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A Nova Aliança
1ª Edição
Francisco Morato, SP
O Estandarte de Cristo
2020
Título Original
Capítulo 2
Exposição do versículo 7
A Necessidade de Uma Nova e Melhor Aliança
Uma Afirmação Positiva
A Prova desta Afirmação
Primeira Observação Prática
Segunda Observação Prática
Capítulo 3
Exposição do Versículo 8
A Nova Aliança
A Introdução do Testemunho
Sua Conexão
Seu Fundamento
Seu Verdadeiro Significado
Primeira Observação Prática
Segunda Observação Prática
Terceira Observação Prática
O Próprio Testemunho
O Autor da Promessa
Quarta Observação Prática
A Nota da Introdução
Quinta Observação Prática
Sexta Observação Prática
O Tempo da Realização
Sétima Observação Prática
A Coisa Prometida
Três Coisas que Coincidem na Nova Aliança
Por que Chamar de uma Aliança?
Oitava Observação Prática
As Coisas Contidas na Nova Aliança
O Autor dessa Aliança
Nona Observação Prática
As Pessoas com Quem essa Aliança é Feita
Décima Observação Prática
Décima Primeira Observação Prática
O Modo de Fazer a Nova Aliança
Seu Caráter Distintivo
Capítulo 4
Exposição do Versículo 9
A Novidade da Nova Aliança
As Razões para uma Aliança Diferente
A Primeira Aliança
Primeira Observação Prática
Segunda Observação Prática
Terceira Observação Prática
Quarta Observação Prática
Quem Eram Esses “Pais”?
A Quebra da Antiga Aliança
Quinta Observação Prática
Sexta Observação Prática
A Anulação da Antiga Aliança
A Verdade Dessas Coisas
A Promessa de Outra Aliança
Sétima Observação Prática
Oitava Observação Prática
Nona Observação Prática
Décima Observação Prática
Capítulo 5
Exposição dos Versículos 10-12
As Promessas da Nova Aliança
Exposição do versículo 10
Introdução da Declaração da Nova Aliança
O Assunto: A Criação de uma Aliança
Primeira Observação Prática
Segunda Observação Prática
Terceira Observação Prática
Quarta Observação Prática
O Autor dessa Aliança
Quinta Observação Prática
Com Quem a Nova Aliança é Feita
O Tempo de Fazer a Aliança
O Tempo Exato da Realização dessa Promessa
A Natureza das Promessas da Nova Aliança
A Natureza Geral dessas Promessas
Refutação da Interpretação Sociniana e Demonstração da
Verdadeira Interpretação em Seis Aspectos
Duas Objeções Respondidas
As Propriedades Abençoadas e os Efeitos da Nova Aliança
Primeira Bênção Geral – Restauração da Imagem de Deus em
Nós
O que é Atingido
Sexta Observação Prática
Em seus Entendimentos
O Modo de Produzir o Efeito
O que é Comunicado: Minhas Leis
A Natureza da Graça na Primeira Promessa
Sétima Observação Prática
Em seus Corações
Oitava Observação Prática
Nona Observação Prática
Décima Observação Prática
“E eu lhes serei por Deus, e eles me serão por povo.”
A Natureza dessa Relação
O Fundamento
O Mediador deve Ser Cristo
Décima Primeira Observação Prática
As Ações Mútuas
A Relação de Deus para com o Homem
Décima Segunda Observação Prática
Décima Terceira Observação Prática
Décima Quarta Observação Prática
Décima Quinta Observação Prática
A Relação do Homem com Deus
Décima Sexta Observação Prática
Décima Sétima Observação Prática
Exposição do Versículo 11
A Parte Negativa da Promessa
A Parte Positiva da Promessa
Refutação de uma Má Interpretação desse Texto
A Interpretação Correta do Texto
Em que Consistia a Remoção do Ensino?
O que Não Seria Mais Ensinado?
Várias Observações sobre Expressões Particulares
Décima Oitava Observação Prática
Décima Nona Observação Prática
Vigésima Observação Prática
Vigésima Primeira Observação Prática
Vigésima Segunda Observação Prática
A Parte Positiva da Promessa (continuação)
Para Quem Ela é Feita
Vigésima Terceira Observação Prática
Vigésima Quarta Observação Prática
Qual é o seu Assunto?
Vigésima Quinta Observação Prática
Vigésima Sexta Observação Prática
Vigésima Sétima Observação Prática
Exposição do Versículo 12
Vigésima Oitava Observação Prática
A Promessa Considerada
Para Quem é Ela Feita
Objeção e Resposta
Vigésima Nona Observação Prática
O que é Prometido
O que se Entende por Pecados
Trigésima Observação Prática
Trigésima Primeira Observação Prática
Trigésima Segunda Observação Prática
Trigésima Terceira Observação Prática
O que se Entende pelo Perdão dos Pecados
Capítulo 6
Exposição do versículo 13
A Necessidade e Certeza da Abolição da Primeira Aliança
A Palavra Especial ou Testemunho Bíblico
Uma Máxima Geral da Verdade
Uma Breve Biografia de John Owen
Em que,
A natureza e as diferenças entre a
Antiga e a Nova Aliança são
expostas.
Exposição do versículo 7
A Necessidade de Uma Nova e Melhor Aliança
Exposição do Versículo 8
A Nova Aliança
Porque, repreendendo-os, [queixando-se deles,] lhes diz: Eis
que virão dias, diz o Senhor, em que com a casa de Israel e com
a casa de Judá estabelecerei [quando eu farei] uma nova
aliança.[28]
Nesse versículo o apóstolo passa a provar o argumento que
estabeleceu anteriormente. Seu argumento foi que a primeira
aliança não era ἄμεμ π τος , “irrepreensível”, ou totalmente
suficiente para o fim geral de Deus; porque havia espaço para a
introdução de outra aliança, a qual foi feita para ser apropriada a
esse fim geral.
Com base no testemunho do profeta, o apóstolo faz duas
declarações acerca dessa aliança que estava para ser introduzida:
1. Sua qualificação, ou seu complemento especial; ela era “nova” (v.
8). 2. Uma descrição dela: (1.) Uma descrição negativa, em
comparação com a Antiga (v. 9). (2.) e uma descrição positiva, em
sua natureza e propriedades efetivas (vv. 10-12). De tudo isso ele
conclui o que estava buscando provar, reforçado com uma nova
consideração que a confirmava (v. 13), isso é o resumo da última
parte desse capítulo.
Há duas partes gerais nesse versículo: 1. A introdução do
testemunho, que deveria ser implementado em sua devida ocasião,
como expressado pelo apóstolo. 2. O próprio testemunho em que
ele insiste.
A Introdução do Testemunho
A primeira é feita com estas palavras: “Porque, repreendendo-
os, lhes diz”.[29] Aqui temos: 1. A nota de conexão; 2. O fundamento
sobre o qual o testemunho é construído; 3. O verdadeiro significado
das palavras a serem consideradas.
Sua Conexão
Existe a conjunção causal, γάρ , “porque”, que faz a conexão
com o versículo anterior. Aquilo que é intencionado é a confirmação
do argumento anterior. Essa é a prova da afirmação, foi buscado
lugar para outra aliança, o que evidenciou a insuficiência da
primeira, “porque...”, e ele indica que a razão não se refere às
palavras pelas quais isso está unido, “repreendendo-os”, mas se
refere àquelas palavras que vêm em seguida, “lhes diz”: “Porque…
lhes diz: Eis que virão dias”, o que prova diretamente o que ele
havia afirmado.
Seu Fundamento
O fundamento disso é indicado a partir do que é afirmado no
seguinte testemunho. Pois a Nova Aliança não deveria ser
introduzida absolutamente, sem a consideração de qualquer coisa
anterior, mas porque a primeira não era, ἄμεμ π τος ou
“irrepreensível”. Portanto, o apóstolo mostra que Deus a introduziu
como uma forma de repreensão. Ele fez isso para “repreendê-los”,
por “encontrar culpa neles”.
Seu Verdadeiro Significado
Essas palavras podem ser distinguidas e lidas de modos
diferentes. Pois, (1.) Colocando a nota de distinção assim,
΄εμφόμενος γὰρ , αὐτοῖς λέγει , o sentido é: “Porque encontrando
culpa”, queixando-se deles, culpando-lhes, “ele diz para eles”; de
modo que a expressão μεμφόμενος , “encontrar culpa”, faz
referência à própria aliança. Piscator[30] foi o primeiro que conheço,
que distinguiu as palavras desse modo; ele é seguido por
Schlichtingius e outros. Mas, (2.) Coloque a nota de distinção em
αὐτοῖς , como é feito pela maioria dos intérpretes e expositores, e
então o sentido das palavras é corretamente expresso em nossa
tradução em inglês, “Porque encontrando culpa neles” (isto é, com o
povo) “ele diz”. E αὐτοῖς pode ser regulado tanto por
μεμφόμενος quanto por λέγει .
As razões para fixar a distinção em primeiro lugar são: (1.)
Porque μεμφόμενος , “encontrando culpa”, corresponde diretamente
a οὐκ ἄμεμ π τος , não foi “irrepreensível” (v. 7). E isso contém a
verdadeira razão pela qual a Nova Aliança foi introduzida. E, (2.)
não foi a queixa de Deus em relação ao povo que de algum modo
tornou-se a causa da introdução da Nova Aliança, mas sua queixa
em relação à própria Antiga Aliança, que era insuficiente para
santificar e salvar a igreja.
Mas essas razões parecem não ter força para mudar a
interpretação usual das palavras, pois,
(1.) Embora a primeira aliança não fosse perfeita em todos os
seus aspectos em relação ao fim geral de Deus para com sua igreja,
ainda assim pode não ser tão seguro dizer que Deus se queixou
dela. Quando coisas ou pessoas mudam o estado e a condição em
que foram feitas ou designadas por Deus, ele pode queixar-se
delas, e fazer isso justamente. Assim, quando o homem encheu o
mundo de iniquidade, é dito que “arrependeu-se o Senhor de haver
feito o homem sobre a terra”.[31] Mas quando elas permanecem
inalteradas no estado em que foram feitas por Deus, então ele não
tem razão para queixar-Se delas. E assim foi com a primeira
aliança. Assim, nosso apóstolo disputa acerca da lei e argumenta
que toda a fraqueza e imperfeição dela provém do pecado, portanto
não havia motivo para queixar-se da lei, que em si mesma era
santa, justa e boa.[32]
(2.) Deus, nessa passagem, na verdade queixa-Se do povo, a
saber, que eles “quebraram a sua aliança”; e expressa sua
indignação por causa disso: “Eu para eles não atentei, diz o Senhor”
(v. 9). Mas não há nessa passagem, nem em todo o seu contexto,
nem na profecia aqui citada e nem em qualquer outro lugar da
Escritura qualquer palavra de queixa contra a aliança em si mesma,
embora que aqui seja indicada a sua imperfeição para alcançar o
fim geral do aperfeiçoamento da igreja.
(3.) Existe um remédio especial expresso nessa passagem
contra o mal do qual Deus Se queixa, ou a respeito do qual encontra
culpa no povo, esse mal foi: “Não permaneceram naquela minha
aliança” (v. 9). Então o remédio contra esse mal é expressamente
provido na promessa dessa Nova Aliança (v. 10). Para esse fim,
(4.) Deus faz essa promessa de uma Nova Aliança junto com
uma queixa contra o povo, e isso pode ser conhecido por ser um
efeito de graça livre e soberana. Não havia nada no povo que
pudesse obter tal promessa, ou que os qualificasse para ela, exceto
o fato de haverem quebrado perversamente a primeira aliança. E
podemos, portanto, observar,
Primeira Observação Prática
Muitas vezes Deus tem uma causa justa para queixar-Se de
seu povo, mesmo quando ele não os rejeitará totalmente. A igreja
tem vivido em todos os tempos apenas por causa de sua mera
misericórdia e graça; mas em alguns períodos, quando cai sob
grandes provocações, ela é advertida.
Segunda Observação Prática
É dever da igreja tomar conhecimento profundo das queixas de
Deus em relação a ela. Isso, de fato, não está no texto, mas não
deve ser ignorado nessa ocasião em que é mencionada a queixa de
Deus de “encontrar culpa neles”. E Deus não encontra culpa
somente quando ele fala imediatamente por novas revelações,
como nosso Senhor Jesus Cristo encontrou falhas e repreendeu
suas igrejas na revelação feita ao apóstolo João; mas ele faz isso
continuamente, pela regra da Palavra. E é dever especial de todas
as igrejas, e de todos os crentes, atentarem diligentemente para
aquilo que Deus repreende, em sua Palavra, e ficarem
profundamente impressionados com isso, na medida em que eles se
encontram culpados. A falta disso é que colocou a maioria das
igrejas no mundo sob uma segurança fatal. Por isso eles dizem,
pensam ou se comportam como se fossem “ricos, abastados e de
nada tendo falta”, quando, na verdade, “eles são desgraçados,
miseráveis, pobres, cegos e nus”.[33] Considerar acerca do que Deus
nos repreende, e comover nossas almas com um senso de culpa é
a essência do “tremer da sua palavra”,[34] que ele aprova. E toda
igreja que pretende andar com Deus para a sua glória deve ser
diligente nesse dever. E para guiá-los nisso, eles devem considerar
cuidadosamente:
1. Os tempos e as épocas que vivem. Deus conduz sua igreja
através de uma variedade de tempos; e em todos eles Deus requer
deveres especiais deles, deveres pelos quais ele será glorificado em
cada um deles. Se eles são falhos nisso, é aí então que Deus
grandemente os culpa e repreende. A fidelidade para com Deus em
sua geração, isso é, fidelidade nos deveres especiais e específicos
dos tempos e épocas em que viveram, é o motivo pelo qual Noé,
Daniel e outros homens santos são recomendados. Assim, há
tempos de grande abundância de iniquidades no mundo; tempos de
grande apostasia da verdade e da santidade; tempos de julgamento
e de misericórdia, de perseguição e tranquilidade. Em todos esses e
assim por diante, Deus requer deveres especiais da igreja, sobre os
quais o seu ser glorificado neles depende muito. Se eles falham
aqui, se não são fiéis quanto ao seu dever especial, Deus em sua
palavra encontra culpa neles, e os coloca sob repreensão. E como
muita sabedoria é necessária para a realização desse dever, então
eu não julgo que qualquer igreja possa cumprir seu dever de
qualquer modo agradável sem que faça uma consideração
apropriada disso. Pois a observação apropriada dos tempos e das
épocas, e a aplicação de nós mesmos aos deveres requeridos por
Deus em cada um desses períodos, é a essência do testemunho
que devemos acerca de Deus e do Evangelho em nossa geração.
Aquela igreja que não considera seu dever especial nos dias em
que vivemos, está profundamente adormecida; e podemos duvidar
se, quando for acordada, ela encontrará óleo em sua vasilha ou não.
2. As tentações que são prevalentes e a que inevitavelmente
estamos expostos. Cada era e tempo tem suas tentações
específicas; e é a vontade de Deus que a igreja seja provada com
elas e por elas. É fácil provar que em que grandes trevas e
ignorância os homens estão, ao não discernirem ou negligenciarem
as tentações específicas da época em que viveram, e isso tem sido
continuamente as grandes causas e os meios da apostasia da
igreja. Foi por esse meio que prevaleceu a superstição em uma era,
e a profanação em outra, bem como opiniões falsas e nocivas em
uma terceira. Agora, não há nada que Deus requeira mais
estritamente de nós, do que estarmos vigilantes contra as atuais
tentações mais comuns; e ele nos acusa de culpa, quando não
agimos assim. E aqueles que não estão atentos contra as tentações
que hoje prevalecem no mundo estão muito longe de andar de
modo agradável perante a face de Deus. E várias outras coisas
semelhantes podem ser mencionadas para o mesmo propósito.
Terceira Observação Prática
Deus muitas vezes surpreende a igreja com promessas de
graça e misericórdia. Nessa passagem — onde Deus reclama do
povo, encontra defeitos neles, os acusa de não permanecerem em
sua aliança e declara que, no que diz respeito a algo neles mesmos,
ele “para eles não atentou” — pode ser facilmente esperado que ele
iria agir de modo a lançá-los fora e rejeitá-los totalmente. Mas, em
vez disso, Deus os surpreende, por assim dizer, com a mais
eminente promessa de graça e misericórdia que já foi ou que
poderia ser feita a eles. Então ele fez promessas como as que
encontramos em Isaías 7:13-14 e 57:17-19. E Deus fará isso,
1. Para que ele possa glorificar as riquezas e a liberdade de
sua graça. Esse é o seu fim principal em todas as suas
dispensações para com a sua igreja. E como as riquezas e a
liberdade de sua graça podem se tornar mais evidentes do que ao
serem exercidas quando um povo está tão longe de qualquer
aparência de mérito, visto que Deus declara em seu julgamento que
eles merecem o seu maior desprazer?
2. Para que em nenhum momento alguém que tenha o mínimo
de sinceridade e desejo de temer o nome de Deus venha a
desfalecer e desanimar, mesmo quando estiver enfrentando muitas
coisas desencorajadoras. Deus pode agir, e frequentemente age, de
acordo com sua graça soberana, para o refrigério dos pecadores
mais abatidos. Entretanto, devemos prosseguir com nossa
exposição.
O Próprio Testemunho
A segunda observação contida nesse versículo é o próprio
testemunho em que ele insiste. E há no testemunho: 1. O autor da
promessa declarada nele, “[Ele] lhes diz”, e depois, “Diz o Senhor”.
2. A introdução feita pelo uso do advérbio que indica a coisa
pretendida, “Eis”. 3. O tempo da realização do que é aqui predito e
aqui prometido, “Virão dias.” 4. A coisa prometida é “uma aliança”,
em relação a qual é demonstrado: (1.) Aquele que a faz, “Eu”, “Eu
estabelecerei”; (2.) Aqueles com quem ela é feita, “a casa de Israel
e com a casa de Judá” (3). A maneira de fazer, συντελέσω ; (4.) A
sua propriedade é que ela é “uma nova aliança”.
O Autor da Promessa
Aquele que dá esse testemunho está incluído na palavra
λέγει , “lhes diz”, “repreendendo-os, lhes diz”. Aquele que se queixa
do povo por quebrar a Antiga Aliança, é o mesmo que promete fazer
a Nova. Assim, no versículo seguinte, é declarado: “Diz o Senhor”.
O ministério do profeta foi usado para declarar essas palavras e
coisas, mas elas são propriamente as palavras de alguém que falou
por inspiração imediata.
Quarta Observação Prática
“Lhes diz”, isto é, ְהו ה
ֹ ָ נְ אֻ ם י, diz o Senhor, ele é o objeto formal
de nossa fé e obediência. A ele eles devem buscar e a ele devem se
submeter, e a mais nenhum outro. Todos os outros fundamentos de
fé, tais como: “Assim diz o papa”, ou: “Assim diz a igreja”, ou: “Assim
disseram os nossos antepassados”, nada mais são do que delírios.
“Assim diz o SENHOR” é que dá descanso e paz.
A Nota da Introdução
Temos a nota de introdução, que busca chamar nossa tenção:
ה ֵנּ ה,
ִ ᾿ιδού , “Eis”. Esse advérbio sempre é usado para denotar algo
eminente, seja em si mesmo ou naquelas expressões a que serve
de prefácio. Pois a palavra exige uma diligência maior do que a que
prestamos quando consideramos e atentamos para o que é
proposto. E isso foi necessário para indicar essa promessa, pois o
povo para quem ela foi dada muito dificilmente seria dissuadido de
seu apego à Antiga Aliança, que era inconsistente com a aliança
que agora era prometida. E parece haver algo mais que é indicado
nessa palavra do que um chamado a que prestemos uma atenção
especial, a saber, que a coisa de que se fala é claramente proposta
a eles, de modo que eles possam olhar para ela, e contemplá-la
clara e prontamente. E assim essa Nova Aliança é aqui proposta de
modo tão evidente e claro, tanto em toda a sua natureza quanto em
suas propriedades, que a menos que os homens voluntariamente
desviem seus olhos, eles não podem deixar de vê-la.
Quinta Observação Prática
Onde Deus coloca uma nota de observação e atenção,
devemos fixar cuidadosamente nossa fé e consideração. Deus não
estabelece nenhuma de suas marcas em vão. E se, na primeira vez
que olhamos para qualquer lugar ou coisa assim sinalizada, não
conseguirmos discernir a evidência disso, então temos uma ocasião
suficiente para prestarmos maior diligência em nossa investigação.
E se não estivermos em falta com nosso dever, descobriremos
alguma evidência especial da excelência divina em cada coisa ou
lugar.
Sexta Observação Prática
O conteúdo e os aspectos da Nova Aliança são os maiores
objetos do melhor das nossas considerações. E como tais, eles são
aqui propostos; e o que é falado acerca da natureza dessa aliança
no versículo seguinte é suficiente para confirmar essa observação.
O Tempo da Realização
O tempo é prefixado para a realização dessa promessa: ִמי ם
בָּ ִאי ם, ἡμέραι ἔρχονται , “virão dias”. “Conhecidas são a Deus,
desde o princípio do mundo, todas as suas obras”;[35] e ele
determinou os tempos em que elas serão realizadas. Quanto aos
tempos ou épocas específicas de suas obras, enquanto são futuras,
ele os reservou para si mesmo, a menos que tenha visto algo de
bom em fazer alguma revelação especial deles. Assim ele fez
acerca do tempo de permanência dos filhos de Israel no Egito
(Gênesis 15:13); do cativeiro babilônico e da vinda do Messias após
o retorno do povo (Daniel 9). Mas a partir da entrega da primeira
promessa, na qual foi estabelecido o fundamento da igreja, a
realização dela é frequentemente chamada de “os últimos dias”
(Veja minha exposição sobre o capítulo 1:1-2). Portanto, sob o
Antigo Testamento, os dias do Messias foram chamados de “o
mundo vindouro”, como mostramos (exposição do capítulo 2:5). E
isso foi uma perífrase[36] dele, ele era ὁ ἐρχόμενος , “aquele que
havia de vir” (Mateus 11:3). E a fé da igreja foi exercida
principalmente na expectativa de sua vinda. E é esse tempo que é
aqui intencionado. E a expressão no original está no presente do
indicativo, ἡμέραι ἔρχονται , do hebraico, י ִָמי ם בָּ ִאי ם, “virão dias”;
não os dias que virão, mas “os dias virão”. E duas coisas são
denotadas por esse meio:
(1.) A rápida aproximação dos dias referidos. O tempo agora
estava se abreviando, e a igreja deveria ser despertada para a
expectativa disso, e isso com sinceros desejos e orações pela
chegada desse tempo, no que consistia a parte mais aceitável da
adoração a Deus sob o Antigo Testamento.
(2.) Uma certeza dessa coisa em si era por esse meio fixada
em suas mentes. Que grandes expectativas eles tinham, e agora
precisavam de uma nova segurança, especialmente considerando o
julgamento pelo qual estavam passando no cativeiro babilônico; pois
o fato de toda a nação ter sido entregue ao cativeiro parecia uma
ameaça de que a promessa falharia. Então, a maneira como isso foi
expresso é adequada para confirmar a fé daqueles que eram
verdadeiros crentes entre eles, mas nutriam tais temores. No
entanto, devemos observar que, desde a entrega dessa promessa
até a realização dela, se passaram quase seiscentos anos. E, no
entanto, cerca de noventa anos depois, o profeta Malaquias, falando
do mesmo tempo, afirma: “E de repente virá ao seu templo o
Senhor, a quem vós buscais” (Malaquias 3:1).
Sétima Observação Prática
Há um tempo limitado e fixo para a realização de todas as
promessas de Deus e de todos os propósitos de sua graça para
com a igreja (Veja Habacuque 2:3-4). E a consideração disso é
muito necessária para os crentes em todas as eras: (1.) Para
guardar seus corações do desânimo, quando surgem dificuldades
que militam contra o cumprimento da promessa e parecem torná-la
impossível. A falta disso desviou muitos de Deus e fez com que eles
lançassem sua sorte e porção com o mundo. (2.) Para preservá-los
de buscarem quaisquer formas ilegítimas para promoverem o
cumprimento da promessa. (3.) Para ensiná-los a buscar
diligentemente a sabedoria de Deus que dispôs tempos e épocas
para sua própria glória e para a provação e benefício real da igreja.
A Coisa Prometida
O tema da promessa é uma “aliança”, בּ ִרי ת. ְ A Septuaginta
traduz esse termo hebraico por διαθήκη , “um testamento”. E isso é
mais apropriado nesse lugar do que “uma aliança”. Pois se
tomarmos “aliança” em um sentido estrito e próprio, isso de fato não
pode existir entre Deus e homem. Pois uma aliança, estritamente
falando, deve proceder em termos iguais e sobre uma consideração
proporcional de ambos os lados; mas a aliança de Deus é baseada
na graça e consiste essencialmente em uma promessa livre e
imerecida. E, portanto, בּ ִרי ת,
ְ “aliança”, nunca é mencionada como
existindo entre Deus e o homem, mas da parte de Deus consiste em
uma promessa gratuita, ou um testamento. E “um testamento”, que
é o próprio significado da palavra aqui usada pelo apóstolo, é
adequado para esse lugar, e nenhum outro. Pois,
(1.) Tal aliança é tanto intencionada como ratificada e
confirmada pela morte daquele que a faz. E isso é propriamente um
testamento, pois essa aliança foi confirmada pela morte de Cristo, e
isso foi feito tanto através da morte do testador quanto foi
acompanhada com o sangue de um sacrifício; dos quais devemos
tratar depois, se Deus quiser.
(2.) É uma aliança em que o pactuante, aquele que a faz, lega
seus bens a outros em forma de herança, e foi isso que Cristo fez
nessa aliança, como também devemos declarar depois. Para esse
fim, nosso Salvador chama essa aliança de “o novo testamento em
seu sangue”.[37] Essa é a palavra usada pelo apóstolo em seu
significado correto; e é evidente que ele não intenciona uma aliança
no sentido absoluto e estrito do termo. Com relação a isso, a
primeira aliança é geralmente chamada de “Antigo Testamento”.
Contudo, não nos referimos aos livros das Escrituras, ou oráculos
de Deus confiados à igreja dos judeus (que, como já observamos,
são uma vez chamados de “o antigo testamento” — 2 Coríntios
3:14), mas à aliança que Deus fez com a igreja de Israel no Sinai,
da qual falamos de modo geral.
E isso foi chamado de “testamento” por três razões:
[1.] Porque foi confirmado pela morte; isto é, a morte dos
sacrifícios que foram oferecidos na ocasião de seu estabelecimento
solene. Assim diz nosso apóstolo: “O primeiro [testamento] não foi
consagrado sem sangue” (Hebreus 9:18). Mas há mais coisas que
são requeridas para isso, pois até mesmo uma aliança, assim
chamada em seu sentido apropriado e estrito, pode ser confirmada
com sacrifícios. Para esse fim,
[2.] Deus fez mais e concedeu à igreja de Israel as boas coisas
da terra de Canaã, junto com os privilégios de sua adoração.
[3.] A principal razão dessa denominação, “o antigo
testamento”, vem do fato de isso apontar tipicamente para a morte e
o legado do grande testador, como mostramos.
Três Coisas que Coincidem na Nova Aliança
Anteriormente, nós discorremos um pouco sobre a natureza do
Novo Testamento, como considerado em distinção e oposição ao
Antigo. Eu vou aqui apenas considerar brevemente o que está de
acordo com a constituição dele, quando então ele era futuro, quando
essa promessa foi dada, e como é aqui prometida. E três coisas
coincidem para isso:
(1.) Uma recapitulação, reunião e confirmação de todas as
promessas da graça que haviam sido dadas à igreja desde o
princípio, até mesmo tudo o que foi dito pela boca dos santos
profetas desde o começo do mundo (Lucas 1:70). A primeira
promessa continha toda a essência e substância do Pacto da Graça.
Todas aquelas promessas que depois foram dadas à igreja, em
várias ocasiões, foram apenas explicações e confirmações dela. No
conjunto dessas promessas houve uma declaração completa da
sabedoria e do amor de Deus ao enviar Seu Filho, e por esse meio
enviar Sua graça para a humanidade. E Deus solenemente as
confirmou com seu juramento, a saber, que todas elas seriam
realizadas no tempo que ele determinou. Portanto, embora a aliança
aqui prometida incluísse o envio de Cristo para o cumprimento
dessas promessas, todas elas estão reunidas e formam um todo
coeso, nesse sentido. É uma constelação de todas as promessas da
graça.
(2.) Todas essas promessas deveriam ser reduzidas a uma
aliança ou testamento real de duas maneiras:
[1.] À medida que, quanto ao cumprimento da graça
principalmente intencionada nelas, eles as receberam na ocasião
em que Cristo foi enviado; e quanto à confirmação e
estabelecimento delas para a comunicação da graça à igreja, eles a
receberam na morte de Cristo, como um sacrifício pactual ou
expiação.
[2.] Elas são estabelecidas como a regra e lei da reconciliação
e da paz entre Deus e o homem. Isso lhes dá a natureza de uma
aliança; porque uma aliança é a expressão solene dos termos de
paz entre as várias partes, com a confirmação delas.
(3.) Elas são reduzidas a tal forma de lei, a ponto de se tornar
a única regra das ordenanças de culto e serviço divino exigidos da
igreja. Nada para esses fins é agora apresentado a nós, ou exigido
de nós, senão o que pertence imediatamente à administração dessa
aliança, e a graça dela. Mas o leitor deve consultar o que foi dito em
geral para esse propósito no versículo 6.
Por que Chamar de uma Aliança?
E nós podemos ver o que é que Deus aqui promete e prediz,
como aquilo que ele faria nos “dias vindouros”. Pois embora eles
tivessem a promessa antes, e desse modo já tivessem virtualmente
a graça e a misericórdia da Nova Aliança, pode-se perguntar: “O
que ainda está faltando, que deve ser prometido solenemente sob o
nome de uma aliança?”. Para a resolução completa dessa questão,
devo, como antes, encaminhar o leitor para o que foi dito em geral
sobre as duas alianças, e a diferença entre elas, no versículo 6.
Aqui podemos citar brevemente poucas coisas, que são suficientes
para o que pretendemos com a exposição feita aqui:
(1.) Todas as promessas que antes haviam sido dadas à igreja
desde o princípio do mundo foram agora reduzidas à forma de uma
aliança, ou melhor, de um testamento. O nome de “aliança” é, de
fato, às vezes aplicado às promessas da graça antes ou sob o
Antigo Testamento; mas בּ ִרי ת,ְ a palavra usada em todos esses
lugares, denota apenas “uma promessa livre e gratuita” (Gênesis
9:9, 17:4). Mas nenhuma dessas promessas, nem todas elas juntas,
estavam reunidas e reduzidas à forma de um testamento; e elas não
poderiam ser assim senão pela morte do testador. Já mostramos
antes quais são os privilégios e benefícios abençoados que foram
incluídos nisso, e voltaremos a tratar deles na exposição do capítulo
9, se Deus permitir.
(2.) Havia outra aliança que se ajustava às promessas, que
deveria ser a regra imediata da obediência e adoração da igreja. E
de acordo com a observância dessa aliança superadicionada, eles
foram estimados por terem mantido ou quebrado a aliança com
Deus. Essa foi a Antiga Aliança no Sinai, como foi declarado. Para
esse fim, as promessas não poderiam existir na forma de uma
aliança com o povo, visto que não poderiam estar sob o poder de
duas alianças de uma só vez, e o povo, como foi visto
posteriormente, era absolutamente inconsistente. Pois é isso que
nosso apóstolo prova nesse lugar, a saber, que quando as
promessas foram trazidas à forma e tiveram o uso de uma aliança
para com a igreja, a Antiga Aliança precisava desaparecer, ou ser
anulada. Somente essas promessas tinham o seu lugar e eficácia
para transmitir os benefícios da graça de Deus em Cristo àqueles
que criam; mas Deus prediz aqui que lhes dará tal ordem e eficácia
na administração da sua graça, à medida que todos os seus frutos
por Jesus Cristo serão legados e doados para a igreja, na forma de
uma aliança solene.
(3.) Apesar das promessas que eles haviam recebido, todo o
sistema de culto deles se originou e se relacionou com a aliança
feita no Sinai. Mas agora Deus promete um novo estado de
adoração espiritual, que tinha a ver apenas com as promessas da
graça trazidas para a forma de uma aliança.
Oitava Observação Prática
A Nova Aliança — à medida que reúne em uma só todas as
promessas da graça dadas desde a fundação do mundo (e assim
faz uma verdadeira exibição de Cristo, que é confirmada em sua
morte e pelo sacrifício de seu sangue) — torna-se a única regra das
novas ordenanças espirituais de adoração adequadas para isso, e
foi o grande objeto da fé dos santos do Antigo Testamento, e é o
grande fundamento de todas as nossas misericórdias atuais.
As Coisas Contidas na Nova Aliança
Todas essas coisas estavam contidas naquela Nova Aliança,
como tal, que Deus aqui promete fazer. Pois,
(1) Havia nela uma recapitulação de todas as promessas da
graça. Deus não fez nenhuma promessa, nem deu qualquer
indicação de seu amor ou graça para a igreja em geral, ou para
qualquer crente em particular, senão as que ele concentrou nessa
aliança, de modo que essas promessas deveriam ser estimadas,
todas e cada uma delas, como sendo dadas a cada pessoa que tem
participação nessa aliança. Portanto, todas as promessas feitas a
Abraão, Isaque e Jacó, e a todos os outros patriarcas, e o juramento
de Deus de acordo com o qual elas foram confirmadas, são todas
feitas para nós, e pertencem a nós não menos do que pertenceram
àqueles a quem foram dadas pela primeira vez, se nos tornarmos
participantes dessa aliança. O apóstolo dá um exemplo disso ao
citar a promessa singular feita a Josué, a qual ele aplica aos crentes
em Hebreus 13:5. Não havia nenhum amor ou graça para qualquer
pessoa, senão o amor e a graça que estão contidos nessa aliança.
(2.) A manifestação real de Cristo na carne pertencia a essa
promessa de fazer uma Nova Aliança; pois sem ela, isso não
poderia ter sido feito. Esse era o desejo de todos os fiéis desde a
fundação do mundo; eles O desejavam, e com fervor oravam por
isso continuamente. E a perspectiva da encarnação de Cristo era a
única base de sua alegria e consolação. “Abraão viu o seu dia e se
alegrou”.[38] Esse foi o grande privilégio que Deus concedeu àqueles
que andavam retamente perante Ele; tal pessoa, diz ele, “habitará
nas alturas; as fortalezas das rochas serão o seu alto refúgio, o seu
pão lhe será dado, as suas águas serão certas. Os teus olhos verão
o rei na sua formosura, e verão a terra que está longe” (Isaías
33:16-17). Essa perspectiva que eles tinham por meio da fé no Rei
dos santos, em sua beleza e glória, embora a grande distância, foi
seu consolo e sua recompensa em sua sincera obediência. E
aqueles que não entendem a glória desse privilégio da Nova
Aliança, na encarnação do Filho de Deus, ou a sua manifestação
em carne — nos quais as profundezas dos conselhos e da
sabedoria de Deus, em graça, misericórdia e amor são relevados
para a igreja — são estranhos às coisas de Deus.
(3.) A Nova Aliança foi confirmada e ratificada pela morte e
derramamento do sangue de Cristo e, portanto, incluiu em si toda
obra de sua mediação. Essa é a primavera da vida da igreja; e até
que ela fosse revelada, havia grande escuridão até mesmo nas
mentes dos crentes. Nenhuma língua é capaz de expressar que
paz, segurança, luz e alegria dependem e procedem disso.
(4) Todas as ordenanças de culto pertencem a essa aliança.
Qual é o benefício delas e quais são as vantagens que os crentes
recebem por elas iremos declarar quando chegarmos a considerar a
comparação que o apóstolo faz entre essas ordenanças e as
ordenanças carnais da lei, no capítulo 9 de Hebreus.
Portanto, ainda que todas essas coisas estivessem contidas na
Nova Aliança, como aqui prometida por Deus, é evidente quão
grande era o anelo dos santos sob o Antigo Testamento em vê-la
introduzida; e quão grande também é o nosso anelo, agora que ela
está estabelecida.
O Autor dessa Aliança
O autor ou criador dessa aliança é expresso tanto nas palavras
quanto naqueles com quem foi feita:
(1.) O primeiro está incluído na pessoa do verbo, “Farei”; “Eu
farei, diz o Senhor”. É o próprio Deus que faz essa aliança, e ele
toma para Si a feitura dela. Ele é a parte principal da aliança: “Farei
uma aliança”. Deus fez uma aliança: “Ele fez comigo uma aliança
eterna”.[39] E várias coisas nos são ensinadas a esse respeito:
[1.] A liberdade dessa aliança, sem consideração a qualquer
mérito, valor ou dignidade[40] naqueles com quem ela é feita. O que
Deus faz, ele o faz livremente “ex mera gratia et voluntate”.[41] Não
havia causa fora de si mesmo para que ele fizesse essa aliança, ou
que poderia move-lo a agir assim. E nós somos grandemente
ensinados sobre isso nessa passagem, onde ele não expressa outra
coisa que deu ocasião para que essa aliança fosse feita, senão os
pecados do povo que quebraram a aliança que ele havia feito
anteriormente com eles. E isso é expresso com o propósito de
declarar a livre e soberana graça, bondade, amor e misericórdia, as
únicas fontes absolutas dessa aliança.
[2.] A sabedoria da sua composição. Para ser boa e útil, a
realização de qualquer aliança depende apenas da sabedoria e
previsão de quem a faz. Assim, os homens frequentemente fazem
alianças que eles planejam para seu bem e proveito, mas elas são
feitas de um modo tão desprovido de sabedoria e previsão que elas
se tornam em sua dor e ruína. Mas havia infinita sabedoria na
constituição dessa aliança; por isso ela é e será infinitamente eficaz
para todos os seus fins benditos. E eles, que não são atingidos por
uma santa admiração da sabedoria divina em seu artifício, não
estão totalmente familiarizados com tal aliança. Um homem pode
passar a vida confortavelmente em contemplação, e ainda assim
estar longe o suficiente de descobrir o Todo-Poderoso, em sua
perfeição. Portanto, existe um tal mistério divino em todas as partes
dessa aliança, que a sabedoria carnal não pode compreendê-la.
Tampouco, sem a devida consideração da infinita sabedoria de
Deus em sua composição, podemos ter quaisquer concepções
verdadeiras ou reais sobre ela: ῾εκὰς ἑκὰς ἔστε βέβηλοι .[42]
Mentes profanas e não santificadas não podem ter discernimento
sobre essa obra da sabedoria divina.
[3.] Somente Deus poderia preparar e fornecer uma garantia
para esse pacto. Tendo em vista a necessidade que havia de um
fiador nessa aliança, já que nenhuma aliança entre Deus e o homem
poderia ser firme e estável sem um fiador, em razão de nossa
fraqueza e mutabilidade; e considerando de que natureza esse
fiador deve ser, Deus e homem em uma só pessoa; é evidente que
o próprio Deus é quem deve fazer essa aliança. E a provisão dessa
garantia contém em si a manifestação gloriosa de todas as
excelências divinas, acima de qualquer ato ou obra de Deus.
[4.] Existe nessa aliança uma lei soberana do culto divino, na
qual a igreja é consumada, ou trazida ao estado mais perfeito que é
possível neste mundo, e é estabelecida para sempre. Essa lei só
poderia ser dada por Deus.
[5.] Atribui-se a essa aliança uma graça muito eficaz, e nada
além da onipotência pode fazer ou realizar isso. A graça aqui
mencionada nas promessas, nos direciona imediatamente ao seu
Autor. Quem além de Deus pode escrever a lei divina em nossos
corações e perdoar todos os nossos pecados? Vendo que a
santificação ou restauração de nossas naturezas e a justificação de
nossas pessoas é prometida nessa aliança, e vendo também que
infinito poder e graça são requeridos para isso, a única conclusão
que chegamos é que o único capaz de fazer essa aliança é aquele
com a qual todo o poder e graça habitam. “Deus falou uma vez;
duas vezes ouvi isto: que o poder pertence a Deus. A ti também,
Senhor, pertence a misericórdia…” (Salmos 62:11-12).
[6.] A recompensa prometida nesta aliança é o próprio Deus:
“Eu sou o teu galardão”. E quem, a não ser Deus, pode se ordenar
como galardão?
Nona Observação Prática
Toda a eficácia e glória da Nova Aliança se originam e são
determinadas por seu autor e causa suprema, que é o próprio Deus.
E, para o encorajamento de nossa fé e o fortalecimento de nossa
consolação, podemos considerar o seguinte:
[1.] Sua infinita condescendência, de fazer e entrar em aliança
com o homem miserável, perdido, caído e pecador. Nenhum
coração pode conceber isso plenamente, nenhuma língua pode
expressá-lo; apenas vivemos na esperança de ter uma perspectiva
ainda mais clara disso e uma santa admiração por toda a
eternidade.
[2.] Sua sabedoria, bondade e graça na natureza da aliança
que ele condescendeu em fazer e entrar. A primeira aliança que
Deus fez conosco em Adão, a qual quebramos, era em si boa,
santa, reta e justa; e necessariamente ela é assim, porque também
foi feita por Ele. Mas não havia nenhuma provisão feita
absolutamente para nos preservar daquela desobediência e
transgressão lamentáveis que a tornariam nula, e frustraria todas as
finalidades santas e abençoadas dela. Tampouco Deus estava
obrigado a nos preservar, pois ele já havia nos concedido
capacidade suficiente para nossa própria preservação, de modo que
não poderíamos cair de modo algum senão por obstinadamente
apostatarmos dele. Mas essa aliança é de tal natureza que a graça
administrada nela preservará efetivamente todos os participantes
dessa aliança até o fim e assegurará a eles todos os seus
benefícios. Pois,
[3.] O poder e fidelidade de Deus estão comprometidos com a
realização de todas as promessas dessa aliança. E essas
promessas contêm tudo o que é espiritual e eternamente bom ou
desejável para nós. “Ó Senhor, Senhor nosso, quão admirável é o
teu nome em toda a terra!”.[43] Quão glorioso és Tu nos caminhos da
Tua graça para com pobres criaturas pecadoras que destruíram a Si
mesmas! E,
[4] Deus não criou algum bem para nós, mas somente ele
mesmo será o nosso galardão.
As Pessoas com Quem essa Aliança é Feita
As pessoas com quem essa aliança é feita também são
mencionadas: “A casa de Israel e a casa de Judá”. Muito antes
dessa promessa ser feita, aquele povo estava dividido em dois. Um
deles conservou o nome de Israel para se distinguir do outro. Essas
foram as dez tribos que se apartaram da casa de Davi, sob a
liderança de Efraim; e em razão disso essas tribos são
frequentemente chamadas de “Efraim” nos profetas. Já o outro
povo, que consistia da tribo propriamente dita, com a de Benjamim e
a maior parte de Levi, tomou o nome de Judá; e com eles tanto a
promessa quanto a igreja foram preservados de maneira peculiar.
Israel e Judá são mencionados aqui como distintos um do outro
mesmo que ambos originalmente tenham surgido de Abraão, que
recebeu a promessa e o sinal da circuncisão por todos eles, e que
todos igualmente tenham descendido daqueles que estavam
incluídos da Antiga Aliança, para dar a entender que nenhuma das
descendências de Abraão pode ser excluída da proposta dessa
aliança. Os termos dessa aliança deveriam ser oferecidos
primeiramente para toda a descendência de Abraão, segundo a
carne. Então Pedro diz a eles, em seu primeiro sermão, que “a
promessa era para eles e seus filhos” que estavam então presentes,
isto é, a casa de Judá; e para “todos os que estão longe”, isto é, a
casa de Israel em suas dispersões (Atos 2:39). Então, novamente,
ele expressa a ordem da dispensação dessa aliança com relação à
promessa feita a Abraão: “Vós sois os filhos dos profetas e da
aliança que Deus fez com nossos pais, dizendo a Abraão: Na tua
descendência serão benditas todas as famílias da terra.
Ressuscitando Deus a seu Filho Jesus, primeiro o enviou a vós…”
(Atos 3:25-26), ou seja, na pregação do Evangelho. Assim, nosso
apóstolo, em seu sermão a eles, afirmou: “Era mister que a vós se
vos pregasse primeiro a palavra de Deus” (Atos 13:46). E esse era
todo o privilégio que agora lhes era dado; pois o muro de separação
havia sido derrubado e todos os obstáculos contra os gentios
haviam sido removidos. Para esse fim, essa casa de Israel e a casa
de Judá podem ser consideradas de duas maneiras: [1.] Como
aquelas pessoas que constituíam toda a posteridade de Abraão. [2]
E como típicos e espiritualmente simbólicos de toda a igreja de
Deus. Por causa desse fato somente é que as promessas da graça
sob o Antigo Testamento são dadas à igreja sob esses nomes,
porque eles eram tipos daqueles que real e efetivamente seriam os
participantes delas.
[1.] No primeiro sentido, Deus fez essa aliança com eles, e isso
em várias considerações.
Em primeiro lugar, porque Aquele através de quem somente
essa aliança seria estabelecida e tornada efetiva deveria ser
levantado dentre eles e a partir da descendência de Abraão, como o
apóstolo Pedro claramente declara em Atos 3:25.
Em segundo lugar, porque todas as coisas que pertenciam à
confirmação da aliança seriam transacionadas entre eles.
Em terceiro lugar, porque, segundo a dispensação exterior
dessa aliança, os termos e a graça dela, pelo conselho de Deus,
seriam oferecidos primeiro a eles.
Em quarto lugar, porque por eles, através do ministério dos
homens de sua posteridade, a dispensação dessa aliança seria
levada a todas as nações, à medida que elas deveriam ser
abençoadas na descendência de Abraão; o que foi feito pelos
apóstolos e outros discípulos de nosso Senhor Jesus Cristo. Assim,
a lei do Redentor saiu de Sião. Por esse meio “ele firmará aliança
com muitos por uma semana”, antes do chamado dos gentios
(Daniel 9:27). E como essas coisas pertenciam igualmente a todos
eles, a menção é distintamente feita à “casa de Israel e da casa de
Judá”. Pois a casa de Judá tinha, na época em que as promessas
foram feitas, a posse exclusiva de todos os privilégios da Antiga
Aliança; Israel privou a si mesmo devido à sua revolta contra a casa
de Davi; e também foi expulso da sua terra e exilado entre os
gentios como resultado de seus pecados. Entretanto Deus, para
declarar que a aliança que ele designou não dizia respeito aos
privilégios carnais que até então estavam na posse exclusiva de
Judá, mas dizia respeito à promessa feita a Abraão, na qual ele
iguala toda a sua descendência com relação à misericórdia dessa
aliança.
[2.] No segundo sentido toda a igreja dos crentes eleitos é
intencionada sob essas denominações, sendo tipificada por eles.
Judeus e gentios são os únicos, sendo que dos dois Deus fez um,
com quem a aliança é realmente feita e estabelecida, e para quem a
graça dela é realmente comunicada. Pois todos aqueles com quem
essa aliança é feita têm realmente a lei de Deus escrita em seus
corações e os seus pecados perdoados, de acordo com a promessa
dela, assim como o povo no passado foi trazido para a terra de
Canaã em virtude da aliança feita com Abraão. Esses são os
verdadeiros Israel e Judá, que prevalecem com Deus e confessam o
seu nome.
Décima Observação Prática
O Pacto da Graça em Cristo é feito apenas com o Israel de
Deus, a igreja dos eleitos. Pois, ao fazer essa aliança com alguém,
a sua comunicação eficaz da graça para os tais é especialmente
intencionada. Não se pode dizer que essa aliança seja feita
absolutamente com alguém que não seja daqueles cujos pecados
são perdoados em virtude dela, e em cujos corações a lei de Deus
está escrita; pois essas são claramente as suas promessas. E foi
em referência a esses dentre o povo que a aliança foi prometida ser
feita com eles (Veja Romanos 9:27-33 e 11:7). Mas quanto à
dispensação exterior da aliança, ela se estende além da
comunicação efetiva da sua graça. E em relação a isso, está o
privilégio da descendência carnal de Abraão.
Décima Primeira Observação Prática
Aqueles que são os primeiros e mais favorecidos quanto aos
privilégios exteriores, são muitas vezes os últimos e menos
favorecidos pela graça e misericórdia deles. Assim ocorreu com
essas duas casas de Israel e Judá. Eles tinham o privilégio e a
preeminência, acima de todas as nações do mundo, quanto à
primeira oferta e todos os benefícios da dispensação exterior da
aliança; todavia, “embora o número deles fosse como a areia do
mar, só um remanescente era salvo”.[44] Esses benefícios foram
concedidos para as nações do mundo quanto à sua graça; e isso
por causa da incredulidade e do abuso dos privilégios concedidos a
Israel e Judá. Portanto, que aqueles que agora desfrutam dos
maiores privilégios não sejam altivos, mas temam.
O Modo de Fazer a Nova Aliança
O modo de fazer essa aliança é expressa por συντελέσω
“perficiam,” “consummabo”, “eu aperfeiçoarei” ou “consumarei”. No
hebraico, é apenas אֶ כְ ֹר ת, “pangam,” “feriam”, “Eu farei”, mas o
apóstolo o traduz por essa palavra para denotar que essa aliança foi
imediatamente aperfeiçoada e consumada, com a exclusão de todos
os acréscimos e alterações. A perfeição e o estabelecimento
inalterável são as propriedades dessa aliança: “Uma aliança eterna,
ordenada em todas as coisas e segura”.[45]
Seu Caráter Distintivo
Quanto ao seu caráter distintivo, ela é chamada de “Nova
Aliança”, e assim o é com respeito à Antiga Aliança feita no Sinai.
Para esse fim, por essa aliança, como aqui considerada, não é
entendida a promessa da graça dada a Adão absolutamente; nem a
promessa dada a Abraão, que continha a substância e o conteúdo
dela (a graça exibida nela) mas não a forma completa dela como
uma aliança. Pois se fosse apenas a promessa, não poderia ser
chamada de “nova aliança”, com respeito àquela feita no Sinai; pois
assim aconteceu antes de absolutamente dois mil e quinhentos
anos, e na pessoa de Abraão quatrocentos anos, no mínimo. Mas
isso deve ser considerado como foi descrito anteriormente, por
ocasião do estabelecimento dela e de sua lei de adoração espiritual.
E assim ela foi chamada de “nova” depois de oitocentos anos
daquela no Sinai. Embora ela possa ser chamada de “uma nova
aliança” em outros aspectos também. Primeiro, por causa de sua
eminência; assim se diz sobre uma obra eminente de Deus: “Eis que
faço uma coisa nova na terra”;[46] e é assim chamada por sua
duração e continuidade, como a que nunca envelhecerá.
Capítulo 4
Exposição do Versículo 9
A Novidade da Nova Aliança
Não segundo a aliança que fiz com seus pais no dia em que os
tomei pela mão, para os tirar da terra do Egito; como não
permaneceram naquela minha aliança, eu para eles não atentei, diz
o Senhor.[47]
Aqui o apóstolo traduz כּ ַָר ִתּ יpor ἐ π οίησα , ele faz isso
somente nesse lugar (depois veremos a razão disso). A expressão
ּ יתי
ִ תאּבּ ִר
ְ ֶאֲ ָשׁראּהֵ ָמּ ה הֵ פֵ רו ּ א, “eles quebraram aquela minha aliança”,
“rescindiram”, “dissiparam”; o apóstolo traduz αὐτοὶ οὐκ ἐνέμειναν
ἐν διαθήκῃ μου por “não permaneceram naquela minha aliança”,
pois, de fato, não permanecer fielmente na aliança é quebrá-la. A
expressão, וְאָ גכִ י בָּ ﬠַ ְל ִתּ י בָ ם, “eu era um marido para eles”, ou
melhor, “um senhor sobre eles”, é traduzida pelo apóstolo como,
κἀγὼ ἠμέλ ησα αὐτῶν , “eu para eles não atentei”, vamos inquirir a
razão dessa aparente alteração durante a exposição.
A expressão οὐ κατὰ τὴν διαθήκην pode ser traduzida para
o latim por “non secundum testamentum” e “secundum illud
testamentum”; e para o siríaco assim, יק א ֵ יתּ
ִ ;לָ א אֵ יך ְ הָ י ִדּe para o
português, “não de acordo com esse testamento”. A palavra grega
διαθήκην (diath ē k ē n) também poderia ser traduzida por “foedus”
e “illud foedus”. Nós já discorremos anteriormente sobre as
diferentes traduções da palavra foedus, a saber, “testamento” e
“pacto/aliança”.
A expressão ῝ην ἐ π οίησα pode ser traduzido para o siríaco
como דּיַהֲ בֵ ת,ְ “que eu dei”; “quod feci”, “que fiz”. Já a expressão
τοῖς π ατράσιν pode ser equivalente a σὺν τοῖς π ατράσιν , “com os
pais”; mas para isso é necessário que venha acompanhada do
verbo ἐ π οίησα . E, portanto, o siríaco, ao omitir a preposição,
transforma o verbo em “deu”, “deu aos pais”, o que é propriamente
dito assim: בוֹת ם ָ ֲאֶ תאּא, “cum patribus eorum”.
As palavras gregas οὐκ ἐνέμειναν são traduzidas na Vulgata
Latina por “Non permanserunt”; e outra palavra poderia ser usada,
“perstiterunt”. E em siríaco poderiam ser traduzidas assim, ּ לָ א ַקיְיו,
“eles não permaneceram”, “eles não continuaram”. “Maneo” é usado
para expressar a estabilidade que existe nas promessas e pactos:
“At tu dictis, Albane, maneres”, Virgílio. Eneida, viii. 643;[48] e, “Tu
modo promissis maneas”, Eneida. ii. 160. O mesmo se dá com
“permaneo in officio, in armis, in amicitia”, continuar firme até o fim.
Tendo isso em vista, essas palavras podem ser traduzidas como
“persisto”. A palavra ᾿εμμένω é usada com esse sentido por
Tucídides,[49] ᾿εμμένειν , “permanecer firme e constante nos pactos”.
A palavra ἐμμενής é dita a respeito daquele que é “firme”, “estável”,
“constante” em promessas e compromissos.
O grego κἀγὼ ἠμέλησα pode ser traduzido para o latim por
“ego neglexi”, “despexi”, “neglectui habui”; e para o siríaco por
בּ ִסי ת,
ְ “eu desprezei”, “negligenciei”, “rejeitei-os”. Já ᾿αμελέω , pode
ser traduzida por “curæ non habeo”, “negligo”, “contemno”, uma
palavra que denota “deixar de cuidar” e isso “com desprezo”.[50]
As Razões para uma Aliança Diferente
As maiores misericórdias que Deus sempre pretendeu
comunicar à igreja para abençoá-la foram incluídas na Nova
Aliança. Tampouco a eficácia da mediação de Cristo se estende
além dos limites e abrangência dela; porque ele só é mediador e
fiador dessa aliança. Mas Deus havia feito uma aliança com seu
povo. Ela era uma aliança boa e santa, na medida em que foi
prescrita por Deus e aceita por eles com gratidão. No entanto,
apesar de todos os seus privilégios e vantagens, ela não se mostrou
tão eficaz, visto que as multidões daqueles com quem Deus fez
aquela aliança estiveram muito longe de obter a bem-aventurança
da graça e da glória por esse meio, pois eles fracassaram a ponto
de serem privados até mesmo de benefícios temporais. Para esse
fim é que Deus promete fazer uma “nova aliança” com eles, visto
que fracassaram e perderam a vantagem da primeira, contudo, se
essa outra aliança fosse da mesma espécie que a primeira, ela
também poderia se mostrar ineficaz do mesmo modo. Pois se Deus
tornasse a fazer uma aliança da mesma espécie que a primeira,
então ele deveria conceder, e a igreja receber, uma aliança após a
outra, e ainda assim os fins delas nunca seriam alcançados.
Para evitar essa objeção, e o medo que dela possa surgir,
Deus, que provê não apenas a proteção da sua igreja, mas também
seu conforto e segurança, declara antecipadamente a eles que a
Nova Aliança a ser feita com a igreja não será do mesmo tipo que a
anterior, e nem será susceptível de ser então frustrada, quanto aos
seus objetivos, como a outra o foi.
E há algumas coisas que devem ser observadas nisso:
1. O prefácio da promessa dessa Nova Aliança é uma
acusação ao povo, “repreendendo-os”, culpando-os, acusando-os
de pecado contra a aliança que Deus havia feito com eles.
2. Entretanto isso não foi o motivo e razão para fazer essa
Nova Aliança. Isso não aconteceu por que as pessoas não estavam
firmes nela e nos termos dela. Pois se assim fosse, não haveria
mais necessidade de reconduzi-los a uma boa condição, mas Deus
deveria apenas perdoar seus antigos pecados e renovar mais uma
vez a mesma aliança com eles, e dar-lhes outra oportunidade ou
castiga-los por não haverem permanecido na primeira aliança.
Contudo, visto que Deus não faria mais uma aliança igual à
primeira, mas antes faria outra aliança, de outra natureza, com eles,
fica evidente que havia algum defeito na própria aliança, a qual não
era capaz de comunicar as coisas boas com as quais Deus planejou
abençoar a igreja.
3. Essas duas coisas formam a única razão que Deus dá do
porquê ele fará essa Nova Aliança, a saber, os pecados do povo e a
insuficiência da primeira aliança para levar a igreja àquele estado
abençoado para o qual ele a designou; é manifesto que todos os
seus lidares para com aqueles a quem ele deseja o bem espiritual e
eterno são com base em sua pura graça soberana, e ele não
encontra qualquer motivo para agir assim senão somente em e de si
mesmo. Existem várias coisas contidas nessas palavras.
A Primeira Aliança
Primeiro, existe uma sugestão de que Deus havia feito uma
primeira aliança com seu povo, τὴν διαθήκην . Nesses versículos é
falado três vezes sobre fazer aliança; e em todos esses lugares as
mesmas palavras são usadas no texto hebraico, כּ ִָר ִתּ י ְבּ ִרי ת.
Entretanto, o apóstolo altera tais palavras nessas três ocorrências.
Primeiro, ele o traduz como συντελέσω (v. 8); e depois traduz por
διαθήσομαι , o que é mais adequado (v. 10 — ζεῖναι e διατιθέναι
διαθήκην são usuais em outros autores). Aqui ele usa ἐ π οίησα ,
em referência àquela aliança que o povo quebrou e Deus anulou. E
pode ser que o tenha feito para distinguir a sua aliança alterável
daquela que deveria ser inalterável, e foi confirmada com maior
solenidade. Deus fez com essa aliança como fez com outras de
suas obras externas, as quais resolveu alterar, mudar ou abolir no
tempo determinado. Essa era uma obra cujos efeitos poderiam ser
abalados e depois removidos; como ele fala em Hebreus 12:27 que
a mudança das coisas móveis é como ὡς π ε π οιημένων , “coisas
que são feitas, para que as imóveis permaneçam”, feitas por apenas
um tempo; portanto, essas coisas são feitas para permanecerem e
durarem apenas por um tempo determinado, e tais eram todas as
coisas dessa aliança, e tal era a própria aliança. Ela não possuía
“criteria æternitatis”, nenhuma evidência de duração eterna. E, de
fato, nada o possui, senão aquilo que está baseado no sangue de
Cristo. Ele é אֲ ִביאּﬠַ ד, “o pai da eternidade”,[51] ou o autor imediato e
causa de tudo o que é ou será eterno na igreja. Que os homens
laborem e discutam sobre essas outras coisas enquanto quiserem;
elas estão todas abaladas e serão removidas.
Primeira Observação Prática
A graça e a glória da Nova Aliança são grandemente realçadas
e manifestadas pela comparação dela com a Antiga Aliança. Isso é
feito aqui por Deus com o propósito de ilustrar essa verdade. E isso
é muito usado nessa epístola, em parte para nos convencer a
aceitarmos os termos e permanecermos fiéis a eles, e em parte para
declarar quão grande é o seu pecado, e quão dolorida será a
destruição daqueles pelos quais ela é negligenciada ou desprezada.
Essas coisas são tratadas com mais detalhes em outros lugares,
elas são, por exemplo, o assunto do discurso do apóstolo no
capítulo 12 a partir do versículo 15 até o fim.
Segunda Observação Prática
Todas as obras de Deus são igualmente boas e santas em si
mesmas; mas quanto à utilidade e vantagem da igreja, ele tem o
prazer de transformar algumas delas em meios de comunicar mais
graça do que outras. Mesmo essa aliança, em relação a qual a Nova
seria diferente, era em si mesma boa e santa; de modo que aqueles
com quem ela foi feita não tinham motivo para reclamar. Mesmo que
Deus tenha ordenado que seria por outra aliança que ele
comunicaria a plenitude de sua graça e amor à igreja. Devemos
extrair benefícios e vantagens a partir de cada coisa que Deus
aperfeiçoa em seu tempo e para seus próprios fins, embora ele
tenha outras formas de nos fazer um bem maior, cujo tempo ele
reservou para si mesmo. Mas esse é um tão grande ato de pura
bondade e graça soberanas que, embora eles tenham negligenciado
ou abusado das misericórdias e benefícios que receberam, ao invés
de rejeitá-los por conta disso, Deus passa a agir desse outro modo e
lhes concede misericórdias tais que não podem ser abusadas. Isso
ele fez isso ao introduzir a Nova Aliança no lugar da Antiga; e ele
continua fazendo isso todos os dias (Isaías 57:16-18). Vivemos em
dias nos quais os homens se esforçam para obscurecer a graça de
Deus e torná-la inglória aos olhos dos homens; mas Deus será para
sempre “admirado naqueles que creem”.[52]
Terceira Observação Prática
Embora Deus faça uma alteração em qualquer de suas obras,
ordenanças de culto ou instituições, contudo ele nunca muda sua
intenção ou o propósito de sua vontade. Em todas as mudanças
externas, ele mesmo não sofre “mudança nem sombra de variação”.
[53]
“Conhecidas são a Deus, desde o princípio do mundo, todas as
suas obras”;[54] e, não obstante qualquer mudança que pareça existir
nelas, tudo é realizado visando o propósito imutável de sua vontade
concernente a todas elas. Isso demonstra que não há a menor
mudança ou sombra de variação em Deus quando ele designou que
a Antiga Aliança durasse apenas por um tempo, e para certos fins, e
depois a aboliu, fazendo com que outra viesse a se distinguir em
graça e eficácia.
Exposição do versículo 13
A Necessidade e Certeza da Abolição da Primeira
Aliança
Dizendo nova aliança, envelheceu a primeira. Ora, o que foi tornado
velho, e se envelhece, perto está de acabar.[90]
Nós versículos anteriores provamos de modo geral a
insuficiência da Antiga Aliança, e a necessidade da Nova, a
diferença entre uma e outra, foi mostrado a preferência da última em
relação à primeira, e tudo isso é confirmado pela excelência do
sacerdócio de Cristo em comparação com aquele sacerdócio de
Arão. Nesse último versículo do capítulo ele faz uma inferência
especial a partir de uma palavra extraída do testemunho profético,
na qual foi afirmada a principal verdade que ele se esforçou para
confirmar com respeito aos Hebreus. Eles estavam convictos que
não importava o tipo que essa aliança viesse a ser, a primeira
aliança ainda estaria em vigor, obrigando a igreja a todas as
instituições de culto pertencentes à Antiga Aliança. Este era o
principal ponto da controvérsia que o apóstolo tinha com eles; pois
ele sabia que essa convicção deles era destrutiva para a fé do
Evangelho e, se alguém aderisse obstinadamente a ela, isso se
provaria ser prejudicial para sua própria alma. Então, contrariando-
os e com o fim de demonstrar a cessação total da primeira aliança,
ele os pressiona com todos os tipos de argumentos, a partir: (1.) da
natureza, do uso e do fim dela; (2.) da sua insuficiência para
consagrar ou aperfeiçoar a igreja; (3) das várias prefigurações e
certas previsões da introdução de outra aliança, sacerdócio e
ordenanças de adoração, que eram melhores do que as que
pertenciam a ela, as quais eram inconsistentes com essa primeira
aliança (3.); além de muitas outras evidências convincentes para o
mesmo propósito. Aqui ele fixa um novo argumento em particular,
para provar a necessidade e a certeza de sua abolição; e por esse
meio, de acordo com o seu costume, ele faz uma transição para seu
discurso seguinte, no qual ele prova a mesma verdade a partir da
consideração distinta do uso e fim das instituições, ordenanças e
sacrifícios pertencentes àquela aliança. Ele busca fazer isso nos
daqui até o versículo 19 do capítulo 10; e assim retorna à parte
parenética[91] da epístola, fazendo as devidas aplicações do que ele
agora mostrava plenamente.
Aqui o apóstolo faz uso de um argumento duplo: 1. De uma
palavra especial ou testemunho bíblico. 2. De uma máxima geral da
verdade.
A Palavra Especial ou Testemunho Bíblico
1. Com relação ao primeiro, podemos considerar, (1.) O
testemunho bíblico que ele usa; (2.) A inferência para o seu próprio
propósito que ele faz dele:
(1) A primeira aliança consiste em uma adjunto dessa outra
aliança que é prometida. Essa aliança prometida é chamada pelo
próprio Deus de nova: ᾿εν τ ῷ λέγειν , καινήν , “Dizendo nova
aliança” ou “Ao dizer nova”. Assim é expressamente no profeta: “Eis
que farei uma aliança nova” (Jeremias 31:31). Assim, toda palavra
do Espírito Santo, embora seja apenas ocasional em relação ao
principal assunto mencionado, é uma evidência suficiente daquilo
que pode ser deduzido a partir dela. E, por esse tipo de
argumentação, somos ensinados que a Palavra de Deus é cheia de
santos mistérios, se com humildade e sob a direção de seu Espírito
Santo a examinarmos diligentemente, como é nosso dever. Isso,
portanto, estabelece como fundamento de seu presente argumento
o seguinte: o próprio Deus não chama essa aliança prometida de
outra aliança, ou de uma segunda, nem apenas declara a
excelência dela; mas a chama de “uma nova aliança”.
(2) Então ele infere dessa passagem que, π ε π αλαίωκε
τὴν π ρώτην , “Ele [Deus] tornou velha a primeira”. A força do
argumento não está no fato de que Deus chama a segunda aliança
de nova, o que ele não teria feito se não tivesse tornado velha a
primeira. Pois a palavra π ε π αλαίωκε possui uma significação ativa
e denota um ato autoritativo de Deus sobre à Antiga Aliança, a outra
e nova aliança era um sinal e uma evidência disso. Deus não teria
feito isso, se não houvesse envelhecido a primeira; pois com
respeito a isso é que ela é chamada de nova. Contudo, foi a
designação da nova aliança que se tornou o fundamento para tornar
a outra, antiga.
Essa palavra diz respeito ao tempo passado, e nós devemos
inquerir a que tempo ela se refere. E, então, esse deve ser o mesmo
tempo da previsão e promessa da Nova Aliança, ou o tempo de sua
introdução e estabelecimento. Ela se refere ao tempo da primeira
aliança. Pois a introdução da Nova Aliança realmente removeu e
aboliu a Antiga, fazendo-a desaparecer; mas o ato de Deus aqui
pretendido é apenas torna-la velha em comparação à Nova. E ele
fez isso através da entrega dessa promessa, e depois por vários
atos e em vários graus.
[1] ele fez isso ao chamar a fé da igreja a descansar nela, a
despertar sua expectativa pela vinda de uma melhor aliança que
tomaria o lugar da primeira. Isso fez com que a primeira aliança
fosse enfraquecida em suas mentes, e ela passou a ser menos
valorizada do que antes. Agora eles certos de que algo muito melhor
seria introduzido em seu devido tempo. Portanto, embora
permanecessem na observação dos deveres e da adoração exigida,
pois era da vontade de Deus que assim o fizessem, contudo, essa
expectativa e anseio pela melhor aliança que agora havia sido
prometida, fez com que a aliança que então vigorava não fosse tão
estimada em suas mentes e afeições. Assim, Deus tornou velha
essa aliança.
[2] ele fez isso através de uma declaração clara de sua
enfermidade, fraqueza e insuficiência para os grandes fins de uma
aliança perfeita entre Deus e a igreja. Muitas coisas para esse
propósito podem ter sido alegadas a partir da natureza de suas
instituições e promessas, desde que ela foi dada inicialmente, e é
isso que é feito por nosso apóstolo em seus discursos atuais. Mas
essas coisas não foram claramente entendidas por ninguém
naqueles dias; e quanto mais o véu os cobria,[92] menos eles podiam
as coisas até o fim das coisas que deveriam ser abolidas. Mas
agora, quando o próprio Deus positivamente declara por aquele
profeta que a antiga aliança era fraca e insuficiente, e, portanto, ele
faria com eles outra, melhor aliança; isso fez com que ela
envelhecesse, ou que estivesse caminhando para sua dissolução.
[3] A partir da entrega dessa promessa, Deus, por várias
vezes, através de sua providência, fez cessar e enfraquecer a
administração dela; que pelo que a decadência da primeira aliança
ficou cada vez mais evidente. Pois,
1º. Imediatamente após a entrega dessa promessa, o cativeiro
babilônico causou um total intervalo e interrupção a toda a sua
administração por setenta anos. Sua administração jamais havia
cessado desde que essa aliança foi feita ao pé do Monte Sinai, e
isso era um sinal evidente de que seu fim estava próximo, e que
Deus queria que a igreja vivesse sem ela.
2º. Quando o povo retornou do seu cativeiro, nem o templo,
nem o culto relacionado a ele, nem qualquer das administrações da
aliança e nem o sacerdócio foram restaurados à sua beleza e glória
primitivas. E embora de modo geral as pessoas estivessem muito
aflitas com a percepção de sua decadência, Deus as conforta não
com qualquer indicação de que as coisas sob aquela aliança seriam
levadas a condições melhores, mas ele as conforta oferecendo uma
expectativa de sua vinda para estar entre eles e pôr fim a todas as
administrações da primeira aliança (Ageu 2:6-9). E, a partir desse
momento, seria fácil traçar todo desenvolvimento dessa aliança e
como ela declinava continuamente até o seu fim.
Assim, Deus tornou velha essa aliança, até aboli-la; e para dar
uma evidência disso, ele chamou a outra aliança que faria de
“nova”. Ela não entrou em decadência por si mesma. Pois nenhuma
instituição de Deus jamais envelhecerá por si mesma; elas nunca
envelhecem, decaem ou perecem a menos que sejam anuladas
pelo próprio Deus. O tempo não consumirá as instituições divinas;
nem os pecados dos homens podem diminuir a força delas.
Somente aquele que as instituiu é que pode aboli-las.
E esse é o primeiro argumento do apóstolo, extraído desse
testemunho bíblico citado a partir do profeta Jeremias, para provar
que a primeira aliança deveria ser abolida.
Uma Máxima Geral da Verdade
Conquanto possa ser questionado se é uma consequência
direta ou não, que a primeira aliança deve ser abolida por ter sido
tornada velha, o apóstolo passa a confirmar a verdade de sua
inferência a partir de uma máxima geral, que também assume a
natureza de um novo argumento. “Ora”, diz ele, “Ora, o que foi
tornado velho, e se envelhece, perto está de acabar”.
“Velho” é um adjetivo que indica aquilo que é finito e que está
caminhando para seu fim. Tudo o que pode envelhecer tem um fim;
e aquele que envelhece, caminha para esse fim. Assim, o salmista
ao afirmar que os próprios céus perecerão, acrescenta, como uma
prova disso: “eles se envelhecerão como um vestido; como roupa os
mudarás, e ficarão mudados”;[93] e então ninguém pode duvidar que
eles terão um fim, quanto à sua substância ou seu uso.
Existem nessas palavras,
(1.) A indicação do sujeito, τ ὸ δέ , “mas isso”, ou “aquilo, seja
o que for”. A regra geral dá evidência à primeira inferência, “Seja o
que for que envelheça”.
(2.) A descrição disso em uma expressão dupla,
π αλαιούμενον e γηράσκον . Essas palavras geralmente devem ser
sinônimas e usadas apenas com o objetivo de enfatizar algo. Nós
traduzimos π αλαιούμενον , por decadência, “aquilo que decai”, para
evitar a repetição da mesma palavra e por não termos outro termo
para expressar “envelhecer” ou “tornar velho”. Mas π αλαιούμενον
não significa propriamente “aquilo que decai”, mas aquilo que sofre
efeito de π ε π αλαίωκε , “o que é feito velho”; e diz respeito
particularmente às coisas. As coisas são descritas como velhas e
não as pessoas. Mas a outra palavra, γηράσκον , diz respeito às
pessoas, e não às coisas. A palavra γηράσκειν é dita a respeito de
homens, e não de coisas inanimadas. Embora o apóstolo possa ter
usado um pleonasmo para dar ênfase à sua afirmação e para
averiguar a certeza do término da Antiga Aliança, nada impede,
porém, de pensarmos que ele tinha se referido tanto às coisas como
às pessoas que pertenciam à administração dela.
Aquilo que se afirma acerca do assunto da proposição é que
ela, ἐγγὺς ἀφανισμοῦ , “perto está de acabar”, é uma abolição e
remoção. A proposição é universal e válida absolutamente em
relação a todas as coisas, como é evidente a partir da luz da
natureza. O que quer que leve alguma coisa para uma a decadência
e envelhecimento, também a levará a um final; pois decadência e
envelhecimento são expressões que denotam tendência para um
fim. Que um anjo viva pelo tempo que for, ele não envelhece,
porque não pode morrer. Envelhecer é algo absolutamente contrário
a uma duração eterna (Salmo 102:26-27).
Tendo em vista que o que está sendo tratado aqui é respeito
da remoção da Antiga Aliança e de todas as administrações dela,
pode ser indagado por que o apóstolo expressa isso por
ἀφανισμός , “um desaparecimento”, ou “desaparecendo de vista”. E
o seguinte pode ser respondido: (1.) Para mostrar a aparência
externa gloriosa de suas administrações: Foi isso que cativou
grandemente as mentes e afeições daqueles hebreus. Eles eram
carnais, e coisas tais como a arquitetura do templo, os ornamentos
dos sacerdotes e a ordem de sua adoração possuíam em si
mesmos uma glória que eles podiam contemplar com seus olhos
carnais, e se apegarem com suas afeições carnais. O ministério da
letra era glorioso. “Toda essa glória”, diz o apóstolo, “desaparecerá
em breve, desaparecerá de sua vista”, de acordo com a predição de
nosso Senhor Jesus Cristo (Mateus 24). (2.) Para mostrar a
remoção gradual da Antiga Aliança: Ela se vai como algo que é
retirado de diante de nossos olhos. Nós, pouco a pouco, a
perdemos de vista, até que ela desaparece completamente. Como
ela foi feita para desaparecer, em que tempo, em que graus e por
quais atos de autoridade divina, deve ser dito distintamente em
outro lugar. Todas as gloriosas instituições da lei eram, na melhor
das hipóteses, estrelas do firmamento da igreja e, portanto, todas
desapareceriam com o surgimento do Sol da Justiça.
τῷ θεῷ δόξα .[94]
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