Por sua vez, a distribuidora En- se aperfeiçoar. E o fato de se degra-
ca Latina, tem nichos mais específi- tec comercializa no Brasil o PLA de dar mais rapidamente é até um de
cos, como sacolas e embalagens de marca Ingeo, produzido a partir de seus apelos”, enfatiza. “É um mate-
hortifrutis de estabelecimentos cujos amido de milho pela empresa norte- rial menos flexível que os derivados
clientes aceitam pagar mais pelo con- -americana Natureworks: por falta de de fonte fóssil, e isso propicia me-
sumo mais sustentável, com uso mais maior oferta, por enquanto restringe lhor impressão.”
intenso no Uruguai, onde as sacolas essa comercialização a grades para
descartáveis agora devem ser com- impressão 3D. “Mas fora do Brasil já Bioplásticos com história – Também
postáveis. há PLA em extrusão, injeção e termo- se biodegrada o tradicional acetato
A sustentabilidade, observa Thia- formagem”, relata Luiz Claudio Squi- de celulose, cujos componentes bá-
go Bazaglia Spedo, coordenador de lante, coordenador de vendas da En- sicos são a celulose de polpa de ma-
materiais de performance da Basf na tec. “Há quem me procure querendo deira e o ácido acético. “Ele se trans-
América do Sul, é o principal apelo do PLA para aplicações mais massivas, forma em biomassa, glicose e vina-
ecovio, cujo desempenho é compará- como filmes e descartáveis, mas não gre e os micro-organismos que fa-
vel ao de um PEAD. “Em alguns que- tenho produto para atender tal deman- zem a decomposição liberam CO2
sitos, pode ser até superior: por exem- da”, acrescenta. e água”, descreve João Victor Este-
plo, na resistência mecânica. E o eco- O PLA, diz Squilante, pode con- ves, engenheiro de desenvolvimen-
vio permite a impressão sem o trata- correr com o PE e o PP em filmes e to de aplicações da Celanese (em-
mento corona, necessário às sacolas embalagens, e com o poliéster nos presa que começou a produzir ace-

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tato de celulose no início do elastomérica Pebax Rnew, os


século passado). polímeros acrílicos com base
Na forma de fibras, essa vegetal Plexiglas Rnew, en-
resina é utilizada em sis- tre outros (diferentemente
temas de filtração, inclusi- da PA 11, que é 100% de ori-
ve filtros de cigarro, apare- gem vegetal, nesses produtos
cendo também na indústria a participação dos ingredien-
têxtil, sozinha ou em mis- tes de fontes renováveis va-
turas, permitindo a confec- ria em percentuais que che-
ção de vestidos, roupas ínti- gam a 65%).
mas, camisas, gravatas. Em A PA 11 da Arkema, diz
filmes – a Celanese detém a Paganini, é muito utilizada
marca Clarifoil –, é empre- em tubulações flexíveis do
gada em visores para emba- setor de óleo e gás, medido-
lagens cartonadas e em pe- res de água, tubos e válvulas
lículas antiembaçamento, para distribuição de gás en-
entre outras aplicações às canado. Está disponível em
quais oferece como caracte- opções para praticamente to-
rísticas alta permeabilidade dos os processos de transfor-
ao vapor, resistência à água, Acetato de celulose busca ampliar leque de aplicações mação: extrusão, filmes, in-
transparência, brilho e boa jeção, termoformagem roto-
capacidade de impressão. de cadeia longa, não produzindo PA moldagem, coating, 3D. “Uma re-
Visando ampliar esse leque de 6 nem PA 6.6. sina com origem renovável pode ter
utilizações para outros mercados – A base dessa poliamida é o óleo de desempenho até superior ao de uma
como a produção de descartáveis, mamona, presente também em mais resina de origem petroquímica: além
na qual são requeridos por produ- produtos da Arkema, como as polia- de extremamente flexível, essa PA 11
tos menos problemáticos no descar- midas 10 e 6.10 (marca Rilsan), a PA tem um empacotamento cristalino su-
te –, a Celanese disponibiliza aceta-
to também na forma de pellets, para
aplicações como canudos e talhe-
res. “Em granulados, o acetato de
celulose é naturalmente transparen-
te, com boas propriedades mecâni-
cas”, ressalta Esteves.
Outra resina com trajetória lon-
ga, também derivada de fontes re-
nováveis – porém não biodegradá-
vel –, é a poliamida 11 da Arkema
(comercializada com a marca Ril-
san 11). “Ela surgiu durante a se-
gunda guerra mundial, quando ha-
via escassez de matérias-primas,
especialmente petróleo. É nosso
carro-chefe, 100% de origem vege-
tal”, conta Fábio Paganini, gerente
de vendas e desenvolvimentos da
Arkema, que atua no mercado das
poliamidas apenas com polímeros

Peças feitas com Rilsan HT


suportam temperaturas elevadas

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cadeia produtiva captura CO2, ao in- ma Clemesha. “Depois de uma déca-


vés de emiti-lo. “Fizemos um estudo da de vida, esse produto já está bem
do ciclo de vida, e ele se mostrou mais posicionado em termos de aplicações.
sustentável ambientalmente, conside- Pensamos em outros mercados, como
rando também outros fatores, como a rotomoldagem, mas suas vendas de-
uso de água e acidificação do solo”, vem agora crescer principalmente em
afirma Clemesha. volume”, acrescenta.
Atualmente, a Braskem produz Desde 2017, a Braskem mantém
esse polietileno de fonte renová- uma parceria com a empresa dinamar-
vel em uma unidade em Triunfo-RS, quesa Haldor Topsoe com foco no de-
com capacidade nominal de 200 mil senvolvimento de uma versão de fon-
t/ano. “Temos um bom equilíbrio en- te renovável do mono etilenoglicol
tre a oferta e a demanda, e a maior (MEG), indispensável para a produ-
parte da produção é exportada”, afir- ção da resina PET. Essa pesquisa já

Paganini: fonte natural não PHB de açúcar nasceu no IPT


eleva preço das poliamidas
O IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas, vinculado ao governo pau-
perior ao da PA 12, que provém de pe- lista), começou a pesquisar biopolímeros no início dos anos 1990, em um
tróleo e que nós também fabricamos. projeto que culminou com a inauguração, no final daquela década, de uma
Isso garante maior vida útil às aplica- planta de produção da resina PHB (polihidroxibutirato) a partir do açúcar
ções”, afirma. proveniente de cana. Instalada no município paulista de Serrana, associa-
da a uma usina de açúcar e álcool, essa planta está atualmente sem ope-
Do Brasil para o mundo – Disponi- ração comercial, mas, em seus primórdios, exportou PHB para os Estados
bilizado com a marca I’m Green – Unidos e a Europa.
que a empresa associa a todos os seus O preço do produto certamente influi nessa falta de atividade comercial.
produtos focados na economia circu- “No início da produção, o PHB tinha custo cerca de quatro vezes superior
lar, inclusive às resinas recicladas –, ao de um plástico convencional, mas essa relação varia muito, dependen-
o PE proveniente de cana-de-açúcar do do preço da matéria-prima: a cana-de-açúcar”, explica Maria Filomena
desenvolvido pela Braskem tem hoje Rodrigues, pesquisadora do IPT participante do projeto.
versões PEBD, PELBD e PEAD. Foi Segundo ela, o PHB pode ser alternativa ao PP em aplicações como fras-
lançado há exatos dez anos e é em- cos de xampus e cremes. “A Wella até chegou a utilizá-lo em produtos co-
pregado por mais de 150 marcas de mercializados na Alemanha”. É uma resina biodegradável, produzida dentro
quase todos os continentes: Unilever, das próprias bactérias que se
O Boticário, Natura, Neutrox, são al- alimentam do açúcar (diferen-
gumas delas. temente do PLA, que provém
Embalagens rígidas e flexíveis de ácido lático produzido por
compõem a maioria das aplicações fermentação e posteriormente
desse PE feito com etileno obtido polimerizado).
pela desidratação de etanol oriundo O projeto do IPT mostrou
de cana, mas ele tem também utiliza- ser possível produzir, pelo me-
ções mais específicas. “Ele estará nas nos em laboratório, PHB tam-
Olimpíadas de Tóquio, na grama sin- bém a partir de bagaço de cana
tética da quadra de hóquei sobre gra- e de óleos vegetais. “Creio que
ma”, destaca Martin Clemesha, ge- já começa a se tornar mais viá-
rente de sustentabilidade e economia vel o uso industrial dessa resi-
circular da Braskem na Europa e Ásia. na, cresceu bastante o apelo
Com as mesmas características fí- ambiental”, ressalta Maria Fi-
sicas e químicas do equivalente fós- lomena. n
sil, esse PE “verde” explora o ape-
lo da “pegada carbono negativa”: sua
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Caixas de sucos feitas de PE
renovável certificado, da SABIC

trial, o que reduz o investimento ini-


cial na produção e impulsiona a com-
petitividade do processo”, diz Cle-
mesha. “Temos também estudos re-
lativos a outras moléculas. Como so-
mos líderes desse mercado, elas in-
cluem o PP; mas isso ainda está na
fase dos estudos”, diz o profissional
da Braskem.
A Saudi Basic Industries Com-
pany (SABIC), também disponibiliza
resinas em cuja composição há maté-
ria-prima de fontes biológicas, como
conta com uma planta piloto, instala- como sacarose, dextrose e açúcares resíduos oriundos da indústria de ce-
da na Dinamarca, projetada para vali- de segunda geração. “O projeto tem lulose e papel. Uma delas, a resina de
dar a tecnologia de obtenção do MEG como foco a conversão de açúcar em policarbonato da marca Lexan, pro-
a partir de diferentes matérias-primas, MEG em uma única unidade indus- duzida com matéria-prima renovável. 17
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Esse PC fabricado a partir de recur-


sos renováveis faz parte de um portfó-
lio de produtos e serviços para solu-
ções circulares recentemente lançado Poliol de CO2 reduz poluição
pela companhia com a marca Trucir-
cle, que além das resinas feitas a par-
tir de fontes renováveis abrange pro-
dutos de reciclagem mecânica, produ-
tos circulares certificados e soluções
feitas com design já pensado para re-
ciclagem.
Lançado em meados do ano pas-
sado, esse PC renovável tem seu pro-
cesso de produção iniciado com uma
combinação de matérias-primas de
origem renovável e fóssil, alimentan-
do a etapa do craqueamento, a partir
da qual provém o benzeno, posterior-
mente utilizado no processo que con-
duzirá aos monômeros utilizados na A redução da emissão de CO2
produção da resina. “Clientes de di- é um grande apelo dos bioplás-
versos mercados e regiões estão mos- ticos: mas a Covestro desenvol-
trando muito interesse, e vários de- veu uma tecnologia que utiliza o
les estão testando esse produto. Mui- gás carbônico como matéria-pri-
to em breve, serão lançadas as primei- ma, e já consegue substituir, em
ras aplicações em escala comercial”, aplicações de espumas de PU,
afirma Mark Vester, líder global para até 20% dos componentes de ori-
economia circular na empresa. gem petrolífera na composição
Comparativamente a um policar- dos polióis.
bonato de origem fóssil, diz estudo da Denominado cardyon, o resultado dessa tecnologia está sendo produzi-
petroquímica saudita, em seu ciclo de do em uma fábrica na Alemanha, que recebe o CO2 de empresas que lança-
vida a resina de policarbonato Lexan riam esse gás na atmosfera. Na Europa, diz André Borba, head de vendas
produzida com matéria-prima reno- e marketing da unidade de poliuretanos da Covestro, esse produto já é em-
vável proporciona redução significa- pregado na fabricação de colchões e móveis, entre outros itens. “Estamos
tiva, até 61%, na pegada de carbono. desenvolvendo com um parceiro algumas aplicações aqui no Brasil, como
Ela tem desempenho idêntico e é até entressolas de calçados, esponjas
mais reciclável do que o PC conven- de cozinha e colchões”, comple-
cional, podendo ser utilizada nas mes- menta Borba.
mas aplicações, em setores como a in- De acordo com Fernanda Porto,
dústria automotiva, eletroeletrônicos representante técnica da unidade de
e bens de consumo, construção civil poliuretanos da Covestro, o cardyon
e saúde, entre outros. “É uma solução adequa-se às mesmas aplicações
drop-in: os transformadores podem dos polióis petroquímicos. “Ele é
utilizar esse policarbonato produzido muito puro, diferentemente do poliol
com matéria-prima renovável com os vegetal, que pode conter impurezas
mesmos equipamentos e as mesmas que limitam sua aplicação”, compa-
condições de processo que tradicio- ra. “Se o cliente desejar, fornecemos
nalmente utilizam em suas instala- também poliuretano termoplástico
ções”, ressalta Vester. com cardyon, na forma de pellets”,
A companhia informa manter ain- finaliza Fernanda. n
da outras resinas oriundas de fontes
renováveis em seu portfólio, além do

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policarbonato Lexan. Entre elas, há como Dow e Ineos, que recentemen-


grades de PE feitos de nafta de ori- te anunciaram acordos para utilizar a
gem renovável produzida pela empre- nafta renovável da UPM, comercia-
sa finlandesa UPM a partir de óleos lizada com a marca BioVerno, para
residuais do processo de polpação re- empregá-la na produção de poliole-
alizado pela indústria de papel e celu- finas e PVC.
lose (todo o processo é desenvolvido Mas alguns entraves ainda inibem
com madeira de origem certificada). a ampliação dos biomateriais. Um de-
Esse PE renovável serve também les, o preço, por enquanto superior ao
de base para o biocompósito desen- das resinas de origem fóssil, decor-
volvido em parceria com a própria rente, em parte, de um custo de pro-
UPM. Denominado UPM Formi Eco- dução mais elevado.
Ace, além utilizar o PE renovável, ele Uma sacola feita com o ecovio, da
é reforçado com fibras de madeira e Basf, por exemplo, tem custo de três
celulose certificadas. a quatro vezes superior ao de uma si-
Com a mesma UPM e também milar fabricada com resina conven-
com a Royal DSM (focada em ciên- cional. “Isso, com certeza, inibe a de-
cias de nutrição, saúde e vida susten- manda”, argumenta Spedo.
tável), a SABIC está implementando A Arkema, afirma Paganini, con-
ainda um projeto que conferirá bases segue disponibilizar resinas de fontes Santachè: poliol vegetal gera
renováveis à Dyneema, linha de fibras renováveis com preços bastante com- espuma de geladeira melhor
de polietileno de peso molecular ul- petitivos. “Em nossa linha Pebax de ascensão”, acrescenta.
tra-alto (UHMwPE) da DSM, utiliza- poliamidas elastoméricas temos exa- Transformadores e consumido-
da em várias aplicações, como equi- tamente as mesmas opções de gra- res, pondera o profissional da Arke-
pamentos esportivos, roupas de prote- des, em versões provenientes de pe- ma, talvez não se mostrem ainda mui-
ção, redes, entre outras. tróleo ou de fontes renováveis. E am- to dispostos a pagar mais pelos bio-
bas têm preços muito próximos”, sa- plásticos. “Com resinas que apresen-
Preço e reciclagem – Biopolíme- lienta. “Os produtos de fonte renová- tam preços e performances similares,
ros são também oferecidos por ou- vel ainda apresentam menor consu- o apelo da fonte renovável é um di-
tros grandes fornecedores de resinas, mo, mas sua demanda está em franca ferencial importante”, avalia Pagani.
Segundo ele, as poliamidas prove-
nientes de fontes renováveis têm
características de reciclablidade
muito semelhantes às das petro-
químicas. “São muito similares as
propriedades mecânicas do mate-
rial reciclado de nossas linhas Pe-
bax Rnew, de origem biológica, e
Pebax, de origem fóssil”, exem-
plifica Paganini, referindo-se a
duas linhas de poliamidas elasto-
méricas que “se espelham” uma à
outra, com produtos equivalentes,
porém de origens distintas.
Também o PE verde da
Braskem, enfatiza Clemesha, é
tão reciclável quanto o fóssil, até

Purcom desenvolve aplicações


e produtos em seu laboratório

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porque idêntico a ele. “O reciclador vamente gerar valor financeiro, e não adotam um discurso vinculado à sus-
nem percebe a diferença, só dá para apenas por questões ambientais. “En- tentabilidade muitas vezes privile-
distinguir um do outro pelo méto- tão se verá mais claramente que os giam os ingredientes petroquímicos
do do carbono 14, que revela a ida- materiais com origem renovável, as- pelos preços mais vantajosos. “Temos
de do carbono presente no políme- sim como os recicláveis, adequam- clientes que aceitam pagar um pouco
ro”, explica. -se melhor a esse conceito”, justifica. mais pelos produtos renováveis em
Na opinião de Clemesha, as re- Especializada em soluções de PU, setores como a indústria de calçados,
sinas qualificadas como drop in, que a Purcom utiliza tanto polióis de ori- a indústria de óleo e gás, e também a
por serem iguais podem ser agre- gem renovável quanto petroquímicos indústria automobilística, que usa poli-
gadas aos plásticos petroquímicos, (o poliol e o isocianato são os ingre- óis renováveis especialmente em ade-
constituem alternativa até mais inte- dientes básicos do poliuretano). A par- sivos, mas poderia utilizá-los em mais
ressante para a sustentabilidade que tir de óleo extraído de soja ou mamo- aplicações, até por ter metas globais de
as biodegradáveis, pois não prejudi- na, entre outros vegetais, produz ela sustentabilidade”, argumenta.
cam a reciclagem quando mistura- própria os insumos que suprem cerca O poliuretano, lembra Santanchè,
das aos plásticos convencionais. “O de um quarto de sua demanda, e com- por ser um termofixo, só pode ser re-
ideal será combinar os usos de resi- pra de fornecedores os polióis de ori- ciclado por tecnologias sofisticadas,
nas de fontes renováveis e de recicla- gem petroquímica. inviáveis em escala comercial. Mas a
das, já temos clientes fazendo isso”, Em algumas aplicações, afirma Purcom desenvolveu uma tecnologia
diz. “Estou bem otimista com o fu- Santanchè, é hoje possível trabalhar que permite, com custo bastante aces-
turo dos bioplásticos: a demanda por apenas com os primeiros e obter um sível, reciclar espumas rígidas de PU,
eles está aquecida e pode crescer ain- PU com desempenho até superior ao utilizadas em aplicações como gela-
da mais”, complementa o profissional de outro, formulado com poliol petro- deiras, quebrando em uma base líquida
da Braskem. químico. “Em espumas de geladeira, a estrutura das moléculas uretânicas, e
Para Giuseppe Santanchè, sócio por exemplo, as características de es- adicionando um glicol que transforma
e diretor comercial da Purcom, a de- trutura e reatividade do poliol vegetal esse PU despolimerizado em um novo
manda por soluções de fontes reno- as tornam mais resistentes à compres- poliol. “Já tenho uma planta piloto que
váveis se consolidará definitivamen- são”, compara. produz, por enquanto para testes e de-
te quando a economia circular for per- Mas, segundo o profissional da senvolvimento, cerca de 200 kg de
cebida como conceito capaz de efeti- Purcom, mesmo empresas que hoje poliol reciclado por dia”, informa. n 21

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Economia circular

CONSUMO GLOBAL DE BIOPOLÍMEROS AVANÇA


Bioplásticos ainda representam menos de 1% do total das mais de 359 milhões de toneladas de plásticos anual-
mente produzidas em todo o mundo, estima a European Bioplastics, entidade de fomento ao uso desses materiais
integrada por empresas como Basf, Total, Danone e TetraPak, entre outras (as estimativas incluem também plásti-
cos biodegradáveis de origem petroquímica, como o PBAT). Mas essa produção, mostra a (Tabela 1), cresceu 5%
em 2019, em relação ao ano anterior, e deve seguir aumentando nos próximos anos.
Embalagens flexíveis e rígidas consomem 54% dos bioplásticos (Tabela 2) comercializados no mundo, sendo
as misturas com amido as produzidas em maior quantidade (Tabela 3).

Tabela 1 - Capacidade global de produção de bioplásticos (mil t/ano)


Não Biodegradáveis Biodegradáveis Total
2018 934 1.077 2.011
2019 941 1.174 2.114
2020* 951 1.201 2.152
2021* 938 1.234 2.172
2022* 1.053 1.286 2.339
2023* 1.082 1.328 2.410
2024* 1.092 1.334 2.426
* Previsão
Fonte: European Bioplastics

Tabela 2 - Participações das diferentes resinas Tabela 3 - Destino da produção


na capacidade, em 2019 por mercados, em 2019 (mil t)
PE 11,8% Embalagens flexíveis 663
PET 9,8%
Embalagens Rígidas 476
PA 11,6%
Têxteis 237
PBAT 13,4%
PBS 4,3% Bens de Consumo 166
PLA 13,9% Agricultura / Horticultura 161
PHA 1,2%
Automotivo e Transportes 141,5
Misturas com amido 21,3%
Coatings e adesivos 124,5
PP 0,9%
PTT 9,2% Construção 80
Outras - Não biodegradáveis 1,1% Eletroeletrônicos 40
Outras – Biodegradáveis 1,4%
Outros 25
Total não biodegradáveis: 44,5% Total biodegradáveis: 55,5%
Fonte: European Bioplastics
Fonte: European Bioplastics

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