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RELATO DE PESQUISA

A arterapia e o desenvolvimento do
comportamento no contexto da
hospitalização*

ART THERAPY AND BEHAVIOR DEVELOPMENT IN THE CONTEXT OF HOSPITALIZATION

EL ARTETERAPIA Y EL DESARROLLO DEL COMPORTAMIENTO EN


EL CONTEXTO DE LA HOSPITALIZACIÓN

Ana Cláudia Afonso Valladares1, Ana Maria Pimenta Carvalho2

* Extraído da RESUMO ABSTRACT RESUMEN


dissertação “Artete- A hospitalização pode ter efeitos Hospitalization may have La hospitalización puede tener
rapia com crianças
hospitalizadas”,
negativos sobre o desenvolvi- negative effects on child efectos negativos sobre el
Escola de Enferma- mento e comportamento infantil. development and behavior. Thus desarrollo y comportamiento
gem de Ribeirão Assim, objetivou-se avaliar, neste the aim of this work was to infantil. Así, se tuvo como
Preto da Universidade
de São Paulo
trabalho, o comportamento de evaluate the behavior during the objetivo evaluar, en este trabajo,
(EERP-USP), 2003. crianças com idade de 7 a 10 anos hospitalization of 7- to 10-year el comportamiento de niños con
1 Enfermeira internadas, antes e após inter- old children, before and after art edad de 7 a 10 años internados,
Pediátrica e
Arteterapeuta.
venção de arteterapia. Utilizou- therapy intervention. It was antes y después de la intervención
Professora se, para esse fim, um esquema proposed a quasi-experimental de la arteterapia. Se utilizó, para
Assistente da quasi-experimental com grupo plan with a control group (n=10) este fin, un esquema cuasi-
Faculdade de
Enfermagem da controle (n=10) e um grupo and a group that was submitted experimental con grupo control
Universidade experimental (n=10). Os to art therapy intervention (n=10) y un grupo experimental
Federal de Goiás resultados mostraram que as inter- (n=10). Results show that these (n=10). Los resultados mostraron
(FEN/UFG) e
Doutoranda pela venções de arteterapia foram efi- interventions were effective in que las intervenciones de
EERP/USP. cazes, por promoverem a melho- improving the behavior of the arteterapia fueron eficaces, por
aclaudiaval@ ria das respostas comportamen- children. Hospitals can also be promover la mejora de las
terra.com.br
2 Psicóloga. tais de seus participantes. Con- stimulating environments for respuestas de comportamiento de
Professora Doutora clui-se, então, que os hospitais children if they offer them health sus participantes. Se concluyó,
da EERP/USP. podem ser ambientes estimu- care practices that go beyond the entonces, que los hospitales
lantes para a criança, imple- disease. pueden ser ambientes estimu-
mentando práticas de cuidados lantes para el niño, imple-
para além da doença. mentando prácticas de cuidados
para más allá de la enfermedad.

DESCRITORES KEY WORDS DESCRIPTORES


Terapia pela arte. Art therapy. Terapia con arte.
Comportamento infantil. Child behavior. Conducta infantil.
Criança hospitalizada. Child, hospitalized. Niño hospitalizado.

Rev Esc Enferm USP Recebido:


A arteterapia e o desenvolvimento 18/11/2004
do comportamento

350 2006; 40(3):350-5.


www.ee.usp.br/reeusp/
Aprovado: 22/06/2005
no contexto da hospitalização
Valladares ACA, Carvalho AMP.
INTRODUÇÃO O desenvolvimento infantil é um processo complexo, que
envolve as diferenças individuais e as específicas de cada
No contexto da arteterapia, as modalidades de expressão período, como mudanças nas características, nos comporta-
não-verbais assumem grande importância na relação tera- mentos, nas possibilidades e limitações de cada fase da vida,
peuta-criança, uma vez que o comportamento revela alguns indistintamente. Por isso, a singularidade das crianças lhes
sinais da comunicação não-verbal da criança expressos pelo é conferida por influências de seu ritmo próprio de desen-
corpo, como: postura, olhar, orientação dos gestos e movi- volvimento e por características pessoais que as diferenci-
mentos corporais, expressão emocional, expressão facial, am das demais(4).
aproximação ou distanciamento do espaço pessoal e con- O período que vai de sete aos dez anos de idade, objeto
duta tátil(1). Como linguagem não-verbal, os sinais paralin- de estudo deste trabalho, e que se convencionou chamar de
güísticos, expressos pela entonação de voz e pela velocida- escolar, é decisivo para a estruturação harmoniosa do indi-
de de pronúncia, entre outros, são importantes de serem víduo(8). Nesta etapa, ocorrem transformações significati-
analisados como expressão do pensamento ao lado da co- vas na vida da criança, abrangendo os aspectos cognitivos,
municação verbal (palavras)(1). socioemocionais e da comunicação plástica, quando seu
Assim, o estudo do não-verbal favorece a capacidade raciocínio fica mais lógico e passa a compreender melhor os
do profissional de saúde de perceber com maior nitidez sen- fatos(4); ademais, neste período, amplia suas relações, dis-
timentos do cliente, suas dúvidas e dificuldades de tanciando-se do convívio familiar, movendo-se em direção
verbalização, ademais, auxilia potencializar sua própria co- ao contexto social e aos grupos de pares, passando a ser
municação, enquanto elemento transmissor de mensagens(1). menos egocêntrica(8).

Nas intervenções de arteterapia, a predo- O objetivo deste trabalho foi avaliar o com-
minância é do não-verbal, isto é, a abordagem portamento de crianças com idade de sete a
A arteterapia possibilita dez anos, internadas devido a moléstias infec-
e as formas de intervenção destinam-se ao
confronto com conteúdos inerentes a proces-
à criança não só a ciosas, antes e após intervenção de arteterapia.
sos psíquicos primários e pré-verbais. O liberdade de
arteterapeuta, na intervenção, utiliza a pala- expressão, mas MÉTODO
vra durante o desenrolar dos processos ex- sustenta sua
pressivos, não de forma abusiva, pois ela po- autonomia criativa, Tipo de estudo: as autoras trabalharam
derá dificultar o aprofundar da psique. Após amplia o seu com a abordagem quantitativa e delineamen-
o término das atividades plásticas, a palavra conhecimento sobre o to quasi-experimental.
poderá ser mais produtiva, com o objetivo de mundo e proporciona
melhor expor as experiências subjetivas, de Amostra e local: caracterizaram a amos-
seu desenvolvimento
maneira às vezes mais profunda. De qualquer tra vinte crianças internadas no Hospital de
emocional e social. Doenças Transmissíveis (HDT) de Goiânia
forma, antes ou depois da palavra, com ou
sem ela, o indivíduo já terá experimentado - Goiás, durante o primeiro semestre de 2003,
dentro de si, algo que efetivamente a arteterapia tem de maior sendo que dez compuseram o grupo experimental (grupo
eficácia terapêutica, como: expressar, configurar e materializar que passou por intervenções de arteterapia) e outras dez,
conflitos e afetos(2). o grupo controle (grupo que não passou por intervenções
de arteterapia). Os grupos foram constituídos por crianças
A arteterapia não é mero entretenimento, mas, sim, uma de ambos os sexos, na faixa etária entre sete anos e sete
forma de linguagem que permite à pessoa comunicar-se com meses a dez anos e onze meses de idade.
os outros. Desse modo, possibilita à criança não só a liber-
dade de expressão, mas também sustenta sua autonomia Procedimentos: este estudo é parte da dissertação da
criativa, ampliando o seu conhecimento sobre o mundo e autora principal, intitulada: “Arteterapia com crianças hos-
proporcionando seu desenvolvimento tanto emocional, pitalizadas”, tendo sido aprovado pelo Comitê de Ética em
como social. Por conseguinte, é importante à vida da pes- Pesquisa Médica Humana e Animal do HDT. A pesquisado-
soa, e pode ser de grande valor para aquelas que apresen- ra principal consultou as crianças e seus responsáveis quan-
tam patologias diversas e estão hospitalizadas(3). to ao desejo de participarem do mesmo, e após sua aquies-
cência, os responsáveis assinaram o Termo de Consenti-
No caso das crianças, o adoecimento favorece altera- mento Livre e Esclarecido, conforme as normas de pesquisa
ções na sua vida, como um todo, podendo, muitas vezes, com seres humanos – Resolução nº196/96(9).
desequilibrar seu organismo interna e externamente, o qual,
em conseqüência disso, gerará um bloqueio no seu proces- Analisou-se o comportamento das crianças com relação
so de desenvolvimento e comportamento saudável, especi- à arteterapeuta e ao material durante as avaliações iniciais
almente se a doença for longa(4-7). (antes do processo arteterapêutico) e finais (após as inter-

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venções de arteterapia), conduzidas em atendimento indi- d) Análise dos dados: para análise comparativa dos
vidualizado, os quais seguiram uma temática padronizada, dados, aplicou-se o teste T de Wilcoxon(11) nas duas amos-
isto é, a autora principal propôs para o desenvolvimento tras dependentes. Nos protocolos de avaliação realizados
das avaliações (inicial e final) cinco modalidades artísticas estão contidas pontuações relativas à qualidade dos de-
(desenho, pintura, colagem/recorte, modelagem e constru- sempenhos, aos quais atribuíram-se níveis de gradação de
ção) e na medida em que as crianças construíram seus tra- pontos na ordem crescente, isto é, do nível inferior para o
balhos artísticos, estas eram observadas por um auxiliar de superior de qualidade. A avaliação geral do comportamen-
pesquisa. to dos grupos (A e B) mostrou um resultado total, conside-
rando-se as dez assertivas sobre o comportamento da cri-
A observação direta e participante, durante as avalia- ança em relação à arteterapeuta (Anexo 1) e 14 assertivas
ções, foi muito importante para se obter uma avaliação do sobre o comportamento da criança em relação ao material
comportamento em seu contexto situacional, com base em de arte (Anexo 2).
uma descrição sistemática do mesmo na situação “natural”
das avaliações (iniciais e finais) e após a observação efe-
RESULTADOS E DISCUSSÃO
tuou-se o registro das mesmas em categorias.

O instrumento empregado para análise dos dados foi a Com a intenção de verificar a existência ou não de dife-
Ficha de Avaliação de Características do Comportamento renças no comportamento da criança com relação à
das Crianças, uma adaptação das escalas do modelo de arteterapeuta e ao material de arte, nas avaliações inicial e
Machado, Figueiredo & Selegato(10), que visavam à obser- final de cada grupo, separadamente, realizaram-se as com-
vação de campo em sala de aula, tendo sido ajustadas para parações utilizando o Teste T de Wilcoxon. O Quadro 1 exi-
o presente estudo, com o fim de avaliarem os comportamen- be o desempenho dos grupos A (experimental) e B (contro-
tos dos participantes (crianças) na sua relação com a le), separadamente, no que diz respeito aos resultados obti-
arteterapeuta e com o material de arte em si (Anexo 1 e 2). dos nas duas modalidades.
Os itens avaliados em relação à arteterapeuta foram: os
níveis de agressividade, tranqüilidade, respeito, obediên- Quadro 1 – Comparação intragrupos dos escores obtidos
cia, comunicação, rebeldia, tensão, saliência, dependência e nas avaliações inicial e final, quanto ao comportamento
controle (Anexo1). Os itens avaliados em relação ao traba- das crianças, em relação à arteterapeuta e material de
lho executado, foram: os níveis de inquietação, arte* - Goiânia - 2003
impulsividade, organização, aplicação, tensão, saliência,
apatia, rapidez, atenção, interesse, participação, orientação, C o mpo rta me n to da cria n ça GA
GA GB
GB
persistência e cuidado (Anexo 2). Em relação à arteterapeuta A I <A F1 AI = AF
Quanto à avaliação dos itens relativos ao comportamen- Em relação ao material de arte A I <A F1 A I =A F
to, estes podiam estar presentes ou ausentes na dinâmica
da criança, sendo classificados em escores de até cinco pon- *Teste T de Wilcoxon(11)
1 p < 0,01
tos, evoluindo de um pólo oposto ao outro. GA (Grupo A - experimental): n = 10 GB (Grupo B – controle): n = 10
AI: avaliação inicial (antes das intervenções de arteterapia)
Um auxiliar de pesquisa, que recebeu treinamento prévio, AF: avaliação final (após as intervenções de arteterapia)
realizou as observações utilizando esse instrumento, tendo
Os dados do comportamento das crianças em relação à
também compartilhado as avaliações com a arteterapeuta.
arteterapeuta, no Quadro 1, indicam que a maioria dos sujei-
As intervenções de arteterapia consistiram de acompa- tos do grupo A (experimental) apresentou progresso signifi-
nhamento individual, realizadas no decorrer de sete sessões, cativo da avaliação inicial para a final, por mostrarem maior
durante três dias e meio consecutivos, com duração variada tranqüilidade, respeito, obediência, comunicação, solicitu-
de uma hora a três horas e meia, cada. Durante as interven- de, relaxamento, independência e controle, após as inter-
ções, trabalharam-se várias modalidades de arte apoiadas venções de arteterapia. Em relação ao aspecto de as crian-
às necessidades singulares de cada criança, favorecendo a ças estarem mais tímidas, não se registraram diferenças sig-
conduta focal e imediata e reforçando, assim, o vínculo. As nificativas nos dois grupos.
intervenções consistiram de técnicas lúdicas e de ativi-
Quanto ao grupo B (controle), este na avaliação final
dades artísticas, com condução espontânea das dinâmicas,
não indicou alterações estatisticamente significativas em
o que favoreceu a exteriorização da subjetividade da crian-
relação à avaliação inicial, demonstrando pontuações seme-
ça. Durante as intervenções utilizaram-se várias modali-
lhantes nas duas avaliações (inicial e final).
dades expressivas, entre elas, o desenho, a pintura,
a colagem, a modelagem, a construção, a gravura, o origami, Observa-se, sobretudo, que as categorias que progredi-
a dramatização, os jogos educativos e a escrita criativa. ram no grupo A (experimental) referem-se às reações, que

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exigem da criança maior envolvimento com outra pessoa, Salienta-se a diferença positiva do grupo A (experimen-
neste caso a arteterapeuta. As crianças normalmente mani- tal), após intervenções de arteterapia e enfatiza que as ofici-
festam defesas cristalizadas, mas através da efetivação de nas de arte são espaços que propiciam alívio de tensões,
vínculos estas defesas vão se desfazendo. A criança neces- por favorecerem a expressão do momento de vida do indiví-
sita perceber o suporte que existe na situação terapêutica duo, facilitarem um encontro consigo mesmo e por amplia-
para que, adquirindo confiança, possa relaxar e deixar-se rem seu contato com a realidade(16).
envolver(12).
Concordando com estas afirmações, outro pesquisa-
Os dados desta pesquisa vão ao encontro da concepção dor(19) notara que a arteterapia auxilia, sobremaneira, tan-
de que a intervenção da arteterapia funciona como um mo- to na elaboração da auto-expressão do indivíduo, como
mento de descontração e alívio de estresse. A arteterapia na de conteúdos internos (sentimentos, emoções, lem-
serve como calmante ou tranqüilizador, sendo uma medida branças etc) e alívio de tensões. A expressão artística
preventiva ao embotamento psíquico, agindo também como tende a ser extremamente importante e facilitadora na ela-
facilitador de competências para a noção de aquisição de boração de conteúdos internos difíceis e delicados, gera-
esquemas de vida diária(13). dores de conflitos(20).
Pesquisando-se os efeitos de um Programa de Ativida- Além destes autores, outra arteterapeuta igualmente
des(14) (que incluía a leitura, a estimulação, o relaxamento e a relata que, no contexto da expressão criativa que propicia
fantasia) sobre o repertório comportamental de crianças, cons- a descoberta do significado de eventos psíquicos até en-
tatou que, a partir das atividades citadas acima, as do grupo tão obscuros, amplia-se a possibilidade de estruturação da
de adesão (experimental) emitiram comportamentos que facili- personalidade e constroem-se maneiras mais produtivas
taram a execução do procedimento médico de para a comunicação, interação e o estar-
inalação, em relação ao outro grupo, que não no-mundo(21).
teve acesso ao Programa. Os resultados dessa Ao se propor um
pesquisa corroboram os efeitos positivos no trabalho de arteterapia No tocante à arte, outro pesquisador(16)
comportamento, obtidos a partir das interven- cria-se a possibilidade refere que está é um meio de expressão, co-
ções de arteterapia. Tais resultados são coe- de organizar municação e linguagem, pois além de ser
rentes, também, com as observações de que a percepções, terapêutica sob diversas formas, o simples
ludoterapia oferece às crianças, qualquer que fato de o indivíduo se expressar plastica-
sentimentos e
seja sua idade, atividades estimulantes, diver- mente já é uma catarse. Através da arte pode-
sensações. se, também, aliviar a tensão e o estresse,
tidas e enriquecedoras, trazendo-lhes, ao mes-
mo tempo, calma e segurança(15). como uma forma de dizer coisas não aceitas
socialmente. A arteterapia, mais que uma profissão, é um
Ao se propor um trabalho de arteterapia, cria-se a possi- compromisso com a vida, um resgate da saúde pela liberda-
bilidade de organizar percepções, sentimentos e sensa- de de expressão(22).
ções(16), além do que, a descarga de tensão e o prazer de
fazer arte constituem uma maneira menos invasiva de abor- A arte tornou-se uma forma apropriada para desenvolver
dar essa clientela(17). na criança a independência, a curiosidade, a imaginação, a
criatividade, a iniciativa e a liberdade(23).
Subsidiando esses dados, pesquisadores(18) argumen-
tam que a atenção afetiva do arteterapeuta direciona a
CONSIDERAÇÕES FINAIS
relação que cada pessoa estabelece com a manipulação
do material, dos instrumentos e dos movimentos efica-
zes; assim, afora o resultado propriamente plástico, cons- Como se sabe, a hospitalização pode se constituir em
tata-se o prazer do contato sensorial do sujeito com o obstáculo ao desenvolvimento psicossocial normal das cri-
material e a manifestação de seus gestos, que transfor- anças e, assim, frente ao exposto, considera-se que o traba-
mam suas ações. lho de arteterapia junto às crianças hospitalizadas torna-se
fundamental para amenizar os efeitos negativos da doença,
Constata-se, pelos dados do Quadro, que as crianças do da hospitalização e do tratamento que tanto ameaçam o seu
grupo A (experimental) apresentaram mudanças, sobretudo desenvolvimento normal.
quanto a se mostrarem mais sossegadas, reflexivas, relaxa-
das, dinâmicas, rápidas, atentas e participativas, durante a As aquisições exibidas pelo grupo A (experimental), que
realização das atividades de arteterapia em relação ao mate- passou pelas intervenções de arteterapia, confirmam os re-
rial de arte. No que se refere à avaliação final do grupo B sultados dos estudos(3,24-25) realizados em hospitais pediá-
(controle), este teve seu repertório comportamental de en- tricos de Los Angeles (EUA), Goiânia e São Paulo, respecti-
trada (avaliação inicial) parecido com seu repertório vamente. Os autores sinalizam que, ao possibilitarem o con-
comportamental de saída (avaliação final). tato das crianças com as técnicas e materiais de arteterapia,

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verificaram que as mesmas podem vivenciar de forma menos midade ou diminuição de escores na comunicação não-ver-
sofrida e angustiante a internação, pois a arteterapia propi- bal na avaliação final, em relação à avaliação final.
cia mudanças no seu campo afetivo e emocional, melhoran-
do o equilíbrio emocional, ao término das sessões. A criança, durante seu desenvolvimento normal, explora
e interage com seu meio, de forma contínua, quando lhe são
A arteterapia é, pois, um excelente meio para canalizar, de oferecidas oportunidades em ambientes considerados fa-
maneira positiva, as variáveis do desenvolvimento da crian- voráveis. Portanto, cuidar de quem se encontra fragilizado e
ça hospitalizada e neutralizar os fatores negativos de ordem internamente desorganizado em função de uma doença gra-
afetiva que, naturalmente, surgem com o adoecer e a ve não é tarefa fácil, e cabe ao enfermeiro/ou outro profissi-
hospitalização, como: estresse, angústia, agressividade e onal arteterapeuta, que é um facilitar do processo da crian-
apatia; agindo preventivamente no sentido de evitarem a ça, propiciar um espaço não-ameaçador, que facilite as tro-
instalação de algumas disfunções que venham atrapalhar cas da criança com esse ambiente.
seu crescimento normal.
Ademais, este estudo contribui para o avanço do conhe-
Os fatores ambientais quando estimulantes ao desen- cimento na área de avaliação do comportamento infantil,
volvimento da criança serão positivos; quando não, podem permitindo avaliar com melhor precisão as mudanças da ex-
comprometê-lo(6). Esse fato explica, em parte, a razão pela pressão do pensamento e sentimentos das crianças, após
qual as crianças do grupo B (controle) apresentaram unifor- as intervenções de arteterapia.

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Anexo 1

Ficha de Avaliação de Características de Comportamento das Crianças, em relação à Arteterapeuta*


Nome da criança: .....................................................................................................................................................................
Grupo em Estudo: ( ) Experimental ( ) Controle
DN: ...../ ...../ ..... Idade: ................. anos Sexo: ( ) F ( )M
Data: ..../ ..../ .... Período: ............... Avaliação: ( ) Inicial ( ) Final

a) Classifique o paciente nas escalas abaixo julgando como ele se comporta em relação à Arteterapeuta:
De se m p e n h o Nív el Te n d ê n c i a L ev e Não L ev e Te n d ê n c i a Nív el De se m p e n h o
N í v e l (A ) (A ) pa r a (A ) Te n d ê n c i a pe rte n ce Te n d ê n c i a pa r a (B ) (B ) N í v e l (B )
+3
+3 +2
+2 pa r a (A ) n e m (A ) pa r a (B ) -2
-2 -3
-3
+1
+1 n e m (B ) -1
-1
0

1.A)Agressivo 1.B)Não agressivo


2.A)Provocativo 2.B)Tranqüilo
3.A)Desrespeitoso 3.B)Respeitoso
4.A)Desobediente 4.B)Obediente
5.A)Arredio 5.B)Comunicativo
6.A)Rebelde 6.B)Solícito
7.A)Tenso 7.B)Relaxado
8.A)Saliente 8.B)Tímido
9.A)Dependente 9.B)I ndependente
10.A)Explosivo 10.B)Controlado

(10)
* Adaptação ao Modelo de Machado, Figueiredo e Selegato

Anexo 2

Ficha de Avaliação de Características de Comportamento das Crianças, em relação ao Material*


Nome da criança: ......................................................................................................................................................................
Grupo em Estudo: ( ) Experimental ( ) Controle
DN: ...../ ...../ ..... Idade: ................. anos Sexo: ( ) F ( )M
Data: ..../ ..../ .... Período: ............... Avaliação: ( ) Inicial ( ) Final

a) Classifique o paciente nas escalas abaixo julgando como ele se comporta em relação ao material:
De se m p e n h o )N í v e l Te n d ê n c i a L ev e Não L ev e Te n d ê n c i a Nív el De se m p e n h o
N í v e l (A ) (A ) pa r a (A ) Te n d ê n c i a pe rte n ce Te n d ê n c i a pa r a (B ) (B ) N í v e l (B )
+3
+3 +2
+2 pa r a (A ) n e m (A ) pa r a (B ) -2
-2 -3
-3
+1
+1 n e m (B ) -1
-1
0

1.A)I nquieto 1.B)Sossegado


2.A)I mpulsivo 2.B)Reflexivo
3.A)Desordeiro 3.B)Ordeiro
4.A)Vadio 4.B)Aplicado
5.A)Tenso 5.B)Relaxado
6.A)Saliente 6.B)Discreto
7.A)Apático 7.B)Dinâmico
8.A)Lento 8.B)Rápido
9.A)Desatento 9.B)Atento
10.A)Desinteressado 10.B)I nteressado
11.A)Retraído 11.B)Participativo
12.A)Confuso 12.B)Orientado
13.A)Não persistente 13.B)Persistente
14.A)Descuidado 14.B)Cuidadoso
(10)
* Adaptação ao Modelo de Machado, Figueiredo e Selegato

Esta pesquisa foi financiada pelo CNPQ, vinculada ao Núcleo de Estudos e Pesquisa em Saúde Integral
(NEPSI)/ Faculdade de Enfermagem/ UFG.

Correspondência:
A Ana Cláudia Afonso
arteterapia e o desenvolvimento Valladares
do comportamento Rev Esc Enferm USP
Ruacontexto
no 227 Qd. 68
CEP 74605-080
Valladares
das/n. Setor Leste Universitário
hospitalização
ACA, -Carvalho
Goiânia -AMP.
GO
2006; 40(3):350-5.
www.ee.usp.br/reeusp/ 355

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