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INPAVI – INTERVENÇÃO PARA VIVER

CAPACITAÇÃO PARA
ATENDIMENTO À DEPENDENTES
QUÍMICOS E FAMILIARES

Esta apostila foi elaborada de acordo com as informações


sobre DEPENDÊNCIA QUÍMICA, ministrada pelos palestrantes
e da Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (SENAD) –
Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas (UNIAD) e algumas
colaborações no final de cada texto.

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Coordenação e Organização:

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 Iracema Gonçalves – Terapeuta
 Jocimara Nery – Assistente Social
 Zezé Amaral – Psicóloga

AGRADECIMENTOS

Ao Pastor Rone Oliveira pela oportunidade de realização


deste curso.

Ao Ministério Internacional Torre Forte que incentivou a


realização.

A cada um de vocês por participarem.


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ÍNDICE
Capítulo 1 5
Noções Básica sobre Dependência Química 6
Drogas Depressoras 16
Álcool 17
Anabolizantes - Esteróides 21
Ansiolíticos e Tranqüilizantes 24
Inalantes e Solventes 27
Ópio e Morfina 31
Heroína 35
Xarope 38
Drogas Estimulantes 40
Anfetaminas 41
Cafeína 44
Cocaína 47
Crack 54
Tabaco 56
Drogas Alucinógenos 60
Cogumelo 61
Êxtase 64
LSD 67
Maconha 70
Skank 74
Santo Daime 75
Capítulo 2 81
AA 82
NA 95
Al Anon 98
Ala teen 101
Amor Exigente 105
Capítulo 3 104
12 Passos 105
Capítulo 4 110
Tratamento 111
Capítulo 5 122
Entrevista Motivacional 123
Capítulo 6 131
Dependência Química e Família 132
Capítulo 7 148
Atendendo um Dependente Químico 149
Capítulo 8 154
Atendendo um Co – Dependente – Família 155
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Capítulo 9 158
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Um modelo de Tratamento – DQ LUZ 159


Bibliografia 163
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ORAÇÃO DA SERENIDADE

Concedei-nos senhor a SERENIDADE necessária para aceitar


as coisas que não podemos modificar, CORAGEM para
modificar aquelas que podemos e SABEDORIA para distinguir
uma das outras.

ORACÃO
Eu seguro minha mão na sua e uno meu coração ao seu, para
que juntos, possamos fazer tudo aquilo que sozinho não foi
possível.

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NOÇÕES BÁSICAS SOBRE


DEPENDÊNCIA QUÍMICA
CAPÍTULO 1

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TIPOS DE DROGAS E EFEITOS

Antes de escrever e falar sobre DROGAS, veja nosso cérebro (figura 1 e 2)


sem drogas, limpo, saudável.

Cérebro: Liso, simétrico e cheio – SEM DROGAS (figura 1) Cérebro visto de cima – saudável (figura 2)

O QUE É... SUBSTÂNCIA PSICOATIVA?

É toda e qualquer substância que age no cérebro, modificando o seu


funcionamento, alterando o humor ou o comportamento.

Portanto, dentro deste grupo de substâncias existem:

 Medicamentos;
 Substâncias de aplicação na vida diária moderna;
 Substâncias que se transformaram em hábitos sociais do ser humano;
 Um grupo de drogas que ocasionam abuso e dependência e são ilegais.

O álcool e o tabaco são socialmente aceitos, assim como o uso de


medicamentos prescritos pelos médicos ou, até recomendados por conhecidos. No
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entanto, é mal vista a mudança de comportamento produzida por qualquer das


drogas legais.
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Por outro lado, existem substâncias que não têm utilidade médica e são
ilegais. Em geral, são substâncias que mudam mais intensamente o comportamento
das pessoas e por serem ilegais podem alterar também a forma de vida dos
indivíduos.

O QUE É... DROGA DE ABUSO?

Droga de abuso é qualquer substância ou preparação, com pouco uso médico


usada primariamente pelos seus efeitos prazerosos, exóticos ou estimulantes.
Dentre elas temos: o tabaco e o álcool, que são drogas sociais por excelência; os
inalantes, a maconha, a cocaína, o LSD, a mescalina e extratos de cogumelos que
são drogas ilícitas, substâncias que só devem ser usadas sob receita médica, como
moderadores do apetite, estimulantes, calmantes, entre outras que também passam
a serem drogas de abuso, quando utilizada para outros fins ou em excesso.

O abuso de drogas ocorre quando um indivíduo usa repetidamente uma


droga, apesar de saber do problema social, de trabalho ou de saúde gerado pelo
uso da droga. O uso freqüente de drogas em situações perigosas, como dirigir ou
operar máquinas quando intoxicado também caracteriza abuso de drogas.

QUAIS SÃO OS SINAIS DE DEPENDÊNCIA?

 Depois da primeira dose a pessoa sente vontade de repetir, mesmo quando


prometeu só usar "um pouquinho".
 Gasta muito do seu tempo para conseguir, usar ou se recuperar do uso da
droga.
 Apresenta-se intoxicado (sob efeito da droga) ou com sinais de "falta" da
droga nos horários em que deveria estar produzindo (exemplo: falta ao
trabalho porque usou a droga ou porque precisa procurar a droga para se
sentir "bem").
 Afasta-se da família, do trabalho ou dos divertimentos para ficar usando a
droga sozinho ou com outros usuários.
 A pessoa não pára de usar a droga mesmo quando sabe que esta está lhe
fazendo algum mal (saúde, psicológico ou social) porque usa há muito tempo
ou em quantidades muito altas.
 Ocorre tolerância, ou seja, a pessoa precisa usar maior quantidade da droga
para sentir o mesmo efeito das primeiras vezes.
 Se a pessoa parar de usar ou diminuir a quantidade da droga aparecem
sintomas de abstinência, ou seja, o organismo "sente falta" da droga.
 A pessoa usa a droga para não apresentar ou para diminuir os sintomas da
abstinência.
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DROGA

Droga segundo a definição da Organização Mundial da Saúde – OMS – é


qualquer substância não produzida pelo organismo que tem a propriedade de atuar
sobre um ou mais de seus sistemas, produzindo alterações em seu funcionamento.

Estas alterações variam de acordo com:


 Características da pessoa;
 Droga utilizada;
 Circunstância que a pessoa usa.

A lista de substâncias na Classificação Internacional de Doenças, 10ª revisão – CID


10, inclui:

 Álcool;

 Opióides - Morfina, heroína, codeína, diversas substâncias sintéticas;

 Canabinóides – Maconha;

 Sedativos ou hipnóticos – Barbitúricos, benzodiazepínicos;

 Cocaína – Crack, merla;

 Outros estimulantes – como anfetaminas e substâncias relacionadas à


cafeína;

 Alucinógenos;

 Tabaco;

 Solventes voláteis

CLASSIFICAÇÃO DAS DROGAS

Há diversas formas de classificar as drogas, do ponto de vista legal:

Drogas Lícitas – são aquelas comercializadas de forma legal, podendo ou não estar
submetidos a algum tipo de restrição. Como por exemplo, álcool (venda proibida
para menores de 18 anos) e alguns medicamentos que só podem ser adquiridos por
meio de prescrição médica especial.

Drogas Ilícitas – Proibidas por lei.


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Tipos de Drogas: Depressoras, Estimulantes e Perturbadoras.


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DEPRESSORAS – Diminuem a atividade do cérebro, possuem também alguma


propriedade analgésica

Seus usuários tornam-se sonolentos, lerdos, desatentos e desconcentrados.

As drogas depressoras são:

Morfina e Heroína Inalantes

Calmantes álcool

PERTUBADORAS – Conhecidas como alucinógeno, ou seja, produzem quadros de


alucinação, geralmente de natureza visual.

São drogas que fazem com que o cérebro funcione desordenadamente. Agem
não só sobre os neurotransmissores químicos, que transmitem as mensagens
nervosas, como também sobre os neurônios ou células cerebrais. Portanto,
provocam anomalias, desvios, distúrbios da atividade mental, principalmente
alucinações e desvios.

As drogas perturbadoras são:

Maconha Cogumelo
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Ecstasy LSD

ESTIMULANTES
Há aumento da vigília, da atenção, aceleração do pensamento e euforia.

São incluídas nesse grupo as drogas capazes de aumentar a atividade de


determinados sistemas neuronais, o que traz como consequências um estado de
alerta exagerado, insônia e aceleração dos processos psíquicos.

Seus usuários tornam-se mais ativos, ―ligados‖.

São elas:

Anfetaminas Nicotina e Cafeína

Cocaína Crack

BARBÍTURICOS
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Pertencem ao grupo de substâncias sintetizadas artificialmente desde o


começo do século XX, que possuem diversas propriedades em comum com o álcool
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e com outros tranquilizantes (benzodiazepínicos).


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Seu uso inicial foi dirigido ao tratamento da insônia, porem a dose para causar
os efeitos terapêuticos desejáveis não esta muito distante da dose tóxica ou letal.

O sono produzido por essas drogas, assim como aquele provocado por todas
as drogas indutoras de sono, é muito diferente do sono natural – fisiológico.

Efeitos de sua principal ação farmacológica

 A diminuição da capacidade de raciocínio e concentração;

 A sensação de calma, relaxamento e sonolência;

 Reflexos mais lentos.

Com doses um pouco maiores, a pessoa tem sintomas semelhantes à


embriaguez, com lentidão nos movimentos, fala pastosa e dificuldade na marcha.

Doses tóxicas dos barbitúricos podem provocar:

 Surgimento de sinais de incoordenação motora;

 Acentuação significativa da sonolência, que pode chegar ao coma;

 Morte por parada respiratória.

São drogas que causam tolerância (sobretudo quando o individuo utiliza


doses altas desde o inicio) e síndrome de abstinência quando ocorre sua retirada, o
que provoca insônia, irritação, agressividade, ansiedade e até convulsões.

BENZODIAZEPÍNICOS

Esse grupo de substâncias começou a ser usado na medicina, durante os


anos 60 e possui similaridades importantes com os barbitúricos, em termos de ações
farmacológicas, com a vantagem de oferecer uma maior margem de segurança, ou
seja, a dose toxica, aquela que produz efeitos prejudiciais à saúde, é muitas vezes
maior que a dose terapêutica, ou seja, a dose prescrita no tratamento médico.

Como consequências dessa ação, os benzodiazepínicos produzem:

 Diminuição da ansiedade;

 Indução ao sono;

 Relaxamento muscular;

 Redução do estado de alerta.


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Essas drogas dificultam, ainda, os processos de aprendizagem e memória, e


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alteram, também, funções motoras, prejudicando atividades como dirigir automóveis


e outras que exigem reflexos rápidos.
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As doses tóxicas dessas drogas são bastante altas, mas pode ocorrer
intoxicação se houver uso concomitante de outros depressores da atividade mental,
principalmente, álcool ou barbitúricos. O quadro de intoxicação é muito semelhante
ao causado por barbitúricos.

OPIÓIDES

Grupo que inclui drogas ―naturais‖, derivadas da papoula do oriente (Papaver


somniferum), sintéticas e semissintéticas, obtidas a partir de modificações químicas
em substâncias naturais.

As drogas mais conhecidas desse grupo são a morfina, a heroína e a


codeína, além de diversas substâncias totalmente sintetizadas em laboratório, como
a metadona e meperidina.

Sua ação decorre da capacidade de imitar o funcionamento de diversas


substâncias naturalmente produzidas pelo organismo, como as endorfinas e as
encefalinas.

Normalmente, são drogas depressoras da atividade mental, mas possuem


ações mais específicas, como de analgesia e de inibição do reflexo da tosse.

Causam os seguintes efeitos

 Contração pupilar importante;

 Diminuição da motilidade do trato gastrointestinal; (motilidade – capacidade


de mover-se espontaneamente)

 Efeito sedativo, que prejudica a capacidade de concentração

 Torpor e sonolência.

Os opióides deprimem o centro respiratório, provocando desde respiração


mais lenta e superficial até parada respiratória, perda da consciência e morte.

São efeitos da substância

 Náuseas;

 Cólicas intestinais;

 Lacrimejamento;

 Arrepios, com duração de até 12 horas;

 Corrimento nasal;
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 Cãibras;
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 Vômitos;
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 Diarreia.

Quando em uso clínico, os medicamentos à base de opióides são receitados


para controlar a tosse, a diarreia e como analgésicos potentes.

ANFETAMINAS

São substâncias sintéticas, ou seja, produzidas em laboratórios. Existem


várias substâncias sintéticas que pertencem ao grupo das anfetaminas.

São exemplos de drogas ―anfetamínicas‖: o fenproporex, o metilfenidato, o


manzidol, a metanfetamina e a dietilpropiona. Seu mecanismo de ação é aumentar a
liberação e prolongar o tempo de atuação de neurotransmissores utilizados pelo
cérebro, a dopamina e a noradrenalina.

FATORES DE RISCO E DE PROTEÇÃO

As propostas preventivas devem ser destinadas não apenas a prevenir o uso


indevido de drogas, mas a resgatar toda uma dimensão humana desrespeitada. É
uma tarefa difícil e complexa, pois envolve o ato de restabelecer sentidos para a vida
social, devolvendo valores e normas éticas baseadas no respeito à pessoa e às
suas diferenças, bem como ao ambiente e às tradições culturais, religiosas e
históricas. É este conjunto, com suas numerosas interfaces transculturais, que
órgãos internacionais denominam de "melhoria de qualidade de vida", focalizando
não o produto, nem o combate às drogas, mas sim, o homem enquanto cidadão,
pessoa e sujeito ativo.

Neste sentido faz-se necessário o desenvolvimento de ações preventivas que,


incluindo tanto as drogas lícitas quanto as ilícitas, estejam voltadas para o bem-estar
físico, psíquico e social do indivíduo. Toda a ação dirigida para o ser humano
deverá, pois, levar em conta os aspectos biopsicossociais uma vez que é da
interação destes que se constitui o homem e é partir das características específicas
de cada um, que decorrem as múltiplas origens da drogadição.

Ao eleger a valorização da vida e a qualidade de vida como diretrizes para o


desenvolvimento de ações preventivas, considera-se que o problema da drogadição
é amplo e não se restringe a uma causa ou motivação, revelando a existência de
fatores de risco e fatores de proteção ao uso indevido de drogas.

Como fatores de risco entende-se aqueles que ocorrem antes do uso indevido de
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drogas e que estão associados, estatisticamente, a um aumento da probabilidade do


abuso de drogas. São aqueles que poderão levar o indivíduo a colocar-se diante de
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agressões. Este enfoque procura prevenir o uso indevido de drogas, eliminando,


reduzindo ou mitigando estes fatores.
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Como alguns exemplos de FATORES DE RISCO tem-se:

 Fatores legais: a falta de cumprimento de pressupostos legais, como por


exemplo, os que proíbem a venda de bebidas alcoólicas a menores de 18
anos, ou a inexistência de legislação pertinente e atualizada, favorecem o a
 Disponibilidade da droga: dependendo das leis e normas da sociedade,
sejam as drogas legais ou não, o seu uso pode estar associado à facilidade
de acesso ao produto. Abuso de drogas, tornando-se um fator de risco.
 Fatores econômicos (pobreza ou alto poder aquisitivo): estão relacionados
ao aumento da delinqüência pelos jovens bem como ao uso de drogas.
 Fatores comunitários: constantes mudanças de residência, perda dos laços
com a vizinhança, violência urbana, desorganizam a vida social do indivíduo.
 Fatores familiares: a família pode ser uma das variáveis para o primeiro
contato com as drogas, já que os hábitos e os conflitos que o jovem percebe a
sua volta contribui para uma introdução à costumes e práticas sociais. Os pais
que tem por hábito o uso de drogas podem representar um comportamento
tolerante ou indutor do uso de drogas. A perda dos vínculos familiares e do
vínculo maternal podem, também, estar relacionados ao uso de drogas.
 Problemas de comportamento precoces e persistentes: distúrbios de
conduta que se iniciam muito cedo e continuam durante a vida, podem
favorecer o uso de drogas.
 Problemas escolares: repetências, faltas, pouco compromisso com as
atividades escolares.
 Pressão de grupos: através do estímulo dos grupos de iguais ou, em alguns
casos, conduzido por um colega que já fez uso de drogas. A droga passa a
ser um elemento socializador compartido, possibilitando a cumplicidade e um
processo interativo com os amigos.

Os FATORES PROTETORES são aqueles que protegem o indivíduo de fatos que


poderão agredi-lo física, psíquica ou socialmente, garantindo um desenvolvimento
saudável. Estes fatores reduzem, abrandam ou eliminam as exposições aos fatores
de risco, seja reduzindo a vulnerabilidade ou aumentando a resistência das pessoas
aos riscos. Podem ser:

 Dinâmica familiar estruturada;


 Diversificação das operações de vida;
 Rigor com a ética;
 Respeito aos cliente humanos possibilitando o exercício pleno da cidadania;
 Oferecimento de condições dignas de saúde, educação, trabalho,
alimentação, entre tantas outras.

Para a implementação dos fatores protetores é necessário o desenvolvimento de


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um processo participativo que identifique e multiplique as ações protetoras,


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potencializando os efeitos uns dos outros.


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O reconhecimento dos fatores de risco e o conhecimento precoce de problemas de


dependência reforçam a cadeia de intervenções, podendo-se evitar seu
agravamento.

O compromisso com a qualidade de vida visa o homem dentro do seu contexto


concreto de vida, discernindo suas dificuldades, seus conflitos e sofrimentos
decorrentes de desequilíbrios psicossociais e econômicos, à procura de soluções
mais adequadas passíveis de acarretar uma melhora global das suas condições de
existência.

Dentro desta concepção, não é mais possível isolar a prevenção do uso indevido de
drogas da prevenção da AIDS ou da prevenção de outros agressores à saúde.

Uma prevenção concebida em uma abordagem holística ultrapassa os


reducionismos e "humaniza" as intervenções propostas que tocam, inevitavelmente,
em questões humanas fundamentais ligadas à sexualidade, ao prazer, aos sentidos
da vida.

Para que uma educação preventiva, circunscrita à qualidade de vida, surta efeitos
amplos e contínuos, deve fundamentalmente, não se limitar à situações extremas,
com riscos já acentuados.

Ao contrário, deve permear ações sociais e educacionais como um todo e de forma


contínua, tanto para adultos quanto para jovens, envolvendo valores universais que
presidem um verdadeiro progresso social, a saber: tolerância, solidariedade, paz,
justiça e direitos humanos.

Para que este progresso seja verdadeiro, tem que se basear no respeito à diferença
e na recusa a toda e qualquer discriminação - princípio democrático elementar.

Por fim, para se concretizar uma efetiva valorização da vida, a educação preventiva
deve incluir o respeito permanente aos valores culturais e às necessidades e
aspirações de uma determinada população, independente do seu nível sócio-
econômico. Visa, portanto, disseminar uma verdadeira "cultura preventiva" que
possa influenciar as opções que se apresentam nos diversos segmentos da vida.

Neste sentido, necessita de ações que incentivem os processos culturais e


interpessoais para fortalecer atitudes, valores e estratégias comunicativas que
possam minimizar os mais diversos fatores de risco e incrementar potentes fatores
de proteção.
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DROGAS
DEPRESSORAS

 ÁLCOOL
 ANABOLIZANTES – ESTERÓIDES
 ANSIOLITICOS E TRANQUILIZANTES
 INALANTES OU SOLVENTES
 ÓPIO – MORFINA – HEROÍNA
 XAROPES

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ALCOOL

BEBIDAS ALCOÓLICAS – ÁLCOOL ETÍLICO: ETANOL

Fermentado – vinho, cerveja


Destilados – pinga, uísque, vodca

Aspectos Históricos
Registro arqueológico revelam que os primeiros indícios sobre o consumo de
álcool pelo ser humano datam de aproximadamente 6000 a C., sendo, portanto, um
costume extremamente antigo e que tem persistido por milhares de anos. A noção
de álcool como uma substância divina, por exemplo, pode ser encontrada em
inúmeros exemplos na mitologia, sendo talvez um dos fatores responsáveis pela
manutenção do hábito de beber, ao longo do tempo.

Inicialmente, as bebidas tinham conteúdo alcoólico relativamente baixo, como,


por exemplo, o vinho, e a cerveja, já que dependiam exclusivamente do processo de
fermentação. Com o advento do processo de destilação, introduzido na Europa pelo
árabes na Idade Média, surgiram novos tipos de bebidas alcoólicas, que passaram a
ser utilizadas em sua forma destilada. Nessa época, esse tipo de bebida passou a
ser considerado um remédio para todas as doenças, pois ―dissipavam as
preocupações mais rapidamente que o vinho e a cerveja, além de produzirem um
alivio mais eficiente da dor‖, surgindo, então, a palavra uísque (do gálico
usquebaugh), que significa ―água da vida‖).

A partir da Revolução Industrial, registrou-se grande aumento na oferta desse


tipo de bebida, contribuindo para um maior consumo e conseqüentemente, gerando
aumento no numero de pessoas que passaram a apresentar algum tipo de
problemas decorrente do uso excessivo de álcool.

Aspectos Gerais
Apesar do desconhecimento por parte da maioria das pessoas, o álcool
também é considerado uma droga psicotrópica, pois atua no sistema nervoso
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central, provocando mudança no comportamento de quem o consome, além de ter


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potencial para desenvolver dependência.


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O álcool é uma das poucas psicotrópicas que tem seu consumo admitido e
até incentivado pela sociedade. Este é um dos motivos pelos quais ele é encarado
de forma diferenciada, quando comparado com as demais drogas.

Apesar de sua ampla aceitação social, o consumo de bebidas alcoólicas,


quando excessivo, passa a ser um problema. Além dos inúmeros acidentes de
trânsito e da violência associada a episódios de embriagues, o consumo de álcool
em longo prazo, dependendo da dose, freqüência e circunstâncias, pode provocar
um quadro de dependência conhecido como alcoolismo. Dessa forma, o consumo
inadequado do álcool é um importante problema de saúde pública, especialmente
nas sociedades ocidentais, acarretando altos custos para a sociedade e envolvendo
questões médicas, psicológicas e familiares.

Efeitos Agudos
A ingestão de álcool provoca diversos efeitos, que aparecem em duas fases
distintas: um estimulante e outra depressora.
Nos primeiros momentos após a ingestão de álcool, podem aparecer os efeitos
estimulantes, como euforia, desinibição e loquacidade (maior facilidade para falar).
Com o passar do tempo, começam a surgir os efeitos depressores, como falta de
coordenação motora, descontrole e sono. Quando o consumo é muito exagerado, o
efeito depressor fica exarcebado, podendo até mesmo provocar o estado de coma.

Os efeitos do álcool variam de intensidade de acordo com as características


pessoais. Por exemplo, uma pessoa acostumada a consumir bebidas alcoólicas
sentirá os efeitos do álcool com menor intensidade, quando comparada com outra
que não esta acostumada a beber. Um outro exemplo esta relacionado à estrutura
física: a pessoa com estrutura física de grande porte terá maior resistência aos
efeitos do álcool.

O consumo de bebidas alcoólicas também pode desencadear alguns efeitos


desagradáveis, como enrubescimento da face, dor de cabeça e mal estar geral.
Esses efeitos são mais intensos para algumas pessoas cujo organismo tem
dificuldade de metabolizar o álcool. Os orientais, em geral tem maior probabilidade
de sentir esses efeitos.

Álcool e Transito
A ingestão de álcool, mesmo em pequenas quantidades, diminui a
coordenação motora e reflexos, comprometendo a capacidade de dirigir veículos ou
operar outras máquinas. Pesquisas revelam que grande parte dos acidentes é
provocada por motoristas que haviam bebido antes de dirigir. Nesse sentido,
segundo a legislação brasileira (Código Nacional de Trânsito, que passou a vigorar
em janeiro de 1998), deverá ser penalizado todo motorista que apresentar mais 0,6g
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de álcool por litro de sangue. A quantidade de álcool necessária para atingir essa
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concentração no sangue é equivalente a beber de 600 ml de cerveja (duas latas de


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cerveja ou três copos de chope), 200 ml de vinho (duas taças) ou 80 ml de


destilados (duas doses).

Alcoolismo
Como já citado neste texto, a pessoa que consome bebida alcoólicas de
forma excessiva, ao longo do tempo, pode desenvolver dependência, condição
conhecida como alcoolismo. Os fatores que podem levar ao alcoolismo são variados,
envolvendo aspectos de origem biológica, psicológica e sociocultural. A dependência
do álcool é condição frequente, atingindo cerca de 10% da população adulta
brasileira.

A transição do beber moderado ao beber problemático ocorre de forma lenta,


tendo uma interface que, em geral, leva vários anos. Alguns sinais da dependência
do álcool são: desenvolvimento da tolerância, ou seja, a necessidade de beber em
maiores quantidades de álcool para obter os mesmos efeitos; aumento da
importância do álcool na vida da pessoa; percepção do ―grande desejo‖ e da falta de
controle em relação a quando parar; síndrome de abstinência (aparecimento de
sintomas desagradáveis) após ter ficado algumas horas sem beber e aumento da
ingestão de álcool para aliviar essa síndrome.

A síndrome de abstinência do álcool é um quadro que aparece pela redução


ou parada brusca da ingestão de bebida alcoólicas, após um período de consumo
crônico. A síndrome tem inicio 6 a 8 horas após a parada da ingestão de álcool,
sendo característica por tremor das mãos, acompanhado de distúrbios
gastrintestinais, distúrbios do sono e estado de inquietação geral (abstinência leve).
Cerca de 5% dos que entram em abstinência leve evoluem para a síndrome de
abstinência grave ou delirium tremens que, além da acentuação dos sinais
anteriores referidos, se caracteriza por tremores generalizados, agitação intensa e
desorientação no tempo e no espaço.

Efeitos sobre outras partes do corpo


Os indivíduos dependentes do álcool podem desenvolver varias doenças. As
mais frequentes são as relacionadas ao fígado (esteatose hepática, hepatite
alcoólica e cirrose). Também são frequentes problemas do aparelho digestivo
(gastrite, síndrome de má absorção e pancreatite) e dos sistemas cardiovascular
(hipertensão e problemas cardíacos. Há ainda, casos de polineurite alcoólica,
caracterizada por dor, formigamento e câimbras nos membros inferiores.

Durante a gravidez
O consumo de bebidas alcoólicas durante a gestação pode trazer
consequências para o recém-nascido e, quanto maior o consumo, maior o risco de
prejudicar o feto. Dessa forma, é recomendado que toda gestante evite o consumo
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de bebidas alcoólicas, não só ao longo da gestação, como também durante todo o


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período de amamentação, pois o álcool pode passar para o bebê através do leite
materno.
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Cerca de um terço dos bebês de mães dependentes do álcool, que fizeram


uso excessivo dessa droga durante a gravidez, é afetado pela ―síndrome fetal pelo
álcool‖. Os recém-nascidos apresentam sinais de irritação, mamam e dormem
pouco, além de apresentarem tremores (sintomas que lembram a síndrome de
abstinência). As crianças gravemente afetadas, e que conseguem sobreviver aos
primeiros momentos de vida, podem apresentar problemas físicos e mentais que
variam de intensidade de acordo com a gravidade do caso.

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ANABOLIZANTES – ESTERÓIDES

Definição

Os esteróides anabolizantes, mais conhecidos com o nome de anabolizantes,


são substitutos sintéticos do hormônio masculino testosterona fabricado pelos
testículos. Levam ao crescimento da musculatura (efeito anabólico) e ao
desenvolvimento das características sexuais masculinas (efeito androgênico); daí
também o nome de esteróides anabolizantes androgênicos. Os anabolizantes
possuem vários usos clínicos, nos quais sua função principal é a reposição da
testosterona nos casos em que, por algum motivo de doença, tenha ocorrido um
déficit.

A propriedade dessas drogas de aumentar os músculos tem feito com que


atletas ou pessoas que querem melhorar o desempenho e a aparência física utilizem
anabolizantes sem orientação médica, principalmente aquelas que se julgam
pequenas e se sentem infelizes por essa condição. Esse uso estético não é médico,
portanto é ilegal e ainda acarreta problemas à saúde.

Os esteróides anabolizantes podem ser tomados na forma de comprimidos ou


injeções, e seu uso ilícito é iniciado com uma dose menor, aumentada com o tempo,
levando os indivíduos a utilizar centenas de doses a mais do que aquela
normalmente recomendada em caso de deficiência de testosterona. Essa prática é
denominada de pirâmide. Freqüentemente, combinam diferentes esteróides,
supondo que a interação de vários anabolizantes produziria um aumento maior da
musculatura. Outra forma de uso dessas drogas é tomá-las durante ciclos de 6 a 12
semanas ou mais e, depois, parar por um tempo semelhante e começar novamente.
Esse tempo sem droga, acredita o usuário, garantirá ao sistema hormonal recuperar-
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se.
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No Brasil, não se tem estimativa desse uso ilícito, mas sabe-se que o
consumidor preferencial está entre 18 e 34 anos de idade e, em geral, é do sexo
masculino.

No comércio brasileiro, os principais medicamentos à base dessas drogas e


utilizados com fins ilícitos são: Winstrol, Androxon, Durateston, Deca-Durabolin.
Porém, além destes, existem dezenas de outros produtos que entram ilegalmente no
País e são vendidos em academias e farmácias.

Alguns usuários chegam a utilizar produtos veterinários, à base de esteróides,


sobre os quais não se tem idéia dos riscos do uso em humanos.

Efeitos adversos

Alguns dos principais efeitos do abuso dos esteróides são: nervosismo,


irritação, agressividade, problemas hepáticos, acne (em geral ocorre nas costas e no
peito, ocasionando um problema estético sério), problemas sexuais e
cardiovasculares, aumento do HDL (forma boa do colesterol), diminuição da
imunidade. Além disso, aqueles que se injetam ainda correm o risco de compartilhar
seringas e contaminar-se com o vírus da AIDS ou da hepatite.

Outros efeitos:

Além dos efeitos mencionados, outros também graves podem ocorrer:

 No homem: os testículos diminuem de tamanho, a contagem de


espermatozóides é reduzida, impotência, infertilidade, calvície, ginecomastia
(ou desenvolvimento de mamas, que pode necessitar de cirurgia para ser
eliminada) dificuldade ou dor para urinar e aumento da próstata.

 Na mulher: crescimento de pelos faciais, alterações ou ausência de ciclo


menstrual, aumento do clitóris, voz grossa, diminuição dos seios. Alguns
desses efeitos são irreversíveis, ou seja, mesmo na ausência do anabolizante
não há retorno da condição normal.

 No adolescente: o anabolizante pode provocar maturação esquelética


prematura e puberdade acelerada, levando a um crescimento raquítico,
provocando estatura baixa.

A variação de humor, incluindo a irritabilidade e nervosismo provocados pelo


abuso de anabolizantes, pode chegar à agressividade e à raiva incontroláveis.

Os usuários podem experimentar ainda, um ciúme doentio, ilusões, podendo


apresentar distorção de juízo em relação a sentimentos de invencibilidade, distração,
confusão mental e esquecimentos. Podem desenvolver também distorção de
julgamento do próprio corpo (dismorfia corporal), tendo a falsa sensação de que
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estão com a musculatura pouco desenvolvida.


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Usuários, freqüentemente, tornam-se clinicamente deprimidos quando param


de tomar a droga, até porque perdem a massa muscular que adquiriram; um sintoma
que pode contribuir para a dependência.

Atletas, treinadores físicos e mesmo médicos relatam que os anabolizantes


aumentam significantemente massa muscular, força e resistência. Apesar dessas
afirmações, até o momento não existe nenhum estudo científico comprovando que
essas melhoram a capacidade cardiovascular, a agilidade, a destreza ou o
desempenho físico.

Devido a todos esses efeitos, o Comitê Olímpico Internacional – {COI}


colocou vinte esteróides anabolizantes e compostos relacionados a eles como
drogas banidas, ficando o atleta que fizer uso delas sujeito a duras sanções.

Os principais esteróides anabolizantes, em sua grande maioria com uso


injetável, são: estanozolol, metenolona, oximetolona, nesterolona, oxandrolona, sais
de testosterona e boldenona (uso veterinário). Os mais utilizados no Brasil são:
estanozolol (Winstrol) e nandrolona (Deca-Durabolin).

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ANSIOLÍTICOS ou TRANQUILIZANTES
Benzodiazepínicos

Definição
Existem medicamentos que tem a propriedade de atuar quase exclusivamente
sobre a ansiedade e a tensão. Essas drogas já foram chamadas de tranquilizantes,
por tranquilizar a pessoa estressada, tensa e ansiosa. Atualmente, prefere-se
designar esses tipos de medicamentos pelo nome de ansiolíticos, ou seja, que
―destroem‖ a ansiedade. De fato, esse é o principal efeito terapêutico desses
medicamentos: diminuir ou abolir a ansiedade das pessoas, sem afetar em demasia
as funções psíquicas e motoras.

Antigamente, o principal agente ansiolítico era uma droga chamada


meprobamato, que praticamente desapareceu das farmácias com a descoberta de
um importante grupo de substâncias: os benzodiazepínicos. De fato, esses
medicamentos estão entre os mais utilizados, no mundo todo, inclusive no Brasil.
Para se ter ideia, atualmente existem mais de cem remédios em nosso país à base
desses benzodiazepínicos. Este tem nomes químicos que terminam geralmente pelo
sufixo pam. Assim, é relativamente fácil a pessoa, quando toma um remédio para
acalmar-se, saber o que realmente esta tomando: tendo na fórmula uma palavra
terminada em pam, é um benzodiazepínico. Exemplo: diazepam, bromazepam,
clonazepam, estazolam, flurazepam, flunitrazepam, lorazepam, nitrazepam, etc.
Uma das exceções é a substância chamada clordizepóxido, que também é um
benzodiazepínico. Por outro lado, essas substâncias são comercializadas pelos
laboratórios farmacêuticos com diferentes nomes ―fantasia‖, existindo assim dezenas
de remédios com nomes diferentes: Noan, Valium, Calmociteno, Dienpax,
Psicosedin, Frontal, Frisium, Kiatrium, Lexotam, Lorax, Urbanil, Somalium, etc, são
apenas alguns dos nomes.

Efeitos no cérebro
Todos os benzodiazepínicos são capazes de estimular os mecanismos do
cérebro que normalmente combatem estados de tensão e ansiedade. Assim,
quando, devido às tensões do dia-a-dia ou por causas mais sérias, determinadas
áreas do cérebro funcionam exageradamente, resultado em estado de ansiedade, os
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benzodiazepínicos exercem um efeito contrário, isto é, inibem os mecanismos que


estavam hiperfuncionantes, e a pessoa fica mais tranquila, como que desligada do
Página

meio ambiente e dos estímulos externos.


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Como consequências dessa ação, os ansiolíticos produzem uma depressão da


atividade do nosso cérebro que se caracteriza por:
1. Diminuição de ansiedade;
2. Indução de sono;
3. Relaxamento muscular;
4. Redução do estado de alerta.

É importante notar que esses efeitos dos ansiolíticos benzodiazepínicos são


grandemente alimentados pelo álcool, e a mistura do álcool com essas drogas pode
levar ao estado de coma. Além desses efeitos principais, os ansiolíticos dificultam os
processos de aprendizagem e memória, o que é, evidentemente, bastante prejudicial
para aqueles que habitualmente se utilizam dessas drogas.

Finalmente, é importante ainda lembrar que essas substâncias também


prejudicam em parte as funções psicossomáticas, prejudicando atividades como
dirigir automóveis, aumentando a probabilidade de acidentes.

Efeitos sobre outras partes do corpo


Os benzodiazepínicos são drogas muito especificas em seu modo de agir,
pois tem predileção quase exclusivas pelo cérebro. Dessa maneira, nas doses
terapêuticas não produzem efeitos dignos de nota sobre os outros órgãos.

Efeitos tóxicos
Do ponto de vista orgânico ou físico, os benzodiazepínicos são drogas
bastante seguras, pois são necessárias grandes doses (20 a 40 vezes mais altas
que as habituais), para trazer efeitos mais graves como:
1. A pessoa fica com hipotonia muscular (―mole‖);
2. Grande dificuldade para ficar em pé e andara;
3. Baixa pressão sanguínea e
4. Suscetibilidade a desmaios.

Mas, mesmo assim, a pessoa dificilmente chega a entrar em como e morrer.


Entretanto, a situação muda muito de figura se a pessoa além de ter tomado o
benzodiazepínico, também ingerir bebida alcoólica. Nesses casos, a intoxicação
torna-se séria, pois há grande diminuição da atividade cerebral, podendo levar ao
estado de coma.

Outro aspecto importante quanto aos efeitos tóxicos refere-se ao uso dessas
substâncias por mulheres grávidas, Suspeita-se que essas drogas tenham um poder
teratogênico razoável, isto é, podem, produzir lesões ou defeitos físicos na criança
por nascer.
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Aspectos gerais
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Os benzodiazepínicos, quando usados durante alguns meses seguidos,


podem levar as pessoas a um estado de dependência. Como consequências, sem a
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droga o dependente passa a sentir muito irritabilidade, insônia excessiva, sudoração,


dor pelo corpo todo, podendo, em casos mais extremos, apresentar convulsões. Se
a dose tomada já é grande desde o inicio, a dependência ocorre mais rapidamente
ainda. Há também desenvolvimento de tolerância, embora esta não seja muito
acentuada, isto é, a pessoa acostumada à droga não precisa aumentar a dose para
obter o efeito inicial.

Situação no Brasil
Como já foi relatado, existem dezenas de remédios no Brasil à base de
ansiolíticos benzodiazepínicos. Até recentemente, era comum os médicos,
chamados de obesologistas (que tratam das pessoas obesas em busca de
tratamento para emagrecer), colocarem nas receitas esses benzodiapínicos para
atenuar o nervosismo produzido pelas drogas que tiram o apetite. Atualmente, a
legislação não permite essa mistura.

Além disso, há um verdadeiro abuso por parte dos laboratórios nas indicações
desses medicamentos para todos os tipos de ansiedade, mesmo aquelas
consideradas normais, isto é, causadas pelas tensões da vida cotidiana. Assim,
certas propagandas mostram uma mulher com um largo sorriso, feliz, pois tomou
certo remédio que corrigiu a ansiedade gerada pelo três bilhetes recebidos: um do
marido, avisando que chegará tarde para o jantar; outro do filho, dizendo que
chegará com o time de basquete para o lanche; e o terceiro da empregada, avisando
que faltou ao trabalho porque foi ao médico. Ainda existem exemplos de indicação
dos benzodiazepínicos para as moças sorrirem mais (pois à tensão evita o riso), ou
para evitar as rugas, que envelhecem (uma vez que ansiedade faz as pessoas a
franzirem a testa, criando rugas). Não é, portanto, surpreendente que, em um
levantamento sobre o uso não-médico de drogas psicotrópicas por estudantes me
dez capitais brasileiras, em 1997, os ansiolíticos estivessem em terceiro lugar na
preferência geral, sendo esse uso muito mais intenso entre meninas do que em
meninos.

Os benzodiazepínicos são controlados pelo Ministério da Saúde, isto é, a


farmácia pode vendê-los somente mediante receita especial do médico, que deve
ser retida para posterior controle, o que nem sempre acontece.
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INALANTE ou SOLVENTES
Cola de sapato, Esmalte, Lança-perfume e Acetona

Definição
A palavra solvente significa substância capaz de dissolver coisas, e inalante é
toda substância que pode ser inalada, isto é, introduzida através da aspiração pelo
nariz ou pela boca. Em geral, todo solvente é uma substância altamente volátil, ou
seja, evapora-se muito facilmente, por esse motivo pode ser facilmente inalado.
Outra característica dos solventes ou inalantes é que muitos deles (mas não todos)
são inflamáveis, quer dizer, pegam fogo facilmente.

Um número enorme de produtos comerciais, como esmalte, colas, tintas,


tíneres, propelentes, gasolina, removedores, vernizes, etc., contém esses solventes.
Eles podem ser aspirados tanto involuntariamente (por exemplo, trabalhadores de
indústrias de sapatos ou de oficinas de pintura, o dia inteiro exposto ao ar
contaminado por essas substâncias) quanto voluntariamente (por exemplo, a criança
de rua que cheira cola de sapateiro, o menino que cheira em casa acetona ou
esmalte, ou o estudante que cheira o corretivo Carbex, etc).

Todos esses solventes ou inalantes são substâncias pertencentes a um grupo


químico chamado de hidrocarbonetos, como o tolueno, xilol, n-hexano, acetato de
etila, tricloroetileno etc. Para exemplificar, eis a composição de algumas colas de
sapateiro vendida no Brasil: Cascola – mistura de tolueno + n-hexano, Patex Extra –
mistura de tolueno com acetato de etila e aguarrás mineral; Brascoplast – tolueno
com acetato de etila e solvente para borracha. Em 1991, uma fábrica de cola do
interior de São Paulo fez ampla campanha publicitária afirmando que finalmente
havia fabricado uma cola de sapateiro ―que não era tóxica e não produzia vicio‖,
porque não continha tolueno. Essa indústria teve um comportamento reprovável,
além de criminoso, já que o produto anunciado ainda continha o solvente n-hexano,
sabidamente tóxico.

Um produto muito conhecido no Brasil é o ―cheirinho‖ ou ―loló‖, também


conhecido como ―cheirinho da loló‖. Trata-se de um preparado clandestino (isto é
27

fabricado não por estabelecimento legal, mas, sim, por pessoas do submundo), à
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base de clorofórmio, mais éter, utilizado somente pra fins de abuso. Mas já se sabe
que, quando esses ―fabricantes‖ não encontram uma daquelas substâncias, eles
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misturam qualquer outra coisa em substituição. Assim, em relação ao ―cheirinho da


loló‖ não se conhece bem sua composição, o que complica quando se tem casos de
intoxicação aguda por essa mistura. Ainda, é importante chamar a atenção para o
lança-perfume. Esse nome designa inicialmente aquele líquido que vem em tubos e
que se usa no carnaval. À base de cloreto de etila ou cloretila, é proibida sua
fabricação no Brasil e só aparece nas ocasiões de carnaval, contrabandeada de
outros países sul-americanos. Mas cada vez mais o nome lança-perfume é também
utilizado para designar o ―cheirinho da loló‖ (os meninos de rua de várias capitais
brasileiras já usam estes dois nomes – cheirinho e lança – para dedignar a mistura
de clorofórmio e éter).

Lança-Perfume

Antigamente o lança-perfume era a coqueluche dos salões - até mesmo as


crianças ganhavam tubinhos para se divertirem nos bailes. Hoje em dia é
considerado entorpecente pela vigilância sanitária, e seu uso é crime. Com
fabricação proibida no Brasil, ele aparece por ocasião do carnaval, contrabandeado
de outros países sul-americanos, como Argentina, Paraguai, Uruguai e etc, pois lá
seu consumo não é considerado crime.

A Trip

Uma cheirada profunda com a boca em um pedaço de tecido embebido pelo


solvente, ou no próprio tubo. Imediatamente uma sensação de euforia e excitação,
uma incontrolável dificuldade de se entender o que estão falando ao seu redor,
seguido de um barulhinho constante, semelhante a um apito, ou assobio ("piiiiiiiiii").
O início do efeito, após a aspiração, é bastante rápido, normalmente de segundos a
minutos (em, no máximo de 5 a20 minutos já desapareceu); assim o usuário repete
as aspirações várias vezes para que as sensações durem mais tempo. Passado o
efeito, vem uma ressaca, eventualmente semelhante a do álcool.

Abstinência

Os inalantes ou delirantes não causam dependência física, mas, o mesmo


não se pode afirmar da psicológica e da tolerância. Depois de absorvidos pela
mucosa pulmonar, essas substâncias são levadas para o sistema nervoso central,
fígado, rins, medula óssea e cérebro, causando neste último o bloqueio da
transmissão nervosa. Para os indivíduos já viciados, a síndrome de abstinência,
embora de pouca intensidade, está presente na interrupção abrupta do uso dessas
drogas, aparecendo ansiedade, agitação, tremores, câimbras nas pernas, insônia e
perda de outros interesses que não seja o de usar solvente. A tolerância pode
ocorrer, embora não tão dramática quanto de outras drogas.
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Efeitos no cérebro
O inicio dos efeitos, após a aspiração, é bastante rápido – de segundos a
minutos no máximo – e em 15 a 40 minutos já desapareceram; assim o usuário
repete as aspirações várias vezes para que as sensações durem mais tempo.

Os efeitos dos solventes vão desde uma estimulação inicial até depressão,
podendo também surgir processos alucinatórios. Vários autores dizem que os efeitos
dos solventes (quaisquer que sejam) lembram os dos álcool, entretanto este não
produz alucinações, fato bem descrito para os solventes. Entre os efeitos, o
predominante é a depressão, principalmente a do funcionamento cerebral. De
acordo com ao aparecimento desses efeitos, após inalação de solventes, foram
divididos em quatro fases:

Primeira fase – a chamada fase de excitação, que é a desejada, pois a pessoa fica
eufórica, aparentemente excitada, sentindo tonturas e tendo perturbações auditivas
e visuais. Mas podem também aparecer náuseas, espirros, tosse, muitas salivação e
as faces podem ficar avermelhadas.

Segunda fase – a depressão do cérebro começa a predominar, ficando a pessoa


confusa, desorientada, com a voz meio pastosa, visão embaçada, perda do
autocontrole, dor de cabeça, palidez; ela começa a ver ou a ouvir coisas.

Terceira fase – a depressão aprofunda-se com redução acentuada do estado de


alerta, incoordenação motora com marcha vacilante, fala ―engrolada‖, reflexos
deprimidos, podendo ocorrer processos alucinatórios evidentes.

Quarta fase – depressão tardia, que pode chegar à inconsciência, queda da


pressão, sonhos estranhos, podendo ainda a pessoa apresentar surtos de
convulsões (―ataques‖). Essa fase ocorre com freqüência entre aqueles cheiradores
que usam saco plástico e, após certo tempo já não conseguem afastá-lo do nariz e,
assim a intoxicação torna-se muito perigosa, podendo mesmo levar ao como e à
morte.

Finalmente, sabe-se que a aspiração repetida, crônica, dos solventes pode


levar à destruição de neurônios (células cerebrais), causando lesões irreversíveis no
cérebro. Além disso, pessoas que usam solventes cronicamente apresentam-se
apáticas, tem dificuldade de concentração e déficit de memória.

Efeitos sobre outras partes do corpo


Os solventes praticamente não agridem outros órgãos, a não ser o cérebro.
Entretanto, existe um fenômeno produzido pelos solventes que pode ser muito
perigoso. Estes tornam o coração humano mais sensível a uma substância que o
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nosso corpo fabrica, a adrenalina, que faz o numero de batimentos cardíacos


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aumentarem. Essa adrenalina é liberada toda vez que temos de exercer um esforço
extra, como por exemplo, correr, praticar certos esportes, etc. Assim, se uma pessoa
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inala um solvente e logo depois faz esforço físico, seu coração pode sofrer, pois ele
esta muito sensível à adrenalina liberada por causa do esforço. A literatura medica já
cita vários casos de mortes por arritmia cardíaca (batidas irregulares do coração),
principalmente em adolescentes.

Efeitos tóxicos
Os solventes quando inalados cronicamente podem levar a lesões da medula
óssea, dos rins, do fígado e dos nervos periféricos que controlam os músculos. Por
exemplo, verificou-se, em outros países que em fabricas de sapato ou oficinas de
pintura os operários, com o tempo, acabavam por apresentar doenças renais e
hepáticas. Em decorrência, nesses países passou a vigorar uma rigorosa legislação
sobre as condições de ventilação dessas fabricas, e o Brasil também tem leis a
respeito. Em alguns casos, principalmente quando existe no solvente uma impureza,
o benzano, mesmo em pequenas quantidades, pode levar a diminuição de produtos
de glóbulos brancos e vermelhos pelo organismo.

Um dos solventes bastantes usados nas nossas colas é o n-hexano. Essa


substância é muito tóxica para os nervos periféricos, produzindo degeneração
progressiva, a ponto de causar transtornos no marchar (as pessoas acabam
andando com dificuldade, o chamado ―andar de pato‖), podendo até chegar à
paralisia. Há casos de usuários crônicos que, após alguns anos, só podiam se
locomover em cadeira de rodas.

Aspectos Gerais
A dependência entre aqueles que abusam cronicamente de solventes é
comum, sendo os componentes psíquicos da dependência os mais evidentes, tais
como desejo de usar a substância, perda de outros interesses que não seja o
solvente. A síndrome de abstinência, embora de pouca intensidade, esta presente
na interrupção abrupta do uso dessas drogas, sendo comum a ansiedade, agitação,
tremores, cãibras nas pernas e insônia.

Pode surgir tolerância à substância, embora não tão dramática em relação a


outras drogas (como as anfetaminas, que passam a tomar doses 50 – 70 vezes
maiores que as iniciais). Dependendo da pessoa e do solvente, a tolerância instala-
se ao fim de uma a dois meses.
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ÓPIO E MORFINA
Papoula do oriente

Definição e histórico:
Muitas substâncias com grande atividade farmacológica podem ser extraídas
de uma planta chamada Papaver somniferum, conhecida popularmente com o nome
de “Papoula do Oriente‖. Ao se fazer cortes na cápsula da papoula, quando ainda
verde, obtêm-se um suco leitoso, o ópio (a palavra ópio em grego quer dizer ―suco‖).

Quando seco, esse suco passa a se chamar pó de ópio. Nele existem várias
substâncias com grande atividade. A mais conhecida é a morfina, palavra que vem
do deus da mitologia grega Morfeu, o deus dos sonhos.

Pelo próprio segundo nome da palavra somniferum, de sono, e do nome


morfina, de sonho, já dá para fazer uma idéia da ação do ópio e da morfina no
homem: são depressores do sistema nervoso central, isto é, fazem o cérebro
funcionar mais devagar. Mas o ópio ainda contém mais substâncias, sendo a
codeína também bastante conhecida. Ainda é possível obter-se outra substância, a
heroína, ao se fazer pequena modificação química na fórmula da morfina. A heroína
é, então, uma substância semi-sintética (ou seminatural).

Todas essas substâncias são chamadas de drogas opiáceas ou


simplesmente opiáceos, ou seja, oriundas do ópio, que por sua vez, podem ser
opiáceos naturais quando não sofrem nenhuma modificação (morfina, codeína) ou
opiáceos semi-sintéticos quando resultantes de modificações parciais das
substâncias naturais (como é o caso da heroína).

Mas o ser humano foi capaz de imitar a natureza fabricando em laboratórios


várias substâncias com ação semelhante à dos opiáceos: a meperidina, a
oxicodona, o propoxifeno e a metadona são alguns exemplos. Essas substâncias
totalmente sintéticas são chamadas de opióides (isto é, semelhantes aos opiáceos).
Todas são colocadas em comprimidos ou ampolas, tornando-se, então,
medicamentos. A seguir, alguns exemplos desses medicamentos.
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Opiáceo ou Indicação de uso médico Nomes comerciais Preparações


Opióde farmacêuticas
Naturais Naturais

Morfina Analgésico Dimorf Ampola;


Morfina Comprimidos
Pó de ópio Antidiarréico Tintura de ópio; Elixir de tintura
Analgésico Elixir paregórico; alcoólica
Dover
Codeína Antitussígeno Belacoclid; Belpar; Gotas;
CcodeinCodelasa; Binelli; Comprimidos;
Naquinto; Setux; Tussaveto; Supositórios
Tussodina; Tylex; Pastilhas
Veabon; Pastilhas Warton;
Benzotiol
Sintéticos Sintéticos

Meperidina ou petidina Analgésico Dolantina; Ampolas;


Demerol;Meperidina Comprimidos
Propoxifeno Analgésico Algafan; Doloxene A; Febutil; Ampola;
Previum Compositum; Femidol Comprimidos
Fentanil Analgésico Fentanil; Inoval Ampolas
Semi-sintético Semi-sintético

Heroína Proibido ao uso médico Metadon


Metadona Tratamento de dependentes
de morfina e heroína

Efeitos no cérebro:
Todas as drogas tipo opiáceo ou opióde têm basicamente os mesmos efeitos
no sistema nervoso central: diminuem sua atividade. As diferenças ocorrem mais em
sentido quantitativo, isto é, são mais ou menos eficientes em produzir os mesmos
efeitos; tudo fica, então, sendo principalmente uma questão de dose. Assim, temos
que todas essas drogas produzem analgesia e hipnose (aumenta o sono), daí
receberam também o nome de narcóticos, que são exatamente as drogas capazes
de produzir esses dois efeitos; sono e diminuição da dor. Recebem também, por
isso, o nome de drogas hipnoanalgésicas. Agora, para algumas drogas a dose
necessária para esse efeito é pequena, ou seja, são bastante potentes, como, por
exemplo, a morfina e a heroína; outras, por sua vez, necessitam de doses 5 a 10
vezes maiores para produzir os mesmos efeitos, como a codeína e a mepiridina.

Algumas drogas podem ter, ainda, ação mais especifica, por exemplo, de
deprimir os acessos de tosse. É por essa razão que a codeína é tão usada como
antitussígeno, ou seja, é muito boa para diminuir a tosse. Outras apresentam a
característica de levar a uma dependência mais facilmente; daí serem muito
perigosas, como é o caso da heroína.

Além de deprimir os centros da dor, da tosse e da vigília (o que causa sono),


todas essas drogas em doses um pouco maior que a terapêutica acabam também
por deprimir outras regiões do cérebro, como as que controlam a respiração, os
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batimentos do coração e a pressão do sangue. Como será visto, isso é muito


importante quando se analisam os efeitos tóxicos que elas produzem.
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Em geral, as pessoas que usam essas substâncias sem indicação médica, ou


seja, abusam delas, procuram efeitos característicos de uma depressão geral do
cérebro: um estado de torpor, como isolamento da realidade do mundo, calmaria na
qual realidade e fantasia se misturam, sonhar acordado, estado sem sofrimento,
afeto meio embotado e sem paixões. Enfim, fugir das sensações que são a essência
mesmo do viver: sofrimento e prazer que se alteram e se constituem em nossa vida
psíquica plena.

Efeitos sobre outras partes do corpo:


As pessoas sob ação dos narcóticos apresentam contração acentuada da
pupila (―menina dos olhos‖), que às vezes chegam a ficar do tamanho da cabeça de
um alfinete. Há também uma paralisia do estômago e o individuo sente-se
empachado, com o estômago cheio, como se não fosse capaz de fazer a digestão.
Os intestinos também ficam paralisados e, como conseqüência, a pessoa que abusa
dessas substâncias geralmente apresenta forte prisão de ventre. É com base nesse
efeito que os opiáceos são utilizados para combater a diarréia, ou seja, são usados
terapeuticamente como antidiarreicos.

Efeitos tóxicos:
Os narcóticos usados por meio de injeções, ou em doses maiores por via oral,
podem causar grande depressão respiratória e cardíaca. A pessoa perde a
consciência e fica com uma cor meio azulada porque a respiração muito fraca quase
não oxigena o sangue e a pressão arterial cai a ponto de o sangue não mais circular
normalmente: é o estado de coma que, se não tiver atendimento necessário, pode
levar à morte. Literalmente, centenas ou mesmo milhares de pessoas morrem todo
ano na Europa e nos Estados Unidos intoxicadas por heroína ou morfina. Além
disso, como muitas vezes esse uso é feito por injeção, com freqüência os
dependentes acabam também por adquirir infecções como hepatites e mesmo AIDS.
Aqui no Brasil, uma dessa drogas foi utilizada com alguma freqüência por injeção
venosa: é o propoxifeno (principalmente o Algafan).

Acontece que essa substância é muito irritante para as veias, que se


inflamam e chegam a ficar obstruídas. Houve muitos casos de pessoas com sérios
problemas de circulação nos braços por causa disso. Houve mesmo descrição de
amputação desse membro devido ao uso crônico de Algafan. Felizmente, esse uso
irracional do propoxifeno não ocorre mais entre nós.

Outro problema com essas drogas é a facilidade com que levam a


dependência, tornando-se o centro da vida das vítimas. E quando esses
dependentes, por qualquer motivo, param de tomar a droga, ocorre um violento e
doloroso processo de abstinência, com náusea e vômitos, diarréia, cãibras
musculares, cólicas intestinais, lacrimeja mento, corrimento nasal, etc., que pode
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durar até 8 a 12 dias.


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Além disso, o organismo humano torna-se tolerante a todas essas drogas


narcóticas. Ou seja, como o dependente não consegue mais se equilibrar sem sentir
seus efeitos, ele precisa tomar doses cada vez maiores, enredando-se mais e mais
em dificuldades, pois para adquiri-las é preciso cada vez mais dinheiro.

Para se ter uma idéia de como os médicos temem os efeitos tóxicos dessas
drogas, basta dizer que eles relutam muito em receitar a morfina (e outros
narcóticos) para cancerosos, que geralmente tem dores extremamente fortes. E
assim milhares de doentes de câncer padecem de um sofrimento muito cruel, pois a
única substância capaz de aliviar a dor, a morfina ou outro narcótico, tem também
esses efeitos indesejáveis. Atualmente, a própria Organização Mundial de Saúde
tem aconselhado os médicos de todo o mundo que, nesses casos, o uso contínuo
de morfina é plenamente justificado.

Felizmente, são pouquíssimos os casos de dependência dessas drogas no


Brasil, principalmente quando comparado com o problema em outros países.
Entretanto, nada garante que essa situação não poderá modificar-se no futuro.

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O QUE É... HEROÍNA?

A heroína é uma droga do grupo dos opióides, também conhecidos como


analgésicos narcóticos. Outros opióides como o ópio, a codeína e a morfina são
substâncias naturalmente extraídas da papoula. A heroína é derivada da morfina e
codeína. A heroína é uma substância depressora do Sistema Nervoso Central sendo
capaz de alterar as sensações de prazer e dor. Na sua forma pura, é encontrada
como um pó branco facilmente solúvel em água.

Por que é usada?

É usada com o objetivo de aumentar a auto-estima e diminuir o desânimo. Os


opióides em geral são usados para diminuir sensações como dor e ansiedade.

Como ela é consumida?

A heroína pode ser injetada, inalada ou fumada. Uma injeção intravenosa


provoca maior intensidade e início de euforia mais rápido (7 a 8 segundos),
enquanto a injeção intramuscular causa a sensação mais lentamente (5 a 8
minutos). Quando a heroína é inalada ou fumada o pico do efeito é atingido em 10 a
15 minutos. Todas as formas de uso da heroína causam dependência e tolerância.

A heroína quando usada junto com outras drogas depressoras do Sistema


Nervoso Central, como álcool e calmantes, tem seu efeito potencializado. Uma
pequena dose de heroína pode rapidamente produzir os mesmos efeitos de uma
dose elevada (ou uma overdose) se for combinada com outras drogas.

Quais os efeitos imediatos provocados pela heroína?

Usuários relatam uma sensação de intenso prazer, bem-estar e euforia após


o uso da heroína, assim como diminuição de sensações como dor, fome, tosse e
desejo sexual. A respiração, pressão arterial e freqüência cardíaca ficam
aumentadas à medida que a dose aumenta, fazendo com que o usuário se sinta
aquecido, pesado e sonolento.
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Altas doses podem causar náuseas, vômitos e intenso prurido (coceira).


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Quais os problemas causados pela heroína?

Os usuários de heroína injetável correm mais riscos de contraírem HIV,


Hepatite B e Hepatite C ao compartilharem seringas ou agulhas. Além disso, o uso
crônico da heroína pode provocar colapso dos vasos sangüíneos, infecção
bacteriana das válvulas do coração, abscessos, doenças do fígado e rins,
pneumonias e tuberculose.

O dependente de heroína também pode ter problemas sociais e familiares.


Ele torna-se apático, desanimado, perdendo o interesse por sua vida profissional e
familiar. A necessidade de doses crescentes da droga pode levar o indivíduo a ter
problemas financeiros resultando em mais problemas sociais.

Além disso, sabe-se que é perigoso dirigir após fazer uso da heroína, pois
causa sonolência, reduzem à coordenação, as reações ficam mais retardadas e a
visão pode ser afetada.

Quais os efeitos a longo prazo causados pela heroína?

O dependente de heroína começa a ocupar cada vez mais seu tempo e


energia na obtenção da droga, que se torna a coisa mais importante de sua vida.
Além disso, uma pessoa que começa a usar heroína pode rapidamente desenvolver
tolerância e precisa cada vez de maior quantidade da droga para obter o mesmo
efeito.

Um dos principais prejuízos causados pela heroína é a dependência física e


psicológica. A dependência física ocorre quando o corpo se adapta a presença da
droga e dependência psicológica é caracterizada pela compulsão ("ter que usar")
pela droga. Nestes dois casos, vai haver uso cada vez mais freqüente e de
quantidades cada vez maiores da droga. Quando o usuário interrompe o uso da
heroína, desenvolvem-se sintomas de abstinência como: diarréia, náuseas, vômitos,
cãibras, dor muscular e óssea, lacrimejamento, perda de apetite, secreção nasal,
bocejos, tremores, pânico, insônia, desânimo, movimentos involuntários de pernas,
agitação e transpiração. A maioria desses sintomas começa entre 24 a 48 horas
após o uso da última dose e diminuem após uma semana. No entanto, algumas
pessoas permanecem com esses sintomas por vários meses.

Quais os sintomas de overdose por heroína?

Respiração muito diminuída (inclusive com parada respiratória), diminuição da


pressão sangüínea, diminuição da temperatura corporal (pele fria), extremidades do
corpo podem ficar azuladas, pupilas muito pequenas, os músculos esqueléticos
tornam-se flácidos, a mandíbula relaxa-se e a língua cai para trás, obstruindo a
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passagem de ar. Ocorrem convulsões, coma e posteriormente a morte devido à


Página

insuficiência respiratória. Mesmo se a respiração é restabelecida, pode ocorrer morte


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como resultado de complicações como pneumonia ou choque que ocorre durante o


período de coma.

A tríade coma, respiração e pupilas muito diminuídas sugerem fortemente


intoxicação por opióides.

Qual o tratamento da overdose?

O primeiro passo é manter as vias aéreas abertas e propiciar ventilação. Na


loxona, antagonista dos opióides, pode reverter o quadro de intoxicação.

Como a heroína afeta a gravidez?

A heroína pode causar aborto, parto prematuro, baixo peso fetal e morte do
feto ao nascimento.

Os filhos de mãe dependente de heroína poderão sofrer a síndrome da morte


súbita, sintomas de abstinência logo após o nascimento e problemas durante seu
desenvolvimento.

A síndrome de abstinência é muito mais perigosa para o feto do que para o


adulto; a abstinência na mulher grávida pode causar morte fetal ou aborto
espontâneo.

Qual o tratamento do usuário de heroína?

O tratamento deve incluir:

 Drogas substitutas, como a metadona e naltrexona, que são medicações


bloqueadoras dos efeitos da heroína, morfina e outros opióides.
 Apoio psicológico com o objetivo de descobrir por que o indivíduo procurou a
droga.

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XAROPES E GOTAS PARA TOSSE


Com Codeína

Definição
Os xaropes são formulações farmacêuticas que contem grande quantidade de
açúcar, fazendo com que o líquido fique ―viscoso, ―meio grosso‖, (―xaroposo‖). Nesse
veiculo ou liquido, coloca-se a substância medicamentosa que vai trazer o efeito
benéfico desejado pelo médico que a receitou. Assim, existem xaropes para tosse
em que o medicamento ativo é a codeína.

Mas também existem outras maneiras de se preparar tais remédios. Em vez


de colocá-lo em um xarope, faz-se uma solução aquosa, às vezes com um pouco de
álcool, tendo-se assim as chamadas gotas para tosse. A substância ativa contida
nas gotas geralmente é a codeína.

A codeína este entre os remédios mais ativos para combater a tosse, e por
isso é chamada de antitussígena ou béquica (nome bobo que a medicina inventou
para complicar as coisas).

Existe um número muito grande de produtos comerciais à base de codeína.


Assim, Belacodid, Belpar, Codelasa, Gotas Binelli, Pambenyl, Setux, Tussaveto, etc,
são remédios contra tosse que contem essa substância em suas formulas.

A codeína, é uma substância que vem do ópio, trata-se, dessa maneira, de


um opiáceo natural.

Existem ainda muitos xaropes para tratar a tosse que contem certas plantas
em sua fórmula, como por exemplo, o agrião, o guaco, etc. Esses medicamentos,
chamados de fitoterápicos, não tem os efeitos tóxicos da codeína nem causam
dependência.

Efeitos nos cérebro


O cérebro humano possui uma certa área – a chamada centro da tosse – que
comanda os acesos de tosse. Isto e, toda vez que ele é estimulado há emissão de
uma ―ordem‖ para que a pessoa tussa. A codeína é capaz de inibir ou bloquear esse
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centro da tosse, mesmo que haja um estimulo para ativá-lo, o centro, estando
bloqueado pela droga, não reage, ou seja, não dá mais a ―ordem‖ para a pessoa
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tossir, e a tosse que vinha ocorrendo deixa de existir.


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Mas a codeína age em outras regiões no cérebro. Assim, outros centros que
comandam as funções dos órgãos são também inibidos; com a codeína, a pessoa
sente menos dor (ela é um bom analgésico), pode ficar sonolentas, e a pressão
sanguínea, o número de batimentos do coração e a respiração podem ficar
diminuídos.

Efeitos sobre outras partes do corpo


A codeína possui vários efeitos das drogas do tipo opiáceos. Assim, é capaz
de contrair a pupila (―menina dos olhos‖), provocar sensação de má digestão e
produzir prisão de ventre.

Efeitos tóxicos
A codeína quando tomada em doses maiores que a terapêutica produz
acentuada depressão das funções cerebrais. Como conseqüências, a pessoa fica
apática, a pressão do sangue cai muito, o coração funciona com grande lentidão e a
respiração torna-se muito fraca. Como conseqüências, a pele fica fria (a temperatura
do corpo diminui) e meio azulada (―cianose‖) por causa da respiração insuficiente. A
pessoa pode ficar em estado de coma, inconsciente, e se não for tratada pode
morrer. Por exemplo, em um pronto-socorro na cidade de São Paulo, em um período
de 10 meses, 17 crianças de 20 dias até 2 anos de idade foram tratadas por
intoxicação por causa de xaropes ou gotas para tosse tomadas em excesso. (Setux,
Belpar, Belacodid, Espasmoplus). Todas essas crianças apresentaram dificuldade
respiratória, pele fria e meio azulada, pupilas contraídas, mal conseguiam chorar e
não tinham forças para mamar.

Aspectos gerais
A codeína leva rapidamente o organismo a um estado de tolerância. Isso
significa que a pessoa vem tomando xarope à base de codeína, por ―vício‖, acaba
por aumentar cada vez mais a dose diária. Assim, não é incomum saber-se de casos
de pessoas que tomam vários vidros de xaropes ou de gotas para continuar sentido
o mesmo efeito. E se elas deixam de tomar a droga, estando já dependentes,
surgem sintomas da chamada síndrome de abstinência. Calafrios, cãimbras, cólicas,
coriza, lacrimejamento, inquietação, irritabilidade e insônia são os sintomas mais
comuns de abstinência.

Situação no Brasil
Os xaropes e as gotas á base de codeína podem ser vendidos nas farmácias
brasileiras somente com a apresentação da receita do médico, que fica retida para
posterior controle. Infelizmente, isso nem sempre acontece, pois algumas farmácias
desonestas que, para ganhar mais dinheiro, vendem essas substâncias por ―baixo
do pano‖. Contudo, os proprietários desses estabelecimentos podem ser punidos
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caso sejam descobertos.


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DROGAS
ESTIMULANTES

 ANFETAMINAS
 CAFEÍNA
 COCAÍNA
 CRACK
 TABACO

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ANFETAMINAS
Bolinhas

Definição
As anfetaminas são drogas estimulantes da atividade do sistema nervoso
central, isto é, fazem o cérebro trabalhar mais depressa, deixando as pessoas mais
―acesas‖, ―ligadas‖, com ―menos sono‖, ―elétricas‖, etc.

São chamadas de “rebite”, principalmente entre os motoristas que precisam


dirigir durante varias horas seguidas sem descanso, a fim de cumprir prazos
predeterminados, também são conhecidas como “bola” por estudantes que passam
noites inteiras estudando, ou por pessoas que costumam fazer regimes de
emagrecimento sem acompanhamento médico.

Nos Estados Unidos, a metanfetamina (uma anfetamina) tem sido muito


consumida na forma fumada em cachimbos, recebendo o nome de ―ICE‖ (gelo).
Outra anfetamina, metilenodioximtanfetamina (MDMA), também conhecida pelo
nome de ―êxtase‖, tem sido uma das drogas com maior aceitação pela juventude
inglesa e agora, também, apresenta um consumo crescente nos Estados Unidos e
Brasil.

As anfetaminas são drogas sintéticas, fabricadas em laboratório. Não são,


portanto produtos naturais. Existem várias drogas sintéticas que pertencem ao grupo
das anfetaminas, e como cada uma delas pode ser comercializada sob a forma
remédio, por vários laboratórios e com diferentes nomes comerciais, temos um
grande numero desses medicamentos, conforme os exemplos:

Dietilpropiona ou Anfepramona = Dualid; Hipofagin S; Inibex; Moderine


Fenproporex = Desobesil-M
Mazindol = Fagolipo, Absten-Plus
Metanfetamina = Pervitin
Metilfenidato = Ritalina
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Efeitos no cérebro:
As anfetaminas agem de maneira ampla afetando vários comportamentos do
ser humano. A pessoa sob sua ação tem insônia (isto é, fica com menos sono),
inapetência (perde o apetite), sente-se cheia de energia e fala mais rápido, ficando
―ligada‖.

Assim, o motorista que tem o ―rebite‖ para não dormir, o estudante que ingere
―bola‖ para varar a noite estudando, um gordinho que as engole regularmente para
emagrecer ou, ainda, uma pessoa que injeta com uma ampola de Pervitin ou com
comprimidos dissolvidos em água para ficar ―ligadão‖ ou ter um ―baque‖ estão na
realidade tomando drogas anfetamínicas.

A pessoa que toma anfetaminas é capaz de executar uma atividade qualquer


por mais tempo, sentindo menos cansaço. Este só aparece horas mais tarde,
quando a droga já se foi do organismo; se nova dose for tomada as energias voltam,
embora com menos intensidade. De qualquer maneira, as anfetaminas fazem com
que o organismo reaja acima de suas capacidades, esforços excessivos, que
logicamente é prejudicial para a saúde. E, o pior é que a pessoa ao parar de tomar
sente uma grande falta de energia (astenia), ficando bastante deprimida, o que
também é prejudicial, pois nem consegue realizar as tarefas que normalmente fazia
anteriormente ao uso dessas drogas.

Efeitos sobre outras partes do corpo:


As anfetaminas não exercem somente efeitos no cérebro. Assim, agem na
pupila dos olhos produzindo dilatação (midríase); esse efeito é prejudicial para os
motoristas, pois à noite ficam mais ofuscados pelos faróis dos carros em direção
contrária. Elas também causam aumento do número de batimentos do coração
(taquicardia) e da pressão sanguínea. Também pode haver sérios prejuízos à
saúde das pessoas que já tem problemas cardíacos ou de pressão, que façam uso
prolongado dessas drogas sem acompanhamento médico, ou ainda que se utilize de
doses excessivas.

Efeitos tóxicos:
Se uma pessoa exagera na dose (toma vários comprimidos de uma só vez),
todos os efeitos anteriormente descritos ficam mais acentuados e podem surgir
comportamentos diferentes do normal: fica mais agressiva, irritadiça, começa a
suspeitar de que outros estão tramando contra ela (delírio persecutório).
Dependendo do excesso da dose e da sensibilidade da pessoa, pode ocorrer um
verdadeiro estado de paranóia e até alucinações. É a psicose anfetamínicas. Os
sinais físicos ficam também muito evidentes: midríase acentuada, pele pálida (devido
à contração dos vasos sanguíneos) e taquicardia. Essas intoxicações são graves, e
a pessoa geralmente precisa ser internada até a desintoxicação completa. Às vezes
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durante a intoxicação, a temperatura aumenta muito e isso é bastante perigoso, pois


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pode levar a convulsões.


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Finalmente, trabalhos recentes em animais de laboratório mostram que o uso


continuado de anfetaminas pode levar à degeneração de determinadas células do
cérebro. Esse achado indica a possibilidade de o uso crônico de anfetaminas
produzirem lesões irreversíveis em pessoas que abusam dessas drogas.

Aspectos gerais:
Quando uma anfetamina é continuadamente tomada por uma pessoa, esta
começa a perceber, com o tempo, que a cada dia a droga produz menos efeito;
assim, para obter o que deseja, precisa tomar a cada dia doses maiores. Há até
casos que de 1 a 2 comprimidos a pessoa passou a tomar até 40 a 60 comprimidos
diariamente. Esse é o fenômeno de tolerância, ou seja, o organismo acaba por se
acostumar ou ficar tolerante a droga. Por outro lado, o tempo prolongado de uso
também pode trazer uma sensibilização do organismo aos efeitos desagradáveis
(paranóia, agressividade, etc.), ou seja, com pequenas doses o individuo já
manifesta esses sintomas.

Discute-se até hoje se uma pessoa que vinha tomando anfetamina há tempos
e para de tomar apresentaria sinais dessa interrupção da droga, ou seja, se teria
uma síndrome de abstinência. Ao que se sabem, algumas podem ficar nessas
condições em um estado de grande depressão, difícil de ser suportada. Entretanto,
não é regra geral.

Informações sobre consumo:


O consumo dessas drogas no Brasil chega a ser alarmante, tanto que até a
Organização das Nações Unidas vem alertando o governo brasileiro a respeito. Por
exemplo, entre estudantes brasileiros do ensino fundamental e do ensino médio das
dez maiores capitais do país, 4,4% revelaram já ter experimentado pelo menos uma
vez na vida uma droga tipo anfetamina. O uso freqüente (6 ou mais vezes no mês)
foi relatado por 0,7% dos estudantes, sendo mais comum entre as meninas.

Outro dado preocupante diz respeito ao total consumido no Brasil: em 1995


atingiu mais de 20 toneladas, o que significa muitos milhos de doses. 43
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CAFEÍNA

Breve histórico dos efeitos físicos e psíquicos

A cafeína causa um hábito onde é possível a sua parada lenta e gradual, sem
qualquer problema. A parada brusca da ingestão de cafeína por uma pessoa
acostumada e tolerante a grandes quantidades pode causar manifestações tais
como dor de cabeça, apatia ou irritabilidade, dificuldade de concentração e
ansiedade. A tolerância é um estado de adaptação caracterizado por uma
diminuição da resposta e dos efeitos a uma mesma quantidade do fármaco ou
tóxico, o que gera a necessidade de uma dose maior para provocar o mesmo grau
de efeito.

A cafeína é um poderoso estimulante do SNC. A quantidade de 250 mg de


cafeína, o conteúdo de duas a três xícaras de um café forte estimula a vigília, bem
como os reflexos mais simples, enquanto que tarefas que envolvam uma
coordenação motora mais delicada podem permanecer inalteradas ou serem
levemente prejudicadas. É possível detectar-se o efeito estimulante da cafeína
através de eletro encefalograma.

Estudos recentes descobriram que a cafeína age diretamente em células


ligadas ao estado de ânimo das pessoas. Quando um indivíduo fica aborrecido,
algumas substâncias químicas neurotransmissoras, como a adenosina, são
liberadas e estimulam receptores das células do humor. A cafeína bloqueia estes
receptores no cérebro, impedindo-as de agir, deixando a pessoa bem-humorada.

Grandes doses de cafeína produzem ansiedade e sintomas idênticos aos de


uma neurose de ansiedade, incluindo insônia, cefaléia, irritabilidade, tremores,
náuseas e diarréia. Pessoas com alterações psiquiátricas tipo reações de pânico,
esquizofrenia e sintomas maníaco-depressivos são mais sensíveis aos efeitos da
cafeína. Existe, entretanto uma grande variação individual na resposta do sistema
nervoso central aos efeitos da cafeína. Pessoas que tomam café ocasionalmente
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podem apresentar efeitos diferentes daquelas que o tomam diariamente.


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As principais manifestações ocorrem no sistema nervoso central e


cardiovascular. Insônia, agitação e hiperexcitabilidade são manifestações iniciais.

Na hipersensibilidade à cafeína a pessoa sente-se inquieta, agitada, com um


discreto mal-estar e ansiedade. A seguir ocorre taquicardia, sensação de zumbido
no ouvido e distúrbios visuais parecendo faíscas no ar. A musculatura torna-se tensa
e trêmula, podem ocorrer palpitações, devido ao surgimento de extra sístoles
(coração).

É possível afirmar que o uso de doses moderadas e regulares de café na


gestação não traz qualquer tipo de prejuízo para a saúde da mãe ou do feto.

O papel da cafeína na produção de arritmias cardíacas e úlcera gástrica ou


duodenal permanecem incertos, necessitando de maiores investigações; já existem
algumas evidências médicas de que a cafeína não causa problemas para pacientes
com doenças cardíacas.

Níveis de cafeína por volume de 150 ml

Café (280 ml).................................................................. 230 mg

Café descafeinado ....................................................... 1 - 5 mg

Café preparado por percolação ................................... 40 - 170 mg

Café preparado por gotejamento ................................ 60 - 180 mg

Café solúvel .............................................................. 30 - 120 mg

Chá preparado ............................................................ 20 - 110 mg

Chá instantâneo ......................................................... 25 - 50 mg

Chocolate ................................................................... 2 - 20 mg

Coca Cola ......................................................................... 45 mg

Diet Coke .......................................................................... 45 mg

Pepsi Cola ......................................................................... 40 mg

Refrigerantes diversos (cola e guaraná - 330 ml) .........2 - 20 mg

Medicamentos analgésicos, diuréticos .....................30 - 200 mg


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Remédios para resfriados e alergias ........................30 - 100 mg


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Mecanismo de ação

A cafeína, juntamente com a teofilina e a teobromina, é uma substância


química derivada da xantina, que se encontra na natureza nas plantas consumidas
pelo homem. Enquanto a teofilina e a teobromina apresentam duas metilas, a
cafeína possui três: 1, 3,7-trimetil-xantina.

A xantina por sua vez é uma substância química derivada da purina: é uma
dioxipurina, estruturalmente relacionada com o ácido úrico. As purinas do organismo
são a adenina e a guanina, que juntamente com as pirimidinas (uracil, timina e
citosina), formam compostos heterocíclicos que fazem parte dos nucleotídeos,
elementos estruturais do ADN e ARN. É possível imaginar-se que a cafeína possa
servir como substrato para a formação de um metabólito - as purinas - para a síntese
das nucleoproteínas, tendo a cafeína um papel semelhante a uma vitamina. Esta
substância que após ser avidamente absorvida pelo trato intestinal entra na corrente
sangüínea, é distribuída a todas as células do organismo, onde penetra livremente.
Atravessa ainda a placenta em gestantes e está presente no leite materno em
lactantes que fazem uso de bebidas que a contém.

A meia-vida (tempo de ação no organismo) da cafeína apresenta uma grande


variação individual, oscilando entre 3 e 7,5 horas em indivíduos normais e alcança
concentrações plasmáticas máximas cerca de 1 hora após a ingestão.

Sua ação sobre os sistemas nervoso, cardiovascular e muscular, além de sua


ação lipolítica (uso da gordura corporal) e poupadora de carboidratos será colocada
no texto a seguir

A nível metabólico, os investigadores acreditam que a cafeína (fig.1) é um


antagonista da adenosina e, ao contrário do efeito sedante, provocam um efeito
estimulador e, posteriormente pode reverter o efeito sedante provocado pela
adenosina. Outra possibilidade em estudo é a possibilidade de as metilxantinas
(p.ex. cafeína) ativarem a libertação de dois aminoácidos excita tórios – glutamato e
aspar tato – que desempenham um papel fundamental como principais
neurotransmissores estimuladores do cérebro.

Estrutura molecular da cafeína (C8H10N4O2 - 3,7-Dihydro-1, 3,7-trimethyl-1H-


purine-2,6-dione (IUPAC) ou1, 3,7-Trimethylxanthine)

Além destes mecanismos de ação a cafeína possui um efeito sobre a


atividade da bomba Na-K. Segundo o estudo de Lindinger et al. (1993) a cafeína
auxilia na regulação das concentrações de K+ no meio extracelular e intracelular,
mantendo as concentrações de K+ alta no meio intracelular e baixa no meio
extracelular, o que contribui para o retardamento da fadiga.
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COCAÍNA

Pasta de Coca – Crack – Merla

Definição
A cocaína é uma substância natural, extraída das folhas de uma planta
encontrada exclusivamente na América do Sul, a Erythroxylon coca, conhecida como
coca ou epadu, este último nome dado pelos índios brasileiros.

Sabe-se que a cocaína é uma substância encontrada em um arbusto,


originado de regiões dos andes, sendo a Bolívia, o Peru e a Colômbia seus
principais produtores. Os nativos desta região, mascam a folha da coca desde antes
da chegada dos conquistadores espanhóis no século XVI, a planta foi levada para a
Europa onde se identificou qual era a substância que provocava seu efeito, A
cocaína.

A cocaína pode chegar até o consumidor sob a forma de um sal, o cloridrato


de cocaína, o ―pó‖, ―farinha‖, ―neve‖, ou ―branquinha‖, que é solúvel em água e serve
para ser aspirado (―cafungado‖) ou dissolvido em água para uso intravenoso (―pelos
canos‖, ―baque‖), ou sob a forma de base, o crack, que é pouco solúvel em água,
mas que se volatilizam quando aquecida e, portanto, é fumada em ―cachimbos‖.

Também sob a forma base, a merla (mela, mel ou melado) um produto ainda
sem refino e muito contaminado com as substâncias utilizadas nas extrações, é
preparada de forma diferente do crack, mas também é fumada. Enquanto o crack
ganhou popularidade em São Paulo, Brasília foi à cidade vitima da merla. De fato,
pesquisas mostram que mais de 50% dos usuários de drogas da Capital Federal
fazem uso de merla, e apenas 2% de crack.

Por apresentar aspecto de ―pedra‖ no caso do crack e ―pasta‖ no caso da


merla, não podendo ser transformado em pó fino, tanto o crack como a merla não
podem ser aspirados, como a cocaína pó (―farinha‖), e por não serem solúveis em
água também não podem ser injetados. Por outro lado, passar do estado sólido ao
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de vapor quando aquecido, o crack necessita de uma temperatura relativamente


baixa (95 o C), o mesmo ocorrendo com a merla, ao passo que o ―pó‖ necessita de
Página

195 oC; por esse motivo o crack e a merla podem ser fumados e o ―pó‖ não.
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Há ainda a pasta de coca, que é um produto grosseiro, obtido das primeiras


fases de extração de cocaína das folhas da planta quando estas são tratadas com
álcali, solvente orgânico como querosene ou gasolina, e acido sulfúrico. Essa pasta
contém muitas impurezas tóxicas e é fumada em cigarros chamados ―basukos‖.

Antes de se conhecer e de se isolar cocaína da planta, a coca (planta) era


muito usada sob a forma de chá. Ainda hoje esse chá é bastante comum em certos
países das América do Sul, como Peru e Bolívia, sendo em ambos permitidos por lei,
havendo até um órgão do Governo, o ―instituto da Coca‖, que controla a qualidade
das folhas vendidas no comércio. Esse chá é até servido aos hospedes nos hotéis.
Acontece, porém, que, sob a forma de chá, pouca cocaína é extraída das folhas,
além disso, ingerindo (toma-se pela boca) o tal chá, pouca cocaína é absorvida
pelos intestinos, ainda, por essa via ela imediatamente já começa a ser
metabolizada. Através do sangue, chega ao fígado e boa parte é destruída antes de
chegar ao cérebro. Em outras palavras, quando a planta é ingerida sob a forma de
chá, muito pouca cocaína chega ao cérebro.

Todo mundo comenta que vivemos hoje em dia uma epidemia de uso de
cocaína, como se isso estivesse acontecendo pela primeira vez. Mesmo nos
Estados Unidos, onde sem dúvida, houve uma explosão de uso nesses últimos
anos, já existiu fenômeno semelhante no passado. E no Brasil, há cerca de 60 ou 70
anos utilizou-se aqui muita cocaína. Tanto que o jornal O Estado de São Paulo
publicava esta noticia em 1914. Há hoje em nossa cidade muitos filhos de família
cujo grande prazer é tomar cocaína e deixar-se arrastar até aos declives mais
perigosos deste vicio.

Tanto o crack como a merla também são cocaína; portanto, todos os


efeitos provocados no cérebro pela cocaína também ocorrem com o crack a merla.
Porém, a via de uso dessas duas formas (via pulmonar, já que ambos são fumados)
faz toda a diferença em relação ao ―pó‖.

Assim que o crack e a merla são fumados, alcançam o pulmão, que é um


órgão intensivamente vascularizado e com grande superfície, levando a uma
absorção instantânea. Através do pulmão, cai quase imediatamente na circulação,
chegando rapidamente ao cérebro. Com isso, pela via pulmonar, o crack e a merla
―encurtam‖ o caminho para chegar ao cérebro, surgindo os efeitos da cocaína muito
mais rapidamente do que por outras vias. Em 10 a 15 segundos, os primeiros efeitos
já ocorrem, enquanto os efeitos após cheirar o ―pó‖ surgem após 10 a 15 minutos, e
após a injeção, em 3 a 5 minutos. Essa característica faz do crack uma droga
―poderosa‖ do ponto de vista do usuário, já que o prazer acontece quase
instantaneamente após uma ―pipada‖ (fumada no cachimbo).
48
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Porém, a duração dos efeitos do crack é muito rápida. Em média, em torno de


5 minutos, enquanto após injetar ou cheirar, duram de 20 a 45 minutos. Essa certa
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duração dos efeitos faz com que o usuário volte a utilizar a droga com mais
frequência que as outras vias. (praticamente de 5 em 5 minutos), levando-o á
dependência muito mais rapidamente que os usuários da cocaína por outras vias
(nasal, endovenosa) e a um investimento monetário muito maior.

Logo após a ―pipada‖, o usuário tem uma sensação de grande prazer, intensa
euforia e poder. É tão agradável que, logo após o desaparecimento desse efeito (e
isso ocorre muito rapidamente, em 5 minutos), ele volta a usar a droga, fazendo isso
inúmeras vezes, até acabar todo o estoque que possui ou o dinheiro para consegui-
la. A essa compulsão para utilizar a droga repetidamente dá-se o nome popular de
―fissura‖, que é uma vontade incontrolável de sentir os efeitos de ―prazer‖ que a
droga provoca. A ―fissura‖ no caso do crack e da merla é avassaladora, já que os
efeitos da droga são muito rápidos e intensos.

Além desse ―prazer‖ indescritível, que muitos comparam a um orgasmo, o


crack e a merla provocam também um estado de excitação, hiperatividade, insônia,
perda de sensação do cansaço, falta de apetite. Esse último efeito é muito
característico do usuário de crack e merla. Em menos de um mês, ele perde muito
peso (8 a 10 kg) e em um tempo maior de uso ele perde todas as noções básicas de
higiene, ficando com um aspecto deplorável. Por essas características, os usuários
de crack (craqueiros) ou de merla são facilmente identificados. Após o uso intenso e
repetitivo, o usuário experimenta sensações muito desagradáveis, como cansaço e
intensa depressão.

Efeitos Tóxicos
A tendência do usuário é aumentar a dose da droga na tentativa de sentir
efeitos mais intensos. Porem essas quantidades maiores acaba por levar o usuário a
comportamento violento, irritabilidade, tremores e atitudes bizarras devido ao
aparecimento de paranóia (chamada entre eles de ―nóia‖). Esse efeito provoca um
grande medo nos craqueiros, que passam a vigiar o local onde usam a droga e a ter
uma grande desconfiança uns dos outros, o que acaba levando-os a situações
extremas de agressividade. Eventualmente, podem ter alucinações e delírios. A esse
conjunto de sintomas dá-se o nome de ―psicose cocaínica‖. Além dos sintomas
descritos, o craqueiro e o usuário de merla perdem de forma muito marcante o
interesse sexual.

Efeitos sobre outras partes do corpo


Os efeitos provocados pela cocaína ocorrem por todas as vias (aspirada,
inalada, endovenosa). Assim, o crack e a merla podem produzir aumento das pupilas
(midríase), que prejudica a visão; é a chamada ―visão borrada‖. Ainda pode provocar
dor no peito, contrações musculares, convulsões e até como. Mas é sobre o sistema
cardiovascular que os efeitos são mais intensos. A pressão arterial pode elevar-se e
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o coração pode bater muito mais rapidamente (taquicardia). Em casos extremos,


Página

chega a produzir parada cardíaca por fibrilação ventricular. A morte também pode
ocorrer devido à diminuição de atividades cerebrais que controlam a respiração.
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O uso crônico da cocaína pode levar a degeneração irreversível dos músculos


esqueléticos, conhecida como rabdomiólise.

Aspectos Gerais
Como ocorrem com as anfetaminas (cujos efeitos são em parte semelhantes
aos da cocaína) as pessoas que abusam da cocaína relatam a necessidade de
aumentar a dose para sentir os mesmos efeitos iniciais de prazer, ou seja, a cocaína
induz tolerância. E como se o cérebro se ―acomodasse‖ aquela quantidade de droga,
necessitando de uma dose maior para produzir os mesmos efeitos prazerosos.
Porem, paralelamente a esse fenômeno, os usuários de cocaína também
desenvolve sensibilização, ou seja, para alguns efeitos produzidos pela cocaína,
ocorre o inverso da tolerância, e com uma dose pequena os efeitos já surgem. Mas
para a angústia do usuário os efeitos produzidos com pouca quantidade de droga
são exatamente aqueles considerados desagradáveis, como por exemplo, a
paranoia. Dessa forma, com o passar do tempo, o usuário necessita aumentar cada
vez mais a dose de cocaína para sentir os efeitos de prazer, porém seu cérebro esta
sensibilizado para os efeitos desagradáveis, ocorrendo como consequências do
aumento da dose uma intensificação de efeitos indesejáveis, como paranoia,
agressividade, desconfiança, etc.

Não há descrição convincente de ma síndrome de abstinência quando a


pessoas para de usar cocaína abruptamente: não sente dores pelo corpo, cólicas,
náuseas, etc. Ás vezes pode ocorrer da pessoa ficar tomada de grande ―fissura‖,
desejar usar novamente a droga para sentir seus efeitos agradáveis e não para
diminuir ou abolir o sofrimento que ocorreria se realmente houvesse uma síndrome
de abstinência.

Usuários de drogas injetáveis e Aids.


No Brasil, a cocaína é a substância mais utilizada pelos usuários de drogas
injetáveis (UDIs). Muitas dessas pessoas compartilham agulhas e seringas e
expõem-se ao contágio de várias doenças, entre elas: hepatite, malária, dengue e
AIDS. Essa pratica e, hoje em dia, um fator de risco para a transmissão do HIV.
Porém os UDIs têm optado por mudança de via, assim, hoje em São Paulo, muitos
antigos UDIs utilizam o crack por considerarem mais seguro, já que por essa via não
compartilham seringas e agulhas. Entretanto, principalmente mulheres usuárias de
crack, prostituem-se para obter a droga e geralmente o fazem sob o efeito da
―fissura‖. Nesse estado, perdem a noção do perigo, não conseguem proceder a um
sexo seguro, expondo-se às doenças sexualmente transmissíveis (DST) e, ainda,
podendo transmitir o vírus a seus parceiros sexuais. Essa prática demonstra que o
crack diante das DST / AIDS não é tão seguro quanto se supunha inicialmente.
50

Segundo dados do ―Projeto Brasil‖, estudo epidemiológico realizado em 1995


Página

e 1996 com 701 UDIs, envolvendo vários centros do País, e coordenado pelo
Instituto de Estudos e Pesquisas em AIDS de Santos (lepas), as taxas de
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prevalência da infecção por HIV entre usuários de drogas injetáveis chegavam a


71% em Itajaí, 64% em Santos e 51% em Salvador.

No âmbito nacional, 21,3% dos casos de AIDS registrados até maior de 1997
referiam-se à categoria de usuários de drogas injetáveis. As campanhas do
Ministério da Saúde, por meio da Coordenação nacional de DST / AIDS, têm
reduzido muito o numero de infectados por essa via. Porém, iniciam-se agora
campanhas que venham coibir a transmissão de DST / AIDS por crack.

Ação da cocaína

Quando a cocaína entra no sistema de recompensa do cérebro, ela bloqueia


os sítios transportadores de dopamina que têm a função de levar de volta a
dopamina que estava agindo na sinapse. Uma vez bloqueados estes sítios, a
dopamina não é receptada, ficando, portanto, "solta" no cérebro até que a cocaína
saia. Quando um novo impulso nervoso chega, mais dopamina é liberada na
sinapse, mas ela se acumula no cérebro por seus sítios receptadores estarem
bloqueados pela cocaína. Acredita-se que a presença anormalmente longa de
dopamina no cérebro é que causa os efeitos de prazer associados com o uso da
cocaína. O uso prolongado da cocaína pode fazer com que o cérebro se adapte a
ela, de forma que ele começa a depender desta substância para funcionar
normalmente diminuindo os níveis de dopamina no neurônio. Se o indivíduo parar de
usar cocaína, já não existe dopamina suficiente nas sinapses e então ele
experimenta o oposto do prazer - fadiga, depressão e humor alterado.

Ação da Dopamina

A dopamina é um neurotransmissor sintetizado por certas células nervosas


que age em regiões do cérebro promovendo, entre outros efeitos, o prazer e a
motivação. Depois de sintetizada, a dopamina é armazenada dentro de vesículas
sinápticas. Quando chega um impulso elétrico no terminal nervoso, as vesículas se
direcionam para a membrana do neurônio e liberam o conteúdo da dopamina na
fenda sináptica. A dopamina então atravessa essa fenda e se liga aos seus
receptores específicos na membrana do próximo neurônio (neurônio pós-sináptico).
Uma série de reações ocorre quando a dopamina ocupa receptores dopaminérgicos
daquele neurônio: alguns íons entram e saem do neurônio e algumas enzimas são
liberadas ou inibidas. Após a dopamina ter se ligado ao receptor pós-sináptico ela é
receptada novamente por sítios transportadores de dopamina localizada no primeiro
neurônio (neurônio pré-sináptico).

Efeitos da Cocaína no Cérebro


51

Sintetizada em 1859, a cocaína tem como origem a planta Erythroxylon coca,


um arbusto nativo da Bolívia e do Peru (mas também cultivado em Java e Sri-
Página

Lanka), em cuja composição química se encontra os alcalóides Cocaína, Anamil e


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Truxillina (ou Cocamina). As propriedades primárias da droga bloqueiam a condução


de impulsos nas fibras nervosas, quando aplicada externamente, produzindo uma
sensação de amortecimento e enregelamento. A droga também é vaso construtor,
isto é, contrai os vasos sangüíneos inibindo hemorragias, além de funcionar como
anestésico local, sendo este um dos seus usos na medicina.
Ingerida ou aspirada, a cocaína age sobre o sistema nervoso periférico, inibindo a
reabsorção, pelos nervos, da norepinefrina (uma substância orgânica semelhante à
adrenalina). Assim, ela potencializa os efeitos da estimulação dos nervos. A cocaína
é também um estimulante do sistema nervoso central, agindo sobre ele com efeito
similar ao das anfetaminas. A quantidade necessária para provocar uma overdose
varia de uma pessoa para outra, e a dose fatal vai de 0,2 a 1,5 gramas de cocaína
pura. A possibilidade de overdose, entretanto, é maior quando a droga é injetada
diretamente na corrente sangüínea. O efeito da cocaína pode levar a um aumento
de excitabilidade, ansiedade, elevação da pressão sangüínea, náusea e até mesmo
alucinações. Um relatório norte-americano afirma que uma característica peculiar da
psicose paranóica, resultante do abuso de cocaína, é um tipo de alucinação na quais
formigas, insetos ou cobras imaginárias parecem estar caminhando sobre ou sob a
pele do cocainômano. Embora exista controvérsia, alguns afirmam que os únicos
perigos médicos do uso da cocaína são as reações alérgicas fatais e a habilidade da
droga em produzir forte dependência psicológica, mas não física. Por ser uma
substância de efeito rápido e intenso, a cocaína estimula o usuário a utilizá-la
seguidamente para fugir da profunda depressão que se segue após o seu efeito. A
Coca-Cola, um dos refrigerantes mais populares, foi originalmente uma beberagem
feita com folhas de coca e vendida como um "extraordinário agente terapêutico para
todos os males, desde a melancolia até a insônia". Complicações legais, todavia,
fizeram com que a partir de 1906 o refrigerante passasse a utilizar em sua fórmula
folhas de coca descocainadas (revista Planeta, julho, 1986).

Entrada da cocaína no cérebro


Quando a cocaína entra no sistema de recompensa do cérebro, ela bloqueia
os sítios transportadores dos neurotransmissores acima mencionados (dopamina,
noradrenalina, serotonina), os quais têm a função de levar de volta estas
substâncias que estavam agindo na sinapse. Desta maneira, ela possibilita a oferta
de um excesso de neurotransmissores no espaço inter-sináptico à disposição dos
receptores pós-sinápticos, fato biológico cuja correlação psicológica é uma sensação
de magnificência, euforia, prazer, excitação sexual. Por este motivo, denomina-se o
consumo da cocaína "Síndrome de Popeye", numa analogia dessa droga com o
espinafre do conhecido marinheiro das histórias em quadrinhos. Uma vez
bloqueados estes sítios, a dopamina e outros neurotransmissores específicos não
são recaptados, ficando, portanto, "soltos" no cérebro até que a cocaína saia.
Quando um novo impulso nervoso chega, mais neurotransmissor é liberado na
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sinapse, mas ele se acumula no cérebro por seus sítios recaptadores estarem
bloqueados pela cocaína. Acredita-se que a presença anormalmente longa de
Página

dopamina no cérebro é que causa os efeitos de prazer associados com o uso da


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cocaína. Quando imaginamos que ocorrem cerca de trilhões de trocas


neuroquímicas por minuto, fica evidente que o preço pago por viver uma experiência
de euforia é alto demais em relação às características que o indivíduo terá que
encarar. O uso prolongado da cocaína pode fazer com que o cérebro se adapte a
ela, de forma que ele começa a depender desta substância para funcionar
normalmente diminuindo os níveis de dopamina no neurônio. Se o indivíduo parar de
usar cocaína, já não existe dopamina suficiente nas sinapses e então ele
experimenta o oposto do prazer - fadiga, depressão e humor alterado.

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CRACK

Crack e uma forma distinta de levar a molécula de cocaína ao cérebro.

Crack Leva 10 segundos para fazer o efeito, gerando euforia e excitação;


respiração e batimentos cardíacos acelerados, seguido de depressão, delírio e
"fissura" por novas doses. "Crack" refere-se à forma não salgada da cocaína isolada
numa solução de água, depois de um tratamento de sal dissolvido em água com
bicarbonato de sódio. Os pedaços grossos secos têm algumas impurezas e também
contêm bicarbonato. Os últimos estouram ou racham (crack) como diz o nome.

Cinco a sete vezes mais potentes do que a cocaína, o crack é também mais
cruel e mortífero do que ela. Possui um poder avassalador para desestruturar a
personalidade, agindo em prazo muito curto e criando enorme dependência
psicológica. Assim como a cocaína, não causa dependência física, o corpo não
sinaliza a carência da droga.

As primeiras sensações são de euforia, brilho e bem-estar, descritas como o


estalo, um relâmpago, o "tuim", na linguagem dos usuários. Na segunda vez, elas já
não aparecem. Logo os neurônios são lesados e o coração entra em descompasso
(de 180 a 240 batimentos por minuto). Há risco de hemorragia cerebral, fissura
alucinações, delírios, convulsão, infarto agudo e morte.

O pulmão se fragmenta. Problemas respiratórios como congestão nasal, tosse


insistente e expectoração de mucos negros indicam os danos sofridos.

Dores de cabeça, tonturas e desmaios, tremores, magreza, transpiração,


palidez e nervosismo atormentam o craqueiro. Outros sinais importantes são euforia,
desinibição, agitação psicomotora, taquicardia, dilatação das pupilas, aumento de
pressão arterial e transpiração intensa. São comuns queimaduras nos lábios, na
língua e no rosto pela proximidade da chama do isqueiro no cachimbo, no qual a
pedra é fumada.

O crack induz a abortos e nascimentos prematuros. Os bebês sobreviventes


apresentam cérebro menor e choram de dor quando tocados ou expostos à luz.
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Demoram mais para falar, andar e ir ao banheiro sozinho e têm imensa dificuldade
Página

de aprendizado.
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O caminho da droga no organismo

Do cachimbo ao cérebro
1. O crack é queimado e sua fumaça aspirada passa pelos alvéolos pulmonares;
2. Via alvéolos o crack cai na circulação e atinge o cérebro;
3. No sistema nervoso central, a droga age diretamente sobre os neurônios. O
crack bloqueia a recaptura do neurotransmissor dopamina, mantendo a
substância química por mais tempo nos espaços sinápticos. Com isso as
atividades motoras e sensoriais são superestimuladas. A droga aumenta a
pressão arterial e a freqüência cardíaca. Há risco de convulsão, infarto e
derrame cerebral;
4. O crack é distribuído pelo organismo por meio da circulação sanguínea
5. No fígado, ele é metabolizado;
6. A droga é eliminada pela urina.

DO CACHIMBO AO CÉREBRO

Em uma pessoa normal, os impulsos nervosos são convertidos em


neurotransmissores, como a dopamina (1), e liberados nos espaços sinápticos. Uma
vez passada a informação, a substância é recapturada (2). Nos usuários de crack,
esse mecanismo encontra-se alterado.

A droga (3) subverte o mecanismo natural de recaptação da substância nas fendas


sinápticas. Bloqueado esse processo, ocorre uma concentração anormal de
dopamina na fenda (4), superestimulando os receptores musculares - daí a
sensação de euforia e poder provocada pela droga. A alegria, entretanto, dura
pouco. Os receptores ajustam-se às necessidades do sistema nervoso. Ao perceber
que existem demasiados receptores na sinapse, eles são reduzidos. Com isso as
sinapses tornam-se lentas, comprometendo as atividades cerebrais e corporais

Ação no sistema nervoso


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TABACO

Definição e Histórico
O tabaco é uma planta cujo nome científico é Nicotiana tabacum, da qual é
extraída uma substancia chamada nicotina. Começou a ser utilizada
aproximadamente no ano 1.000 a. C., nas sociedades indígenas da América Central,
em rituais mágico – religioso, com o objetivo de purificar, contemplar, proteger e
fortalecer os ímpetos guerreiros, além disso, esses povos acreditavam que essa
substância tinha o poder de predizer o futuro. A planta chegou ao Brasil
provavelmente pela migração de tribos tupis – guaranis. A partir do século XVI, seu
uso foi introduzido na Europa, por Jean Nicot, diplomata francês vindo de Portugal,
após ter-lhe cicatrizado uma úlcera na perna, até então incurável.

No inicio, utilizado com fins curativos, por meio do cachimbo, difundiu-se


rapidamente, atingindo Ásia e África no século XVII. No século seguinte, surgiu a
moda de aspirar rapé, ao qual foram atribuídas qualidades medicinais, pois a rainha
da França, Catarina de Médicis, o utilizava para aliviar suas enxaquecas.

No século XIX, surgiu o charuto que veio da Espanha e atingiu toda a Europa,
Estados Unidos e demais continentes, sendo utilizado para demonstração de
ostentação. Por volta de 1840 e 1850, surgiram as primeiras descrições de homens
e mulheres fumando cigarros, porém somente após a Primeira Guerra Mundial (1914
a 1918), seu consumo apresentou grande expansão.

Seu uso espalhou-se por todo o mundo a partir de meados do século XX, com
a ajuda de técnicas avançadas de publicidade e marketing que se desenvolveram
nessa época.

A partir da década de 1960, surgiram os primeiros relatórios científicos que


relacionaram o cigarro ao adoecimento do fumante, e hoje existem inúmeros
trabalhos comprovando os malefícios do tabagismo à saúde do fumante e do não –
fumante exposto à fumaça do cigarro.
Hoje, o fumo é cultivado em todas as partes do mundo e é responsável por uma
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atividade econômica que envolve milhões de dólares. Apesar dos males que o
Página

hábito de fumar provoca, a nicotina é uma das drogas mais consumidas no mundo.
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Efeitos no Cérebro
Quando o fumante dá uma tragada, a nicotina é absorvida pelos pulmões,
chegando ao cérebro aproximadamente em nove segundos.

Os principais efeitos da nicotina no sistema nervoso central consistem em:


elevação leve ao humor (estimulação) e diminuição do apetite. A nicotina é
considerada um estimulante leve, apesar de um grande numero de fumantes relatar
sensação de relaxamento quando fumam. Essa sensação é provocada pela
diminuição do tônus muscular.

Essa substancia, quando usada ao longo do tempo, pode provocar o


desenvolvimento de tolerância, ou seja, a pessoa tende a consumir um numero cada
vez maior de cigarros para sentir os mesmos efeitos que, originalmente, eram
produzidos por doses menores.

Alguns fumantes, quando suspendem repentinamente o consumo de cigarros,


podem sentir fissura (desejo incontrolável de fumar), irritabilidade, agitação, prisão
de ventre, dificuldade de concentração, sudorese, tontura, insônia e dor de cabeça.
Esses sintomas caracterizam a síndrome de abstinência, desaparecendo dentro de
uma ou duas semanas.

Efeitos sobre outras partes do corpo


A nicotina produz um pequeno aumento no batimento cardíaco, na pressão
arterial, na frequência respiratória e na atividade motora.

Quando uma pessoa fuma um cigarro, a nicotina é imediatamente distribuída


pelos tecidos. No sistema digestivo, provoca diminuição da contração do estômago,
dificultando a digestão. Há, ainda, aumento da vasoconstrição e da força dos
batimentos cardíacos.

A fumaça do cigarro contém um numero grande de substâncias tóxicas ao


organismo. Entre as principais, citamos a nicotina, o monóxido de carbono e o
alcatrão.

O uso intensivo e constante de cigarros aumenta a probabilidade de


ocorrência de algumas doenças, como por exemplo: Pneumonia, Câncer (pulmão,
laringe, faringe, esôfago, boca, estomago, etc), bronquite crônica, úlcera digestiva,
abaixo algumas figuras ilustrando:
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Infarto de miocárdio Câncer Pulmão e Enfisema Derrame Cerebral

Entre outros efeitos tóxicos provocado pela nicotina, podemos destacar ainda,
náuseas, dores abdominais, diarréias, vômitos, cefaléia, braquicárdia e fraqueza.
Sofrimento para a Família Cigarro leva envelhecimento precoce levar a uma gangrena

Impotência sexual aborto

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Tabagismo e Gravidez
Quando a mãe fuma durante a gravidez, ―o feto também fuma‖, recebendo as
substâncias tóxicas do cigarro através da placenta. A nicotina provoca aumento do
batimento cardíaco no feto, redução de peso no recém-nascido, menor estatura,
além de alterações neurológicas importantes. O risco de abortamento espontâneo,
entre outras complicações na gestação, é maior nas gestantes que fumam.

Tabagismo passivo

Os fumantes não são os únicos expostos à fumaça do cigarro,


pois os não-fumantes também são agredidos por ela, tornando-se fumantes
passivos.

Os poluentes do cigarro dispersam-se pelo ambiente, fazendo com que os


não fumantes próximos ou distantes dos fumantes inalem também as substâncias
tóxicas.

Estudos comprovam que filhos de pais fumantes apresentam incidência três


vezes maior de infecções (bronquite, pneumonia, sinusite) do que filhos de pais não-
fumantes.

Aspectos Gerais
O hábito de fumar é muito frequente na população. A associação do cigarro
com imagens de pessoas bem sucedidas, jovens, esportistas no passado foi uma
constante nos meios de comunicação. Esse tipo de propaganda foi um dos
principais fatores que estimularam o uso do cigarro. Por outro lado, o programa de
controle do tabagismo vem recebendo um destaque cada vez maior em diversos
países, ganhando apoio de grande parte da população.

O INCA (Instituto Nacional de Câncer) é o órgão do Ministério da Saúde


responsável pelas ações de controle do tabagismo e prevenção primária de câncer
no Brasil, por meio da Coordenação nacional de Controle do Tabagismo e
Prevenção Primária de Câncer (Contampp).
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DROGAS
ALUCINÓGENOS

 COGUMELO
 ÊXTASE
 LSD
 MACONHA
 SKANK – A SUPER MACONHA
 SANTO DAIME

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COGUMELOS E PLANTAS ALUCINÓGENAS

Definição e histórico:
A palavra alucinação significa, em linguagem médica, percepção sem
objeto; isto é, a pessoa em processo de alucinação percebe coisas sem que elas
existam. Assim, quando uma pessoa ouve sons imaginários ou vê objetos que não
existem, ela está tendo uma alucinação auditiva ou visual.

As alucinações podem aparecer espontaneamente no ser humano em caso


de psicoses e entre estas a mais comum é a doença mental chama esquizofrenia.
Também podem ocorrer em pessoas normais (que não apresentam doença mental)
que tomam determinadas substâncias ou drogas alucinógenas, isto é, drogas que
―geram‖ alucinações. Essas drogas são também chamadas de psicoticomiméticas
por ―imitar‖ ou ―mimetizar‖ um dos mais evidentes sintomas das psicoses – as
alucinações. Alguns autores também as chamam de psicodélicas. A palavra
psicodélica vem do grego (psico = mente e delos = expansão) e é utilizada quando a
pessoa apresenta alucinações e delírios em certas doenças mentais ou por ação de
drogas. É óbvio que essas alterações não significam expansão da mente.

A alucinação e o delírio nada têm de aumento da atividade ou da capacidade


mental; ao contrário, são aberrações, perturbações do perfeito funcionamento do
cérebro, tanto que são características das chamadas psicoses.

Um grande número de drogas alucinógenas vem da natureza, principalmente


de plantas. Estas foram ―descobertas‖ por seres ancestrais que, ao sentir seus
efeitos mentais, passaram a considerá-las ―plantas divinas‖, isto é, que faziam com
que quem as ingerisse recebesse mensagens divinas, dos deuses. Assim, até hoje
em culturas indígenas de vários países de uso dessas plantas alucinógenas tem
esse significado religioso.

Com o progresso a ciência, várias substâncias foram sintetizadas em


laboratório e, dessa maneira, além dos alucinógenos naturais, hoje em dia têm
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importância também os alucinógenos sintéticos, dos quais o LSD-25 é o mais


representativo.
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INPAVI – INTERVENÇÃO PARA VIVER

Há ainda a considerar que alguns desses alucinógenos agem em doses muito


pequenas e praticamente só atingem o cérebro e, portanto, quase não alteram
nenhuma outra função do corpo: são os alucinógenos propriamente ditos ou
alucinógenos primários. O THC (tetraidrocanabiol) da maconha, por exemplo, é
um alucinógeno primário, e está apresentado em outro capítulo. Mas existem outras
drogas que também são capazes de atuar no cérebro, produzindo efeitos mentais,
mas somente em doses que afetam de maneiras importantes várias outras funções:
são os alucinógenos secundários. Entre estes últimos, podemos citar uma planta,
a Datura, conhecida no Brasil sob vários nomes populares e sob o nome comercial
Artane (sintético).

Vegetais alucinógenos conhecidos no Brasil:


Nosso país, principalmente em decorrência de sua imensa riqueza natural,
possui varias plantas alucinógenas. As mais conhecidas são apresentadas a seguir:

 Cogumelos: o uso de cogumelos ficou famoso no México, onde desde antes


de Cristo já eram utilizados pelos nativos daquela região. Ainda hoje, sabe-se
que o ―cogumelo sagrado‖ é usado por alguns pajés. Essa planta recebe o
nome cientifico de Psilocybe mexicana e dela pode ser extraída uma
substância de poder alucinógeno: a psilocibina. No Brasil são encontradas
pelo menos duas espécies de cogumelos alucinógenos, uma delas é o
Psilocybe cubensis e a outra, espécie do gênero Paneoulus.

 Jurema: o vinho de jurema, preparado à base da planta brasileira Mimosa


hostilis e chamado popularmente de jurema, é usado pelos remanescentes
índios e caboclos do brasil. Os efeitos desse vinho são muito bem descritos
por José de Alencar no romance Iracema. Além de conhecido pelo interior do
Brasil, só é utilizado nas cidades em rituais de candomblé, por ocasião da
passagem de ano, por exemplo. A jurema sintetiza uma potente substância
alucinógena, a dimetiltriptamina ou DMT, responsável pelos efeitos.

 Mescal ou Peyot: trata-se de um cato, também utilizado desde remotos


tempos, na América Central, em rituais religiosos, que reproduz a substância
alucinógena mescalina. Não existe no Brasil.

 Caapi e chacrona: são duas plantas alucinógenas utilizadas conjuntamente


sob a forma de uma bebida, ingerida no ritual do Santo Daime, Culto da União
Vegetal e de várias outras seitas. Esse ritual está bastante difundido no Brasil
(existe nos Estados do Norte, São Paulo, Rio de Janeiro, etc.), e seu uso em
nossa sociedade teve origem entre os índios da América do Sul. No peru, a
bebida preparada comas duas plantas é chamada pelos índios quéchas de
Ayahuasca, que quer dizer ―vinho da vida‖. As alucinações produzidas pela
bebida são chamadas de mirações, e os guias dessa religião procuram
62

―conduzi-las‖ para dimensões espirituais da vida. Uma das substâncias


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sintetizadas pelas plantas é a DMT, já comentada em relação à jurema.


INPAVI – INTERVENÇÃO PARA VIVER

Efeitos no cérebro:
Já foi acentuado que os cogumelos e as plantas analisados anteriormente são
alucinógenos, isto é, induzem a alucinações e delírios. É interessante ressaltar que
esses efeitos são muito maleáveis, ou seja, dependem de várias condições, como
sensibilidade e personalidade do individuo, expectativa que a pessoa tem sobre os
efeitos, ambiente, presença de outras pessoas etc., como a bebida do Santo Daime.

As reações psíquicas são ricas e variáveis. Às vezes, são agradáveis (“boa


viagem”) e a pessoa se sente recompensada pelos sons incomuns, cores brilhantes
e pelas alucinações. Em outras ocasiões, os fenômenos mentais são de natureza
desagradável, visões terrificantes, sensações de deformação do próprio corpo,
certeza de morte iminente e etc. são as “más viagens”.

Tanto as ―boas‖ como as ―más‖ viagens podem ser conduzidas pelo ambiente,
pelas preocupações anteriores (o usuário freqüente sabe quando não está de
―cabeça boa‖ para tomar o alucinógeno) ou por outra pessoa. Esse é o papel do
―guia‖ ou ―sacerdote‖ nos vários rituais religiosos folclóricos, que, no ambiente do
templo, os cânticos e etc., são capazes de conduzir os efeitos mentais para o fim
desejado.

Efeitos sobre outras partes do corpo:


Os sintomas físicos são pouco salientes, pois são alucinógenos primários.
Podem ocorrer dilatação das pupilas, sudorese excessiva, taquicardia, náuseas e
vômitos, estes últimos mais comuns com a bebida do Santo Daime.

Aspectos gerais:
Como ocorre com quase todas as substâncias alucinógenas, praticamente
não há desenvolvimento de tolerância; também comumente não induzem
dependência e não ocorre síndrome de abstinência com o cessar do uso. Um dos
problemas preocupantes em relação ao consumo desses alucinógenos é a
possibilidade, felizmente rara, de a pessoa desenvolver delírios persecutórios, de
grandeza ou acessos de pânico e, em virtude disso, tomar atitudes prejudiciais a si e
aos outros.
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INPAVI – INTERVENÇÃO PARA VIVER

ÊXTASE – ECSTASY

O que é o êxtase – É um derivado sintético da anfetamina, conhecido como


3,4- metilenodioximetanfetamina (MDMA). Também é conhecido como "ecstasy",
"XTC", "Adam" e "droga do amor". Pode ser classificado tanto como um
psicoestimulante, semelhante à cocaína e as anfetaminas, como também ser
agrupado com os alucinógenos, devido às alucinações e "flashbacks", que causa,
quando usado em doses muito altas.

Foi sintetizado na Alemanha, em 1914, como moderador do apetite, mas


nunca foi comercializado. Na década de 70, essa droga era usada para fins de
tratamento psicoterápico, mas quando o seu uso se tornou abusivo, promovendo
lesões nos neurônios, passou a ser uma droga proibida.

Como ele é consumido?

É consumido por via oral, na forma de cápsulas gelatinosas e em


comprimidos, que são encontrados em várias cores, desenhos e tamanhos
diferentes. Estas preparações são freqüentemente misturadas em sucos de frutas ou
em outras bebidas.

Também é utilizado por via intra-nasal, em forma de pó. Alguns preparados


feitos na rua podem conter também cafeína, LSD, anfetamina e outras substâncias
alucinógenas.

Quem utiliza essa droga?

Jovens e adolescentes fazem uso "recreacional" do êxtase associado ou não


a outras drogas e bebidas. Usam para se sentirem mais desinibidos, simpáticos,
próximos e íntimos das pessoas. Procuram alegria, euforia e energia. O uso ocorre
principalmente nos finais de semana, nos clubes de dança ou festas, onde multidões
dançam vigorosamente. As sessões de dança que duram toda noite, são chamadas
64

de "raves". Estas festas com multidões de pessoas, altas temperaturas ambientais e


muito barulho, podem propiciar ao usuário do êxtase desmaios e convulsões
Página

enquanto dançam, e, em casos mais graves, até a morte.


INPAVI – INTERVENÇÃO PARA VIVER

Quais os efeitos que acompanham o uso do êxtase?

Os efeitos aparecem de 20 a 60 minutos após a ingestão de doses


moderadas da droga (75-100mg) e durando 2 a 4 horas.

Em doses baixas pode ocorrer: taquicardia, hipertensão (pressão alta),


tremores, trismo ou bruxismo (rigidez na mandíbula), diminuição do apetite, insônia,
náusea, cefaléia (dor de cabeça) e sudorese. As maiorias dos efeitos desaparecem
em 24 horas.

Quais os problemas causados pelo uso?

Em casos de overdose, podem ocorrer arritmias cardíacas, taquicardia,


palpitação, hipertensão arterial seguida de hipotensão, hipertemia fulminante (acima
de 42°C), coagulação intravascular disseminada, insuficiência renal aguda,
hepatotoxicidade e morte. O tempo estimado entre o uso e a morte varia de 2-60
horas dependendo de cada indivíduo. Alucinações visuais semelhantes ao
alucinógeno mescalina podem ocorrer. Aumento da acuidade visual para cores,
luminescência de objetos, além de dormência e formigamento nas extremidades
também estão presentes.

Os efeitos associadas ao uso do êxtase podem ser:

1) Agudos: aqueles que acontecem até 24 horas após a ingestão, incluem por
ansiedade, insônia, flashbacks, ataques de pânico e psicose; ou
2) Subagudos: de 24 horas até um mês após o uso e incluem depressão,
tonturas, ansiedade e irritação.
3) Crônicos: após um mês de uso, podem aparecer: distúrbios de pânico,
psicose, depressão, flashbacks e distúrbios da memória. O êxtase, em longo
prazo causa toxicidade em neurônios serotonérgicos, incluindo danos
permanentes no Sistema Nervoso Central, cérebro, e desordens
neuropsiquiátricas.

Os efeitos residuais, que podem persistir por até 2 semanas incluem: insônia, fadiga,
tontura, dores musculares, depressão, ansiedade, pânico, insônia e flashback.

O Êxtase causa dependência?

Sim. O êxtase é considerado uma droga, que leva a dependência fisiológica,


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pois induz tolerância, é usado em doses maiores do que o planejado, é usado


mesmo se tendo conhecimento dos efeitos adversos e, produz ressaca após o uso,
Página

caracterizada por insônia e cansaço.


INPAVI – INTERVENÇÃO PARA VIVER

Qual o tratamento para intoxicação aguda por êxtase?

Amigos e parentes devem providenciar para que o usuário:

 Tome bastante líquido para reidratar o corpo.


 Use goma de mascar para ajudar na articulação da boca, evitar e aliviar o
bruxismo.
 Mantenha a temperatura do corpo resfriada, para isso aconselha-se não
dançar, e se for o caso retirar a roupa, e deixá-lo em ambiente com ar
condicionado.

O tratamento médico pode necessitar de:

 Lavagens gástricas para desintoxicar o organismo.


 Em casos de convulsões, tratamento com anticonvulsivantes ou sedativos.

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LSD – 25 (ácido)

Definição e histórico
Perturbadores ou alucinógenos sintéticos são substâncias fabricadas
(sintetizadas) em laboratório, não sendo, portanto, de origem natural, e que são
capazes de provocar alucinações no ser humano. Vale à pena recordar um pouco o
significado de alucinação: ―é uma percepção sem objeto‖. Isso significa que, mesmo
sem ter um estimulo (objeto), a pessoa pode sentir, ver, ouvir. Como por exemplo, se
uma pessoa ouve uma sirene tocando e há mesmo uma sirene perto, ela esta
normal; agora se ela ouve a sirene e não existe nenhuma tocando, então esta
alucinando ou tendo uma alucinação auditiva. Da mesma maneira, sob a ação de
uma droga alucinógena, ela pode ver um animal na sala (por exemplo, um elefante0
sem que, logicamente, exista o elefante, ou seja, a pessoa tem uma alucinação
visual.

O LSD (abreviação do dietilamina do ácido lisérgico), é talvez, a mais potente


droga alucinógena existente. É utilizado habitualmente por via oral, embora possa
ser misturado ocasionalmente com o tabaco e fumado. Alguns microgramas
(micrograma é um milésimo de um miligrama que, por sua vez, é um milésimo de um
grama) são suficientes para produzir alucinações no ser humano. O efeito
alucinógeno do LSD foi descoberto em 1943 pelo cientista suíço Hoffman, por
acaso, ao aspirar pequeníssima quantidade de pó por descuido em seu laboratório.
Eis o que ele descreve. Os objetos e os aspectos dos meus colegas de laboratório
parecem sofrer mudanças ópticas. Não conseguindo me concentrar em meu
trabalho, num estado de sonambulismo, fui para casa, onde uma vontade irresistível
de me deitar apoderou-se de mim. Fechei as cortinas do quarto imediatamente caí
em um estado mental peculiar, semelhante à embriaguez, mas caracterizado por
imaginação exagerada. Com os olhos fechados, figuras fantásticas de extraordinária
plasticidade e coloração surgiram diante de meus olhos. Seu relato detalhado das
experiências alucinatórias levou a uma intensa pesquisa dessa classe de
substâncias, culminando, nas décadas de 1950 e 1960, com seu uso psiquiátrico,
embora com resultados pouco satisfatórios.
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A MDMA (3,4 metilenodioxometanfetamina), conhecida popularmente como


êxtase, é uma outra droga do grupo dos alucinógenos sintéticos que será abordada.
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O LSD atua produzindo uma série de distorções no funcionamento do


cérebro, trazendo como consequências uma variada gama de alterações psíquicas.

A experiência subjetiva com o LSD e outros alucinógenos dependem da


personalidade do usuário, de suas expectativas quanto ao uso da droga e do
ambiente onde esta é ingerida. Enquanto alguns indivíduos experimentam um
estado de excitação e atividade, outros se tornam quietos e passivos. Sentimentos
de euforia e excitação (―boa viagem‖) alternam-se com episódios de depressão,
ilusões assustadoras e sensação de pânico (―má viagem‖, ―bode‖).

O LSD é capaz de produzir distorções na percepção do ambiente – cores,


formas e contornos alterados – além de sinestesias, ou seja, estímulos olfaticos e
táteis parecerem visíveis e cores podem ser ouvidas.

Outro aspecto que caracteriza a ação do LSD no cérebro refere-se aos


delírios. Estes são o que chamamos ―falsos juízos da realidade‖, isto é, há uma
realidade, um fato qualquer, mas a pessoa delirante não é capaz de avaliá-la
corretamente. Os delírios causados pelo LSD geralmente são de natureza
persecutória ou de grandiosidade.

Efeitos sobre outras partes do corpo


O LSD tem poucos efeitos sobre outras partes do corpo. Logo de inicio, 10 a
20 minutos após tomá-lo, o pulso pode ficar mais rápido, as pupilas podem ficar
dilatadas, além de ocorrer sudoração, e a pessoa pode sentir-se com certa
excitação. Muito raramente, tem sido descritos casos de convulsão. Mesmo doses
muito altas de LSD não chegam a intoxicar seriamente uma pessoa, do ponto de
vista físico.

Efeitos tóxicos
O perigo do LSD não esta tanto em sua toxicidade para o organismo, mas sim
no fato de que, pela perturbação psíquica, há perda da habilidade de perceber e
avaliar situações comuns de perigo. Isso ocorre, por exemplo, quando a pessoa com
delírio de grandiosidade se julga com capacidade ou forças extraordinárias, sendo
capaz de, por exemplo, voar, atirando-se de janelas, com força mental suficiente
para parar um carro em uma estrada, ficando na sua frente, andar sobre as águas,
avançando mar adentro.

Há também descrições de casos de comportamento violento, gerado


principalmente por delírios persecutórios, como, por exemplo, no caso de o drogado
atacar dois amigos (ou até pessoas estranhas) por julgar que ambos estão tramando
contra ele.
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Ainda no campo dos efeitos tóxicos, há também descrições de pessoas que,


após tomarem LSD, passaram a apresentar por longos períodos (o maior que se
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conhece é de dois anos) de ansiedade muito grande, depressão ou mesmo acessos


psicóticos. O ―flashback‖ é uma variante desse efeito em longo prazo: semanas ou
até meses após uma expectativa com LSD, a pessoa repentinamente passa a ter
todos os sintomas daquela experiência anterior, e isso sem ter tomado de novo a
droga. O ―flashback‖ é geralmente uma vivência psíquica muito dolorosa, pois a
pessoa não estava procurando ou esperando ter aqueles sintomas, e assim eles
acabam por aparecer em momentos bastante impróprios, sem que ela saiba por que,
podendo até pensar que esta ficando louca.

Aspectos gerais
O fenômeno da tolerância desenvolve-se muito rapidamente com lSD, mas
também há desaparecimento rápido com a interrupção do uso. O LSD não leva
comumente a estados de dependência e não há descrição de síndrome de
abstinência se um usuário crônico para de consumir a droga.

Todavia o LSD, assim como outras drogas alucinógenas, pode provocar a


dependência psíquica ou psicológica, uma vez que habitualmente usa essas
substâncias como ―remédio para todos os males da vida‖, acaba por se alienar da
realidade do dia-a-dia, aprisionando-se na ilusão do ―paraíso da terra‖.

Situação no Brasil
Esporadicamente se tem noticias acerca do consumo de LSD no Brasil,
principalmente por pessoas das classes mais favorecidas. Embora raramente, a
polícia apreende, vez por outra, parte das drogas trazidas do exterior.

O Ministério da Saúde não reconhece nenhum uso do LSD (e de outros


alucinógenos) e proíbe totalmente sua produção. Comércio e utilização em território
nacional.

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MACONHA
THC – Tetraidrocanabinol
Hashishi, Bang, Ganja, Diamba, Marijuana, Marihjan

Definição e histórico:
A maconha é o nome dado aqui no Brasil a uma planta cientificamente de
Cannabis sat iva. Em outros países, ela recebe diferentes nomes, como os
mencionados no título. Já era conhecida há pelo menos 5000anos, sendo utilizada
quer para fins medicinais, quer para ―produzir risos‖. Talvez a primeira menção da
maconha em nossa língua tenha sido em um escrito de 1548, no qual está dito no
português daquela época: ―e já ouvi a muitas mulheres que, quando hião ver algum
homem, para estar choquareiras e graciosas a tomavão”.

Até o inicio do século XX, a maconha era considerada em vários países,


inclusive no Brasil, um medicamento útil para vários males. Mas também já eram
utilizadas para fins não-médicos por pessoas desejosas de sentir ―coisas diferentes‖,
ou mesmo que a utilizavam abusivamente. Em conseqüência desse abuso, e de
certo exagero sobre seus efeitos maléficos, a planta foi proibida em praticamente
todo o mundo ocidental, nos últimos 50 a 60 anos. Mas, atualmente, graças às
pesquisas recentes, a maconha (ou substâncias dela extraídas) é reconhecida como
medicamento em pelo menos duas condições clínicas: reduz ou abole náuseas
vômitos produzidos por medicamentos anticâncer e tem efeito benéfico em alguns
casos de epilepsia (doença que se caracteriza por convulsões ou ―ataques‖).
Entretanto, é bom lembrar que a maconha (ou as substâncias extraídas da planta)
tem também efeitos indesejáveis que podem ser prejudiciais.

O THC (tetraidrocanabinol) é uma substância química fabricada pela própria


maconha, sendo o principal responsável pelos efeitos desta. Assim, dependendo da
quantidade de THC presente (o que pode variar de acordo com solo, clima, estação
do ano, época de colheita, tempo decorrido entre a colheita e o uso), a maconha
pode ter potência diferente, isto é, produzir mais ou menos efeitos. Essa variação
nos efeitos depende também da própria pessoa que fuma a planta, pois todos
sabem que há grande variação entre as pessoas e, de fato, ninguém é igual a
ninguém! Assim a dose de maconha insuficiente para um pode produzir efeito nítido
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em outro e até forte intoxicação em um terceiro.


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Efeitos da maconha:
Para o bom entendimento, é melhor dividir os efeitos que a maconha produz
sobre o homem em físicos (ação sobre o próprio corpo ou partes dele) e psíquicos
(ação sobre a mente). Esses efeitos sofrerão mudanças de acordo com o tempo de
uso que se considera, ou seja, os efeitos são agudos (isto é, quando decorrem
apenas algumas horas após fumar) e crônicos (conseqüências que aparecem após
o uso continuado por semanas, ou meses ou mesmo anos).

Os efeitos físicos agudos são muito poucos: os olhos ficam avermelhados (o


que em linguagem médica se chama hiperemia das conjuntivas), a boca fica seca
(na medicina: xerostomia) e o coração dispara, de 60 a 80 batimentos por minuto
pode chegar a 120 a 140 ou até mesmo mais (taquicardia).

Os efeitos psíquicos agudos dependerão da qualidade da maconha fumada


e da sensibilidade de quem fuma. Para uma parte das pessoas, os efeitos são uma
sensação de bem-estar acompanhada de calma e relaxamento, sente-se menos
fatigado, vontade de rir (hilariedade). Para outras, os efeitos são mais para o lado
desagradável: sentem angústia, ficam aturdidas, temerosas de perder o controle
mental, trêmulas, suadas. É o que comumente chamam de ―má viagem‖ ou ―bode‖.
Há, ainda, evidente perturbação na capacidade da pessoa em calcular tempo e
espaço e um prejuízo de memória e atenção.

Assim, sob a ação da maconha, a pessoa erra grosseiramente na


discriminação do tempo, tendo a sensação de que se passaram horas quando na
realidade foram alguns minutos; um túnel com 10m de comprimento pode aparecer
ter 50 ou 100m.

Quanto aos efeitos na memória, eles se manifestam principalmente na


chamada memória em curto prazo, ou seja, aquela que nos dá importante por
alguns instantes. Dois exemplos verídicos ajudam a entender esse efeito: uma
telefonista da PABX em um hotel (que ouvia um dado número pelo fone e no
instante seguinte fazia a ligação), quando sob a ação da maconha, não era capaz de
lembrar-se do número que acabava de ouvir. O outro caso é o do bancário que lia
em uma lista o número de um documento que tinha de retirar de um arquivo, e que
sob a ação da maconha já havia esquecido o número quando chegava à frente o
arquivo.

Pessoas sob esses efeitos não conseguem, ou melhor, não deveriam


executar tarefas que dependem de atenção, bom senso e discernimento, pois
correm o risco de prejudicar outros e/ou a si próprio. Como exemplo disso: dirigir
carro, operar máquinas potencialmente perigosas.
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Aumentando-se a dose e/ou dependendo da sensibilidade, os efeitos


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psíquicos agudos podem chegar até as alterações mais evidentes, com


predominância de delírios e alucinações. Delírio é uma manifestação mental pela
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qual a pessoa faz um juízo errado do que vê ou ouve; por exemplo, sob a ação da
maconha uma pessoa ouve a sirene de uma ambulância e julga que é a polícia que
vem prendê-la; ou vê duas pessoas conversando e pensa que ambas estão falando
mal ou mesmo tramando um atentado contra ela. Em ambos os casos, essa mania
de perseguição (delírios persecutórios) pode levar ao pânico e, conseqüentemente,
a atitudes perigosas (―fugir pela janela‖, agredir como forma de ―defesa‖ antecipada
contra a agressão que julga estar sendo tramada). Já a alucinação é uma
percepção sem objeto, isto é, a pessoa pode ouvir a sirene da policia ou ver duas
pessoas conversando quando não existe nem sirene nem pessoas. As alucinações
podem também ter fundo agradável ou terrificante.

Os efeitos físicos crônicos da maconha já são de maior gravidade. De fato,


com o uso continuado, vários órgãos do corpo são afetados. Os pulmões são um
exemplo disso. Não é difícil imaginar como ficarão esses órgãos quando passam a
receber cronicamente uma fumaça que é muito irritante, dado ser proveniente de um
vegetal que nem chega a ser tratado como o tabaco comum. Essa irritação
constante leva a problemas respiratórios (bronquites), aliás, como ocorre também
com o cigarro comum. Mas o pior é que a fumaça da maconha contém alto teor de
alcatrão (maior mesmo que na do cigarro comum) e nele existe uma substância
chamada benzopireno, conhecido agente cancerígeno; ainda não está provado
cientificamente que o fumante crônico de maconha está sujeito a adquirir câncer dos
pulmões com maior facilidade, mas os indícios, em animais de laboratório, de que
assim pode ser são cada vez mais fortes.

Outro efeito físico adverso (indesejável) do uso da maconha refere-se à


testosterona. Esta é o hormônio masculino que, como tal, confere ao homem maior
quantidade de músculos, voz mais grossa, barba, e também é responsável pela
fabricação de espermatozóides pelos testículos. Já existem muitas provas de que a
maconha diminui em até 50 a 60% a quantidade de testosterona.
Conseqüentemente, o homem apresenta um número bem reduzido de
espermatozóides no liquido espermático (em medicina essa diminuição chama-se
oligospermia), o que leva à infertilidade. Assim, o homem terá mais dificuldade de
gerar filhos. Este é um efeito que desaparece quando a pessoa deixa de fumar a
planta. É também importante dizer que o homem não fica impotente ou perde o
desejo sexual, mas apresenta esterilidade, isto é, incapacitado de engravidar sua
companheira. Há ainda a considerar os efeitos psíquicos crônicos produzidos pela
maconha. Sabe-se que seu uso continuado interfere na capacidade de
aprendizagem e memorização e pode induzir a um estado de amotivaçao, isto é, não
sentir vontade de fazer mais nada, pois tudo fica sem graça e sem importância. Esse
efeito crônico da maconha é chamado de síndrome amotivacional. Além disso, a
maconha pode levar algumas pessoas estado de dependência, isto é, elas passam a
organizar sua vida de maneira a facilitar seu vício, e tudo o mais perde o seu real
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valor.
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Finalmente, há provas científicas que se o individuo tem uma doença psíquica


qualquer, mas que ainda não está evidente (a pessoa consegue ―se controlar‖) ou a
doença já apareceu, mas está controlada com medicamentos adequados, a
maconha piora o quadro. Ou faz surgir a doença, isto é, a pessoa não consegue
mais ―se controlar‖, ou neutraliza o efeito medicamentoso e ela passa a apresentar
novamente os sintomas da enfermidade. Esse fato tem sido descrito com freqüência
na doença mental chamada esquizofrenia. Em um levantamento feito entre
estudantes do ensino fundamental e do ensino médio das dez maiores cidades do
país, em 1997, 7,6% declararam que já haviam experimentado maconha e 1,7%
declararam fazer uso dela pelo menos seis vezes por mês.

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SKANK – a super MACONHA

O que é
O Skank é uma espécie de maconha (Cannabis sativa), cultivada em
laboratório, com efeito concentrado. Não chega a ser uma maconha transgênica,
porque a estrutura molecular da semente não é modificada. A diferença está no
cultivo, feito em estufas com tecnologia hidropônica — plantação em água, como
ocorre com algumas espécies de alface.

As diferenças
O que diferencia o Skank da maconha comum é a capacidade entorpecente.
Em ambos, o princípio psicoativo é o tetra-hidro-canabinol (THC). Na maconha, a
concentração percentual nas folhas, flores e frutos prensados fica em torno de 2,5%.
No Skank, estudos apontam que o índice de THC pode ser de até 17,5%. Com isso,
a quantidade necessária para a planta modificada produzir a mesma sensação da
normal é muito menor.

Por que é tão caro


Os cuidados com a produção fazem com que a droga tenha um alto preço no
mercado. Não há levantamentos de cultivo no Brasil.A droga consumida vem da
Europa, principalmente da Holanda.

Como age
Em geral, a droga é fumada e processada pelo fígado até que o THC seja
absorvido pelo cérebro e aparelho reprodutor. Pesquisas recentes apontam ainda
que o alto teor de THC usa uma substância produzida pelos neurônios (a
anandamina) para se fixar no organismo.

Conseqüências
Da mesma forma como o TCH é potencializado, os efeitos do Skank no
organismo também são. O entorpecente provoca os mesmos distúrbios da maconha:
altera o funcionamento dos neurônios e diminui a concentração. As alterações de
cerotonina e dopamina no organismo provocam lapsos de memória e de
coordenação motora. Os usuários desenvolvem ansiedade e a possibilidade de
dependência é bem maior, se comparado com a maconha comum.
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SANTO DAIME chá – Ayahuasca

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.


Peruvian Ayahusca Ayahusca sendo preparada na região dos iquitos no

Ayahuasca (pronuncia-se Aiauasca em português), nome quíchua de origem


inca, refere-se a uma bebida ritual produzida a partir da decocção de duas plantas
nativas da floresta amazônica: uma malpighiácea, o cipó Banisteriopsis caapi e
folhas da rubiácea Psychotria viridis .

Utilizada pelos incas ou melhor pelo complexo histórico cultural assim


denominado. Segundo Ribeiro apesar das diferenciações lingüísticas e das variantes
culturais e nacionais o bloco inteiro deve ser encarado como uma só macro-etnia a
neo-incaica. Numa avaliação que fez em 1960, publicada no livro "As Américas e a
civilização", encontrou uma população de 15, 5 milhões de habitantes, na área
montanhosa de 3.000 km de extensão que vai do Norte do Chile ao Sul da Colômbia
cobrindo os atuais territórios da Bolívia, Peru e Equador, destes 7,5 milhões são
considerados indígenas, 3 milhões brancos, por auto-definição e 5 milhões de cholos
(mestizos).

A ayahuasca é utilizada tradicionalmente nos países como Peru, Equador,


Colômbia, Bolívia e Brasil e ainda por pelo menos setenta e duas diferentes tribos
indígenas da Amazônia.[3],[4] Anexo: Relação dos povos indígenas que utilizam
Ayahuasca

Seu uso se expandiu pela América do Sul e outras partes do mundo com o
crescimento de movimentos religiosos organizados, sendo os mais significativos o
Santo Daime, A Barquinha, e a União do Vegetal, além de dissidências destas e
grupos (centros, núcleos ou igrejas) independentes que o consagram em seus
rituais.

Há estimativas do início da sua utilização e dispersão entre as tribos


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ameríndias entre 1.500 e 2,000 a.C. estando entre os principais estudos dessa
datação os realizados pelo etnógrafo equatoriano Plutarco Naranjo que sumariou a
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pouca informação disponível sobre a pré-história da ayahuasca a partir de


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evidências arqueológicas abundantes em vasos de cerâmica, estatuetas


antropomórficas, e outros artefatos (Naranjo, 1979, 1986).

O estudo ocidental da hoasca começou com o renomado botânico inglês


Richard Spruce (1817 — 1893), que, entre 1849 a 1864, viajou intensamente através
da Amazônia brasileira, venezuelana e equatoriana, para montar um inventário da
variedade de espécies de plantas lá encontradas na companhia de Alfred Russel
Wallace (1823 — 1913) e Henry Walter Bates (1825 — 1892) . Esse trabalho reuniu
mais de 30.000 espécimes vegetais da Amazônia e dos Andes, entre as espécies
novas descritas e classificadas por ele estava a Banisteria caapi da família das
Malpighiaceae e os gêneros da Seringueira (Hevea) e Cinchona da qual o quinino é
derivado.

Quanto às Malpighiaceaes, esse estudo, não só procededeu a descrição


botânica da espécie como também sua utilização ritual (Dabocuri) pelos índios do
Rio Uapés segundo ele os nomes indígenas dessa espécie são Caapi no Brasil e
venezuela, Cadaná entre os índios Tukano do Uapés e Aia-huasca no Equador.
(Spruce, 1852, apud:Hoene).

Sinonímia

O nome ayahuasca designa tanto o cipó como a bebida dele preparada entre
as traduções para esse nome estão ―cipó do homem morto‖ (aya significando
espírito, morto ou ancestral, e huasca significa vinha ou corda) liana das almas', cipó
dos espíritos, cipó da pequena morte', vinho da alma'. Os nomes além do significado
literal referem-se à elementos de sua significação cultural a exemplo de 'professor
dos professores', planta professora, entre outros. Nas religiões ayahuasqueiras o
cipó é conhecido como mariri ou jagube e a folhas do arbusto da família das
Psychotria como chacrona ou rainha e a bebida como hoasca, daime ou vegetal.

A Banisteriopsis caapi e a bebida são também conhecidas por seus nomes


indígenas: caapi, yagé (Tukano, Brasana); kapi (Guahibo); kahi (Yekuanas); kahi ide
(Makunas); kamarampi (Ashaninka);nixi honi xuma (Amahuaca); mihi (Cubeo); nixi
pae (Kaxinaua); nepê/nepi (Colorado); mahí (Cubeo); Ondi (Sharanawa); pildé
(Emberá), natema (Jivaro), pindé/pinde (Kaiapa); dápa, /dapa (Noanamá); uko
(Zaparos).

Preparo

As religiões ayahuasqueiras do Brasil usam somente Banisteriopsis caapi e


Psychotria viridis nos preparos. Existem feitores da bebida que, conforme sua
tradição, acrescentam outras plantas, o que a torna outra coisa que não é
Ayahuasca.
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Os métodos de preparo variam conforme a tradição de cada local e da


ocasião em que o consumo se dá. De qualquer maneira, o processo é longo e leva
quase um dia para o preparo...

No Santo Daime, em seu preparo há reuniões de consagração da mesma,


onde são socados o cipó caapi (Banisteriopsis caapi) pelos homens, e são limpas e
escolhidas as folhas da chacrona ou rainha (Psychotria viridis) pelas mulheres.

Segundo Strassman,e outros autores a ayahuasca é uma das várias infusões


ou decocções psicoativas preparada a partir de Banisteriopsis spp. As bebidas
resultantes são farmacologicamente complexas e utilizadas com propósitos
xamânicos, etnomédicos e religiosos. Etno-biólogos occidentais já registraram uma
variedade de 200-300 plantas diferentes utilizadas no seu preparo. É uma questão
aberta se a ayahuasca deve ser considerada como uma infusão medicinal xamânica,
ou que deve ser considerada como uma medicina tradicional ao lado, por exemplo, à
medicina ayurvedica ou tibetana.

Efeitos

Segundo algumas correntes de defensores do seu uso religioso e ritualístico,


a ayahuasca não é um alucinógeno. Seus defensores preferem utilizar o termo
enteógeno (gr. en- = dentro/interno, - theo- = deus/divindade, - genos = gerador), ou
"gerador da divindade interna" uma vez que seu uso se dá em contextos ritualísticos
específicos. Para seus críticos, contudo, a opção sócio-cultural do usuário ou a
tolerância religiosa de alguns países ao seu princípio ativo, o DMT, não altera sua
classificação, uma vez que o objetivo continua sendo o de induzir visões pessoais e
estados alterados por meio da ingestão de uma substância.

Segundo os relatos dos usuários, a ayahuasca produz uma ampliação da


percepção que faz com que se veja nitidamente a imaginação e acesse níveis
psíquicos subconscientes e outras percepções da realidade, estando sempre
consciente do que acontece — as chamadas mirações. Os adeptos consideram esse
estado como supramental "desalucinado" e de "hiperlucidez" ou êxtase.

Num contexto religioso, tais fenômenos são atribuídos à clarividência,


projeção da consciência, acesso a registros etéricos (arquivos akáshicos) ou
contatos espirituais. Noutras experiências, dependendo da formulação de cada
grupo e tolerância particular, o estado alterado se dá pelas visões interiores
próximas de um estado meditativo, em que o usuário consegue distinguir tais visões
ou "mirações" pessoais da "realidade exterior".

Cientificamente, a propriedade psicoativa da ayahuasca se deve à presença,


nas folhas da chacrona, de uma substância alucinogéna denominada N,N-
77

dimetiltriptamina (DMT), produzido naturalmente (em doses menores) no organismo


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humano, Rick Strassman especulou que a Glândula pineal seja o seu produtor no
corpo humano, contudo, não existem estudos clínicos que o comprovem de fato. O
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DMT é metabolizado pelo organismo por meio da enzima monoamina oxidase


(MAO), e não tem efeitos psicoativos quando administrado por via oral. No entanto, o
caapi possui alcalóides capazes de inibir os efeitos da MAO: harmina,
tetraidroarmina e harmalina, principalmente. Desse modo, o DMT fica ativo quando
administrado por via oral e tem sua ação prolongada.

A ayahuasca provoca alteração da consciência sem causar danos físicos.


Muitos consumidores atribuem à substância propriedades curativas, como reativar
órgãos danificados e melhoras em quadros de dependência química, por exemplo.
De fato, não há dependência física conhecida, ainda que a necessidade intrínseca
do uso da planta em todos os ritos para se atingir estados alterados seja visto por
alguns como manifestação de uma dependência psíquica bastante estimulada pelo
contexto religioso e social. Existe também um estudo, realizado com desenho duplo-
cego controlado com placebo, que demonstrou que a ayahuasca, administrada de
forma aguda para consumidores com larga experiência com a bebida, reduz sinais
relacionados ao pânico, diminui a desesperança e não altera os sinais relacionados
com a ansiedade.

Caráter religioso e sintomatologia

Está associado a práticas religiosas e parece ser utilizada por tribos indígenas
da Amazônia há séculos e por curandeiros ou vegetalistas em toda Amazônia
peruana [16]. As principais religiões que utilizam a ayahuasca no Brasil são o Santo
Daime , a Barquinha e a UDV. O Santo Daime criado por Raimundo Irineu Serra
(Mestre Irineu) em 1930; Centro Espírita e Culto de Oração Casa de Jesus Fonte de
Luz (Barquinha) em 1945 por Daniel Pereira de Matos (Mestre Daniel) e o Centro
Espírita União do Vegetal criado em 1961 por José Gabriel da Costa
respectivamente os dois primeiros em Rio Branco no Acre e o segundo em Porto
Velho, Rondônia.

O Santo Daime possui as vertentes do Mestre Irineu o Alto Santo) no Brasil já


vem se registrando tanto a presença de curandeiros que agem isoladamente ou em
grupos independentes geralmente advindos da tradições indígenas assim como
novos centros e igrejas dissidentes.

Uso em rituais

Segundo linhas tradicionais de uso, a ingestão dessa bebida pode provocar a


absorção do "Espírito da Planta". Usuários relatam, dentre outras sensações, ter os
sentidos expandidos, os processos mentais e as emoções tornarem-se mais
profundos. A experiência vivenciada é a de poder mover-se em muitas dimensões:
"o vôo da alma", uma sensação de partida do espírito do corpo físico e sensação de
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flutuar, etc. Por vezes faz-se uma analogia a um processo de "desdobrar-se", no


qual o corpo físico "fica" e o corpo astral "sobe".
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A jornada com ayahuasca leva, segundo seus praticantes, à exploração tanto


do mundo ordinário como de mundos paralelos, que estariam além da percepção
corrente. Podem ocorrer sensações de liberação dos limites normais de espaço-
tempo.

A experiência pode em algum ponto revelar visões notáveis, insights, produzir


catarses e conseqüentes experiências de renovação e de renascimento; visões
arquetípicas, de animais, de espíritos elementais (arquetípicos), de cenas de vidas
passadas, de divindades etc. Abre-se o portal para outras formas de realidade.

Nem todos recebem visões na primeira vez que experimentam. O trabalho


com ayahuasca é um processo que exige exame, dedicação, disciplina,
perseverança e tempo para um benefício mais completo. Às vezes são necessárias
várias sessões para se conseguir uma experiência válida.

Uma vez iniciado o processo da renovação e transformação, estas continuam.


O grande passo no trabalho com a ayahuasca é a assimilação dos ensinamentos
espirituais e a prática na vida diária.

À ayahuasca atribui-se a cura de males físicos, psicológicos, mentais e


espirituais. Há estudos científicos preliminares sobre aplicações médicas e
psicoterapêuticas, contudo não conclusivas.

No Peru os xamãs evocam guardiães, protetores espirituais. Evocam


carcanas (escudos protetores) por meio de cânticos de poder (ícaros), fumo de
tabaco, uma poção de limpeza (vomitiva), camalonga, e algumas águas perfumadas
(água de Florida, flores de Kananga) que atraem os espíritos.

Legalidade

 Após 18 anos de estudos, o CONAD (Conselho Nacional de Políticas Sobre


Drogas) do Brasil, retirou em 23 de novembro de 2006 a ayahuasca da lista
de drogas alucinógenas definitivamente. A ayahuaska já havia sido excluída
desta lista em caráter provisório desde setembro de 1987. Em 26 de janeiro
de 2010 o Governo Brasileiro dispôs a regulamentação de seu uso para fins
religiosos, tendo vetado o seu comércio e propagandas além de coibir seu
uso em conjunto com outras drogas e em eventos de turismo. O
cadastramento das entidades que utilizam a Ayahuasca é facultativo.

 A Suprema Corte dos EUA decidiu (em 20 de fevereiro de 2006) que o


governo estadunidense não pode impedir a filial da União do Vegetal no
Estado do Novo México de utilizar o chá ayahuasca em seus rituais religiosos.
O veredicto atesta que o grupo religioso está protegido pelo Religious
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Freedom Restoration Act, aprovado pelo congresso em 1993, e que foi peça
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jurídica fundamental no processo que legalizou o uso ritual do cacto peiote


(cujo princípio ativo é a mescalina) pela Native American Church —
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congregação que reúne descendentes de algumas etnias indígenas norte-


americanas.
 A ONU emitiu um parecer favorável recomendando a flexibilização das leis
em todos os países do mundo no que se refere à ayahuasca.

Riscos para a saúde

Não há dados científicos que indiquem riscos em relação à saúde física. Há,
contudo, constantes relatos de vômitos e sudorese em alto percentual dos que a
experimentam, o que sugere tentativas do corpo em expelir a substância. O uso
contínuo, entretanto, parece favorecer uma tolerância química ao princípio ativo e
conseqüente diminuição da intensidade dos sintomas.

Em alguns casos, a ingestão pode levar a sensação de medo e perda do


controle, levando a reações de pânico. Na maior parte das vezes tais reações
passam junto com o efeito da bebida, sem necessidade de atendimento médico, não
existe o risco de desencadear nenhum tipo de quadro de síndrome de pânico.

O consumo da bebida pode também desencadear quadros psicóticos em


pessoas predispostas a essas doenças, ou desencadear novas crises em indivíduos
portadores de doenças psiquiátricas tais como transtorno bipolar e esquizofrenia.[21]
contudo não há evidências que tais manifestações possuam uma incidência maior
que na população como um todo.

Pessoas com transtorno bipolar (antiga psicose maníaco-depressiva) devem


merecer atenção especial. Os alcalóides inibidores de monoamina oxidase
presentes na bebida, como a harmina e harmalina, têm efeito análogo a alguns
antidepressivos, como a moclobemida (Aurorix®). Importante observar que
antidepressivos, sejam inibidores de monoamino oxidase, inibidores seletivos de
recaptação de serotonina ou ainda de outras classes são associados a maior risco
de episódios de mania nos casos de transtorno bipolar. Há significativo risco de
surtos psicóticos em indivíduos com predisposição genética. Pode ainda ocorrer
persecutoriedade, fuga da realidade e alienação.

Interações com medicamentos

Recomenda-se administrar com cuidado a pessoas que estejam tomando


antidepressivos, de qualquer classe. Talvez o maior perigo na interação de
antidepressivos com ayahuasca seja a ocorrência de um quadro de síndrome
serotoninérgica ainda que num grau leve a moderado.
80

Pode haver interação também com anti-histamínicos.Calmantes, como


Página

benzodiazepínicos, podem potencializar os efeitos da ayahuasca. Durante o efeito


há relatos de náuseas e vômitos.
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GRUPOS ANÔNIMOS
CAPÍTULO 2

81
Página
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Grupos anônimos

Alcoólicos Anônimos (AA) é o programa mais comumente utilizado para a


recuperação de abuso de substâncias e um dos poucos modelos a demonstrar
resultados positivos de abstinência. Embora pouco se saiba quanto aos mecanismos
subjacentes que resultem na eficácia desse programa, um aspecto freqüentemente
referido é o apoio social.

Alcoólicos Anônimos (AA) foi criado como um grupo de auto-ajuda para as


pessoas em recuperação de alcoolismo, mantendo a sobriedade através de sua
ênfase na espiritualidade, apoio social, bem como no programa dos 12 Passos.
Atualmente mais pessoas recorrem ao AA para recuperação de alcoolismo do que
qualquer outro programa ou tratamento, e no mundo são estimadas mais de 2
milhões de pessoas filiadas, em 150 países. Os seus membros são encorajados a
progressos no sentido da recuperação, em seu próprio ritmo, por meio da partilha de
experiências, força e esperanças. Os membros admitem a sua impotência perante o
álcool através de sua própria auto-percepção, na medida em que progridem nos 12
Passos.

Alcoólicos Anônimos iniciou-se em 1935, em Akron, Ohio, com o encontro e


Bill W., um corretor da Bolsa de Valores de Nova Iorque, e o Dr. Bob, um cirurgião
de Akron. Ambos haviam sido alcoólicos desenganados.

Antes de se conhecerem, Bill e o Dr. Bob tinham tido contato com o Grupo
Oxford, uma sociedade composta, em sua maior parte, por pessoas não alcoólicas,
que defendia a aplicação de valores espirituais universais na vida diária. Naquela
época, os Grupos Oxford da América eram dirigidos pelo renomado clérigo episcopal
Dr. Samuel Shoemaker. Sob sua influência espiritual, e com a ajuda de seu velho
amigo, Ebby T. Bill havia conseguido sua sobriedade e vinha mantendo sua
recuperação trabalhando com outros alcoólicos, apesar do fato de que nenhum de
seus "candidatos" haver se recuperado. Entretanto, o fato de ser membro do Grupo
Oxford não havia oferecido ao Dr. Bob a suficiente ajuda para alcançar a
sobriedade.

Quando finalmente o Dr. Bob e Bill se conheceram, o encontro produziu no


Dr. Bob um efeito imediato. Desta vez encontrava-se cara a cara com um
companheiro alcoólico que havia conseguido deixar de beber. Bill insistia que o
alcoolismo era uma doença da mente, das emoções e do corpo. Esse
importantíssimo fato fora-lhe comunicado pelo Dr. William D. Silkwoth, do Hospital
Towns, de Nova Iorque, instituição em que Bill fora internado várias vezes. Apesar
de médico, o Dr. Bob não tivera conhecimento de que o alcoolismo era uma doença.
Bob acabou convencido pelas idéias contundentes de Bill e logo alcançou sua
82

sobriedade, e nunca mais voltou a beber.


Página

Ambos começaram a trabalhar imediatamente com os alcoólicos internados


no Hospital Municipal de Akron. Como conseqüência de seus esforços, logo um
INPAVI – INTERVENÇÃO PARA VIVER

paciente alcançou sua sobriedade. Apesar de ainda não existir o nome Alcoólicos
Anônimos, esses três homens constituíram o núcleo do primeiro Grupo de A.A. No
outono de 1935, o segundo Grupo foi tomando forma gradualmente em Nova Iorque.
O terceiro Grupo iniciou-se em Cleveland, em 1939. Havia-se gasto mais de quatro
anos para conseguir 100 alcoólicos sóbrios, nos três Grupos iniciais.

Em princípio de 1939, a Irmandade publicou seu livro de texto básico,


Alcoólicos Anônimos. Nesse livro, escrito por Bill, expunha-se a filosofia e os
métodos de A.A. a essência dos quais se encontram agora nos bem conhecidos
Doze Passos de recuperação. A partir daí, A.A. desenvolveu-se rapidamente.

Também em 1939, o Cleveland Plain Dealer publicou uma série de artigos


sobre Alcoólicos Anônimos, seguida por alguns editoriais muito favoráveis. O Grupo
de Cleveland, composto por uns 20 membros, logo se viu inundado por incontáveis
pedidos de ajuda. Os alcoólicos que chegavam, logo após algumas semanas de
sobriedade, eram encarregados de trabalhar com os novos casos. Com isso, deu-se
ao movimento uma nova orientação, e os resultados foram fantásticos. Passados
poucos meses, o número de membros de Cleveland havia crescido para 500. Pela
primeira vez havia evidência de que a sobriedade poderia multiplicar-se, em massa.

Enquanto isso, o Dr. Bob e Bill haviam estabelecido em Nova Iorque, em


1939, uma Junta de Custódios para ocupar-se da administração geral da Irmandade
recém-nascida. Alguns amigos de John Rockefeller, Jr. integravam esse conselho,
junto com alguns membros de A.A. Deu-se à Junta o nome de Fundação Alcoólica.
No entanto, todas as tentativas de se conseguir grandes quantias de dinheiro
fracassaram porque o Sr. Rockfeller havia chegado à conclusão prudente de que
grandes somas poderiam atrapalhar a nascente Irmandade. Apesar disso, a
Fundação conseguiu abrir um pequeno escritório em Nova Iorque, para responder
aos pedidos de ajuda e de informações e para distribuir o livro de A.A. um
empreendimento, diga-se de passagem, que havia sido financiado principalmente
pelos membros de A.A.

O livro e o novo escritório logo se revelaram de grande utilidade. No outono


de 1939, a revista Liberty publicou um artigo sobre Alcoólicos Anônimos e, como
conseqüências logo chegaram ao escritório cerca de 800 urgentes pedidos de ajuda.
Em 1940, o Sr. Rockfeller organizou um jantar, para dar divulgação à A.A., ao qual
convidou muitos de SUS eminentes amigos nova-iorquinos. Esse acontecimento
suscitou outra onda de pedidos. Cada pedido era respondido com uma carta pessoal
e um pequeno folheto. Além disso, fazia-se menção ao livro Alcoólicos Anônimos e
logo se começou a distribuir numerosos exemplares do livro. Ao final do ano, A.A. já
tinha 2.000 membros.
83

Apareceu então, em março de 1941, no Saturday Evening Post, um excelente


artigo sobre Alcoólicos Anônimos e a reação foi tremenda. No final daquele ano o
Página

número de membros subira a 6.000 e o número de Grupos multiplicara-se


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proporcionalmente. A Irmandade crescia a passos gigantescos por todas as partes


dos EUA/Canadá.

Em 1950, havia no mundo inteiro perto de 100 mil alcoólicos em recuperação.


Por mais impressionante que tenha sido esse desenvolvimento, a década de 1940 a
1950 foi de grande incerteza. A questão crucial era se todos aqueles alcoólicos
volúveis poderiam viver e trabalhar juntos em seus Grupos. Poderiam manter-se
unidos e funcionar com eficácia? Esta pergunta ainda pairava sem resposta. Manter
correspondência com milhares de Grupos relativamente a seus problemas
particulares chegou a ser um dos principais trabalhos do escritório de Nova Iorque.

Não obstante, no início de 1946, já era possível tirar algumas conclusões bem
razoáveis sobre as atitudes, costumes e funções que se ajustariam melhor aos
objetivos de A.A. Esses princípios, que haviam surgido a partir das árduas
experiências dos Grupos, foram codificados por Bill, sendo hoje conhecidos pelo
nome de As Doze Tradições de Alcoólicos Anônimos. Em 1950, o caos dos anos
anteriores quase havia desaparecido. Havia-se conseguido enunciar e por em
prática, com êxito, uma fórmula segura para a unidade e o funcionamento de A.A.
(Ver a Estrutura de Serviços Gerais dos EUA/Canadá.).

Durante essa frenética década, o Dr. Bob dedicava seus esforços ao assunto
da hospitalização dos alcoólicos e à tarefa de incutir-lhes os princípios de A.A. Os
alcoólicos chegavam à grande número a Akron para obter cuidados médicos no
Hospital Saint Thomas, uma instituição administrada pela Igreja Católica. O Dr. Bob
se integrou ao corpo médico desse hospital e ele e a irmã Ignatia, também do
pessoal do hospital, prestaram cuidados médicos e indicaram o programa a cerca de
5.000 alcoólicos internados. Após a morte do Dr. Bob, em 1950, a irmã Ignatia
seguiu trabalhando no Hospital da Caridade, em Cleveland, onde contava com a
ajuda dos Grupos de A.A. locais e onde outros 10.000 alcoólicos internados
encontraram Alcoólicos Anônimos pela primeira vez. Esse trabalho foi um grande
exemplo de boa vontade, que permitiu comprovar que A.A. cooperava eficazmente
com a medicina e a religião.

Naquele ano, Alcoólicos Anônimos realizou em Cleveland sua primeira


Convenção Internacional. Nessa Convenção o Dr. Bob fez seu último ato perante a
Irmandade e, em sua fala de despedida, se deteve na necessidade de se manter
simples o programa de A.A. Junto com os outros participantes, ele viu os Delegados
aprovarem entusiasmados As Doze Tradições de A.A., para uso permanente da
Irmandade em todo o mundo. Faleceu em 16 de novembro de 1950.

No ano seguinte, ocorreu outro acontecimento muito significativo. As


atividades do escritório de Nova York haviam sido grandemente ampliadas e
84

passaram a incluir trabalhos de relações públicas, conselhos aos novos Grupos,


serviços em hospitais, nas prisões, junto aos Internacionalistas e Solitários e
Página

cooperação com outras agências no campo do alcoolismo. O escritório também


publicou livros e folhetos "padrão" de A.A. e supervisionava a tradução dessas
INPAVI – INTERVENÇÃO PARA VIVER

publicações para outros idiomas. Nossa revista internacional, A.A. Grapevine, já


tinha uma grande circulação. Essas atividades, e outras mais, se tornaram
indispensáveis para A.A. em sua totalidade.

Não obstante, esses serviços vitais estavam ainda em mãos de uma isolada
Junta de Custódios, cujo único vínculo com a Irmandade havia sido Bill e o Dr. Bob.
Como os co-fundadores haviam previstos alguns anos atrás, era imperativo vincular
os Custódios dos Serviços Mundiais de A.A. (hoje a Junta de Serviços Gerais de
A.A.) à Irmandade a qual serviam. Para isso, convocou-se uma reunião de
Delegados de todos os estados e províncias dos EUA/Canadá. Assim constituído,
esse organismo de serviços mundiais se reuniu pela primeira vez em 1951. Apesar
de certa apreensão suscitada pela proposta, a assembléia teve grande êxito. Pela
primeira vez, os Custódios, anteriormente isolados, eram diretamente responsáveis
perante A.A. na sua totalidade. Havia-se criado a Conferência de Serviços Gerais de
A.A. e dessa maneira assegurado o funcionamento global de A.A. para o futuro.

A segunda Convenção Internacional teve lugar em Saint Louis, em 1955,


comemorando os 20 anos da Irmandade. Naquela época, a Conferência de Serviços
Gerais já havia demonstrado seu real valor. Nessa ocasião, em nome de todos os
pioneiros de A.A., Bill transferiu à Conferência e a seus Custódios a futura vigilância
e proteção de A.A. Nesse momento a Irmandade tomou posse daquilo que era seu:
Alcoólicos Anônimos atingiu sua maioridade.

Se não fosse pela ajuda dos amigos de A.A. nos seus primeiros dias, é
provável que Alcoólicos Anônimos nunca tivessem existido. E se não contasse com
a multidão de amigos que, desde então, têm contribuído com seu tempo e sua
energia - especialmente nossos amigos da medicina, da religião e dos meios de
comunicações - A.A. nunca poderia ter crescido e prosperado. A Irmandade
expressa sua perene gratidão pela amistosa ajuda.

No dia 24 de janeiro de 1971, Bill faleceu de pneumonia em Miami Beach,


Flórida, onde - havia sete meses - pronunciara diante da Convenção Internacional
do 35º aniversário suas últimas palavras aos companheiros de A.A.: "Deus os
bendiga, a vocês e a Alcoólicos Anônimos, para sempre."

Desde então A.A. se tornou uma Irmandade mundial, demonstrando que a


maneira de viver de A.A. hoje pode superar quase todas as barreiras de raça, de
credo e de idioma. A Reunião de Serviço Mundial, realizada pela primeira vez em
1969, vem ocorrendo a cada dois anos desde 1972, alternando sua sede entre Nova
Iorque e uma cidade de outro pais. Os Delegados à RSM reuniram-se em Londres
(Inglaterra); Helsinki (Finlândia); San Juan Del Rio (México); Guatemala
(Guatemala); Munique (Alemanha) e Cartagena (Colômbia).
85

O envolvimento em AA está relacionado com uma série de mudanças


Página

positivas, qualitativas e quantitativas nas redes de apoio social. O maior impacto de


AA é relacionado à rede de amigos, com menos influência na rede entre familiares e
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outras. Complementarmente, foi verificado ser de grande valia para a recuperação o


apoio de outras pessoas em AA, e os indivíduos com rede social de suporte negativo
para abstinência beneficiaram-se ao máximo com o envolvimento em AA. Além
disso, as variáveis de suporte sociais consistentemente mediadas pelo impacto de
abstinência de AA sugerem que o apoio social é o mecanismo da eficácia de AA na
promoção de um estilo de vida sóbrio.

Muitos trabalhos têm demonstrado a baixa efetividade dos tratamentos de


internação e ambulatoriais para alcoolismo, como os trabalhos comparando os
resultados entre os que receberam tratamento e aqueles que não foram tratados.
Apesar do sucesso quanto aos tratamentos convencionais de curto prazo, estudos
sugerem melhorias significativamente reduzidas ao longo do tempo. As taxas de
recaída são elevadas, com a maioria dos pacientes terem retornado aos níveis de
consumo de álcool pré-tratamento, em um ano após. Além disso, uma revisão da
literatura sobre a eficácia do tratamento de substâncias de abuso indica alta
incidência de índices de recaída em um ano para tratamentos de desintoxicação e
adjacentes, por profissionais de saúde.

Atualmente existe crescente interesse por grupos de ajuda - mútua e auto-


ajuda que influenciem nos tratamentos, oferecendo uma alternativa ao tratamento
profissional ou pós-tratamento. Diferentemente dos tratamentos tradicionais, os
programas de ajuda - mútua e auto-ajuda são livres, com encontros e freqüência
voluntária, caracterizados por trabalhar juntos em um problema comum, com
liderança auto-escolhida e troca de experiências.

Em geral a terapia de auto-ajuda tem sido relatada como mais eficiente


podendo ser trabalhada juntamente coma a terapia tradicional liderada por
profissionais.

Talvez o exemplo mais conhecido deste grupo de ajuda - mútua para apoiar a
abordagem de abstinência seja o de Alcoólicos Anônimos.

Diferentemente dos tratamentos convencionais, não há tempo estabelecido


de tratamento e não há envolvimento profissional, muito embora o AA possa ser
utilizado em conjunto com outros tratamentos envolvendo profissionais.

Para ser membro de AA o único requisito é o desejo de parar de beber.


Não há encargos, taxas ou registros quanto às suas reuniões semanais.

Numerosos estudos têm indicado os bons resultados da participação de AA


quanto ao uso de álcool. Além disso, estudos de meta-análise sobre a efetividade da
participação de AA relacionavam-se a resultados positivos quanto ao
comportamento de beber e modestamente ligados à saúde psicológica,
86

funcionamento social, situação de emprego e situação legal. Entretanto nem todos


Página

os estudos concluíram por ter o AA melhores resultados do que os tratamentos


alternativos.
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Os pesquisadores freqüentemente debatem sobre o rigor e a qualidade dos


resultados na literatura de AA, que tem sido tradicionalmente criticada pela falta de
estudos longitudinais. No entanto, bem recentemente foi dado um grande passo
para preencher esse vazio. Os pesquisadores promoveram um ensaio controlado no
quais pessoas em tratamento por abuso de substâncias foram randomizadas para
receber, ou orientação standard ou orientação intensiva por grupos de auto-ajuda.
Participantes dos grupos de 12 Passos obtiveram melhores resultados quanto ao
uso de álcool e drogas em 6 e 12 meses, e o envolvimento com os 12 Passos foi o
mediador que favoreceu esses melhores resultados.

Os mecanismos favorecedores da abstinência com o envolvimento em AA


são pouco claros, e tem sido sugerido aos pesquisadores que examinem os
mecanismos pelos quais o AA ajuda na mudança de comportamento. Os
pesquisadores indicaram os mecanismos de espiritualidade, auto-eficiência,
superação e apoio social, que são o foco da presente revisão. O apoio social
geralmente é considerado pelos profissionais de tratamento como um significativo
benefício dos grupos de auto-ajuda para o abuso de drogas.

Adicionalmente, AA possuem diversos fatores comuns a grupos religiosos,


redes sociais e instituições de caridade. Por exemplo, muitas vezes membros
permanecem na organização muito tempo depois de se tornarem sóbrios. Eles
tendem a incorporar AA em sua vida diária como um recurso social e usa o AA como
uma oportunidade de serviço comunitário.

De fato, nota-se que o apoio social é um componente de tal forma integrado


em AA que reparte com os 12 Passos o desenvolvimento da abstinência. Por
exemplo, um passo incentiva os membros a preparar uma lista de pessoas a quem
tenham ofendido, para que se façam as devidas reparações.

O apoio social tem sido descrito como uma meta-conceito que inclui várias
facetas. Embora o apoio social possa ser definido como um processo pelo qual o
auxílio é trocado com outras pessoas, a fim de facilitar metas de adaptação, ele
apresenta um conceito complexo que deve ser dividido em várias dimensões.

Como sugerido pela literatura do apoio social, este trabalho faz diferença
entre estrutura e função. O apoio estrutural quantifica a composição do apoio social
individual e pode incluir elementos como o número, a interconectividade e os
diferentes tipos de relacionamentos. Por outro lado, o apoio funcional avalia à
medida que membros da rede provêem significativo e útil auxílio uns aos outros. No
que se refere às relações entre os aspectos estruturais e funcionais, redes sociais
que são maiores e que oferecem mais relacionamentos de suporte, podem promover
uma recuperação mais efetiva.
87

O apoio geral (global) promove o bem-estar abrangente, o apoio específico é


Página

diretamente vinculado a certas funções (uso de álcool ou abstinência).


INPAVI – INTERVENÇÃO PARA VIVER

Um modelo criado com o propósito específico de abstinência promove


abstinência, enquanto que o apoio geral sustenta o funcionamento psicológico. Os
meios do apoio geral tipicamente combinam numerosas variáveis (tanto funcionais
como estruturais), como o número de pessoas numa rede e a significância do
suporte para obter uma estimativa global da rede de apoio social.

Aqueles que recebem mais apoio geral apresentam níveis mais elevados de
bem-estar subjetivo, que é ligado ao resultado do pós-tratamento do abuso de
substâncias. Em contrapartida, o efeito social específico depende que o
relacionamento promova um encorajamento positivo específico para a
abstinência/recuperação ou encorajamento negativo específico para o uso de álcool.
Por exemplo, Zywiak et al. verificaram que as pessoas que permaneceram em
contato com a rede social de pré-tratamento que estimulava o uso de álcool estavam
mais propensas a recaídas. No entanto as pessoas cuja rede social refletia menor
uso, tinham mais propensão a manter abstinência.

Quando os tipos de apoio – geral e específico – são comparados


empiricamente, o apoio álcool-específico é considerado indicador de maior
consistência em resultados de tratamento.

Este trabalho revê a literatura sobre o apoio social e variável da rede social
em Alcoólicos Anônimos. Uma revisão desse tipo não foi publicada previamente e é
importante para o campo da psicologia clínica por diversas razões.

Embora estudos anteriores tenham demonstrado uma limitada eficácia dos


tratamentos tradicionais para alcoolismo, AA é um dos programas de recuperação
que demonstraram resultados positivos para abstinência.

Entretanto a tendência predominante na psicologia é de se evitar estas


intervenções de auto-ajuda que ficam fora do ambiente profissional e são baseadas
no voluntariado e anonimato.

A psicologia clínica tem muito a ganhar focalizando-se neste popular e


freqüentemente efetivo modelo de recuperação.

A compreensão dos mecanismos através dos quais os AA promovem a


abstinência poderia ajudar os clínicos a desenvolver tratamentos mais eficazes do
que os paradigmas existentes.

A compreensão de quais os tipos de pessoas que melhor se beneficiam com


o apoio social em AA poderão ajudar os profissionais de tratamento a fornecer
referências mais bem informadas aos seus pacientes.
88
Página
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ALCOÓLICOS ANÔNIMOS NO BRASIL

Aspectos históricos de A.A. no Brasil – Difícil começo corria o ano de 1945,


um membro viajante norte-americano, de nome Bob Valentine, amigo de Bill W., de
passagem pelo Rio de Janeiro, então capital nacional, conhece uma pessoa também
americana (não está totalmente definido se era homem ou mulher), com o nome de
Lynn Goodale. Após uma conversa com Bob Valentine, Lynn encontra a sobriedade.

A Fundação do Alcoólico era a responsável direta pela correspondência de


Alcoólicos Anônimos com a sociedade e o elo entre a correspondência de seus
membros. Portanto, Bob Valentine, de volta aos EUA, em visita à Fundação, passa-
lhe o endereço de Lynn, como possível contato no Brasil.

Prontamente, a secretária da Fundação do Alcoólico escreve-lhe uma carta


na qual solicita a confirmação do contato brasileiro, dizendo-se feliz por poder
assinalar um ponto na cidade do Rio de Janeiro em seu mapa de contatos no
exterior. Ao receber essa correspondência, Lynn responde afirmativamente sobre
incluir-se como contato de A.A. no Rio de Janeiro e informa que sua estada no Brasil
seria por pouco tempo. Solicita também algum material (memorandos, boletins etc.)
e diz: "Há quatro meses evito o primeiro gole; fazendo algo, creio que manterei
minha sobriedade (...) gostaria de ter alguma participação no crescimento de
Alcoólicos Anônimos aqui no Brasil."

A carta de agosto de 1945, assinada por Margareth Burger, então secretária


da Fundação do Alcoólico, não altera muito os acontecimentos, mas marca o final da
correspondência e Lynn Goodale sai de cena.

No ano seguinte, a Fundação do Alcoólico recebe a seguinte


correspondência, vinda do Brasil:

-me
"Rio de Janeiro, Brasil, 19 de junho de 1946.
Ao Secretário do A.A. Cosmopolitan Club
Nova Iorque
Prezado Secretário:

Há coisa de um mês atrás o remetente desta esteve em seu Escritório e,


antecipadamente prevendo sua mudança aqui para o Rio de Janeiro, solicitou algum
contato com um membro de A.A. Fui gentilmente informado do nome de Lynn
Goodale - Av. Almirante Barroso nº 91, como tal. Lamento informar que devido ao
meu precário português, ou pelo endereço incompleto, fui incapaz de localizar essa
pessoa e o auxílio das listas telefônicas locais também foi insuficiente.
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Página

Você teria a paciência suficiente (considerando que o correio aéreo regular


consome cerca de 29 valiosos dias na ligação Nova Iorque/Rio de Janeiro) de
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fornecer-me instruções suficiente para contatar essa pessoa ou qualquer outro


membro de A.A. no Rio?

Tratava-se de Herbert L., um publicitário norte-americano, sóbrio desde 1945,


quando conheceu Alcoólicos Anônimos em Chicago, que veio ao Rio de Janeiro,
juntamente com sua esposa Elizabeth, para cumprir um contrato de três anos como
diretor de arte numa grande companhia internacional de publicidade. Como era
novato no programa, sua preocupação imediata foi procurar a Irmandade na cidade
onde ele viveria por três anos. Alcoólicos Anônimos, entretanto, era desconhecida
no Rio de Janeiro, embora Herb tivesse alguns nomes para fazer contato. Visto que
nenhum desses companheiros permanecia por muito tempo no Brasil, a Irmandade
ainda não havia criado raízes.

A resposta da Fundação trouxe-lhe o nome de outras pessoas, Don Newton e


Douglas Calders, as quais poderiam ajudá-lo; informou-lhe sobre a postagem de um
"suprimento grátis de literatura" e trouxe-lhe um pedido de abordagem a um jovem
de Recife.

Preocupado em manter sua sobriedade e decidido a começar um Grupo de


A.A. no Rio, Herb (como era conhecido) decide escrever à Fundação, meses depois
do último contato, dizendo não ter encontrado as pessoas indicadas. Nessa carta,
datada de 2 de junho de 1947, Herb também informa que ele e sua esposa já
haviam se adaptado bem no Brasil e solicita mais nomes e endereços de possíveis
AAs no Rio.

"Lynn Goodale e Don Newton deixaram o Rio de Janeiro"- diz a


correspondência vinda da Fundação, a qual também traz um pedido preocupado:
"Não deixes passar outro ano sem correspondência" - e informa ao casal o novo
endereço de Douglas C.

As cartas entre a Fundação do Alcoólico e Herb continuaram. Na próxima,


Herb envia um cartão constando seu nome e endereço, cadastrando-se oficialmente
como contato de A.A. no Brasil.

Quarenta e sete foi o ano dos acontecimentos que culminaram com o início
efetivo de A.A. no Brasil. No mês de julho, Herb recebeu endereço de outro AA
residente no Rio de Janeiro e alguns panfletos em espanhol e, em outubro, a
Fundação expressa sua felicidade pelo início de um Grupo de A.A. no Brasil.

Contudo, há uma lacuna entre a carta de julho e a de outubro. Foi justamente


na época que se inicia o primeiro Grupo.

PRIMEIRO GRUPO DE A.A. NO BRASIL


90

O NÚCLEO DE A.A. DO RIO DE JANEIRO - "A.A. Rio Nucleus"


Página

5 de setembro, por que?


INPAVI – INTERVENÇÃO PARA VIVER

Pouco se tem documentado sobre a formação do primeiro Grupo de A.A. no


Brasil. O que se pode afirmar é que esse Grupo inicialmente era formado por norte-
americanos a serviço no Rio de Janeiro e que o idioma das reuniões, sediadas nas
casas ou apartamentos dos companheiros, era o inglês. A maior dificuldade que
Herb teve, aparentemente, foi a de não falar fluentemente o português. Ele queria
transmitir a mensagem de recuperação aos brasileiros ou a quem falasse
fluentemente o nosso idioma, pois sabia que quando de sua volta aos Estados
Unidos, provavelmente todo o seu trabalho seria perdido.

Alguns pontos, inclusive a data do início do "A.A. Rio Nucleus" ou Grupo A.A.
do Rio de Janeiro, durante tempos foram envoltos em mistério e em controvérsias.
Vamos agora fazer uma parada na dissertação e dar uma olhada num fato sobre a
formação desse Grupo.

Pudemos observar que o livro de registros do Grupo A.A. do Rio de Janeiro,


na data de 29/8/50 traz a seguinte anotação:

"Data - aniversário.

Na reunião de hoje deliberamos comemorar o 3º (terceiro) aniversário da


Fundação do Grupo A.A. do Rio de Janeiro no dia 5 (cinco) de setembro próximo.

A referida data ficará, por tradição, como a data oficial da fundação do Grupo.

Rio de Janeiro, 29 de agosto de 1950.

Fernando, secretário."

Esse registro documentado é a mais clara evidência de que a data de início


do primeiro Grupo de A.A. no Brasil foi 5 de setembro de 1947. Infelizmente o
secretário não menciona detalhes como: onde foi realizada a reunião inaugural,
quem foram os participantes dessa reunião etc.

O mais provável é que nessa data deu-se o encontro de Herb com o primeiro
brasileiro que conseguiu manter-se sóbrio em A.A., o companheiro Antônio P.,
falecido em meados de 1951, quando tentava recuperar-se de um acidente de
trabalho.

TRABALHO ÁRDUO COM OS OUTROS – CRESCIMENTO DO GRUPO GRAÇAS


À INTENSA DIVULGAÇÃO

Na carta de outubro, vinda da Fundação do Alcoólico, e que comentamos


anteriormente, há uma sugestão para que o recém formado Grupo trabalhasse firme
91

na divulgação: "... por todos os meios, prossigam com os planos de levar Alcoólicos
Anônimos ao conhecimento público. Muitos Grupos têm achado que são de grande
Página

ajuda os artigos nos jornais e não há contra - indicações quanto a isso, contando
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com as Tradições de A.A. - anonimato, propósito, dinheiro etc. (...) Depois de


estrondosa abertura à publicidade, um grande número de Grupos tem usado
anúncios pequenos informando que estão funcionando e o endereço onde maiores
informações poderão ser obtidas."

Baseando-se, talvez, nessa sugestão, foi que Herb encaminhou uma carta ao
Jornal O Globo. O editor ficou muito entusiasmado e o artigo apareceu na primeira
página da edição de 16 de outubro de 1949.

"Alcoolistas Anônimos - Uma Sociedade de Fins Meritórios" era o título do


artigo que detalhava o funcionamento de A.A.: "Alcoólicos Anônimos é uma
sociedade composta por pessoas que tendo sido bebedores inveterados
conseguiram livrar-se do alcoolismo e trabalham com o intuito de se ajudarem
mutuamente a se manterem sóbrios. Sendo ex-bêbados, não entramos em
discussão com aqueles que bebem normalmente ou com os fabricantes de bebidas
alcoólicas, nem somos contra essas pessoas. Não temos também, como Grupo,
qualquer ligação ou filiação com determinada igreja ou organização missionária ou
organização de temperança. Como ex-bêbados, estendemos a nossa simpatia e
auxílio a qualquer pessoa de qualquer classe social e de qualquer religião, que
tenha perdido o controle sobre a bebida e que, sinceramente, queira abandonar o
vício." Apesar de falar em "vício", o artigo mostrava também o aspecto "doença".
Mencionava algo sobre o anonimato e o Primeiro Passo e, por fim, solicitava aos
interessados que escrevessem cartas à redação do jornal, endereçadas ao núcleo
brasileiro de A.A.

O artigo repercutiu e Herb respondeu cerca de dez cartas de pessoas pedindo


ajuda e o jornal solicitou outro artigo.

Depois, Herb e sua esposa - que parece ter sido a redatora da maioria das
cartas - noticiaram o fato à secretária da Fundação do Alcoólico que, posteriormente,
transmitiu as boas novas a Bill W. Nesta mesma correspondência Herb demonstra
preocupação em registrar a Irmandade junto ao governo brasileiro e informa ter
encontrado Douglas C., com quem já havia feito algumas reuniões.

A manifestação da Fundação, através de sua secretária, Margareth Burger, foi


típica de A.A. Lendo a carta de novembro de 1947 pode-se sentir a emoção com que
receberam a notícia do progresso brasileiro. Foi aí também a primeira referência
sobre a tradução do Livro Grande e de outros folhetos para o português e a
informação de que só havia tradução para o espanhol.

Quanto ao "registro" junto ao governo, a funcionária da Fundação disse:


"Discuti com Bill W. o assunto do material apropriado para submeter à apreciação do
92

governo brasileiro. Bill acha que vocês podiam explicar às pessoas daí que A.A. não
é uma incorporação, mas é simplesmente uma organização sem fins lucrativos cujo
Página

propósito primordial é o de ajudar na recuperação do portador da doença do


alcoolismo, se ele o desejar. Caso vocês nos dêem o nome para contato com o
INPAVI – INTERVENÇÃO PARA VIVER

governo brasileiro, a Junta de Custódios de A.A. poderá enviar a Constituição da


Fundação do Alcoólico, que foi fundada para agir como uma espécie de Comitê de
Serviços Gerais para Alcoólicos Anônimos."

Aqui cabe uma pausa. Nesse trecho podemos notar o que Bill W. pensava
quando dizia que ele e Dr. Bob eram o elo entre os Grupos e os Custódios da
Fundação. No caso desse registro brasileiro, vemos como Alcoólicos Anônimos
ainda carecia de uma estrutura e como Bill W. era o consultor direto da Fundação do
Alcoólico.

Voltemos aos fatos. Só em abril próximo (1948) a Fundação recebeu a


resposta do casal Herb e Libby, como era chamada Elizabeth. Isso, segundo Herb,
devia-se ao "tempo e trabalho árduo". Nessa época havia várias boas-novas: "...
contamos com quatro brasileiros. Somos seis, se incluirmos Doug C. e eu mesmo.
Esses quatro brasileiros estão abstêmios há seis meses ou mais. Nosso mais novo
recruta veio através de uma carta que havíamos escrito a um pastor daqui. Trata-se
de um anglo-brasileiro que tem lido tudo que se relaciona com A.A. Traduziu os
Doze Passos para o português, ajudou-nos a escrever um artigo para os jornais aqui
do Rio de Janeiro e, no momento, está nos ajudando a traduzir um folheto de A.A."

Nessa época vários artigos já haviam sido publicados em jornais brasileiros e


uma matéria foi veiculada num jornal direcionado à comunidade de língua inglesa no
Brasil, o Brazil Herald. Eles também estavam com um material novo pronto para
publicação, aguardando somente o número de uma caixa postal a ser usada como
endereço para correspondência. Além de tudo isso, o recém formado Grupo já havia
postado cerca de trinta cartas (sendo a metade em inglês) a médicos, igrejas e
outras entidades do Rio de Janeiro e de Belo Horizonte. Enfim, essa
correspondência foi tão carregada de progressos que posteriormente a Fundação
solicitou sua publicação na Grapevine..

Na correspondência seguinte, vinda da Sede, notou-se a preocupação com a


tradução do folheto para o português. Assim, foi solicitado a Herb que encaminhasse
um exemplar para análise, bem como cópia de alguns dos artigos publicados nos
jornais brasileiros, para apreciação e arquivo.

Nesse mesmo mês, o livrete (ou folheto) de A.A. estava quase totalmente
traduzido e a Associação Cristã de Moços (ACM) emprestou uma de suas Caixas
Postais a Alcoólicos Anônimos, fato noticiado de pronto à Nova Iorque.

"LINGUAGEM DO CORAÇÃO”

Depoimentos em "preto e branco"


93

Sem sombra de dúvida, a maior dificuldade encontrada por aqueles pioneiros


Página

no Brasil foi o idioma. Os brasileiros que chegavam não entendiam o inglês e os


americanos, residentes ou de passagem pelo Brasil, pouco ou quase nada falavam
INPAVI – INTERVENÇÃO PARA VIVER

em nossa língua. Até mesmo Herb, já há dois anos no Rio, pouco dava "colorido"
aos seus depoimentos em português - como ele mesmo mencionou. Hoje
entendemos que só através da linguagem do coração, aquela que acontece quando
um alcoólico fala com outro, é que esses membros se comunicavam. A recuperação,
mesmo no Grupo, tornava-se quase um desafio. Sentia-se muito a falta da tradução
do livro Alcoólicos Anônimos; em virtude disso, alguém traduzia uma pequena parte
e lia a cada reunião. Com esse quadro de dificuldades, era premente a necessidade
de receberem membros que falassem fluentemente os dois idiomas. Talvez por isso,
deu-se tanta importância à chegada de Harold, mesmo sendo Antônio P. o primeiro
brasileiro a chegar. Vamos relembrar um pouco do encontro entre Herb e o valoroso
Harold, numa carta escrita por ele mesmo e publicada na Grapevine em novembro
de 1990.

94
Página
INPAVI – INTERVENÇÃO PARA VIVER

NA – NARCÓTICOS ANÔNIMOS

Narcóticos Anônimos é uma associação comunitária de adictos a drogas em


recuperação. Iniciado em meados de1953, o movimento de NA é um dos maiores e
mais antigos deste tipo, com aproximadamente quarenta mil reuniões semanais em
130 países.

PROGRAMA

O primeiro folheto de NA, auto - entitulado, conhecido entre os membros


como "O Livreto Branco", descreve NA como uma "irmandade" de homens e
mulheres, sem fins lucrativos, para quem as drogas se tornaram um problema
maior... adictos em recuperação que se reúnem para ajudar uns aos outros a se
manterem limpos." A afiliação à Narcóticos Anônimos é aberta a qualquer adicto a
drogas, independente do tipo ou combinação de drogas usadas. Não existem
restrições sociais, religiosas, econômicas, raciais, étnicas, de nacionalidade, gênero
ou status social. A afiliação à Narcóticos Anônimos é inteiramente voluntária. Não
existem arquivos sobre a freqüência e nem listas de membros seja para uso interno
de NA ou para qualquer outro uso. Os membros vivem em suas comunidades e
freqüentam as reuniões quando lhes convém. Não existem taxas para afiliação. A
maioria dos membros contribui regularmente com pequenas somas que ajudam a
cobrir as despesas dos grupos, mas as contribuições não são obrigatórias.

A base do programa de recuperação de Narcóticos Anônimos é uma série de


atividades pessoais conhecida como Doze Passos, adaptados de Alcoólicos
Anônimos. Estes "passos" incluem a admissão de que existe um problema, a busca
de ajuda, auto-avaliação, partilha em nível confidencial, reparar danos causados e
trabalhar com outros adictos a drogas que queiram se recuperar. Algo
importantíssimo no programa é a ênfase no que é chamado "despertar espiritual",
ressaltando o seu valor prático e não sua importância filosófica ou metafísica, o que
facilitou a tradução do programa, mesmo considerando-se barreiras culturais. NA em
si, não é um programa religioso e encoraja cada membro a cultivar um entendimento
pessoal, religioso ou não, deste "despertar espiritual."

Narcóticos Anônimos acredita que uma das chaves do seu sucesso seja o
valor terapêutico de adictos trabalhando com outros adictos. Nas reuniões, cada
95

membro partilha experiências pessoais com os outros buscando ajuda, não como
Página

profissionais, mas simplesmente como pessoas que tiveram problemas similares e


encontraram uma solução. Narcóticos Anônimos não tem terapeutas, não oferece
INPAVI – INTERVENÇÃO PARA VIVER

moradia nem clínicas . NA não oferece orientação vocacional, legal, financeira ou


serviços médicos. A coisa mais próxima de um "conselheiro de NA" é o padrinho ou
madrinha, um membro experiente que oferece ajuda informal a membros mais
recentes.

O principal serviço oferecido por Narcóticos Anônimos é a reunião em um


grupo de NA. Cada grupo administra a si próprio, tendo como base princípios
comuns a toda a organização. Estes princípios estão contidos na literatura de NA.
Não existe estrutura de serviço hierárquica em NA. A maioria dos grupos não tem
instalações próprias permanentes e alugam espaço para suas reuniões semanais
em locais administrados por entidades públicas e organizações civis ou religiosas.
As reuniões podem ser "abertas", o que significa que qualquer um pode participar,
ou 'fechadas", quando somente pessoas que estão lá para tratar de seu próprio
problema com drogas podem participar. As reuniões são conduzidas por membros
de NA e outros membros participam partilhando suas próprias experiências na
recuperação da adicção às drogas.

O programa de Narcóticos Anônimos usa um conceito de doença da adicção


muito simples, baseado na experiência. Narcóticos Anônimos não qualifica seu uso
do termo "doença" em qualquer outro senso médico ou terapêutico especializado NA
também não faz qualquer tentativa de persuadir outros de que a sua visão é correta.
O que NA sabe é que seus membros descobriram que a aceitação da adicção como
doença é algo eficaz para ajudá-los. Apesar de não serem termos de uso muito
comum, NA utiliza os termos "adicto" e "adicção" principalmente porque são termos
que melhor expressam sua visão de que a adicção a drogas é uma doença que
afeta o indivíduo em todas as áreas de sua vida e para evitar qualquer confusão
inicial, quanto à compreensão da natureza e do propósito de NA, por parte de
adictos que buscam ajuda para seu problema com drogas.

Narcóticos Anônimos encoraja seus membros a se manterem abstinentes de


qualquer droga, inclusive o álcool, mesmo outras substâncias que não eram de
escolha daquela pessoa. Entretanto, o único requisito para se tornar membro de NA
é "um desejo de parar de usar" drogas. A experiência de membros de NA tem
mostrado que a completa e contínua abstinência é a melhor base para a
recuperação e o crescimento pessoal. Porém,Narcóticos Anônimos , como
associação, não tem qualquer posição quanto ao uso de cafeína, nicotina ou açúcar.
Da mesma forma, o uso de medicação prescrita para tratamento médico ou
condições psiquiátricas não é nem encorajada, nem proibida em NA. Embora
reconhecendo numerosas questões quanto a essas áreas, NA entende que são
assuntos de decisão pessoal e encoraja seus membros a consultar sua própria
experiência, a experiência de outros membros e profissionais de saúde qualificados,
para tomar decisões sobre estes assuntos.
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Mais uma coisa precisa ser dita sobre o programa de Narcóticos Anônimos.
Página

Seus membros reconhecem que Narcóticos Anônimos é apenas mais uma


INPAVI – INTERVENÇÃO PARA VIVER

organização dentre muitas que tratam o problema de adicção a drogas. Seus


membros reconhecem que tiveram sucesso significante ao tratar de seus próprios
problemas de adicção, mas NA não diz ter um programa para todos adictos, sob
todas as circunstâncias, ou que suas visões terapêuticas deveriam ser
universalmente adotas. Se Narcóticos Anônimos puder ser útil para adictos sob seus
cuidados ou em sua comunidade, NA está pronto para servir.

97
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INPAVI – INTERVENÇÃO PARA VIVER

AL-ANON

Os grupos familiares Al-Anon são uma associação de parentes e amigos de


alcoólicos que compartilham sua experiência, força e esperança, a fim de solucionar
os problemas que têm em comum. Nós acreditamos que o alcoolismo é uma doença
que atinge a família e que uma mudança de atitudes pode ajudar na recuperação.

O Al-Anon não está ligado a nenhuma seita, religião, movimento político,


organização ou instituição; não se envolve em qualquer controvérsia, nem endossa
ou se opõe a qualquer causa. Não existem taxas para ser membro. O Al-Anon é
auto-suficiente graças às contribuições voluntárias de seus próprios membros.

O Al-Anon tem apenas um propósito: prestar ajuda a familiares e amigos de


alcoólicos. Fazemos isso praticando os Doze Passos, encorajando e
compreendendo nossos parentes alcoólicos, bem como acolhendo e proporcionando
alívio a familiares de alcoólicos.

Um alerta: "não faça"

1. Se o alcoólico de sua vida ainda está bebendo, aprender o que não fazer é
uma parte importante do programa.
2. Não trate o alcoólico como uma criança; você não faria isso se ele sofresse
de alguma outra doença.
3. Não fique controlando para ver quanto o alcoólico está bebendo.
4. Não procure bebidas escondidas.
5. Não jogue bebida fora; o alcoólico sempre encontra uma maneira de
conseguir mais.
6. Não aborreça o alcoólico sobre a bebida. E jamais discuta quando ele estiver
sob os efeitos do álcool.
7. Não faça sermões, censure, repreenda ou entre em discussões.

Se você puder evitar essas coisas, estará no caminho certo para uma
disposição mental mais satisfatória. Todos esses "não faça" têm boas e sólidas
razões que surgiram da experiência de muitas pessoas.
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Muitas vezes, o primeiro sinal do desejo de parar de beber, por parte do


alcoólico, ocorre ao final de um período de desespero, sem esperança. Pode
Página
INPAVI – INTERVENÇÃO PARA VIVER

acontecer durante o remorso de uma ressaca, ou pode ser precipitado por uma crise
que o faz cair em si.

É aí que o seu conhecimento sobre o alcoolismo, e suas atitudes mais


sensatas em relação ao alcoólico, vão render frutos. À desesperada pergunta: "O
que devo fazer?" simplesmente responda que você sabe de certas coisas que
podem ser feitas. Se ele pedir sugestões, você pode então ser mais específico,
mencionando AA (Alcoólicos Anônimos) ou outra fonte de ajuda disponível para o
alcoólico que você possa ter encontrado.

O alcoolismo é uma doença progressiva vai minando a família aos poucos e


em muitos lares o papel dos pais sofre uma mudança: o pai torna-se o ―homem
esquecido‖; a mãe, o chefe da casa e os filhos, muitas vezes, se sentem incapazes
de recorrer ao pai à procura de apoio e à mãe em busca de compreensão e amor.
Eles também ficam doentes.

O alcoolismo é uma doença para toda a vida, e as pessoas mais próximas


são as mais afetadas. Elas percebem que a maneira de beber do alcoólico está fora
de controle e tentam controlá-la.

Os familiares de alcoólicos são afetados com a doença do alcoolismo.


Enquanto a obsessão do alcoólico é pela bebida, a obsessão do familiar é o
controle dessa bebida e desse bebedor.

Essa obsessão leva as pessoas próximas ao alcoólico a ficarem ansiosas,


sentirem raiva,alimentarem sentimentos de culpa e,principalmente, negarem o
problema, esconderem a situação, fingirem que o alcoolismo não existe em suas
casas.

Alguns familiares de membros de AA descobriram juntos que, praticando os


Doze Passos sugeridos pelo programa de recuperação, acolhendo e proporcionando
alívio aos familiares de alcoólicos, encorajando e compreendendo o alcoólico,
encontrariam a serenidade, independente do alcoólico estar bebendo ou não.

APRENDA E AJUDE

LEMAS DO AL-ANON e ALATEEN


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INPAVI – INTERVENÇÃO PARA VIVER

 Até que ponto isso é importante?


 Escute e aprenda.
 Isso também vai passar.
 Juntos podemos fazê-lo.
 Mantenha a mente aberta.
 Mantenha simples.
 Pense.
 Primeiro as primeiras coisas.
 Princípios acima das personalidades.
 Progresso, não perfeição.
 Que comece por mim.
 Só por hoje.
 Solte-se e entregue-se a Deus.
 Um dia de cada vez.
 Vá com calma.
 Viva e deixe viver.
 Só por Hoje
 Só por hoje tentarei viver somente este dia, e não tentarei solucionar todos os
meus problemas de uma vez.
 Posso fazer alguma coisa por doze horas que me assustaria se eu achasse
que tivesse que continuar a fazê-la pelo resto da vida.
 Só por hoje serei feliz. Parece ser verdade o que disse Abraham Lincoln:
 "A maioria das pessoas é tão feliz quanto tenha decidido ser."
 Só por hoje me ajustarei à realidade e não tentarei ajustar tudo à minha
própria vontade.
 Aceitarei o que o destino me reservar e me adaptarei a ele.
 Só por hoje tentarei fortalecer minha mente.
 Estudarei e aprenderei alguma coisa útil. Não serei um ocioso mental.
 Lerei alguma coisa que requeira esforço, raciocínio e concentração.
 Só por hoje exercitarei minha alma de três maneiras:
 Praticarei uma boa ação para alguma pessoa, sem que ela fique sabendo; se
alguém ficar sabendo, não será válido.
 Farei pelo menos duas coisas que não quero fazer - só para me exercitar.
 Não demonstrarei a ninguém que meus sentimentos estão feridos; eles
podem estar feridos, mas hoje não o demonstrarei.
 Só por hoje serei agradável.
 Terei a melhor aparência possível, me vestirei bem, manterei minha voz
baixa, serei cortês, não criticarei ninguém.
 Não encontrarei defeitos em nada, nem tentarei melhorar ou controlar
100

ninguém, a não ser eu mesma.


 Só por hoje terei um programa.

Página

Talvez não o siga exatamente, mas o terei.


 Evitarei dois aborrecimentos: a pressa e a indecisão.
INPAVI – INTERVENÇÃO PARA VIVER

 Só por hoje passarei meia hora tranquila, completamente só, relaxando.


 Durante essa meia hora, em algum momento, tentarei ter uma melhor
perspectiva da minha vida.
 Só por hoje não terei medo.
 Principalmente não terei medo de desfrutar do que é belo e de acreditar que
na mesma medida que dou a vida, a vida dará a mim.

ALATEEN

Os adolescentes familiares de alcoólicos sentiram necessidade de


compartilharem seus problemas com outros adolescentes, e assim nasceu o
Alateen, em 1957, nos Estados Unidos.

Esses grupos não são organizações no sentido convencional da palavra; não


existem diretores ou personalidades superiores. Há uma prestação de serviço por
parte dos membros como colaboração voluntária.

Os Grupos Alateen SÃO formados por jovens que têm problema de


alcoolismo em suas famílias.

Eles se reúnem para compartilhar suas experiências, trabalhando o mesmo


programa Al- Anon.

Cada Grupo Alateen deve ser apadrinhado por dois membros adultos e
experientes do Al- Anon.

Os Alateens podem também participar das reuniões de Al- Anon.

No momento, por sugestão do escritório de serviços mundiais do al-anon, não


há Grupo Alateen Online aberto.

Para encontrar um grupo alateen em sua região, visite o site do al-anon brasil
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Página
INPAVI – INTERVENÇÃO PARA VIVER

AMOR EXIGENTE

"O Amor-Exigente são grupos de apoio e ajuda mútua que encoraja a pessoa
a agir em vez de só falar; constrói a cooperação familiar e comunitária e desencoraja
a agressividade e a violência."

O Amor-Exigente é um programa de auto e mútua ajuda que desenvolve


preceitos para a organização da família, que são praticados por meio dos 12
Princípios Básicos e Éticos, da espiritualidade e dos grupos de auto e mútua-ajuda
que através de seus voluntários, sensibilizam as pessoas, levando-as a perceberem
a necessidade de mudar o rumo de suas vidas e do mundo, a partir de si mesmas.

Há 26 anos, o Amor-Exigente (AE) atua como apoio e orientação aos


familiares de dependentes químicos. O Programa eficaz estendeu-se também ao
trabalho com Prevenção , passando a atuar como um movimento de proteção social
Amor-Exigente, pois desestimular a experimentação, o uso ou abuso de tabaco, do
álcool e de outras drogas, assim como lutar contra tudo o que torna os jovens
vulneráveis, expostos à violência, ao crime, aos acidentes de trânsito e à corrupção
em todas as suas formas são também propostas do Amor-Exigente.

Atualmente, o movimento conta com 10 mil voluntários, que realizam,


aproximadamente, 100 mil atendimentos mensais por meio de reuniões, cursos e
palestras. São 536 grupos no Brasil, 2 na Argentina, 1 no Peru e 9 no Uruguai, além
de 350 grupos em fase experimental e 249 Subgrupos de Jovens na Sobriedade.
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INPAVI – INTERVENÇÃO PARA VIVER

AJUDE-ME!
―Por favo há alguém aí?
Alguém, qualquer um?
―DEUS‖
Me ajuda, por favor.
EU quero ser aceito.
Estou tão cansado de chorar, sonhar.
Estou muito, muito só.
Não há ninguém aí?
Por favor ajude-me!

Kurt Cobain – 1967 – 1994 – Suicidou-se

Telefones úteis
 Central de AA – 3515-9333 – www.alcoolicosanonimos.org.br
 NA – 3101-9626
 Amor Exigente – 2952-0217 / 4474-1885
 AA na Av. Inconfidência Mineira -
 Central de Alanon – 3337-0408 / 3331-8799

 Senad – orientações – 0800-510-0015


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INPAVI – INTERVENÇÃO PARA VIVER

12 PASSOS
Capítulo 3

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INPAVI – INTERVENÇÃO PARA VIVER

OS 12 PASSOS

1. Admitimos que éramos impotentes perante o álcool – que tínhamos perdido o


controle de nossas vidas.
2. Viemos a acreditar que um Poder Superior a nós mesmos poderia nos
devolver a serenidade.
3. Tomamos a decisão de entregar nossa vontade e nossa vida aos cuidados de
Deus, como nós O concebíamos.
4. Fizemos um minucioso e destemido inventário moral de nós mesmos.
5. Admitimos para Deus, para nós mesmos e para outro ser humano, a natureza
exata de nossos defeitos.
6. Ficamos inteiramente prontos para que Deus removesse todos esses defeitos
de caráter.
7. Humildemente, pedimos a Ele para remover nossas imperfeições.
8. Fizemos uma relação de todas as pessoas que tínhamos prejudicado e nos
dispusemos a fazer reparação a todas elas.
9. Fizemos reparações diretos a essas pessoas, sempre que possível, exceto
quando fazê-los viesse prejudicá-las ou a outras pessoas.
10. Continuamos fazendo o inventário pessoal e, quando estávamos errados, nós
o admitíamos prontamente.
11. Procuramos, através de prece e da meditação, melhorar nosso contato
consciente com Deus, como nós O concebíamos, rogando apenas o
conhecimento de Sua vontade em relação a nós e a força para realizar essa
vontade.
12. Tendo tido um despertar espiritual, por meio destes Passos, procuramos levar
esta mensagem a outras pessoas e praticar estes princípios em todas as
nossas atividades.

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INPAVI – INTERVENÇÃO PARA VIVER

Os 12 Passos são
literalmente um programa.

É um programa
de Ação.

Eles não
formulam um
código de
conduta a ser
interpretado.

Mas, uma série


de tarefas e
problemas a
serem
resolvidos.‖

OS 12 PASSOS

1. Rendição e Aceitação
2. Esperança
3. Fé
4. Coragem
5. Dignidade
6. Disposição/Prontidão
7. Humildade
8. Responsabilidade Social
9. Reparação/Restituição
10. Disciplina Perseverante
11. Consciência Espiritual
12. Amor
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INPAVI – INTERVENÇÃO PARA VIVER

12º Outros e eu

10º Eu e eu 11º Deus e Eu

COBERTURA

E
S
T
ESTRU
6º - Deus e eu R 9º - Eu e outros
5º - Eu e eu U 8º - Outros e eu
4º - Eu e eu T 7º - Eu e Deus
U
R
A

BASE

3º - Se eu deixar
2º - Alguém pode
1º - Eu não posso

1. Admitimos que éramos impotentes perante o álcool e que tínhamos perdido o


controle de nossas vidas.
 Doença e responsabilidade;
 Capitular. Defesas.

Princípio: Aceitação / Rendição

2. Viemos a acreditar que um Poder Superior a nós mesmos poderia nos


devolver a sanidade.
 Algo terapêutico – Deus sentido;
 Maduro interior.

Princípio: Esperança

3. Decidimos entregar nossa vontade e nossa vida aos cuidados de Deus, como
nós O concebíamos.
 Solte-se p/Deus - Levantar os olhos;
 Força amorosa interior + sentido transcendente.
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Princípio: Fé
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INPAVI – INTERVENÇÃO PARA VIVER

4. Fizemos um minucioso e destemido inventário moral de nós mesmos.


 Conhece-te (inimigos e amigos);
 Egoísmo e Orgulho – Negação;
 Prepara p/honestidade nas relações.

Princípio: Coragem

5. Admitimos para Deus, para nós, e para um outros ser humano a natureza
exata de nossas falhas.
 Confissão – Peso inútil - Solidão e Pertencer;
 Tamanho da doença, vergonha, destruir máscaras.

Princípio: Dignidade

6. Prontificamo-nos que Deus removesse todos esses defeitos de caráter.


 Defeitos continuam. Colaborar. Gostar deles;
 Pronto para remover comportamentos disfuncionais.

Princípio: Disposição.

7. Humildemente pedimos a Ele para remover nossas imperfeições.


 Humildade – Realização;
 Êxito e Fracasso.

Princípio: Humildade.

8. Fizemos uma relação de todas as pessoas que tínhamos prejudicado e nos


dispusemos a fazer reparar os danos a elas causados.
 Abrir feridas. Relação c/ 4º passo;
 Desenvolve habilidade em manter relacionamentos.

Princípio: Responsabilidade social.

9. Fizemos reparações diretas a essas pessoas, sempre que possível, exceto


quando fazê-lo viesse a prejudicá-las ou a outras pessoas.
 Ansiedade (reconciliar);
 Restaura a balança da justiça;

Princípio: Reparação e Restituição.


108

10. Continuamos fazendo o inventário pessoal e, quando estávamos errados, nós


o admitíamos prontamente.
 Homem novo;
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 Auto-observação;
INPAVI – INTERVENÇÃO PARA VIVER

 Prática diária.

Princípio: Perseverança.

11. Procuramos, através da prece e da meditação, melhorar nosso contato


consciente com Deus, como nós O concebíamos, rogando apenas o
conhecimento de Sua vontade em relação a nós e a força para realizar essa
vontade.
 Orar e Meditar (prazer)
 Vive mais (cumprindo)
 Contato c/forças sublimes.

Princípio: Consciência Espiritual

12. Tendo experimentado um despertar espiritual graças a esses passos,


procuramos praticá-los em todas as nossas atividades.
 Exemplo vivo – Dar e Receber (grupo);
 Ser o futuro da raça – maneira de viver.

Princípio: AMOR.

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INPAVI – INTERVENÇÃO PARA VIVER

TRATAMENTO
Capítulo 4

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INPAVI – INTERVENÇÃO PARA VIVER

Tratamento
As primeiras abordagens terapêuticas para o tratamento da dependência
química os datam do século XIX, embora existam relatos de quadro de alcoolismo
de a antiguidade. Por isso, ainda hoje, são realizadas pesquisas que buscam avaliar
quais tratamentos realmente funcionam.
Os profissionais que trabalham com usuários de substâncias psicoativas
[SPA] precisam, inicialmente, conhecer os efeitos agudos e crônicos das drogas de
abuso, suas forma de uso, a prevalência, e os padrões de uso mais típicos.
Atualmente, considera-se que os indivíduos apresentam problemas com
drogas compõem grupos heterogêneos e necessitam de tratamentos diferentes.
Isso acontece porque a dependência química resulta da interação de vários
aspectos da vida das pessoas: biológico, psicológico e social. Desse modo, as
intervenções devem ser diferenciadas para cada individuo e deve consideram todas
as áreas envolvidas.
Assim, torna-se fácil entender porque existem tantos tipos de tratamento, mas
em todos eles devem ser considerados alguns fatores, como por exemplo, a
motivação para mudança.
Um modelo conhecido por ― estágio de mudança ‖, descrito primeiramente
por Prochascka Di Clemente [1983], tem sido bastante discutido entre os técnicos
que trabalham com dependência química [DQ]. Esse modelo propõe que os usuários
de SPA apresentam ―fase de motivação‖ para o tratamento, e proporcionam aos
profissionais um melhor entendimento de suas mudanças de comportamento, lapsos
e recaídas.
Os estágios de mudanças não são necessariamente seqüenciais, e os
indivíduos usualmente passam por eles várias vezes durante o tratamento, em
ordem aleatória. Na Tabela 1 encontra-se uma descrição sucinta de cada estágio e
algumas estratégias que podem ser aplicadas nos diferentes momentos,
acompanhe:

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INPAVI – INTERVENÇÃO PARA VIVER

TABELA 1
ESTÁGIO DESCRIÇÃO ABORDAGEM
PRÉ-CONTEMPLAÇÃO O individuo não percebe os Convidar o indivíduo a
prejuízos relacionados ao reflexão, evitar
uso de substâncias confrontação, remover
psicoativas. Segue com o barreiras ao tratamento.
uso e não pensa em parar
nos próximos 6 meses.
CONTEMPLAÇÃO O indivíduo percebe os Discutir os prós e contra do
problemas relacionado ao uso, desenvolver a
uso, mas não toma discrepância, levando a
nenhuma atitude em refletir: “ É possível atingir
direção à abstinência. os objetivos que busco na
Pensa em parar nos vida se continuar com o
próximos 6 meses. uso”.
PREPARAÇÃO Utiliza SPA, porém já fez Remover barreiras ao
uma tentativa de parar por tratamento, ajudar
24 horas, no ultimo ano. ativamente e demonstrar
Pensa entrar em interesse e apoio à atitude
abstinência nos próximos do individuo.
30 dias.
AÇÃO Conseguiu parar o uso Implementar o plano
completamente com uso terapêutico.
nos últimos 6 meses.
MANUTENÇÃO Está em abstinência há Colaborar na construção de
mais de 6 meses. um novo estilo de vida,
mais responsável e
autônomo.
RECAÍDA Retornou à utilização da Reavaliar o estágio
droga. motivacional do individuo.

DEFINIÇÕES DE OBJETIVOS DE UM TRATAMENTO PARA DEPENDÊNCIA


QUÍMICA
Os dependentes químicos nem percebem que possuem problemas
relacionados ao uso de substâncias. Assim o primeiro passo do tratamento é
alcançar um nível de participação e motivação suficiente para manter um tratamento
médio e longo prazo. Em seguida costuma-se propor três objetivos principais:
Abstinência, Melhora na qualidade de vida e prevenção da recaída.

ABSTINÊNCIA DO USO DE SUBSTÂNCIA PSICOÁTIVAS


O objetivo final da maioria dos tratamentos e o abandono do uso de SPA
[abstinência]. Os elementos necessários para alcançá-lo incluem a aquisição de
diferentes habilidades e comportamentos que permitam evitar seu consumo.
112

MELHORAR A QUALIDADE DE VIDA


Independente de o primeiro objetivo se alcançado, e dado o fato de nem
Página

sempre estarem presentes as condições psicológicas e sociais propicias ao atingi-lo


é de especial importância da melhora na qualidade de vida, mesmo que o uso de
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drogas não tenha sido interrompido. Para estes indivíduos deve ser reforçada a
adesão ao tratamento e deve ser proposta uma estratégia de redução de danos, que
permita diminuir as conseqüências negativas do consumo.
Fazem parte desta estratégia, entre outras, a prevenção e o tratamento de
doenças clínicas [como HIV, Hepatite e psíquicas como: depressão e psicose].

PREVENÇÃO DE RECAÍDA
Os indivíduos que aceitam a abstinência completa como meta devem ser
preparados para a possibilidade de recaídas. É importante que estejam cientes da
natureza crônica e reincidente da dependência química.

QUEM PRECISA DE TRATAMENTO


È necessário uma avaliação cuidadosa e ampla do individuo para responde
esta pergunta. Nesta avaliação, deve perguntar-se sobre as substâncias utilizadas, o
tipo de consumo de cada uma delas [se o uso é experimental, recreacional, abuso
ou dependência] tratamento anteriores, comorbidade clinica e psiquiátrica, história
familiar, perfil psicossocial. Quanto maior a gravidade do consumo, mais o individuo
necessita de tratamento. Indivíduos que apresentam padrões de consumo
recreacional e de abuso, em geral, se beneficiam de tratamento, sendo que nesses
casos apenas o aconselhamento pode ser suficiente.

AVALIANDO COMORBIDADE PSIQUIÁTRICA


O uso de drogas pode ser a causa e / ou conseqüência de sintomas
psiquiátricos. Quando a presença desses sintomas demonstra representar uma
doença independente – além do transtorno para o uso de substância, identifica-se
um sub grupos de indivíduos chamados de ― indivíduos com diagnóstico duplo ‖ ou ―
comorbidade ‖, ou seja, com mais de um diagnóstico psiquiátrico.
Indivíduos com comorbidades psiquiátricas e uso abusivo de SPA costumam
apresentar maiores dificuldades para aderir ao tratamento e, geralmente, não
respondem bem a abordagem terapêutica direcionada a apenas um dos transtornos.
Desse modo, é necessário combinar medicações e modificar as terapias
psicossociais, incluindo abordagens para ambos.

COMO ESCOLHER O TRATAMENTO


Antigamente, havia poucas opções disponíveis [ internação, grupo de auto –
ajuda e encaminhamento a especialistas] contudo pesquisas tem demonstrado que
tratamentos breves, conduzidos por não especialistas apresentam resultados
113

significativos e com baixo custo de maneira que essas técnicas vêm sendo
amplamente difundidas.
Página

As abordagens por não especialistas realizadas através de aconselhamento e


intervenções breves. Porém indivíduos com dificuldade de aderência ou pouca
INPAVI – INTERVENÇÃO PARA VIVER

melhora com o tratamento breve devem ser encaminhados a especialistas como


psiquiatras ou psicólogos.
Quando estiverem as seguintes características devem ser encaminhados aos
especialistas:
 Suspeita de outras doenças psiquiátricas.
 Não melhoram com os tratamentos anteriores.
 Tiveram múltiplas tentativas de abstinência sem sucesso.

Além disso, se o usuário é incapaz de as mínimas combinações, ou se eles


apresentam-se freqüentemente intoxicação, provavelmente apresenta um quadro
de dependência grave e necessita ser encaminhado para algum ambiente que
envolva mais estrutura e segurança para si e para os técnicos que o atendem, ou
seja, deve ser considerada a internação psiquiátrica. Outra indicação de internação
ocorre quando a agressividade do individuo implica riscos para sua física e para os
outros.

Quadro 1 – INDICAÇÕES DE INTERNAÇÃO


 Condições médicas ou psiquiátricas que requeiram observação constante
[estados psicóticos graves, idéias suicidas, ou homicidas, debilitação ou
abstinência grave].
 Complicações orgânicas devido ao uso ou cessação do uso da droga.
 Dificuldade para cessar o uso da drogas, apesar dos esforços terapêuticos.
 Ausência de adequado apoio psicossocial que possa facilitar o inicio da
abstinência.
 Necessidade de interromper uma situação externa que reforça o uso da
droga.

AS VÁRIAS FORMAS DE TRATAMENTO


O tipo de tratamento a escolher depende da gravidade do uso e dos recursos
disponíveis para o encaminhamento. A seguir, vamos descrever brevemente os
principais modelos de tratamento que vêm sendo utilizado em nosso meio e que são
cientificamente recomendados. Eles devem ser indicados conforme os critérios
previamente estabelecidos e muitas vezes se constituem em abordagens
complementares para um mesmo indivíduo, de modo que na devem ser vistos como
excludentes.

DESINTOXICAÇÃO
A desintoxicação pode ser realizada em três níveis com complexidade
crescente: tratamento ambulatorial, internação domiciliar e internação hospitalar.
114

Em qualquer nível, sempre que necessário, podem se utilizados


medicamentos para o alívio dos sintomas [benzodiazepínicos, antipsicóticos, entre
Página

outros].
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Os objetivos da desintoxicação são:


1. Alívio dos sintomas existentes;
2. Prevenção do agravamento do quadro [convulsões, por exemplo];
3. Vinculação e engajamento do indivíduo no tratamento.

GRUPOS DE AUTO AJUDA


É importante estar familiarizado com programas de auto – ajuda,
especialmente, o dos 12 passos empregados pelos Alcoólicos Anônimos [AA] e
Narcóticos Anônimos [NA]. Estes programas são muito populares, se segundo as
pesquisas, costuma ser bem sucedidos como programa de recuperação para os
transtornos pó uso abusivo de drogas. Ver capitulo 2.

COMUNIDADE TERAPÊUTICA
As comunidades terapêuticas e as fazendas para tratamento de dependentes
químicos disponíveis no nosso meio possuem as mais variadas orientações
teóricas, em geral, utilizam uma filosofia terapêutica baseada em disciplina, trabalho
e religião. Esse recurso deve ser reservado para indivíduos que necessitam de um
ambiente altamente estruturado e para aqueles com necessidade de controle
externo [nenhuma capacidade de manter abstinência sem auxilio]. Algumas
disponibilizam atendimento médico e devem ser preferidas quando houver a
possibilidade da indicação de uso de medicação por comorbidade ou por
dependência grave.

TRATAMENTO FARMACOLÓGICO
O tratamento farmacológico para a dependência química funciona com a
prescrição de medicamentos, por profissionais da área médica, tanto em
hospitalizações, para tratar sintomas de intoxicação e abstinência, quando no
tratamento ambulatorial.
As estratégias medicamentosas aceitas eficazes têm como finalidade:

Tratar sintomas da intoxicação:


1. Tratar sintomas de abstinência;
2. Substituir o efeito da substância [por exemplo, adesivo de nicotina no
tratamento do tabagismo.
3. Antagonizar os efeitos da droga [como naltrexone, no tratamento do
alcoolismo];
4. Causar aversão á droga [como o disssulfiram que pré provoca vermelhidão
facial, dor de cabeça, palpitação, enjôo e sensação de morte, quando o
115

individuo ingere álcool].


Página
INPAVI – INTERVENÇÃO PARA VIVER

TRATAMENTOS PSICOSSOCIAIS
Entre os vários tipos de tratamento, os psicossociais são os mais amplamente
utilizados. Costumam estar disponíveis em diversos níveis do sistema de saúde: m
postos de saúde, em Centros de Atenção Psicossocial – Álcool e Drogas [CAPS-ad],
e serviços terciários

ACONSELHAMENTO
É a intervenção psicossocial mais amplamente utilizada em dependência
química e contribui para uma evolução positiva do tratamento. Consiste,
fundamentalmente, de apoio, proporcionando estrutura, monitoramento,
acompanhamento da conduta e encorajamento da abstinência.
Proporciona, também, serviços ou tarefas concretas tais como
encaminhamento para emprego, serviços médico e auxilio com questões legais.

O aconselhamento deve ser individualizado, enfatizando o retorno da avaliação


realizada.
Pode ser mínimo [3 minutos], breve [3-10 minutos] ou intensivo [mais de 10
minutos]. Pode ser aplicado por qualquer profissional adequadamente treinado e
apresenta quatro fases:
1. A avaliação [identificação do problema];
2. Aconselhamento [estratégias motivacionais];
3. Assistência.
4. Acompanhamento.

INTERVENÇÃO BREVE
A Intervenção Breve é uma técnica mais estruturada que o aconselhamento.
Possui um formato claro e simples, e também pode ser utilizado por qualquer
profissional.
Quando tais intervenções são estruturadas em uma até quatro sessões
produzem um impacto igual ou maior que tratamentos mais extensivos para a
dependência de álcool. Terapias fundamentadas na entrevista motivacional
produzem bons resultado no tratamento e podem ser utilizadas na forma de
intervenções breves.
As intervenções breves utilizam técnicas comportamentais para alcançar a
abstinência ou a moderação do consumo. Ela começa pelo estabelecimento de uma
meta. Em seguida desenvolve-se a automonitoramento, identificação das situações
de risco e estratégias para evitar o retorno ao padrão de consumo problemático. O
espectro de problemas

AMBIENTES DE TRATAMENTO
116

• Rede primária de atendimento à saúde;



Página

Unidades comunitárias de álcool e drogas:


• Unidade ambulatorial especializada;
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• Comunidades terapêuticas;
• Grupos de auto-ajuda;
• Hospitais gerais;
• Hospital-dia;
• Moradia assistida;
• Hospitais psiquiátricos;
• Sistema judiciário;
• Empresas;

REDE PRIMÁRIA DE ATENDIMENTO: cada vez mais valorizada por acontecer as


intervenções breves efetivas na motivação para mudanças. Importante centro de
diagnóstico, motivador e terapêutico, contando com o apoio de um ambulatório
especializado.(no Brasil pouco apoio devido a falta de capacitação);

UNIDADES COMUNITÁRIAS DE ALC/DROGAS: alternativa ao trat. hospitalar e às


clínicas especializadas, com maior contato c/a comunidade. Estão mais próximas
das redes primárias e de saúde mental.
– UC do Jardim Ângela (1998 –UNIAD/UNIFESP);
– CUIDA (2000 – UNIAD/UNIFESP).

UNIDADE AMBULATORIAL ESPECIALIZADA: é um centro de trat. multidisciplinar


com profissionais capacitados para o diagnóstico e manejo de casos difíceis;
– CAPS – ad.

HOSPITAL GERAL: espaço destinado à motivação para o tratamento de indivíduos


que o procuram por complicações físicas relacionadas ao consumo de álcool, tabaco
e outras drogas.
– Enfermarias de desintoxicação = hospitais gerais;
– Duas semanas: farmacológico, psicoterapêutico e terapia
ocupacional , que podem levá-lo para um ambulatório ou
internação prolongada.

MORADIA ASSISTIDA E ALBERGUE COMUM: sua função é proporcionar um


ambiente estável e protegido para o DQ dedicar-se à procura de emprego, retorno
aos estudos ou à criação de seus filhos. Utiliza-se um programa (convívio,
gerenciamento do tempo e dinheiro, novas responsabilidades). Funciona como um
albergue/hotel com intervenção breve.
– Opção barata, melhor do ponto técnico, maior dignidade.

HOSPITAL PSIQUIÁTRICO: possui equipe organizada (especialmente em


segurança) para lidar c/pacientes com comorbidades graves, como quadros
esquizofreniformes, depressão maior e transtornos bipolares.

HOSPITAL-DIA: ambiente tradicional com várias abordagens. A frequência pode ser


117

intensiva (diária e integral), intermediária (algumas vezes, integral ou parcial) ou


―quase ambulatorial”. A equipe é multidisciplinar.
Página
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GRUPOS DE AUTO-AJUDA: importantes recursos e de pronto acesso a qualquer


um, com reuniões e dentro destas os 12 passos. O depoimento é o instrumento
terapêutico (técnica do espelho).

SISTEMA JUDICIÁRIO: contravenções penais= o juiz pode decidir enviar o


condenado para o tratamento. No Brasil = Justiça Terapêutica.
– Proposta em que a legislação seja cumprida
harmonicamente com medidas sociais e tratamento para o
usuário, com visão para a modificação de comportamentos
delituosos para socialmente adequados.

EMPRESAS: local de trabalho como serviço de prevenção e tratamento, adaptando


um programa de álcool e drogas que contempla a prevenção primária (não-
usuários), secundária (uso abusivo) e terciária (dependência).

COMUNIDADES TERAPÊUTICAS:
– surgiram em 1953 com observação do psiquiatra inglês
Maxwell Jones.
– 1960 – para álcool e drogas;
– No Brasil = ―fazendas ou sítios‖;
– Modelo de Minnesota, preceitos religiosos ou ambos;

118
Página
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PRINCÍPIOS DE TRATAMENTO DA DEPENDÊNCIA QUÍMICA


um guia baseado em pesquisa
NIDA – National Institute on Drug Abuse
NIH - National Institute of Health

PRINCIPIO 1 – Uma única forma de intervenção não é solução para todos os


indivíduos.
Combinar locais de tratamento, intervenções e serviços para cada indivíduo em
particular é indispensável para o sucesso final ao retornar para o funcionamento
produtivo na família, local de trabalho e sociedade.

PRINCIPIO 2 – O tratamento precisa estar prontamente disponível.


Paciente, freqüentemente, está ambivalente quanto ao tratamento, aproveitar o
momento da procura é fundamental.
Candidatos potenciais podem ser perdidos se o tratamento não estiver
imediatamente acessível.

PRINCIPIO 3 – Um tratamento eficaz é aquele que atende às diversas


necessidades do individuo e não apenas ao uso de drogas.
Para ser eficaz, um tratamento deve abordar o uso de drogas do indivíduo e
quaisquer outros problemas associados: médico, psicológico, social, vocacional e
legal.

PRINCIPIO 4 – O plano de tratamento de um individuo deve ser continuamente


avaliado e modificado quando necessário para garantir que atenda às
necessidades progressivas da pessoa.
Além de aconselhamento ou psicoterapia, um paciente às vezes pode requerer
medicação, outros serviços médicos, terapia familiar, instruções aos pais,
reabilitação vocacional, serviços legais e sociais.
É fundamental que a abordagem do tratamento seja apropriada à idade, gênero,
etnia e cultura do indivíduo.

PRINCIPIO 5 – A permanência no tratamento por um período adequado de


tempo é essencial para sua eficácia.
A duração depende dos seus problemas e necessidades.
Pesquisas indicam que para a maioria dos pacientes o limiar de melhoria
significativa é alcançada com 3 meses de tratamento.
Após alcançar esse limiar um tratamento adicional pode produzir mais progresso
rumo à recuperação.
119

Devido ao fato de as pessoas com freqüência deixarem o tratamento


prematuramente (abandono) os programas devem incluir estratégias para envolver e
Página

manter os pacientes.
INPAVI – INTERVENÇÃO PARA VIVER

PRINCIPIO 6 – Aconselhamento individual e/ou em grupo e outras terapias


comportamentais são componentes cruciais para um tratamento eficaz.
Em terapia os pacientes mencionam temas como motivação, aquisição de
habilidades para resistir ao uso de drogas, substituição de atividades que não
impliquem em uso de drogas e melhoria de habilidades para resolver problemas.
A terapia comportamental também facilita relações interpessoais e a habilidade do
indivíduo para atuar em família e na comunidade.

PRINCIPIO 7 – Medicações são um elemento importante no tratamento de


vários pacientes, especialmente quando combinados com aconselhamento e
outras terapias comportamentais.
Naltrexona é uma medicação eficaz para alguns pacientes com dependência de
álcool.
Para pessoas dependentes de nicotina, um produto de substituição da nicotina (tais
como adesivos ou gomas) ou uma medicação oral (bupropiona) pode ser um
componente eficaz no tratamento.
Para pacientes com distúrbios mentais, tanto os tratamentos comportamentais
quanto os medicamentos podem ser de fundamental importância.

PRINCIPIO 8 – Indivíduos com transtornos mentais também dependentes de


drogas devem set tratados de maneira integrada de ambos os problemas.
Pelo fato de distúrbios mentais e de dependência freqüentemente ocorrerem no
mesmo indivíduo, os pacientes que apresentarem ambas as condições devem ser
avaliados e tratados pela recorrência de outro tipo de distúrbio.

PRINCIPIO 9 – A desintoxicação é apenas o primeiro estágio do tratamento e


por si mesma contribui pouco para mudança a longo prazo do uso de drogas.
A desintoxicação seguramente trata os sintomas físicos agudos de abstinência
associados à interrupção de uso de droga.
Enquanto a desintoxicação sozinha é raramente suficiente para atingir a abstinência
por longos períodos
Para alguns indivíduos, a desintoxicação atua como um precursor altamente
indicado em tratamento eficaz das drogas.

PRINCIPIO 10 – O tratamento não precisa ser voluntário para ser eficaz.


Uma forte motivação pode facilitar o processo do tratamento.
Sanções (ou carinho) da família, do empregador ou do sistema judiciário podem
aumentar significativamente tanto a entrada no tratamento quanto índices de
retenção e o sucesso de intervenções no tratamento de droga.
Pode-se inclusive recorrer a internações involuntárias para forçar o paciente a se
tratar. Para isso é necessário uma indicação médica precisa.
120

PRINCIPIO 11 – O possível uso de droga durante o tratamento deve ser


Página

monitorado continuamente.
Lapsos de uso de drogas podem ocorrer durante o tratamento.
INPAVI – INTERVENÇÃO PARA VIVER

O objetivo do monitoramento ao uso de álcool e outras drogas de um paciente


durante o tratamento, tal como através de exames de urina ou outros, pode ajudar o
paciente a resistir ao uso de drogas.

Tal monitoramento também pode proporcionar evidência prévia de uso de droga a


fim de que o plano de tratamento do indivíduo possa ser ajustado.
Feedback a pacientes que apresentarem resultado positivo quanto ao uso de droga
é um elemento importante de monitoramento.

PRINCIPIO 12 – Programas de tratamento devem avaliar AIDS / HIV / Hepatite B,


e C / Tuberculose e outras doenças infecciosas e ajudar os pacientes a
modificar comportamentos de risco para infecções.
O aconselhamento pode ajudar pacientes a evitarem comportamento de risco. Pode
também ajudar pessoas que já estejam infectadas a lidarem com sua doença.
O aconselhamento pode ajudar pacientes a evitarem comportamento de risco. Pode
também ajudar pessoas que já estejam infectadas a lidarem com sua doença.

PRINCIPIO 13 – A recuperação da dependência química pode ser um processo


a longo prazo e freqüentemente requer vários episódios de tratamento.
Tal como outras doenças crônicas, recorrências ao uso de drogas podem acontecer
durante ou após episódios de tratamento bem sucedidos.
Os indivíduos podem requerer tratamento prolongado e vários episódios de
tratamento para atingir abstinência a longo prazo e restaurar pleno funcionamento.
A participação em programas de apoio, de auto-ajuda, durante o tratamento é
sempre útil na manutenção da abstinência.

121
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INPAVI – INTERVENÇÃO PARA VIVER

ENTREVISTA MOTIVACIONAL
Capítulo 5

122
Página
INPAVI – INTERVENÇÃO PARA VIVER

ENTREVISTA MOTIVACIONAL – [ EM ]

Motivação
 É um processo mental positivo que estimula a iniciativa.
 É quando se tem um motivo para agir.
 Significa ter um desejo por trás da suas ações.

Origem da Motivação
 Externa – pressões, ações coercitivas.
 Interna – motivação que vem da própria pessoa.

A EM tem como objetivo primordial tratar as pessoas desmotivadas,


despreparadas e desencorajadas para mudar de comportamento.

A EM é uma abordagem criada para auxiliar o sujeito a reconhecer que seus


problemas atuais e potenciais quando há duvidas quanto à mudança
comportamental e estimular o comportamento para a realização dessa mudança por
meio de abordagem psicoterápica persuasiva e encorajadora.

A EM foi desenvolvida por William Muller e colaboradores, e postula que a


motivação dos indivíduos para uma mudança de comportamento pode ser
modificada através de estratégias específicas. A técnica de EM constitui-se de um
estilo que evita o confronto direto e promove o questionamento e o aconselhamento,
visando a estimular a mudança de comportamento. Ela prioriza a autonomia do
individuo em tomar decisões e é baseada em cinco princípios básicos:

1. Expressar empatia – escutar respeitosamente o individuo, tentando


compreender o seu ponto de vista, ainda que não concordando
necessariamente com ele.
2. Desenvolver discrepância – conduzir o usuário a visualizar os seus
objetivos de vida, contratando com o seu comportamento atual, para pode
123

criar uma percepção de incompatibilidade entre os atos e os seus objetivos.


3. Evitar discussões – evitar discussões e confrontações diretas, promovendo
reflexões com eventuais aconselhamento sobre o tema em questão.
Página
INPAVI – INTERVENÇÃO PARA VIVER

4. Fluir com a resistência – não se deve impor novas visões ou metas, mas
convidar o individuo a vislumbrar novas perspectivas que lhe são oferecidas.
5. Estimular a auto - eficácia – a auto- eficácia e a crença do próprio individuo
na sua habilidade de executar uma tarefa ou resolver um problema e deve
sempre ser estimulada.

A motivação caracteriza-se como processo dinâmico segundo o modelo


transteórico, desenvolvido por Prochasca e Di Clement (1983). Este modelo
descreve os estágios de mudança comportamental por meio dos quais o indivíduo
"transita" de forma não linear; estes estágios são conhecidos:

Manutenção

Ação

Preparação
Ação

Recaída

Pré Contemplação Preparação

Pré Contemplação
A EM consiste em 5 estágios:
1. Pré – contemplação
2. Contemplação
3. Preparação
4. Ação
5. Manutenção

1 – Pré – contemplação – A entrada para o processo de mudança é o estágio de


'Pré-contemplação', onde a pessoa ainda não está considerando a mudança. De
um modo geral, a pessoa neste estágio sequer encara o seu comportamento como
um problema, podendo ser chamado 'resistente' ou 'em negação'.
 Consiste na entrada da pessoa para o processo de mudança.
 A pessoa não encara seus comportamentos um problema.
124

 Estágio pode ser entendido como ― resistente ― ou ―em negação ―.

2 – Contemplação – Quando alguma consciência sobre o problema aparece, a


Página

pessoa entra no estágio seguinte de 'Contemplação'. O contemplador considera a


INPAVI – INTERVENÇÃO PARA VIVER

mudança mas ao mesmo tempo a rejeita e é nesta fase que a ambivalência,


estando no seu ápice, deve ser trabalhada para possibilitar um movimento rumo à
decisão de mudar.
 Surge a consciência sobre o problema.
 O contemplador considera a mudança mas ao mesmo tempo a rejeita.
 Nesta fase a ambivalência [dúvida] está no seu ápice. Trabalhada a
ambivalência.
 Estágio onde é feito o trabalho rumo à decisão de mudar.

3 – Preparação – Uma vez trabalhada a ambivalência, a pessoa pode passar para o


estágio de 'Preparação', onde ela está pronta para mudar e compromissada com a
mudança. Faz parte deste estágio, aumentar a responsabilidade pela mudança e
elaborar um plano específico de ação.
 A pessoa está pronta para mudar.
 Ela esta compromissada com a mudança.
 Aumenta na pessoa a responsabilidade pela mudança.
 Elaboração de um plano específico de ação.

4 – Ação – O estágio seguinte é o de 'Ação', onde o cliente já muda e usa a terapia


como um meio de assegurar-se do seu plano, para ganhar auto-eficácia e finalmente
para criar condições externas para a mudança.
 O processo todo pode durar de 3 a 6 meses, já que o novo comportamento [o
de abstinência geralmente] demora um tempo para se estabelecer.
 Auto – eficácia é a crença na habilidade pessoal de desempenhar com
sucesso determinadas tarefas ou de apresentar determinados
comportamentos para produzir um resultado desejável.

5 – Manutenção – O grande teste para comprovar-se a efetividade da mudança,


seria a estabilidade neste novo estado por anos.
 Momentos para comprovar-se a efetividade da mudança.
 Verificar a estabilidade da mudança.

6 – A recaída – Consiste na recorrência dos sintomas da dependência após um


período de melhora.
A recaída seria um retorno a níveis anteriores de uso, seguido de uma
tentativa de parar ou diminuir este uso, ou apenas o fracasso de atingir objetivos
estabelecidos por um individuo após um período definido de tempo.
Porém, deve-se ter em conta que, uma vez atingida alguma mudança, não
significa que a pessoa se manterá neste estágio: muitas pessoas acabam recaindo e
tendo que recomeçar o processo novamente. Nem sempre este recomeço ocorre
pelo estágio inicial. Muitas pessoas passam inúmeras vezes pelas diferentes etapas
125

do processo para chegar ao término, isto é, uma mudança mais duradoura. Daí, os
autores passarem a ilustrar o processo de mudança como uma espiral, que
pressupõe movimento.
Página
INPAVI – INTERVENÇÃO PARA VIVER

A recaída é um aspecto essencial a ser entendido quando se fala em


mudança de hábito nas dependências. Em termos médicos, recaída seria a
'recorrência dos sintomas da doença, após um período de melhora'. Adaptando este
conceito às dependências, a recaída seria então 'um retomo a níveis anteriores de
uso, seguido de uma tentativa de parar ou diminuir este uso, ou apenas 'o fracasso
de atingir objetivos estabelecidos por um indivíduo a pós um período definido de
tempo'.
Pesquisadores enfatizam que a utilização da EM em indivíduos com
problemas decorrentes do uso de substâncias é tão importante quanto outras
técnicas na mobilização destes pacientes para o tratamento. Entretanto, determinar
a fidelidade do construto denominado EM é difícil devido a três fatores:

1. A adoção da EM avançou a partir de uma base teórica limitada. Isto dificultou


a determinação e compreensão dos ingredientes e processos eficazes da EM;
2. Houve um atraso no desenvolvimento de instrumentos confiáveis para
avaliação dos métodos e resultados de treinamento e supervisão nesta
modalidade;
3. Muitos pesquisas falham em dar detalhes necessários para determinar a
qualidade do tratamento, assim como não explicitam os princípios e técnicas
utilizadas.

Desta forma, está faltando uma compreensão teórica da entrevista


motivacional, em parte porque a maioria das pesquisas foca na eficácia da
avaliação, negligenciando o fornecimento das perguntas envolvidas nos processos
afetados pela intervenção. Mesmo quando a EM está associada com resultados
satisfatórios no tratamento, há pouca avaliação a respeito de seu impacto nas
variáveis motivacionais.

Os pesquisadores reconhecem esta limitação referindo a impossibilidade de


conclusões sobre como e porque a entrevista motivacional tem uma influência, e
sobre quais dos vários componentes foram importantes e porquê.

A EM engloba técnicas de várias abordagens, tais como psicoterapias breves,


terapia cognitiva, terapia sistêmica e até psicologia social de persuasão. Uma
sessão de EM se parece com uma sessão de terapia centrada no paciente
desenvolvida por C. Rogers. Nessa abordagem, o papel do terapeuta é não diretivo,
isto é, ao invés de propor soluções ou sugestões para o cliente, oferece condições
de crítica que propiciem ao cliente o espaço para uma mudança natural. Busca-se
razões para mudança no paciente ao invés de impor ou tentar persuadi-lo sobre a
mudança. Entre as condições essenciais para que esta técnica funcione a principal é
a empatia, que Rogers definiu como urna 'escuta técnica reflexiva' que clarifique e
126

amplie a experiência pessoal do cliente, sem impor a opinião pessoal do terapeuta .


Isto é, nesta abordagem, o terapeuta não assume o papel de 'expert', a relação
Página

terapeuta-cliente é mais de troca, visando a autonomia, liberdade de escolha do


cliente e sua eficácia. Apesar da confrontação ser um objetivo implícito da EM,
INPAVI – INTERVENÇÃO PARA VIVER

confrontação direta, imediata e persuasão, são explicitamente evitadas já que estas


geralmente aumentam a resistência e reduzem a probabilidade de mudança. Ao
mesmo tempo, há um componente diretivo, já que o terapeuta mantém sempre um
propósito e uma direção (que é auxiliar o cliente a lidar com sua ambivalência e
consequentemente possibilitar mudança) e, muitas vezes, escolhe ativamente o
momento certo de intervir, de modo a facilitar.

A EM baseia-se em 2 conceitos. O primeiro é o de ambivalência, que, neste


contexto, não significa apenas a relutância a fazer algo mas sim, a experiência de
um conflito psicológico para decidir entre dois caminhos diferentes. Ambivalência
quanto à mudança de comportamento é difícil de resolver porque cada lado do
conflito tem seus benefícios e seus custos. Por ser a EM uma técnica desenvolvida
para lidar com a dependência, tem-se como uma das suas metas principais a
constatação e a resolução da ambivalência.

O segundo conceito é o de prontidão para a mudança, baseada no modelo de


'Estágios de mudança', desenvolvido por Prochaska e DiClemente. Tendo como
base o conceito de motivação como um estado de prontidão ou vontade de mudar,
esse modelo acredita que a mudança se faz através de um processo e para tal, a
pessoa passa por diferentes estágios descritos anteriormente.

8 ESTRATÉGIAS DE MOTIVAÇÃO

1. Oferecer ORIENTAÇÃO – Não dê conselhos;


2. Remova BARREIRAS – Mostrar as barreiras;
3. Proporcionar ESCOLHAS – Mostrar a saída, perceber que há escolhas;
4. Diminuir o aspecto DESEJÁVEL do comportamento – ―Gosto de usar droga‖
– diminuir este lado bom;
5. Praticar a EMPATIA ;
6. Proporcional FEEDBACK;
7. Esclarecer OBJETIVOS – porque você esta aqui, deixar claro;
8. AJUDAR ativamente – Agindo, falando, orientando, informando.

12 BARREIRAS

1. Ordenar, dirigir, comandar;


2. Advertir ou ameaçar;
3. Aconselhar, fazer sugestões ou oferecer soluções;
4. Persuadir com lógicas, argumentar as situações que o DQ esta vivendo;
5. Pregar, dizer o que deve fazer;
127

6. Discordar, julgar, criticar ou culpar;


7. Concordar, elogiar, aprovar a situação que esta vivendo;
Página

8. Envergonhar, rotular, ridicularizar;


9. Interpretar ou analisar;
INPAVI – INTERVENÇÃO PARA VIVER

10. Consolar;
11. Questionar ou interrogar;
12. Retrair, mudar de assunto, distrair.

RESISTÊNCIA

• Meta importante da EM é evitar fortalecer a resistência.


• Quanto mais a pessoa resiste, menos provável que mude.
• A resistência alta, esta associada a abandono de tratamento.
• As pesquisas indicam, que o grau em que as pessoas ―resistem‖ é fortemente
influenciado pelo estilo do terapeuta.
• A resistência é influenciada pelo terapeuta.
• Se houver resistência, mude de estratégia.

ESTRATÉGIAS PARA LIDAR COM A RESISTÊNCIA

REFLEXÕES SIMPLES – Escuta reflexiva, reconhecimento da discordância,


da emoção ou da percepção da pessoa, permite mais exploração, em vez de
atitudes de defesa, evitando assim, armadilhas do confronto – negação.

Escuta reflexiva – é uma maneira de verificar, em vez de pressupor que você sabe
o que o outro quis dizer.

REFLEXÃO AMPLIADA – refletir sobre o que foi dito de forma exagerada ou


amplifica, sem tom sarcástico ou uma afirmação extrema demais para não eliciar
uma reação hostil ou resistente. Ênfase no que a pessoa esta falando.

REFLEXÃO DUPLA – Reconhecer que a pessoas disse e acrescentar o outro


lado de sua ambivalência.
Refletindo e acrescentando algo.

MUDANÇA DE FOCO – Deslocar a atenção da pessoa daquilo que parece


ser um obstáculo no caminho do progresso.

CONCORDÂNCIA COM ALGO MAIS – Oferecer uma concordância inicial,


mas com uma ligeira mudança de direção.
―Concordo com você, mas . . .‖

ÊNFASE NO CONTROLE E NA ESCOLHA PESSOAL – Tranquilizar a


128

pessoa quanto ao que certamente é a verdade: que, no fim das contas, é a pessoa
quem, determina o que acontece.
Página
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REFORMULAÇÃO – Reformular as informações que a pessoa esta


oferecendo.

ESTRATÉGIAS INICIAIS

1. Faça perguntas abertas


2. Escutar reflexivamente
3. Encorajar
4. Resumir
5. Eliciar afirmações auto motivacionais

As 4 primeiras são fundamentais. É necessário ter uma estratégia orientadora


para ajudar as pessoas a resolverem sua ambivalência, objetivo básico da 5ª.

Na EM, é a pessoa quem apresenta os argumentos para a MUDANÇA. A


nossa tarefa é facilitar a expressão auto motivacional.

AFIRMAÇÕES AUTO MOTIVACIONAIS

 Reconhecimento do problema – ―De que maneira isto tem sido um problema


para você‖.
 Expressão de preocupação quanto aos problemas [ás vezes, lágrimas,
suspiros, gestos, expressões faciais] – ―O quanto isso lhe preocupa?‖
 Intenção de mudar [direta ou implícita] – ―Posso ver que você esta confuso
neste momento. O que vai ter que mudar?‖
 Otimismo em relação a mudança. – ―O que acha que funcionaria para você,
se decidisse mudar?‖

BALANÇA DECISÓRIA

A noção é de que a motivação para a mudança ocorre quando os custos


percebidos de um comportamento começam a pesar mais que seus benefícios.

Caso – Um fotógrafo de 38 anos que buscou tratamento por causa da bebida. Ele
nunca havia procurado ajuda devido a problemas com álcool antes e estava no início
do estágio contemplação. Ele não tinha certeza de que precisava de ajuda ou de
uma mudança, mas dois eventos precipitaram sua vida. O 1º foi um check-up com o
seu médico, devido a dores de estômago. O 2º foi que, ao discutir o
129

encaminhamento do médico a um especialista, com sua esposa, ela expressou sua


preocupação de que ele estivesse perdendo o controle sobre o consumo de álcool.
Página
INPAVI – INTERVENÇÃO PARA VIVER

BALANÇA DECISÓRIA

Continuar a beber como antes Mudar um hábito de beber


BENEFÍCIOS CUSTOS BENEFÍCIOS CUSTOS
Me ajuda a relaxar Posso perder meu Casamento mais feliz. O que fazer quanto
casamento. aos amigos
Eu gosto de ficar alto. Meu exemplo para as Mais tempo para a Não terei um meio de
crianças. família. relaxar.
Danos a minha saúde. Sentir-me melhor.
Gasto dinheiro Ajuda com os
demais. problemas financeiros.
Danos a meu cérebro.
Posso perder meu
emprego.
Desperdício de tempo
/ vida.

CONTRATES ENTRE O CONFRONTO DE NEGAÇÃO E A EM


Abordagens do confronto de negação Abordagens da Entrevista Motivacional
Forte ênfase na aceitação de existência de um problema, Não há ênfase em rótulos: a aceitação do ―DQ‖ é vista como
aceitação do diagnóstico, vista como essencial para a desnecessária para que ocorra a mudança.
mudança.
Ênfase na patologia da personalidade que reduz a escolha, o Ênfase na escolha pessoal e na responsabilidade pela
julgamento e o controle pessoal. decisão quanto ao comportamento futuro.
O terapeuta apresenta as evidências percebidas dos O terapeuta conduz avaliações objetivas, mas concentra-se
problemas para tentar convencer a pessoa a aceitar o em eliciar preocupações da pessoa.
diagnóstico.
A resistência é vista como ―negação‖, um traço que ser A resistência é vista como um padrão de comportamento
confrontado. interpessoal, influenciado pelo comportamento do terapeuta.
A resistência é tratada com argumentação e correção. A resistência é tratada com reflexão.
As metas de tratamento e as estratégias de mudança são As metas de tratamento e as estratégias de mudança são
prescritas para a pessoa pelo terapeuta; a pessoa é vista negociadas entre a pessoa e o terapeuta, baseadas em
como incapaz de tomar decisões firmes devido a negação‖. dados e aceitabilidade; o envolvimento do paciente e sua
aceitação das metas são vistas como vitais.

― Quando as pessoas que ser modificam sozinhas são indagadas sobre porque e
como o fizeram, elas geralmente respondem que simplesmente tomaram uma
decisão.

Algo aconteceu dentro delas instaurando uma mudança.‖ 130


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INPAVI – INTERVENÇÃO PARA VIVER

DEPENDÊNCIA QUÍMICA E FAMÍLIA


CAPÍTULO 6

131
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INPAVI – INTERVENÇÃO PARA VIVER

Co-dependência - Família

Ainda há muita desinformação sobre o que é co-dependência e as


dificuldades que essa síndrome emocional causa na vida dessas pessoas que estão
sempre em busca, muitas vezes de forma perversa e autodestrutiva, de preencher o
terrível vazio emocional das suas vidas.

É muito comum ligar a co-dependência as famílias que tem dependentes de


álcool ou drogas, o que dificulta muitas vezes o diagnóstico e o tratamento, já que a
co-dependência não se limita somente aos familiares de dependentes químicos.

Com uma baixa auto-estima, os co-dependentes vivem em função dos outros


a quem querem controlarem, mandarem e fazerem um ―jogo‖ onde o poder de
dominar é a essencial. Esse domínio, a luta para tê-lo ou não é vital para o co-
dependente. Tudo isso para buscar reconhecimento, para compensar uma falta de
amor próprio.

Emocionalmente dependentes dos outros, não conhecem a sua realidade,


não conseguem estabelecer os seus limites e perdem totalmente a sua identidade,
já que passam a viver a vida do outro a quem querem controlar, desde a maneira
como tem que conduzir a sua vida, os seus pensamentos e até os seus
comportamentos. Essa marcação ―cerrada‖ sobre o outro sempre causa
desentendimento e mal-estar. O co-dependente acredita que é responsável pela
felicidade e necessidade dos outros.

Vive uma vida de ilusão, de sofrimento, de ansiedade e de angústia. Nada


está bom para ele e por mais que conquiste, sempre tem a sensação de um vazio,
que está faltando alguma coisa na sua vida. Essa falta é uma das suas
características em uma vida pontuada de extremos. Uma hora é o grande salvador,
disposto a resolver os problemas dos outros, a ajudar e como carece de limites,
constantemente está invadindo o outro com as suas orientações e conselhos que na
verdade passam a ser imposições. No outro extremo é a grande vítima quando as
coisas não saem como queria.

Desconhece os seus sentimentos, se sacrifica pelo outro, sempre dizendo


não para si mesmo, tenta controlar a vida do outro, na qual não tem poder para isso
e deixa de controlar a sua própria vida. Se sentem mal quando percebem a
impotência de controlar ou mudar uma pessoa, um sentimento de fracasso toma
conta de si. Tem muito medo de ficar sozinho, da rejeição, do abandono e lança mão
de tudo, de uma maneira distorcida e inadequada para que isso não venha
acontecer.
132

Quer que as coisas se resolvam e sejam da sua maneira e não percebe que
muitas vezes os seus desejos e até os seus sonhos não são seus, mas da outra
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pessoa a quem está tentando controlar. A realidade é tão distorcida que dentro da
INPAVI – INTERVENÇÃO PARA VIVER

sua ilusão acredita que a sua felicidade depende dos outros. Passa a ser um
escravo, emocionalmente falando, das outras pessoas.

Tem dificuldade para se relacionar consigo mesmo, com os outros e até com
Deus, a quem dá uma conotação humana devido aos abusos emocionais sofridos.

Doença gerada na família de origem que era disfuncional, o co-dependente


carrega consigo sentimentos de culpa, medo, insegurança, raiva, frustração,
vergonha e desenvolve comportamentos compulsivos em relação ao sexo, a
alimentação, ao trabalho, ao dinheiro (fazendo gastos excessivos), ao álcool ou
outras drogas em uma tentativa de controlar os seus sentimentos interiores. Tudo
em vão.

O co-dependente não pode ver uma pessoa com problemas que lá está ele
pronto para resolvê-los, no fundo, não para buscar uma solução para o outro, mas
para si mesmo como uma recompensa. Desdobra-se nessa ajuda (tudo pelo
reconhecimento), mas com certeza irá cobrar depois, e que cobrança, como se o
outro tivesse a obrigação de retribuir, mas do seu modo e da sua maneira.

Quando há envolvimento com um dependente químico, as coisas se


complicam.

Se compararmos a co-dependência com a dependência química vai perceber


a semelhança entre elas. As duas são doenças de negação. Sintomas como a raiva,
angústia, depressão e desespero, são os mesmos.

O dependente químico luta para tentar controlar a droga e o co-dependente


para controlar o dependente químico e em ambos o resultado é o fracasso, portanto
a progressividade tanto da co-dependência como da dependência química
caminham lado a lado.

A negação é o grande obstáculo para um tratamento em qualquer uma das


duas. É difícil para um co-dependente reconhecer que precisa mudar o seu modo de
vida. Do mesmo modo, um dependente químico é resistente a mudanças. Tanto o
co-dependente como o dependente químico só irá administrar com mais qualidade
as suas vidas, quando admitirem o sofrimento que a doença provoca. Antes disso,
não vão perceber o grau de destruição das suas vidas.

O que precisa ser ressaltado é que a co-dependência pode sim ser o início
para que a pessoa desenvolva a dependência por drogas. Devido às compulsões
que domina o co-dependente que as usam para aliviar as suas dores emocionais, o
risco do uso do álcool ou de outras drogas é muito grande.
133

Por isso é necessário que o adicto não só trate da sua adicção, mas também
Página

da sua co-dependência.
INPAVI – INTERVENÇÃO PARA VIVER

Além disso, problemas clínicos podem ser sintomas da co-dependência que


se não for tratada de modo adequado vai passando de geração para geração.

É fundamental que além do dependente químico estar em tratamento, os seus


familiares também se tratam da sua co-dependência.

Como já foi exposto, os relacionamentos são extremamente afetados sob o


impacto da co-dependência. Mas é necessário ainda acrescentar que mensagens
enraizadas lá na infância podem muitas vezes interferirem no relacionamento de um
casal e destruir casamentos. A ―imperiosa‖ necessidade de fazer o outro feliz acaba
sufocando a relação onde à identidade de um ou do outro não é respeitada.

Muitas vezes no seu círculo social, o co-dependente tem uma relação


conflituosa. É comum ouvirmos as queixas de que ―não estão respeitando os meus
sentimentos‖ ou ―estão me explorando‖ porque na verdade o co-dependente se liga
ao outro de uma forma errada, distorcida, tentando impor o seu comando,
desrespeitando limites, manipulando e como se isso fosse possível, ditar as regras e
normas que a outra pessoa deve seguir na vida.

Muitas vezes falam e fazem o que não querem só para agradar os outros, se
anulando com isso.

Outro ponto que precisa ser trabalhado é o preconceito que acompanha a co-
dependência. A pessoa deixa de ir a uma terapia, a um grupo, a cuidar de si porque
―a ligam‖ com dependência química (drogas).

Uma pergunta muito comum que se ouve no início do tratamento é se tem


cura.

Falar em ―cura‖ em co-dependência como se tomasse uma pílula e a vida


mudasse sem nenhuma interferência da própria pessoa, não existe.

Curar em co-dependência significa reconhecer, admitir e aceitar a doença e a


partir daí iniciar as mudanças no modo de viver, dar qualidade à vida, vivenciar a
realidade e não insistir em uma existência baseada na ilusão, passar a controlar o
que se pode controlar que é a própria vida, viver uma relação funcional, buscar o
equilíbrio físico, emocional e espiritual, a auto-estima, o amor próprio e com isso
melhorar o relacionamento com os outros e consigo mesmo.

Em co-dependência, “curar” significa viver a vida, descobrir o seu sentido e


amá-la.
134

Conhecer e compreender os papéis de cada um


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INPAVI – INTERVENÇÃO PARA VIVER

O meio familiar é um elemento importante da doença, porque os diferentes


papéis de cada membro pode influenciar de maneira determinante a evolução da
doença.

Por à pessoa dependente e/ou para tornar a sua vida mais suportável, os
familiares adotam comportamentos que na maioria das vezes mantêm o problema e
por vezes até o acentuam.

Logo que se toma consciência do papel que cada um desempenha no


mecanismo de dependência, os familiares podem então reagir, modificar as suas
atitudes e distanciarem-se. Neste sentido, a família terá a possibilidade de influenciar
positivamente a evolução da dependência.

Como reage a família – A maneira de viver do dependente químico afeta a si


próprio e á sua família. As tensões e a insegurança ocasionadas pelo seu
comportamento, influenciam todos e deterioram o ambiente familiar.

Dúvidas , desconfianças – Muitos membros da família desconfiam do doente. Isto


leva a numerosos confrontos e conflitos. Estas desconfianças permanentes são
desmoralizadoras.

Insegurança – Os dependentes químicos são frequentemente negligentes no que


diz respeito ás responsabilidades familiares e sentimentos para com a família. O seu
comportamento põe também em risco, o emprego e a economia familiar. Este fato é
causa de grande insegurança.

Medo – Uma família que luta com dificuldades imprevisíveis, vive um clima de stress
e de medo. Medo que o dependente químico regresse á noite, de novo embriagado,
usado, arriscando-se a um acidente de condução ou irritado e violento. Medo de que
a família se divida.

Sentimentos de culpa – A família sente-se por vezes responsável pela


dependência. Cada um pensa secretamente que ―se eu fosse simpático, mais calmo
para com ele, ele beberia / usaria seguramente menos...‖

Desilusão – As pessoas dependentes não são capazes de cumprirem as suas


promessas. Assim, também a família não se ilude, não esperando outra coisa do
doente.

Solidão, isolamento – A lei do silêncio impõe á família não se pronunciar em


conjunto, acerca do problema das drogas. A comunicação fica perturbada e cada um
135

fica sozinho face ás suas angústias.


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Vergonha – O sentimento de vergonha leva a família a evitar os lugares onde


possam ser vistos com o familiar dependente, este pode, de fato, ter um
INPAVI – INTERVENÇÃO PARA VIVER

comportamento vexante sempre que bebe ou faz uso, o que perturba profundamente
a sua família. Esta vergonha vai também impedir a procura de ajuda no exterior.

Cólera , rancor – Os dependentes exigem demasiado das suas famílias: paciência,


coragem e persistência. A cólera, a frustração e rancor aparecem. A unidade da
família está em perigo.

Sofrimento, dor – É particularmente doloroso para os familiares, ver quem amam,


modificar-se por causa das drogas. Mais ainda, se os esforços para o ajudarem, as
conversas havidas não tiverem qualquer efeito, levando ao afastamento.

Que papel cabe a cada um?


A dependência desenvolve-se de forma dissimulada. Os familiares adotam
muitas vezes papéis que acentuam, ainda que involuntariamente este fenómeno.

Estes papéis são muitas vezes uma adaptação inconsciente da família a uma
situação demasiadamente pesada. Eles trazem todos, benefícios a curto prazo. Mas
a longo prazo, prolongam e reforçam os comportamentos de dependência, é por isso
que é importante reconhecer estes papéis, a fim de poder ultrapassar. O sistema
familiar pode assim reencontrar, com muita paciência e persistência, a sua
serenidade.

Os papéis mais observados na família onde há problemas ligados a


drogadição, estão descritos abaixo, no masculino, mas tanto podem ser adotados
por homens como por mulheres.

Procurar ajuda / Fora do meio familiar / A drogadição é ultrapassável:

Cada pessoa pode modificar alguma coisa na sua própria vida para não sofrer
todas as consequências desta doença.

Os membros de uma família comparados com o problema devem primeiro


aprender a libertar-se da pressão em que vivem e tornarem-se independentes do
dependente, pois ao tornarem-se independentes os membros da família preparam-
se para ajudar de uma forma mais efetiva.

Assim, o processo de ajuda não começa por proibir ou impedir, mas pela
tomada de consciência do poder que as drogas representa sobre o seu próprio
comportamento e pela necessária libertação.

O passo não é fácil de dar, por isso necessitam de um suporte e de uma


136

ajuda, que deve ser procurada fora da família.


Página

O distanciamento fará a mudança possível, mas ela não implica que se retire
o afeto à pessoa dependente.
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Existem numerosos organismos de aconselhamento e grupos de auto-ajuda


que podem acompanhar o dependente químico da família, pois sair da dependência
uma mudança de maneira de pensar e de agir.

Onde encontrar ajuda e orientação?


Um primeiro passo importante, consiste em procurar ajuda fora do sistema
familiar. A família tem necessidade de ajuda por parte de pessoas que conhecem
bem a drogadição e todas as consequências desta doença.

O Defensor – O defensor insinua-se muitas vezes na vida do dependente para


ajudar. Se um indivíduo dependente é incapaz de trabalhar ou de cumprir uma
obrigação, o defensor estará lá para justificar a sua ausência e para o substituir no
seu trabalho. Estas atitudes vão ajudar a proteger o dependente das consequências
desagradáveis.

O Protetor – O protetor assume tudo para que o dependente não seja


responsabilizado. Neste caso também é reforçado o comportamento abusivo do
dependente.

O Revoltado – O revoltado tenta, por uma conduta inadaptada, desviar a atenção


da família para outros aspectos que não o problema ligado as drogas. Assim as
crianças sentem-se prisioneiros desta situação familiar, podendo reagir com maus
resultados escolares, com agressividade ou outros comportamentos excessivos.

O Herói – O herói tenta desviar a atenção do problema com as drogas, adaptando


um comportamento exemplar. Ele espera secretamente que esta atitude ajude o
dependente a parar.

O Acusador – O Acusador atribui as drogas a causa de todos os problemas


familiares. O dependente torna-se o principal alvo, o que vai reforçar a raiva e a
impotência da pessoa dependente, dando-lhe novas razões para beber / usar.

O Passivo, fechado em si próprio – O passivo é apático para se distanciar e se


proteger da dor e da culpa. Esta indiferença é um mecanismo de defesa muito
profundo, que não significa em caso nenhum, um desinteresse pelo doente. A
pessoa passiva sofre interiormente, recusando-se a confrontar-se com o problema
das drogas e suas consequências.

Conseguir – Conhecer as atitudes que sustentam a dependência. Os familiares que


se deixam manipular pelo comportamento de um dependnete, tornam-se eles
137

próprios parte integrante do problema. Indiretamente eles mantêm o abuso das


drogas da pessoa em causa e deterioram a sua própria qualidade de vida. Tudo isto
Página

impede a resolução do problema.


INPAVI – INTERVENÇÃO PARA VIVER

Reforços – Certos membros da família não suportam ver sofrer o dependente e


reagem com atitudes que paradoxalmente mantêm a dependência. Estes
comportamentos provêm frequentemente das pessoas afetivamente mais próximas
do doente – o cônjuge, um filho, amigos, colegas de trabalho. Todos podem adotar
inconscientemente e por durante muito tempo tal atitude.

Não responder ás próprias necessidades – À força de se ocuparem das


dificuldades do dependente, os membros da família não podem viver uma vida
normal e não respondem mais ás suas dificuldades, sem o querer, são os
dependentes que terão o poder de comandar as suas vidas.

Andar em círculo – Assim durante o longo tempo em que o sistema familiar foi
dominado pelas drogas ficarão preso a um circulo vicioso. O grande consumo da
pessoa dependente vai induzir no seu meio familiar comportamentos que a seu
tempo incitarão a cada vez mais. Só as pessoas exteriores a este sistema familiar
poderão quebrar este circulo vicioso.

Conseguir – Adoptando novos comportamentos. Em geral, o primeiro passo para


conseguir a resolução de um problema familiar ligado a drogadição, não consiste em
modificar as atitudes dos outros membros da família. Centrando-se nas suas
próprias necessidades, recusando o apoio às alcoolizações, procurando suporte
externo, a família porá em marcha o processo de remissão. Para isso é necessário
estar determinado em se distanciar das atitudes do dependente e de se interessar
por si próprio.

Cada um é responsável pelos seus atos – Logo que família deixa de proteger o
dependente do abuso que ele não controla, dos excessos e das eventuais
abstinências, ela passa a desculpabilizar-se e atribui à pessoa em causa a inteira
responsabilidade dos seus atos. Porque cada um faz a sua vida e deve ser livre para
fazer. A família pode, por isso, legitimamente distanciar-se do dependente para não
se sentir responsável pela sua dependência. Assim todos ganham em autonomia.

Concentrar-se nas suas próprias necessidades – Logo que a família deixa de ser
influenciada pela doença do dependente, começam então a resolução de uma parte
do problema. Dando prioridade às necessidades de cada um, os membros da
família, dão um passo decisivo em direção a uma vida mais livre e de melhor
qualidade. Só se pode ajudar o outro quando se é forte e equilibrado.

Quebrar o círculo vicioso – Reconhecer que existe um problema de dependência


na família e que o problema diz respeito a cada um, permite falar das dificuldades
sentidas, tanto no exterior como no interior. Quebra-se assim, para cada pessoa, a
138

―lei do silêncio‖ que fazia do problema um tabu. Agir e querer mudar as coisas, não é
fácil. Ajuda, suporte e compreensão vindas do exterior, serão mais uma vez de
Página

grande utilidade.
INPAVI – INTERVENÇÃO PARA VIVER

Quem pode ajudar a família do dependente?


Logo que os membros da família se sintam preparados para aceitar a ajuda exterior,
eles compreenderão que não são os únicos a ter este tipo de problema. Muitas
outras pessoas estão confrontadas com as mesmas dificuldades. Assim, a família
terá à sua disposição apoios que não são de desprezar: Grupos de auto-ajuda,
serviços especializados, etc...

Grupos de Auto-Ajuda – Estes grupos são compostos por pessoas que vivem ou
viveram o mesmo problema, ou seja, dependência na família. Tais grupos dirigem-se
não só aos familiares de dependnetes, mas também a pessoas que crescem numa
família de dependência, sofrendo por isso as respectivas consequências. Estes
grupos oferecem um clima de confiança, calor humano, apoio para ultrapassar os
problemas das drogas no seio familiar, facilitando também as trocas de experiência.

Serviços especializados – Muitas famílias procuram ajuda junto de instituições


especializadas. Há neste âmbito, muitas possibilidades. Os centros de alcoologia
não são os únicos a poder ajudar. Eles podem também propor outras alternativas
terapêuticas. O seu conselho não só e gratuito, como também esta sujeito ao sigilo
profissional. Estes serviços oferecem a possibilidade de discutir a sós ou com a
família, este tipo de problemas. Diferem uns dos outros, por vezes conforme a
região, o tipo de técnicos e técnicas usadas no que diz respeito ao álcool e
toxicodependências, mas no fundamental, todos saberão orientar para outros
serviços. Os centros de Saúde, os médicos de família e outros estarão também
aptos a aconselhar sobre os problemas ligados as drogas.

Quem pode ajudar o doente?


Após a abordagem franca do problema pelos membros da família, o doente poderá
sentir-se desprotegido. Isto pode, numa primeira fase estimular o aumento do
consumo, mas pouco a pouco, os esforços da família para se sentir melhor, terão
efeitos no indivíduo. Estas mudanças familiares levá-lo-ão a enfrentar a realidade e
obrigá-lo-ão a ter que assumir as suas responsabilidades. Esta crise momentânea
oferece uma possibilidade ao adicto de admitir a sua doença e de pedir ajuda. Para
o doente existem também inúmeras possibilidades, desde que efetivamente queira
voluntariamente mudar a sua situação. O objetivo de todos os tratamentos é o
mesmo: aprender a assumir e a resolver os seus próprios problemas sem recorrer as
drogas. O primeiro passo é a abstinência - tratamento físico.

A Família do alcoolista
Neliana Buzi Figlie
Se você tem um amigo, um familiar, um colega de trabalho que é dependente
de álcool, você tem o que fazer!
139

O alcoolismo acaba sendo uma armadilha para o dependente e também para a


família, para o trabalho e para a comunidade onde o dependente vive. Mas você pode
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tentar desarmar esta armadilha!


INPAVI – INTERVENÇÃO PARA VIVER

Quem é Família?
A primeira idéia que nos vem a mente quando falamos em família é: casal
heterossexual, com dois filhos, um animal de estimação, o homem como chefe da
família e a mulher como dona de casa.

Quando temos esta estrutura, torna-se fácil definir a família. Mas nem sempre
isso é real. Por família, devemos entender várias formas de relacionamento com
compromisso. Por exemplo: um alcoólatra solteiro que mantém uma relação amigável
com a família do vizinho, casais homossexuais, irmãos de criação, entre outros. A
família pode ser aquela que tem acesso ao dependente, sem ser necessariamente a
família consangüínea.

O alcoolismo não é causa, mas sim efeito


O alcoolismo é um sintoma que ao surgir, se interpõe entre o indivíduo, a
família e outros relacionamentos sociais, influenciando todo curso de vida. Todo
sintoma tem uma causa.

Relação de causa e efeito


As causas podem ser as mais variadas possíveis:

 Conflitos emocionais ou pessoais


 Dificuldade escolares, sociais e/ou profissionais
 Acréscimo ou perda de um dos membros da família
 Crises familiares
 Consumo de bebida para o controle da ansiedade
 Consumo de bebida para fuga de problemas
 Separações, divórcios ou término de relacionamentos amorosos
 Ausência de pais
 Filhos de alcoólatras: aprendizagem de comportamento
 Pressão Social (―Quem não bebe não é macho!‖)

Embora o sintoma traga sérios prejuízos e desvantagens para a vida do


dependente, o alcoolismo tem uma função na vida deste. Podemos dizer que a
pessoa ―aprendeu a funcionar com o álcool ―, seja qual for a causa. Se o álcool é
retirado, como o dependente vai funcionar (psicológica e fisicamente)?

Fica a questão: ―Como funcionar sem a bebida?‖. Daí a dificuldade de


abandonar o hábito de beber, embora a pessoa perceba as conseqüências negativas
em sua vida.
140

Mas existem Fatores Protetores que podem evitar a continuação do hábito ou


as recaídas:
Página

 Boas oportunidades de trabalho


INPAVI – INTERVENÇÃO PARA VIVER

 Boas oportunidades educacionais


 Recursos da Comunidade: serviços sociais, lugares com o número reduzido de
traficantes, tratamento clínico e psicológico, grupos de auto-ajuda (AA, NA),
etc.
 Família: amor materno e paterno, relacionamento conjugal positivo, moradia
definida, bom relacionamento.

Nem sempre estes fatores existem simultaneamente. Em alguns casos basta


um destes itens para motivar o dependente para tornar-se abstinente.

ATENÇÃO: Existem famílias em que ocorre a necessidade de uma pessoa alcoólatra


para que ela funcione.

Exemplo: ―Eu bebo porque você me deixa nervoso.‖


―Mas eu só fico nervosa quando você bebe.‖

A família tem um padrão de comunicação que define comportamentos. Em


alguns casos, quando o alcoolista ―se cura‖, alguém pode piorar.

TIPOS DE FAMÍLIA

Esconder Assumir
O alcoolismo é visto com um desgosto e a família A família assume o familiar alcoolista tentando
tende a esconder o alcoolista ajuda-lo

A família não tem controle sobre o beber do alcoólatra, mas este beber acaba
afetando a vida da família.

Como mudar esta situação:


1. Aprender o que é Alcoolismo (conceito de dependência, tolerância, síndrome
de abstinência e recaídas).
2. Entender o funcionamento da família: Qual é o real papel de cada membro?
3. Pedir e procurar ajuda: as conseqüências físicas, sociais e emocionais do
alcoolismo são difíceis de serem suportadas, principalmente quando os
vizinhos começam a comentar, alguns familiares a recriminar o apoio dado,
contas a pagar, demissões... Nestes momentos de crise é bom contar com um
amigo para desabafar, um terapeuta para orientar ou mesmo a procura da
religião para confortar o sofrimento.

O alcoolismo não é fraqueza ou falta de moral. Trata-se de uma dependência


física e psicológica que controla o comportamento do dependente.
Mitos
141

Existem falsas noções sobre alcoolismo. É importante sabermos quais são elas
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para modificarmos nossos pensamentos e/ou atitudes:


INPAVI – INTERVENÇÃO PARA VIVER

 ―Para quem bebia pinga, uma cerveja não faz mal‖


 Álcool é álcool! Uma cerveja grande equivale a uma dose de whisky, pinga ou
um copo de vinho.
 ―Se eu tenho emprego, não sou alcoólatra‖

O alcoolismo atinge até mesmo grandes executivos, que conseguem


desempenhar suas atividades, mas que não excluí o consumo abusivo. O outro lado
da moeda são os cargos pequenos, onde o indivíduo necessita tomar pelo menos
uma dose antes de trabalhar para evitar as famosas ressacas ou tremedeiras que
acabam por prejudicar seu desempenho.
 ―Mas ele (a) uma boa pessoa!‖ – Ser alcoólatra não é sinônimo de que a
pessoa seja um mau caráter. Contudo, quando intoxicada, a pessoa perde a
consciência de seus atos, mas não quer dizer que possua uma personalidade
má.
 ―Mas nós temos um bom lar‖ – Muitos alcoólatras permanecem com suas
famílias por longos anos, mantendo muitas vezes uma família de aparência.
 ―Mas ele (a) não bebe sempre‖ – Beber diariamente não caracteriza o
alcoólatra. Uma pessoa que bebe uma dose diária tem um beber social. Se o
número de doses for igual ou maior que 21 (para homens) e 14 (para
mulheres), mesmo que o consumidor beba uma vez por semana, já é um
beber abusivo.
 ―Mas ele é tão inteligente que não pode ser um alcoólatra‖ – Esta é uma fala
comum entre os patrões quando começam a desconfiar do consumo de álcool
de seu funcionário.

Lembre-se: Não há relação entre inteligência e alcoolismo – ―Ele desempenha seu


trabalho brilhantemente e raramente falta‖ Que bom! Este funcionário ainda não
deixou que seu consumo afetasse seu trabalho, mas e depois do expediente?

 ―Mas eu nunca o vi beber‖ – Quando pensamos na figura do alcoólatra, a


primeira imagem é o estereótipo do consumidor que não sai do bar. Porém,
existem muitos alcoólatras que compram sua bebida e a bebem nos lugares
mais inesperados.
 ―Todo alcoólatra é um vagabundo ou beberrão‖ – Não pense que o alcoólatra é
apenas aquele que fica jogado na sarjeta. Muitos são pessoas respeitáveis,
que têm a aparência bem cuidada.
 ―Mas ele (a) veio de uma boa família‖ – Alcoolismo acontece com qualquer
pessoa, independente do nível social, econômico ou de status.
 ―Com a internação ele (a) irá se curar‖ - Na maioria das vezes a internação é
vista como ―Salvadora da Pátria‖, mas para alguns familiares que já passaram
142

por esta experiência, sabem que a afirmação acima nem sempre é verdadeira.

Em alguns casos a internação pode ser eficaz quando o dependente está


Página

motivado ou quando ele está muito doente.


INPAVI – INTERVENÇÃO PARA VIVER

Pensemos: em um ambiente protegido de problemas, pressão social e bebida,


com cuidado 24 horas por dia, tornar-se fácil atingir a abstinência. Quando ocorre o
retorno para o seu meio de origem: amigos, problemas, bares, bebidas e cobranças
continuam a existir. Por tal o tratamento ambulatorial em alguns casos pode ser mais
efetivo.

 ―O alcoolismo só atingem os homens‖ – A realidade é que existem mais


homens do que mulheres alcoólatras. Contudo, existem mulheres alcoólatras e
por ser considerada uma dependência masculina, é esperado que as mulheres
escondam sua dependência por vergonha ou culpa.

Como a família acaba agindo

Para amenizar sentimentos ruins ou de pressão social, profissional, escolar e


por que não dizer familiar, os parentes acabam atuando de forma a proteger a
alcoólatra, isentando-o de seus atos ou diminuindo sua auto-estima. Veja alguns
casos:

 O familiar que presta socorro 24 horas por dia – Se o patrão reclama a


ausência do funcionário e o familiar dá ―desculpas‖, fica cômodo para o
alcoólatra permanecer escondido e protegido. Uma vez assumido um
compromisso a responsabilidade é de quem o assumiu, mas vem o
pensamento: ―Se o patrão o ver desta forma (ressaca), irá demiti-lo‖.

Questão: Com o passar do tempo, havendo a diminuição na qualidade do trabalho e


aumentando o número de faltas, o patrão não irá demiti-lo?

 Policiar intensivamente – O dependente deve ter consciência de que não


deve beber e não somente o familiar. Ilusão pensar que você poderá controlar
os hábitos do dependente 25 horas por dia, todos os dias.

Acontece um desgaste duplo: o ato de fiscalizar gera ansiedade e nervosismo


e conseqüentemente, a ausência de seus próprios compromissos para ter tempo de
fiscalizar.

Com o familiar preocupando-se pelo dependente, para que o dependente vai


se preocupar?
 Perda de controle – Os familiares tornam-se tão preocupados em controlar o
beber do dependente ou evitar recaídas, que chegam a abandonar suas
próprias vidas (lazer, trabalho, estudos...). O beber de forma indireta passa a
143

dominar os pensamentos e ações dos familiares.


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INPAVI – INTERVENÇÃO PARA VIVER

Lembre-se que esta preocupação tem que ser do dependente e não do


familiar. Por mais que o DQ esteja despreocupado,o familiar apenas poderá lembrá-
lo e ajudá-lo, mas não atuar por ele.

4 - Agressão Física – Infelizmente ocorrem casos de espancamento e atos de


violência com alguns familiares, principalmente esposas e filhos. Quando restam os
sinais de agressão é comum filhos deixarem de ir à escola ou esposas evitarem sair
de casa por vergonha. Indiretamente estas atitudes omitem os atos do alcoólatra.
Violência é crime! A família não deve se esconder e deve procurar ajuda! Existe a
Delegacia da Mulher e o SOS Criança.

5 - Os passivos – Apatia não ajuda! O familiar apático tenta se esconder em seu


mundo e não se confronta com o beber e suas conseqüências.

6 - Os acusadores – São aqueles que acreditam que o alcoólatra é o problema da


família, tornando responsabilidade do dependente todas as ações dos outros
membros da família. Intensifica o rebaixamento da auto-estima- O dependente se
sente o pior dos piores, sem saída para mudar seu conceito.

7 - Símbolos da perfeição – Trata-se de familiares que tentam chamar atenção do


alcoólatra através de seu comportamento exemplar, comparando-se a este em todo o
momento. Também é comum a comparação entre irmãos ou cônjuges. Tal atitude
somente contribui para que o dependente se sinta pequeno, sem valor.

Buscando soluções
A solução ideal seria a ―cura do alcoolismo‖, mas esta solução depende da
motivação do dependente e do familiar. Se o dependente não tem esta motivação, a
melhor solução para a família seria efetuar algumas modificações nos
comportamentos dos familiares, objetivando a interrupção ou pelo menos dificultar, o
curso do alcoolismo.

1 - Não atuar pelo alcoólatra – É importante a família quebrar o sistema de


proteção, atribuindo a responsabilidade dos problemas e conseqüências do beber ao
próprio alcoólatra.

2 - Pensar mais em você – Só podemos ajudar alguém quando estamos bem, caso
contrário, como oferecer algo que não temos para dar? O dependente causa um
abalo na vida do familiar e este tende a abandonar algumas de suas atividades.
Retomar, cumprir suas responsabilidades e cuidar mais de si mesmo. Quando o
alcoólatra passa a perceber que o familiar não está mais seguindo o ritmo dele, ele
começa a pensar: ―o que está acontecendo?‖.
144

3 - Adquirir conhecimento – Informe-se: é importante saber alguns conceitos


Página

básicos para poder entender e ajudar o alcoólatra. Por exemplo: nos primeiros dias
em que o dependente fica sem beber, é comum um hálito alcoólico, que dá a
INPAVI – INTERVENÇÃO PARA VIVER

impressão de consumo, denominada ―Hálito de Vinagre. A família se desespera,


fiscaliza ou cobra, fato este que pode levar o alcoólatra a beber. Se os familiares têm
este tipo de informação, a atitude muda.

4 – Conversar – Evite falar com o dependente apenas assuntos relacionados ao


álcool. Procure mantê-lo interessado e também interessar-se sobre outros aspectos
da vida. E, lembre-se: o alcoolismo é conseqüência e não causa. Porém existem
pessoas que chegam a um grau de dependência tão elevado, que mal restam outros
aspectos de vida para conversar. Nestes casos procure estimular ou mesmo apontar
este ―vazio‖ na vida do alcoólatra, tentando ajuda-lo a enxergar o que ele pode fazer
para modificar seu futuro.

5 – Recaídas – Prepare-se! Por mais estabilizada que esteja a situação de


abstinência, as recaídas são previstas no processo. Tenha em mente que o voltar a
beber pode ser passageiro, principalmente se forem tomadas as medidas adequadas.

6 – Limites – Seja compreensivo e amigo com firmeza, sabendo definir limites e


regras, principalmente sobre sua competência e do dependente. No primeiro
momento a reação é de raiva, ódio e explosão! Tente se acalmar e refletir sobre a
situação. Não gaste suas energias em falar com uma pessoa intoxicada. Espere os
efeitos passarem para haver um diálogo consciente. Neste diálogo, procure colocar o
que você espera e até onde você agüenta (seus próprios limites).

7- Aspectos Social – Com a abstinência, perde-se ou ocorre uma diminuição no


convívio social com os amigos do bar. Daí vem as frustrações: falta de amigos e falta
de bebida. Propiciar atividades de lazer ou de convívio familiar para tentar abrandar
estas frustrações são importantes. Atividades físicas acabam sendo as mais comuns,
mas também pense em passeios, vídeo, cinema, teatro, leitura, visitas a casa de
parentes e amigos, buscar filhos na escola, etc.

8 - EVITE: Não dar importância ou ignorar os fatos – Expulsar de casa. Julgar o


dependente como o único culpado. Policiar intensivamente

9 - Procurar ajuda profissional – Não se deixe levar pelo sentimento de fracasso. Os


profissionais de saúde existem para ajudar tanto o dependente, como o familiar. Em
alguns casos é necessária uma atuação técnica e não apenas familiar. Será que não
é uma exigência muito grande a família acreditar que deve dar conta de tudo sozinha?

10 - Procurar Recursos da Comunidade – Existem grupos de Auto-Ajuda (AA e


NA), religião e palestra... enfim, tudo que o dependente possa sentir como eficaz para
ajudá-lo.
145

ATENÇÃO: Nem sempre o que é melhor para a família, é melhor para o dependente.
Página

O principal envolvido precisa estar motivado.


INPAVI – INTERVENÇÃO PARA VIVER

Vale ressaltar que estes recursos podem ser utilizados simultaneamente a um


tratamento. Não existe um único detentor do saber ou uma forma única de tratamento.

FAMÍLIA IDEAL

Este quadro pode tornar-se realidade.


O alcoolismo não é um caminho sem volta!
Acredite! Você pode ajudar muito para modificar a rota deste caminho.

17 PROCEDIMENTOS PARA A FAMÍLIA LIDAR COM O DEPENDENTE QUÍMICO

1. Você não é responsável pela dependência de seu familiar. Você não a


causou, você não pode controlá-la e você não pode curá-la sozinho.

2. Apesar de você não ser responsável pela dependência do seu familiar, você é
o responsável pelo se próprio comportamento. Você tem a escolha de ajudar
o seu familiar a evitar o consumo de substâncias, através do adequado
estabelecimento de limites, acolhimento, orientações e tratamento.

3. A dependência do seu familiar não é um sinal de fraqueza da sua família,


Infelizmente, isso pode ocorrer em qualquer família, como quaisquer outras
doenças;

4. Não ameace, acuse, moraliza os erros passados do seu familiar dependente.


Isso apenas tornará você o foco da raiva e frustrações do seu familiar
dependente, além disso, não ajudará o mesmo a modificar o seu
comportamento.

5. No entanto, não massacre, desculpe ou proteja das conseqüências naturais


do seu comportamento. Fazendo isso, você se torna ―cúmplice‖ na
perpetuação dos comportamentos irresponsáveis ou inadequados do adicto;

6. Não tente encontrar fatos no passado do dependente, como traumas infantis,


estresse no trabalho, problemas conjugais, para justificar o problema com as
drogas. Isso somente promoverá a chance ao individuo dependente para
manutenção do uso das substâncias;

7. Não faça ―jogo de culpa‖ para o individuo dependente. Por exemplo, dizer que
―se você realmente gostasse de mim, você pararia de usar drogas‖ realmente
146

não funciona. Culpa não funciona;


Página
INPAVI – INTERVENÇÃO PARA VIVER

8. Não use ameaças como forma de manipulação. Você pode e DEVE


estabelecer limites, mas pense cuidadosamente e, então, esteja preparado
para ir adiante. Se você não sabe o que dizer, é melhor não dizer nada;

9. Não permita que o individuo dependente ―explore‖ você financeiramente ou de


qualquer outro modo, Respeite-se;

10. Não ignore formas de manipulação realizada pelo adicto. Não estabeleça
conluio com o individuo dependente para manter segredos sobre o consumo
de drogas. Isso apenas aumentará a evasão de responsabilidade por parte do
adicto;

11. Não se esqueça de procurar e manter o seu próprio tratamento. A co-


dependência pode ser, às vezes, devastadora;

12. Não tente proteger o indivíduo dependente de problemas comuns da família;

13. Não promova uma ―guerra‖ de sinais de recaída estiverem presentes.


Também são mantenha silêncio sobre eles. Apenas traga-os à vista
calmamente e diretamente, sem acusações;

14. Não espere que o individuo dependente em recuperação seja ―legal‖ o tempo
todo. Às vezes, ele pode ficar irritado, triste ou de mau humor, sem que isso
esteja relacionado ao uso de drogas;

15. Além do problema relacionado ao uso de drogas pelo familiar dependente,


você tem outros problemas para solucionar. Não os deixe de lado;

16. Não se iluda pensando que o individuo dependente esta ―curado‖ e nunca
mais usará substância. A Síndrome de Dependência é uma crônica que
requer tratamento crônico;

17. Não deixe de focar-se em si mesmo. Utilize o seu sistema de apoio,


terapeutas, outros familiares e amigos para possibilitar a sua recuperação
enquanto co-dependente.

(Dr. Danilo Baltieri – GREA)


147
Página
INPAVI – INTERVENÇÃO PARA VIVER

ATENDENDO UM DEPENDENTE
QUÍMICO
Capítulo 7

148
Página
INPAVI – INTERVENÇÃO PARA VIVER

Para atender um DEPENDENTE QUÍMICO – DQ


 Procure fazer esta entrevista em um sala, onde possa ficar somente você e o
DQ.
 Mostre a ele como é importante a presença dele, ali naquele momento. Este
acolhimento, estas boas vindas é de extrema importância.
 Que o 1º passo é o que ele esta fazendo neste momento, vir até aqui.
 Lembre-se de tudo que você falar com ele, pouca coisa ficará registrada, por
isso da importância das boas vindas.
 Não há uma receita que o fará parar de usar drogas.
 Fale sobre a freqüência de grupos anônimos.
 Tudo depende dele (a).

ROTEIRO
 Atendimento individual
 Entrevista inicial de encaminhamento Motivacional
 Feita por uma pessoa treinada para atendê-lo, motivando-o a
Buscar tratamento.
 Utilize a ficha de encaminhamento. (anexo 1).
 Utilize uma ―Cartilha par Atendimento ao DQ‖ (anexo 2) – adaptado pela
Iracema.

O que você irá abordar na entrevista:


 Histórico do uso;
 Problemas relacionado as drogas;
 Evolução do problema;
 Envolvimento de pessoas com as drogas;
 Padrões de uso;
 Histórico de risco, contaminações por HIV;
 Histórico familiar, pessoal, sexual. Filhos;
 Trajetória profissional;
 Histórico social, médico e psiquiátrico;
 Histórico Forense – internação;
 Grupos Anônimos – (anexo 3) – Fortaleça.
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INPAVI – INTERVENÇÃO PARA VIVER

ENTREVISTA COM O DQ.

Z – Olá André que bom que você esta aqui, veio sozinho?
DQ – Oi, vim com a minha mãe.
Z – Você usa o que?
DQ – Cocaína.
Z – Com quantos anos você começou?
DQ – com 17 anos.
Z – Começou usando o que?
DQ – Maconha e depois Cocaína.
Z – Vocês costuma usar com alguém ou sozinho?
DQ – No começo usava com os amigos, hoje mais sozinho.
Z – Você costuma usar muito, pouco, todos os dias, às vezes, como é o seu uso?
DQ – Todos os dias, toda hora, sempre que posso, e muito, muito, muito.

Profissional
Z – André você trabalha?
DQ – Atualmente não, mas já trabalhei, todos meus empregos perdi por conta da
droga.
Z – E como você consegue dinheiro para comprar a droga?
DQ – Eu roubo dentro de casa, na rua, troco qualquer coisa por droga, até as
minhas roupas.

Histórico Familiar - Apoio Familiar


Z – Quem da sua família esta junto com você, disposto a ajudá-lo?
DQ – Minha mãe, minha esposa cansou
Z – Você tem filhos?
DQ – Tenho, estão com a minha esposa, 2 filhos de 2 e 10 anos.
Z – Como era o relacionamento de vocês?
DQ – Nos últimos tempos horríveis, meus filhos sabem do uso, minha esposa contou
para eles, não me respeitam.
Z – Tem idéia do que fazer com tudo isso?
DQ – Preciso parar uso, se quiser viver, se quiser reconquistar meu filho, minha
esposa, estou mesmo agoniado com tudo isso.

Histórico Forense – Internação


Z – você já foi internado?
DQ – 4 vezes.
Z – E como foram estas internações?
DQ – Logo depois que saia usava novamente, um saco, internei, pois não aguentava
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mais minha mãe e esposa torrando minha paciência.


Z – E estas internações o que você viu lá?
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INPAVI – INTERVENÇÃO PARA VIVER

DQ – Aprendi sobre os passos, aprendi outras coisas e aprendi que estas


internações não serviram para nada, pois foram todas obrigadas pela minha família.
Se eu fosse internado por mim, talvez fizesse diferente.
Z – Bom sinal, se partir de você. Precisa apenas ficar um tempo longe do local e das
pessoas que usam drogas. Dê uma oportunidade para você.
Z – E agora o que você esta fazendo aqui? Por que veio nos procurar?
DQ – Não aguento mais, estou cansando, vou perder minha família, minha esposa
me deixou, sei que ela gosta de mim, mas esta cansada das minhas promessas, dos
meus roubos. Estou desistindo de tudo.
Z – O que você acha de uma internação novamente, mas porque você quer?
DQ – Não gostaria de ser internado novamente, gostaria de tentar sem internação,
se não der certo, durante esta semana, eu prometo que me interno sozinho.
Z – André, não prometa nada que você não possa cumprir, vamos aguardar esta
semana e verificar como você consegue passa-la. OK

Suicídio
Z – Você já tentou o suicídio?
DQ – 2 vezes e as duas não morri.
Z – Deus foi muito bacana com você, esta dando oportunidades para você e, além
disso, não é a sua hora.

Tratamento
Z – André só o fato de você estar aqui, já é um passo importante, você ainda não
desistiu de você, vamos começar um tratamento aqui? Esta disposto?
DQ – Não, não quero.
Z – Vamos tentar pelo menos por um período, vamos conhecer o grupo de
dependentes, eles têm os mesmos problemas, as mesmas dificuldades que você?
Não custa dar uma chance para você, só mais uma? E o local que vou te
encaminhar é muito bom.
DQ – Talvez, é vou só conhecer, dar uma olhada.
Z – Então, André mostrarei a cartilha de encaminhamento para você?
DQ – Vai demorar muito?
Z – Não veja só, a primeira coisa você já fez, esta aqui, e como você disse que usou
droga ontem pela última vez, então você já fez a sua despedida, sua saideira, vamos
parar com todas de uma vez, o que você acha?
DQ – muito difícil, não vou conseguir.
Z – Vamos, você irá conseguir. Você sabia que a vontade de usar, essa vontade
dura 20 minutos e depois irá passar?
DQ – 20 minutos não, dura 1 hora ou mais.
Z – André, dura 20 minutos e se você ocupar sua cabeça com outra coisa, uma
atividade, lavar uma louça, arrumar a cama, arrumar alguma coisa para fazer em
151

casa, você irá ocupar o seu tempo.


Z – Outra coisa importante André, você fará alguns sacrifícios, e o principal dele é se
Página

afastar de pessoas e locais onde tem a droga.


DQ – Ah, não, eu uso porque quero, não é meus amigos que me levam a usar.
INPAVI – INTERVENÇÃO PARA VIVER

Z – Sei disso André, você não pode, eles podem, então será mais fácil se você não
estiver com eles, e sim longe e em outro local.
DQ – Ah, mas eles me chamam, batem no meu portão?
Z – Ai entra a sua perseverança de ficar limpo, você decide dizer a eles a verdade,
que esta em tratamento, ou diz qualquer outra coisa, que esta doente, com
caganeira, não sei, qualquer coisa serve, desde que você fique longe das pessoas e
dos locais onde tem drogas.
Z – No dia do tratamento é importante você estar limpo, combinado.
Z – Você já ouviu falar dos grupos de AA ou NA?
DQ – Lá na clínica eu soube deles, cheguei até a frequentar um, mas é muito chato?
Z – André, sabe quando precisamos tomar remédio e nem sempre ele é bom, pois é,
os grupos de AA ou NA, é um remédio que você precisa tomar todos os dias, é
imprescindível para seu tratamento, para que você consiga permanecer limpo, lá
você irá ouvir relatos parecidos ou completamente diferentes que o seu, o mais
importante é você frequentar, todos os dias.
DQ – Todos os dias eu não aguento?
Z – Ok, André vamos combinar 3 vezes por semana e você pede para carimbar
nesta cartilha e semana que vem, eu gostaria de ver e conversar novamente com
você.
DQ – Onde tem um grupo?
Z – Aqui na cartilha tem o telefone que você pode ligar e perguntar onde tem um
perto da sua casa, entretanto na cartilha tem o telefone da Central de AA, e perto da
sua casa tem um AA ou NA, e as reuniões são todos os dias.
Z – O importante é você freqüentar os grupos anônimos e ir ao Grupo que temos
aqui na Igreja Torre Forte, na 3ª feira, às 20:00 horas. E aí posso contar com você?
DQ – É, estou pensando, acho que sim.
Z – Claro, André o importante é você querer, e somente querendo faz a diferença.
Z – Durante esta semana, evite locais e pessoa, não desista, persevere, lembre-se a
vontade virá, mas também irá passar, ocupe o seu tempo, com o que você puder.
Z – André você aprendeu na clínica, no grupo que primeiro, segundo, terceiro,
quarto, quinto, você?
DQ – É primeiro EU
Z – André você reza, ora?
DQ – Não, não sei o que é isto, faz anos.
Z – Ok, podemos começar, mesmo que seja, Deus dá uma força. Na cartilha tem a
oração da Serenidade.
DQ – Será que Deus quer saber de mim, irá me ouvir, Deus não quer saber de
pessoas como eu?
Z – André, Deus não desampara seus filhos, nunca, apenas você se afastou dele.
ELE esta triste com você, mas extremamente feliz por você ter tomado esta atitude
de estar aqui, acredite.
152

DQ – É talvez, vou pensar.


Z – André gostaria muito de saber que você estará no grupo DQ LUZ, frequentando.
Página

Z – Aqui esta meu telefone, se precisar me ligue, mas antes de usar, pois a vontade
irá passar enquanto você conversa comigo, se não quiser falar comigo, ligue para
INPAVI – INTERVENÇÃO PARA VIVER

qualquer amigo, nos grupos você irá conhecer pessoas que poderá trocar o telefone.
Posso te ligar para saber como você esta?
DQ – Ah, tá bom, pode ligar.
Z – André, só por hoje você esta limpo, só por este momento você não usou, não
faça planos para o futuro neste momento, faça planos para que hoje você não use.

Anexo 3 – Cartilha para o Dependente Químico


Anexo 4 – Ficha de Evolução para Atendimento ao Dependente Químico

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INPAVI – INTERVENÇÃO PARA VIVER

ATENDENDO UM CO-DEPENDENTE
FAMÍLIA
Capítulo 8

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INPAVI – INTERVENÇÃO PARA VIVER

Para atender um familiar – CO


 Procure fazer esta entrevista em uma sala, onde possa ficar somente você e o
CO.
 Mostre a ele como é importante a presença dele, ali naquele momento. Este
acolhimento, estas boas vindas é de extrema importância.
 Que o 1º passo é o que ele esta fazendo neste momento, vir até aqui.
 Lembre-se de tudo que você falar com ele, pouca coisa ficará registrada, por
isso da importância das boas vindas.
 Não há uma receita que fará com que o seu DQ pare de usar drogas.
 Fale sobre a freqüência de grupos anônimos.
 Tudo depende dele(a).

ROTEIRO
 Atendimento individual
 Entrevista inicial de encaminhamento Motivacional
 Feita por uma pessoa treinada para atende-lo, motivando-o a
Buscar tratamento.
 Utilize a ficha de encaminhamento. (anexo 1).
 Utilize uma ―Cartilha para Atendimento ao DQ‖ (anexo 2) – adaptado pela
Iracema.

OBJETIVO DA ENTREVISTA
 Utilizamos: Ficha de Evolução e Cartilha da Família
 Levar o CO-DEPENDENTE a focalizar a si mesmo;
 Como modificar-se e não ao DQ;
 Perceber mudanças de suas vidas em função do DQ;
 Impotência sobre o uso de álcool / drogas;
 Controle da vida do outro.
 Explicamos o que será feito pelo DQ.
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INPAVI – INTERVENÇÃO PARA VIVER

ENTREVISTA COM O CO DEPENDENTE

Z: Seja bem vinda, srª; qual o seu nome?


CO: Iracema, mãe do Thiago, que... Desculpe, ele nem sabe que estou aqui. Pode
perguntar.
Z: Fique a vontade, estamos aqui para auxiliá-la no possível. Qual o motivo da Srª
estar aqui hoje?
CO: Estou em busca de ajuda para o meu filho – Thiago – que está usando muita
droga.
Z: Qual a idade dele?
CO: Vinte, mas aparenta quatorze, pois está tão fraquinho, principalmente das
―idéias‖.
Z: E ele quer a sua ajuda?
CO: Na verdade, ele já falou que precisa parar, mas nunca pára. Falamos sobre
internação, pois acredito que ele só vai parar se for internado, e por muito tempo.
Z: Conte um pouco da história do seu filho.
CO: Sempre foi um bom menino, até conhecer os amiguinhos da rua. Então já não
me obedecia, tinha 13 anos, pediu para estudar no período noturno, falando que era
melhor e queria ficar com os amigos. No final, repetiu varias séries, às vezes
trabalha, quer dizer, ele aparece com dinheiro em casa. Não namora, está agressivo,
e eu notei falta de algumas coisas de casa, mas não acredito que Thiago pegou.
Z: Sabe qual a droga que ele usa? Já teve contato com ela?
CO: Uma vez achei ―matinho‖ dentro de um papel no bolso da bermuda dele, tinha
uns 14 anos, mas ele falou que era do amigo e que iria devolver. Agora encontro
umas cápsulas de plástico – coloridos -, capa de caneta queimada na ponta, e até
potinho de Yakult queimado já encontrei no seu quarto, mas não sei ao certo que é.
Z: A Srª já perguntou a ele sobre os achados? O que ele disse?
CO: Cada dia é uma estória. Eu não agüento mais. Às vezes quero sumir, outras
matar, outras, simplesmente esquecer. Eu preciso salvar meu filho...
Z: A Srª já ouviu falar que as pessoas que usam drogas são doentes e são
chamadas de dependentes químicos e que precisam de tratamento? Pois é, e
muitas vezes quem convive com os dependentes tornam-se co-dependentes, ou
seja, pessoas que vivem em função do outro, da vida do outro e principalmente da
doença do outro.
CO: Não sei não! Às vezes penso que é safadeza, outras que é ―espírito obsessor‖,
outras que a culpa é minha ou do exemplo que ele tem em casa. Meu marido bebe
muito.
Z: Mais uma oportunidade de provar a Srª que Dependência Química é doença. Faz
parte do atendimento da psiquiatria. A organização Mundial da Saúde – OMS, refere
ser uma doença; existe código específico para o uso de cada droga (álcool,
maconha, nicotina, cocaína...), doença esta que atinge o corpo, mente e sociedade,
156

ou seja, é conhecida como BIOPSICOSSOCIAL E ESPIRITUAL. E o fato de Thiago


ser filho de um alcoolista, aumenta mais a sua chance em desenvolver a doença.
Não que seu marido seja o culpado por isso, mas existe aí uma herança genética.
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INPAVI – INTERVENÇÃO PARA VIVER

CO: Ah... eu sou filha de alcoólatra também. Mas não consigo entender porque
aconteceu justo com o meu menino.
Z: Ele é o seu único filho?
CO: Não. Tenho mais dois, um tem 25 e a outra tem 18. Estes nunca me deram
trabalho.
Z: E qual o nome deles?
CO: Leandro e Ana. Com eles estou tranqüila. Às vezes nem me lembro deles.
Z: Esta é uma característica do co dependente, só tem olhar para o DQ. Concorda?
CO: Sabe... É que eu preciso ajudar o Thiago!
Z: Srª Iracema, um doente não pode curar outro doente, por isso eu convido a Srª
também buscar auxílio para si mesmo, antes até de interná-lo, se for o caso. Muitas
vezes os familiares apresentam-se muito mais comprometidos com a dependência
do outro do que o próprio DQ. Isto traz outras doenças para o co dependente, e
muitas levam a morte também.
CO: Mas meu filho vai morrer!
Z: Está morrendo, e por enquanto a escolha é dele. Não está em suas mãos e sim
nas de Deus e do Thiago. E mais uma vez reforço a importância do seu tratamento
para fortalecer-se e depois... Quando Thiago pedir ajuda, a Srª estará pronta e forte
para ajudá-lo.
CO: Eu faço qualquer coisa para ajuda-lo...
Z: Então comece por você. Foque suas forças de mudança em você. Mude seus
hábitos, principalmente os de ―Salvadora‖. Procure fazer algo por você. E então
estará pronta para ajudá-lo.
CO: Apresentação da cartilha e encaminhamentos para AL-anon, DQ LUZ.

ANEXOS
Anexo 1 – Modelo de Cartilha para Atendimento ao Familiar
Anexo 2 – Ficha Evolução para Atendimento ao Familiar

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INPAVI – INTERVENÇÃO PARA VIVER

UM MODELO PARA ATENDIMENTO


À DEPENDENTES QUÍMICOS E
FAMILIARES
- DQ LUZ – MEIMEI –

Capitulo 9

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INPAVI – INTERVENÇÃO PARA VIVER

UM MODELO DE ATENDIMENTO A DEPENDENTES QUÍMICOS E FAMILIARES

DQ LUZ

HISTÓRICO DQ LUZ
 Nosso grupo nasceu em março de 2004, após o curso aprimoramento de DQ
no CE Caminho da Luz.
 Nossa equipe é formada por 15 voluntários treinados em dependência
química.
 Contamos com 15 trabalhadores no atendimento espiritual / religioso.

EQUIPE DQ LUZ
 Somos uma equipe multidisciplinar de profissionais voluntários.
 Atuamos no espaço cedido pelo C. E MEIMEI (Zona Leste).
 Pertencemos ao quadro de Saúde Mental do C.E. Bezerra de Menezes.

NOSSA EQUIPE
 07 psicólogos;
 02 D.Q. em recuperação;
 01 assistente social;
 02 terapeutas;
 02 co-dependente em recuperação;
 01 médico – faltando;

ESTATÍSTICA DE ATENDIMENTO AO DEPENDENTES QUÍMICOS


ANO MASCULINOS FEMININOS
2005 68 15
2006 108 12
2007 210 09
2008 185 02
2009 198 09
2010 189 12
159

2011 201 18
TOTAL 1.159 68
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INPAVI – INTERVENÇÃO PARA VIVER

FLUXO DE ANTENDIMENTO AO DQ A 1ª VEZ

Tratamento Espiritual Tema Juntos Acolhimento


Entrevista Grupo de Prevenção de Recaída

TRATAMENTO ESPIRITUAL / RELIGIOSO

Dificuldades
 Não aceitação do rotulo religioso;
 Pessoas não capacitadas para o atendimento;

Soluções
 Palestra morais – passes
 Meditação – preparação
 Musica e relaxamento.

Como é feito hoje


 Palestra por trabalhadores da casa;
 Passe:
 Para aqueles que ―aceitam‖ o tratamento espiritual.
 Divulgação do trabalho espírita aos dependentes e familiares.

ACOLHIMENTO

Dificuldade
 Ansiedade, fuga;
 Familiar e DQ juntos.

Soluções
 Terapeuta simpático
 Ambiente agradável

Como é feito hoje


 Realizado por DQ e CO-dep. em recuperação e um Profissional:
 Dada as boas vindas;
 Orientação abrangente sobre o atendimento;
 Apresentam a cartilha para todos;
 Colocação de suas experiências;
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INPAVI – INTERVENÇÃO PARA VIVER

ORIENTAÇÃO DO TEMA - JUNTOS

Definido um tema novo para ser falado na semana por exemplo:


 Fissura
 Elogios e Críticas
 Locais e Sinais de Risco

FLUXO DE ATENDIMENTO AO DQ PELA 2ª VEZ

Tratamento Espiritual Tema Juntos Grupo de Prevenção de


Recaída Gerenciamento de caso

GRUPO DE PREVENÇÃO DE RECAÍDAS – DQ


 Apresentação do DQ ao grupo;
 Depoimentos;
 Palestras;
 Trabalho com Os Doze Passos em conjunto com o tema trabalhado;
 Meditação;
 Dinâmicas.

ESTATÍSTICA DA FAMÍLIA
ANO N DE FAMÍLIARES ATENDIDOS
2005 Não tínhamos
2006 Iniciamos
2007 Sem registro
2008 289
2009 259
2010 225
2011 278
TOTAL 1051

FLUXO DE ATENDIMENTO DA FAMILIA – CO DEPENDENTES – 1ª VEZ

Tratamento Espiritual Tema Juntos Acolhimento

Entrevista Grupo de Família


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INPAVI – INTERVENÇÃO PARA VIVER

GRUPO DE CO-DEP.
 Apresentação do CO - deq. ao grupo;
 Depoimentos;
 Palestras;
 Trabalho com Os Doze Passos e trabalhado o tema;
 Meditação;
 Dinâmicas.

FLUXO DE ATENDIMENTO DA FAMILIA – CO DEPENDENTES – 2ª VEZ

Tratamento Espiritual Tema Juntos Entrevista

Grupo de Família

Profissional ou trabalhador que chega a 1ª vez, deverá:


 Deverá passar por cada uma das fases do trabalho para conhecer e também
para descobrir onde se identifica mais para ser voluntário.
 Ler o planejamento e o procedimento;
 Estamos abertos para novas idéias para aperfeiçoar nosso atendimento.

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INPAVI – INTERVENÇÃO PARA VIVER

BIBLIOGRAFIA

www.wikipedia.org
www.amorexigente.org.br
www.brasilescola.com.br/drogas/cocaina
www.psicoativas.ufcspa.edu.br
www.drauziovarela.com.br
www.unifesp.br
www.imesc.sp.gov.br/infodrogas/fatores.htm
www.epub.org.br/cm/n08/doencas/drugs/anim1.htm
www.apps.einstein.br/alcooledrogas/novosite/atualizacoes/as_266.htm
www.sobredrogadicao.blogspot.com.br/2009/06/entrevista-motivacional.html

Revista Cérebro & Mente 3(8), jan/mar 1999


Uma Realização do Núcleo de Informática Biomédica
Copyright (c) 1998 Universidade Estadual de Campinas, Brasil
Publicado em 18/Jan/1998

OPAS & CICAD la dependência de las drogas y su tratamento – guia y critérios


básicos para el deserollo de programas de avaluacion de la calidad y normas para ia
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Jungerman F; Laranjeira, R. Entrevista motivacional: bases teóricas e práticas

Edwards G. Marshall EJ Cook CCH – O tratamento do alcoolismo – Porto Alegre –


Artmed – 1999.

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Anjos Caídos, Içami Tiba. Editora Gente, 6ª edição – Fonte Globo Ciência / 1996 –
Ano 55 – nº 58.

Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (SENAD) – Unidade de Pesquisa em


Álcool e Drogas (UNIAD).

Dr. Danilo Balieri - GREA

Texto de: Mônica Junqueira Karkow


163

Renato Maiato Caminha;


Página

Sílvia Pereira da Cruz Benetti

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