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REVISTA DO SERPRO

ANO XXXIX N° 229 ⋅ 2015

Segurança
pública integrada
Governo investe em tecnologia para
melhorar o combate ao crime e o
atendimento à população

Quartzo: dados Central de Compras i­Educar


como serviço Aquisição compartilhada gera Executivo sanciona a “Constituição
Serpro revoluciona o acesso às economia de recursos para da Internet”. Conheça os direitos
grandes bases de dados o governo federal e deveres do internauta
ANOS

pau ta d a p o r d e s a f i o s
REVISTA TEMA
A Revista do Serpro
ANO XL
Nº 229 •MAI/JUN • 2015
ISSN 0100­5227
Título depositado no INPI,
sob nº 01125

Foto: Arquivo Serpro


Tecnologia a serviço de
A revista não se responsabiliza por artigos e opiniões
assinadas. As matérias podem ser reproduzidas, desde que
mencionada a fonte.
Coordenação Estratégica de

uma segurança integrada


Comunicação Social do Serpro (Cecom)
Valeria Silva ­ valeria.silva@sepro.gov.br
Editora­executiva
Lea Cunha ­ lea.cunha@serpro.gov.br
Chefe de Reportagem

A
Ana Lúcia Carvalho ­ ana­lucia.carvalho@serpro.gov.br
Reportagem
matéria de capa desta edição da revista Tema mostra a complexidade que é
Aldo Maranhão, Alexei Kalupniek, Leonardo Barçante, fazer a segurança pública no Brasil, pois nosso país tem uma população
Loyanne Salles, Regina Faria, Tanis Serra, Tiago Arrais, Vanessa
Borges e Victor Freire imensa e uma dimensão continental. Além disso, existe grande diversidade
Editor de Arte
André Moscatelli
técnica e econômica entre suas unidades federativas, disparidade que se re­
Programação Visual e Diagramação flete diretamente nas instituições que atuam nessa área. É possível, porém, por meio da
André Menezes, Demian Pontes,
Edno Junior e Rômulo Geraldino
tecnologia, fazer uma melhor gestão dos diferentes sistemas de estados e municípios, a
Revisão fim de que se produzam estatísticas de segurança pública a partir de dados gerados de
Henri Couto
Fotografia
forma segmentada e sem padronização.
Arquivo Serpro Para colaborar com essa missão, apresentaremos o Sistema Nacional de Informações de
Diretor­presidente
Marcos Vinícius Ferreira Mazoni
Segurança Pública, Prisionais e sobre Drogas (Sinesp), solução desenvolvida pelo Serpro
Diretora­superintendente para a Secretaria Nacional de Segurança Pública do Ministério da Justiça. Ele representa a
Glória Guimarães
Diretores
construção de um grande pacto no alinhamento de metodologias de coleta e divulgação
Antônio João Parera, André de Cesero, Antônio Luiz Fuschino, de dados neste importante assunto. Conheceremos alguns dos módulos que integram o
Fernando Garrido e Robinson Margato
Conselho Diretor
Sinesp, sistema que está integrado a bases como as do Denatran, Receita Federal e aos sis­
Alexandre Motta (MF), Ernani César e Silva Cabral (MF), Iêda temas estaduais.
Aparecida de Moura Cagni (MF), Marcos Mazoni (Serpro),
Nazaré Lopes Bretas (MP), Nerylson Lima da Silva (MF) e Na seção Entrevista, podemos contar um pouco mais do trabalho realizado pelo Minis­
Raimundo José Rodrigues da Silva (MF)
Conselho Fiscal
tério da Justiça, na voz de seu secretário­executivo Marivaldo de Castro Pereira. Ele conver­
Clício Luiz da Costa VIeira, Stela Maris Monteiro Simão, Nina sou com a revista Tema e falou sobre as prioridades em relação à gestão da pasta, além de
Maria Arcela, Maria D'Arc Lopes Beserra, Priscila de Souza
Cavalcante, Sarah Tarsila Araújo da Silva toda a estruturação que vem sendo feita para que as expectativas sejam alcançadas.
Conselho Editorial Conheceremos, ainda, na seção Software Livre, um sistema que utiliza a placa micro­
Robinson Margato, Deivi Kuhn, Corinto Meffe, Eunides Maria
Leite Chaves, Evandro Fazendeiro de Miranda, José Roberto controladora Arduino e o software de voz sobre IP Asterisk, ambos tecnologias livres. A no­
Alves Cabral, Lea Cunha Bastos, Marcos Benjamin Silva, Paulo
Afonso Volpe Weyne e Roberto Akira Osumi vidade foi criada por uma pequena empresa no Nordeste brasileiro que passou a fornecer
Endereço
Sede: SGAN, Q. 601, Módulo V ­ 70836­900 ­ Brasília / DF
um serviço inovador que permite que moradores e síndicos de condomínios de aparta­
Tel: (61) 2021­8181 – Fax: (61) 2021­8531 mentos controlem remotamente funções como a abertura de portões e o acendimento de
Regionais do Serpro
• Brasília – Av. L2 Norte – SGAN, Quadra 601, Módulo G,
luzes, atividades que demandavam obrigatoriamente deslocamentos físicos.
70830­900 – Tel. (61) 2021­9000 Já a Central de Compras e Contratações, assunto de outra matéria desta edição, explica
• Belém – Av. Perimetral da Ciência, 2.010, Bairro Terra Firme,
66077­830 – Tel. (91) 3216­4008 como o governo federal passou a centralizar a aquisição e contratação de bens e serviços
• Fortaleza – Av. Pontes Vieira, 832, São João do Tauape,
60130­240 – Tel. (85) 4008­2848 de uso comum aos órgãos da administração direta do Poder Executivo. A solução, desen­
• Recife – Av. Parnamirim, 295. 52060­901 Tel. (81) 2126­4010
• Salvador – Av. Luís Vianna Filho, 2355, Bairro Paralela, volvida pelo Serpro, foi criada com o objetivo de obter maior eficiência no gasto público,
41130­530 – Tel. (71) 2102­7800
• Belo Horizonte – Av. José Cândido da Silveira, 1.200,
padronizar procedimentos e melhorar o controle e a fiscalização das compras federais.
Cidade Nova, 31035­536 – Tel. (31) 3311­6200 Neste número, também, a seção Infográfico mostra como é um centro de dados por
• Rio de Janeiro – Rua Pacheco Leão, 1.235, Jardim Botânico,
22460­905 – Tel. (21) 2159­3300 dentro, com suas camadas de segurança, suas principais características físicas, como funci­
• São Paulo – Rua Olívia Guedes Penteado, 941, Socorro,
04766­900 – Tel. (11) 2173­1322 ona a entrada e saída de informações, entre outras curiosidades sobre essas verdadeiras
• Curitiba – Rua Carlos Piolli, 133, Bom Retiro, fortalezas da tecnologia.
80520­170 – Tel. (41) 3313­8430
• Florianópolis – Rodovia José Carlos Daux (Sc 401) Km 01, Boa leitura!
Nº 600, Edifício Alfama, 2º andar, Bairro João Paulo,
88030­911 ­– Tel. (48) 3231­8900
• Porto Alegre – Av. Augusto de Carvalho, 1.133,
Cidade Baixa, 90010­390 – Tel. (51) 2129­1287
TIRAGEM: 6 mil exemplares
DISTRIBUIÇÃO GRATUITA
Esta revista é produzida com o uso de ferramentas livres.
SUMÁRIO

Segurança
pública
integrada
Governo investe em
tecnologia para melhorar o
combate ao crime e o
atendimento à população

16

28 30
Inventar é fácil,
difícil é inovar
Criar produtos que dão certo
continua sendo um desafio

Impressão 3D
Livre
Tecnologia tem se
beneficiado dos princípios
da filosofia “open source”
Governo digital
renovado
Brasil se inspira em boas
práticas internacionais de i-Educar
e-gov para modernizar a Sistema facilita gestão escolar
relação com o cidadão de municípios

10 26

6 - Entrevista
34 Secretário-executivo do Ministério da Justiça fala sobre as
prioridades do governo para a gestão do órgão
Centro de
dados 8 - História
Infográfico mostra como Retrospectiva de três décadas de avanços da informática
funciona esse espaço de brasileira
armazenamento

9 - Opinião
José Maria Leocádio fala sobre Governança de TI em empresas de
tecnologia

14 - Quartzo
Tecnologia revoluciona acesso às bases de dados do governo

40 - Software Livre
Arduino e Asterisk são utilizados para automação predial
ENTREVISTA

MODERNIZAÇÃO E
SIMPLIFICAÇÃO DOS
PROCESSOS PARA
PARTICIPAÇÃO E
TRANSFORMAÇÃO
SOCIAL
Foto: Ministério da Justiça

ENTREVISTADO MARIVALDO DE CASTRO PEREIRA

Marivaldo de Castro Pereira tem uma história de vida marcada por muitas Voltando para Brasília, no ano de 2005, foi secretário parlamentar na
conquistas. Nascido em Brasília, é de uma família humilde que foi tentar Câmara dos Deputados. Desempenhou posteriormente o cargo de diretor
a vida em São Paulo. Enquanto menino, precisou trabalhar cedo, desde os do Departamento de Política Judiciária, da Secretaria de Reforma do Ju­
nove anos de idade. Estudou sempre em escolas públicas e sua vontade diciário do Ministério da Justiça. Foi, ainda, subchefe adjunto de Assun­
de politizar o mundo traçou o seu caminho. É bacharel em Direito pela tos Jurídicos da Casa Civil da Presidência da República. Depois passou a
Universidade de São Paulo e mestre em Direito Processual Civil também exercer a função de secretário de Reforma do Judiciário e também de se­
pela USP. Em sua vida acadêmica, envolveu­se com política estudantil e cretário de Assuntos Legislativos, no Ministério da Justiça. Em 2014,
com o movimento de moradia. Começou sua carreira na área política co­ chegou à posição que ocupa hoje, sendo nomeado secretário­executivo
mo assessor parlamentar na Câmara Municipal de São Paulo. do Ministério da Justiça.

TEMA Quais são as prioridades do governo federal em relação à ges­


tão do Ministério da Justiça?

MARIVALDO Nossa prioridade é a modernização e simplificação dos pro­ Nossa prioridade é a


cessos, adotando novas tecnologias, reduzindo prazos, aumentando a trans­ modernização e
parência e, principalmente, potencializando as entregas ao cidadão.
simplificação dos
TEMA Como o Ministério está se estruturando para cumprir essas processos, adotando
expectativas? Quais são os principais projetos? novas tecnologias,
MARIVALDO O Ministério vem se esforçando para adotar novas tecnologi­
reduzindo prazos,
as capazes de reestruturar seus procedimentos e de aprimorar as políticas pú­
aumentando a
blicas. Entre eles, podemos destacar a adoção do Sistema Eletrônico de Infor­ transparência e,
mações (SEI), sistema de processo eletrônico implementado desde o dia cinco principalmente,
de janeiro e que acabou com a tramitação de processos físicos no âmbito do potencializando as
Ministério. Da mesma forma, estamos em fase final de elaboração do Sistema
Nacional de Informações de Segurança Pública (Sinesp), um sistema desenvol­
entregas ao cidadão
vido em parceria com o Serpro e que unificará as bases de dados de segurança
pública de todo o país.

6 MAI/JUN 2015
Estamos desenvolvendo, ainda, o Sistema de Informações do Departamento Peniten­
ciário Nacional (Sisdepen), também em parceria com o Serpro, que busca integrar as bases
de dados do sistema penitenciário em todo o país. Por fim, é importante destacar também A tecnologia pode
nossa plataforma consumidor.gov.br, uma ferramenta desenvolvida pela Secretaria Nacional
de Defesa do Consumidor que vem promovendo uma verdadeira revolução na relação en­
facilitar a elaboração
tre consumidor e empresas, possibilitando a resolução de milhares de conflitos sem a ne­ e implementação de
cessidade de judicialização. Em um ano de funcionamento, já registramos mais de 103 mil políticas públicas,
reclamações e contamos com mais de 110 mil usuários cadastrados e 247 empresas cre­ aumentar a
denciadas nessa plataforma.
transparência, ampliar
TEMA Quais são as prioridades do Ministério para os próximos anos? o acesso a
informações e,
MARIVALDO A implementação de um Pacto Nacional pela Redução de Homicídios ca­ principalmente,
paz de mudar o quadro da violência em nosso país. Acreditamos que a melhoria da gestão
dos órgãos de segurança pública, a integração de políticas de segurança com políticas so­
aumentar a
ciais e o empenho de toda a sociedade são fundamentais para reverter essa situação. Pre­ participação e a
cisamos integrar os diversos poderes e governos e unir forças com a sociedade para inter­ transformação social
romper esse processo, cujo resultado tem sido a perda da vida de milhares de jovens, em
sua maioria negros e moradores das periferias das grandes cidades.

TEMA Como a tecnologia pode contribuir em temas como combate às drogas, à


corrupção e com a segurança pública?

MARIVALDO A tecnologia pode facilitar a elaboração e implementação de políticas


públicas, aumentar a transparência, ampliar o acesso a informações e, principalmente, au­
mentar a participação e a transformação social.

TEMA Que medidas devem ser tomadas a curto prazo sobre a gestão da tecno­
logia do ministério?

MARIVALDO Precisamos consolidar nossa estrutura de TI para conseguirmos fazer


frente aos desafios que nos são colocados diariamente. Para isso, a realização de parcerias
é fundamental. A integração entre os diversos órgãos públicos é peça chave para a troca
de conhecimento e redução dos custos necessários para a consolidação de uma área de TI
capaz de fazer frente aos enormes desafios que temos.

TEMA Que expectativas o órgão tem em relação aos serviços disponibilizados


pelo Serpro?

MARIVALDO Muito grande, uma vez que a empresa é nossa principal parceira e res­
ponsável pelo desenvolvimento dos dois sistemas estruturantes mais importantes para o
desenvolvimento das políticas do Ministério.

TEMA Qual sua avaliação sobre o Portal Sinesp para o segmento de segurança
pública do Brasil?

MARIVALDO Trata­se de uma ferramenta imprescindível para a orientação e formula­


ção da política de segurança pública. O Sinesp permitirá a integração das diversas forças Aplicativo Sinesp Cidadão é um
de segurança pública, aumentando a eficiência de sua atuação. Com o Sinesp, as ações de dos produtos da pareceria entre o
segurança pública poderão ser melhor planejadas e direcionadas. Ministério da Justiça e o Serpro.

MAI/JUN 2015 7
HI STÓRI A

Retrospectiva
Conheça os registros dos avanços da informática brasileira
e a busca do Serpro por desafios dentro de sua história

HÁ HÁ HÁ

30ANOS
20ANOS
10ANOS
Na edição de maio de 1 985, a revista Tema deu Grandes empresas de informática, em 1 995, vol- Na edição de junho de 2005, o destaque foi o
destaque ao videotexto, tecnologia de acesso a taram-se para o Brasil, mercado em desenvolvi- modelo do passaporte brasileiro. O Serpro rece-
bancos de dados, com estrutura comercial, que mento e com uma política de incentivo à importa- beu a missão de encontrar a melhor solução tec-
começava sua disseminação no Brasil. São Paulo ção e produção local. Duas grandes indústrias de nológica para viabilizar e modernizar os sistemas
foi o polo-piloto para a realização das experiên- micros mundiais – IBM e Compaq – e mais 200 do documento de viagem. Na cor azul, o passa-
cias com esse sistema simples, barato e eficiente empresas de informática instalaram-se no país. porte ganhou 20 dispositivos de segurança, como
que por meio da rede telefônica pública, permitia Como prestador de serviços no governo, o Serpro criptografia, tarja magnética, foto digitalizada,
ao usuário selecionar e acessar os mais diversos quis também uma participação nesse mercado e de acordo com as normas internacionais de segu-
tipos de informações e gerar suas próprias bases deu início ao projeto de implantação da rede cor- rança, tornando sua falsificação praticamente
de dados. O Serpro não ficou de fora e deu início porativa do Ministério da Fazenda, resultando no impossível. Entrou em vigor, em janeiro de 2006,
ao estudo de implantação da tecnologia do ser- programa de modernização da administração pú- e contou com a parceria da Casa da Moeda do
viço em um nível doméstico. blica federal. Brasil e da Polícia Federal.

Memória
Visual
Serpro
Década de 2000
Em 2000, o Serpro foi a primeira
instituição autorizada pelo ITI a operar
como Autoridade Certificadora e de
Registro na Infraestrutura de Chaves
Públicas Brasileira – ICP Brasil.

8 MAI/JUN 201 5
OPINIÃO

Governança de TI
em empresas de
tecnologia

M
JOSÉ MARIA LEOCÁDIO
Coordenador de Tecnologia do Serpro

udança programada. Essa frase faz par- de TI além da segurança da informação. Para que essa
te do cotidiano de muitos profissionais governança mostre valor, alguns pilares necessitam de
de TI ao redor do mundo. No entanto, atenção: arquitetura corporativa, gestão de portfólio, ges-
empresas de tecnologia são obrigadas, tão de projetos e gestão de riscos da informação.
por necessidade de negócio, a cada vez mais ampliar o A solicitação de clientes pela utilização de métodos
seu vocabulário e acrescentar no dia a dia frases como ágeis, e a necessidade constante de a empresa eliminar
"entrega contínua". "Mudança programada" e "entrega perdas, traz à governança de TI um pensamento mais en-
contínua" são exemplos inequívocos de que a inovação xuto (lean) com a qualidade passando a ser medida du-
tem impacto muito grande nas empresas do setor de rante todo o ciclo de vida de tecnologia e não apenas em
tecnologia, muito mais do que em empresas de outros determinados pontos de controle para verificação de arte-
setores. Inovações disruptivas fatos. O ciclo de vida de tecnologia
podem simplesmente inviabilizar do Serpro possui cinco fases: análi-
modelos de negócio consagra- A governança de TI se, prospecção, internalização, sus-
dos como no caso do armaze- determina como é feita a tentação e declínio. A execução
namento em nuvem que substi- decisão sobre as dessas fases auxilia a gestão de TI, já
tuiu o armazenamento local. demandas e as entregas que permite verificar as atividades
É importante reconhecer que, de TI além da segurança de pesquisa, aquisição, capacitação
em empresas de tecnologia, da informação. Para que essa e implantação de tecnologias no
"governança de TI" e "gestão de governança mostre valor, alguns ambiente corporativo. Por consoli-
TI" são frequentemente utilizadas pilares necessitam de atenção: dar essas informações para a toma-
como sinônimos. No entanto, arquitetura corporativa, gestão de da da melhor decisão, o ciclo de vi-
uma das maneiras de diferenciá- da de tecnologia é um dos princi-
las consiste em especializar a portfólio, gestão de projetos e gestão pais mecanismos da governança de
"governança" como um olhar de riscos da informação TI da Empresa.
externo à empresa que visa ga- Como um prestador de serviços
rantir que os processos e estrutura organizacionais sirvam de tecnologia, o Serpro busca práticas estratégicas de go-
para o provimento de valor aos clientes. Já a "gestão" é vernança de TI que permitam a convivência com os even-
algo interno à empresa cujo objetivo é garantir que os tos de disrupção tecnológica tão impactantes nos modelos
processos e estrutura estejam implementados com efetivi- de negócio. Seguramente há muito mais inovação tecno-
dade. lógica sendo criada fora da empresa do que dentro e as-
Assim, a governança de TI, academicamente conhecida sim a governança de TI tem um papel fundamental ao cri-
como governança de engenharia de sistemas, determina ar os mecanismos de decisão para a melhor escolha tec-
como é feita a decisão sobre as demandas e as entregas nológica que atenda ao seu negócio.

9 MAI/JUN 201 5
GOVERNO DI GI TAL

GOVERNO DIGITAL
E INOVADOR
Em todo o mundo, são cada vez mais presentes práticas para desburocratizar a máquina pública,
expandir os serviços públicos on­line e as formas de interação com o cidadão. Saiba mais sobre
essas novidades.
TEXTO VANESSA BORGES
DESIGN EDNO JUNIOR

A
o longo dos anos, uma pessoa passa por diferentes es­ buição e interpretação de informações pelo indivíduo e poder pú­
tágios. Primeiro, é claro, tem seu nascimento, depois blico. Existe a proposta da e­participação, que preconiza a atua­
vem os estudos, o emprego. Essa pessoa pode ainda ção do cidadão na tomada de decisões que melhorem o bem­es­
querer casar, ter filhos, mudar de cidade, viajar para o tar coletivo. E uma quinta prática é a já citada centralização de
exterior, abrir um negócio. No percurso, talvez lide com um divór­ serviços em um único portal.
cio, uma doença, o furto de seu carro, a perda de entes queridos. “Trabalhar com a chamada transparência 2.0 e com a e­partici­
Seja nas situações felizes ou nas difíceis, é preciso o suporte do go­ pação são duas grandes tendências da governança digital”, reforça
verno para que se tenha, por exemplo, a documentação e o aten­ Cristiano Ferri, pesquisador em governança democrática e inovação
dimento necessários para viver com cidadania. E já imaginou se, associado à Universidade de Harvard. “E a ideia de uma central úni­
durante o ciclo de vida, existisse uma plataforma on­line com mais ca de serviços é uma vertente muito clara, pois é uma forma do ci­
de 5.000 serviços públicos, juntos, para ajudar? Pois essa proposta é dadão navegar, sem ter que saber qual é a competência de cada
realidade na Coreia do Sul, um dos países que aparece em desta­ órgão do governo, e simplesmente encontrar o serviço que preci­
que na pesquisa sobre governo eletrônico publicada em 2014 pelas sa”, analisa Ferri, que é ainda idealizador do portal e­Democracia e
Nações Unidas. coordenador do Laboratório Hacker da Câmara dos Deputados. “O
“Temos visto uma evolução nos serviços de governo digital ofe­ Brasil já possui serviços de e­gov, continua crescendo e há muita
recidos por vários países. Fizemos um levantamento, a partir da possibilidade de ampliação. No Serpro, nos inspiramos nos serviços
pesquisa da ONU e uma da universidade japonesa de Waseda, e ofertados pelo mundo para expandir as soluções do país”, comple­
observamos boas práticas em cinco temas ligados a governo aber­ menta Viviane.
to, ou seja, que favorecem a transparência, a colaboração e a parti­
cipação”, ressalta Viviane Malheiros, da Coordenação Estratégica de
Tecnologia, área do Serpro que prospecta tendências.
Além da Coreia do Sul, entre os países mais referenciados nos
quesitos acima estão Japão, Austrália, Canadá, França, Estônia, O Brasil já possui serviços de
Suécia, Nova Zelândia, Estados Unidos, Cingapura, Reino Unido,
Holanda e Finlândia. Neles, estão presentes serviços e sistemas de TI
e­gov, continua crescendo e
que aplicam tendências que estão inovando a relação entre gover­ há muita possibilidade de
no e sociedade: uma delas é a de criar uma autenticação digital
única do cidadão, para propiciar o acesso a variados serviços a par­
ampliação. No Serpro, nos
tir de uma porta de entrada. Outra vertente é a de unir dados dos inspiramos nos serviços
cidadãos em uma só base, para que diversos atores sociais visuali­
zem um mesmo conteúdo – registros sobre a saúde de uma pes­ ofertados pelo mundo para
soa, por exemplo, poderiam ser usados por ela mesma, hospitais,
farmácias, e pelo governo na hora de planejar políticas. Há também
expandir as soluções do país
a forte aposta em dados abertos, que facilitam o uso, reúso, distri­ VIVIANE MALHEIROS

10 MAI/JUN 2015
Para subir mais degraus quena Empresa (SMPE) da Presidência da República, Carlos Leony, no
Dentro da proposta de centralizar serviços encontra­se o precursor Seminário Internacional Brasil 100% Digital, em abril. “Por que não po­
Portal Brasil. “Nele, há o Guia de Serviços Públicos, que aponta as deríamos ser reconhecidos por alguma autenticação digital, seja por
formas de atendimento, presencial ou eletrônico. Há o Guia de Apli­ um mecanismo mais avançado ou uma simples senha? Por que preciso
cativos, que lista os apps disponíveis para download”, lembra Jacimar levar um monte de documentos para provar que sou eu mesmo, se a
Gomes, coordenador de negócios no Serpro, instituição que desen­ tecnologia já permite compartilhar informações?", acrescentou Leony,
volveu e hospeda o portal. no seminário intitulado como primeira iniciativa para redação da
O brasil.gov.br já representa um avanço em e­gov, uma vez que Agenda para o Brasil Digital, que reunirá orientações para que o país se
centraliza links. Mas o governo federal acredita que pode evoluir torne uma nação avançada no uso de tecnologias digitais.
muito mais, indo ao encontro da ideia de um grande portal unificado A Presidência prevê que a base integrada do cidadão – com dados
– com camadas incrementadas de serviços – e das outras tendências biográficos e biométricos, o registro civil nacional e as demais diretrizes
que estão sendo adotadas mundo afora. Para isso, investe no Bem poderão ser concretizadas com apoio de diferentes entes. Entre eles,
Mais Simples, lançado em fevereiro para desburocratizar a máquina está o Serpro. “Temos auxiliado a SMPE na concepção dessa base. E
pública e simplificar o dia a dia de cidadãos e empresas. todo o conceito de e­gov está sendo repensado, já que se buscam in­
“O programa tem cinco diretrizes. A de dar acesso aos serviços tegração total dos governos e apresentação dos serviços ao cidadão
públicos em um só lugar, a de extinguir formalidades que se torna­ em um local único e 100% on­line”, enfatiza Bruno Vilela, da unidade
ram obsoletas com a tecnologia, a de guardar dados do cidadão para que atende a Secretaria.
consultas em uma só plataforma, a de unificar o cadastro e a identi­ Há ainda parceiros como cartórios, Dataprev e Justiça Eleitoral, a
ficação do indivíduo, e a de resgatar a fé na palavra do brasileiro, qual administra o maior cadastro de cidadãos de toda América Latina
substituindo documentos por declarações pessoais”, destacou o se­ – são mais de 143 milhões de eleitores, sendo 24 milhões já identifi­
cretário de Competitividade e Gestão da Secretaria da Micro e Pe­ cados biometricamente.

MAI/JUN 2015 11
Sem muros
Outro investimento nacional são as ferramentas que permi­
tem que pessoas colaborem entre si, e com o governo, para cui­
dar de algo de interesse público. São iniciativas produzidas em
diversos formatos, mas todas com a mesma proposta de partici­
pação digital reconhecida na pesquisa de 2014 da ONU: há um
indicador sobre e­participação no qual o país assumiu o 24°
lugar, tendo evoluído sete posições desde 2012. “Temos canais
como o Participa.br, o e­Democracia, o e­Cidadania. Há o Minis­
tério da Justiça, que faz consultas on­line, e alguns Estados e
municípios que começam a fazer. Precisamos continuar investin­
do nisso que realizamos de bom, para consolidar essa cultura de
participação digital”, acredita o pesquisador Cristiano Ferri.

O futuro do e­gov
Também no documento da ONU, o Brasil aparece na segunda
melhor categoria de classificação, no índice geral sobre e­gov, e
ocupa a 57ª posição, em um ranking com 193 países. Segundo
a ONG Open Knowledge, o país é mais transparente que Esta­
dos Unidos e Alemanha no que se refere à abertura de dados
sobre gastos federais. E no índice geral de dados abertos, da
mesma ONG, está no 26° lugar, entre 97 nações. Já no ranking
de e­gov, com 61 países, feito pela Universidade de Waseda,
encontra­se na 40ª colocação. Cada um dos estudos, é claro,
tem metodologia e recorte diferentes, mas seja como for mos­
tram que o país está no caminho e pode se aprimorar rumo a
um governo cada vez mais digital, moderno e participativo.
“O Brasil é continental. A oferta de serviços on­line pode ser
mais abrangente, a partir de mais acesso à internet, o que até
hoje é uma dificuldade em vários lugares do país. E está bem
posicionado em transparência, mas há muita oportunidade para
aperfeiçoar os níveis desse quesito e permitir que a população
consuma melhor as informações”, exemplifica Viviane, que atua
ainda no Centro de Informações Serpro, inaugurado neste ano
para ajudar a empresa a trazer formas inovadoras de tratar e
disponibilizar dados para governo, empresas e cidadãos. “Esses
índices têm falhas em computar alguns elementos. De qualquer
maneira, modernizar o Estado é algo que pode ser mais forte na
agenda do governo. Temos que investir na inovação, nos agen­
tes públicos e na interação com cidadãos, como os especialistas,
os hackers e a geração de nativos digitais que já possui a cultura
da abertura e do compartilhamento, o que contamina positiva­
mente a burocracia. Estamos evoluindo, mas podemos avançar
bastante”, completa Ferri.

Opinião em consultas, petições e debates, integração com redes sociais,


mobilização para construção de leis, fiscalização de gastos e serviços: exercer a
cidadania real, a partir da participação virtual, é possível em interfaces como o e­
Democracia da Câmara, o e­Cidadania do Senado, e o Participa.br, desenvolvido
pelo Serpro para o governo federal

12 MAI/JUN 2015
QUARTZO

QUARTZO :
dados como serviço
Tecnologia Serpro revoluciona o acesso às grandes bases de dados do
governo federal, na expectativa que informações qualificadas resultem
em políticas ainda mais eficazes
TEXTO LOYANNE SALLES
DESIGN DEMIAN PONTES

O
relacionamento entre Estado e cidadão passa cada O padrão hoje é que se uma instituição deseja ter acesso aos
vez mais pela internet, o que aumenta a concen­ dados brutos de seu sistema, deve solicitá­los ao Serpro. A extra­
tração de dados na rede. Transformar dados em ção é realizada por apurações especiais ou envio da cópia da base
informações é uma das principais dificuldades das de dados. “A prática sobrecarrega as áreas de desenvolvimento e
instituições públicas e as razões são inúmeras: vão produção e nem sempre é possível entregar o dado com a tem­
desde a extração até a compreensão do que está sendo gerado. pestividade necessária devido a demandas prioritárias de evolução
Solucionar o problema de extração e qualificar esse ciclo é a pro­ e manutenção do sistema”, pontua Ádria.
posta do Quartzo, novo produto do Serviço Federal de Processa­ Com a idealização desse produto, o Serpro transformou e evoluiu
mento de Dados (Serpro), lançado oficialmente em junho deste ano. o processo. A partir dele, o cliente que contratar o Quartzo, poderá
O Quartzo é um serviço que viabiliza o acesso aos dados on­li­ ter acesso aos dados que estão armazenados na empresa de forma
ne de forma segura e auditável. “O sistema disponibiliza bancos ágil e independente e, inclusive, pode autorizar outras instituições a
de dados virtuais por meio de barramento e apresenta os meta­ fazerem o mesmo. A atualização das informações dependerá da
dados em um catálogo”, explica Ádria Ferreira, gestora do projeto periodicidade acordada em contrato. “Em alguns casos, é possível
na empresa. Além da facilidade de visualização, ele permite a au­ manter o acesso à base de dados em tempo real”, indica a gestora.
tenticação e a autorização de usuários em sua plataforma, ativi­
dades cobradas de acordo com a utilização contratada. Compreender e distribuir a informação
Inspiração para o desenvolvimento do produto, o Ministério do
Foto: Arquivo Serpro
Planejamento, Orçamento e Gestão (MP) utiliza o Quartzo desde
o término da prova de conceito da solução. Plínio Sales, gerente
do projeto no MP, diz que a expectativa é desenvolver novas apli­
cações com esses dados. “O Quartzo proporcionará ao Ministério
maior efetividade no uso das informações dos sistemas estrutu­
rantes. As áreas gestoras passam a ter, à disposição, soluções de
apoio à tomada de decisão, de avaliação e de garantia da trans­
Ádria Ferreira: parência e acesso à informação”, comemora.
com o Quartzo é “A produção de informação é importante, mas a distribuição é
possível manter o tão importante quanto”, sentencia Carlos Leony, secretário de
acesso à base de Competitividade e Gestão da Secretaria de Micro e Pequena Em­
dados em tempo real presa (SMPE). Para ele, ter uma informação exclusiva é tão ruim
quanto não tê­la. “Toda solução que melhore a distribuição já é
bem­vinda, mas o Quartzo ainda agrega muitas vantagens”, analisa.
A SMPE está prestes a assinar o contrato de adesão da ferramenta.

14 MAI/JUN 2015
O secretário explica que, para eles, é
importante evoluir do dado bruto e passar
a consumi­lo já modelado. No caso da
SMPE, uma base primordial é a do Cadas­
tro Nacional de Empresa (CNE). Carlos
conta que muitas organizações são de­
pendentes do cadastro, como Banco Cen­
A produção de
tral, Ministério do Turismo, Controladoria
Geral da União (CGU), entre outros.
informação é importante,
“Hoje, nós distribuímos bases de dados,
mas não sabemos como eles são trabalha­
mas a distribuição é tão
dos, a partir de quais valores semânticos
ou até mesmo se as instituições conse­
importante quanto
guem alcançar seus objetivos”, revela. Mas
CARLOS LEONY
após contratar a solução, a SMPE terá
condições de oferecer os relatórios e grá­
Foto: Arquivo SMPE
ficos prontos. “Assim, os órgãos poderão
acompanhar os aspectos que lhes interessam sobre a formação consolidar­se como um centro de informação do governo brasi­
das empresas no Brasil e essas informações poderão pautar políti­ leiro”, analisa Viviane Malheiros, coordenadora do CIS. Para ela, a
cas públicas mais eficientes”, aposta Leony. solução ganha esse peso porque permite aos clientes utilizarem
O Quartzo é a primeira solução do Centro de Informações Serpro dados de seus negócios para gerar informações fundamentais pa­
(CIS). “Ele começa a materializar a visão de futuro do Serpro de ra a tomada de decisão ou integrar soluções.

Como funciona o Quartzo?

proporciona a integração de múltiplas fontes e A autenticação e a autorização de acesso ocorre


O acesso aos dados brutos é feito via interfaces permite que todas elas sejam tratadas como fonte pela tecnologia 389 Directory Server e o catálogo
JDBC (Java Database Connectivity) ou ODBC (Open única ou agrupamentos. “É possível entregar o de metadados é desenvolvido na solução CKAN
Database Connectivity), o que não compromete o dado correto, no formato desejado, em tempo (Comprehensive Knowledge Archive Network). “O
ambiente de produção do sistema de origem e conveniente para qualquer aplicação ou usuário serviço será oferecido em modelo de condomínio,
garante controle e auditagem com segurança. individual por meio de modelos lógicos unificados permitindo a racionalização dos processos e da
Jboss Data Virtualization (JDV) é o coração da de dados sob padrão SQL”, detalha Bruno infraestrutura, mas sem trazer prejuízo para a
solução. Ele provê o barramento de dados, Pacheco, analista de desenvolvimento do Serpro. segurança dos dados”, avalia Pacheco.

MAI/JUN 2015 15
CAPA

Sinesp: tecnologia para a


integração da segurança
pública no Brasil
Complexo de sistemas vai oferecer informações qualificadas
para subsidiar as políticas públicas de segurança do país e
dotar as forças policiais brasileiras com ferramentas
operacionais de última geração.
TEXTO LEONARDO BARÇANTE
DESIGN ANDRÉ MOSCATELLI

16 MAI/JUN 2015
A criminalidade no país está aumentando?
Quais as regiões mais perigosas? Quais
as iniciativas que demonstram melhores
resultados no combate ao crime? Onde
o país deve investir? Qual a real
necessidade de cada estado e município?
Para responder perguntas como essas e dar um
salto evolutivo na gestão da segurança pública no
país, o governo federal instituiu, pela Lei nº 12.681,
de 4 de julho de 2012, o Sistema Nacional de
Informações de Segurança Pública, Prisionais e sobre
Drogas (Sinesp). Muito além de um sistema
informatizado, o Sinesp representa a construção de
um grande pacto nacional no alinhamento de
metodologias de coleta e divulgação de dados em
segurança pública.

RUMO À INTEGRAÇÃO
A segurança pública é uma tarefa complexa para
qualquer nação. No caso do Brasil, esse desafio é
ainda maior, já que o país possui características que
dificultam essa gestão, como sua imensa população,
dimensão continental, além da grande diversidade
técnica e econômica existente entre os estados e
órgãos que atuam nessa área.
No Brasil, explica Regina Miki, secretária nacional
de Segurança Pública do Ministério da Justiça, os
sistemas dos estados e municípios para produção de
estatísticas de segurança pública foram desenvolvidos
de modo segmentado, sem previsão de intercâmbio
das informações ou padronização dos procedimentos
policiais em nível nacional. Tal fragmentação, segundo
ela, tem gerado grande dificuldade para o governo
acompanhar de perto o impacto dos investimentos,
devido à escassez de dados locais e à variedade de
metodologias de produção dessas informações em

MAI/JUN 2015 17
cada região. Se cada lugar tem um jeito próprio de pactuaram como parceiros do Projeto Sinesp,
medir a criminalidade, a junção ou a comparação resultando 27 Termos de Adesão assinados.
entre diferentes índices se torna imprecisa.
Dessa necessidade de obter dados e estatísticas REVOLUÇÃO NOS PROCESSOS
confiáveis surgiu, em 2012, o Sinesp. Seus principais Para se ter uma ideia da revolução que o Sinesp
objetivos, segundo o Ministério da Justiça, são pode gerar em termos de reconhecimento da
subsidiar a realização de diagnósticos sobre realidade da segurança pública no país e da geração
criminalidade; oferecer ferramentas de trabalho ao de inteligência para a gestão do setor, basta dizer que
alcance dos profissionais de segurança pública; e o encaminhamento de dados estatísticos ao governo
promover a integração entre as instituições e seus federal era realizado, até então, por meio do
agentes nas diversas esferas. “É um direito do cidadão preenchimento manual de planilhas com mais de
ter informações atualizadas sobre dados da segurança 2.750 campos. “A automatização e a unificação
pública de seu país, seu estado, sua cidade e seu desses processos aumentam, de maneira imensurável,
bairro. O Sinesp pretende reunir informações a qualidade dos dados a serem ofertados como base
estatísticas de todo o país e disponibilizá­las aos de quaisquer ações estratégicas ou operacionais”,
pesquisadores, gestores públicos e toda a sociedade analisa a secretária nacional de Segurança Pública.
civil”, destaca a secretária. Considerando os agentes de segurança pública de
Em 2013, mais um passo foi dado, com a todo o país como principal público­alvo do complexo
instituição do Conselho Gestor do Sinesp, cuja Sinesp, o Ministério da Justiça contabiliza potenciais
competência é estabelecer procedimentos sobre 600 mil usuários diretos das ferramentas, distribuídos
coleta, análise, sistematização, integração, em mais de 200 instituições autônomas entre si. “O
atualização e interpretação de dados e informações Sinesp subsidia estudos e pesquisas e auxilia na
de segurança pública, do sistema prisional e de tomada de decisões, de modo a direcionar o
execução penal e enfrentamento do tráfico de governo federal em suas políticas de fomento e
drogas ilícitas. Os 26 Estados e o Distrito Federal incentivo, bem como a administração estadual e

Foto: Arquivo Ministério da Justiça

É um direito do
cidadão ter
informações
atualizadas sobre dados
da segurança pública
de seu país, seu estado,
sua cidade e seu bairro.
REGINA MIKI

Regina Miki é secretária nacional de Segurança


Pública do Ministério da Justiça

18 MAI/JUN 2015
Cristina Fiuza (esq)
e Miyuki Abe (dir)
atendem o Ministério
da Justiça no Serpro
municipal. O sistema também distribui conhecimento
às diversas regiões”, explica Regina Miki. Foto: Arquivo Serpro

Ela destaca ainda a modernização que o Sinesp vai


promover nos estados que ainda não informatizaram
todos seus processos. Um exemplo dessa mudança
virá com o Sinesp­PPe (Procedimentos Policiais
eletrônicos), módulo que surgiu a partir da
necessidade de padronizar a coleta de dados no
registro de ocorrências policiais (Boletim de
Ocorrências) e demais procedimentos de polícia É um imenso desafio.
judiciária. “A padronização nacional foi orquestrada
pelo Ministério da Justiça, mediante participação e Primeiro pelo conhecimento
representação das Polícias Civis de cada estado. Tal do negócio, já que a
medida permitiu o desenvolvimento de um sistema de
registro de ocorrências dentro de um padrão nacional segurança pública é um segmento
e que é ofertado sem ônus ao estado que não possui
uma ferramenta própria. O Ministério da Justiça
novo para a empresa. Segundo
disponibiliza a ferramenta e a contrapartida para o porque trouxe muitas tecnologias
Estado é tão somente o envio das informações em
cumprimento à legislação”, detalha a secretária. novas, o que tem provocado no
Serpro muitas iniciativas de pesquisa,
DESENVOLVIMENTO
De acordo com o Ministério da Justiça, toda a além de grandes avanços.
Solução Sinesp está sendo desenvolvida em parceria
MIYUKI ABE
com o Serviço Federal de Processamento de Dados
(Serpro) e mediante participação intensa de todos os
entes federados por meio das diversas instituições
envolvidas e a liderança do Conselho Gestor, previsto
no Decreto nº 8.075/2013.
A manutenção de sistemas de informação com alta possibilitem a não interrupção dos serviços. Neste
performance e disponibilidade 24 horas por dia é contexto, o Serpro possui expertise adquirida na
fundamental para a execução das atividades de atuação em todas as regiões brasileiras, conhecendo
segurança pública. A identificação de um suspeito ou os requisitos necessários a um bom funcionamento de
o acesso a dados de inteligência tem que estar 100% sistemas compostos por pessoas, hardwares e
disponíveis. A comunicação entre os agentes de softwares, que operam nos mais distantes locais do
segurança deve ser inviolável. “O Ministério da Justiça Brasil”, avalia Rogério Carneiro, diretor de Pesquisa,
tem plena convicção que se trata de um projeto Análise da Informação e Desenvolvimento de Pessoal
grandioso e que requer equipes de excelência, que em Segurança Pública no Ministério da Justiça.

MAI/JUN 2015 19
Diretor Rogério
Carneiro, do
Ministério da Justiça
Foto: Arquivo Serpro

Segundo Cristina Fiuza, gerente do Serpro demais Estados. “Outros módulos ainda estão em fase
responsável pelo projeto, o complexo Sinesp é de projeto e a tendência é que as inovações surjam
composto de diversos módulos, cada um deles com sempre para atender as demandas do Ministério da
foco num segmento de negócio relacionada à Justiça”, comenta a gerente.
segurança pública. O desenvolvimento dos módulos é Na opinião de Rogério Carneiro, o Sinesp­CAD é
feito de forma gradual e incremental, utilizando na um outro exemplo da forma modular como o
sua maioria medologia ágil. Muitos dos módulos já conjunto de sistemas é desenvolvido. De acordo com
estão prontos e em fase de implantação como ele, a ferramenta já está disponível para uso com
projeto­piloto. Esse é o caso Sinesp­PPe que está em funcionalidades básicas para uma solução de controle
fase de expansão de implantação no Estado de de atendimento emergencial. Apresenta recursos
Roraima e em breve já poderá ser implantado nos importantes desenvolvidos, tais como a possibilidade

20 MAI/JUN 2015
LISTA DE SISTEMAS
Atualmente, o Sinesp integra-se a bases como a do Denatran, Receita
Federal e Sistemas Estaduais, e conta com 26 módulos, dentre eles:

O Ministério da Justiça tem SINESP­CIDADÃO


É o mais conhecido do complexo Sinesp, tem como público­alvo a população e é utilizado na operaci­
plena convicção que se onalização de procedimentos policiais. Com mais de cinco milhões de downloads, o aplicativo dispo­

trata de um projeto nibiliza consultas em módulos sobre a situação de furto ou roubo de veículos, mandados de prisão e
pessoas desaparecidas. Pelo Consulta Veículo, recebeu mais de 150 milhões de consultas e ajudou na
grandioso e que requer equipes de recuperação de mais de 120 mil veículos furtados ou roubados. Pelo Mandado de Prisão executou
quase 10 mil mandados. E pelo Desaparecidos colaborou para diversas buscas; dos registros de pes­
excelência, que possibilitem a não soas desaparecidas, 125 foram encontradas no período de agosto de 2014 a maio de 2015.
interrupção dos serviços. Neste
O PORTAL SINESP
contexto, o Serpro possui expertise Ferramenta de acesso livre que consolida informações estatísticas, além de serviços do Sinesp­Cida­

adquirida na atuação em todas as dão, possibilitando consultas operacionais, investigativas e estratégicas sobre drogas, segurança pú­
blica, justiça, sistema prisional etc. Sua interface aberta configura­se como uma solução para divulga­
regiões brasileiras. ção de informações sobre segurança pública. A interface logada é o principal ponto de entrada para
todos os sistemas do complexo Sinesp que estão sendo construídos e implantados.
ROGÉRIO CARNEIRO
REDE SINESP
Ferramenta institucional de comunicação e integração entre profissionais de segurança pública, aos
de integração com telefonia IP e o módulo de moldes de uma rede social corporativa. Permite o compartilhamento e discussão contínua de temas
funcionamento off­line, importante para os casos de específicos sobre segurança pública, quebrando barreiras geográficas e temporais.
intermitência ou baixa velocidade de conexão com a
Internet. “Outras etapas estão em fase de SINESP­SEGURO
desenvolvimento. É o caso da integração entre as É uma ferramenta para comunicação segura e em tempo real entre agentes, que permite a troca de
várias instituições que utilizam a ferramenta, arquivos por meio de celulares e computadores, aos moldes de aplicativos como Whatsapp e Tele­
possibilitando o compartilhamento de áreas de gram. O diferencial está na segurança oferecida através de criptografia dos dados e outros recursos,
interesse, o gerenciamento de grandes eventos e, tais como autodestruição de arquivos.
ainda, o aplicativo para tablets e smartphones, que
possibilitará à equipe de campo receber e preencher SINESP­ESTATÍSTICAS
dados de ocorrências para compartilhamento on­line”, Ferramenta de Business Inteligence disponibilizada aos Estados e Municípios conveniados, a fim de
enumera o diretor. promover a integração nacional dos dados e análise estatística e criminal.

NOVA FRONTEIRA SINESP­PPE


A segurança pública se revelou uma área O Sistema de Procedimentos Policiais Eletrônicos – PPe foi desenvolvido para o registro de procedi­
apaixonante para Miyuki Abe, superintendente do mentos das polícias judiciárias, como Boletim de Ocorrência, Termos Circunstanciados, Inquérito Poli­
Serpro que atende o Ministério da Justiça, pois afeta cial, entre outros. Trata­se de um dos principais módulos, pois é a principal fonte de dados de ocor­
diretamente a vida de milhões de brasileiros. Ao rências criminais.
mesmo tempo, segundo ela, trata­se de um grande
desafio para a empresa, historicamente reconhecida SINESP­CAD
por sua atuação nos macroprocessos tributário e Software que objetiva melhorar a qualidade do atendimento a ocorrências solicitadas a partir de nú­
financeiro. “É um imenso desafio. Primeiro pelo mero de emergência, como 190, 191, 192 e 193. Promove automatização e melhoria contínua dos
conhecimento do negócio, já que a segurança pública processos de atendimento e emprego de recursos disponíveis. Tem como público­alvo as Polícias Mili­
é um segmento novo para a empresa. Segundo tares, Corpos de Bombeiros, Polícia Rodoviária Federal, Guardas Municipais, SAMU e instituições que
porque trouxe muitas oportunidades de utilização de realizam atendimento a emergências.
tecnologias novas, o que tem provocado no Serpro
muitas iniciativas de pesquisa, além de grandes INFOSEG
avanços na entrega de inovações”, destaca Miyuki. Integra os bancos de dados das secretarias de segurança pública de todos os Estados e do Distrito Fe­
Para ela, essa experiência tem representado um deral. A rede disponibiliza, através da internet, um índice onde é possível acessar informações diversas
aprendizado constante, com a abertura de muitas de indivíduos, detalhando informações sobre o investigado, com acesso às bases estaduais e federais
frentes de trabalho, capacitação de profissionais e a de origem. A Rede Infoseg é composta por cerca de 70 mil usuários, agentes de segurança pública
superação de todas dificuldades inerentes ao processo como policiais civis, militares, federais, guardas municipais e membros de organismos de inteligência.
de internalização de novas tecnologias. Realiza, em média, 2,5 milhões de consultas por mês.

MAI/JUN 2015 21
A Tematec é uma publicação da Revista Tema constituída por artigos técnicos
sobre aplicações tecnológicas. A participação na Tematec é aberta aos
empregados do Serpro, clientes e comunidade científica. Os interessados
devem entrar em contato pelo e­mail: comunicacao.social@serpro.gov.br.

N° 59 ∙ 2015

TEMPOS DE RECUPERAÇÃO EM
CONTINUIDADE DE NEGÓCIOS
1. INTRODUÇÃO etapas anteriores, identifica­se qual é a melhor abordagem, me­
dida ou solução que a organização deve implementar para en­
frentar uma interrupção de negócio. A estratégia de continuidade
As instituições, independente de tamanho ou setor de atua­ visa reduzir a chance e diminuir o tempo de interrupção ou, ain­
ção, são sensíveis a interrupções nos seus processos de negócio. da, limitar seu impacto na execução de produtos e serviços da
Elas são vulneráveis a situações de riscos, que são originados por instituição (FAGUNDES ET AL, p. 254);
desastres naturais ou por pequenos incidentes, e a seus respecti­ d) Elaboração de planos de continuidade de negócios: criação
vos impactos. A ocorrência desses eventos pode causar uma in­ da documentação de procedimentos e informações para que a
terrupção parcial ou total das atividades da instituição, prejudi­ instituição mantenha a continuidade dos seus processos críticos,
cando seu negócio (FRIEDENHAIN, 2008, p. 11). caso ocorra algum tipo de interrupção neles. Guindani (2011, p.
Esta situação tem direcionado gradativamente a estrutura da 71) ressalta que as atividades devem ser “escritas como ordens de
Gestão de Continuidade de Negócios (GCN). Trata­se de um comando, curtas e simples, com maior detalhamento para as ati­
“processo abrangente de gestão que identifica ameaças potenci­ vidades diferentes do dia a dia”;
ais para uma organização e os possíveis impactos nas operações e) Teste e manutenção dos planos de continuidade de negócios
de negócio caso estas ameaças se concretizem” (ABNT, 2013, p. e análise crítica: validação e atualização da documentação criada
2). Para que a gestão de continuidade de negócios possa atingir na fase anterior e identificação de melhorias no processo de GCN;
seus objetivos, as seguintes etapas devem ser observadas: f) Inclusão da cultura de GCN na organização: para ser efetiva,
a) Análise de Impacto de Negócios (Business Impact Analysis – a GCN deve fazer parte da cultura da organização (VENEZIANO,
BIA): responsável por identificar e analisar os processos da orga­ p. 25; ABNT, 2007, p. 37). Envolve ações de conscientização e
nização e os efeitos que uma interrupção de negócio pode ter treinamento sobre o assunto. Guindani (op. Cit, p. 87) considera
sobre eles. Ao final desta etapa, a organização será capaz de sa­ que é a etapa mais complexa de todo o processo.
ber quais são seus processos de negócios mais críticos, suas in­
terdependências e seus tempos de recuperação, objeto de estudo 2. TEMPOS DE RECUPERAÇÃO
desta publicação;
b) Avaliação de risco: processo de identificação, análise e tra­
tamento dos riscos mais evidentes que podem afetar o funciona­ Os tempos de recuperação são grandezas em escala de tempo
mento dos processos de negócio da organização. Para Ludescher (segundos, minutos, horas, dias, semanas) que fazem parte dos
(2011, p. 17) esta fase determina as possíveis causas de desastre requisitos de continuidade de negócios de um processo ou de
e seus eventuais resultados. uma atividade de uma instituição.
c) Elaboração da estratégia de continuidade de negócios: a Essas medidas são importantes para “determinar a melhor for­
partir dos resultados e dos requisitos de continuidade das duas ma de preparar a organização para ser capaz de gerenciar suas

MAI/JUN 2015 1
interrupções” (FAGUNDES et , 2010, p. 263) e devem estar de nização e pelo recursos tecnológicos que serão usados para ga­
acordo com os seus requisitos, diminuindo os prejuízos decorren­ rantir a continuidade das atividades ou processos interrompidos.
tes de perdas ou para atendimento à legislação pertinente (LU­ Quanto menor o RTO, menor é o impacto no negócio e maior é o
DESCHEIR, 2011, p. 25). custo, conforme gráfico representado na Figura 1.
Assim, eles influenciam a escolha da abordagem ou solução de
continuidade (estratégia), incluindo recursos de hardware, de
software e outras tecnologias, que será usada em uma organiza­
ção quando ocorrer uma interrupção nos seus negócios. Recursos
mais elaborados e complexos são mais caros, então, como con­
sequência, os tempos de recuperação afetam o custo de imple­
mentação da estratégia de continuidade de negócios.
Conforme já explicado, essas informações são identificadas na
etapa de Análise de Impacto de Negócios (BIA). As medidas de
tempo mais comuns relacionadas à continuidade de negócios são:

a) Tempo objetivado de recuperação (RTO – Recovery Time Objective)

b) Ponto objetivado de recuperação (RPO – Recovery Point Objective)

c) Período Máximo de Interrupção Tolerável (MTPD – Maximum Tole­


rable Period of Disruption / MTD – Maximum Tolerable Downtime)
Figura 1 – Relação entre RTO e custo da solução (Fonte: AMORIM, 2008)

2.1 RTO – TEMPO OBJETIVADO DE O gráfico mostra que o melhor é possuir uma solução que re­
RECUPERAÇÃO presenta o equilíbrio entre tempo no impacto dos negócios (RTO)
e o seu custo.
Uma ressalva importante sobre essa medida de tempo é que
É também conhecido como objetivo de tempo de recuperação ela é diferente do tempo médio para reparo (MTTR – Mean Time
(CORREA FILHO, 2010, p. 43; GLOSSARIO, 2014, p. 95; LUDES­ to Repair) que a biblioteca ITIL ® traz. O MTTR é o tempo médio
CHEIR, 2011, p. 24) ou tempo objetivo de recuperação (VENEZI­ para reparar (substituir ou corrigir um item de configuração) um
ANO, Op. Cit, p; 18; BRASIL, 2009, p.4 ). serviço de TI ou item de configuração (IC) após uma falha (GLOS­
De uma forma geral, a maioria das referências consultadas con­ SARIO, Op. Cit.). O RTO é o tempo máximo para recuperação de
sidera que essa grandeza é o período de tempo para retomar uma um serviço de TI após sua interrupção. Dessas definições, depre­
atividade ou processo crítico após sua interrupção. A ABNT (2007, ende­se que o MTTR é menor que o RTO. Outro aspecto relevante
p. 5) acrescenta que o RTO também pode ser o “tempo alvo para é que o termo RTO é aplicado tanto para Tecnologia da Informa­
recuperação de um sistema ou aplicação de TI após um incidente”. ção como para processo de negócio. Já o termo MTTR pertence
Assim, se uma atividade ou processo crítico de uma organiza­ apenas à esfera tecnológica.
ção possui um RTO de seis horas, significa que a instituição con­
segue conviver com a ausência dessa atividade por até seis horas, 2.2 RPO – PONTO OBJETIVADO DE
sem grandes impactos. Ou, em outras palavras, depois dela ser RECUPERAÇÃO
interrompida, essa atividade deve ser retomada em até seis horas,
para evitar impactos maiores para a organização.
Guindani (op. Cit, p. 49), no entanto, tem como marco inicial O Glossário ITIL (Op. Cit, loc. Cit) e Ludescher (Op. Cit, loc. Cit)
da contagem do seu valor a decretação do regime de contingên­ traduzem essa sigla como objetivo do ponto de recuperação.
cia e como término a retomada da atividade, o que diferencia sua Guindani (Op. Cit, loc. cit) define o RPO como sendo “a posição
definição das demais. Usando o exemplo acima e esta definição, (no tempo) na qual deverão estar disponíveis os dados das aplica­
se o processo possui um RTO de quatro horas, esse valor repre­ ções recuperadas após a ocorrência de um desastre”. Neste caso, a
senta o tempo entre decretar a contingência e o retorno da exe­ definição do autor tem foco em Tecnologia da Informação.
cução da atividade. A ABNT (2013, p. 8) generaliza a aplicação do termo como
Com relação à unidade de tempo, o RTO pode variar de se­ “ponto em que a informação usada por uma atividade deve ser
gundos a dias. Essa variação é trazida pelas necessidades da orga­ restaurada para permitir a operação da atividade retomada.”

2 MAI/JUN 2015
Ludescheir (Op. Cit, p. 25) diz que o RPO “é o último instante lhante: é “o tempo máximo que os produtos ou serviços podem
de tempo em que os dados de um sistema computacional se en­ ficar indisponíveis, antes que os prejuízos atinjam níveis inaceitá­
contravam íntegros e armazenados de alguma maneira, estando veis ou ameacem a sobrevivência da empresa”.
disponíveis para serem utilizados em um processo de recuperação, Essa definição pode levar a uma confusão com aquela sobre
no caso de falha do sistema”. RTO. Trata­se de medidas diferentes sobre a interrupção de um
Outra forma de entender esse requisito de continuidade é processo crítico. Enquanto o RTO mede o tempo de retomada de
pensar na perda máxima de dados que a atividade ou processo de uma atividade cuja indisponibilidade gera impacto negativo na
negócio pode ter, caso ocorra uma interrupção. O dado da ativi­ instituição, o MTPD mede o tempo (máximo ou inaceitável) onde
dade ou do processo é protegido, através de, por exemplo, bac­ a indisponibilidade do produto ou serviço gerado em questão tor­
kup ou replicação de dados, ou até uma fotocópia (DRII, 2014?, na­se alta demais, prejudicando fortemente e ameaçando a so­
p. 3), antes da sua indisponibilidade. brevivência da organização.
Então, se uma instituição tem um processo ou atividade que Complementarmente, Veneziano (Op. Cit, p. 18), ABNT (2013,
tem um RPO de 24 horas (a proteção do dado pode ter sido feita p. 8) e Ludescheir (op. Cit, p. 25) enfatizam que o RTO deve ser
através de um backup diário, por exemplo), em caso de interrup­ sempre menor do que o MTPD.
ção, este processo ou atividade pode perder, no pior caso, 24 ho­ Se um processo de negócio tem um MTPD de quatro dias, sig­
ras de dados atualizados. nifica que a ausência desse processo por um período superior a
Analogamente ao RTO, o RPO deve atender as necessidades da quatro dias é tão inaceitável que ameaça a sobrevivência da res­
organização e ser compatível com os recursos tecnológicos dispo­ pectiva organização. E se esse mesmo processo tem um RTO de
níveis para recuperação de seus dados. Quanto menor o RPO, oito horas, os impactos negativos de sua ausência só começarão a
menor é o impacto para o negócio e maior é o custo, conforme ser sentidos a partir desse período.
gráfico representado na imagem seguinte.
3.COMPARATIVO

Para facilitar a compreensão dos conceitos expostos, é mostra­


da a Tabela 1, com a comparação das suas características.

Tempo médio de Tempo objetivado Ponto objetivado Período máximo


reparo – MTTR de recuperação – de recuperação – de interrupção
RTO RPO tolerável – MTPD

Foco em TI Foco em negócio. Foco em negócio. Foco em negócio


O conceito também Uso indireto para TI
é usado para TI

Tempo médio Tempo máximo Perda máxima de Tempo máximo


dados no tempo

Falha no item de Indisponibilidade Proteção dos Ausência do


configuração ou de atividade e dados da atividade produto, serviço
Figura 2 – Relação entre RPO e custo da solução (Fonte: AMORIM, 2008) serviço de TI processo críticos, ou do processo ou atividade da
sistema ou crítico organização
aplicação de TI
O gráfico da figura 2 mostra que a solução mais adequada
Falha, com Indisponibilidade Indisponibilidade Indisponibilidade
equilibra o RPO (perda de dados) e o custo da solução para im­
pequeno a alto de processo, de dados, de alto do produto,
plementar um mecanismo de recuperação de dados. impacto serviço ou
atividade ou impacto
sistema de TI, de atividade, de
2.3 MTPD – PERÍODO MÁXIMO DE alto impacto impacto
INTERRUPÇÃO TOLERÁVEL inaceitável
Medido após a Medido após a Medido antes da Medido após a
Segundo a ABNT (2013, p. 5) é o “tempo necessário para que falha interrupção
interrupção interrupção
os impactos adversos tornem­se inaceitáveis, que pode surgir co­
mo resultado de não fornecer um produto/serviço ou realizar uma
atividade”. Guindani (Op. Cit, loc. Cit) tem uma definição seme­ Tabela 1 – Comparativo dos tempos de reparo e recuperação

MAI/JUN 2015 3
______. NBR ISO 22301: Sistema de Gestão de Continuidade de Negócios –
Alguns dos aspectos apresentados são semelhantes. O que pode
Requisitos. Rio de Janeiro, 2013.
ajudar a explicitar a singularidade de cada uma dessas métricas é, prin­
cipalmente, o seu foco, o tipo de medida (valor médio ou máximo) e a BRASIL, Norma Complementar 06. Gestão de Continuidade de Negócios em
partir de quando esses tempos começam a ser contabilizados. Segurança da Informação e Comunicações. Departamento de Segurança da
Dentro do decorrer do tempo, as métricas abordadas e suas Informação e Comunicações. Brasília: GSIPR, 2009.
particularidades podem ser representadas conforme a Figura 3:
CORREA FILHO, Leopoldo Augusto. TAVARES, Mário R. de S. Gestão da
Continuidade de Negócios e a Comunicação em Momentos de Crise. 1a. Edição.
São Paulo: Sicurezza, 2010.

DISASTER RECOVERY INSTITUTE INTERNATIONAL. Prática Profissional 4.


Estratégias de continuidade de negócios. Tradução: Alexandre Guindani. New
York: DRII, [2014?]. Disponível em
<https://drii.org/docs/Portuguese/Professional%20Practices_PT4_0814.pdf>.
Acesso em 20 de janeiro de 2015.

FAGUNDES, Leonardo L. Et al. Estratégia de contingência para serviço de


Tecnologia da Informação e Comunicação. 2010. Minicurso. (X Simpósio
Brasileiro em Segurança da Informação e de Sistemas Computacionais). Fortaleza:
SBSeg, 2010.

FRIEDENHAIN, Vitor. Um estudo sobre métodos e processos para implantação da


Figura 3 – Representação das métricas de recuperação no decorrer do tempo gestão de continuidade de negócios aplicáveis a órgãos da administração pública
federal brasileira. 2008. Monografia de Especialização (Departamento de Ciência
da Computação). Universidade de Brasília, Brasília. 31 de outubro de 2008.
4. CONCLUSÃO Disponível em <https://dsic.planalto.gov.br/cegsic/83­monografias­da­1­turma­do­
cegsic>. Acesso em outubro de 2014.

O presente artigo teve como objetivo explicitar as diferenças GLOSSÁRIO e abreviações ITIL. Português do Brasil. [s.l.]: Axelos, 2011. Disponível
conceituais dos tempos de recuperação, usados no contexto da em < http://www.itil­
continuidade de negócios. officialsite.com/nmsruntime/saveasdialog.aspx?lID=1189&sID=242> . Acesso em
4 de maio de 2014.
O tempo objetivado de recuperação refere­se ao período de
tempo que uma atividade ou processo deve ser retomada após GUINDANI, Alexandre. Deus é brasileiro. O guia da Gestão de Continuidade dos
uma interrupção. O ponto objetivado de recuperação tem como Negócios. Rio de Janeiro: Editora Ciência Moderna Ltda, 2011.
foco a quantidade de dados de um processo ou atividade ou sis­
tema de Tecnologia da Informação que pode ser perdida após LUDESCHER, Wagner. Modelo para avaliação da qualidade de projetos de planos
de continuidade de negócios aplicados a sistemas computacionais . 2011. Tese
uma interrupção. O período máximo de interrupção tolerável é o de doutorado. (Departamento de Engenharia de Computação e Sistemas Digitais
tempo em que o impacto de uma interrupção de um produto, ). Escola Politécnica da Universidade de São Paulo,São Paulo, 2011. Disponível em
serviço ou atividade torna­se inaceitável para uma instituição. <http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/3/3141/tde­10082011­142221/pt­
Esses tempos são identificados na fase de Análise de Impacto br.php>. Acesso em 13 de janeiro de 2015.
de Negócios do processo de Gestão de Continuidade de Negócios
VENEZIANO, Wilson H. FERNANDES, Jorge H. C. Gestão de Continuidade no
e são usados para estabelecer qual é a melhor estratégia de con­
Serviço Público. Versão 1.0. [s.l.]: GSIC, 2009­2011.
tinuidade para os processos ou atividades críticos da organização.
Para que essa escolha ocorra de forma efetiva, deve­se levar em AUTORA
consideração o equilíbrio entre impacto da indisponibilidade re­
tratada por esses tempos e o custo de implementação das tecno­
logias para alcançá­los.
Foto: Arquivo Serpro

LUCIANA GOMES
É especialista em Governança em TI pela
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Fundação Universa (2014) e bacharel em
Ciência da Computação pela Universidade de
AMORIM, Paulo. Curso de Especialização em Gestão da Segurança da
Brasília (2000). Trabalha como analista de rede de computadores no
Informação. Brasília, UnB:2008.
Serpro desde 2001 e está atualmente lotada na Coordenação­Geral de
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 15999­1: Gestão de Segurança da Informação (COGSI). Possui as certificações ITIL
Continuidade de negócios – Parte 1: código de prática. Rio de Janeiro, 2007. Foundation v2 e Modulo Certified Security Officer.

4 MAI/JUN 2015
Fiscal Cidadão
Este artigo é baseado no trabalho “Fiscal Cidadão”, premiado no ConSerpro 201 4.

INTRODUÇÃO INICIATIVAS EXISTENTES


Os cidadãos enfrentam diversos problemas, típicos A participação do cidadão nos processos de fiscalização
de uma vida em sociedade. Muitos deles interferem em é uma realidade tímida em alguns municípios e estados
seus direitos básicos – garantidos pela legislação – como brasileiros, e mesmo no país – de forma descentralizada –,
saúde, educação, segurança e mobilidade. É papel dos e muito específica para cada órgão ou agência reguladora.
órgãos de governo e das forças públicas fiscalizar e ga- Muitos cidadãos, ainda, utilizam a imprensa e os
rantir a aplicação da lei, de forma a zelar pelos direitos meios de comunicação como formas de denúncia pa-
de seus cidadãos. Entretanto, as diferentes esferas de ra irregularidades encontradas. Através da internet,
governo – federal, estadual e municipal – sofrem com a especialmente com o uso de redes sociais, muitas de-
falta de recursos especializados em fiscalizar e investigar núncias acabam tomando grande repercussão, e pro-
todas as ocorrências, em todas as áreas da cidadania. vocam a mobilização dos órgãos responsáveis.

Figura 1 – Problemas, irregularidades e crimes

MAI/JUN 201 5 5
tes tipos de evidências para embasar a denúncia:
PROPOSTA: “FISCAL CIDADÃO”
∙ Fotografia;
Este artigo propõe uma solução que tem por objetivo ∙ Vídeo;
viabilizar a participação do cidadão como colaborador
nos processos governamentais de fiscalização, através do ∙ Informações de geolocalização;
encaminhamento de denúncias aos órgãos competentes. ∙ Descrição em texto.
É importante salientar que esta solução visa simpli-
ficar e agilizar a interação entre o cidadão e o órgão •O cidadão deve categorizar a denúncia para que ela
responsável, e não concede ao cidadão o papel de fis- seja encaminhada corretamente ao órgão responsável;
cal. Isso significa que ele não poderá aplicar multas, • A solução garante a integridade e autenticidade das
punições ou outras sanções aos infratores; porém, so- evidências, de forma a dificultar alguém forjar uma
mente denunciar as irregularidades. Ainda deverá ha- falsa denúncia.
ver apuração e investigação pelos órgãos competentes, • A aplicação
possibilita ao cidadão acompanhar o
e caso seja constatado algum crime ou transgressão, a andamento do tratamento da denúncia pelo órgão
punição deverá ser aplicada conforme previsto na lei. competente (quando aplicável).
REQUISITOS DA SOLUÇÃO
ARQUITETURA DA SOLUÇÃO
• Permite ao cidadão realizar denúncias a partir de um
smartphone conectado a uma rede móvel de dados; A solução “Fiscal Cidadão” é composta por dois mó-
• Possibilita três tipos de denúncia (selecionável pelo dulos: um aplicativo, que deve ser instalado em dispositi-
cidadão): vos como smartphones ou tablets, e é onde o cidadão
efetua uma denúncia. O outro módulo, é um serviço web
∙ Denúncia nominal: o cidadão deve se identificar, para o recebimento das denúncias, e que as encaminha
fornecendo (obrigatoriamente) seu nome; aos fluxos – possivelmente já existentes – dos processos
∙ Denúncia anônima: nenhuma informação que identi- de tratamento (apuração), pertencentes aos órgãos res-
fique o cidadão deve ser enviada, e o sigilo deve ser ponsáveis, através da integração entre sistemas.

Figura 2 - Arquitetura da solução “Fiscal Cidadão”

garantido em todo processo de denúncia e apuração; Na figura 2 é possível observar que os cidadãos
podem utilizar o mesmo aplicativo para realizar de-
∙ Denúncia social: o cidadão deve fornecer o perfil de núncias a diferentes órgãos governamentais.
uma rede social e o público-alvo desejado, para que
a denúncia seja publicada e compartilhada na rede. Um único serviço web para recebimento das denún-
cias efetuadas (Serviço FisCid) é responsável por receber
•O cidadão tem a possibilidade de fornecer os seguin- as denúncias enviadas pelos dispositivos dos cidadãos e

6 MAI/JUN 201 5
por encaminhá-las (via integração numa rede cripto- Após capturar uma evidência, é possível oferecer de-
grafada), a sistemas – ou fluxos de processos – perten- talhes da denúncia através de uma descrição textual. Além
centes aos diversos órgãos. Além disso, há integração disso, é possível adicionar mais evidências (outras foto-
com alguma rede social, de forma a publicar as denún- grafias ou vídeos), realizando novas capturas de imagens.
cias “sociais” nos perfis fornecidos pelos cidadãos. A categorização da denúncia deve ser feita pelo ci-
dadão, e é a chave para o correto encaminhamento
APLICATIVO “FISCAL CIDADÃO” aos órgãos responsáveis.
Também é possível selecionar o tipo de denúncia
O aplicativo “Fiscal Cidadão” é o principal módulo (anônima, nominal ou social). No caso de uma denún-
da solução proposta. A interface com o usuário deve cia nominal, os dados que identificam o cidadão serão
facilitar a interação no momento de denunciar. Isso é anexados à denúncia. Já no caso de uma denúncia
um ponto crítico, pois muitas vezes a efetivação da social, o aplicativo utilizará os dados de um perfil em
denúncia pode ocorrer em momentos de tensão, ou uma rede social, fornecidos pelo cidadão. Essas infor-
risco iminente à integridade do cidadão. mações são previamente configuradas no aplicativo.
A seguir serão exibidas algumas ilustrações conten-
do os protótipos de tela do aplicativo, criadas como
prova de conceito desta solução.

Envio de denúncia Confirmação de envio de


denúncia
Menu inicial
Após o preenchimento dos campos necessários, a
Através do menu inicial do aplicativo, o cidadão denúncia pode ser enviada, com a anexação de todas
pode selecionar um tipo de evidência para iniciar uma as evidências fornecidas, incluindo as coordenadas de
denúncia: uma fotografia, um vídeo, ou simplesmente geolocalização do cidadão.
um texto descritivo. Também existe uma opção para Assim que uma denúncia é submetida, recebe au-
acessar as configurações do aplicativo. tomaticamente um número único de protocolo, cuja

Detalhes de uma Seleção de tipo de Menu de configuração Configuração de dados


denúncia denúncia pessoais

MAI/JUN 201 5 7
finalidade é possibilitar o acompanhamento de sua si- ENCAMINHAMENTO E
tuação, durante a apuração e investigação. TRATAMENTO DAS DENÚNCIAS
Através do menu de configuração do aplicativo Fis-
cal Cidadão é possível alterar os dados pessoais ou A arquitetura proposta para a solução “Fiscal Cida-
consultar o histórico de denúncias efetuadas. dão” parte da premissa de que existam integrações
entre o serviço de recebimento de denúncias, e os
fluxos de processos de tratamento de denúncias dos
órgãos governamentais que desejam se beneficiar da
solução. Essas integrações podem ser realizadas atra-
vés do uso de Web Services, Enterprise Service Bus
(ESB), mensageria, ou outras tecnologias apropriadas,
utilizando-se de redes seguras criptografadas.
Para tanto, é necessário se estabelecer propostas
de integração e políticas de segurança que permitam
a “parceria” desta solução com os processos de apu-
ração, investigação e fiscalização já existentes nos ór-
gãos de governo e forças públicas.

Histórico de denúncias Acompanhamento de CONCLUSÃO


efetuadas denúncia
Este artigo demonstrou, através de uma iniciativa
Os dados pessoais devem ser previamente configu- prática, que é possível a aplicação de tecnologias exis-
rados para permitir denúncias nominais e/ou sociais tentes, com o objetivo de auxiliar o cidadão na busca
(sem esses dados, somente denúncias anônimas po- pela garantia de seus direitos.
dem ser efetuadas). Quando o cidadão se torna participante dos pro-
Por questões de segurança, nenhuma informação cessos de fiscalização que visam garantir os seus pró-
que revele o conteúdo de uma denúncia (descrição ou prios direitos, o Estado se torna mais eficiente e forta-
evidências) é armazenada no dispositivo. O objetivo é lecido no cumprimento da lei. As ações corretivas po-
proteger o cidadão caso seu aparelho venha a ser fur- dem ser aplicadas com maior justiça e rapidez, e,
tado ou acessado por terceiros. Desta forma, pelo apli- consequentemente, o próprio cidadão tende a elevar
cativo, não há como comprovar a ligação de um deter- o seu nível de confiança no governo e nas forças pú-
minado fato denunciado com um cidadão específico. blicas que zelam pelo bem-estar da sociedade.

AUTOR
ROBSON DE SOUSA MARTINS
MBA em Desenvolvimento de Soluções Corporativas em Java/SOA (201 2),
pela Faculdade de Informática e Administração Paulista (FIAP) e bacharel
em Sistemas de Informação (2003), pela Faculdade Batista de Administra-
ção e Informática (FBAI). Atuou durante sete anos como Técnico Eletrôni-
co, em projetos de sinalização metroferroviária e manutenção eletrônica,
e dez como Analista Programador, no desenvolvimento de softwares co-
merciais. Desde 201 0 é analista no Serpro, lotado na Superintendência de
Suporte a Tecnologias (Supst), em São Paulo, onde atuou em projetos co-
Foto: Divulgação mo o ALM (Application Lifecycle Management) e ECM Alfresco (Processo
Verde). Atualmente participa dos projetos de implantação das tecnologias
de BPMS (Business Process Management Suite) e da plataforma Mobile Marketing. Foi premiado em terceiro lugar no
ConSerpro 201 2, tema Governo Eletrônico, com o trabalho “Integração de Sistemas: Simplificando a Vida do Cidadão”,
e em segundo lugar no ConSerpro 201 4, tema Governo Digital e Sociedade, com o trabalho “Fiscal Cidadão”.

8 MAI/JUN 201 5
ARTI GO

Política de S
Informação d
M uita coisa mudou
desde 201 1 , ano da
vernança”, estamos qualificando sua estrutura de gestão, para di-
zer que além dos aspectos gerenciais mínimos (inputs, outputs,
última revisão da Po- resultados econômico-financeiros, resultados sociais etc.) essa or-
lítica de Segurança da Informação do ganização ou fração de organização dispõe de uma estrutura po-
Serpro. Depois disso, houve os escân- lítica clara, além de ostentar adequada estrutura de informação,
dalos de espionagem de 201 3, a imple- pautada por métricas claras e acessíveis, mas, sobretudo, por um
mentação do modelo de nuvem, a Inter- atributo fundamental: accountability (“responsabilização”). Pois a
net das Coisas surge como objeto de pro- primeira estrutura fundamental de uma adequada governança é a
gramas de governos, a clareza em relação à política cor-
interoperabilidade ga- porativa.
nhou corpo nos processos A Política Corporativa de Se-
de trabalho governamen- A Política Corporativa de gurança da Informação (PCSI) é
tais, o Serpro implantou uma
rede wireless corporativa, o
Segurança da uma política formal dentro do
Serpro, altamente técnica, formu-
processo de segurança corpo- Informação (PCSI) é uma lada com espelhamento nas me-
rativo (Proseg) se fez consolidado.
Chega a hora de nova atualização.
política formal dentro do lhores práticas internacionais e
que está sob a condução e res-
A expressão “política” traz consi- Serpro, altamente técnica, ponsabilidade da Coordenação
go forte e diferenciada carga semân-
tica. Ora designa uma área de conheci-
formulada com espelhamento Geral de Gestão da Segurança da
Informação (Cogsi). Nossos esfor-
mento (ciência política), ora se aplica à nas melhores práticas ços no sentido de aplicá-la, disse-
interação de participantes (“súditos”, “ci-
dadãos”) e gestores do bem coletivo (es-
internacionais e que está sob a miná-la, e de garantir sua atuali-
dade e eficiência no âmbito da
tado, unidade federativa, condomínio, condução e responsabilidade organização, bem como no trato
plano associativo etc.).
Mesmo no plano da gestão pública, a
da Coordenação Geral de com nossos interlocutores exter-
nos representa um belo trabalho
expressão “política” designa o conjunto Gestão da Segurança da de crítica e construção desenvol-
principiológico estratégico-direcionador
da atividade tática do Estado. É aqui,
Informação vido desde 1 996.

nesse plano da topologia, que falamos de Breve histórico


políticas públicas: política educacional, Em 1 996, a Cogsi publicou a
política criminal, política de saúde etc. primeira versão da PCSI e, nessa época, nasciam, simultanea-
Nas organizações, de modo geral, a expressão “política” repre- mente, a Política Serpro de Propriedade Intelectual e a Política
senta o postulado da governança. “Governança” adquire, no sé- Serpro de Gestão do Conhecimento, ambas sob a gestão da
culo XXI, uma carga de diferenciação crítica da instância “gestão”. Universidade Corporativa. As três políticas contemporâneas são
Quando atribuímos a algum empreendimento o atributo da “go- co-irmãs e vêm sendo desenvolvidas e aperfeiçoadas com uma

24 MAI/JUN 201 5
Segurança da
do Serpro
boa dose de simetria. De todas as três, a PCSI foi a campo institucional corporativo. A Cogsi deixa de
que sofreu o maior número de atualizações. fazer parte da Diretoria de Operações e passa a in-
A Cogsi está, no presente momento, conduzindo tegrar a estrutura da Diretoria de Superintendência.
as discussões para formulação da sexta versão da Tal mudança é um passo muito importante na
PCSI. A primeira surgiu junto à primeira versão do aproximação de nosso trabalho de segurança da in-
Programa de Segurança do Serpro (PSS). Três atuali- formação, porque representa um afastamento do
zações foram feitas: em 2001 , em 2005 e em 2008. modelo de simples “gestão”, para um modelo de
Em 201 1 , com a criação da Cogsi e do Comitê Es- Governança de Segurança da Informação. A área
tratégico de Segurança da Informação (Coesi), foi deixa de se chamar Coordenação-Geral de Gestão
publicada a quinta versão da PCSI. de Segurança da Informação e passa a se chamar
O Comitê Estratégico de Segurança da Informa- Coordenação Estratégica de Governança em Segu-
ção (Coesi), que é formado por um representante rança da Informação. Com isso, temos aumentada
de cada diretoria, tem a função institucional de nossa responsabilidade.
aprovar a política proposta pela Cogsi e de ser, em A sexta versão traz uma novidade muito impor-
última instância, seu guardião. As principais delibe- tante: além da atualização do conteúdo substanti-
rações em matéria de segurança da informação são vo, o processo de revitalização passa a ser acresci-
submetidas, pela Cogsi ao Coesi e, com essa e ou- do de uma maior participação corporativa! A PCSI
tras medidas, estamos constantemente adequando está disponível no “Palavra Aberta”, para que o
os fatos da vida quotidiana à PCSI e vice-versa. corpo funcional colabore, critique e ofereça su-
A sexta versão da política coincide com um mo- gestões que serão consolidadas e submetidas ao
mento muito importante: estamos em meio a uma Coesi. Uma vez aprovada, a nova política vigorará
mudança de estrutura que posiciona a Cogsi no por mais um biênio.

Ulysses Alves de Levy Machado


É advogado graduado pela Universidade de Brasília (UnB), pós-graduado em
propriedade intelectual, pela GWU (The Minerva Project) e mestre em Propriedade
Intelectual pela UFPA. É especialista em Gestão de Segurança da Informação pela UnB,
pós-graduando em crimes cibernéticos pela Escola da Magistratura DF e professor
pesquisador na área de Segurança da Informação no Departamento de Ciência da
Computação da UnB. Atua há quatro anos como coordenador geral de Gestão da Segurança
da Informação do Serpro.

MAI/JUN 201 5 25
I­EDUCAR

Gestão escolar informatizada


Um dos sistemas disponíveis no programa Cidades Digitais, o i­Educar facilita
a administração escolar de municípios e desburocratiza diversos processos
TEXTO TANIS SERRA
DESIGN EDNO JUNIOR

I
magine se os municípios brasileiros pudessem con­
tar com um sistema que informatizasse o dia a dia
de uma escola, com dados pessoais e pedagógi­
cos sobre os alunos, incluindo fichas médicas,
transporte escolar, relatórios gerenciais, reservas de va­
gas para matrículas e outras informações de forma in­
tegrada. Imagine também, se esse sistema pudesse eli­
minar a quantidade de papéis armazenados, desburo­
cratizar processos e, com isso, ainda ajudar a preservar
o meio ambiente. Esse sistema já existe e atende pelo
nome de i­Educar.
Desenvolvido originalmente em 2006 pela prefeitura de Itajaí/SC para a
gestão escolar dos municípios, o i­Educar é um software livre disponibilizado des­
de 2008 no Portal do Software Público Brasileiro. De lá pra cá, evoluiu com a
contribuição dos membros da comunidade desenvolvedora, da empresa Portabilis
e do Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro).
Desde 2012, em atendimento ao programa Cidades Digitais do Ministério das
Comunicações, o Serpro vem adicionando novos recursos e realizando melhorias,
como por exemplo a importação de dados do censo escolar do Instituto Nacional
de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Educacenso/Inep).

Melhorias constantes
O i­Educar possui núcleos que englobam módulos de cadastros, de pessoas fí­
sicas e jurídicas, dados sobre servidores e professores, além de um módulo princi­
pal. O analista de desenvolvimento de software do Serpro em Florianópolis, Carlos
Morais, cita uma das principais melhorias implantadas no i­Educar, o Diário de
Classe. “Ele é um documento oficial que permite ao professor imprimir todos os
dados da turma, com tabela para fazer chamadas e lançar notas de provas e tra­
balhos dos alunos. Isso facilita também para o município, que passa a ter impres­
sões padronizadas, evitando despesas com gráfica, por exemplo”, explica.
Carlos também destaca a reserva de vagas, que permite configurar um prazo
para garantir, por um determinado período de tempo, a reserva de vaga para
matrícula do aluno na escola por ele desejada. “O sistema emite um atestado de
reserva de vaga, que lista os documentos exigidos para os responsáveis do aluno
efetivarem a matrícula dentro do prazo estipulado pelo município, de 48 ou 72
horas, por exemplo”, esclarece.
Outra melhoria é apontada por um dos profissionais do Serpro responsáveis
pela gestão do i­Educar, Alfredo Alencastro. “O Serpro firmou contrato com os
Correios para a utilização da base de dados do Código de Endereçamento Postal
(CEP). Com isso, o cadastro fica ainda mais completo e facilitado. Estamos agora
encaminhando esse recurso para as devidas customizações”, adianta.

26 MAI/JUN 2015
Segurança, praticidade e responsabilidade ambiental Foto: Arquivo Serpro

Todas as melhorias, adaptações ou customizações realizadas


têm o objetivo de prover mais disponibilidade e praticidade, mas
sem descuidar da segurança, como destaca a chefe de apoio ope­
racional ao programa de gestão municipal no Serpro, Ana Cristina
Leitão. “Entre as novas funcionalidades, temos, no cadastro de
pessoas, o log de auditoria [registro de acesso]. Esse recurso iden­
tifica, no cadastro do aluno, qualquer alteração que tenha sido
feita, mesmo com perfil de administrador. Em qualquer alteração
feita, ficam registrados o CPF do autor da modificação, a data e a
hora. É um sistema bastante confiável”, garante.
Ana Cristina reforça os pontos mais positivos do i­Educar. “O
sistema visa atender a necessidade das escolas de eliminar os pa­
péis armazenados; desburocratizar os processos que requerem Serpro faz parceria de sucesso com a prefeitura de
documentação em papel e ainda contribuir para preservação do Valparaíso de Goiás
meio ambiente”, aponta. Além disso, com as escolas utilizando o
mesmo sistema, as informações poderão estar disponíveis de for­
ma integrada, evitando perda de dados, duplicidade de cadastros
e desperdício de tempo.

Valparaíso de Goiás: projeto­piloto de sucesso


O sistema i­Educar foi implantado no município de Valparaíso
de Goiás/GO em 2014, por meio de uma parceria entre o Serpro e
Cidades Digitais promove modernização e inclusão digital
a prefeitura. A Escola Municipal Casinha Feliz, que possui 480 alu­
nos, 18 professores e outros 23 funcionários foi contemplada co­ O i­Educar é um dos sistemas que integram o
mo projeto­piloto para uso do sistema. programa Cidades Digitais, uma iniciativa do governo
Todo o cadastro de alunos e atividades cotidianas da escola, federal, coordenado pelo Ministério das Comunica­
como matrículas, transferências, emissão de certificados e diplo­ ções (MiniCom). Criado para modernizar a gestão,
mas, suspensões, quadro de horários e relatórios gerenciais são ampliar o acesso aos serviços públicos e promover o
controlados pelo i­Educar. Tudo feito de forma integrada, utilizan­ desenvolvimento dos municípios brasileiros pela tec­
do principalmente os módulos de cadastro e movimentação. O nologia, o Cidades Digitais selecionou inicialmente
sistema será implantado em breve em mais quatro escolas do mu­ 80 cidades para investimentos em fibra óptica e
nicípio e as demais unidades educacionais da cidade serão con­ oferta de pontos de acesso à internet para uso livre e
templadas futuramente. gratuito em locais públicos de grande circulação.
A diretora da divisão de assuntos técnico­administrativos das Dessas cidades, 32 solicitaram o i­Educar. Dentre
escolas da Secretaria de Educação de Valparaíso de Goiás, Iraci Fa­ elas, Viçosa do Ceará, já em fase de implantação pa­
gundes de Souza, fala dos benefícios. “Antes da implantação do ra ser a primeira dessas cidades a receber o sistema.
sistema, a documentação era analisada e feita manualmente, sen­ A coordenadora geral de infraestrutura para in­
do esse processo defasado, pois sempre estávamos com as pastas clusão digital do MiniCom, Eloá Mateus, diz que o i­
dos alunos nas mãos. Agora temos as informações centralizadas, Educar beneficia municípios e cidadãos. “Ele é um
diminuindo a necessidade de uso de papel, a duplicidade de do­ aplicativo que vai proporcionar melhorias não só na
cumentos e o tempo de atendimento aos pais e a comunidade em gestão escolar do município, mas também o acom­
geral. O i­Educar veio para transformar o funcionamento das uni­ panhamento, pelos pais, das notas e das frequências
dades de ensino, trazendo inovação e praticidade no trabalho ad­ dos alunos. Além da melhoria da gestão municipal,
ministrativo, sendo este uma ferramenta inovadora de auxílio ao que é um dos objetivos do programa Cidades Digi­
profissional”, diz. tais, a gente espera
Segundo ela, o trabalho em conjunto traz bons resultados. “A o empoderamento
parceria do Serpro com a Secretaria de Educação e a unidade es­ da população com
colar é bem ativa, pois sempre que precisamos de auxílio eles se acesso a essas in­
fazem presente por meio de audioconferências e visitas à escola”. formações”, afirma.

MAI/JUN 2015 27
TECNOLOGIA

Eras que
não foram,
eras que
poderão ser
Produtos que não fi zeram o sucesso esperado
apontam desafi os para i novar, mas aposta em novos
gadgets conti nua fi rme

TEXTO REGINA FARIA


DESIGN RÔMULO GERALDINO

J á passamos por vários anúncios de eras a partir do início do


século: a era do óculos inteligentes, da TV 3D, dos netbo-
oks, do Second Life, do pagamento do supermercado. Sau-
dados com entusiasmo, esses produtos pareciam fadados
ao estouro de vendas, mas não foram o sucesso esperado. Quan-
do se listam outros inventos que não dera certo, pode parecer
que vivemos a era das invenções que não dão certo, mas essa é
uma impressão precipitada.
Cerca de 90% das ofertas de novos produtos e serviços incu-
bados em start ups não se confirmam como sucesso. Ou seja, pa-
ra cada dez tentativas, apenas uma dá certo. Quando o projeto é
gestado em empresas consolidadas, a taxa é um pouco melhor:
de 20 a 30% de sucesso. Os dados são de Maximiliano Carlo-
magno, profissional da área de inovação que se especializou em
promover trabalhos para ajudar as empresas a inovarem. “Pode-
mos fazer muita coisa para melhorar esses números”, diz.
“Não basta inventar, ou seja, ter uma ideia e desenvolver. Se
não trouxer resultados, não inovou, por definição”, frisa Maximili-
ano. “Para ser inovação é preciso que haja ganhos, sejam eles lu-
cro, aumento de mercado, ou até outros parâmetros, quando se
trata de uma inovação social, por exemplo”, define o especialista.

28 MAI/JUN 201 5
A taxa média de sucesso na inovação é de até 30% quando
o projeto é desenvolvido por grandes empresas e de 1 0%
para aqueles desenvolvidos em start ups

Também não basta se abrir à sugestão dos empregados. “É preci- remos acostumados a vestir dispositivos tecnológicos e os apare-
so que a empresa se prepare para ser inovadora, e isso envolve lhos que oferecem realidade aumentada serão comuns.
mudanças profundas em estratégia, processos, projetos”. E o que fará um drone pessoal? Munidos de câmeras, sensores
Ele ressalta que a inovação não é um fenômeno tecnológico, e GPSs, foram apresentadas quatro funcionalidades. A mais narci-
mas sim organizacional. “Gerar ideias não costuma ser problema. sista é uma alternativa ao pau de selfie. Mas haveria também usos
Mesmo ideias muito boas. A Kodak, por exemplo, tinha o protóti- mais voltados à segurança e conforto. Preso à mochila, o drone
po da máquina fotográfica digital muito antes da concorrência. do tipo Scout serviria a esportes de ação: em uma escalada, voaria
Mas era uma empresa muito focada nos negócios presentes, que ao redor da pessoa indicando locais corretos para apoiar as mãos.
não conseguiu direcionar seu processo para a inovação com a Já o drone Parasol detectaria chuva e projetaria acessórios para
agilidade necessária”, aponta. nos proteger dos pingos. O Flare seria um relógio-drone, capaz de
Segundo o profissional, a empresa que quer inovar tem de fa- mostrar trajetos a partir das coordenadas de um GPS. Já o drone
zer a “lição de casa”, completa. Alinhar o que é inovação no con- Breath detectaria níveis muito elevados de poluição, posicionan-
texto dela, definir que tipo de inovação pretende buscar, explicitar do-se à frente do nariz da pessoa que o portasse.
quais os tipos de inovação em que pretende investir. Mais impor-
tante, precisa ter a ousadia para um tipo de planejamento que se Roupas conectadas e inteligentes
distancia da lógica de cronogramas rigidamente estabelecidos e Lavar roupas será desnecessário com recursos para imper-
apostar em estratégias emergentes. ”No âmbito da inovação, a meabilizar roupas. A grife Ralfh Loren investe em camiseta es-
empresa precisa aprender a operar com métodos de tentativa e portiva que será conectada ao smartphone via bluetooth. Fará
erro”, explica. monitoração de atividades, como passos ou saltos, respiração,
batimentos cardíacos, passando tudo para o aparelho. Já a
Tudo pessoal e inteligente Google investe no Projeto Jacquard para produzir fibras tecno-
Talvez os óculos com realidade aumentada ainda cheguem a lógicas sensíveis ao toque, que serão incorporadas a peças de
fazer sucesso. Mas enquanto a versão de sucesso não chega ao roupas e terão funcionalidades tão diversas quanto tirar fotos
mercado, as empresas continuam apostando em frentes diversas ou permitir a decomposição precisa de movimentos de atletas,
bailarinos e atores em seus processos de treinamento ou em
Smartwatch ensaios. Roupas antibacterianas, que evitem pegar gripes ou
O projeto é antigo: desde 1 982 a ideia de relógio inteligente protejam de gases perigosos surgiram a partir de pesquisas re-
está no mercado. Mas o conceito atual define que, além de mos- alizadas na Universidade de Cornell, nos Estados Unidos.
trar as horas, esse aparelho deve ser capaz de oferecer informa-
ção sobre trânsito, auxiliar localização, comunicar-se com conta- “Vestíveis” para o bem
tos, controlar música, emitir comandos de voz, acessar dados de Por fim, e não menos importante: as roupas tecnológicas
voos, receber notificações e ver a previsão do tempo. Checar atu- abrem possibilidades de uso com fins humanitários. A aposta é
alizações de redes sociais e rodar jogos simples são outras funcio- do Unicef, que, em parceria com a já citada Agência Frog e
nalidades básicas. com a ARM, empresa britânica de chips, mantém o projeto
Os relógios com esse perfil chegaram ao mercado em 201 3. “Wearables for Good”, algo como “Computação vestível para
Cerca de meia dúzia de marcas oferecem opções. Os modelos o Bem”, em tradução livre.
disponíveis operam como uma extensão do celular, integrados via A ideia é desenvolver dispositivos vestíveis que sejam não
bluetooth. apenas interessantes, mas necessários ou relevantes. A entida-
O inconveniente mais visível é que o apetrecho não substitui o de fez uma chamada a designers de todo mundo, em maio
telefone, de tal forma que mesmo que anuncie monitorar uma deste ano, para que desenhem roupas tecnológicas que pode-
corrida, ainda funciona como um periférico do celular, dependen- riam ser usadas para coisas como: alertar pessoas contra in-
do de sua proximidade para funcionar. cêndios, diagnosticar deficiências orgânicas, incentivar mudan-
ças de comportamento como lavar as mãos, enviar sinais vitais
Drone pessoal para profissional de área médica via remota. A intenção é fazer
A previsão é de que, em 2030, ter um drone para chamar de chegar esse tipo de dispositivo a campos de refugiados ou áre-
seu será tão básico quanto ter um smartphone. A ideia, aventada as de difícil acesso, onde não existem instalações médicas e a
pela agência de design futurista Frog, é de que nesse tempo esta- infraestrutura é pouca.

MAI/JUN 201 5 29
CULTURA DIGITAL
Foto: Divulgação

IMPRESSÃO
3D LIVRE
Saiba mais sobre o crescimento exponencial de
uma tecnologia que tem se beneficiado dos
princípios da filosofia “open source”
TEXTO ALEXEI KALUPNIEK
DESIGN ANDRÉ MENEZES

m 2010, a primeira impressora 3D caseira foi saudada pela uma prótese de joelho e as engrenagens de um futuro modelo di­

E Revista Wired como uma “Nova Revolução Industrial”.


Desde então, uma espécie de coqueluche tomou conta da
imprensa especializada em tecnologia. Foram inúmeras
matérias sobre objetos que se auto replicam e impressoras prota­
gonizando a criação de praticamente tudo: de casas a vasos san­
nâmico do sistema solar. Ali, “parafuso a parafuso”, o designer
montou uma impressora brasileira que pretende ser “a mais barata
das profissionais”.
“Queremos vender em larga escala e obter lucros, o que de­
monstra que a filosofia open source não exige um voto de pobre­
guíneos; de pistolas caseiras a vacinas, pontes, componentes de za”, explica. O preço final do equipamento deve ser 50% inferior ao
carros antigos e até comida. Isso aliado ainda às diversas previsões dos similares importados. Cerca de 30% dos componentes atuais
de como as “fábricas caseiras” iriam mudar, para sempre, o cotidia­ foram criados a partir de versões anteriores da própria impressora.
no das pessoas. “Sou fã da cultura do código aberto”, declara Murilo. “É um mo­
Cinco anos após o início de tudo, as possibilidades de uso da delo colaborativo de compartilhamento, de superação de patentes,
tecnologia continuam a causar impacto. A verdadeira revolução, que tem impulsionado o desenvolvimento tecnológico como nun­
porém, parece ser mais profunda, já que opera não apenas na ca, já que o conhecimento não fica refém daquelas empresas que
criação de objetos, mas na própria cultura de disseminação do co­ têm dinheiro e pesquisadores”, avalia. O designer explica porque o
nhecimento. É que o desenvolvimento da impressão 3D traz, consi­ maior peso­pesado da impressão 3D industrial está perdendo o
go, a consagração de princípios do “open source”, ou “código mercado de impressoras caseiras nos Estados Unidos. “Eles não
aberto”: a filosofia do software livre de compartilhamento irrestrito conseguiram entender a questão do compartilhamento: o carretel
do conhecimento. da impressora só aceita o filamento deles, que é muito mais caro. A
máquina não permite ajustes e só funciona com o software da pró­
Imprimindo a impressora pria empresa”.
É graças ao open source que o brasiliense Murilo Torres, a partir Não por coincidência, a empresa que passou a dominar o mer­
de informações disponíveis na web, criou sua própria impressora cado adota princípios do open source. “Mais cedo ou mais tarde,
3D. Ele desenvolveu o aparelho em uma sala comercial na W3 Sul, todo mundo está sendo obrigado a enfrentar o fato de que a cultu­
avenida central da capital, onde há um pouco de tudo. No mesmo ra já não permite mais a dominação de mercados e a exploração de
espaço, convivem diversos “impressos”: um motor de patinete, patentes”, alerta o designer.

30 MAI/JUN 2015
Produto final
impresso, o
filamento ganha a
forma desejada pelo
usuário da
impressora

Carretel de filamentos, a
matéria-prima utilizada nas
Impressora 3D de impressoras 3D
Murilo Torres,
criada a partir de
informações
disponíveis na web

Ano da "nova revolução industrial" marcada


pela criação da primeira impressora 3d caseira

50%
Estimativa de redução do preço final do equipamento
nacional frente aos similares importados

Aprender fazendo
E que tal operar uma impressora 3D em uma comunidade baseada nos princípios do có­ André Luiz Leal na unidade Fablab de
digo aberto? É o que permite o Fablab. A ideia do “laboratório de fabricação” surgiu no iní­ Brasília, que já é a segunda particular
cio do ano 2000, no Centro de Átomos e Bits do Instituto de Tecnologia de Massachusetts no Brasil
(MIT), a partir de uma matéria multidisciplinar chamada “Como Fazer Quase Tudo”. Durante
Foto: Arquivo Serpro
o semestre, cada aluno imaginava um projeto livre e realizava o que tinha em mente apren­
dendo a operar máquinas de fabricação digital. A iniciativa deu tão certo que ganhou o
mundo. O que antes era uma matéria se tornou uma entidade que já empresta o nome a
quinhentos laboratórios diferentes em todo o mundo.
Para se abrir um Fablab é preciso respeitar uma cartilha fortemente baseada na filosofia
open source. É o que explica André Luiz Leal, um dos sócios da unidade que opera em Bra­
sília. Ao voltar de São Francisco em um intercâmbio do programa Ciência Sem Fronteiras, o
designer se juntou a outros quatro sócios que resolveram garantir, eles mesmos, seus em­
pregos e em janeiro abriram uma empresa: o segundo Fablab particular do Brasil. “O objeti­
vo do espaço é a experimentação. A gente aluga os equipamentos, mas, segundo as regras,
em um dia na semana a utilização é livre”, relata.
O espaço tem que disponibilizar pelo menos uma impressora 3D. Na bancada de eletrô­
nicos, são utilizados circuitos Arduino, completamente open source e fáceis de aprender.
“Isso traz a criação eletrônica mais próxima de designer, hobistas e artistas”, considera An­
dré. “Aqui tudo é em software livre e não dependente de uma programação pesada, o que
torna muito fácil de se programar”, acrescenta.
Os Fablabs espalhados pelo mundo acabam adquirindo o sabor local das criações de ca­
da comunidade. Em Porto Alegre, por exemplo, existe uma preferência pela criação de mo­
biliário, uma idiossincrasia dos gaúchos. Já em Brasília, há uma demanda por tábuas de ska­
te, o que gerou até um workshop sobre o tema.

MAI/JUN 2015 31
Foto: 3dilla.com

IMPRESSÃO 3D LIVRE
Carros
IMPRIMINDO O MUNDO Em 201 1 foi lançado o Urbee, o primeiro
carro impresso em 3D. Na verdade, só a
Conheça alguns dos diversos itens que já estão carroceria utiliza, de fato, a tecnologia. Os
sendo produzidos por impressoras 3D custos ainda não compensam.
http://www.urbee.net

Casas: em 2007, um italiano desenvolveu um mé-


todo de impressão de residências. Funciona à base
de areia e cola de magnésio e é quatro vezes mais Roupas: em 201 1 , vestidos 3D de duas holandesas
rápido que o tradicional. Ele ainda luta para adqui- foram considerados, pela revista Time, como uma
rir uma escala industrial. das melhores invenções do ano. As roupas impres-
sas não possuem nenhuma costura. As peças são
resistentes, mas também caras. Um par de sapatos
Comida: um brasileiro e um israelense são pais do é vendido por US$ 900.
projeto Cornucópia. O objetivo é produzir comida
com calorias e temperatura precisas. Por enquan-
to, só se imprimiram bombons. O brasileiro afirma
que acredita que ainda vai imprimir uma feijoada. Tecidos do corpo: a bioimpressão já é uma reali-
dade. É possível a impressão 3D de veias, cartila-
gem e pele. Uma universidade norte-americana já
imprimiu válvulas cardíacas. A tecnologia também
Vacinas: Craig Venter é considerado o pai do Pro- pode representar o fim da utilização de cobaias em
jeto Genoma, iniciativa que sequenciou o código pesquisas científicas.
genético humano. Venter previu a impressão de
vacinas, mas o assunto ainda é considerado mera
especulação.
Órgãos: uma empresa norte-americana retirou
células da bexiga de sete pacientes, injetou em um
Próteses: uma belga recebeu o implante de uma molde biodegradável feito por uma impressora 3D
mandíbula de titânio impressa em 3D. A operação e reimplantou. Deu certo. Órgãos mais sofistica-
foi um sucesso. Estima-se que o procedimento te- dos, como rins ou fígado ainda não foram fabrica-
ve um custo equivalente a R$ 1 50 mil. dos com sucesso.

32 MAI/JUN 2015
CURTAS

Deficientes auditivos contam com tradutor


de conteúdos digitais
Para viabilizar o acesso de pessoas surdas aos conteúdos de computadores,
dispositivos móveis e plataformas web, o Ministério do Planejamento,
Orçamento e Gestão (MP), em parceria com a Universidade Federal da
Paraíba (UFPB), lançou no mês de maio a versão beta da Suíte VLibras. O
software livre é um tradutor de conteúdo digital para a Língua Brasileira de
Sinais (Libras), reduz barreiras de comunicação e amplia o acesso à
informação das cerca de 9,5 milhões de pessoas com níveis de deficiência
auditiva no país. A Suíte VLibras é um conjunto de soluções computacionais
composta pelas ferramentas VLibras-Desktop, VLibras-Plugin, VLibras-Video
e WikiLibras, este último ainda em desenvolvimento para ser interativo. Em
breve ocorrerá a implantação de sinais e dicionários regionais para serem
utilizados por pessoas com deficiências auditivas. Essa ação conta com o
apoio da Secretaria de Direitos Humanos (SDH) da Presidência da República.

Tráfego IP crescerá 2,3 vezes em


cinco anos no Brasil Brasil supera Dinamarca na abertura
Com o aumento de uma banda larga cada vez mais rápida, de dados dos gastos federais
uma maior quantidade de dispositivos conectados e o O Brasil é mais transparente que Estados Unidos, Dinamarca,
crescimento no consumo de vídeo, o tráfego IP no Brasil Noruega e Alemanha no que diz respeito à abertura de dados
deverá mais do que duplicar em cinco anos, de acordo com a dos gastos do governo federal, mas fica atrás de todos esses
previsão do estudo Cisco Visual Networking Index (VNI) feita países se considerados todos os tipos de dados públicos, como
no mês de maio. A taxa de crescimento anual composto registros de empresas abertas ou as coordenadas de cada CEP
(CAGR) brasileira será de 1 9% até 201 9, totalizando 53 (Código de Endereçamento Postal). As informações sobre o
exabytes por ano, o que equivale a 4 exabytes por mês e 1 45 grau de transparência de cada nação podem ser encontradas
petabytes por dia. Em 201 4, o tráfego mensal brasileiro era no Índice de Dados Abertos, que a ONG Open Knowledge
de 1 ,9 exabyte por mês. Ou seja: a previsão é de que cresça (Conhecimento Aberto, em inglês) lançou no mês de junho. O
2,3 vezes em cinco anos. Com isso, o total em 201 9 Índice traz um ranking de países baseado na disponibilidade e
corresponderá a 399 vezes o volume de toda a internet acessibilidade de informações-chave. Gastos governamentais,
brasileira em 2005. A previsão é atingir 64% da população resultados eleitorais, horários dos meios de transportes e níveis
em 201 9 no Brasil, totalizando 1 34 milhões de usuários de poluição estão entre as dez áreas centrais avaliadas pelo
(contra 88 milhões atuais). projeto. O Brasil está em 26º lugar, com pontuação de 54%,
nota que é a média da avaliação de cada uma das dez áreas
Receita Federal lança app do Carnê­ centrais. O país só obteve pontuação de 1 00% para os dados
do Orçamento, informação que o Brasil disponibiliza melhor.
Leão para 2015
De uso opcional, o aplicativo para celulares destinado a
pessoas físicas sujeitas ao recolhimento mensal obrigatório
(Carnê-Leão) do imposto sobre a renda para o ano-calendário Tráfego em IPv6 chega a 2% no Brasil
de 201 5 foi lançado no mês de maio pela Receita Federal. O Em junho deste ano, o tráfego internet no Brasil chegou à
programa ficará disponível nas lojas virtuais Google Play, para marca de 2% em IPv6, a nova versão do protocolo de Internet,
tablets e smartphones que utilizem o sistema operacional que é a forma como todos os equipamentos conectados à rede
Android; e na App Store, para tablets e smartphones que mundial são reconhecidos. A medição foi feita pelo 6lab, um
utilizem o sistema operacional iOS. Segundo a Receita, os monitoramento feito pela empresa Cisco da adesão do mundo
dados apurados pelo programa podem ser armazenados e ao protocoIo IPv6. Pela mesma medição, o Brasil iniciou o ano
transferidos para a Declaração de Ajuste Anual do Imposto de 201 5 com apenas 0,1 % do tráfego internet no novo
sobre a Renda da Pessoa Física do exercício de 201 6, ano- protocolo. Em março, chegou a 1 %. O percentual ainda é
calendário de 201 5, quando for elaborada. pequeno, mas a previsão é que continue crescente no país.

MAI/JUN 201 5 33
INFOGRÁFICO

CENTRO DE DADOS:
SEGURANÇA
EM PRIMEIRO
LUGAR
TEXTO ALDO MARANHÃO
DESIGN ANDRÉ MOSCATELLI E EDNO JUNIOR

Centros de Processamento
de Dados ou Centros de Dados
(Data Center, em inglês) são
ambientes físicos especial­
mente equipados para pro­
cessamento e armazenamen­
to de um grande volume de
dados. Projetados para serem
extremamente seguros, são
protegidos contra o acesso
indevido e monitorados per­
manentemente em todos os
aspectos físicos e lógicos.
Um bom Centro de Dados
(CD) deve atender a rigoro­
sos padrões internacionais.
As normas da Associação das
Indústrias de Telecomunica­
ções (AIT) são as mais utili­
zadas. No Infográfico ao la­
do, vamos apresentar como
está estruturado fisicamente
um centro de dados. Conheça
agora um pouco mais sobre
esses espaços.

34 MAI/JUN 2015
MAI/JUN 2015 35
CENTRAL DE COMPRAS

Compras conjuntas garantem economia de recursos e eficiência na gestão dos gastos,


além de favorecer o foco dos órgãos públicos nas suas atividades finalísticas
TEXTO TIAGO ARRAIS
DESIGN ANDRÉ MENEZES

ntre janeiro e dezembro de 2014, segundo dados do sistema da Central começou a funcionar em agosto do ano passado, numa

E de compras governamentais, o Comprasnet, o poder exe­


cutivo federal gastou R$ 62,1 bilhões na aquisição de bens e
serviços. O número dá a ideia do tamanho da estrutura da
administração pública brasileira e da responsabilidade que é gerir to­
do esse dinheiro.
experiência piloto para a compra direta de passagens aéreas. Segun­
do ela, a intenção do governo era justamente favorecer a eficiência
do gasto público, acabando com a intermediação das agências de vi­
agens e, consequentemente, reduzindo o custo dos bilhetes.

Nesse período, foram realizados quase 170 mil processos de com­ Buscador inteligente
pras, número 11% menor que o de 2013, com uma diminuição de R$ Rildo Farias, gerente da coordenação de recursos logísticos do
14,8 bilhões no valor das aquisições. Serviço Federal de Processamento de
Essa redução, de acordo com o Se­ Dados (Serpro), área que deu suporte
cretário de Logística e Tecnologia da Ficou evidente que a à implementação da solução, explica
Informação do Ministério do Planeja­ que foi desenvolvido um sistema que
mento (SLTI/MP), Cristiano Heckert, compra compartilhada pesquisa os melhores preços direta­
demonstra que o governo federal está qualifica os gastos públicos mente nos sites das companhias aé­
empenhado em melhorar a qualidade reas credenciadas. Além disso, um
dos gastos públicos e em padronizar e ajuda a modernizar a gestão “buscador” foi adquirido junto a um
os procedimentos de aquisição. fornecedor de tecnologia para a pro­
CRISTIANO HECKERT
E foi justamente para dar conta de cura, reserva, emissão, compra, re­
toda essa cadeia de compras que o marcação e cancelamento de passa­
governo federal decidiu centralizar a aquisição e contratação de bens gens diretamente com as companhias aéreas.
e serviços de uso comum aos órgãos da administração direta do Po­ Ele conta que a plataforma contratada foi integrada, por web ser­
der Executivo. Para isso, instituiu, por meio do Decreto 8.189, de ja­ vice, com o Sistema de Concessão de Diárias e Passagens (SCDP), por
neiro de 2014, a Central de Compras e Contratações com o objetivo onde são enviados os dados da viagem às companhias aéreas, como
de obter mais eficiência no gasto público, padronizar procedimentos origem, destino e data. “Após a cotação, o próprio sistema apresenta
e melhorar o controle e a fiscalização das compras federais. ao usuário as opções dentro dos parâmetros preestabelecidos no
De acordo com a coordenadora­geral de licitações do Ministério SCDP. A partir daí, basta ele escolher o voo e solicitar a emissão do bi­
do Planejamento (MP), Virgínia Bracarense Lopes, o primeiro módulo lhete de viagem”, explica Farias.

36 MAI/JUN 2015
A ECONOMIA EM NÚMEROS
Fonte: Ministério do Planejamento (MP)

AQUISIÇÃO DE
SERVIÇOS DE TELEFONIA:

1 70 49,5%
único
processo
órgãos
públicos
de economia

de compra Preço garantido e reserva por 72 horas


Além dessa facilidade, Virgínia Lopes conta que foi negociado
com as companhias o direito de assegurar o preço e o assento por 72
horas, benefício exclusivo do governo federal. Dessa forma, o gover­
no passou a adquirir as passagens com o menor preço no momento
da cotação e reserva, já que o pagamento é realizado instantanea­
mente, por meio de um cartão eletrônico de pagamentos.
COMPRA DE EQUIPAMENTOS Para Virgínia, esse mecanismo agiliza o processo, uma vez que eli­
DE VIDEOCONFERÊNCIA: mina a necessidade de emissão de inúmeras faturas, e facilita o con­
trole de gastos porque concentra todas as despesas relacionadas às

2 98 R$ 500
passagens em um único canal. “Esse novo modelo de aquisição ga­
rantiu um desconto médio de 21% nas compras e uma economia de
mais de 10% aos cofres públicos”, afirma.
Em outubro de 2014, foi a vez da inovação chegar aos serviços de
grandes
licitações
órgãos
públicos milhões telefonia fixa. Naquele mês, em um único processo de compra, o go­
de economia verno contratou serviço de telefonia fixa para 70 órgãos, no que foi
considerado o primeiro grande teste para a criação efetiva da Central
de Compras. Segundo o Ministério do Planejamento, a economia
com o processo de compra unificado foi de 49,5% em relação ao
preço praticado no contrato anterior.
COMPRAS DO Duas em vez de 114
EXECUTIVO FEDERAL Em março desse ano, a Central lançou dois editais para a compra
de equipamentos de videoconferência e ativos de rede para ministé­
76. 9 rios, secretarias e Presidência da República. Na ocasião, a demanda
BILHÕES dos órgãos, de forma separada, somava R$ 800 milhões, mas os ga­
62. 1 nhos de escala e a melhoria na especificação dos materiais reduziram
BILHÕES o custo das aquisições para cerca de R$ 208 milhões.
Serão duas grandes aquisições conjuntas. A primeira envolve a
participação de 61 órgãos e prevê a instalação de 809 salas de co­
170 municação remota em 81 cidades até 2016. O segundo lote dessa
MIL 129
aquisição, com 37 entidades participantes, prevê a compra de 2,8 mil
equipamentos como switches, transceptores e racks para órgãos pú­
MIL blicos espalhados por 39 cidades.
Cristiano Heckert, da SLTI, afirma que nos padrões antigos de
aquisição seriam necessários 114 processos licitatórios para aquisição
de todos esses equipamentos e serviços. “Realizamos duas licitações
em vez de 114 processos, o que gerou uma enorme economia para
os cofres públicos. Ficou evidente que a compra compartilhada qua­
lifica os gastos e ajuda a modernizar a gestão”, conclui.

Reais Processos de compras


MAI/JUN 2015 37
ARTI GO

REDES DEFINIDAS
POR SOFTWARE:
A EVOLUÇÃO DAS
ARQUITETURAS DE REDES

A
s redes atuais são elementos fundamentais drões SDN, ela pode ser totalmente gerenciada por di­
para os modernos ambientes de negócio, pois versos controladores.
são responsáveis por fornecer os meios de co­ Para compreender melhor por qual razão SDN tor­
municação que a organização precisa para executar nou­se tão importante, precisamos olhar para o que
aplicações, fornecer serviços e serem competitivas. existia antes do mundo SDN. As arquiteturas de rede
Apesar da evolução da internet, sua tecnologia, re­ tradicionais têm limitações significativas que devem ser
presentada pela arquitetura em camadas do modelo superadas para atender as modernas exigências da tec­
TCP/IP, não evoluiu suficientemente nos últimos 25 nologia da informação (TI). A rede atual deve ser di­
anos. A internet tornou­se comercial e os equipamen­ mensionada para acomodar maiores cargas de trabalho
tos de rede tornaram­se “caixas­pretas”, ou seja, imple­ com maior agilidade, além de manter o custo em um
mentações integradas verticalmente baseadas em nível mínimo. A abordagem tradicional tem limitações
software fechado sobre hardware proprietário. O resul­ substanciais, como:
tado desse modelo é o engessamento das arquiteturas • Complexidade: a grande quantidade de protocolos
de redes. de rede e recursos aumentaram a complexidade da re­
Nesse contexto, surgiram as Redes Definidas por de. Recursos e equipamentos de redes tendem a ser
Software (do inglês, Software­Defined Network – SDN) específicos de fornecedor.
que representam uma nova maneira de olhar a forma • Políticas inconsistentes: políticas de segurança e
como as redes são controladas, configuradas e opera­ qualidade de serviço (QoS) precisam ser configuradas
das. Em geral, SDN significa que as redes são controla­ manualmente (suscetíveis a erros) ou com scripts em
das por softwares (controladores SDN), em vez dos centenas ou milhares de nós. Esse requisito torna as
consoles de gerenciamento de redes e comandos que mudanças complicadas para as organizações imple­
exigem um grande esforço operacional, tornando com­ mentarem inovações sem um investimento em conhe­
plexa a administração em larga escala. cimento na linguagem de scripts ou em ferramentas
O paradigma SDN é baseado em tecnologias aber­ que automatizem esse processo.
tas. Isso garante maior interoperabilidade, inovação e • Não escalável: Na medida em que as cargas de tra­
flexibilidade na implementação em provedores de ser­ balho mudam e a demanda por recursos de rede au­
viços (ISP). Se a rede está em conformidade com os pa­ mentam, a TI tem de ser satisfeita com uma rede está­

38 MAI/JUN 2015
tica ou terá de crescer com as necessidades da organização. Infelizmente, a maioria das re­
des tradicionais são estaticamente provisionadas, de modo que o aumento do número de
nós, serviços ou a largura de banda exige planejamento substancial e redesenho da topolo­
gia de rede.
Inicialmente, antes da compreensão real dos casos de uso, havia inúmeras dúvidas em
torno da SDN, mas o que surge lentamente e direciona todo o investimento, pilotos e
designs de produto é a melhora no gerenciamento da rede de longa distância (WAN), cen­
tros de dados e redes em nuvens – e para automatizar as tarefas de TI, onde a infraestrutura
pode responder dinamicamente as rápidas mudanças nas condições de negócios e requisi­
tos. A inteligência para fazer tudo acontecer está se movendo dos dispositivos de rede para
políticas de gerenciamento baseadas em controladores centralizados.
O controlador de rede ou sistema operacional de rede pode concentrar a comunicação
com todos os elementos programáveis que compõem o domínio e oferecer uma visão uni­
ficada do estado e do comportamento da rede. É importante observar que essa noção de
visão única e centralizada da rede é uma visão lógica.
Isso é possível através do princípio da separação do plano de controle (que decide como
lidar com o tráfego de rede) e do plano de dados (que encaminha o tráfego de acordo com
as decisões do plano de controle). O plano de controle exerce gerenciamento sobre o esta­
do do plano de dados nos elementos da rede (roteadores, comutadores e appliances) atra­
vés de uma interface entre aplicativo e programação (API) bem definida. A partir dessa in­
terface é possível gerenciar e controlar o comportamento de toda a rede.
Com isso, a evolução dos ISPs para o mundo SDN se faz necessário, visto que
proporciona aos administradores locais de rede estenderem seus conhecimentos através de
uma arquitetura flexível, programável e com a possibilidade de realizar pesquisas em um ce­
nário real de produção e em larga escala sobre redes dinamicamente aprovisionadas. Essas
novas funcionalidades prestam substancial contribuição ao desenvolvimento de novas apli­
cações e serviços, aceleram descobertas e criam inovações científicas e tecnológicas ao
prestador do serviço.

Foto: Arquivo Serpro

Davis Victor Feitosa de Oliveira


É ciberativista, Geek, usuário da plataforma Android e
especialista em Infraestrutura de Tecnologia da Informa­
ção e Comunicação (TIC) com mais de dez anos de experi­
ência em redes de computadores. Fez mestrado em ciência
da computação pela Universidade Federal do Pará (UFPA) e é
chefe da divisão de especialização em Infraestrutura de TIC do
Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro). Possui
certificações CCNP, RHCE, LPI­3 e ITIL v3. Também é pesquisador
membro do Grupo de Estudos em Redes de Computadores e Co­
municação Multimídia (Gercom) da UFPA com ênfase em Computa­
ção em Nuvem e Internet do Futuro.

MAI/JUN 2015 39
SOFTWARE LI VRE

O software livre mudou-se


pro nosso prédio
Tecnologias livres proporcionam soluções engenhosas para automação
predial e ampliam sua difusão no mercado
TEXTO VICTOR CARVALHO
DESIGN DEMIAN PONTES

C
om acesso facilitado devido aos volumes antes demandavam deslocamentos físicos e por vezes
de produção e à facilidade de encontrar a atuação de um empregado, como a abertura de
documentação técnica para profissionais e portões e o acendimento de luzes de forma remota.
entusiastas da área, produtos eletrônicos Jaitony conta que, por provocação de um amigo
como microcontroladores estão cada vez que detinha uma empresa que já atuava na área, criou
mais fazendo parte da vida dos cidadãos brasileiros, e o sistema que utiliza em seus eixos centrais a placa
muitas vezes chegando até onde menos se imagina. microcontroladora Arduino e o software de voz sobre
Uma prova desses avanços é o microempresário IP Asterisk. Ambos são tecnologias livres, que deter-
paraibano Jaitony de Sousa, proprietário da Solution minaram sua escolha para resguardar a continuidade
J ai ton y de Sousa: Network, especializada em redes de computadores e de seu negócio. “São de fácil aplicação, desenvolvi-
software livre res­ automação. Atuando na capital João Pessoa e região, mento, hardware para as aplicações e documentação.
guarda continuidade Jaitony apresentou, há cerca de um ano, um serviço Neste caso optamos porque não ficamos amarrados a
do negócio inovador que permite que moradores e síndico de um um fabricante que pode descontinuar o produto na
condomínio de apartamentos controlem funções que hora que deseja”, lista seus principais motivos.
O serviço criado por Jaitony faz
com que o cliente, de posse de
Foto: Arquivo pessoal

um telefone comum (geralmente


um celular) ligue para um número
especial. Este número é o de uma
Não ficamos central de PABX virtual, estabele-
cida em um computador e geren-
amarrados a um ciada pelo Asterisk, com acesso
via serviço de voz sobre IP. Essa
fabricante que pode central, por sua vez, está ligada a
um microcontrolador Arduino,
descontinuar o produto que faz os acionamentos dos sis-
temas de acordo com as entradas
na hora que deseja proporcionadas pelo Asterisk.
O Arduino já é um velho conhe-
cido da comunidade de software
livre: as pequenas placas microcon-

40 MAI/JUN 201 5
As pessoas conseguem criar
componentes e integração
entre eles e compartilhar
essas informações
Foto: Arquivo Serpro

troladoras são utilizadas para as mais diversas aplica- O analista de desenvolvimento do Serpro na regio-
ções, desde a automação já citada, mas também para nal Salvador, Robson Ximenes, lembra que a adoção Robson Xi m en es:
robótica, telefonia, indústria automobilística, entre ou- do Arduino para tais aplicações vem sendo feita há uso do Arduino não é
tras. Foi projetado oficialmente por um grupo de enge- cerca de uma década. “Desde o início do projeto, ele recente e demonstra
nheiros italianos, que criaram a empresa SmartProjects e foi elaborado visando esse potencial”, complementa. competência
venderam mais de 700 mil kits para todo o mundo. Robson é também membro do grupo Arduino in Rio,
Já o Asterisk é uma implementação de uma central um dos principais grupos de discussão sobre a placa
de PABX sob a forma de software. Seu código é livre e microcontroladora no país.
funciona em sistemas Unix ou similares, podendo ser Robson diz que o uso de hardware aberto, com
conectado tanto a redes públicas de telefonia fixa co- ampla documentação, facilita o trabalho de quem
mo a sistemas de VoIP – que é justamente o caso da tem de utilizar microcontroladores, por uma série de
implementação de Jaitony para poder oferecer seu motivos. “As pessoas conseguem criar componentes
serviço de automação. e integração entre eles e compartilhar essas informa-
O empresário já instalou o seu sistema em dez con- ções, podendo reconstruir esse hardware com suas
domínios e empresas da capital paraibana, e tem con- próprias peças”, explica.
trato assinado para a instalação em mais 1 2. O merca- O analista baiano informa que, no entanto, trata-se
do, aliás, ainda pode ser mais promissor. “Pode ser fa- antes de mais nada de uma ferramenta que foi pensa-
cilmente adaptado para uso em residência, e já tem da para ensaios de funcionalidade, apesar da possibili-
suporte a IPv6 nativo, que hoje ainda é raro em equi- dade de aplicação como produto final. Dessa forma,
pamentos de rede de baixo custo”, detalha ele, apon- serve para que as pessoas encontrem seu próprio ca-
tando que o sistema é inovador por estar compatível minho e depois desenvolvam soluções próprias, com
ao novo protocolo de conexão à internet, o que per- funcionalidades específicas e sem necessidade de
mite uma série de vantagens na transmissão de dados, hardware extra. “A gente coloca o Arduino como
como por exemplo, aumentar a velocidade de conexão. ponte de integração entre um hardware nosso. Proto-
Em parte pelo fato de utilizar tecnologias livres, Jai- tipa-se com ele e depois se produz um hardware com
tony confia no potencial de expansão e de melhorias. equipamento mais apropriado”, atenta.
“Existe uma segunda etapa, que ainda não foi finali- Para tanto, existem diversas ferramentas que auxiliam
zada, ao qual por comando de voz ele vai fazer o aci- no desenvolvimento do circuito eletrônico e fabricação
onamento de funções”. Segundo ele, o trabalho nessa dessas placas específicas, como o portal fritzing.org. O
nova funcionalidade já começou e deve ser oferecido projetista pode também encaminhar para um fabricante
ao público em breve. de equipamentos eletrônicos de sua confiança.

MAI/JUN 201 5 41
OPINIÃO

GOVERNANÇA
CORPORATIVA:
integração de dados
e processos

C
RAUL COELHO SOARES
Diretor de Tecnologia da Informação e Comunicação do
Departamento de Trânsito do Distrito Federal (Detran/DF)

ompelido a refletir sobre fatores importantes volvimento ágil, é uma arquitetura perfeita para o re-
para uma boa governança – seja pública, desenvolvimento ou desenvolvimento de grandes sis-
corporativa, de TI, ou qualquer outra – me temas. Padrão e métodos, quando associados, não só
veio imediatamente à mente: a integração evitam o retrabalho, mas reduzem o risco de redundar
de dados e processos. A integração tem avançado de informação e propiciam a identificação de integrações.
forma significativa nas organizações onde os sistemas Considero que soluções desenvolvidas para atender
antigos tendem a ser substituídos por soluções foca- uma eficiente gestão por processos, com módulos distin-
das em macroprocessos. Com o avanço da tecnologia, tos e interoperáveis entre si, com facilidade para o esca-
as novas soluções podem nascer interoperáveis e, ali- lonamento, reúso e fácil manutenção serão um grande
adas à importância que os ór- facilitador para que o Brasil supe-
gãos e gestores têm dado ao re a crise atual. O governo preci-
tema, refletem em melhorias Economizando, sa rever seus processos, evitando
significativas para a sociedade. produzindo sistemas sistemas onde não foram aplica-
É fato que a modelagem, o
retrabalho e o redesenho dos de melhor qualidade das melhores práticas, complexos
e com alto custo para realização
processos crescem e, por ve- e entregando à sociedade o de manutenções evolutivas.
zes, os resultados são sequer Trazendo para um exemplo
implementados, mas não po- que ela de fato demanda, o prático, do cotidiano do De-
demos esquecer que o desen- governo pode contar com tran/DF ou, como diria, “meu
volvimento de um sistema po- mundo real”, hoje o Denatran –
de ocorrer de forma bem mais soluções mais estáveis orgão central e responsável pelo
rápida do que um trabalho Macroprocesso Trânsito – esta-
desse porte. O desafio então é dar velocidade ao ma- belece mudanças que são adiadas constantemente, pois
peamento, em nível menos granular e já considerando os estados não conseguem acompanhar essas novas
suas entradas e saídas em forma de dados. determinações. Se fosse possível contar com uma arqui-
Assim foi minha experiência com o Modelo Global tetura comum, baseada no macroprocesso, não seria
de Dados (MGD), padrão que permite identificar os mais eficiente e econômico para todos os envolvidos?
dados e processos passíveis de integração, no nível de Economizando, produzindo sistemas de melhor
detalhamento necessário para o gestor identificar qualidade e entregando à sociedade o que ela de fato
ações de melhoria de processos e de desenvolvimento demanda, o governo pode contar com soluções mais
de soluções. O MGD permite ainda agilidade nos re- estáveis, rastreabilidade e integridade nos dados ne-
quisitos, estabelece as prioridades e dependências e, cessários à sua própria tomada de decisão, um dos
principalmente, evita o retrabalho. Aliado ao desen- principais requisitos da governança.

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