Você está na página 1de 24

Aprendizagem histórica

como processo de
formação do pensamento
histórico

Contribuições da Didática da História


Ensino de História 2 – Profa. Regina
Quem está parado neste mundo é
quem não inventa,
é como a professora que só pesquisa
no livro,
que só dá resposta que acha no livro.
Se a gente copia, a gente está
parado;
se a gente inventa a gente está
andando.

Clarissa M. Goularte, 8 anos. In. Nivaldo A.


Goularte, 1991, p.3
Temporalidade
histórica

Categorias de
Espaço de experiências
&
Horizonte de expectativas

Concepções pré modernas


Modernas
Pós modernas
R. Koselleck
Vantagens e desvantagens da História
Precisamos de história. Mas de maneira diferente daquela
que o passeante mimado no jardim do conhecimento está
acostumado a usá-la. Não importa o quão elegantemente ele
possa olhar para suas necessidades grosseiras e angústias.
Ou seja, nós precisamos da história para a vida e para a
ação, e não para virarmos as costas da vida e da ação
confortavelmente, mascarando nossa vida egoísta e nossas
más e covardes ações. Nós desejamos usar a história
unicamente na medida em que ela nos serve para
viver. Mas existe um degrau entrefazer história e valorizá-Ia
em uma vida que atrofia e degenera-se. Trazer este fenômeno
para a luz como sintomas de destaque de nosso tempo, é tão
necessário quanto doloroso.
F. Nietzsche, 1874.
 Estudou História, Filosofia, Pedagogia e Antropologia
na Universidade de Colônia.

 Doutorado em Teoria da História sobre o historiador J.


G. Droysen (teoria da historicidade do mundo
humano + teoria do conhecimento histórico + teoria
do método histórico)

 1974 -1989 Professor na Universidade de Bochum , na


U. de Berlim e na U. de Braunschweig

 Professor emérito da Universidade de Bielefeld (1989-


1997), no estado alemão da Renânia do Norte-
Vestfália, onde sucedeu na cátedra a Reinhardt
Koselleck e presidiu o Instituto de Pesquisas
Interdisciplinares
Jörn Rüsen historiador alemão,
nasceu em Duisburgo em 1938  Presidiu, de 1997 a 2007, o Instituto de Altos Estudos
em Ciências da Cultura (Kulturwissenschaftliches
Institut) na cidade de Essen.
 É professor na Universidade de Witten desde 1997.
RÜSEN, Jörn. "O desenvolvimento da competência narrativa na aprendizagem
histórica: uma hipótese ontogenética da consciência moral"

 Consciência histórica >>> conceito polissêmico

 Consciência histórica -temporal questiona:

 Quanto há de passado em nosso presente / futuro? Em que


medida o futuro está comprometido pelas ações dos agentes
históricos do passado/presente?

 O passado não é imóvel; fixo; distante de nós


 Articula memória & identidade; relação intergeracional
Rüsen formula um conceito de Consciência
histórica como capacidade cognitiva humana de
pensar-se no tempo, temporalidades, avaliando as
relações passado-presente e futuro - característica
antropológica

Autoconhecimento >> saber-se na temporalidade

&

Reflexão >> Interpretação da Existência


Implicações para o fazer e o ensinar história
Presente como
Tradição / lições do passado
Negação / crítica do passado
Inovação / Possibilidades

O que aconteceu em 1803?


- Como eu poderia saber?
- O que aconteceu em 1716?
- Quem se importa?
- O que aconteceu em 1601?
- Como eu poderia saber?
- Porque você não sabe
nenhuma destas datas?
- Eu não estava envolvida.
 Interpretar as mudanças em si e do/no mundo com o intuito
de compreender e agir sobre elas (agencia histórica)
 Passado móvel/novo - imagem muda com o “uso” que
fazemos dele

Experiência
do passado

Expectativas
Expectativas
de futuro
/ Futuro
Interpretada
no presente
no início do processo do conhecimento histórico está a carência de orientação da vida
prática. [...] o conhecimento histórico é disparado pelas experiências da divergência
temporal e precede toda pensabilidade científica, a que serve de fundamento. Não se pode
compreender o tipo de pensamento histórico que é especificadamente científico sem
considerar a sua inserção no contexto da cultura histórica de seu tempo. Desse contexto
emergem as questões fundamentais da orientação temporal e da identidade, que a ciência
histórica responde à sua maneira. A ciência depende da posição assumida pelas historiadoras
e historiadores profissionais perante os acontecimentos do tempo de seu respectivo presente.
Essa dependência nem de longe resolve antecipadamente o que ela faz das carências de
orientação, a partir das quais se pensa historicamente. Como ela lida com elas, é assunto de
uma forma própria de pensar, justamente a científica. Com essa forma o conhecimento
histórico se desvincula da vida prática de que emerge e cujo impulso para a interpretação do
passado está incorporado a si. Nesse processo, o conhecimento transforma as carências
históricas de orientação em interesses do conhecimento. A cientificidade do pensamento
histórico baseia-se nesse processo evolutivo [...] Por mais que a história como ciência
especializada se entenda com um “empreendimento” que parece subsistir por conta própria,
não se pode negar que esse empreendimento não existiria, se não fosse constituído pelas
carências de orientação de seu contexto. (RÜSEN, 2015, p.75-76.)
Consciência histórica - J. Rüsen

 Condição cognitiva de orientação temporal para o ser


humano.

 Ciência histórica (com seus temas/problemas, procedimentos


e intepretações) tem o papel de ampliar a compreensão
histórica da realidade (experiência passada e presente) por
meio da racionalidade (pensamento histórico), em diálogo
permanente com as necessidades do tempo (espaço)
presente

 Ciência histórica é uma forma de qualificar a


experiência temporal de forma complexa
 Método
 Análise/reflexão
 comunicação
 Conceito de consciência histórica é uma “resposta”
à crise da modernidade e da racionalidade na
ciência histórica

 Para Rüsen, a ação intencional só é possível sob


uma interpretação da experiência temporal
(pessoal e coletiva)

 Ação (práxis) ocorre mediante objetivos e significação

 Portanto, a aprendizagem histórica é um processo de


apreender como a História questiona o passado, quais
os seus procedimentos, vocabulário/linguagem,
conceitos e significados elaborados a partir de
evidências (o trabalho com as fontes)
A consciência histórica é a suma das operações mentais com as quais
os homens interpretam sua experiência de evolução temporal de seu
mundo e de si mesmos de forma tal que possam orientar,
intencionalmente, sua vida prática no tempo. ( Rüsen, 2001)

Operações
mentais

pensar
historicamente
problematizar
(identificar/questionar)
agir
intencionalmente

comunicar explicar
(narrativa) (analisar e argumentar com
base em fontes/evidência)

Interpretar
(atribuir significados / construir sentidos
de orientação)
• A consciência histórica mistura "ser" e "dever" em uma
narração significativa que refere acontecimentos passados
com o objetivo de fazer inteligível o presente, e conferir uma
perspectiva futura a essa atividade atual. Desta forma, a
consciência histórica traz uma contribuição essencial à
consciência ética moral. ¨(Rüsen, 1992)

Subjetividade

orientação

vida prática
A forma linguística dentro da qual a consciência histórica realiza
sua função de orientação é a da narração. A partir desta visão,
as operações pelas quais a mente humana realiza a síntese
histórica das dimensões de tempo simultaneamente com as do
valor e da experiência se encontram na narração: o relato de
uma história. Uma vez explicadas a forma narrativa dos
procedimentos da consciência histórica e sua função como
meio de orientação temporal, é possível caracterizar a
competência específica e essencial da consciência histórica e
sua função como meio de orientação temporal...(Rusen, 1992)

Orientação
temporal

Experiência Interpretação

Competência
narrativa
Elementos / Dimensões da
aprendizagem histórica
 Experiência – aprender história é ampliar a experiência
com o passado, compreendendo-o como
qualitativamente diferente do presente e que pode
ser reconstruído (método) a partir de necessidades,
indagações e lutas do presente.

 Interpretação – aprender história é atribuir


significados aos fatos históricos e integra-los em
processos compreensíveis; atribuir sentido; apreender
conceitos por meio de análise objetiva e reflexões
subjetivas na elaboração de questionamentos e
argumentações.

 Orientação – aprender história é dominar o


tempo, situando a vida na relação passado-
presente-futuro, localizando acontecimentos no
passado e estabelecendo relações entre diferentes
fatos e seus agentes. Orientar-se no tempo a partir
da historicidade envolve processos de
autoconhecimento (identidades) e significação do
mundo social. (ação/representação)
 A ....” narração tem a função geral de servir para orientar
a vida prática no tempo. Mobiliza a memória da
experiência temporal, desenvolvendo a noção de um
todo temporal abrangente, e confere uma perspectiva
temporal interna e externa à vida prática.
 Quatro formas diferentes, baseadas em quatro princípios
distintos para a orientação temporal da vida:

a afirmação das a regularidade dos


orientações modelos culturais e
dos modelos de
dadas vida
(mestra da vida)

a negação dos a transformação


modelos de dos modelos de
vida/orientações vida/ orientação
do passado .
Processo de aprendizagem como processo de formação
da consciência histórica assume 4 formas/tendências de
atribuição de sentido de orientação temporal

Sentidos pré-modernos
 Tradicional Consolidam narrativas
lineares do tempo, história
 Exemplar
mestra da vida. Formas não-
científicas de lidar com o
passado

Sentidos modernos
Narrativas que questionam o passado,
 Crítico rompem com interpretações
absolutas, estabelece relações
 Genético passado-presente fundamentadas em
narrativas complexas, temporalidade
não linear, compromisso com as lutas
do presente, consequências para o
futuro.
Seis elementos da consciência histórica externam os princípios
de modulação de sentidos à experiência do tempo é
dominante nos sujeitos, produções históricas individuais
(historiografia) e coletivas (cultura histórica):

 1) seu conteúdo, ou seja, a experiência dominante do


tempo, trazida desde o passado;
 2) as formas de significação histórica, ou as formas de
totalidades temporais,
 3) o modo de orientação externa, especialmente em
relação às formas comunicativas da vida social;
 4) o modo de orientação interna, particularmente em
relação à identidade histórica como a essência da
historicidade no conhecimento da personalidade humana
e a autocompreensão;
 5) a relação de orientação histórica com os valores morais;
 6) sua relação com a razão moral
QUADRO 1 - OS QUATRO TIPOS DE CONSCIÊNCIA DA HISTÓRIA
TRADICIONAL EXEMPLAR CRÍTICA GENÉTICA
Variedade de casos Desvios Transformações dos
Origem e repetição de
Experiência do representativos de regras problematizadores dos modelos culturais e de
um modelo cultural e de
tempo gerais de conduta ou modelos culturais e de vida alheios em outros
vida obrigatória
sistemas de valores vida atuais próprios e aceitáveis
Formas de Permanência dos Desenvolvimento nos
Regras atemporais de Rupturas das totalidades
modelos culturais e de quais os modelos culturais
significação vida social. Valores temporais por negação
vida na mudança e de vida mudam para
histórica atemporais de sua validade
temporal manter sua permanência
Afirmação das ordens Relação de situações Aceitação de distintos
Delimitação do ponto de
preestabelecidas por particulares com pontos de vista em uma
Orientação da vista próprio frente às
acordo ao redor de um regularidades que se perspectiva abrangente
vida exterior obrigações
modelo de vida comum e atêm ao passado e ao do desenvolvimento
preestabelecidas
válido para todos futuro comum
Mudança e
Relação de conceitos transformação dos
Sistematização dos próprios a regras e conceitos próprios como
Autoconfiança na
Orientação da modelos culturais e de princípios gerais. condições necessárias
refutação de obrigações
vida interior vida por imitação – role- para a permanência e a
playing Legitimação do papel por externas – role-playing
generalização autoconfiança
Equilíbrio de papéis
A moralidade é um Temporalização da
conceito preestabelecido A moralidade é a moralidade. As
de ordens obrigatórias; a Ruptura do poder moral
Relação com os generalidade da possibilidades de um
validade moral é dos valores pela negação
valores morais obrigação dos valores e desenvolvimento posterior
inquestionável. de sua validade
dos sistemas de valores se convertem em uma
Estabilidade por tradição condição de moralidade
A razão subjacente aos A mudança temporal se
Argumentação por
valores é um suposto Crítica dos valores e da converte em um
Relação com o generalização, referência
efetivo que permite o ideologia como estratégia elemento decisivo para a
raciocínio moral a regularidades e
consenso sobre questões do discurso moral validade dos valores
princípios
morais morais
Aprendizagem Histórica – mobilizações / processos mentais
frente às experiências humanas no passado e no presente
Referências

 RÜSEN, Jörn. "O desenvolvimento da competência narrativa na


aprendizagem histórica...." In Schmidt, Barca e Martins (org)
Jörn Rüsen e o ensino de História. UFPR. 2010

 RÜSEN, Jörn. Aprendizagem histórica : esboço de uma teoria. In


Aprendizagem histórica – fundamentos e paradigmas. Curitiba:
W.A. editores, 2012. (cap. 3 – pp.69-112)

 Rüsen, J. A Função da Didática da História: A relação entre a


Didática da História e a (meta) História. In: SCHMIDT.Maria
Auxiliadora; MARTINS, Estevão de Resende Martins (orgs).
Rüsen, Jörn. Contribuições para uma teoria da Didática da
História. Curitiba: W. A. Editores Ltda., 2016.

Você também pode gostar