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HISTÓRIA DA PSICOLOGIA Prof.

Eduardo Freitas Prates


Curso de Psicologia
NO BRASIL Universidade Nove de Julho
AULA 1:
POR QUE HISTÓRIA DA PSICOLOGIA?
Referência bibliográfica:

PESSOTTI, Isaías. Entre o fascínio do passado e o enigma do futuro. Margem – Revista da


Faculdade de Ciências Sociais. PUC SP, nº 5, São Paulo, EDUC, 1992. p. 69-79

Referência áudio visual:

NÓS QUE AQUI ESTAMOS E POR VÓS ESPERAMOS. Direção: Marcelo Masagão. Produção de
Riofilme. Brasil: Riofilme, 1999. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=gmqXVwfUHxE
Acesso em: 16/08/2022.
OBJETIVOS
Objetivo geral: Refletir sobre o papel da História da Psicologia na formação, justificando a necessidade
de reflexões críticas para se pensar a sociedade.

Objetivos específicos:

- Compreender o conceito de História em suas diversas significações, em especial, como disciplina


científica para situar o campo da História da Psicologia.

- Discutir o conteúdo de um documentário, de modo a instigar a construção coletiva do papel do ser


humano como sujeito histórico.

- Refletir as discussões em sala de aula a partir de um texto de referência para compreender o papel da
universidade em sua historicidade.
UMA PRIMEIRA PERGUNTA

O QUE É HISTÓRIA?
O SENTIDO DE HISTÓRIA
O sentido de História pelo dicionário

“1. Reunião e estudo dos conhecimentos documentados ou transmitidos pela tradição, a respeito do
desenvolvimento da humanidade, de um período, povo, país ou indivíduos específicos. [...]” (AULETE,
p. 423)

O sentido História pelo ponto de vista de um historiador

- Marc Bloch (2001) reconhece que apesar dos historiadores estudarem o passado, seria muito simplista
reduzir o sentido de História ao estudo do passado, de modo que sempre olhamos o passado com os
olhos do presente, portanto, a História é a compreensão do passado e do presente.
A HISTÓRIA COMO CAMPO DE ESTUDO

- A história estuda o presente e o passado utilizando-se de fontes históricas.

- Fontes históricas: são documentos que registram vestígios do passado, podendo expressar-se em
registros escritos (atas, cartas, diários, livros, panfletos), áudios, vídeos, imagens, arte ou mesmo
objetos em geral, no entanto, apresentam-se como algo carregado de significado que pode serve para
interpretar o passado.

- Historiografia: é o campo de estudos do historiador.

- Historiador: é o profissional que estuda o passado a partir de recursos metodológicos e um saber


constituído no campo histórico.
O SER HUMANO É UM SUJEITO HISTÓRICO
- Todo ser humano nasce em um determinado contexto histórico que o constituí.

- Diferentes épocas podem produzir diferentes sujeitos históricos.

- Ser sujeito histórico significa reconhecer que também fazemos parte do processo histórico, deste
modo, somos ativos nos processos sociais.

- A História não é composta somente dos “grandes homens” que ali estavam e auxiliaram a construir
aquela realidade, cada um tem sua existência marcada no tempo, cada sujeito existe e participa das
transformações históricas.
E O FUTURO?
- Para refletir sobre o futuro, também é preciso refletir sobre o passado, portanto, por que não uma
viagem ao passado?

- Atividade: 1) Assistir o vídeo; 2) Intervalo de 15 minutos para escrever uma reflexão histórica sobre a
experiência da exposição; 3) Escolheremos três voluntários para partilhar suas reflexões com o grupo
numa breve roda de conversa; 4) retomaremos a aula com a discussão do texto de referência da aula.

NÓS QUE AQUI ESTAMOS, POR VÓS ESPERAMOS

https://www.youtube.com/watch?v=gmqXVwfUHxE
INTRODUÇÃO
- Pessotti (1992) propõe uma reflexão que analise as emoções suscitadas pelas narrativas do passado, as
vivências no presente, por meio dos fatos, e a perspectiva do futuro com suas indefinições.

- O autor defende a necessidade de se pensar o futuro a partir da Ciência e da História, tendo a


Universidade como um espaço privilegiado para esta reflexão que inevitavelmente pode influir em
projetos para o futuro.

- Inicialmente discute-se o fascínio pelo passado na infância, surgido pela proposta do “Era uma
vez...”, quando na infância somos transportados para um passado distante que nos afasta do presente,
distanciando do presente, ou seja, do fato (realidade objetiva que vivenciamos). Fugimos, fantasiamos...
ENTRE O PASSADO E O PRESENTE

- Segundo o autor, o fascínio com o passado está em jogar com a fantasia e a própria subjetividade, pelo
fato dos eventos já terem acontecidos, não precisam ser racionalizados ou controlados como no presente.

- O fascínio com o passado vale não somente para as histórias fantasiosas, mas para o próprio passado
histórico, este não fantasiado, mas real e mesmo real, ainda assim encantador.

- No passado histórico não trata-se do encanto pela fantasia, mas o encanto por fragmentos reais do
passado seja por um objeto histórico representativo, seja por um escrito ou mensagem deixada por
alguém há muito falecido que nos deixa um vestígio de tempos longínquos.
O PASSADO COMO ESCLARECIMENTO

- Pessotti (1992) destaca que o conhecimento do passado também gera um sentimento de afiliação,
como a crianças que se interessam por suas origens.

- Mas também por adultos que encontram-se dentro de grupos e ordenam o caos do passado, permitindo
um alívio da angústia, sentimento de pertencimento e até justificativa de existência.

- O conhecimento histórico nos serve para clarear o passado, esclarecer vínculos, explicar costumes,
enfim, amplia a nossa significação ao nos evidenciar o trajeto dos acontecimentos que nos constituíram.
HISTÓRIA COMO AFETO, PROJETO E
CONTINUIDADE
- O autor sinaliza o passado em sua dimensão afetiva que além de atribuir significação, constitui
continuidade de projetos e lutas:

“Quanto mais se conhece sobre as lutas e projetos dos que passaram, mais se pode perceber quanto os
próprios combates e planos são a constituição daqueles. Quanto a luta é a mesma e os alvos não
mudaram. Assim, o conhecimento do passado histórico nos vincula a outros homens, que sequer nos
conheceram, mas que nós podemos conhecer e amar, como companheiros de luta, de crença, de valores.
E então nos sentimos depositários de bandeiras que acreditávamos só nossas, mas foram herdadas dos
que a desfraldaram antes de nós. Aqui não se trata apenas de encontrar uma significação maior para a
própria trajetória no planeta: agora, o que o conhecimento histórico nos dá é companhia. É significação
afetiva para a nossa luta ou projeto. É comunicação pessoal com os valores e ideias dos que nos
precederam.” (PESSOTTI, 1992, p. 73, grifo do autor)
UM ALERTA PARA FINS DIDÁTICOS

- Pessotti (1992) problematiza o fascínio do passado a partir da arte, tendo as ficções históricas e não-
históricas como objeto de análise, reflexões que não trataremos nesta exposição, mas segundo o autor
são fundamentais para se compreender a organização do imaginário a partir do passado.

- O autor sinaliza importantes reflexões sobre o futuro, no entanto, cabe recordar que o próprio texto e
seu autor estão historicamente circunscritos à uma época (década de 1990), o que não implica em
desconsiderar o valor da História e do passado para refletir sobre o presente.
FUTURO?

- Pessotti (1992) retoma a reflexão das impressões na infância para explicar o futuro, pois quando criança
projetamos a nossa completude e potência na vida adulta, porém, ao crescermos, nos vemos ainda como
fragilizados pelos novos desafios e desencantos da vida.

- Para homens e mulheres o futuro é nebuloso, cheio de incertezas, no entanto, é um território que precisa
ser atravessado, segundo o autor “saber que choverá amanhã, não nos protegerá da chuva”, deste modo para
se enfrentar o futuro, mais do que certezas, precisa-se de preparação:

“[...] O futuro, então, impõe o aperfeiçoamento pessoal. O desafio que ele propõe é dúplice: requer o
equipar-se de saberes e estratégias, de um lado. De outro, exige coragem, virtude.” (PESSOTTI, 1992, p. 76)
DA RELIGIÃO PARA A CIÊNCIA

- O autor reporta-se à história ao compreender que os homens em tempos passados recorriam


predominantemente à religião e mitos para lidar com a angústia, inclusive, seus receios com o futuro.

- No entanto, a partir do Renascimento e do século XVII, com o desenvolvimento da tecnologia e da


técnica, foi possível aos homens transformar a natureza e em consequência se transformarem,
inaugurando a racionalidade científica que também é dirigida para se refletir sobre o futuro:

“Essas funções, agora, cabem à razão e ao seu método: pertencem à Ciência. Saber e Técnica agora são
produtos da racionalidade. Agora, no território do futuro, começam a sumir os fantasmas e a nascer
esperanças. O futuro passa a ser promessa.” (PESSOTTI, 1992, p. 76, grifo nosso)
A HEGEMONIA DA CIÊNCIA

- Pessotti (1992) compreende a hegemonia da Ciência como um modo diferente de encarar o futuro,
pois muda-se do período de incertezas para a possibilidade de projetá-lo.

- O conhecimento científico torna-se dominante e assume uma função iluminadora, atestado pelo
avanço da Ciência em diversos campos, como a Medicina, a Genética, etc.

- No entanto, segundo o autor apesar da Ciência “nos dar um mapa, ela não nos oferece um rumo”, aí
está o uso indevido e destrutivo que a humanidade dela fez uso sem uma reflexão ética.
A HEGEMONIA DA CIÊNCIA

“Nesse impasse não nos socorre o mito, nem o dogma, que ambos foram substituídos pela ciência. Mas
também ela agora não nos salva. O poder da tecnologia, que o conhecimento científico trouxe ao
homem, não aponta rumos, oferece métodos. Para produzir antibióticos ou guerra bacteriológica, por
exemplo. A ciência não só nos desampara na hora de escolher os rumos do progresso. Criou um risco
maior: junto com o poder da tecnologia ela gerou a tecnologia do poder. A dominação de povos,
riquezas e pessoas, ideias, recursos de sobrevivência, mercados, opiniões e consciências não se faz mais
com a tirania do dogma, com os fanatismos do mito, coisas do passado. A razão os suplantou, a ciência
os baniu. No futuro toda aquela dominação se exercerá, como já se ensaia agora, segundo as regras do
conhecimento científico.” (PESSOTTI, 1992, p. 77)
UNIVERSIDADE COMO CAMPO CRÍTICO

- Pessotti (1992) sugere que o (“novo”) fantasma do futuro é o poder cientificamente administrado,
desta forma existe o perigo do poder guiar-se somente para a manutenção de si próprio, independente
de quem o guie. Que fazer?

- O autor sugere que um caminho possível para lidar com o futuro é investir na única instituição que
articula conhecimento científico e conhecimento histórico: a universidade.

- Desta forma, homens e mulheres ao analisar as lições da experiência humana poderiam propor
objetivos de interesse comum que atendessem à comunidade.
UNIVERSIDADE COMO CAMPO CRÍTICO

- A discussão proposta obriga-nos a compreender o papel político das universidades e suas limitações
(apoio/ controle do Estado), seja pela limitação de seus próprios agentes (oportunismo/ imediatismo).

- Qual é o papel da universidade para o futuro? Uma possível resposta: gerar conhecimento histórico e
científico, por meio da reflexão do passado para propiciar projetos para o futuro.

- O autor posiciona-se ceticamente com a sua experiência universitária, ainda que reconheça que se
deva lutar por um espaço crítico comprometido com os interesses comuns com a comunidade.
CONSIDERAÇÕES FINAIS

- O autor defende que não cabe à universidade ditar os rumos da sociedade, mas difundir os diversos
saberes dos grupos sociais, informando-lhes os processos de controle que os limitam, dando-lhes uma
consciência crítica de seu papel no processo histórico para que decidam democraticamente seu rumo.

“Os rumos do futuro serão ditados na realidade, pelo processo histórico de organização dos grupos
sociais em torno de seus objetivos. Esse processo será tanto mais rápido, quanto mais conhecimento
tiverem esses grupos. Quanto mais o saber histórico e o científico fizer parte da educação das pessoas.
E, sobretudo, quanto mais o cidadão comum entender os processos que o poder emprega para controlar
a vida das pessoas.” (PESSOTTI, 1992, p. 79)
MATERIAL COMPLEMENTAR

Referências bibliográficas:

AULETE, Caldas. Minidicionário contemporâneo da língua portuguesa. 2ª ed. rev. E atual. Rio de
Janeiro: Lexikon, 2009. 960p.

BLOCH, M. Apologia da história ou o ofício do historiador. Tradução de André Telles. Rio de Janeiro:
Zahar, 2001. 159p.

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