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Metodologia do Trabalho Científico

Cirineu Cecote Stein


Metodologia do Trabalho Científico

Cirineu Cecote Stein

Universidade Federal da Paraíba


João Pessoa, março de 2013
Sumário

1. Considerações esparsas sobre a produção de um trabalho acadêmico ............................... 5


2. O trabalho de campo ............................................................................................................. 9
2.1. A importância da formação de um corpus .................................................................... 9
2.2. O planejamento do trabalho de campo ....................................................................... 10
2.3. A preparação de questionários e entrevistas .............................................................. 15
2.4. A aplicação de questionários e a realização de entrevistas......................................... 17
2.5. A compilação dos dados .............................................................................................. 19
3. Os aspectos éticos envolvidos no trabalho científico ......................................................... 21
3.1. Como abordar os informantes ..................................................................................... 23
3.2. O respeito incondicional ao informante ...................................................................... 25
3.3. O plágio e a questão do direito autoral ....................................................................... 26
3.4. Aspectos legais ............................................................................................................. 26
3.5. Por que é mais fácil fazer seu próprio trabalho do que plagiar ou pagar a alguém
para fazê-lo .................................................................................................................. 27
4. Artigo científico vs. Relato de experiência .......................................................................... 30
4.1. Bases para a construção de um artigo científico ......................................................... 30
4.2. Bases para a construção de um relato de experiência ................................................ 34
4.3. Como escolher uma das duas modalidades................................................................. 35
5. A normatização do trabalho científico ................................................................................ 36
5.1. A organização das ideias .............................................................................................. 36
5.2. A seleção bibliográfica ................................................................................................. 39
5.3. A pesquisa de campo ................................................................................................... 41
5.4. A organização dos dados ............................................................................................. 42
5.5. A construção de um roteiro textual ............................................................................. 44
5.6. A citação ....................................................................................................................... 45
5.7. A referenciação bibliográfica ....................................................................................... 47
6. Aspectos da escritura .......................................................................................................... 49
6.1. A escritura do resumo .................................................................................................. 49
6.2. A escritura da introdução ............................................................................................ 52
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6.3. A escritura do desenvolvimento.................................................................................. 53


6.4. A numeração das seções ............................................................................................. 53
6.5. A escritura de citações diretas e indiretas .................................................................. 55
6.6. O uso de siglas, ilustrações e tabelas .......................................................................... 59
6.7. A escritura da conclusão.............................................................................................. 60
6.8. A escritura das referências bibliográficas .................................................................... 60
6.9. Anexos que valem a pena utilizar ................................................................................ 71
7. A apresentação oral de um trabalho científico................................................................... 73
7.1. A importância de uma apresentação oral ................................................................... 73
7.2. A seleção dos dados a serem apresentados................................................................ 74
7.3. A disposição dos dados a serem apresentados ........................................................... 75
7.4. A postura pessoal durante uma apresentação oral .................................................... 78
8. Considerações finais ........................................................................................................... 79
8.1. O seu texto espelha você............................................................................................. 79
8.2. O papel do orientador ................................................................................................. 80
8.3. Orientador não é revisor ............................................................................................. 80
8.4. O cumprimento dos prazos ......................................................................................... 81
Referências.................................................................................................................................. 82

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1. Considerações esparsas sobre a
produção de um trabalho
acadêmico

A pesquisa acadêmica, de uma forma geral, é desenvolvida a partir dos dados


compilados em um trabalho de campo, a partir de análises de laboratório ou a partir de ambas
as situações. Também é possível produzir academicamente a partir de uma revisão bibliográfica,
ou seja, a partir de trabalhos já existentes, cujo conteúdo poderá ser analisado, por exemplo,
sob uma nova perspectiva.

Qualquer que seja a base para o desenvolvimento de um trabalho acadêmico, entre as


três opções mencionadas acima, é preciso levar em consideração alguns fatores:

a) o tempo disponível para execução do trabalho;


b) a afinidade do pesquisador com o tema;
c) a existência de um corpus de boa qualidade;
d) a disponibilidade bibliográfica sobre o tema;
e) os recursos financeiros disponíveis.

Observe-se que o primeiro fator listado diz respeito ao prazo em que o trabalho poderá
ser desenvolvido – incluindo-se sua escritura final. Muitas vezes, o pesquisador possui um tema
excelente para o seu trabalho, mas a complexidade desse tema é tamanha que o tempo
disponível não será suficiente. Envolver-se em um projeto de pesquisa com duração de um ou
dois anos é diferente de envolver-se em um projeto de Trabalho de Conclusão de Curso (TCC)
cujo resultado final deverá ser apresentado em cerca de quatro meses (o que implica um tempo
menor de execução, porque é necessário apresentar o trabalho aos examinadores com pelo
menos quinze dias de antecedência). Portanto, é indispensável ter clareza de pensamento para
planejar o trabalho que será conduzido. É preciso, fundamentalmente, refletir se a proposta de
trabalho tem como ser executada naquela duração temporal. Caso não seja possível, isso pode
causar alguma frustração pessoal, mas, antes de qualquer coisa, é preciso assumir uma postura
profissional em relação ao que se pretende fazer.

Uma das piores situações é trabalhar em algo de que não se gosta. Algumas vezes, em
situações reais, isso é inevitável. Mas, com um bom planejamento, normalmente é possível
desenvolver um trabalho acadêmico dentro de uma temática com a qual o pesquisador possua
afinidade. Se a propensão natural é para a literatura, e a escolha do tema de um TCC, por
exemplo, é relativamente livre, seria inapropriado optar uma temática na área linguística, e vice-
versa. Quanto maior o interesse pessoal pelo tema a ser trabalhado, maior será a possibilidade
de que o resultado final do trabalho seja muito bom. O pesquisador se envolverá no todo, e
buscará fazer o melhor possível, até mesmo porque isso lhe dará grande prazer.
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Já com vistas ao TCC, escolher um tema não é algo muito fácil. Há pessoas que preferem,
durante a graduação, dedicar-se já a uma área específica, e segui-la sempre, para que possa,
inclusive, ser aproveitada numa pós-graduação. Essa pode ser uma boa estratégia nas situações
em que se tem certeza plena de que aquela área é a de interesse maior para a pessoa, sem a
possibilidade de migração para outra. Isso, no entanto, nem sempre é o que ocorre. Parece
prudente perceber a graduação como um momento de descobertas: transitar por várias áreas,
conhecendo-as um pouco mais detalhadamente, é interessante para que se possa avaliar, com
maior exatidão, o interesse pessoal por cada uma delas. É muito frequente que um aluno, por
ter tido um excelente professor em uma determinada disciplina, logo no início do curso, se
interesse por ela e deseje segui-la em sua carreira acadêmica. Não se pode desconsiderar, no
entanto, que esse aluno ainda passará por vários outros professores, por várias outras
disciplinas, com características muito próprias, que talvez possam interessá-lo até mais do que a
primeira. O importante, portanto, é conhecer bem para, depois então, fazer uma escolha
acertada. Especialmente se essa escolha se refletir na vida profissional acadêmica.

Nessa linha de pensamento, embora o interesse possa ser despertado em várias


direções ao longo do curso, é desejável que se reflita sobre um possível tema a ser desenvolvido
no TCC. A ênfase sobre o TCC, neste texto, justifica-se por ser ele condição indispensável para
que se possa concluir a graduação, e pensar sobre ele antecipadamente poderá evitar
transtornos futuros. Considere-se, no entanto, que toda a discussão a ser desenvolvida aqui
aplica-se à maioria dos trabalhos acadêmicos, e deverá ser aproveitada caso se deseje, ainda
durante a graduação, apresentar um trabalho em um congresso ou submeter um artigo a um
periódico científico. Tudo dependerá do que se tiver disponível: dados interessantes da
linguagem observada em uma comunidade, atividades desenvolvidas em sala de aula durante o
estágio supervisionado, produção literária local etc.

O terceiro fator a ser considerado – a existência de um corpus apropriado – é de


fundamental importância para a qualidade do conteúdo apresentado no trabalho acadêmico.
Esse corpus pode ser de natureza muito diversificada: textos produzidos por alunos para uma
disciplina escolar; gravações de entrevistas com pessoas de uma comunidade; resultados de
testagens psicolinguísticas; coletânea de textos literários, nos mais diversos gêneros; respostas
dadas a questionários investigativos; entre várias outras possibilidades. Caso se opte por
trabalhar com um corpus, será possível utilizar um já existente ou produzir um para a finalidade
específica do trabalho a ser desenvolvido. Caso se queira investigar, por exemplo, o nível de
domínio da norma padrão escrita em alunos concluintes do ensino médio de uma forma geral, é
possível, por exemplo, analisar uma amostragem de redações produzidas em um vestibular; no
entanto, caso se queira investigar esse domínio pelos alunos de uma comunidade específica,
talvez seja mais apropriado constituir um corpus próprio, solicitando-se a produção de um texto
em uma turma de terceiro ano. Optar por utilizar um corpus já existente ou pela criação de um
novo corpus dependerá, necessariamente, do primeiro fator discutido: a disponibilidade de
tempo. Talvez, produzir um corpus, no caso desse exemplo específico, seja mais fácil do que
utilizar as redações de um vestibular: no primeiro caso, basta solicitar a autorização de um
professor para produzir esse material; no segundo, pode ser necessário um percurso burocrático
longo, que inclui a autorização do órgão universitário responsável pelo processo seletivo da
instituição para a cessão do material solicitado, além de deslocamentos entre cidades,

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Considerações esparsas sobre a produção de um trabalho acadêmico

hospedagem etc. É necessário, portanto, planejar estrategicamente os recursos a serem


utilizados.

No estado atual em que as ciências se encontram – especialmente as ciências linguística


e literária –, verifica-se uma abundância bibliográfica significativa em praticamente qualquer
tópico que se escolha. Maior em alguns casos, menor em outros. Isso não implica dizer, no
entanto, que tudo já esteja suficientemente estudado. Se considerarmos a vastidão territorial
brasileira, com a riqueza cultural que lhe é peculiar, não é difícil perceber que muitos pontos, às
vezes considerados de menor importância só por estarem escondidos em uma pequena
comunidade quase completamente isolada, apresentam um interesse muito grande,
exatamente pelas peculiaridades que se poderão observar nessa população, da qual talvez nada
ainda tenha sido dito academicamente. Neste caso específico, então, não haveria referenciação
bibliográfica suficiente para o desenvolvimento de um trabalho? Como dito anteriormente,
praticamente qualquer tópico escolhido já terá sido estudado. Esses estudos, então, subsidiarão
a especificidade do trabalho a ser desenvolvido. Entenda-se: consultar o trabalho desenvolvido
por outros é poupar esforços, é aproveitar as dificuldades, os erros e acertos enfrentados e
produzidos por outros para chegar a um resultado desejado. Quando se diz que alguém, ao
propor uma ideia ou um método, “está inventando a roda”, o emissor desse comentário
considera que aquela pessoa está querendo fazer algo que já existe há muito tempo. Talvez o
proponente apenas não conheça que sua proposta já tenha sido feita por outros anteriormente;
daí a necessidade de realizar uma pesquisa bibliográfica sobre o tema em questão, para se
conhecer o “estado da arte”, ou seja, o que já se produziu sobre aquele tema e o que se conhece
presentemente sobre ele. Repetir o que já foi feito talvez não traga contribuição alguma1, mas
prosseguir a partir do último ponto observado com a pesquisa do “estado da arte” pode trazer
inovações interessantes. O caminho científico não surge do nada: ele se alonga a partir dos
passos dados por outros pesquisadores.

A consulta bibliográfica, com o advento das novas tecnologias de comunicação, tem-se


tornado cada vez mais fácil. No passado, quando não se tinha acesso virtual às bases de dados,
gastava-se boa parte do tempo em bibliotecas (às vezes tendo-se que recorrer a bibliotecas
estrangeiras), consultando-se catálogos, verificando-se o conteúdo de livros e periódicos
manualmente, folheando-os. Hoje, basta contar com um computador e uma conexão à internet
para realizar essa pesquisa. Como será discutido mais à frente, um ponto importante a
considerar é como esse recurso poderá ser utilizado de forma eficiente e honesta.

Finalmente, caso se opte pela formação de um corpus próprio, deve-se considerar o


montante de recursos disponíveis para esse fim. Alguns casos exigirão uma quantia mínima, que
poderá ser necessária, por exemplo, para imprimir uma coletânea de poemas; outros, por sua
vez, poderão incluir viagens, hospedagem, alimentação, compra de material para gravação, por
exemplo. De uma forma ou de outra, sempre haverá um custo, e esse custo deverá ser pensado
para que não se torne um empecilho à execução do trabalho.

1
Muitas vezes, pesquisadores replicam experimentos de outros pesquisadores para confirmar ou refutar
os dados apresentados. Por isso, é indispensável que a metodologia utilizada em um trabalho seja muito
bem descrita, o que permitirá replicar os dados. Essa postura é muito comum, por exemplo, em trabalhos
da área médica: é preciso que pesquisadores de várias partes do mundo se certifiquem de que o que está
sendo proposto seja válido.

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Metodologia do Trabalho Científico

Como se pode perceber, redigir um texto acadêmico para a apresentação de um


trabalho de pesquisa é muito mais do que simplesmente utilizar normas de formatação numa
página de papel ou redigir as referências bibliográficas segundo a Associação Brasileira de
Normas Técnicas (ABNT). Isso é o mais simples. Quando há o que dizer, diz-se. A dificuldade está
em ter o que dizer.

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2. O trabalho de campo

A partir das breves considerações desenvolvidas no capítulo anterior sobre o que a


elaboração de um trabalho científico implica, e assumindo-se que se tenha decidido pela
realização de um trabalho de campo, é preciso, então, pensar a sua elaboração, pensar as suas
etapas e as estratégias que serão utilizadas em cada uma delas.

2.1. A importância da formação de um corpus

A opção pela formação de um corpus para o desenvolvimento de uma pesquisa deve ser
decorrência de dois pontos: a) é realmente necessária, para essa pesquisa, a utilização de um
corpus; b) não existe um corpus já pronto que possa ser utilizado para esse fim específico.
Portanto, não se trata de inserir alguns dados na pesquisa apenas para enfeitá-la, ou porque a
maioria dos pesquisadores utiliza dados em seus trabalhos. Os dados a serem utilizados devem
ser considerados essenciais para que a proposta da pesquisa se concretize e, de preferência,
acrescente alguma informação nova ao saber científico.

O resultado final de um corpus, no entanto, pode gerar frustrações. Quando um


pesquisador levanta uma hipótese acerca de um tema, formula um corpus para sustentar sua
hipótese, vai a campo, colhe os dados e, finalmente, analisa esses dados, existe a possibilidade
de o resultado obtido não ser positivo, ou seja, não confirmar a hipótese inicial.

Primeiramente, é necessário entender que mesmo resultados negativos podem ser


interessantes para uma pesquisa. Por exemplo, imagine-se que o senso comum acredite que o
tema em questão apresente resultados óbvios, sendo necessário apenas confirmá-los. No
entanto, os resultados alcançados mostraram-se muito distantes da obviedade. Esses resultados
negativos, portanto, contradizem o senso comum e contribuem para esclarecer um ponto
crítico. Evidentemente, a obtenção desse tipo de resultado pode ser interessante em alguns
casos, mas não em todos.

Quando o que se espera são resultados positivos na formação de um corpus, é preciso


ter muito cuidado para não distorcer esses resultados a favor da confirmação da hipótese inicial.
É da natureza humana esperar que, ao se executar um trabalho, tudo corra bem, todos os dados
sejam favoráveis. Caso isso não aconteça, gera-se um sentimento de frustração, com o qual é
preciso saber lidar. Sempre é bom lembrar que as pessoas ouvem o que desejam ouvir. Da
mesma forma, podem interpretar uma informação como desejam interpretá-la; ou seja, corre-se
o risco de analisar dados como confirmadores de uma hipótese quando, na verdade, isso não
ocorre. Nesse caso, é necessário assumir uma postura de distanciamento em relação ao objeto
de análise – por mais difícil que isso possa ser – e manter-se fiel aos resultados reais, quaisquer
que sejam eles.
Metodologia do Trabalho Científico

Para evitar problemas desse tipo, e para não desperdiçar tempo e esforços, é
aconselhável fazer uma sondagem inicial em relação à temática a ser pesquisada, como um pré-
teste, ou um pré-corpus. Isso evidenciará a existência de maiores possibilidades de o fenômeno
em questão ser observado no universo em que se constituirá o corpus. Por exemplo, imagine-se
que a hipótese a ser trabalhada seja a de que, embora estejam concluindo o ensino médio, os
alunos de uma determinada escola não conseguem utilizar os sinais básicos de pontuação
(vírgula, ponto) de forma satisfatória. Antes de elaborar todo o material necessário à coleta de
dados, para constituição de um corpus, é interessante ir até essa escola e colher amostras de
textos de alguns alunos. Se essas amostras evidenciarem problemas de pontuação básica, é
provável que o universo maior dos sujeitos envolvidos (no caso, os alunos do terceiro ano do
ensino médio) apresente também esses mesmos problemas. Será o caso, então, de dar
prosseguimento à constituição do corpus. Caso contrário, o melhor seria partir para outra
temática e/ou outra hipótese.

Quanto mais planejada e estruturada for a formação de um corpus, melhores serão os


resultados que poderão ser obtidos a partir dele. Um corpus preciso, robusto e claro é a base de
uma pesquisa de qualidade superior. Essa condição sendo satisfeita, a probabilidade de o
trabalho científico final ser bom é muito maior.

2.2. O planejamento do trabalho de campo

Independentemente de um trabalho de campo ser desenvolvido no interior da floresta


amazônica ou na escola estadual de uma capital, é necessário planejá-lo em seus mínimos
detalhes, de forma que os possíveis problemas sejam minimizados.

A título de reflexão, observa-se que o povo brasileiro, de uma forma geral, é muito
criativo e vem conseguindo encontrar soluções para problemas muitas vezes sérios, mesmo no
cotidiano mais simples. O poder de improvisação é muito grande, e às vezes traz algum
benefício. No entanto, o que deveria ser exceção passa a constituir-se regra. A improvisação
deve ser utilizada quando tudo o que foi planejado falhou e, assim, resolver-se um problema. No
entanto, muitas vezes, não se planeja: apenas se improvisa. Discursos como “vamos fazendo, e
depois vemos no que dá” são extremamente nocivos, porque o resultado do que “formos
fazendo” poderá ser ruim, exatamente por não ter havido planejamento das ações, do método.
Com isso, despende-se dinheiro (geralmente o público, porque, quando o dinheiro é privado, os
gestores planejam o seu gasto), tempo, e o bem comum fica em último plano. A prática de
planejar inclui estabelecer cada etapa a ser seguida, de forma lógica e racional, pesando-se
pontos favoráveis e desfavoráveis, prevendo-se possíveis problemas e já apresentando soluções
para eles, caso venham a existir. Na verdade, com a previsão de problemas, é frequentemente
possível planejar estratégias outras que permitam o desenvolvimento do trabalho sem que esses
problemas se verifiquem. Tudo é questão de planejamento.

Para o desenvolvimento de um trabalho de campo mais próximo da realidade de um


aluno de graduação, pode-se pensar uma sequência de etapas a serem seguidas, por exemplo,
na coleta de dados em uma escola estadual ou municipal. Essa sequência, naturalmente, pode
ser adaptada a outros contextos, como associações de moradores, grupos de cordelistas,

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O trabalho de campo

populações quilombolas, indígenas. Sempre deverá prevalecer o bom senso nessa adaptação,
podendo ser necessária a iclusão de outras etapas no planejamento. Para a elaboração do TCC,
como será discutido oportunamente, será possível a apresentação de um artigo científico ou de
relato de experiência. Essa experiência será, via de regra, a obtida durante os estágios
supervisionados. Caso se venha a optar pelo relato de experiência, e já se tendo conhecimento
de que esse relato será baseado nos estágios supervisionados, é interessante adaptar as etapas
que serão discutidas a essa situação, o que permitirá ganhar tempo. Portanto, quando for
chegado o momento de participar dos estágios, considerem-se todas as informações que
constituem este curso de Metodologia do Trabalho Científico, assumindo-se uma visão crítica
acerca do contexto escolar. O mesmo se aplica aos que optarem pelo artigo científico:
observem-se as comunidades, os grupos de pessoas, sempre com senso crítico, buscando-se
identificar aspectos que possam ser interessantes para uma pesquisa.

Para o planejamento de um trabalho de campo, pode-se seguir um roteiro básico, como


o proposto a seguir.

• Pertinência da temática a ser desenvolvida

Como já discutido, uma vez que a temática da pesquisa tenha sido delimitada, é
necessário verificar a sua pertinência, por meio, por exemplo, de uma testagem prévia junto à
população a ser pesquisada. Essa testagem trará indicações do que virá a ser o resultado final,
que poderá apresentar dados substanciais. Caso essa testagem prévia não sugira resultados
interessantes, o melhor a fazer é substituir a temática por outra, que deverá também ser
previamente testada.

No tocante à pertinência temática, deve-se considerar também a sua relevância no


contexto da pesquisa científica: trata-se de um tema já muito discutido, sem nada mais de
interessante a ser acrescentado, ou ainda há espaço para agregar informações úteis a ele?; a
disponibilidade de referências bibliográficas é insatisfatória para o desenvolvimento do trabalho,
ou já há uma boa sustentação teórica? Caso a resposta ao primeiro termo dessas perguntas seja
positiva, provavelmente será o caso de partir para outra temática que atenda ao segundo termo
das perguntas.

• Identificação dos sujeitos a serem pesquisados

É preciso que os sujeitos participantes da pesquisa sejam muito bem delimitados,


constituindo um grupo ou grupos coesos. Se o objetivo é entrevistar alunos do ensino médio,
qual será o ano contemplado? Caso se opte por contemplar os três anos (por exemplo, para se
verificar a evolução de uma habilidade), serão envolvidos todos os alunos ou apenas uma
amostragem de cada turma? Caso se opte por uma amostragem de alunos, essa amostragem
contemplará os que apresentam maior ou menor dificuldade em relação à temática em
questão? Serão envolvidos sujeitos masculinos, femininos, ou de todos os gêneros? A faixa
etária desses sujeitos deverá ser apenas a regularmente prevista para aquele segmento? Serão
envolvidos alunos do turno diurno ou do turno noturno?

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Metodologia do Trabalho Científico

Como se pode perceber, a identificação dos sujeitos a serem envolvidos apresenta uma
série de implicações, implicações essas que poderão interferir diretamente no resultado
esperado. Por exemplo, a expectativa é a de que alunos fora da faixa etária regularmente
prevista para o segmento em questão (reprovados anteriormente ou ausentes da escola durante
alguns anos) apresentem um desempenho inferior ao daqueles cuja idade esteja em sintonia
com o período escolar previsto. Em uma turma, há alunos que apresentam desempenho melhor
que o de outros. Isso interferirá na quantificação dos dados obtidos. Naturalmente, se se deseja
uma amostragem efetiva da realidade daqueles sujeitos, não se poderá fazer uma seleção de
participantes apenas entre os que apresentam maiores dificuldades (o que elevaria o índice de
problemas verificados, evidenciando uma postura tendenciosa do pesquisador). No entanto,
caso se opte por uma análise exclusiva dos que apresentam maiores dificuldades (por exemplo,
para que se possa pensar uma estratégia de ensino mais apropriada para esse grupo), será
necessário isolar esse grupo específico. Qualquer que seja a escolha, é preciso justificá-la de
forma clara e precisa.

• Forma de acesso aos sujeitos da pesquisa

Uma vez identificados os sujeitos a participarem da pesquisa, será necessário ir ao


encontro deles para que a coleta de dados se efetive. Diferentemente do que ocorre com as
pesquisas de opinião pública, em que o entrevistador se coloca em um local e aborda as pessoas
que passem por ali, convidando-as a participarem da pesquisa, no caso de já ter sido identificado
um grupo de sujeitos específico de uma escola é necessário que o acesso a eles seja formalizado.
A instituição escolar possui uma grande responsabilidade sobre os filhos que lhe são confiados
pelas famílias. Portanto, qualquer ação que se desenvolva em seu ambiente deve ser
devidamente analisada e respaldada pelas instâncias competentes (normalmente pelo
supervisor escolar ou o diretor). Ao reportar aos pais que, durante uma aula, o filho participou
de uma pesquisa, a família terá um sentimento completamente distinto do que se verificaria se
esse filho dissesse que participou de uma pesquisa no meio da rua. A família reconhece a
responsabilidade da escola sobre seus filhos, e confia que seus gestores não permitiriam algo
que trouxesse prejuízo aos alunos. O mesmo princípio se aplica a outras instituições
formalizadas, como grupos religiosos, associações de moradores, sindicatos etc.

É preciso entender e lembrar que os profissionais que atuam em uma escola são
habilitados para esse fim. Eles tiveram formação específica para exercerem suas respectivas
funções (gestão, ensino etc.) e desempenham atividades já inseridas numa rotina diária.
Qualquer evento fora dessa rotina pode prejudicar o andamento escolar. Ao buscar a supervisão
ou direção de uma escola, é preciso angariar a simpatia das pessoas, se possível o seu
envolvimento com o que será proposto. É preciso explicar a fundamentação da
pesquisa/intervenção que será feita, evidenciando os pontos positivos tanto para o pesquisador
(estudante, por exemplo, que busca melhorias para o sistema educacional) quanto para o meio
escolar (que poderá se beneficiar dessa pesquisa). Quase tudo é negociável, desde que se saiba
como fazê-lo.

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O trabalho de campo

• Horário da coleta de dados

A qualidade dos dados a serem utilizados na formação de um corpus está diretamente


ligada às condições em que tenham sido colhidos. Se se tratar, por exemplo, de gravações de
áudio que deverão ser realizadas, a quantidade de ruído ambiental deverá ser a menor possível.
Nesse caso, não é viável realizar a coleta durante o intervalo para o recreio numa escola, ou
mesmo se for o horário vago de uma turma e seus alunos estiverem próximos do local onde a
coleta esteja sendo realizada. O mesmo deve ser observado se se tratar da aplicação de um
questionário, por exemplo, uma vez que o ruído externo pode interferir na concentração dos
participantes.

Deve-se considerar também aspectos fisiológicos dos participantes. Se a coleta de dados


for realizada em horário muito próximo ao do almoço (antes ou depois), poderá haver um baixo
nível de concentração (devido à fome ou devido ao estado de letargia após uma refeição).
Idealmente, as condições para a coleta de dados não devem interferir negativamente. Em sendo
assim, a tendência será a de que a qualidade dos dados seja superior.

• Equipamento/Material a ser utilizado

O sucesso na coleta de dados está diretamente relacionado à qualidade do equipamento


ou do material a ser utilizado. No caso de se tratar da realização de entrevistas a serem
gravadas, deve-se considerar o uso de um gravador digital posicionado próximo à boca do
emissor (cerca de 20 cm de distância, em ângulo de cerca de 45o), de forma que o sinal acústico
a ser captado seja forte e de boa qualidade. Se o gravador ficar muito distante do informante, o
sinal será muito baixo, e será muito difícil ouvir a gravação. Deve-se sempre levar baterias
suplementares para substituir as que estiverem em uso caso elas venham a apresentar algum
problema. Considere-se que, se houver um problema com as baterias, por exemplo, o trabalho
não poderá ser realizado, e o tempo (do pesquisador e da escola) terá sido perdido, além de se
causar uma péssima impressão sobre o trabalho do pesquisador.

Caso seja necessária a leitura de um texto e/ou a aplicação de um questionário, todo o


material deverá ser impresso em um formato que permita a sua leitura confortável (tamanho da
fonte satisfatório, espaçamento apropriado entre as linhas, diagramação visual do material). É
preciso que todo o material seja levado ao local em que será utilizado já copiado em quantidade
suficiente para todos os participantes (aconselha-se uma quantidade 10% superior à prevista,
para o caso de haver participantes extras). Seria desagradável iniciar o trabalho em uma turma
sem que todos os alunos tivessem acesso ao material.

Coletados os dados, todo o material deverá ser organizado de forma a não haver perdas.
A organização pessoal do pesquisador será percebida pelos participantes: caso ela seja
adequada, o pesquisador será considerado de forma positiva (ainda que ninguém se manifeste
explicitamente nesse sentido).

Como se pode perceber, é necessário prever e planejar todo o equipamento e/ou


material a ser utilizado no trabalho de campo, para que não haja entraves ao bom andamento

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Metodologia do Trabalho Científico

da pesquisa. Um item que se esqueça pode ocasionar a perda de um precioso tempo de


trabalho.

• Ficha de autorização para uso dos dados

Em qualquer pesquisa que envolva a participação de seres humanos, é necessário que se


respeitem princípios éticos2. Um deles é o direito do participante à preservação de sua imagem e
à sua disponibilização pública, incluindo-se sua voz e demais produções. Assim, é desejável que
os participantes de uma pesquisa assinem uma ficha de autorização, segundo a qual o
pesquisador poderá utilizar os dados fornecidos para fins acadêmicos, preservando-se a
identidade desses participantes. No caso de uma pesquisa desenvolvida em uma escola, por
exemplo, o gestor dessa escola, o mesmo que autorizou a realização da pesquisa, poderia
assinar essa autorização de uso, uma vez que ele é responsável pela vida escolar dos alunos. No
entanto, caso sejam realizadas entrevistas individuais, em que se exponha a imagem do aluno
(por exemplo, utilizando-se uma filmadora para gravação), é necessária uma autorização
específica, assinada por um dos responsáveis diretos pelo aluno, caso ele seja de menor idade.

• Conforto dos envolvidos

O trabalho de campo normalmente demanda um esforço físico bastante acentuado


tanto do pesquisador quanto dos demais participantes.

No caso do pesquisador, deve-se considerar a frequência da coleta dos dados (mesmo


que o pesquisador fique sentado, registrando uma entrevista, isso demanda uma grande
concentração e cansaço físico), utilizando-se intervalos para descanso. Considere-se, também, a
necessidade de alimentação: frequentemente é aconselhável levar algum alimento, porque ele
poderá não estar acessível no local de realização do trabalho de campo.

Deve-se pensar, antes de tudo, no conforto dos participantes da pesquisa. Caso se trate
de uma entrevista, que a pessoa esteja sentada em uma posição confortável, que tenha acesso a
um recipiente com água, que não esteja exposta nem a muito calor (raios de sol incidindo
diretamente sobre ela) nem a muito frio (jatos provenientes de um aparelho de ar-
condicionado). Como regra primeira, deve-se assumir que o participante de uma pesquisa deve
ser tratado com toda a deferência, com todo o respeito: ele está fazendo um imenso favor em
ceder seu tempo e seus conhecimentos ao pesquisador; todas as condições físicas e psicológicas
devem, portanto, ser favoráveis a ele, mesmo que isso implique desconforto físico ou emocional
do pesquisador.

Embora, por questões de praticidade, possa-se imaginar o uso de roupas leves ou curtas,
deve-se considerar que todo o conjunto pessoal transmite uma imagem, transmite uma
informação. Os participantes de uma pesquisa tendem a ver o pesquisador com uma certa

2
Naturalmente, princípios éticos se aplicam em todo tipo de pesquisa, como também as que incluem
animais.

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O trabalho de campo

deferência (é uma pessoa que está realizando uma pesquisa científica) e, por conta disso,
esperam que sua imagem seja condizente com o estereótipo socialmente construído em relação
a um pesquisador. Portanto, é conveniente apresentar-se durante a pesquisa trajando roupas
mais neutras e que preservem a intimidade pessoal. O objetivo do pesquisador não é chamar a
atenção sobre si ou romper paradigmas sociais: seu objetivo é colher dados com eficiência. Logo,
tudo o que puder interferir negativamente nesse processo deverá ser evitado.

2.3. A preparação de questionários e entrevistas

Fundamental para o sucesso de um questionário ou de uma entrevista é saber o que se


quer saber. Se não houver uma conexão real e direta entre as perguntas a serem realizadas e a
temática sendo investigada, as respostas fornecidas talvez apenas tangenciem o tema,
oferecendo um resultado insatisfatório.

O planejamento estratégico tanto de um questionário escrito quanto de uma entrevista


oral deverá levar em conta, por exemplo, os fatores a seguir.

• Afinidade com a temática

Uma vez que se definiu (preferencialmente com base em uma pré-testagem) a temática
a ser desenvolvida, é necessário definir o tipo de abordagem investigativa que melhor a
explorará. Por exemplo, se se trata de investigar a capacidade interpretativa de um certo grupo
de alunos, talvez seja mais apropriado aplicar uma atividade de leitura seguida de um
questionário escrito que explore a interpretação do texto, quer por meio de questões
discursivas, quer por meio de questões de múltipla escolha. No primeiro caso, as questões
discursivas permitirão que o aluno expresse livremente sua interpretação; no segundo, como se
tratará de uma escolha forçada, ele terá que escolher apenas uma resposta. O cômputo das
respostas discursivas, para efeito de dados, é mais complicado, porque o pesquisador terá que
interpretar as respostas para poder categorizá-las, medindo os resultados quanto ao conteúdo
apresentado. No caso das múltiplas escolhas, esse cálculo torna-se mais direto.

No entanto, caso se deseje investigar a variação linguística de uma comunidade, a


melhor técnica parece ser a de entrevista oral. O entrevistador, se for suficientemente hábil,
conseguirá deixar o entrevistado bem à vontade, o que permitirá o uso de uma fala muito pouco
ou nada controlada, refletindo-se a sua linguagem espontânea. Isso não ocorreria quando da
aplicação de um questionário (ainda que de forma oral), porque não se verificaria o estar-à-
vontade do entrevistado.

O importante, como se pode perceber, é que o instrumento de pesquisa seja adequado


ao objetivo que se deseja alcançar.

• Objetivo a ser alcançado

Muitas vezes, corre-se o risco de esquecer o propósito da pesquisa sendo realizada. Para
que isso não ocorra, é indispensável ter sempre em vista o objetivo principal delineado. Delinear

Cirineu Cecote Stein 15


Metodologia do Trabalho Científico

com clareza esse objetivo (ou objetivos) permitirá planejar as etapas e o método necessários
para ser atingido.

Essa delimitação do objetivo a ser alcançado pode ser feita a partir de uma simples
pergunta: o que se deseja demonstrar com essa pesquisa? Normalmente, a resposta será o
objetivo principal. Definido esse objetivo principal, parte-se, então, para a escolha do método
investigativo, como explanado no tópico anterior.

Observe-se que as etapas, de certa forma, entrelaçam-se. É preciso definir o objetivo


principal antes de definir o método investigativo (entrevista ou questionário, por exemplo), mas
é preciso também verificar a disponibilidade bibliográfica sobre a temática, a disponibilidade de
pessoas a serem investigadas etc. Tendo-se em mente as diversas partes para a consolidação do
trabalho de pesquisa, torna-se mais fácil uma visualização estratégica do todo, prevendo-se
possíveis falhas e soluções.

• Exploração gradual dos aspectos envolvidos

Uma vez que, a partir do objetivo a ser alcançado, definiu-se o método investigativo,
deve-se dar forma a esse método. Todo o conteúdo a ser trabalhado/investigado deve ser
apresentado de forma gradual, partindo-se do mais simples para o mais complexo (a menos,
claro, que esteja envolvido algum aspecto psicológico mais específico na investigação).

Quando uma pessoa envolve-se em uma pesquisa, como participante, gera-se uma
tensão, por mais espontânea que essa pessoa possa ser. Se, por exemplo, as perguntas iniciais a
que ela for exposta apresentarem um nível muito alto de complexidade, e ela não for capaz de
entendê-las ou responder a elas, sentirá uma frustração e se intimidará. Isso comprometerá
todo o resultado. Idealmente, a apresentação das perguntas de forma gradual, das mais simples
para as mais complexas (se houver questões complexas) permitirá que o participante sinta-se
mais à vontade já nos momentos iniciais, o que conferirá maior espontaneidade a suas
respostas.

Quando se trata de uma entrevista livre, o maior desejo do entrevistador é que o


entrevistado fale – e fale muito. Atingir esse estado de fala espontânea dependerá muito da
abordagem feita pelo entrevistador (naturalmente, um entrevistado por natureza tímido
dificilmente oferecerá um fluxo de linguagem abundante). Tenha-se sempre em mente que não
se deve cair na tentação de abordar temas de natureza pessoal, uma vez que esses temas
podem deixar o entrevistado constrangido. No tipo de entrevista que se pensa neste texto, o
objetivo é, por exemplo, explorar a linguagem; para isso, não é preciso querer “saber da vida” do
entrevistado. A temática deve ser conduzida na esfera do público, do que pode ser dito a
qualquer um. Isso evitará possíveis problemas éticos.

• Clareza na abordagem

16 Cirineu Cecote Stein


O trabalho de campo

Formuladas as questões a serem aplicadas ou elaborado o roteiro a ser seguido, vale a


pena o pesquisador certificar-se de que todas as informações estejam apresentadas de forma
suficientemente clara. Muitas vezes, a linguagem é clara para quem a utilizou, mas não é clara
para quem será exposto a ela.

Uma forma de se certificar da clareza da linguagem utilizada em um questionário, por


exemplo, é apresentá-lo a uma pessoa cujas características pessoais se assemelhem às do grupo
que participará da pesquisa. Pode-se pedir que essa pessoa responda ao questionário, item por
item, ao lado do pesquisador, comentando o que entendeu de cada questão. Talvez o
pesquisador esteja habituado a uma linguagem que não se aproxima da faixa etária a ser
pesquisada. Ele poderia, alternativamente, pedir auxílio a uma pessoa que esteja familiarizada
com a série em questão (professor, por exemplo), e juntos redigirem as perguntas. Esse
procedimento poderá poupar o dissabor de um questionário mal sucedido, aplicado às vezes
com restrições de tempo do próprio pesquisador. Observe-se que esse procedimento insere-se
nitidamente nas estratégias de planejamento da pesquisa.

• Tempo de aplicação

A aplicação do método investigativo deve levar em consideração o tempo


disponibilizado pelo participante da pesquisa. Uma pessoa com menos idade (criança ou
adolescente) tende a apresentar menos paciência para permanecer por longo tempo em uma
mesma atividade (a não ser que essa atividade seja de seu interesse). Mas mesmo para pessoas
adultas, não se deve explorar intensamente sua boa vontade.

Deve-se calcular a aplicação de um questionário ou de uma entrevista dentro do que se


pode considerar a zona de conforto do participante. A entrevista de uma pessoa adulta, por
exemplo, que dure meia hora, seguramente estará dentro de um tempo já considerado muito
bom (e não se imagine que fazer alguém falar por meia hora seja uma tarefa fácil). A aplicação
de um questionário que extrapole quinze ou vinte minutos talvez já não seja desejável.

O tempo de aplicação do método investigativo, portanto, é uma questão de bom senso.


Deve-se considerar a idade dos participantes, o local em que será feita a coleta dos dados, o
horário do dia. Deve-se sempre utilizar o bom senso.

2.4. A aplicação de questionários e a realização de entrevistas

Planejadas as questões ou o que quer que seja relacionado ao instrumento de pesquisa,


é preciso pensar as condições de execução. É fundamental que o participante seja respeitado em
todos os aspectos, o que inclui desde a abordagem inicial para o procedimento, até a sua
finalização. É apropriado apresentar, no contato para a realização do procedimento, as razões de
o pesquisador estar ali presente, sem revelar, naturalmente, detalhes da pesquisa (a maior parte
dos protocolos de pesquisa exige que os informantes desconheçam o objeto de estudo, para que
não controlem, por exemplo, sua fala ou suas escolhas). Contribui muito para a receptividade
dos participantes o pesquisador agradecer a eles a boa vontade em participar da pesquisa,

Cirineu Cecote Stein 17


Metodologia do Trabalho Científico

cedendo seu tempo, e realçar que eles são peças fundamentais para que a pesquisa possa ser
realizada – o que é a mais pura verdade.

Quanto melhores forem as condições de conforto pessoal do participante durante o


procedimento, melhor tenderá a ser o resultado final. Imagine-se, por exemplo, a aplicação de
um questionário em uma sala de aula iluminada pela luz do sol. Se algum aluno estiver
posicionado próximo a uma janela e a luz incidir diretamente sobre sua carteira, além de o calor
ser muito maior, provavelmente as informações no papel não poderão ser devidamente
visualizadas, o que comprometerá o seu entendimento. Se o procedimento ocorrer durante o
horário vago de uma turma, com outros alunos se movimentando e conversando do lado de fora
da sala, a concentração dos participantes estará prejudicada. Se os alunos estiverem sentados
em uma posição anatomicamente inadequada, o poder de concentração diminuirá,
principalmente devido ao incômodo físico gerado no corpo. Se a apresentação do questionário
na folha de papel não estiver bem nítida, devidamente diagramada, a impressão causada nos
participantes poderá ser a de um material desleixado.

Pensando-se, por outro lado, o desenvolvimento de uma entrevista oral, é preciso que o
participante esteja o mais à vontade possível em relação ao pesquisador. É preciso gerar laços
de confiança: só assim se conseguirá realizar uma entrevista com qualidade elevada, tanto no
nível temático quanto no nível da linguagem, especificamente no quesito espontaneidade. O
participante deverá estar sentado o mais confortavelmente possível, respeitando-se uma
posição anatômica apropriada. Também, não poderá estar exposto a fontes de calor ou frio
intensos, porque, com o passar do tempo, se sentirá muito incomodado. Ao seu lado, sempre
deverá estar disponível um recipiente com água.

Um ponto específico a ser considerado, para a realização de uma entrevista, é o fato de


o entrevistado não poder se sentir intimidado. Essa intimidação talvez não ocorra pela presença
do entrevistador, mas pela presença de outras pessoas, principalmente familiares. Uma pessoa
adulta, mais velha do que nova, normalmente tende a falar bastante quando lhe é dada
oportunidade, e ter pessoas à sua volta, presenciando a entrevista, pode representar prestígio
pessoal. Desde que isso não intimide a pessoa entrevistada, não haverá problema, contanto que
a “plateia” mantenha-se silenciosa (para que a qualidade do arquivo sonoro gerado seja boa).
No entanto, um adolescente pode se sentir extremamente intimidado pela presença de
familiares ou de amigos, não conseguindo se manifestar de forma completa. Em comunidades
interioranas mais conservadoras, a própria presença do marido ao longo da entrevista da esposa
pode causar constrangimento a esta, que se limitará a dizer apenas aquilo que imagina ser
apropriado aos ouvidos do marido, valendo-se de uma linguagem totalmente controlada (o que,
para fins de uma pesquisa linguística, é totalmente indesejado).

Nessas condições, o melhor a fazer é pedir, de forma delicada mas categórica, que a
pessoa entrevistada permaneça sozinha com o pesquisador. Pode-se, inclusive, pedir que as
demais pessoas controlem o nível de ruído fora do local da entrevista (por exemplo, não
deixando as crianças falar alto, não permitindo o cacarejo de galinhas nos arredores etc.),
porque o barulho interferirá na qualidade do som. As pessoas normalmente se sentirão
satisfeitas em poderem colaborar para a pesquisa, ainda que indiretamente.

18 Cirineu Cecote Stein


O trabalho de campo

Finalizados os procedimentos, o pesquisador deve agradecer a participação dos


envolvidos, não com um agradecimento protocolar, mas com um agradecimento verdadeiro,
que evidencie, mais uma vez, a importância daquela participação. Sempre é válido lembrar que
mesmo as pessoas de mais baixa ou nenhuma escolaridade conseguem ler os gestos faciais, os
gestos corporais, e conseguem identificar quando um agradecimento é falso ou verdadeiro.

2.5. A compilação dos dados

Feita a coleta dos dados, é necessário organizá-los. Essa organização permitirá, caso seja
bem feita, uma visualização ampla das informações, possibilitando-se a percepção de pontos de
interesse específico.

Organizar os dados diz respeito desde a sua nomeação (utilizando-se, por exemplo,
códigos que caracterizem sua natureza) até a sua inserção em tabelas. O ideal é que as tabelas
sejam formadas por meio de um programa próprio para esse fim, como o MS Excel (que, ao
contrário do que a maioria das pessoas costuma pensar, é bastante fácil de ser utilizado – pelo
menos em suas funções básicas). A compilação dos dados em tabelas permitirá, também, a
formação de gráficos ilustrativos que poderão ser utilizados no trabalho escrito a ser
apresentado.

A organização dos dados deverá seguir uma lógica apropriada à natureza do trabalho
desenvolvido. Se, por exemplo, a pesquisa procurar avaliar a eficácia de um método de leitura,
terão que ser realizadas várias intervenções em um mesmo grupo de alunos. O resultado de
cada uma dessas intervenções precisa ser quantificado e alocado em uma tabela, paralelamente
aos demais resultados, para que se possa perceber se as intervenções estão produzindo
resultados positivos ou não. Um outro exemplo poderia ser o tipo de erros ortográficos
cometidos pelos alunos: depois de identificadas todas as palavras escritas de forma errada3, é
preciso categorizá-las, agrupando-as de forma a ser possível analisar o conteúdo desses
agrupamentos. No caso de uma entrevista, após ter sido feita a sua transcrição, o pesquisador
deterá sua atenção sobre os pontos que dizem respeito à sua temática de investigação e deverá
organizá-los de forma que sua visualização seja facilitada.

Entenda-se: organização dos dados (e de tudo o mais, aliás) implica facilitação do


trabalho, clareza da análise, acuidade da percepção. A organização economiza tempo e
incrementa a relação custo-benefício de qualquer procedimento.

Quando se está envolvido em uma proposta de pesquisa, é muito comum que se deseje
obter o resultado final o mais rapidamente possível. No tocante à formulação do corpus – caso
seja necessário formular um corpus –, no entanto, não se deve suprimir etapas. Idealmente,
todo o planejado deveria permanecer algumas semanas guardado, para que o pesquisador
conseguisse se distanciar emocionalmente de seu planejamento (estratégias, questionários etc.)

3
No caso da ortografia, escrever uma palavra de forma diferente da prescrita no Vocabulário Ortográfico
da Língua Portuguesa constitui erro absoluto. É erro real e, como tal, deve ser corrigido.

Cirineu Cecote Stein 19


Metodologia do Trabalho Científico

e, assim, conseguir perceber possíveis falhas. Se esse distanciamento temporal não for possível
por conta dos prazos a serem cumpridos, pode-se recorrer à opinião de uma pessoa mais
experimentada, como um orientador. Aliás, como será discutido oportunamente, contar com
uma orientação experiente é o melhor caminho para quem ainda não tem experiência
significativa.

20 Cirineu Cecote Stein


3. Os aspectos éticos envolvidos no
trabalho científico

A designação “trabalho científico” implica dois pontos fundamentais. O primeiro,


decorrente da designação “trabalho”, indica que é necessário (geralmente muito) trabalho para
se chegar a um resultado final satisfatório. Não se pode imaginar que esse desejado resultado
final seja atingido de forma simples, sem que se gastem muitas horas de leitura, de reflexão, de
escritura, além, se for o caso, de muitas horas dedicadas à coleta de dados. O segundo,
decorrente da desinação “científico”, implica que seu conteúdo será de interesse para a ciência,
em qualquer uma de suas áreas.

O conceito fundamental que deve nortear toda a produção científica deve ser a
honestidade intelectual. Ser intelectualmente honesto significa, entre outros aspectos, ser fiel
ao que os dados coletados para uma pesquisa indicam, sem distorcê-los. Significa não manipular
informações no sentido de confirmar uma hipótese. Significa reconhecer quais informações são
provenientes de outras fontes, de outros autores.

Ao se iniciar um trabalho de pesquisa, há uma tendência (talvez natural) do pesquisador


em desejar que sua hipótese seja confirmada. Todos os esforços serão direcionados nesse
sentido. No entanto, é preciso ter muita clareza quanto às possibilidades da pesquisa, que giram
basicamente em torno de a hipótese poder ser confirmada ou não. Caso ela não seja
confirmada, é esperado que se gere, no pesquisador, um certo sentimento de frustração; afinal,
muito tempo foi despendido em algo que resultou negativo. Em hipótese alguma, porém,
justifica-se distorcer a realidade dos dados apenas para compensar esse tempo gasto. No
contexto maior da ciência, comparando-se a importância da verdade com o tempo gasto pelo
pesquisador, a perda desse tempo não tem importância alguma frente à divulgação do que seja
apenas verdadeiro. Em hipótese alguma é aceitável a manipulação de resultados, sob qualquer
justificativa que seja, mesmo que o resultado obtido com a pesquisa implique a perda de um
prazo, a perda da defesa de um trabalho, a perda da publicação de um artigo.

Algumas vezes, um resultado negativo pode ser interessante do ponto de vista científico.
Como já indicado, se o senso comum sugerir que uma certa ideia seja muito óbvia, e uma
pesquisa evidenciar que, na verdade, o que se imagina sobre essa ideia não se verifica, pode-se
desfazer um mito, o que, sem dúvida, será uma importante contribuição para a sociedade como
um todo. Nesse sentido, é necessário ter prudência e bom senso quando da análise de
resultados. Mas, como normalmente o que se espera é que uma hipótese de trabalho seja
confirmada, o melhor a fazer é investir tempo e reflexão sobre as primeiras fases da pesquisa,
realizando-se pré-testagens, por exemplo. As pré-testagens permitirão vislumbrar se uma
hipótese será confirmada ou não. Em se vislumbrando a sua não-confirmação, o melhor talvez
seja descartá-la e formular outra.
Metodologia do Trabalho Científico

No tocante à ética do trabalho científico, igualmente importante é observar o respeito


incondicional aos envolvidos na pesquisa. A importância disso é tamanha que, nas instituições,
constituem-se comitês de ética, aos quais deverão ser submetidas as propostas de pesquisa para
julgamento, devendo esses comitês autorizarem sua execução. A aprovação de uma proposta de
pesquisa por um comitê de ética implica, entre outros aspectos, que não será produzido dano
aos sujeitos envolvidos, no caso de se tratar de seres humanos, respeitando-se todos os direitos
que lhes são inerentes, incluindo-se a preservação de sua integridade física e mental e a
preservação de sua identidade.

No caso da pesquisa linguística, caso seja necessário contar com informantes – que
poderão disponibilizar sua voz ou sua percepção cognitiva –, além do máximo de respeito que
lhes deve ser dispensado, como será discutido mais à frente, é indispensável que sua identidade
seja preservada. A preservação da identidade de um informante se dá, basicamente, de duas
formas: nunca apresentando-se seu nome real (que pode ser substituído por suas iniciais ou por
um nome fictício, sendo o primeiro caso o mais comumente adotado) e, se for o caso,
substituindo-se seu nome ou qualquer referência a ele, num arquivo sonoro, por um sinal
acústico que o disfarce.

Outro ponto importante a considerar é, como já discutido, a existência de um termo


segundo o qual o informante autorize a utilização de sua voz, por exemplo, na pesquisa de que
tenha participado. Uma impressão equivocada é a de que, se o informante aceitou participar de
uma entrevista, essa sua participação implica sua autorização automática para a utilização de
sua voz e/ou imagem. Embora essa impressão, de certa forma, tenha alguma lógica, para efeitos
legais ela não se aplica. É indispensável que esse uso seja formalmente autorizado, o que
resguardará o pesquisador.

Caso se trate de um informante analfabeto, essa autorização se dará com sua impressão
digital estampada no local apropriado do termo de autorização. Nesse caso específico, como o
informante não sabe ler, caberá ao pesquisador explicar-lhe os termos que estará autorizando,
fazendo uma leitura em voz alta do documento e interpretando seu conteúdo. Muitas vezes,
essa leitura pode ser necessária também para informantes de baixa escolaridade, cuja prática de
leitura seja pouco frequente. Não é difícil perceber que, nessas situações mais ainda, estabelece-
se um vínculo de confiança entre o informante e o pesquisador. O informante acreditará que o
conteúdo do documento no qual colocará sua impressão digital condiz efetivamente com a
interpretação oral que lhe foi apresentada. Por uma simples questão de ética, o pesquisador não
poderá, em hipótese alguma, romper esse vínculo de confiança, aproveitando-se da
incapacidade de leitura de seu informante para que este assine um documento que não condiz
com a interpretação apresentada.

Qualquer trabalho, para ser bem sucedido, deve estar alicerçado em princípios éticos
sólidos. Não se deve imaginar, por exemplo, que, “só porque é um trabalho simples”, ele não
terá implicações sérias. Tudo que se faz tem implicações sérias. Ainda que uma entrevista
concedida por um informante seja utilizada unicamente em um trabalho para uma disciplina
acadêmica, sem grandes intenções científicas, aquela entrevista poderá ser o evento mais
importante em toda a vida daquele informante: quando velho, talvez ele venha a se lembrar de
que um dia foi entrevistado, e essa lembrança poderá lhe trazer muito orgulho. Cada indivíduo,

22 Cirineu Cecote Stein


Os aspectos éticos envolvidos no trabalho científico

cada informante é um universo próprio, ainda que, socialmente, ele pareça passar despercebido.
Caberá ao pesquisador fazer essa lembrança ser de fato motivo de orgulho, e não de
arrependimento.

3.1. Como abordar os informantes

Como já foi discutido na seção correspondente ao planejamento do trabalho de campo,


todas as possíveis variáveis que interferirão na execução da pesquisa devem ser levadas em
consideração. Caso se tenha optado por realizar uma pesquisa que dependa da formulação de
um corpus a partir de entrevistas, e uma vez que se tenha definido o número de informantes e
suas características pessoais, será necessário estabelecer contato com eles.

A forma mais eficiente de estabelecer esse contato é por meio da concepção de uma
rede de informantes. Essa rede pode se constituir, basicamente de duas formas. Uma forma
bastante simples é estabelecer o contato com uma pessoa da comunidade em questão e, após a
finalização do protocolo de entrevista, pedir-lhe indicações de outras pessoas que possam, da
mesma forma que ela, ceder entrevistas. Observe-se que essa solicitação deverá ser feita apenas
o término da entrevista, porque, realizado todo o procedimento necessário, o informante
provavelmente terá resolvidas quaisquer dúvidas que porventura ainda tivesse em relação à
complexidade de sua participação ou às temáticas que seriam abordadas. Ao constatar que o
procedimento da entrevista se mostrou relativamente simples para ele, informante, e que as
temáticas envolvidas não comprometiam sua vida pessoal ou da comunidade, esse informante
se sentirá relativamente à vontade para indicar outras pessoas de seu círculo de amizades. Uma
vez que um primeiro informante se sinta à vontade em relação à entrevisa que concedeu, outras
portas da comunidade se abrirão ao pesquisador, desde que, na interação, todos os princípios
éticos de respeito ao informante e à preservação de sua identidade tenham sido notórios.
Embora eficiente, a execução dessa forma de abordagem pode se mostrar potencialmente
difícil, principalmente se o pesquisador for desconhecido da comunidade em que pretende
atuar. Para aumentar a possibilidade de se estabelecer um primeiro contato de forma mais fácil,
buscar uma pessoa que exerça influência sobre aquela comunidade, como um líder comunitário
ou um professor, por exemplo, pode ser uma bom caminho. O que, de certa forma, se relaciona
à outra forma de inserção na comunidade: o contato com alguma entidade oficial.

Normalmente, qualquer núcleo populacional conta com alguma forma de organização


oficial. Essa organização pode ser direta – no caso de uma associação comunitária – ou indireta –
por meio, por exemplo, de um posto de saúde ou de um assistente social responsável pela
comunidade. Estabelecer o contato inicial com uma pessoa envolvida em alguma associação
desse tipo poupará grande trabalho na seleção e na abordagem dos informantes. Será
necessário apresentar a pesquisa a essa pessoa, convencendo-a de sua importância científica e
realçando a importância da participação dos membros daquela comunidade. Uma vez que essa
pessoa é reconhecida pelos demais como uma liderança e, como tal, digna de confiança, se ela
disser que todos podem participar da pesquisa, todos aceitarão sua palavra, e terão boa vontade
em fazê-lo. Como essa liderança, devido ao seu contato prolongado com a comunidade, já
conhece muitas pessoas, ela poderá inclusive auxiliar o pesquisador na seleção dos informantes,

Cirineu Cecote Stein 23


Metodologia do Trabalho Científico

segundo as características pessoais necessárias (faixa etária, nível de escolaridade, desenvoltura


etc.).

Selecionados os informantes e dirigindo-se o pesquisador ao seu encontro, tem-se um


dos aspectos mais complexos e significativos da interação: o estabelecimento da relação de
confiança entre os dois lados. A realização das entrevistas pode ocorrer, por exemplo, em um
espaço público, como uma sala em uma escola, mas pode ocorrer também na própria casa do
informante. Quanto mais privado o espaço, maior a complexidade da interação. Nessa situação,
o pesquisador assume o mesmo papel de um médico ou de um sacerdote que precisam entrar
nas casas das pessoas e conhecem boa parte de sua intimidade, mas não podem divulgar
nenhuma dessas informações. Ao receber um pesquisador em sua casa (ou qualquer outra
pessoa), o informante está lhe dando um voto de extrema confiança, permitindo-lhe conhecer
um pouco de seu cotidiano, de sua família, de sua riqueza ou pobreza. O mínimo que se pode
esperar é que o pesquisador saiba retribuir essa confiança, não a traindo.

Retribuir a confiança do informante implica, em primeiro lugar, respeitá-lo em todos os


aspectos. O pesquisador deve sempre ter em mente que mesmo uma pessoa sem formação
escolar alguma é capaz de ler os gestos corporais, identificando se um olhar é de desdém ou de
admiração, se um movimento do corpo é pacífico ou ameaçador. Todo gesto conta. Toda palavra
conta. Respeitar o limite entre o público e o privado, reconhecer – de forma verdadeira – a
importância do informante, independentemente dos aspectos físicos que sua casa ou seu
próprio corpo possam evidenciar, é fundamental para o sucesso de uma interação. Imagine-se
uma situação muito comum, mesmo aos que não são pesquisadores: para-se o carro em uma
rua para pedir uma informação a alguém que passa. Essa pessoa – que parou, gastou seu tempo,
disponibilizou sua atenção, com toda a boa vontade – talvez resolva dar uma explicação muito
detalhada, que, rigorosamente, é desnecessária. Se quem pediu a informação se mostrar
irritado, impaciente porque a pessoa está falando demais, isso será uma extrema indelicadeza. O
mínimo que se pode fazer é ouvir a pessoa que está sendo tão gentil em fornecer uma
informação solicitada. Trata-se de uma questão de respeito. Da mesma forma, será
extremamente indelicado da parte do pesquisador evidenciar descontentamento, cansaço,
aborrecimento quando em contato com seu informante.

Para a boa realização de uma entrevista, é necessário, além dos aspectos envolvidos nas
relações interpessoais, que algumas condições ambientais sejam satisfeitas. É preciso escolher
um cômodo em que o informante possa sentir-se à vontade, sem a interferência de outras
pessoas ou de barulhos. Mais uma vez, configura-se uma situação muito delicada: o pesquisador
deverá conhecer os cômodos da casa para escolher o que mais se enquadra nas exigências
técnicas de uma entrevista (caso esteja sendo filmada, passa a ser um diferencial o fundo sobre
o qual será posicionado o informante, para a formação de uma bela imagem). A partir do
momento em que o pesquisador se colocar de forma respeitosa e evidenciando sua
competência técnica na execução dos procedimentos necessários, o informante tenderá a
permitir que essa pessoa estranha entre em sua casa e escolha o melhor local, tudo em nome da
qualidade do que se procura desenvolver. Conseguir isso dependerá da interação com o
informante, explicando-lhe, ainda que brevemente, mas sempre com honestidade, o que for
necessário explicar: o microfone é muito sensível e, por isso, capta mesmo os pequenos ruídos; a
iluminação tem que ser boa; as demais pessoas da casa precisam deixar o informante à vontade

24 Cirineu Cecote Stein


Os aspectos éticos envolvidos no trabalho científico

(aliás, nunca se deve utilizar o termo “informante”, porque, para os leigos, ele pode trazer
conotações pejorativas).

Em uma pesquisa linguística, normalmente se deseja o maior nível possível de


espontaneidade na fala do informante. Para isso, muitas vezes o informante não pode conhecer
alguns detalhes que serão observados ao longo da entrevista. Pode-se apresentar a ele a ideia
geral da pesquisa, mas sem comprometer sua função principal. Por exemplo, dizer que a
entrevista procura analisar o modo de falar das pessoas é fazer que o informante
automaticamente passe a monitorar seu modo de falar, porque deverá “falar bonito” para não
ficar em posição socialmente inferior, segundo o senso comum não-especializado na área.

Agradecimentos são sempre muito significativos. É de muito bom tom iniciar uma
entrevista agradecendo ao informante e ressaltando-se a importância de sua participação. Da
mesma forma, ao ser concluída a entrevista, deve-se fazer outro agradecimento, sempre com
muita sinceridade, de forma que o informante sinta que o pesquisador está de fato agradecido.

3.2. O respeito incondicional ao informante

Se uma pesquisa se desenvolve com base em dados produzidos por informantes, pode-
se dizer que, sem a participação deles, a pesquisa não se efetivaria. Eles são a essência primeira
desse trabalho. Como tal, os informantes devem ser respeitados em todas as circunstâncias. O
pesquisador nunca pode desdenhar seus informantes. Deverá sempre olhá-lo com admiração –
de forma investigativa, mas com admiração. Não poderá nunca desdenhar as informações que
forem apresentadas, não poderá nunca fazer os informantes sentirem-se inferiorizados. O
pesquisador poderá constatar que a entrevista não produziu os resultados desejados, mas,
mesmo assim, nunca poderá externar isso aos informantes. Se quiser, poderá destruir os dados
posteriormente, mas nunca deverá deixar os informantes perceberem que o resultado não foi
satisfatório. Os informantes ofereceram seu tempo, seu conhecimento, parte de sua vida; nada
mais justo que sejam respeitados incondicionalmente. Em suma: o informante sempre está
certo.

Um problema que vem assumindo proporções maiores do que as aceitáveis é o fato de


alguns pesquisadores, ao realizarem seus trabalhos de campo, prometerem algo e não
cumprirem. Ao ceder uma entrevista, é previsível que o informante deseje uma cópia do
material gerado. De forma imediata, constata-se o desejo narcísico de se ver, por exemplo,
numa tela de televisão, ou numa fotografia ao lado de pessoas socialmente importantes. Muitas
vezes, o pesquisador, terminada uma entrevista e lhe sendo solicitada uma cópia dela pelo
informante, diz que a cópia será enviada quando o material estiver editado. Na maioria das
vezes essa promessa não se cumpre. Uma das situações mais constrangedoras é entrevistar uma
pessoa que já tenha sido entrevistada em outro momento (o que não é raro, uma vez que, se
essa pessoa está sendo entrevistada, é porque sua desenvoltura e participação na comunidade
se destaca frente à das demais; se a comunidade for alvo de mais de uma pesquisa, é natural
que os mesmos informantes sejam indicados mais de uma vez) e esteja insatisfeita com o não-
cumprimento de uma promessa feita por outros pesquisadores. Ouvir algo como “uma vez me

Cirineu Cecote Stein 25


Metodologia do Trabalho Científico

prometeram uma cópia duma entrevista que eu dei e até hoje não recebi nada” é muito
delicado. A implicação direta desse comentário é: “por que eu acreditaria em você?”.

Como se pode perceber, a realização de uma pesquisa científica tem implicações sociais
muito sérias. Não se deve criar expectativas que não poderão ser concretizadas. Caso seja
realmente impossível oferecer o retorno que o informante deseja para a sua participação, o
pesquisador deverá dizer explicitamente que não será possível, explicando-lhe as razões. Mas se
prometer algo, deverá cumpri-lo – necessariamente. Um gesto equivocado, errado de um
pesquisador pode refletir-se diretamente sobre o trabalho de todos os demais. Recuperar o
respeito e a credibilidade é muito mais difícil e demorado do que mantê-los.

3.3. O plágio e a questão do direito autoral

A criação, qualquer que seja ela, é mérito de seu criador. Em todos os aspectos possíveis,
qualquer coisa que se crie traz consigo responsabilidades, méritos e mesmo deméritos. O
trabalho dispendido quase sempre é bastante significativo, o que, por si só, já seria razão de
algum reconhecimento.

De uma forma mais específica, a produção de uma obra escrita ou audiovisual demanda
um grande esforço intelectual. Independentemente de o conhecimento veiculado nessas peças
ser inovador ou não, seu autor tem tanto a responsabilidade sobre o que está sendo exposto
quanto o mérito de fazê-lo. O mínimo que se espera é que, ao ser utilizado esse conhecimento,
de qualquer forma que seja, reconheça-se esse mérito, informando-se ao público sua origem, ou
seja, mencionando-se quem produziu esse conhecimento – seu autor. Observe-se que, na
maioria das vezes4, o autor de um texto cujo conteúdo contribui para o embasamento de outros
trabalhos não obtém remuneração pecuniária alguma e, ainda que a recebesse, o mínimo que se
pode fazer é deixar claro que as ideias utilizadas nesses outros trabalhos foram produzidas por
ele.

Considerando-se esses aspectos, entende-se que todo autor possui direito autoral sobre
sua obra, e esse direito foi regulamentado em forma de lei, como apresentado a seguir.

3.4. Aspectos legais

Em 19 de fevereiro de 1998 foi publicada a Lei n. 9.610, pela Presidência da República


Federativa do Brasil, que regula os direitos autorais. Como se trata de uma lei, quem a infringir
estará cometendo um crime e, portanto, será considerado um criminoso, caso seu crime seja
comprovado. Essa lei trata dos direitos autorais relativos a vários tipos de obras, desde as
literárias, passando pelas de desenho, até os programas de computador, uma vez que “são obras
intelectuais protegidas as criações do espírito, expressas por qualquer meio ou fixadas em
qualquer suporte, tangível ou intangível, conhecio ou que se invente no futuro” (Art. 7º). Para os

4
As exceções seriam, por exemplo, aquelas em que o autor recebe direitos autorais pela venda de sua
obra.

26 Cirineu Cecote Stein


Os aspectos éticos envolvidos no trabalho científico

fins específicos deste trabalho, o interesse principal está sobre “os textos de obras literárias,
artísticas ou científicas”, sem desconsiderar, naturalmente, todas as outras que possam
eventualmente vir a ser utilizadas na elaboração de um TCC, como fotografias e composições
musicais.

É interessante observar que o autor de uma obra não precisa registrá-la oficialmente
para que lhe sejam reconhecidos os direitos autorais. Segundo o artigo 19, esse registro é
facultado ao autor. Não é legalmente possível, portanto, que alguém se aproprie de uma obra,
qualquer que seja ela, como se fosse seu autor, apenas pelo fato de seu verdadeiro autor não a
ter registrado oficialmente.

Na elaboração de um trabalho científico, uma vez que (praticamente) nunca uma ideia
se constrói a partir do nada, são utilizados referenciais teóricos, veiculados, normalmente, por
meio escrito (publicados em livros e artigos, por exemplo). Seus autores, segundo a Lei 9.610,
em seu Capítulo II, possuem direitos morais, um dos quais é “II – o de ter seu nome, pseudônimo
ou sinal convencional indicado ou anunciado, como sendo o do autor, na utilização de sua obra”.

Embora o autor de uma obra tenha direitos pecuniários sobre ela, existem algumas
limitações a esse direito, especificadas no Capítulo IV da Lei 9.610. Em seu artigo 46, a lei
estipula o seguinte:

“Art. 46. Não constitui ofensa aos direitos autorais:


III – a citação em livros, jornais, revistas ou qualquer outro meio de comunicação, de
passagens de qualquer obra, para fins de estudo, crítica ou polêmica, na medida
justificada para o fim a atingir, indicando-se o nome do autor e a origem da obra”

Observe-se que, para não desrespeitar a lei, basta simplesmente indicar a origem da
informação utilizada durante a elaboração do texto. E, caso não se deseje fazer uma citação
literal de algum trecho de outro autor, é ainda possível parafraseá-lo, uma vez que essa prática é
prevista nessa mesma Lei 9.610:

“Art. 47. São livres as paráfrases e paródias que não forem verdadeiras reproduções da
obra originária nem lhe implicarem descrédito.”

O adjetivo “livres”, nesse artigo, não implica, no entanto, que as paráfrases possam ser
feitas sem que se faça referência ao autor do texto parafraseado. “Livres”, nesse caso, significa
“podem ser feitas”. Naturalmente, deve-se, no corpo do texto que está sendo produzido, indicar
a obra que está sendo parafraseada e seu autor, assim como inserir essa informação nas
referências bibliográficas, segundo as prescrições técnicas.

3.5. Por que é mais fácil fazer seu próprio trabalho do que plagiar ou
pagar a alguém para fazê-lo

Plagiar, como indicado no Dicionário Eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa, é


“apresentar como da própria autoria (obra artística, científia etc. que pertence a outrem)”. E,
como estipulado na Lei 9.610, sua prática constitui infração aos direitos autorais, sendo,

Cirineu Cecote Stein 27


Metodologia do Trabalho Científico

portanto, crime, e seu praticante, um criminoso. Infelizmente, muitas pessoas desenvolvem essa
prática, alegando, na maior parte das vezes, desconhecimento do fato, impossibilidade de
acesso aos meios de informação, restrição de tempo etc. Nenhuma justificativa é aceitável,
assim como não é possível acreditar que uma pessoa concluinte de um curso de graduação não
tenha conhecimento do que é certo e do que é errado nesse aspecto.

Em um próximo capítulo, será recapitulada a forma de escritura das várias partes


textuais, inclusive das citações e formas de parafrasear um texto. De antemão, é possível dizer
que respeitar os direitos autorais é algo extremamente – reforce-se: extremamente – simples,
bastando, para isso, indicar a obra e o autor das citações que estão sendo utilizadas ou dos
trechos parafraseados. Para qualquer informação que se colha, qualquer trecho que se utilize,
seja de um livro, seja de um artigo científico disponível na internet, seja do próprio conteúdo de
uma simples página da internet, deve ser feita alusão a essa fonte. Não custa nada e, com essa
simples atitude, respeita-se a lei e as ideais alheias.

No início da vida acadêmica, ainda é comum não se ter autonomia suficiente para
produzir um texto cujas ideias sejam mais autorais (ou seja, da pessoa que está escrevendo esse
texto) do que aproveitadas de outros. Portanto, é muito comum que grande parte do texto de
um TCC, por exemplo, especialmente no tocante à discussão teórica, seja mais um compilado de
ideias, de teorias já desenvolvidas. Isso não é demérito para um trabalho, contanto que a forma
de escritura seja apropriada.

Imagine-se que, para estabelecer essa “revisão bibliográfica” em um TCC, tenham sido
selecionados textos de artigos e de páginas da internet especializadas no assunto (há, por
exemplo, páginas de entidades ou de profissionais reconhecidos nas diversas áreas que utilizam
esse tipo de mídia para veicular suas ideias). Qualquer parte desse conteúdo poderá ser
utilizado, desde que seja feita menção às suas fontes.

Há duas situações muito comuns e completamente erradas (e criminosas, de acordo


com a Lei 9.610, que protege os direitos autorais):

a) abrem-se algumas páginas da internet, copiam-se vários trechos que são “colados”
num editor de texto, sem modificação alguma e sem fazer referência às fontes;
b) copiam-se vários trechos de páginas da internet, fazendo-lhes algumas modificações
(provavelmente imaginando-se que o leitor não conseguirá identificar a origem
desses textos porque a sequência original das palavras foi alterada, e o Google não
identificaria o texto exato), sem fazer referência às fontes.

Entenda-se: ao se colocar um texto ou parte dele em um outro trabalho, sem fazer


alusão às suas fontes, está-se plagiando um autor, está-se cometendo um crime.

Não é difícil perceber que assumir a responsabilidade da produção de um TCC torna-se


mais fácil e menos problemático do que tentar plagiar. Devemos partir do pressuposto de que o
concluinte de um curso de graduação tem noção do que deseja desenvolver em seu trabalho, e
domina as técnicas necessárias para fazê-lo. Na prática, delimitar um tema, organizar as ideias,
colher uma bibliografia básica, fazer algum experimento (se for o caso) e redigir um texto final é
muito menos dispendioso do que tentar montar um quebra-cabeça cujas peças são fragmentos

28 Cirineu Cecote Stein


Os aspectos éticos envolvidos no trabalho científico

de textos de outros autores. E, diga-se, é honesto. Nunca é demais lembrar que a corrupção, a
contravenção não devem ser percebidas apenas nos que detêm o poder: elas são verificadas
também nas pessoas ditas “comuns”. Por uma questão de princípios, cabe a cada um,
individualmente, negar as práticas que não são honestas.

Pagar a alguém (empresa ou pessoa física) para desenvolver um Trabalho de Conclusão


de Curso também é desonestidade.

Cirineu Cecote Stein 29


4. Artigo científico vs. Relato de
experiência

4.1. Bases para a construção de um artigo científico

O primeiro ponto a considerar quando se deseja produzir um artigo científico, embora


óbvio, é a existência de conteúdo sobre o qual escrever. Não é incomum que muitas pessoas, no
afã ou pela necessidade de publicar, criem uma proposta de artigo a partir do nada. Ou, o que
ocorre com relativa frequência, constroem novos trabalhos a partir de outros já publicados. Esta
última possibilidade, se feita de forma conscienciosa, pode gerar o que se conhece como “artigo
de revisão”, que, segundo a ABNT NBR 6022, é caracterizado como “parte de uma publicação
que resume, analisa e discute informações já publicadas”. Nesse tipo de trabalho, o autor pode
estar interessado, por exemplo, em analisar algum ou alguns aspectos levantados por outro(s)
autor(es), o que, mais uma vez se diga, se for feito de forma conscienciosa, pode promover
discussões bastante interessantes sobre o tema em questão.

A produção de um artigo original (definido pela ABNT NBR 6022 como sendo a “parte de
uma publicação que apresenta temas ou abordagens originais”), no entanto, é provavelmente a
que causa maior inspiração em um autor. Afinal, esse autor estará apresentando ao público o
seu trabalho, a sua contribuição “original” ao desenvolvimento científico. Não se deve perder de
vista, no entanto, que a construção do pensamento se faz a partir do que outros já pensaram,
dificilmente (ou nunca) se criando algo a partir do nada. Esse constructo anterior embasará a
abordagem teórica a ser utilizada nesse artigo original.

Como a construção de um artigo científico deve necessariamente obedecer a um


conjunto de normas – a ABNT NBR 6022 encabeçando todas elas –, é interessante partir de sua
definição técnica: “Parte de uma publicação com autoria declarada, que apresenta e discute
idéias5, métodos, técnicas, processos e resultados nas diversas áreas do conhecimento”.
Observe-se, portanto, que é preciso haver um elemento motivador para a escritura de um
artigo, uma temática que se desenvolverá de forma estruturada.

Tecnicamente, o artigo científico tem sua estrutura caracterizada em três blocos


principais: elementos pré-textuais, textuais e pós-textuais. Entende-se como pré-textuais todos
aqueles elementos anteriores à exposição do trabalho propriamente dito, iniciada pela
introdução. Esses elementos devem, necessariamente, obedecer a uma sequência.

O título do artigo será o primeiro elemento pré-textual. Ocasionalmente, pode haver um


subtítulo. Embora muitos desprezem este fato, a escolha de um bom título é fundamental para a
projeção do trabalho entre os pesquisadores. O título é a primeira informação que qualquer
pesquisador tem sobre um dado artigo. Durante a pesquisa bibliográfica, por exemplo, serão

5
Como se trata de uma citação feita a partir de um texto cuja ortografia não foi ainda atualizada, o acento
nessa palavra é mantido como no original.
Artigo científico vs. Relato de experiência

lidos inicialmente apenas os títulos dos trabalhos: se algum desses títulos apresentar informação
que interesse à temática do pesquisador que realiza essa pesquisa bibliográfica, então
provavelmente ele partirá para a leitura do resumo, para se certificar da pertinência do trabalho
em relação à sua temática. Ou seja, quanto mais elucidativo for o título, maior poderá ser o
interesse de outros pesquisadores sobre esse trabalho.

Escolher um título, no entanto, não é uma tarefa simples. Machado de Assis, no capítulo
primeiro de seu Dom Casmurro, ao explicar o título do livro, coloca as seguintes palavras na boca
de seu protagonista:

“Não consultes dicionários. Casmurro não está aqui n sentido que eles lhe dão, mas no
que lhe pôs o vulgo de homem calado e metido consigo. Dom veio por ironia, para
atriuir-me fumos de fidalgo. Tudo por estar cochilando! Também não achei melhor título
para a minha narração; se não tiver outro daqui até ao fim do livro, vai este mesmo. O
meu poeta do trem ficará sabendo que não lhe guardo rancor. E com pequeno esforço,
sendo o título seu, poderá cuidar que a obra é sua. Há livros que apenas terão isso dos
seus autores; alguns nem tanto.”

Evidentemente, trata-se, aí, de uma ironia em relação aos pretensos autores que apenas se
aproveitam da ideia dos outros para construírem sua obra. Mas evidencia-se, também, a
possibilidade de o título originalmente imaginado para um trabalho vir a ser modificado, caso
surja um mais adequado. Em princípio, quanto maior for a capacidade de síntese do conteúdo
do trabalho no título, melhor este será. É preciso, no entanto, cuidar para que o título não se
torne um verdadeiro parágrafo, tão extenso ele pode tornar-se. A escolha do título, portanto,
também exige um considerável exercício de escritura.

Após o título, deverá aparecer o(s) nome(s) do(s) autor(es). A ABNT NBR 6022 indica que
esse(s) nome(s) deverá (deverão) ser acompanhado(s) de um “breve currículo que o(s)
qualifique na área de conhecimento do artigo”. Essas informações deverão ser mencionadas em
nota de rodapé, indicada por asterisco após o nome a que elas fazem referência. Há a
possibilidade, também, de essas informações serem mencionadas pós-textualmente. Indica-se,
ainda, a menção aos endereços postal e eletrônico acompanhando esse breve currículo.

A parte subsequente é um resumo na língua do próprio texto. O resumo, cuja


elaboração será discutida mais detalhadamente em outro capítulo, é definido tecnicamente
como a “apresentação concisa dos pontos relevantes de um documento”. A ABNT NBR 6022
especifica que o resumo é um

“Elemento obrigatório, constituído de uma seqüência de frases concisas e objetivas e


não de uma simples enumeração de tópicos, não ultrapassando 250 palavras, seguido,
logo abaixo, das palavras representativas do conteúdo do trabalho, isto é, palavras-
chave e/ou descritores, conforme a NBR 6028.”

Observe-se que o resumo é, em si mesmo, um texto, e não “uma simples enumeração


de tópicos”. Embora, como já indicado, a discussão de sua elaboração será feita posteriormente,
já é possível sinalizar que a leitura do resumo deve conferir a impressão da leitura de um texto

Cirineu Cecote Stein 31


Metodologia do Trabalho Científico

independente, com início, meio e fim, autônomo em si mesmo, e cujo conteúdo sintetizará todo
o trabalho desenvolvido.

As palavras-chave serão apresentadas após o resumo, também na língua em que o texto


foi escrito, “antecedidas da expressão Palavras-chave:, separadas entre si por ponto e finalizadas
também por ponto”. Observe-se o uso dos dois-pontos após “Palavras-chave”. As palavras-chave
representam o conteúdo veiculado naquele artigo científico.

Considerando-se as partes textuais propriamente ditas, a introdução, considerada


efetivamente a parte inicial do artigo, deve delimitar o tópico a ser desenvolvido, assim como os
objetivos que encabeçaram a pesquisa, sua metodologia e quaisquer outras informações
necessárias para que o leitor se situe em relação à temática proposta. A introdução é, também
ela, um texto autônomo, independente, que deverá apresentar um início, um meio e um fim.
Sempre é interessante perceber a introdução como a parte que apresenta o trabalho ao leitor.
Mas isso já não foi feito no resumo? Sim, mas o resumo é uma parte pré-textual que tem função
diferente da introdução (e do desenvolvimento e da conclusão). A possibilidade de o resumo ser
lido de forma independente da leitura de todo o trabalho permite, por exemplo, que se
publiquem, nos eventos científicos, apenas o resumo (ou sua versão expandida), e que os
periódicos que vendem seus textos o disponibilizem gratuitamente. O corpo textual do artigo,
propriamente dito, inicia-se com a introdução.

A experiência de escritura normalmente indica que a introdução deva ser escrita ao final
de todo o trabalho. Isso porque o planejamento inicial do que será o resultado textual final pode
sofrer modificações, o que obrigaria uma reescritura da introdução. Deixá-la para o final,
portanto, é o mais prudente. Algumas pessoas, no entanto, preferem redigi-la logo no início,
muito provavelmente pelo desejo de verem algo escrito. Assim, já seriam algumas páginas
completadas. Satisfaz-se, normalmente, a uma angústia pessoal, mas dificilmente essa parte do
texto não terá que ser reescrita.

Após a introdução, será feito o desenvolvimento do trabalho, que é, na verdade, a parte


central do artigo. Como indica a NBR 6022 da ABNT, essa parte “contém a exposição ordenada e
pormenorizada do assunto tratado”. Em outro capítulo, sua elaboração será discutida em seus
pormenores.

A conclusão é a parte final do artigo. Uma vez que o objetivo da pesquisa foi gerar um
resultado, é nessa parte textual que esses resultados poderão ser discutidos (essa discussão
pode ocorrer, também, no desenvolvimento do artigo). Como são definidos objetivos e
levantadas hipóteses no início do trabalho, esta parte textual é o espaço em que são
apresentadas as conclusões obtidas acerca dos objetivos e das hipóteses, que foram
confirmadas ou refutadas. A conclusão, também, caracteriza-se como um texto autônomo,
independente, devendo, portanto, apresentar início, meio e fim, permitindo ao leitor
contextualizar-se em relação ao todo do trabalho. Naturalmente, espera-se que essa
contextualização não seja uma mera repetição do que já tenha sido dito ao longo do trabalho, e
que o leitor, efetivamente, tenha lido todo o artigo.

Dependendo do periódico a que o artigo seja submetido, é possível que os editores


exijam que tanto o título quanto o resumo e as palavras-chave sejam apresentados também em

32 Cirineu Cecote Stein


Artigo científico vs. Relato de experiência

uma língua estrangeira, muito comumente o inglês, logo após seus equivalentes em português.
A apresentação desses elementos textuais em inglês (língua considerada franca no meio
acadêmico internacional) permite que pesquisadores de outras nacionalidades tomem ciência
do conteúdo veiculado naquele trabalho e, se for o caso, busquem traduzi-lo para seu próprio
idioma. A NBR 6022, da ABNT, no entanto, caracteriza esses elementos em língua estrangeira
como elementos pós-textuais, classificando o resumo e as palavras-chave como elementos
obrigatórios. O idioma a ser utilização é um “de divulgação internacional, com as mesmas
características (em inglês Abstract, em espanhol Palabras clave, em francês Mots-clés, por
exemplo)”.

Ainda nas partes pós-textuais, é possível a apresentação de nota(s) explicativa(s), que


são usadas “para comentários, esclarecimentos ou explanações, que não possam ser incluídos
no texto” (ABNT NBR 6022). É a posição a ser ocupada, por exemplo, pelas notas de rodapé.
Muitas vezes, ao longo da escritura do texto, é possível diluir essas notas como comentários
parentéticos. No entanto, algumas vezes, o autor sente a necessidade de não incluí-las no corpo
do texto, uma vez que poderiam interromper o fluxo de pensamento de forma prejudicial ao
desenvolvimento do raciocínio. Utilizam-se, então, essas notas.

As referências, elemento obrigatório na constituição do artigo, indicam as obras que


foram consultadas para a elaboração de todo o trabalho escrito. Mais do que simplesmente
constituírem o elenco de autores consultados, as referências permitem ao leitor, ele próprio,
consultar essas fontes, quer para aprofundar a temática ou subtemática específica, quer para
dirimir dúvidas acerca da informação prestada pelo autor do artigo. Não é incomum artigos
veicularem informações pertinentes a determinadas obras de forma incompleta ou incorreta. O
rigor científico do leitor poderá demandar, por exemplo, a verificação dessas informações em
sua fonte. A ABNT produziu a NBR 6023, que normatiza a referenciação biliográfica. Em um
capítulo posterior, seus principais pontos serão discutidos. Como se verá, a riqueza de detalhes
muitas vezes faz alguns autores se desesperarem durante a compilação e escritura de suas
referências. No entanto, o trabalho poderá ser suavizado se for assumida uma metodologia de
trabalho racional e progressiva.

Após as referências bibliográficas, é possível a utilização de glossário e apêndice(s). O


glossário, como define a NBR 6022 da ABNT, é uma “lista em ordem alfabética de palavras ou
expressões técnicas de uso restrito ou de sentido obscuro, utilizadas no texto, acompanhadas
das respectivas definições”. A opção por um glossário será feita caso o trabalho apresente, de
fato, palavras cujo sentido não seja do domínio acadêmico regular, ou necessitem de clareza
quanto ao seu sentido.

Um apêndice, por sua vez, é um “texto ou documento elaborado pelo autor, a fim de
complementar sua argumentação, sem prejuízo da unidade nuclear do trabalho.” Caso sejam
utilizados apêndices, eles serão “identificados por letras maiúsculas consecutivas, travessão e
pelos respectivos títulos”.

Finalmente, os anexos, que também são opcionais, são definidos como um “texto ou
documento não elaborado pelo autor, que serve de fundamentação, comprovação e ilustração”.
Caso sejam utilizados, os anexos deverão ser “identificados por letras maiúsculas consecutivas,
travessão e pelos respectivos títulos. Excepcionalmente utilizam-se letras maiúsculas dobradas,

Cirineu Cecote Stein 33


Metodologia do Trabalho Científico

na identificação dos anexos, quando esgotadas as 23 letras do alfabeto”. Em um capítulo


posterior, será levantada a discussão sobre que tipo de anexo vale a pena utilizar no trabalho.

A numeração de seções, a escritura de citações, o uso de siglas, de ilustrações e de


tabelas serão abordados também posteriormente.

4.2. Bases para a construção de um relato de experiência

A NBR 6022, da ABNT, ao caracterizar o artigo, apresenta a seguinte redação:

“O artigo pode ser:


a) original (relatos de experiência de pesquisa, estudo de caso etc.);
b) de revisão.”

O que se entende por “relato de experiência”, portanto, é um subtipo de artigo original.


Como essa NBR 6022 caracteriza o artigo em publicação periódica científica impressa, e indica os
relatos de experiência de pesquisa como uma subtipologia do subitem “original”, deduz-se que a
forma de escritura de um relato de experiência seja a mesma preconizada para o artigo que está
sendo considerado “científico”, e que foi caracterizado anteriormente.

A noção de “relato de experiência” é divulgada nas mídias de forma muito ampla e


assume, nesses casos, a noção dos “depoimentos pessoais”. Ao dizer algo como “participei de tal
situação, fiz isso e ocorreu aquilo”, está-se simplesmente relatando uma experiência pessoal em
algum aspecto da vida cotidiana. Não há relação alguma, portanto, com o rigor do método
necessário à escritura desse tipo de artigo original.

Como a Resolução CVL nº 01/2011 especifica a possibilidade de um “relato de


experiência docente”, entende-se que o relato a ser construído deve estar relacionado a uma
experiência didática. Segundo as orientações estabelecidas em Nóbrega (2011), ele deverá ser
pautado no que foi produzido durante o Estágio Supervisionado. Considerando-se as indicações
sugeridas nesse documento, a ABNT NBR 6022 deverá ser rigorosamente seguida, sendo que a
parte textual poderá contar com o conteúdo a seguir (algumas sugestões são de
responsabilidade do autor deste texto).

• Na introdução: o autor poderá apresentar sua experiência durante o Estágio


Supervisionado, contextualizando o tema, apresentando uma justificativa para o
desenvolvimento daquela experiência, assim como apresentando o(s) objetivo(s);
• No desenvolvimento: poderá ser construída uma primeira parte, em que serão
apresentados os pressupostos teóricos, com a “apresentação de conceitos, autores e
obras a partir dos quais a experiência-procedimento adotado em sala de aula será
discutido e avaliado”.
Uma segunda parte seria dedicada à caracterização metodológica, em que seriam
descritos, por exemplo, o local, o período, os sujeitos participantes e/ou o corpus
gerado/utilizado, as etapas e/ou procedimentos envolvidos no processo, assim como
os materiais utilizados, como se configurou o processo de avaliação dessa
intervenção.

34 Cirineu Cecote Stein


Artigo científico vs. Relato de experiência

Seria interessante que, após a caracterização metodológica, fossem analisados os


dados gerados e/ou os resultados obtidos.
• Na conclusão: nessa parte os resultados obtidos poderão ser avaliados, e o autor
poderá apresentar suas considerações pessoais/profissionais sobre a experiência
vivenciada.

4.3. Como escolher uma das duas modalidades

Como se pode perceber, um artigo científico ou um (artigo de) relato de experiência


apresentam, basicamente, o mesmo nível de complexidade. Em ambos os casos, é necessário
estabelecer uma pesquisa bibliográfica (para consolidar o aporte teórico), estabelecer
procedimentos metodológicos, analisar um objeto de estudo, estabelecer conclusões. Além,
claro, de seguir as especificidades técnicas.

Conhecidas as características desses dois gêneros textuais, e considerando-se a limitação


de tempo para a sua elaboração, é preciso assumir uma postura bastante pragmática ao optar
por desenvolver uma ou outra tipologia como Trabalho de Conclusão de Curso. Embora cada um
tenha propensões pessoais para um ou outro tipo de construção, talvez seja mais interessante
aproveitar aquilo com que se está mais familiarizado. Se, por exemplo, durante o Estágio
Supervisionado desenvolveu-se uma experiência realmente interessante, instigante, que
produziu bons resultados, talvez seja mais apropriado aproveitar essa experiência e apresentá-la
ao público em um TCC. Mas, se não for o caso, escolher uma temática que seja de grande
interesse pessoal e analisá-la, quer por meio da criação de um corpus específico, quer por meio
do aproveitamento de um já existente.

De uma forma ou de outra, é preciso haver planejamento, organização e disciplina na


execução de cada etapa. O planejamento inclui analisar o tempo disponível para, por exemplo, a
criação de um corpus específico, e estabelecer um cronograma de atividades de
pesquisa/escritura. Estabelecer que em tantos dias tal etapa deverá estar cumprida – e cumpri-
la efetivamente. Isso dependerá, naturalmente, de uma organização pessoal, estabelecendo
horários, local de trabalho, prevendo-se, inclusive, possíveis falhas e soluções para contorná-las.
Ao se agendar uma entrevista, o entrevistado pode desistir de sua participação; logo, é
interessante haver outro possível entrevistado. É preciso estabelecer estratégias. Assumindo-se
uma disciplina pessoal, desculpas como “não deu tempo” não serão necessárias.

Vale ainda considerar que, embora muitos vejam um TCC como um mero aspecto
burocrático a ser cumprido, vários desses trabalhos podem trazer contribuição efetiva para o
desenvolvimento científico. Ambas as modalidades podem, se bem produzidas, ser publicadas
em periódicos especializados. E um ponto especialmente interessante: em um país de
dimensões geográficas tão extensas como o Brasil, e cujas regiões interioranas são ainda tão
pouco conhecidas, física e sociologicamente falando, trabalhos que apresentem essas realidades
e possíveis intervenções sobre elas são sempre muito bem-vindos.

Cirineu Cecote Stein 35


5. A normatização do trabalho
científico

Um dos grandes desafios para quem se propõe escrever um texto é dar início a ele.
Naturalmente, da mesma forma que não se pode ensinar o que não se sabe, torna-se
complicado, senão impossível, escrever quando não há o que escrever. Partindo-se, no entanto,
do princípio de que há o que escrever, ainda assim a folha em branco (seja ela papel ou a tela de
um computador) costuma mostrar-se desafiadora.

Uma das melhores formas de produzir um texto parece ser a sugerida pelo rei do livro
Alice no país das maravilhas, de Lewis Caroll, ao Coelho Branco, quando indagado por onde
deveria começar a leitura de uma certa carta. O rei, de forma simples, responde: “Comece pelo
começo, vá até o fim e, então, pare”. Simples e objetivamente. Para escrever, basta que se inicie
a escritura. Se não se sabe exatamente como, escreva-se qualquer coisa e continue-se a
escritura. Depois basta, durante a revisão/reescritura, desfazer o início ruim e propor outro
melhor, mais apropriado. Já haverá texto escrito, e a página em branco terá deixado de existir.

A escritura de um texto técnico, científico, desde que, como dito, haja o que escrever, é
muito mais fácil do que a de um texto artístico, literário, que depende de criatividade,
inspiração. O texto científico, basicamente, necessita de conteúdo e forma – uma simples forma.
A disposição do conteúdo é organizacional.

5.1. A organização das ideias

Alguns ensinamentos e metáforas, apesar de conhecidos, são repassados aos outros (aos
alunos, por exemplo) sem serem seguidos por quem os repassa. Não é difícil imaginar que,
quando professores, muitos ora concluintes de um curso de graduação, digam aos seus alunos
que devem organizar suas ideais, seu pensamento, antes de começarem qualquer trabalho. E
utilizem metáforas como, por exemplo, a de a construção de um texto ser semelhante à
construção de um edifício: é preciso planejar sua forma, prever a melhor disposição dos espaços,
calcular sua estrutura, para, só então, dar início à obra. Caso o planejamento arquitetônico e o
cálculo da estrutura não sejam bem feitos, haverá o risco de ter que destruir o já feito e
recomeçar do zero.

Mesmo que não haja prejuízo material significativo quando um texto tem que ser refeito
por falta de planejamento, gasta-se tempo, disposição, paciência. Se o tempo é escasso, cada
reescritura tem o potencial de deixar o autor extremamente nervoso, desesperado, sem saber o
que fazer. Objetivamente falando, a culpa é dele próprio, e de mais ninguém. Se tivesse havido
um planejamento consciente, lógico, provavelmente o trabalho se tornaria mais fácil.
A normatização do trabalho científico

Metodologicamente, a organização das ideias deve seguir uma lógica. Como não se trata
de um texto artístico-literário, a expectativa é a de que o texto científico apresente um
encadeamento das ideias, respeitando-se o princípi fundamental da causa e do efeito. Em outras
palavras, é necessário que uma ideia apresentada esteja posicionada de forma que,
sequencialmente, seja a continuação de sua anterior e permita a construção da seguinte. Dessa
forma, o texto vai-se constituindo em tecitura e, quanto mais bem urdida a trama dessas ideias,
melhor será a textura final.

Um encadeamento lógico prevê início, meio e fim. Se chove, é porque houve


condensação de vapor de água em nuvens. Se o vapor de água se condensou, é porque houve
evaporação. Se houve evaporação, é porque havia água e essa água sofreu algum tipo de
aquecimento. Esse mesmo raciocínio lógico deve ser empregado na organização das ideias para
a produção de um texto científico.

Imagine-se uma situação bastante plausível, como a de um estagiário do curso de Letras


em uma escola de ensino médio numa cidade interiorana. Por uma ironia histórica, percebe-se
que pelo menos metade dos alunos do ensino médio, infelizmente, não conseguem entender o
que leem, a maioria deles podendo ser caracterizada como de analfabetos funcionais. O
estagiário, sentindo-se impotente, mas ao mesmo tempo desejoso de mudar aquela situação,
tenta dar sua contribuição para aqueles adolescentes. Utiliza três atividades de leitura que
encontrou em alguns livros didáticos, aplicadas ao longo de três semanas consecutivas. A final, a
sensação é a de que não houve muita mudança nas aptidões de leitura daqueles alunos. Quais
os problemas encontrados nessa situação, como descrita?

Inicialmente, é preciso considerar que é praticamente impossível modificar uma situação


desse tipo em um espaço tão curto de tempo. Portanto, para que não haja frustração excessiva
da parte do profissional, é necessário que ele tenha consciência plena dos fatores que
interferem nessa realidade, o que não significa, evidentemente, acomodar-se a ela. Num
segundo momento, tudo indica ter havido uma falta de planejamento estratégico para a
aplicação dessas atividades e a mensuração de seus resultados. Os pontos falhos poderiam ser
assim enumerados:

• Como se diagnosticou o problema? Não basta ter a impressão de que algo está
errado: é preciso comprovar esse fato, mensurando-o. Uma forma de fazer isso seria
aplicar uma atividade de leitura a todos os alunos (da escola ou de uma única turma,
a depender do objetivo do trabalho), com itens em dificuldade gradativa, dos mais
simples aos mais complexos, e, ao final da atividade, avaliar os resultados obtidos,
quantificando-os. Isso permitiria apontar o percentual de alunos que estariam nos
níveis mais elementares, médios e superiores de leitura. Seria possível, a partir desse
diagnóstico, sugerir atividades específicas, por exemplo, para o grupo em condições
mais precárias de leitura. Essa mesma atividade poderia ser utilizada novamente, ao
final da intervenção do estagiário, para avaliar se o trabalho produziu o resultado
esperado: em caso positivo, os alunos que foram mal sucedidos conseguiriam atingir
um nível mais elevado nas competências de leitura.

Cirineu Cecote Stein 37


Metodologia do Trabalho Científico

• Qual o grupo de controle? Se “pelo menos metade dos alunos do ensino médio” não
conseguia entender o que lia, isso significa dizer que a outra metade conseguia. O
trabalho, então, não precisaria ser desenvolvido, rigorosamente, com todos os
alunos, porque, dependendo do nível de dificuldade das atividades, muitos
poderiam se sentir desmotivados, quer por elas serem simples demais, quer por
serem complexas demais, a depender do referencial. O ponto principal seria
transformar a realidade dos alunos que não conseguiam entender o que liam. O
grupo de controle, então, poderia ser estabelecido de uma forma simples: os alunos
que conseguiam ler e, submetidos ao diagnóstico anteriormente descrito,
conseguiriam entender de forma satisfatória o que liam, seriam considerados o
grupo de controle, e os demais alunos, então, deveriam chegar ao nível desses seus
colegas. Caso conseguissem, isso seria um indicativo de que as atividades foram bem
sucedidas.

• Como as atividades foram planejadas? O livro didático, embora muitas vezes alivie a
carga de trabalho do professor, também pode tornar-se senhor das aulas, sendo o
professor um mero reprodutor do que está colocado naquelas páginas. Pela própria
falta de experiência, o estagiário pode não ter selecionado atividades que serviriam
ao seu propósito específico. Qualquer atividade de ensino-aprendizagem deve
obedecer a uma gradação de dificuldade, permitindo que o aprendiz consolide suas
habilidades, e não apenas entre em contato com elas. Nesses casos,
frequentemente é interessante criar as atividades, porque, assim, cada passo pode
ser bem calculado e atender a cada etapa do processo.

• O tempo de aplicação das atividades e de internalização do conhecimento foi


suficiente? Muitos se esquecem de que o processo de aprendizagem é composto de
pelo menos duas etapas: uma cognitiva e uma mecânica. Cognitivamente, o aprendiz
tem a capacidade de entender aquilo a que é exposto, armazenando-se esse
conhecimento em sua memória de curto prazo. Para que ele internalize esse
conhecimento e passe a utilizá-lo de forma efetiva, é preciso que ele seja transposto
para a memória de longo prazo, e isso se dá por meio da continuada exposição ao
conhecimento (por exemplo, por meio de muitos exercícios). No caso em questão,
seria apropriado que as habilidades trabalhadas na primeira semana fossem
consolidadas durante, pelo menos, a semana seguinte, para só então partir para
outro nível de atividades. Ao se participar de um estágio, é possível planejar
estrategicamente uma intervenção que se processará ao longo de todo um
semestre, ou mesmo de um ano letivo completo. A duração temporal, então, poderá
se mostrar mais adequada.

• Como as atividades foram aplicadas? Não basta apenas chegar à sala de aula, fazer
uma exposição teórica e aplicar algumas atividades. Inúmeros fatores interferem
nessa dinâmica, desde a atitude do professor/estagiário frente à turma, construindo
uma relação de respeito mútuo, até o nível de dispersão da atenção dos alunos,
causado, por exemplo, por um ventilador barulhento, pelos raios solares entrando
pela janela, pelo horário (próximo ao almoço, quando os alunos estão com fome; ou

38 Cirineu Cecote Stein


A normatização do trabalho científico

depois do almoço, quando estão sonolentos). É preciso pensar a disposição dos


alunos no espaço físico da sala (em filas, em semicírculo), como também o tempo
utilizado para a aplicação das atividades. Tudo precisa ser controlado. Se alguém
está no comando da sala, pressupõe-se que esteja capacitado para isso.

• Como avaliar se a intervenção foi positiva ou não? Como já sugerido na discussão


sobre o diagnóstico do problema, é preciso quantificar a qualidade da intervenção. É
muito importante conhecer o “antes” e o “depois”. Nesse caso específico, uma
possibilidade é utilizar a mesma atividade de diagnóstico para avaliação os resultdos
finais. Pelo distanciamento temporal, muitos alunos provavelmente não terão
sequer lembrança dela, e o seu objetivo não é conferir uma nota aos alunos, mas ao
próprio trabalho que foi desenvolvido. Muitos temem a avaliação, mas o profissional
responsável está em constante avaliação, e faz questão dela. Trata-se, apenas, de
perceber se o que se faz está no caminho certo ou se precisa sofrer modificações,
com a simples finalidade de melhorar a qualidade do trabalho.

A análise parcial desenvolvida para o caso hipotético acima revela, por si mesma, um
encadeamento lógico de ideias. Partiu-se do diagnóstico do problema, passando-se pelo
estabelecimento do grupo de controle, pelo planejamento das atividades, pelo cálculo do tempo
a ser utilizado, pela forma de aplicação das atividades, até chegar à avaliação final dos
resultados obtidos. Considere-se que, do diagnóstico do problema até a forma de aplicação das
atividades, tem-se todo o necessário para construir a seção de um texto científico (que poderá
ser, por exemplo, um artigo de relato de experiência) dedicada à descrição metodológica. Seguir
esses passos é estabelecer o método a ser utilizado. Descrevê-los é redigir a seção
“Metodologia” do TCC. A parte da avaliação dos resultados, provavelmente, será apresentada na
seção “Conclusão”. “Provavelmente”, porque ela pode ser analisada também em uma seção
semelhante a “Discussão dos Resultados”, sendo a conclusão reservada para considerações do
autor sobre o trabalho/experiência como um todo.

É preciso dispender algum tempo antes de iniciar o trabalho para planejá-lo, e esse
planejamento inclui a organização das ideias. Esse tempo dispendido na verdade poupará
esforços futuros. Tudo devidamente planejado e executado, basta o autor do texto escrever,
partindo do início e chegando ao fim.

5.2. A seleção bibliográfica

Ao se idealizar um trabalho científico, é desejável que se conheça o “estado da arte” da


temática a ser desenvolvida. É preciso conhecer o que já foi discutido sobre ela, e em que ponto
se encontra essa discussão. Frequentemente, mesmo que se trate de algo já muito conhecido e
debatido, ainda pode haver espaço para o seu enriquecimento. Uma nova abordagem, por
exemplo, sempre pode ser muito interessante.

Conhecer a bibliografia sobre o tema a ser desenvolvido em um trabalho científico é


condição indispensável para se construir um embasamento teórico. Como já dito anteriormente,

Cirineu Cecote Stein 39


Metodologia do Trabalho Científico

uma ideia não se constrói do nada: ela é fruto de reflexões produzidas anteriormente por
outros. E esses “outros” precisam ser considerados.

No passado, boa parte do tempo destinado a um mestrado ou a um doutorado era


destinada à pesquisa bibliográfica. Isso porque o pesquisador deveria ir até as bibliotecas e
consultar os catálogos para encontrar e selecionar as obras de seu interesse. Embora isso ainda
ocorra, o acesso às obras digitais, que vem se tornando cada vez mais fácil, torna esse tempo
muito menor. Os próprios mecanismos de busca utilizados na internet permitem encontrar
inúmeros textos de forma praticamente imediata. Sem dúvida alguma, pelo menos essa parte do
trabalho de pesquisa torna-se mais fácil. O problema que se põe (como sempre se pôs, aliás) é
como fazer a seleção das referências mais importantes, mais significativas para a temática em
questão.

O ponto principal a ser considerado é a qualidade da informação veiculada. Quando, por


exemplo, uma teoria se mostra importante, é muito interessante buscar sua fonte original.
Quando se lê sobre o trabalho de um teórico a partir do texto de outros, corre-se o risco de
deparar com informações equivocadas. Isso, aliás, é bastante frequente. Evidentemente
algumas teorias são tão complexas que seu entendimento se torna mais acessível por meio de
trabalhos de outros autores que a discutem, mas sempre é importante cautela nessas situações.

Tendo sido aproveitadas as obras publicadas em forma de livro, é sempre muito


interessante a consulta a artigos publicados em periódicos especializados. Esses artigos
normalmente apresentam aspectos bastante pontuais acerca da temática envolvida, tendo sido
construídos, na maior parte das vezes, a partir de um bom embasamento teórico. Se o artigo
tiver sido publicado em um periódico que possua corpo editorial qualificado, com um processo
de seleção de material feito com isenção, a qualidade do conteúdo veiculado tenderá a ser
muito boa. Uma leitura atenta do resumo desses artigos permitirá perceber se eles realmente
são de interesse específico ou não. Todas as universidades federais, salvo engano, possuem livre
acesso ao Portal de Periódicos da CAPES (http://periodicos.capes.gov.br/), que disponiliza o
acesso a inúmeros periódicos científicos nacionais e internacionais. Alguns desses periódicos não
são de livre acesso: é preciso ter uma assinatura para ler seus artigos. Nesses casos, basta ir até
um computador conectado à rede da universidade (como os das bibliotecas, por exemplo), para
ter livre acesso a esses textos.

Outra fonte de pesquisa são as páginas na internet de entidades ou mesmo de


pesquisadores individuais. O cuidado com a seleção das informações, nesses casos, precisa ser
ainda maior, porque, como normalmente não há um controle (como, por exemplo, um corpo
editorial com avaliadores), publica-se o que bem se entender.

Uma outra possibilidade de informação a ser utilizada em um texto científico é o que se


chama de “informação verbal”. Imagine-se que, em um congresso, tenha-se discutido um tópico
com algum pesquisador e ele tenha dado sua opinião acerca de um determinado item. Essa
informação, se for interessante para a temática específica do trabalho que está sendo
desenvolvido, poderá ser mencionada e, entre parênteses, deverá ser indiada a expressão
“informação verbal”. Após o fechamento dos parênteses, faz-se remissão a uma nota de rodapé,
em que se indica “Notícia fornecida por Fulano de Tal, no Congresso Tal, na cidade Tal, na data
tal.”). Isso, naturalmente, em casos excepcionais.

40 Cirineu Cecote Stein


A normatização do trabalho científico

Colhido o material bibliográfico que servirá de base para o texto a ser escrito, o passo
seguinte é organizá-lo de forma sistemática. Ao se realizar essas leituras, uma sugestão é
destacar as partes de interesse e anotar em que ponto do texto que será produzido elas poderão
ser utilizadas. Mais à frente será discutida a importância de construir um roteiro textual. Como
se verá, com um roteiro elaborado, é possível identificar quais ideias constituirão cada parte
textual, e em que sequência. Estabelecida essa sequência, a leitura da bibliografia poderá ser
feita de forma a alocar cada informação teórica em sua respectiva parte no texto a ser gerado.
Dessa forma, passa-se a “ter o que dizer”, sabendo-se onde cada informação será dita.

Todas essas informações teóricas poderão ser apresentadas com palavras próprias, com
paráfrases ou com citações, qualquer dessas formas devidamente referenciada. A forma de fazê-
lo será retomada no capítulo seguinte.

5.3. A pesquisa de campo

A menos que se trate de um artigo de revisão, ou de um que possua natureza


eminentemente teórica, os demais trabalhos científicos provavelmente são produzidos a partir
de análises/reflexões acerca de dados, que podem ser gerados de formas bastante distintas. É
comum a disponibilização de bancos de dados por pesquisadores que se dedicaram a colhê-los.
Há bancos de dados, por exemplo, da fala de determinada região, de textos produzidos em uma
escola ou para o vestibular, além de uma grande gama de outras possibilidades. Caso, no
entanto, não se deseje utilizar um banco de dados já existente, é possível criar um para uma
finalidade específica. Evidentemente, esse banco de dados poderá ser constituído de forma mais
simples ou de forma mais complexa.

Pensando-se a condição específica de elaboração de um TCC, e a sua restrição de tempo,


os dados a serem utilizados (se for o caso) podem ser colhidos na própria comunidade em que se
vive, entrevistando-se pessoas ou, caso se deseje trabalhar produção textual ou leitura,
inserindo-se em uma escola, para citar apenas alguns exemplos. Situações como essa inserem-se
no que se conhece como “pesquisa de campo”.

As técnicas e as implicações envolvidas na pesquisa de campo, por si sós, demandam um


curso completo, tamanha a sua complexidade. Dois pontos principais, no entanto, podem ser
sintetizados da seguinte forma:

• a pesquisa de campo deve ser muito, muito bem planejada. Como inúmeros outros
fatores passam a interferir na execução da pesquisa (tempo, locomoção, acesso aos
informantes, gastos financeiros etc.), é preciso estabelecer um roteiro de ação,
inclusive prevendo possíveis riscos e formas de solucioná-los;
• o respeito ao informante é condição inquestionável. É sempre importante lembrar
que o informante está disponibilizando seu tempo para o pesquisador. O informante
nunca está errado. O pesquisador nunca pode se indispor com ele. O informante
pode se atrasar, mas o pesquisador, nunca. Em todas as situações posteriores ao
contato com o informante (apresentações acadêmicas, conversas informais etc.),

Cirineu Cecote Stein 41


Metodologia do Trabalho Científico

nunca o pesquisador pode expô-lo ao ridículo, fazendo gracejo de seu modo de falar,
de agir, ou de escrever. A identidade do informante sempre deve ser preservada.

Para maiores detalhes, retome-se o capítulo 2 desta obra.

5.4. A organização dos dados

A organização (assim como o planejamento) é condição muito desejável para se atingir


um bom resultado quando se pensa a pesquisa e a escritura científicas. Como discutido
anteriormente, os dados a serem utilizados para a escritura podem ser aproveitados de um
corpus já existente ou de um corpus preparado para essa finalidade específica. Obtido esse
material – que será, na verdade, a fonte principal para o interesse maior que o texto despertará,
pois será a informação nova apresentada à comunidade acadêmica –, é preciso dispô-lo de
forma adequada ao seu manuseio. Quanto maior o volume de dados/informações, maior a
necessidade de uma organização rigorosa, sob pena de algo importante ser desconsiderado
durante a escritura, ou mesmo perdido.

Da mesma forma que as informações selecionadas a partir da seleção bibliográfica


podem ser classificadas, o que permite uma melhor visualização delas para o arranjo textual, os
dados a serem utilizados também devem ser agrupados e classificados. Retomando-se o caso
hipotético discutido parcialmente na primeira seção deste capítulo, destinada à organização das
ideias, seria necessário organizar todo o material produzido pelos alunos: a) uma pasta com os
textos de diagnóstico do problema; b) uma para o material produzido durante a primeira
atividade; c) uma para a segunda atividade; d) uma para a terceira atividade; e) uma para a
avaliação da atividade (reaplicação da atividade de diagnóstico).

O agrupamento dos dados é apenas a primeira (e mais fácil) parte desse trabalho. Feito
isso, é necessário classificar todas as informações obtidas. Considerando-se o desempenho na
leitura, cada pasta deverá ter seu material classificado, por exemplo, em ordem crescente ou
decrescente de desempenho dos alunos, o que permitirá identificar o percentual deles que se
enquadra no nível 1 de leitura, no nível 2 etc. Como já exposto, essa quantificação é
indispensável, não apenas para ser apresentada no texto escrito como, principalmente, para
permitir a tomada de decisões quanto aos passos seguintes da intervenção junto ao grupo.

A visualização dos dados auxilia muito o trabalho do pesquisador. Dependendo da


natureza desses dados, uma forma muito apropriada de organizá-los e classificá-los é dipô-los
em tabelas, o que permitirá, inclusive, sua realocação de forma mais fácil. Um exemplo concreto
de aplicação dessa técnica pode ser o observado nas tabelas abaixo (Stein, 2011), em que dados
relacionados à deficiência ortográfica em alunos do ensino fundamental e do ensino médio
foram catalogados.

Palavras Tipo de erro Código de erro Grafia correta Pronúncia


ortografia base fonética,
gritanto OF_d-t_01_em2_M02 gritando Zf3h!s`}cT\
troca [d]~[t]

42 Cirineu Cecote Stein


A normatização do trabalho científico

ortografia base fonética,


derrepende OF_t-d_01_em2_F02 de repente Zcd gd!od}sH\
troca [t]~[d]
ortografia base fonética,
priga OF_b-p_01_ef6_F01 brinca Z!a3h}j?\
troca [b]~[p]
ortografia base fonética,
agordou OF_c-g_01_ef5_F01 acordou Z`jng!cn\
troca [c]~[g]
ortografia base fonética,
goisas OF_c-g_01_ef5_F01 coisas Z!jnH]y?r\
troca [c]~[g]
ortografia base fonética,
defete OF_v-f_01_ef5_F01 diverte Zch!uDgsH\
troca [v]~[f]

Tabela 1. Exemplo de classificação de problemas de escritura relacionados ao vozeamento de


consoantes (STEIN, 2011). O código de erro atende aos seguintes critérios: “OF” – erro de
ortografia com base fonética; “b-p” – permutação verificada; “01” – número do erro para o
informante em questão; “ef5”, “em2” – Ensino Fundamental ou Médio e série; “F01”, “M02”,
número do informante, feminino ou masculino.

Palavras Tipo de erro Código de erro Grafia correta Pronúncia


ortografia base fonética,
mais OF_0-i_01_em1_F02 mas Zl`H]y\
troca [0]~[i]
ortografia base fonética,
feis OF_0-i_02_ef5_F02 fez Z!edy\
troca [0]~[i]

Tabela 2. Exemplo de classificação de problemas de escritura relacionados à ditongação de


monotongos (STEIN, 2011).

Observe-se que, em ambas as tabelas, foram criadas cinco colunas, cada uma delas
atendendo a uma função específica. Na primeira, registraram-se os problemas ortográficos; na
segunda, foi feita a classificação desses problemas; na terceira, estabeleceu-se a codificação dos
problemas; na quarta, indicou-se a forma ortográfica padrão; na quinta, registraram-se as
pronúncias das palavras, como realizadas foneticamente pelos alunos.

Essas tabelas já estão apresentadas em seu formato final de publicação. Na elaboração


dessa pesquisa, esses dados e todos os demais foram alocados em uma única tabela, à medida
que iam sendo detectados. Depois que todos eles foram registrados, utilizou-se o sistema de
filtragem de dados nos rótulos das colunas, selecionando-se, então, os grupos problemáticos.
Esse procedimento é facilitado pelo uso de editores de dados como o MS Excel, mas pode ser
realizado também de forma manual, o que, evidentemente, demandará muito mais tempo do
pesquisador.

A apresentação dos dados em forma de tabelas é muito comum. No entanto, é preciso


analisar a natureza dos dados para avaliar se sua apresentação será idealmente feita em forma
de tabelas. Embora, em princípio, quaisquer dados possam ser tabelados, alguns que necessitem
de uma forma de apresentação com mais palavras descritivas, por exemplo, talvez não
permitam uma boa visualização numa tabela, sendo mais adequada sua disposição em forma de

Cirineu Cecote Stein 43


Metodologia do Trabalho Científico

itens sequenciais, ao longo da página. Da mesma forma que um gráfico tem por objetivo
permitir uma melhor visualização dos dados, uma tabela também cumpre essa função (além,
claro, da função organizacional das informações).

Deve-se considerar, também, que a simples apresentação dos dados não diz muita coisa
em um trabalho científico: é preciso comentá-los, discuti-los. O pesquisador não deve
simplesmente apresentar uma planilha de dados sem apresentar também suas considerações
sobre eles.

5.5. A construção de um roteiro textual

Quando um professor da área de Letras sugere aos seus alunos que, para melhor
organizarem as ideias em um texto é aconselhável dispô-las de uma forma lógica e coerente, de
forma que a apresentação de uma ideia conduza à outra, ele não deve se esquecer de que esse
mesmo conselho se aplica à elaboração de seus próprios trabalhos.

Muitas vezes, as pessoas tendem a pensar que o tempo utilizado na ordenação das
ideias é desperdiçado. Na verdade, se não houver essa ordenação, esse planejamento,
normalmente se gastará mais tempo na elaboração do texto do que se tudo tiver sido planejado.
Pode-se construir um roteiro textual, ou seja, indicar a sequência do que será escrito, com
tópicos e subtópicos. De uma forma geral, esse roteiro tenderá a assumir a caracterização de um
sumário.

O sumário de qualquer trabalho, seja um livro, seja uma tese, seja uma dissertação,
apresenta ao leitor a organização de todo o texto. Num primeiro momento, são indicadas as
partes pré-textuais, seguidas pelas textuais e pelas pós-textuais. Como a expectativa é a de que
a leitura completa da obra permita ao leitor compreender a temática desenvolvida, é natural
que a exposição seja feita apresentando-se as informações de forma gradativa, uma ideia/parte
textual conduzindo ao entendimento da subsequente.

Como, para o TCC, o trabalho a ser apresentado é um artigo (científico ou de relato de


experiência), não será apresentado, como parte pré-textual, um sumário. No entanto, é
aconselhável que o autor desse trabalho organize um roteiro de escritura (que poderia se tornar
o próprio sumário, caso ele fosse necessário).

É aconselhável que o roteiro textual seja produzido anteriormente ao início das leituras
teóricas. Essa informação pode parecer um pouco contraditória, uma vez que, normalmente, é a
partir das leituras teóricas que se consolidará a ideia global do trabalho. No entanto, de forma
pragmática, é preciso considerar que, para a elaboração de um TCC, seu autor estará em contato
direto com seu orientador. Juntos, poderão traçar um primeiro roteiro, que poderá ser
modificado conforme a necessidade. Mas é importante haver um esboço inicial para que não se
perca tempo durante a leitura da teoria.

Durante a leitura das obras de referência, um método bastante produtivo é selecionar os


trechos que poderão ser utilizados como citação/paráfrase ou para reflexão teórica pessoal.
Havendo um roteiro textual, com as seções especificadas, basta classificar os trechos

44 Cirineu Cecote Stein


A normatização do trabalho científico

selecionados (por exemplo, com um código ao lado de cada um deles) durante a leitura.
Posteriormente, basta alocar cada um deles nas seções a que são destinados no trabalho.

Imagine-se, por exemplo, o seguinte roteiro textual:

A) INTRODUÇÃO
• discutir de forma ampla a temática proposta no trabalho
• apresentar o objetivo do trabalho
• sintetizar a metodologia a ser utilizada
B) PRESSUPOSTOS TEÓRICOS
• apresentar um breve histórico do que já foi desenvolvido sobre a temática
• identificar os teóricos mais expressivos na área
• analisar aspectos da teoria
• analisar a problematização da temática
C) METODOLOGIA
• apresentar a forma de diagnóstico do problema
• apresentar os critérios para estabelecimento dos grupos
• apresentar a forma como as atividades foram planejadas
• apresentar a forma de aplicação das atividades
• apresentar os critérios para avaliação
D) APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS
• dados referentes ao primeiro grupo
• dados referentes ao segundo grupo
• dados referentes ao terceiro grupo
E) CONCLUSÃO
• discussão acerca dos resultados obtidos

Esse esquema, na verdade, é um exemplo bastante genérico de um roteiro textual. Cada


temática/proposta seguramente gerará um roteiro com as especificidades do trabalho já
elencadas. O importante a se perceber é que, em qualquer uma dessas partes, pode-se fazer
alusão a alguma referência bibliográfica pertinente. Assim, enquanto se desenvolve a leitura
teórica, vai-se definindo o que será utilizado para cada seção e subseção. Por exemplo, “este
trecho do autor X é adequado para a seção B – analisar aspectos da teoria”; “este trecho do
autor Y é adequado para a seção C – apresentar a forma de diagnóstico do problema”, e assim
sucessivamente.

Ao se adotar esse método de pesquisa/escritura, passa-se a “ter o que dizer”, bastando,


portanto, apenas escrever. Como já indicado, é muito difícil (senão impossível, pelo menos com
alguma qualidade) falar sobre o que não se conhece. Conhecendo-se o assunto – por meio da
referenciação teórica associada à própria experiência pessoal gerada para o desenvolvimento do
trabalho – e seguindo-se um roteiro para a disposição das ideias, o trabalho torna-se muito
menos árduo.

5.6. A citação

Cirineu Cecote Stein 45


Metodologia do Trabalho Científico

Na arte da argumentação, existe um argumento que se conhece como “de autoridade”.


Segundo Perelman (1996, p. 348), esse tipo de argumento “utiliza atos ou juízos de uma pessoa
ou de um grupo de pessoas como meio de prova a favor de uma tese”. No trabalho científico,
quando seu autor utiliza citações de outros autores, ele está, de certa forma, recorrendo ao
argumento de autoridade, e o raciocínio, nessa situação, seria mais ou menos o seguinte: “quem
está dizendo isso é o autor tal, que tem mais autoridade do que eu”.

Na arte retórica, ainda segundo Perelman (idem, ibidem),

“O argumento de autoridade é o modo de raciocínio retórico que foi mais intensamente


atacado por ter sido, nos meios hostis à livre pesquisa científica, o mais largamente
utilizado, e isso de uma maneira abusiva, peremptória, ou seja, concedendo-lhe um
valor coercivo, como se as autoridades invocadas houvessem sido infalíveis”.

Deduz-se que na “livre pesquisa científica” há o questionamento acerca das informações, acerca
da própria natureza dos fatos. O papel do cientista é, portanto, questionar seus pares e a si
próprio, com vistas a encontrar a “verdade científica”. Aceitar os que as “autoridades invocadas”
postularam, sem questionamento, vai de encontro aos princípios da ciência.

No entanto, para a construção dessa mesma ciência, o pesquisador se baseia em


trabalhos já executados. Muitos anteriormente já percorreram árduos caminhos em suas
pesquisas para que o conhecimento sobre determinado assunto chegasse ao ponto a que
chegou. Ignorar seus trabalhos seria partir do pressuposto de que nada anteriormente tivesse
sido feito na área. E, com isso, cometerem-se todos os erros que os outros já cometeram, até –
talvez – chegar a algum acerto. A fundamentação teórica de um trabalho científico, portanto,
aproveita o que os antecessores da área fizeram, para que o novo trabalho que ora se constrói
possa, talvez com menos esforço, acrescentar algo novo à temática.

Entenda-se que esse suporte teórico, no entanto, deve ser um embasamento, uma
sustentação para o que se vai postular no trabalho científico. Primeiramente, deve-se entender
que esse novo trabalho que se constrói pertence a um autor (no caso, o concluinte que elabora
seu TCC), e não aos teóricos que o apoiam. Portanto, é necessário que se verifique a autoria de
quem escreve, ou seja, o texto final não poderá ser um apanhado de inúmeras citações de
outros autores. Soa estranho, matematicamente falando, que se perceba, ao folhear um
trabalho, cerca de 50% (às vezes mais) do espaço nas folhas ocupado por citações. A citação
deve ser utilizada como forma de sustentar um ponto de vista, não sendo ela a parte central do
texto.

Quando se faz a leitura teórica, como discutido nas seções anteriores, é frequente que
se encontrem inúmeros trechos muito interessantes e que podem ser muito úteis para a
elaboração do texto final. No entanto, é preciso considerar que nem todos esses trechos
poderão ser utilizados como citações literais (aquelas que são transcritas entre aspas). Deve-se
selecionar os que sejam mais expressivos para serem utilizados como citações literais e as
demais poderão ser parafraseadas (ditas de outra forma), comentadas, sempre, naturalmente,
fazendo-se a devida referência ao seu autor.

46 Cirineu Cecote Stein


A normatização do trabalho científico

No próximo capítulo, serão discutidas as formas de apresentar as citações em um texto,


literalmente ou parafraseando-as.

5.7. A referenciação bibliográfica

Também no próximo capítulo, serão discutidas as formas de indicar as referências


bibliográficas mais comumente utilizadas na elaboração de um artigo (científico ou de relato de
experiência), conforme a ABNT NBR 6023. Neste ponto, é preciso recapitular que do trabalho
científico dedicada às referências bibliográficas tem por objetivo permitir ao leitor verificar, na
fonte, as informações teóricas veiculadas ao longo do texto.

Infelizmente, não é incomum que alguns autores, talvez por lerem apenas o resumo de
um artigo, sem se darem o trabalho de verificarem de forma completa as informações, escrevam
que determinado autor, em seu artigo, disse tal coisa, e tal coisa não foi dita. O leitor-cientista,
experiente na prática da leitura e na área temática em questão, pode perceber algo estranho
nas informações apresentadas e, para dirimir suas dúvidas, prefere consultar os textos que
embasaram aquele trabalho. Talvez ele, leitor, tenha se equivocado; talvez não. Caso não tenha
se equivocado, aquele texto, naturalmente, cai em descrédito.

Como já discutido no capítulo referente ao plágio, pode-se inferir que a referenciação


bibliográfica também desempenhe o papel de reconhecer a autoria de algumas das ideias
veiculadas naquele trabalho. Portanto, toda e qualquer ideia que tenha sido colhida de outro
autor deve necessariamente ser referenciada.

Uma situação bastante inconveniente é o leitor (por exemplo, um avaliador de uma


banca de TCC) encontrar a menção a um determinado autor, no corpo do texto, ir até a seção
das referências bibliográficas e não encontrar a obra mencionada. Naturalmente, se o autor do
trabalho citou a obra no corpo do texto, não foi sua intenção cometer o plágio. O que lhe faltou
foi atenção na hora de compilar todas as referências.

Para evitar problemas desse tipo, uma sugestão é, à medida que o texto seja construído,
e sempre que surgir uma citação, que se redija imediatamente a referência bibliográfica
equivalente na seção apropriada. Utilizando-se um computador, basta trabalhar com dois
arquivos abertos ao mesmo tempo: um, em que se escreve o texto; outro, em que se escrevem
as referências. Dessa forma, minimiza-se consideravelmente a possibilidade de alguma obra não
ser referenciada. Se, como argumento contrário a essa prática, se imaginar que se possa perder
o fluxo do pensamento, esquecendo-se o que se ia escrever, basta, então, destacar a citação em
vermelho para, posteriormente, fazer sua referenciação.

Essas práticas, no entanto, não anulam a necessidade de uma revisão criteriosa do texto
final. No tocante às referências bibliográficas, é necessário que, durante a leitura final (ou pré-
final), confirme-se a inserção de todos os autores citados na seção devida.

Finalmente, é interessante atentar para as fontes a serem consultadas. Inicialmente, os


livros tendem a ser confiáveis, uma vez que, normalmente, a autorização de sua publicação
passa por um conselho editorial. Isso, naturalmente, não significa dizer que as informações ali

Cirineu Cecote Stein 47


Metodologia do Trabalho Científico

contidas não possam ser questionadas. Se assim não fosse, a ciência não teria evoluído. Também
os artigos científicos publicados em periódicos especializados são uma fonte confiável de
pesquisa. Observe-se que, mais recentemente, a maior parte dos periódicos mantém uma
(quando não única) versão digital, disponível na internet. Isso é extremamente interessante no
sentido de divulgação da informação, uma vez que o acesso aos artigos publicados em papel é
difícil, às vezes sendo possível encontrar o periódico apenas em outro país. Portanto, o mito de
que na internet não há fontes confiáveis de pesquisa é falso. O importante é saber que fontes
consultar.

Um leitor-cientista experimentado, ao ter seu primeiro contato com um livro, uma


monografia ou um artigo, muito provavelmente iniciará sua leitura pelo fim: ele oservará as
referências bibliográficas utilizadas. A partir dessa leitura, ele já terá como traçar um perfil
prévio do autor, pelo nível das referências utilizadas. Normalmente, utilizar enciclopédias como
fonte de pesquisa acadêmica não é muito bem conceituado. De uma forma geral, as
enciclopédias apresentam as informações de forma um tanto quanto condensada, sendo o seu
objetivo transmiti-las ao grande público, não a especialistas (embora o que se escreve nelas seja
escrito por especialistas). É preciso ser cauteloso, portanto, ao fazer uso delas.

Em relação à Wikipedia, informações mais recentes têm reconhecido a confiabilidade de


suas informações. Simson L. Garfinkel, em 2008, publicou no site Technology Review, mantido
pelo Massachussets Institute of Technology (MIT), um ensaio em que discute por que as
informações ali apresentadas são confiáveis. As políticas de publicação de conteúdo incluem não
ser possível publicar conteúdo produzido pelo próprio usuário, assim como a condição de se
manter um ponto de vista neutro. Os editores também exigem que os textos publicados
apresentem referências a fontes confiáveis, que serviram de embasamento para o que foi
escrito. Dessa forma, esse tipo de consulta pode servir, pelo menos, para ajudar a configurar as
ideias a serem desenvolvidas.

48 Cirineu Cecote Stein


6. Aspectos da escritura

Uma vez desenvolvido o trabalho de pesquisa ou vivenciada a experiência durante o


Estágio Supervisionado, para fins de elaboração de um TCC, é indispensável que a apresentação
do texto veiculados dessas informações seja feita de forma apropriada. Como se trata de um
trabalho de natureza acadêmico-científica, é indispensável que um código seja seguido. No
caso, esse código é estabelecido pela ABNT, com finalidade normativa. Uma vez que essa
normatização é acatada por uma instituição, todos que pretendem produzir algum trabalho a
ser submetido à apreciação dessa instituição devem seguir essas regras. Todos – autores e
leitores – conhecendo os mesmos procedimentos padrão, o ato da leitura acaba por tornar-se
mais acessível.

As subseções a seguir têm por objetivo recuperar os aspectos envolvidos na escritura de


cada parte de um artigo (científico ou de relato de experiência) e de algumas especificidades
dessas partes.

6.1. A escritura do resumo

Como já sugerido no capítulo 4, na subseção que tratou da seleção bibliográfica, o


resumo de um trabalho científico é a apresentação mais imediata de seu conteúdo ao leitor
(esse imediatismo só é superado pelo título do trabalho). Durante a seleção bibliográfica para
escritura de um trabalho, o autor, em sua consulta, observará o título do artigo; caso ele se
mostre interessante, passará, então, para a leitura do resumo, para verificar se realmente
aquele trabalho é interessante para o embasamento teórico de que necessita. Percebe-se,
protanto, que elaborar o resumo de forma adequada é condição indispensável para que o
trabalho em produção possa apresentar maior visibilidade.

A ABNT desenvolveu uma Norma específica para a elaboração de resumos, a NBR 6028.
Entre as quatro definições que apresenta, três são especificamente necessárias para a
elaboração de um TCC sob a forma de artigo científico ou de relato de experiência:

“2.1. palavra-chave: Palavra representativa do conteúdo do documento, escolhida,


preferentemente, em vocabulário controlado.
2.2. resumo: Apresentação concisa dos pontos relevantes de um documento.
2.6. resumo informativo: Informa ao leitor finalidades, metodologia, resultados e
conclusões do documento, de tal forma que este possa, inclusive, dispensar a consulta
ao original.”

De acordo com a definição primária de resumo, percebe-se que é necessário um poder


de síntese da parte do autor ao elaborar o resumo para o seu trabalho. Não é incomum o
pesquisador, ao final do seu trabalho, sentir todos os pontos desenvolvidos nele como de grande
importância, e o desejo, normalmente, é o de, no resumo, apresentar todas essas informações.
Metodologia do Trabalho Científico

No entanto, a limitação de tamanho para o resumo, como se verá a seguir, impõe um texto
conciso.

Essa concisão torna-se mais palpável ao se analisar a caracterização do resumo


informativo. Como se percebe, há uma clareza muito grande quanto ao que deve ser
apresentado no resumo: “finalidades, metodologia, resultados e conclusões do documento”.
Inclusive, a ordem a ser seguida na apresentação dessas informações é essa mesma
normatizada. Observe-se que essa sequência é lógica: apresenta-se ao leitor o objetivo, a
finalidade com que o trabalho foi produzido, o método empregado, os resultados obtidos e,
finalmente, as conclusões a que seu autor chegou. De forma clara e objetiva.

Essa clareza e objetividade podem ser facilitadas pela obediência às “regras gerais de
apresentação”, postuladas por essa mesma NBR 6028. São especialmente interessantes as
seguintes prescrições:

“3.3 O resumo deve ser composto de uma seqüência de frases concisas, afirmativas e
não de enumeração de tópicos. Recomenda-se o uso de parágrafo único.
3.3.1 A primeira frase deve ser significativa, explicando o tema principal do documento.
A seguir, deve-se indicar a informação sobre a categoria do tratamento (memória,
estudo de caso, análise da situação etc.).
3.3.2 Deve-se usar o verbo na voz ativa e na terceira pessoa do singular.”

Frequentemente, ao se elaborar um resumo, o autor pode sentir-se tentado a redigi-lo


em forma de tópicos. Essa possibilidade, como se percebe, é totalmente vetada. O resumo,
portanto, deve apresentar a forma de um texto – um texto conciso e independente. A
independência desse texto se faz sentir quando o leitor o lê e entende todo o seu conteúdo sem
ter que analisar o texto do trabalho científico como um todo. Observe-se que, na definição do
resumo informativo, incluiu-se a possibilidade que oferece esse resumo de “dispensar a consulta
ao original”. Seguindo-se rigorosamente a sequência indicada (“finalidades, metodologia,
resultados e conclusões do documento”) e redigindo-se as informações por meio de “frases
concisas, afirmativas”, dificilmente o texto do resumo não será conciso e independente.

A primeira frase do resumo deve ser redigida de forma tal que seu conteúdo seja
significativo, ou seja, não pode apresentar informações vagas. É nela que se vai caracterizar o
tema central do trabalho. Logo a seguir, deverá ser definido o tipo de trabalho que está sendo
apresentado: é nesse ponto que se indicará tratar-se de um artigo de pesquisa ou de um artigo
de relato de experiência. Como prescrito, todas as frases deverão ser redigidas com verbos na
voz ativa (por exemplo, “A análise dos dados indica o resultado X.”, e não “Os dados foram
analisados e se obteve o resultado X.”), e deverão, se for o caso, estar na terceira pessoa do
singular (por exemplo, “Foi possível constatar que a redação dos participantes evoluiu do nível
três para o nível quatro.”, e não “Constatamos que a redação dos participantes evolui do nível 3
para o nível quatro.”).

A ABNT NBR 6028 indica que os resumos de artigos de periódicos deverão ter sua
extensão entre 100 e 250 palavras.

O exemplo abaixo, aproveitado de Hoga & Abe (2000), ilustra a elaboração de um


resumo de um relato de experiência.

50 Cirineu Cecote Stein


Aspectos da escritura

“Este artigo trata-se de um relato de experiência sobre um trabalho desenvolvido com


um um grupo de adolescentes, moradores em uma comunidade de baixa renda. O
objetivo do trabalho foi a educação para a saúde com contextualização socioeconômica
e cultural. Participaram do grupo, 34 adolescentes de ambos os sexos, com idades entre
12 e 18 anos. Foram realizadas nove sessões grupais de educação para a saúde, no
período entre setembro e dezembro de 1997. Foram levantadas as principais dúvidas
que os adolescentes tinham sobre saúde, que foram esclarecidas no decorrer das
sessões de educação para a saúde, com utilização de estratégia participativa, associados
a vários recursos didáticos. Os termos técnicos foram decodificados para a linguagem
popular. Com base nos temas trabalhados nas sessões, foi elaborado um caderno
educativo e a compreensão sobre o conteúdo foi validado com os adolescentes. A
experiência permitiu conhecer as peculiaridades do grupo e planejar orientações
compreensíveis e significativas aos adolescentes.”

Sua divisão em partes, com o propósito de melhor visualizar cada uma delas, pode ser
feita da seguinte forma:

1ª parte: “Este artigo trata-se de um relato de experiência sobre um trabalho


desenvolvido com um um grupo de adolescentes, moradores em uma comunidade de
baixa renda.”

Como primeira frase do resumo, percebe-se que seu conteúdo realmente é significativo.
Observe-se, no entanto, que, ao indicar logo no primeiro momento que se trata de um relato de
experiênca, as autoras inverteram a ordem prescrita, segundo a qual, antes dessa indicação,
deveria ter sido explicado o tema principal do documento.

2ª parte: “O objetivo do trabalho foi a educação para a saúde com contextualização


socioeconômica e cultural.”

Essa frase, concisa e completa, apresenta o objetivo do trabalho.

3ª parte: “Participaram do grupo, 34 adolescentes de ambos os sexos, com idades entre


12 e 18 anos. Foram realizadas nove sessões grupais de educação para a saúde, no
período entre setembro e dezembro de 1997. Foram levantadas as principais dúvidas
que os adolescentes tinham sobre saúde, que foram esclarecidas no decorrer das
sessões de educação para a saúde, com utilização de estratégia participativa, associados
a vários recursos didáticos. Os termos técnicos foram decodificados para a linguagem
popular.”

Nessa terceira parte caracteriza-se a metodologia empregada na execução da proposta.


Observe-se a apresentação do grupo, identificando-se a quantidade de seus membros, o gênero
e a idade deles. Também, como a aplicação do trabalho foi feita (quantidade, tipo e temática das
sessões). A seguir, apresentou-se o que talvez esteja vinculado à essência do trabalho, que é o
esclarecimento de dúvidas acerca de questões relacionadas à saúde, e as estratégias utilizadas
na interação com o grupo. Como os profissinais da saúde (como normalmente ocorre com toda
e qualquer área de conhecimento) utilizam termos técnicos específicos, especificou-se que esses
termos “foram decodificados para a linguagem popular”.

Cirineu Cecote Stein 51


Metodologia do Trabalho Científico

4ª parte: “Com base nos temas trabalhados nas sessões, foi elaborado um caderno
educativo e a compreensão sobre o conteúdo foi validado com os adolescentes.”

Na quarta parte, foram apresentados dois resultados da intervenção: um, material, que
foi a elaboração de um caderno com conteúdo educativo; outro, imaterial, a apreensão cognitiva
das novas informações pelos adolescentes participantes, por meio de uma validação técnica (no
caso, o leitor que deseje conhecer os meios de validação utilizados deverá buscar essa
informação no corpo do artigo).

5ª parte: “A experiência permitiu conhecer as peculiaridades do grupo e planejar


orientações compreensíveis e significativas aos adolescentes.

Finalmente, é apresentada a conclusão das autoras acerca do trabalho desenvolvido,


também em uma frase concisa e completa.

Observe-se que a leitura desse resumo permite compreender o todo do trabalho. As


especificidades, se forem desejadas pelo leitor, poderão ser conhecidas por meio da leitura do
artigo como um todo ou de suas partes específicas.

O texto foi elaborado em terceira pessoa, mas no entanto, há uma ressalva a fazer: foi
feito uso da voz passiva na terceira e na quarta partes do texto, em construções como “foram
levantadas”, “foram decodificados”, “foi elaborado”. Rigorosamente, esse tipo de construção
deveria ser modificado para a voz ativa.

6.2. A escritura da introdução

A NBR 6022 da ABNT indica que a introdução é a “parte inicial do artigo, onde devem
constar a delimitação do assunto tratado, os objetivos da pesquisa e outros elementos
necessários para situar o tema do artigo”. Observe-se que essas informações foram também
apresentadas no resumo, mas de forma concisa. Na introdução, tem-se o espaço para
caracterizar os detalhes relativos a esses itens.

A delimitação do assunto apresenta as características da temática a ser desenvolvida. É


possível estabelecer uma contextualização histórico-social do tema partindo-se de aspectos mais
amplos até os mais específicos, como, por exemplo, o educacinal. Pode-se estabelecer uma
reflexão sobre o problema de forma tal que se demonstre que essa reflexão conduziu ao
desenvolvimento do trabalho, com vistas, por exemplo, a promover a modificação de atitude de
uma população em relação a esse aspecto.

Os objetivos também devem ser apresentados na introdução de forma clara. Por uma
questão de fluência textual, é interessante que eles sejam apresentados sequencialmente (e não
em forma de tópicos), produzindo-se pelo menos um parágrafo com essa finalidade. É
interessante lembrar que a apresentação dos objetivos deve atender também a uma
sequenciação lógica e gradual. Há objetivos que são mais amplos que outros, devendo, portanto,
ser elencados em primeiro lugar. Atingir um objetivo pode depender de, anteriormente, ter sido
atingido outro. Esse outro, portanto, deverá ser apresentando anteriormente àquele.

52 Cirineu Cecote Stein


Aspectos da escritura

Cada trabalho apresenta sua especificidade; logo, torna-se difícil prever o que será
exposto em uma introdução. Os “outros elementos necessários para situar o artigo” serão
apresentados de acordo com essa especificidade.

6.3. A escritura do desenvolvimento

O desenvolvimento, segundo a NBR 6022, da ABNT, é a “parte principal do artigo, que


contém a exposição ordenada e pormenorizada do assunto tratado”. No desenvolvimento se
apresentarão, portanto, todos os detalhes necessários à compreensão da pesquisa desenvolvida,
ou da experiência relatada.

No corpo do desenvolvimento, poderá ser feita uma revisão/contextualização


bibliográfica, em que se discutirão aspectos da teoria relevantes para o trabalho, desde o que se
teorizou quando a temática passou a ser considerada academicamente, até as considerações
mais recentes (cf., no Capítulo 4, as subseções que tratam da organização das ideias e da
seleção bibliográfica).

Sequencialmente, será apresentada a metodologia empregada na pesquisa, relatando-


se, em seus pormenores, tudo o que disser respeito à organização, à aplicação e à verificação
dos procedimentos necessários à execução da pesquisa. Quanto mais detalhada for a descrição
metodológica, maior será a sua qualidade.

Finalmente, ainda no desenvolvimento do trabalho, poderão ser apresentados os dados


relativos à pesquisa ou à experiência vivenciada. A exatidão desses dados é crucial para o
sucesso do trabalho. Deverão ser apresentados em forma gradativa, dos mais amplos e
genéricos para os mais específicos e detalhados. Poderão também ser apresentados tabelas e
gráficos, devendo-se lembrar que o objetivo principal de uma tabela ou de um gráfico é permitir
a melhor visualização dos dados pelo leitor. Não basta apenas apresentar os dados dessa forma:
é preciso comentá-los. Nesses comentários é que se manifestará a análise do autor do trabalho,
a interpretação que ele faz de sua pesquisa.

O desenvolvimento do artigo pode dividir-se em seções e subseções, que deverão ser


numeradas como descrito a seguir.

6.4. A numeração das seções

A ABNT estabeleceu a NBR 6024, que trata especificamente da numeração das seções e
subseções de um documento escrito. Essa numeração progressiva tem por objetivo “expor numa
sequência lógica o inter-relacionamento da matéria” e “permitir sua localização”. Entende-se
“seção” como a “parte em que se divide o texto de um documento, que contém as matérias
consideradas afins na exposição ordenada do assunto”, podendo haver uma “seção primária”,
que é a “principal divisão do texto de um documento”, assim como uma seção secundária,
terciária, quaternária, quinária etc., que é a “divisão do texto de uma seção primária, secundária,
terciária, quaternária, respectivamente”.

Cirineu Cecote Stein 53


Metodologia do Trabalho Científico

De acordo com as regras gerais de apresentação, deve-se seguir o indicado abaixo (as
indicações de seção que precedem cada item estão como apresentadas originalmente na NBR
6024):

“3.1 São empregados algarismos arábicos na numeração.


3.2 O indicativo de seção é alinhado na margem esquerda, precedendo o título, dele
separado por um espaço.
3.3 Deve-se limitar a numeração progressiva até a seção quinária.
3.4 O indicativo das seções primárias deve ser grafado em números inteiros a partir de 1.
3.5 O indicativo de uma seção secundária é constituído pelo indicativo da seção primária
a que pertence, seguido do número que lhe for atribuído na seqüência do assunto e
separado por ponto. Repete-se o mesmo processo em relação às demais seções.
3.6 Não se utilizam ponto, hífen, travessão ou qualquer sinal após o indicativo de seção
ou de seu título.”

Dessa forma, uma seção primária será numerada com os algarismos arábicos 1, 2, 3 etc.
Seções secundárias da primeira seção primária serão numeradas 1.1, 1.2, 1.3 etc. Seções
terciárias da primeira seção secundária serão numeradas 1.1.1, 1.1.2, 1.1.3 etc. Seções
quaternárias da primeira seção terciária serão numeradas 1.1.1.1, 1.1.1.2, 1.1.1.3 etc.
Finalmente, seções quinárias da primeira seção quaternária serão numeradas 1.1.1.1.1,
1.1.1.1.2, 1.1.1.1.3 etc. Também se considere que não pode haver subseções inferiores à seção
quinária (o número máximo de subseções não deve, portanto, ultrapassar cinco). Quando for
feita a leitura oral dos números das seções, não se deve pronunciar os pontos.

Quanto ao destaque gráfico que se faz para os títulos das seções (entenda-se: o que ao
longo deste texto tem-se chamado de “subseção” é classificado como seção “secundária”,
“terciária”, “quaternária”, “quinária”), a NBR 6024 estipula o seguinte:

“3.7 Destacam-se gradativamente os títulos das seções, utilizando os recursos de


negrito, itálico ou grifo e redondo, caixa alta ou versal e outro. O título das seções
(primárias, secundárias etc.) deve ser colocado após sua numeração, dele separado por
um espaço. O texto deve iniciar-se em outra linha.”

Essa normatização implica dizer que o título da seção primária deverá ser grafado em
negrito; o da seção secundária, em itálico (ou grifando-se a fonte normal, sem destaque algum,
tecnicamente conhecida como “redondo”); o da seção terciária, com caixa alta (letras
maiúsculas ao longo de todas as palavras) ou versalete. A palavra “outro” sugere que sejam
utilizados outros recursos gráficos para caracterizar as seções quarternária e quinária, sem,
contudo, especificar quais sejam eles.

Exemplificando-se os recursos gráficos:

1 Como grafar o título de uma seção primária


1.1 Como grafar o título de uma seção secundária
1.1.1 COMO GRAFAR O TÍTULO DE UMA SEÇÃO TERCIÁRIA

Ou, alternativamente:

54 Cirineu Cecote Stein


Aspectos da escritura

2 Como grafar o título de uma seção primária


2.1 Como grafar o título de uma seção secundária
2.1.1 COMO GRAFAR O TÍTULO DE UMA SEÇÃO TERCIÁRIA6

Grafado o título da seção, o texto relativo a ela deve ser iniciado em outra linha. E
sempre deve haver um texto relacionado a cada seção.

Frequentemente, ao longo de um artigo, é necessário remeter o leitor a uma outra parte


já apresentada ou por apresentar. Quando houver essa necessidade, esses

“indicativos deverão ser citados no texto de acordo com os seguintes exemplos:


... na seção 4
... ver 2.2
... em 1.1.2.2, § 3º ou... 3º parágrafo de 1.1.2.2”

6.5. A escritura de citações diretas e indiretas

Como já discutido no capítulo em que se recuperaram aspectos da Metodologia do


Trabalho Científico, a referência por meio de citações a obras de outros autores pode ser feita
como forma de embasar o trabalho ora em desenvolvimento. As informações apresentadas por
eles contribuirão de forma significativa para a construção do arcabouço teórico necessário à
sustentação da nova pesquisa (ou da experiência vivenciada). No entanto, deve-se considerar
que o trabalho que está sendo desenvolvido tem autoria própria, não sendo razoável, portanto,
que o número de citações ocupe um espaço proporcionalmente semelhante ao (ou às vezes
maior que o) do texto considerado autoral.

A NBR 10520, da ABNT, apresenta as seguintes definições:

“3.1 citação: Menção de uma informação extraída de outra fonte.


3.2 citação de citação: Citação direta ou indireta de um texto em que não se teve acesso
ao original.
3.3 citação direta: Transcrição textual de parte da obra do autor consultado.
3.4 citação indireta: Texto baseado na obra do autor consultado.”

Em um trabalho de TCC, a forma de apresentar os tipos de citação acima definidos


seguramente será de maior relevância. Assim, o primeiro ponto a entender é que toda
informação colhida em outra fonte deverá ser mencionada, deverá ser citada no corpo do
trabalho, direta ou indiretamente. Caso se trate de uma citação direta, ou seja, aquela em que
se transcreve literalmente parte do texto de outro autor, deverão ser respeitados os seguintes
princípios:

• se a citação, no corpo do texto sendo produzido, ocupar até três linhas, deverão ser
utilizadas aspas duplas no início e no final do trecho citado;

6
Observe-se que, nesse exemplo, a primeira letra do título, maiúscula, possui um tamanho maior que as
demais, minúsculas.

Cirineu Cecote Stein 55


Metodologia do Trabalho Científico

• caso essa citação ocupe mais de três linhas, ela deverá ser destacada do texto sendo
produzido, iniciada em uma nova linha e toda ela deverá ser recuada “4 cm da
margem esquerda, com letra menor que a do texto utilizado e sem as aspas”;
• as aspas simples serão utilizadas “para indicar citação no interior da citação”. Em
outras palavras, caso o autor da citação tenha utilizado naquele trecho aspas duplas,
essas aspas duplas serão substituídas por aspas simples.

O que caracteriza a citação indireta é o aproveitamento da ideia de outro autor no texto


que está sendo elaborado. O autor do texto sendo elaborado poderá, por exemplo, sintetizar as
ideias colhidas com suas próprias palavras. Esse recurso evidencia ainda mais a interpretação
que é feita da obra consultada. Nesse caso, não será possível utilizar as aspas duplas ou o recuo
de 4 cm, uma vez que esses recursos são exclusivos para as citações literais.

Feita a citação, é preciso referenciar sua autoria. Essa referenciação pode ser feita, toda
ela, entre parênteses, ou apenas parcialmente entre parênteses, dependendo da forma como o
texto será escrito. Devem ser seguidos, para isso, os seguintes princípios:

• se a chamada pelo sobrenome do autor, pela instituição responsável ou título for


feita incluída na sentença, deverão ser utilizadas letras maiúsculas e minúsculas;
• “quando estiverem entre parênteses, devem ser em letras maiúsculas”.

Os exemplos seguintes, aproveitados da NBR 10520 da ABNT, ilustram essas


possibilidades. Observe-se que o primeiro exemplo caracteriza uma citação indireta, enquanto
que o segundo e o terceiro, citações diretas:

A ironia seria assim uma forma implícita de heterogeneidade mostrada, conforme a


classificação proposta por Authier-Reiriz (1982).

Segundo Morais (1955, p. 32) assinala "[...] a presença de concreções de bauxita no


Rio Cricon."

“Apesar das aparências, a desconstrução do logocentrismo não é uma psicanálise da


filosofia [...]” (DERRIDA, 1967, p. 293).

Nesses exemplos, as citações (indireta e direta) não ocuparam espaço superior a três
linhas. Caso isso acontecesse, a apresentação da citação (direta) seria feita com o recuo de 4 cm
a partir da margem esquerda, como a seguir, com letra menor e sem aspas:

A teleconferência permite ao indivíduo participar de um encontro nacional ou


regional sem a necessidade de deixar seu local de origem. Tipos comuns de
teleconferência incluem o uso da televisão, telefone, e computador. Através
de áudio-conferência, utilizando a companhia local de telefone, um sinal de
áudio pode ser emitido em um salão de qualquer dimensão. (NICHOLS, 1993,
p. 181).

Como se pode perceber no segundo e terceiro exemplos acima, na citação direta deve-
se especificar, após o(s) sobrenome(s) do(s) autor(es), em letras maiúsculas, a data de
publicação da obra, seguida pelo volume (se for o caso), e a página, como no primeiro exemplo a

56 Cirineu Cecote Stein


Aspectos da escritura

seguir. No segundo exemplo, percebe-se uma citação direta de uma obra de dois autores.
Observe-se que seus sobrenomes são separados por ponto e vírgula:

Meyer parte de uma passagem da crônica de “14 de maio”, de A Semana: “Houve sol, e
grande sol, naquele domingo de 1888, em que o Senado votou a lei, que a regente
sancionou [...] (ASSIS, 1994, v. 3, p. 583).

“Não se mova, faça de conta que está morta.” (CLARAC; BONNIN, 1985, p. 72).

Quando se deseja citar partes intercaladas de um texto, é necessário indicar que


algumas partes foram suprimidas. Essa supressão será feita utilizando-se reticências entre
colchetes: [...]. No penúltimo exemplo acima, observe-se que não foi transcrito o trecho
completo do texto de Machado de Assis. A supressão da parte fial foi indicada dessa forma.

É possível, também, que se queira fazer algum comentário no interior de uma citação.
Nesse caso, o comentário feito deverá ser destacado por colchetes, no seu início e no seu final.
O mesmo ocorrerá no caso de interpolações ou acréscimos.

Caso se deseje enfatizar ou destacar algum trecho de uma transcrição, isso deverá ser
feito por meio do grifo, do negrito ou do itálico. Nesse caso, se o destaque for feito por quem
cita o texto, após a chamada do autor, seguida da data de publicação da obra e da página
original, deverá ser utilizada a expressão “grifo nosso”, sem aspas. Caso o destaque tenha sido
feito originalmente pelo autor da citação, a expressão deverá ser “grifo do autor”, também sem
aspas, como nos exemplos a seguir:

“[...] para que não tenha lugar a producção de degenerados, quer physicos quer moraes,
misérias, verdadeiras ameaças à sociedade.” (SOUTO, 1916, p. 46, grifo nosso).

“[...] b) desejo de criar uma literatura independente, diversa, de vez que, aparecendo o
classicismo como manifestação de passado colonial [...]” (CANDIDO, 1993, v. 2, p. 12,
grifo do autor).

Caso se deseje citar um trecho de uma obra em língua estrangeira, o autor do texto
sendo elaborado poderá apresentar sua própria tradução para ela. Nesse caso, após a chamada
da citação, deverá ser utilizada a expressão “tradução nossa”, sem aspas, dentro dos parênteses:

“Ao fazê-lo pode estar envolto em culpa, perversão, ódio de si mesmo [...] pode julgar-se
pecador e identificar-se com seu pecado.” (RAHNER, 1962, v. 4, p. 463, tradução nossa).

Frequentemente, tem-se acesso a informações que não foram publicadas. Em um


congresso, por exemplo, pode-se ter discutido algo com um conferencista, que emitiu sua
opinião oralmente. Essa informação, caso seja aproveitada em um trabalho, deverá ser
apresentada e, ao seu final, entre parênteses, deverá ser utilizada a expressão “informação
verbal”, sem as aspas. Imediatamente após o fechamento dos parênteses, deverá ser feita
remissão a uma nota de rodapé, em que se informará “Notícia fornecida por Fulano de Tal no
Congresso Tal, na cidade Tal, na data tal. Observe-se o seguinte exemplo:

O novo medicamento estará disponível até o final deste semestre (informação verbal)1.

Cirineu Cecote Stein 57


Metodologia do Trabalho Científico

No rodapé da página será escrita a seguinte nota:

_________________

1 Notícia fornecida por John A. Smith no Congresso Internacional de Engenharia Genética, em


Londres, em outubro de 2001.

Esse mesmo procedimento deverá ser utilizado caso se cite algum trabalho em fase de
elaboração, com a indicação dos dados disponíveis na nota de rodapé, como no exemplo a
seguir:

Os poetas selecionados contribuíram para a consolidação da poesia no Rio Grande do


Sul, séculos XIX e XX (em fase de elaboração)1.

No rodapé da página constará o seguinte:

_________________

1 Poetas rio-grandenses, de autoria de Elvo Clemente, a ser editado pela EDIPUCRS, 2002.

Um ponto muito importante que deve ser considerado: a indicação de edição a ser
realizada nunca poderá apresentar uma data anterior à data de apresentação do trabalho que
está sendo elaborado. No exemplo acima, caso o trabalho em elaboração esteja concluído em
2013, a citação utilizada deve ser referenciada a partir da obra já publicada (uma vez que a
previsão de publicação era para o ano de 2002).

É possível que um mesmo autor tenha diversos documentos citados, tendo sido eles
publicados em um mesmo ano. Nesse caso, as citações “são distinguidas pelo acréscimo de
letras minúsculas, em ordem alfabética, após a data e sem espacejamento, conforme a lisa de
referências”. Como nos exemplos:

De acordo com Reeside (1927a)

(REESIDE, 1927b)

É muito comum que, durante uma pesquisa bibliográfica, obtenham-se informações


interessantes dadas por um autor citado pelo autor da obra consultada. Caso não seja possível
consultar a obra do autor citado, pode-se fazer sua citação por meio da citação feita pelo autor
que foi possível consultar. É o que se conhece como citação de uma citação, que é definida como
sendo uma “citação direta ou indireta de um texto em que não se teve acesso ao original”.
Nesses casos, utiliza-se a expressão latina “apud” (sem aspas), que significa “citado por,
conforme, segundo”. Os dois exemplos a seguir caracterizam, o primeiro, uma citação de uma
citação feita de forma direta e, o segundo, de forma indireta:

“[...] o viés organicista da burocracia estatal e o antiliberalismo da cultura política de


1937, preservado de modo encapuçado na Carta de 1946.” (VIANNA, 1986, p. 172 apud
SEGATTO, 1995, p. 214-215).

58 Cirineu Cecote Stein


Aspectos da escritura

No modelo serial de Gough (1972 apud NARDI, 1993), o ato de ler envolve um
processamento serial que começa com uma fixação ocular sobre o texto, prosseguindo
da esquerda para a direita de forma linear.

No primeiro exemplo, o trecho entre aspas foi produzido originalmente por Vianna
(1986, p. 172), mas foi consultado em Segatto (1995, p. 214-215). Ou seja, quem utilizou essa
transcrição teve acesso apenas à obra de Segatto.

No segundo exemplo, teve-se conhecimento sobre a informação acerca do modelo serial


de Gough (originalmente publicado em 1972) por meio da obra de Nardi (1993).

Quanto às notas de rodapé, a NBR 10520, da ABNT, prescreve que “devem ser alinhadas,
a partir da segunda linha da mesma nota, abaixo da primeira letra da primeira palavra, de forma
a destacar o expoente e sem espaço entre elas e com fonte menor”, como a seguir:

_________________
1
Veja-se como exemplo desse tipo de abordagem o estudo de Netzer (1976).
2
Encontramos esse tipo de perspectiva na 2ª parte do verbete referido na nota anterior, em grande parte
do estudo de Rahner (1962).

Os casos comentados nesta seção são aqueles de ocorrência mais comum em artigo
científico ou de relato de experiência. A NBR 10520, da ABNT, no entanto, normatiza alguns
outros casos de citações. Sugere-se, então, sua leitura completa e atenta.

6.6. O uso de siglas, ilustrações e tabelas

De acordo com a NBR 14724, da ABNT, sempre que uma sigla for “mencionada pela
primeira vez no texto, deve ser indicada entre parênteses, precedida do nome completo”. A
partir de então, utiliza-se apenas a sigla. Como o leitor pode não conhecer o significado de uma
dada sigla, esse procedimento esclarece qualquer dúvida. Por exemplo:

Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT)

No tocante às ilustrações, essa mesma NBR 14724 estabelece o seguinte:

Qualquer que seja o tipo de ilustração, sua identificação aparece na parte


superior, precedida da palavra designativa (desenho, esquema, fluxograma,
fotografia, gráfico, mapa, organograma, planta, quadro, retrato, figura,
imagem, entre outros), seguida de seu número de ordem de ocorrência no
texto, em algarismos arábicos, travessão e do respectivo título. Após a
ilustração, na parte inferior, indicar a fonte consultada (elemento obrigatório,
mesmo que seja produção do próprio autor), legenda, notas e outras
informações necessárias à sua compreensão (se houver). A ilustração deve ser
citada no texto e inserida o mais próximo possível do trecho a que se refere.

Portanto, caso se deseje utilizar no texto, por exemplo, o mapa político do Brasil,
disponibilizado pelo Atlas Escolar do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE),

Cirineu Cecote Stein 59


Metodologia do Trabalho Científico

disponível na página virtual do órgão, acima dele deverá aparecer a seguinte informação: “Mapa
1 – Divisão política do Brasil”. Logo após a imagem do mapa, a seguinte informação: Fonte: IBGE.
Disponível em: <
http://www.ibge.gov.br/ibgeteen/atlasescolar/mapas_pdf/brasil_politico.pdf>. Acesso realizado
em 18/09/2012.

A NBR 14724, da ABNT, especifica que as tabelas devem ser citadas no corpo do texto,
de forma a se localizarem o mais próximo possível do trecho a que fazem referência. A
construção de uma tabela deverá seguir os padrões estabelecidos pelo IBGE (1993).

6.7. A escritura da conclusão

A NBR 6022, da ABNT, define a conclusão como sendo a “parte final do artigo, na qual se
apresentam as conclusões correspondentes aos objetivos e hipóteses”. Considerando-se que, na
parte introdutória, foram evidenciados os objetivos do trabalho, assim como suas hipóteses, e
ao longo do desenvolvimento foram feitas a apresentação e a análise dos dados, é na conclusão
que o autor discutirá se os objetivos foram atingidos e se as hipóteses foram confirmadas.

Como dito no capítulo anterior, é possível que se estabeleça a discussão dos dados em
uma seção específica do artigo, anterior à conclusão. Também é possível que, na própria
conclusão, se faça essa discussão. O ponto a ser considerado, no entanto, é que, muitas vezes, a
análise dos dados demanda um grande esforço, que se reflete em uma escritura prolongada e
detida, merecedora de uma seção específica. Assim, reservar o espaço da conclusão para o que
normalmente se entende como as “considerações finais” é uma boa opção.

Caso haja perspectiva de continuidade do trabalho, principalmente por os resultados


terem se mostrado consideravelmente interessantes, pode-se também fazer menção a isso na
parte final da conclusão.

Uma consideração relativa à produção textual que deve ser feita diz respeito à própria
natureza das partes textuais. Uma introdução é considerada uma introdução por suas ideias
serem introdutórias; da mesma forma, uma conclusão só é considerada uma conclusão por
apresentar ideias conclusivas. Por mais óbvias que essas informações sejam, muitos autores as
ignoram, e pensam que o simples fato de introduzir-se a conclusão, por exemplo, com algo do
tipo “conclui-se que” já se está produzindo uma conclusão. Não é o simples uso dessa expressão
ou de uma assemelhada que fará de um parágrafo ou de um bloco de parágrafos um texto
conclusivo, sem considerar que seu uso assume uma caracterização de produção textual
bastante primária. Se se discutem, por exemplo, os resultados do trabalho, evidenciando-se,
com base nesses resultados, ter-se confirmado ou não as hipóteses inicialmente levantadas,
tem-se um texto com caráter conclusivo, independentemente de quais palavras ou expressões
sejam empregadas.

6.8. A escritura das referências bibliográficas

60 Cirineu Cecote Stein


Aspectos da escritura

As referências biliográficas permitirão a identificação exata das obras consultadas ao


longo do trabalho em elaboração. Todas elas devem ser padronizadas conforme as prescrições
estabelecidas pela NBR 6023, da ABNT. Nesta seção, serão apresentadas e discutidas aquelas
prescrições que apresentam uma maior probabilidade de serem úteis à elaborção de um TCC.
Caso seja necessária a referenciação de outro tipo de documento, basta recorrer a essa norma.

Inicialmente, é preciso entender que os elementos da referência são constituídos de


elementos essenciais – aqueles obrigatórios à identificação do documento – e de elementos
complementares – que, como sugere sua designação, melhor caracterizam os documentos. Os
elementos complementares podem ser utilizados ou não. No entanto, deve-se seguir uma
mesma padronagem ao longo de toda a referenciação de um trabalho: os elementos
complementares devem ser utilizados em todas as referências ou em nenhuma.

Os elementos essenciais – autor(es), título, edição7, local, editora e data de publicação –


deverão ser apresentados nessa ordem. O exemplo apresentado é o seguinte:

GOMES, L. G. F. F. Novela e sociedade no Brasil. Niterói: EdUFF, 1998.

Um exemplo que inclui elementos acessórios:

GOMES, L. G. F. F. Novela e sociedade no Brasil. Niterói: EdUFF, 1998. 137 p., 21 cm.
(Coleção Antropologia e Ciência Política, 15). Bibliografia: p. 131-132. ISBN 85-228-0268-8.

Embora as referências possam aparecer tanto no rodapé quanto no fim de texto ou de


capítulo, em lista de referências ou na elaboração de resumos, por exemplo, para efeito deste
texto será considerada apenas a lista de referências, em seção específica para esse fim.

Todas as referências deverão ser “alinhadas somente à margem esquerda do texto e de


forma a se identificar individualmente cada documento, em espaço simples e separadas entre si
por espaço duplo”. Ou seja, não pode ser utilizado o alinhamento “justificado” (aquele em que
as margens do texto são totalmente regulares tanto à esquerda quanto à direita), e o
espaçamento interno às linhas da referência deve ser simples. Esse espaçamento será duplo
apenas entre uma referência e outra.

O título da obra referenciada deve ser destacado, utilizando-se negrito, grifo ou itálico.
No entanto, o padrão escolhido deverá ser o mesmo “em todas as referências de um mesmo
documento”. Esta indicação, no entanto, “não se aplica às obras sem indicação de autoria, ou de
responsabilidade, cujo elemento de entrada é o próprio título, já destacado pelo uso de letras
maiúsculas na primeira palavra, com exclusão de artigos (definidos e indefinidos) e palavras
monossilábicas.

Tem-se tornado cada vez mais comum a consulta a obras disponíveis online. Quando isso
ocorrer, também serão consideradas

7
Embora a NBR 6023 apresente o elemento “edição” como essencial, não o inclui no exemplo que
apresenta.

Cirineu Cecote Stein 61


Metodologia do Trabalho Científico

“essenciais as informações sobre o endereço eletrônico, apresentrado entre


os sinais < >, precedido da expressão Disponível em: e a data de acesso ao
documento, precedida da expressão Acesso em:, opcionalmente acrescida dos
dados referentes a hora, minutos e segundos.”

Como exemplo8:

ALVES, Castro. Navio negreiro. [S.l.]: Virtual Books, 2000. Disponível em:
<http://www.terra.com.br/virtualbooks/freebook/port/Lport2/navionegreiro.htm>.
Acesso em: 10 jan. 2002, 16:30:30.

Muito comumente, consulta-se apenas uma parte de uma obra, por exemplo, um artigo
publicado em um periódico ou um capítulo de um livro produzido coletivamente (o que significa
que cada capítulo tem seu próprio autor, e a obra foi organizada por outro ou outros autores).
Nesses casos, obrigatoriamente serão indicados o(s) autor(es) da parte consultada e o título da
parte, seguidos da expressão “In:”. Logo após essa expressão, apresenta-se a referência
completa da obra. Atente-se que se deve, ao final da referência, “informar a paginação ou outra
forma de individualizar a parte referenciada”, como nos exemplos a seguir:

ROMANO, Giovanni. Imagens da juventude na era moderna. In: LEVI, G.; SCHMIDT, J.
(Org.). História dos jovens 2. São Paulo: Companhia das Letras, 1996. p. 7-16.

SANTOS, F. R. dos. A colonização da terra do Tucujús. In: ______. História do Amapá, 1º


grau. 2. ed. Macapá: Valcan, 1994. cap. 3.

No segundo exemplo, o tracejado após a expressão “In:” indica que o autor da obra é o
mesmo da parte consultada.

Caso seja consultada apenas parte de uma obra em meio eletrônico, será seguido o
mesmo procedimento acima, acrescentando-se as “informações relativas à descrição física do
meio eletrônico (disquetes, CD-ROM, online etc.)”. Caso se trate de obras consultadas online,
também deverão ser apresentados o endereço eletrônico e a data de acesso, como
anteriormente descrito. Como exemplos:

MORFOLOGIA dos artrópodes. In: ENCICLOPÉDIA multimídia dos seres vivos. [S.l.]:
Planeta DeAgostini, c1998. CD-ROM 9.

SÃO PAULO (Estado). Secretaria do Meio Ambiente. Tratados e organizações ambientais


em matéria de meio ambiente. In: _____. Entendendo o meio ambiente. São Paulo,
1999. v. 1. Disponível em: <http://www.bdt.org.br/sma/entendendo/atual.htm>. Acesso
em: 8 mar. 1999.

Aos periódicos não é atribuída uma autoria específica. Assim, a sua referenciação será
feita com os seguintes elementos essenciais: título, local de publicação, editora, datas de início e

8
A abreviação [S.l.] caracteriza não ter sido possível identificar o local da publicação (sine loco). Caso não
fosse possível identificar a data, seria utilizada [S.d.].

62 Cirineu Cecote Stein


Aspectos da escritura

de encerramento da publicação, caso haja. No exemplo abaixo, observe-se que não foi aplicado
negrito ao título do periódico, prescrição já apresentada anteriormente.

REVISTA BRASILEIRA DE GEOGRAFIA. Rio de Janeiro: IBGE, 1939-

Podem ser acrescentados elementos complementares, o que permite uma melhor


identificação do documento:

REVISTA BRASILEIRA DE GEOGRAFIA. Rio de Janeiro: IBGE, 1939- . Trimestral. Absorveu


Boletim Geográfico, do IBGE. Índice acumulado, 1939-1983. ISSN 0034-723X.

Na referenciação de revista, boletim etc., deve-se incluir os seguintes dados: “volume,


fascículo, números especiais e suplementos, entre outros, sem título próprio”. O segundo
exemplo a seguir inclui elementos complementares:

DINHEIRO. São Paulo: Ed. Três, n. 148, 28 jun. 2000.

DINHEIRO: revista semanal de negócios. São Paulo: Ed. Três, n. 148, 28 jun. 2000. 98 p.

Caso se deseje referenciar um artigo ou uma matéria publicada em uma revista, boletim
etc., o que inclui partes de publicações periódicas (volumes, fascículos, números especiais e
suplementos, com título próprio), comunicações, editorial, entrevistas, recensões, reportagens,
resenhas e outros, serão considerados os seguintes elementos essenciais:

“autor(es), título da parte, artigo ou matéria, título da publicação, local de


publicação, numeração correspondente ao volume e/ou ano, fascículo ou
número, paginação inicial e final, quando se tratar de artigo ou matéria, data
ou intervalo de publicação e particularidades que identificam a parte (se
houver).”

Observe-se que, nos exemplos a seguir, não foi utilizada a expressão “In:”, e o título da
revista foi apresentado em negrito:

AS 500 maiores empresas do Brasil. Conjuntura Econômica, Rio de Janeiro, v. 38, n. 9,


set. 1984. Edição especial.

MANSILLA, H. C. F. La controversia entre universalismo y particularismo en la filosofia de


la cultura. Revista Latinoamericana de Filosofia, Buenos Aires, v. 24, n. 2, primavera
1998.

Caso o artigo e/ou matéria de revista, boletim etc. estiverem disponíveis em meio
eletrônico, serão seguidas as mesmas normas acima, “acrescidas das informações relativas à
descrição física do meio eletrônico (disquetes, CD-ROM, online etc.)”. Caso a consulta tenha sido
feita online, também se deverá fazer a indicação do endereço eletrônico e da data de acesso:

VIEIRA, Cássio Leite; LOPES, Marcelo. A queda do cometa. Neo Interativa, Rio de Janeiro,
n. 2, inverno 1994. 1 CD-ROM.

Cirineu Cecote Stein 63


Metodologia do Trabalho Científico

SILVA, M. M. L. Crimes da era digital. .Net, Rio de Janeiro, nov. 1998. Seção Ponto de
Vista. Disponível em: <http://www.brazilnet.com.br/contexts/brasilrevistas.htm>.
Acesso em: 28 nov. 1998.

A referenciação de artigo e/ou matéria de jornal (incluindo-se comunicações, editorial,


entrevistas, recensões, reportagens, resenhas e outros), deverão ser considerados os seguintes
elementos essenciais: “autor(es) (se houver), título, título do jornal, local de publicação, data de
publicação, seção, caderno ou parte do jornal e a paginação correspondente. Quando não
houver seção, caderno ou parte, a paginação do artigo ou matéria precede a data”. Como nos
exemplos a seguir:

COSTURA x P.U.R. Aldus, São Paulo, ano 1, n. 1, nov. 1997. Encarte técnico, p. 8.

NAVES, P. Lagos andinos dão banho de beleza. Folha de S. Paulo, São Paulo, 28 jun.
1999. Folha Turismo, Caderno 8, p. 13.

LEAL, L. N. MP fiscaliza com autonomia total. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, p. 3, 25


abr. 1999.

Para o caso de artigo e/ou matéria de jornal em meio eletrônico, faz-se a referenciação
como indicado acima, acrescentando-se os dados relativos ao endereço eletrônico e à data de
acesso:

ARRANJO tributário. Diário do Nordeste Online, Fortaleza, 27 nov. 1998. Disponível em:
<http://www.diariodonordeste.com.br>. Acesso em: 28 nov. 1998.

A referenciação para atas, anais, resultados, proceedings e assemelhados contará com


os seguintes elementos essenciais: “nome do evento, numeração (se houver), ano e local
(cidade) de realização. Em seguida, deve-se mencionar o título do documento (anais, atas, tópico
temático etc.), seguido dos dados de local de publicação, editora e data da publicação”. Também
podem ser acrescidos elementos complementares.

IUFOST INTERNATIONAL SYMPOSIUM ON CHEMICAL CHANGES DURING FOOD


PROCESSING, 1984, Valencia. Proceedings... Valencia: Instituto de Agroquímica y
Tecnología de Alimentos, 1984.

Caso se referencie um evento como um todo em meio eletrônico, faz-se como acima,
indicando-se o endereço eletrônico e a data de acesso:

CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA DA UFPe, 4., 1996, Recife. Anais eletrônicos...


Recife: UFPe, 1996. Disponível em: <http://www.propesq.ufpe.br/anais/anais.htm>.
Acesso em: 21 jan. 1997.

Para se referenciar um trabalho apresentado em evento, consideram-se os seguintes


elementos essenciais:

64 Cirineu Cecote Stein


Aspectos da escritura

“autor(es), título do trabalho apresentado, seguido da expressão In:, nome do


evento, numeração do evento (se houver), ano e local (cidade) de realização,
título do documento (anais, atas, tópico temático etc.), local, editora, data de
publicação e página inicial e final da parte referenciada.”

Observe-se o seguinte exemplo:

BRAYNER, A. R. A.; MEDEIROS, C. B. Incorporação do tempo em SGBD orientado a


objetos. In: SIMPÓSIO BRASILEIRO DE BANCO DE DADOS, 9., 1994, São Paulo. Anais...
São Paulo: USP, 1994. p. 16-29.

Se se tratar de um trabalho apresentado em evento em meio eletrônico, segue-se esse


mesmo padrão (podendo ser acrescidos elementos complementares, tanto para a versão
impressa quanto para a eletrônica), e acrescentam-se “informações relativas à descrição física
do meio eletrônico (disquetes, CD-ROM, online etc.)”. Para obras consultadas online, indicam-se
o endereço eletrônico e a data de acesso:

GUNCHO, M. R. A educação à distância e a biblioteca universitária. In: SEMINÁRIO DE


BIBLIOTECAS UNIVERSITÁRIAS, 10., 1998, Fortaleza. Anais... Fortaleza: Tec Treina, 1998.
1 CD-ROM.

SILVA, R. N.; OLIVEIRA, R. Os limites pedagógicos do paradigma da qualidade total na


educação. In: CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA DA UFPe, 4., 1996, Recife. Anais
eletrônicos... Recife: UFPe, 1996. Disponível em: <http://www. propesq. ufpe.br/
anais/anais/educ/ce04.htm>. Acesso em: 21 jan. 1997.

No caso de ser necessário referenciar algum documento jurídico, serão considerados os


seguintes elementos essenciais (que poderão ser acrescidos de elementos complementares):

jurisdição (ou cabeçalho da entidade, no caso de se tratar de normas), título,


numeração, data e dados da publicação. No caso de Constituições e suas
emendas, entre o nome da jurisdição e o título, acrescenta-se a palavra
Constituição, seguida do ano de promulgação, entre parênteses.

Observem-se os seguintes exemplos:

SÃO PAULO (Estado). Decreto no 42.822, de 20 de janeiro de 1998. Lex: coletânea de


legislação e jurisprudência, São Paulo, v. 62, n. 3, p. 217-220, 1998.

BRASIL. Medida provisória no 1.569-9, de 11 de dezembro de 1997. Diário Oficial [da]


República Federativa do Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF, 14 dez. 1997. Seção 1, p.
29514.

BRASIL. Decreto-lei no 5.452, de 1 de maio de 1943. Lex: coletânea de legislação: edição


federal, São Paulo, v. 7, 1943. Suplemento.

BRASIL. Código civil. 46. ed. São Paulo: Saraiva, 1995.

BRASIL. Congresso. Senado. Resolução no 17, de 1991. Coleção de Leis da República


Federativa do Brasil, Brasília, DF, v. 183, p. 1156-1157, maio/jun. 1991.

Cirineu Cecote Stein 65


Metodologia do Trabalho Científico

BRASIL. Constituição (1988). Emenda constitucional no 9, de 9 de novembro de 1995.


Lex: legislação federal e marginália, São Paulo, v. 59, p. 1966, out./dez. 1995.

Para o caso de o documento jurídico ter sido consultado em meio eletrônico, deve-se
proceder à sua descrição física (disquetes, CD-ROM, online etc.). Para consultas online, deve-se
indicar o endereço e a data da consulta:

BRASIL. Regulamento dos benefícios da previdência social. In: SISLEX: Sistema de


Legislação, Jurisprudência e Pareceres da Previdência e Assistência Social. [S.l.]:
DATAPREV, 1999. 1 CD-ROM.

BRASIL. Lei no 9.887, de 7 de dezembro de 1999. Altera a legislação tributária federal.


Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 8 dez. 1999. Disponível
em: <http://www.in.gov.br/mp_leis/leis_texto.asp?ld=LEI%209887>. Acesso em: 22 dez.
1999.

Para a referenciação de filme, DVD, entre outros, são elementos essenciais: “título,
diretor, produtor, local, produtora, data e especificação do suporte em unidades físicas”. Por
exemplo:

CENTRAL do Brasil. Direção: Walter Salles Júnior. Produção: Martire de Clermont-


Tonnerre e Arthur Cohn. Intérpretes: Fernanda Montenegro; Marilia Pera; Vinicius de
Oliveira; Sônia Lira; Othon Bastos; Matheus Nachtergaele e outros. Roteiro: Marcos
Bernstein, João Emanuel Carneiro e Walter Salles Júnior. [S.l.]: Le Studio Canal; Riofilme;
MACT Productions, 1998. 1 bobina cinematográfica (106 min), son., color., 35 mm.

A referenciação de um documento iconográfico, como uma fotografia, ilustração, cartaz,


entre outros, os elementos essenciais são: “autor, título (quando não existir, deve-se atribuir
uma denominação ou a indicação Sem título, entre colchetes), data e especificação do suporte”.
Exemplo:

KOBAYASHI, K. Doença dos xavantes. 1980. 1 fotografia.

Com elementos complementares:

KOBAYASHI, K. Doença dos xavantes. 1980. 1 fotografia, color., 16 cm x 56 cm.

FRAIPONT, E. Amilcar II. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 30 nov. 1998. Caderno 2,
Visuais. p. D2. 1 fotografia, p&b. Foto apresentada no Projeto ABRA/Coca-cola.

Caso o documento iconográfico tenha sido consultado em meio eletrônico, utiliza-se


esse mesmo procedimento, acrescentando-se a descrição física do meio eletrônico e, caso tenha
sido consultado online, o endereço eletrônico e a data:

GEDDES, Anne. Geddes135.jpg. 2000. Altura: 432 pixels. Largura: 376 pixels. 51 Kb.
Formato JPEG. 1 disquete, 5 ¼ pol.

STOCKDALE, René. When’s recess? [2002?]. 1 fotografia, color. Disponível em:


<http://www.webshots.com/g/d2002/1-nw/20255.html>. Acesso em: 13 jan. 2001.

66 Cirineu Cecote Stein


Aspectos da escritura

No segundo exemplo acia, a data e o ponto de interrogação entre colchetes, após o


título, indicam a possibilidade de a fotografia ter sido produzida nessa data, mas não há certeza
quanto a isso.

Pode ser necessário consultar um documento sonoro, no todo ou em parte. Para


estabelecer esse tipo de referenciação, são elementos essenciais: “compositor(es) ou
intérprete(s), título, local, gravadora (ou equivalente), data e especificação do suporte”.
Exemplos:

ALCIONE. Ouro e cobre. São Paulo: RCA Victor, p1988. 1 disco sonoro.

MPB especial. [Rio de Janeiro]: Globo: Movieplay, c1995. 1 CD.

Um outro exemplo, relacionado a uma entrevista, com elementos complementares:

SILVA, Luiz Inácio Lula da. Luiz Inácio Lula da Silva: depoimento [abr. 1991].
Entrevistadores: V. Tremel e M. Garcia. São Paulo: SENAI-SP, 1991. 2 cassetes sonoros.
Entrevista concedida ao Projeto Memória do SENAI-SP.

Alguns documentos têm acesso exclusivamente em meio eletrônico, como listas de


discussão, mensagens eletrônicas, programas, entre outros. Os elementos essenciais, nesse
caso, são: “autor(es), título do serviço ou produto, versão (se houver) e descrição física do meio
eletrônico”. Caso a consulta seja feita online, indicam-se também o endereço eletrônico e a data
de consulta. Exemplos:

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ. Biblioteca Central. Normas.doc. Curitiba, 1998. 5


disquetes.

ÁCAROS no Estado de São Paulo. In: FUNDAÇÃO TROPICAL DE PESQUISAS E TECNOLOGIA


“ANDRÉ TOSELLO”. Base de Dados Tropical. 1985. Disponível em:
<http://www.bdt.fat.org.br/acaro/sp/>. Acesso em: 30 maio 2002.

Com elementos complementares:

ALMEIDA, M. P. S. Fichas para MARC [mensagem pessoal].Mensagem recebida por


<mtmendes@uol.com.br> em 12 jan. 2002.

Em uma nota, a NBR 6023, da ABNT, recomenda que mensagens de correio eletrônico só
devem ser referenciadas se não houver nenhuma outra fonte que permita a referenciação do
assunto em discussão. Isso porque esse tipo de mensagem tem “caráter informal, interpessoal e
efêmero, e desaparecem rapidamente, não sendo recomendável seu uso como fonte científica
ou técnica de pesquisa”.

Em relação à indicação de autores, considere-se que a autoria de um documento pode


ser atribuída a pessoas ou a entidades. Quanto à autoria pessoal, indica-se o “último
sobrenome, em maiúsculas, seguido do(s) prenome(s) e outros sobrenomes, abreviado(s) ou

Cirineu Cecote Stein 67


Metodologia do Trabalho Científico

não”. A recomendação é que seja seguido um mesmo padrão para o caso de abreviação em uma
mesma lista de referências. Ou seja, se se abrevia o nome de um autor, deve-se abreviar o de
todos. Para os nomes de vários autores em uma mesma referência, utiliza-se ponto e vírgula
seguido de espaço para separá-los. Exemplos:

ALVES, Roque de Brito. Ciência criminal. Rio de Janeiro: Forense, 1995.

DAMIÃO, Regina Toledo; HENRIQUES, Antonio. Curso de direito jurídico. São Paulo:
Atlas, 1995.

PASSOS, L. M. M.; FONSECA, A.; CHAVES, M. Alegria de saber: matemática, segunda


série, 2, primeiro grau: livro do professor. São Paulo: Scipione, 1995. 136 p.

Caso haja mais de três autores, será indicado apenas o primeiro, acrescido da expressão
latina “et al.”. Caso seja necessário certificar a autoria de todos os envolvidos (como em projetos
de pesquisa, entre outros), faculta-se a indicação de todos os nomes. Exemplo:

URANI, A. et al. Constituição de uma matriz de contabilidade social para o Brasil.


Brasília, DF: IPEA, 1994.

Quando se tratar de obras coletivas, indica-se o nome do responsável, acompanhado da


“abreviação, no singular, do tipo de participação (organizador, compilador, editor, coordenador
etc.), entre parênteses”. Exemplos:

FERREIRA, Léslie Piccolotto (Org.). O fonoaudiólogo e a escola. São Paulo: Summus,


1991.

MARCONDES, E.; LIMA, I. N. de (Coord.). Dietas em pediatria clínica. 4. ed. São Paulo:
Sarvier, 1993.

Em se tratando de responsabilidade atribuída a entidades (congressos, associações,


órgãos governamentais etc.), faz-se a entrada pelo seu próprio nome, por extenso:

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 10520: informação e


documentação: citações em documentos: apresentação. Rio de Janeiro, 2002.

A entidade pode ter uma denominação genérica (por exemplo, “Secretaria de Estado da
Educação”) ou uma denominação específica. No primeiro caso, seu nome deverá ser antecedido
do nome do órgão superior, ou do nome da jurisdição geográfica a que pertence, como nos
exemplos a seguir:

68 Cirineu Cecote Stein


Aspectos da escritura

SÃO PAULO (Estado). Secretaria do Meio Ambiente. Diretrizes para a política ambiental
do Estado de São Paulo. São Paulo, 1993. 35 p.

BRASIL. Ministério da Justiça. Relatório de atividades. Brasília, DF, 1993. 28 p.

No segundo caso (denominação específica), a entrada será feita diretamente pelo seu
nome:

BIBLIOTECA NACIONAL (Brasil). Relatório da Diretoria-Geral: 1984. Rio de Janeiro, 1985.


40 p.

Quando não se conhecer o autor, faz-se a entrada pelo título:

DIAGNÓSTICO do setor editorial brasileiro. São Paulo: Câmara Brasileira do Livro, 1993.
64 p.

Para os títulos e subtítulos, ambos deverão ser apresentados como figuram no


documento original, separados por dois-pontos. Observe-se que, no segundo exemplo abaixo,
apenas o título se encontra em negrito:

PASTRO, Cláudio. Arte sacra. São Paulo: Loyola, 1993.

PASTRO, Cláudio. Arte sacra: espaço sagrado hoje. São Paulo: Loyola, 1993. 343 p.

Par a edição, caso haja indicação, deve-se utilizar abreviaturas dos numerais ordinais e
da palavra edição:

PEDROSA, Israel. Da cor à cor inexistente. 6. ed. Rio de Janeiro: L. Cristiano, 1995. 219 p.

No caso de documentos eletrônicos, a versão utilizada equivalerá à edição:

ASTROLOGY source. Version 1.0A. Seattle: Multicom Publishing, c1994. 1 CD-ROM.

Quanto ao local da publicação, deve ser apresentado como figura no documento:

ZANI, R. Beleza, saúde e bem-estar. São Paulo: Saraiva, 1995. 173 p.

Caso haja mais de um local para uma só editora, será indicado o primeiro ou mais
destacado. No exemplo abaixo, a obra apresentou a editora Makron Books nas cidades “São
Paulo – Rio de Janeiro – Lisboa – Bogotá – Buenos Aires – Guatemala – México – New York – San
Juan – Santiago etc.”. Referenciou-se o primeiro local:

SWOKOWSKI, E. W.; FLORES, V. R. L. F.; MORENO, M. Q. Cálculo de geometria analítica.


Tradução de Alfredo Alves de Faria. Revisão técnica Antonio Pertence Júnior. 2. ed. São
Paulo: Makron Books doBrasil, 1994. 2 v.

Caso o documento não indique a cidade, mas ela possa ser identificada, seu nome será
indicado entre colchetes:

LAZZARINI NETO, Sylvio. Cria e recria. [São Paulo]: SDF Editores, 1994. 108 p.

Cirineu Cecote Stein 69


Metodologia do Trabalho Científico

Caso não seja possível determinar o local, deve-se utilizar a abreviação [S.l.] (do latim
sine loco]:

OS GRANDES clássicos das poesias líricas. [S.l.]: Ex Libris, 1981. 60 f.

Para a indicação da editora, faz-se a indicação como consta no documento. No entanto,


os prenomes deverão ser abreviados e as palavras designativas da natureza jurídica ou comercial
serão suprimidas. No exemplo abaixo, consta na publicação “Livraria José Olympio Editora”:

LIMA, M. Tem encontro com Deus: teologia para leigos. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1985.

Quanto à indicação da data de publicação, utilizam-se algarimos arábicos. Sempre deve


ser indicada uma data, uma vez que se trata de um elemento essencial para a referência. Caso
não se consiga determinar data alguma de publciação, deve-se fazer o registro de uma data
aproximada entre colchetes, segundo as indicações abaixo:

[1971 ou 1972] um ano ou outro


[1969?] data provável
[1973] data certa, não indicada no item
[entre 1906 e 1912] use intervalos menores de 20 anos
[ca. 1960] data aproximada
[197-] década certa
[197-?] década provável
[18--] século certo
[18--?] século provável

FLORENZANO, Everton. Dicionário de idéias semelhantes. Rio de Janeiro: Ediouro,


[1993]. 383 p.

Caso seja necessário identificar a obra com informações complementares, isso será feito
ao final da referência, sem destaque tiográfico. No primeiro exemplo abaixo, trata-se de uma
obra copiada manualmente; no segundo, “no prelo” indica que a obra já foi enviada para
publicação:

LAURENTI, R. Mortalidade pré-natal. São Paulo: Centro Brasileiro de Classificação de


Doenças, 1978. Mimeografado.

MARINS, J. L. C. Massa calcificada da naso-faringe. Radiologia Brasileira, São Paulo, n. 23,


1991. No prelo.
Quando se tratar de teses, dissertações ou outros trabalhos acadêmicos, deverá ser feita
essa indicação em nota, indicando-se também “o grau, a vinculação acadêmica, o local e a data
da defesa, mencinada na folha de aprovação (se houver)”:

MORGADO, M. L. C. Reimplante dentário. 1990. 51 f. Trabalho de Conclusão de Curso


(Especialização)–Faculdade de Odontologia, Universidade Camilo Castelo Branco, São
Paulo, 1990.

ARAUJO, U. A. M. Máscaras inteiriças Tukúna: possibilidades de estudo de artefatos de


museu para o conhecimento do universoindígena. 1985. 102 f. Dissertação (Mestrado

70 Cirineu Cecote Stein


Aspectos da escritura

em Ciências Sociais)–Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo, São Paulo,


1986.

ALENTEJO, Eduardo. Catalogação de postais. 1999. Trabalho apresentado como requisito


parcial para aprovação na Disciplina Catalogação III, Escola de Biblioteconomia,
Universidade do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1999.

Ao se elaborar a lista de referências, em seção específica, pode-se adotar o sistema


alfabético ou o numérico. Para efeitos deste texto, será considerado apenas o sistema
alfabético. Portanto, a indicação se faz no sentido de apresentar todas as referências em ordem
alfabética. Sugestão: para dispor todas elas alfabeticamente, sem que se corra o risco de
cometer algum erro, basta selecioná-las em bloco e, na barra do editor de texto, acionar o botão
que contém uma seta ladeada pelas letras A Z.
Caso haja referências de mais de uma obra de um mesmo autor, em uma mesma página
da seção de referências bibliográficas, é possível, nas referências subsequentes à primeira,
substituir o nome do autor por um traço sublinear (equivalente a seis espaços) e ponto:

FREYRE, Gilberto. Casa grande & senzala: formação da família brasileira sob regime de
economia patriarcal. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1943. 2 v.

______ . Sobrados e mucambos: decadência do patriarcado rural no Brasil. São Paulo:


Ed. Nacional, 1936.

6.9. Anexos que valem a pena utilizar

Utilizar anexo(s) é opcional em um artigo. Portanto, o primeiro questionamento que se


deve levantar quando se cogita essa possibilidade é se o anexo que se pretende utilizar
realmente é útil ao trabalho como um todo.

Exitem informações muito importantes que, no entanto, não cabem ao longo das partes
textuais. Imagine-se, por exemplo, que, para se fazer um levantamento das dificuldades de
aprendizagem encontradas em uma determinada comunidade tenham sido aplicados
questionários. O leitor-cientista desejará conhecer as perguntas utilizadas, uma vez que buscará
analisar a sua natureza, a sequência em que elas foram dispostas, a própria lógica norteadora
dos questionários. Apresentar esse(s) questionário(s) no corpo do texto é inviável, porque isso
quebraria o fluxo da escritura, direcionando a atenção do leitor para outro ponto que não é
exatamente necessário naquele ponto do texto. Nessas situações específicas, referencia-se o
anexo e o leitor, caso assim o deseje, direcionará sua atenção para essa parte, durante ou após a
leitura do trecho em questão.

Em princípio, podem constituir anexos quaisquer informações necessárias a uma


complementação acessória do texto, desde tabelas a fotografias. Assim como para os outros
tipos de anexos (questionários, tabelas, documentos oficiais etc.), é preciso ter um cuidado
muito grande com o uso de imagens. O primeiro ponto a considerar é o fato de, não sendo essas
imagens autorais (ou seja, produzidas pelo próprio autor do artigo), sempre deverá ser feita

Cirineu Cecote Stein 71


Metodologia do Trabalho Científico

referência a quem as produziu, respeitando-se os princípios dos direitos autorais. Um segundo


ponto diz respeito à seleção dessas imagens.

No caso dos artigos de relatos de experiência, é muito comum que seus autores desejem
apresentar fotografias ilustrando aspectos da experiência vivenciada. Se isso for realmente
necessário, é preciso selecionar imagens que sejam significativas, que transmitam uma
mensagem. Embora este não seja o espaço para essa discussão, é preciso considerar que a
imagem em uma fotografia pode apresentar todo um fluxo narrativo, mostrando-se
especialmente expressiva. Deve-se selecionar imagens com boa nitidez (foco nítido), bom
enquadramento, e que não sejam repetitivas. É desnecessário, por exemplo, apresentar várias
fotografias de um mesmo grupo durante a execução de uma atividade, se o objetivo dessa
apresentação é simplesmente documentar a realização da atividade. Seria diferente, no entanto,
se estivesse prevista a evolução na prática de uma técnica de manufatura, por exemplo. Uma
primeira fotografia poderia ilustrar o trabalho produzido por um dos envolvidos antes da
intervenção do pesquisador, e outra retrataria o trabalho após a intervenção (idealmente, de
melhor qualidade que o primeiro). Ou seja, é preciso que a seleção fotográfica transmita uma
informação precisa e significativa. Se assim não for, não vale a pena ser utilizada.

72 Cirineu Cecote Stein


7. A apresentação oral de um
trabalho científico

Concluída uma pesquisa, é preciso apresentar à comunidade científica os seus


resultados. Esses resultados, em princípio, poderão contribuir de forma significativa para o
desenvolvimento da área em questão; portanto, devem ser expostos à crítica.

Por mais impessoal que um trabalho dessa natureza possa tentar ser, as conclusões
atingidas sempre serão o resultado da visão de seu autor, dos procedimentos metodológicos
adotados, da forma como a pesquisa foi conduzida. Assim sendo, é necessário – e desejável –
que outros pesquisadores deitem seu olhar sobre esse trabalho, criticando-o, não de forma
negativa, mas procurando evidenciar, se for o caso, o que há de positivo nele e possibilidades de
melhoria. O pesquisador deve estar sempre aberto a críticas: o olhar de outro pesquisador pode
perceber aspectos não abordados originalmente que poderão imprimir um novo rumo àquele
trabalho, fortalecendo-o.

A apresentação de uma pesquisa à comunidade científica, mais comumente, se dá por


meio da publicação de artigos a ela relacionados em periódicos especializados. Outra forma de
exposição é a apresentação de comunicações orais em congressos. Em última análise, a defesa
de um TCC, de uma dissertação ou de uma tese é também a apresentação à comunidade
científica de um trabalho de pesquisa.

7.1. A importância de uma apresentação oral

Considerando-se que a apresentação oral de um trabalho é uma oportunidade de o


pesquisador apresentar os resultados de sua pesquisa, esse evento deverá ser preparado de
forma eficiente e prática. A interação do pesquisador com seu público ouvinte poderá esclarecer
uma série de aspectos que o texto escrito não foi capaz de esclarecer9 e, mais ainda, permitirá
uma interação com outros pesquisadores, que já poderão apresentar seus pontos de vista sobre
o trabalho desenvolvido. Esse tipo de interação costuma ser extremamente enriquecedor, uma
vez que podem ser apresentados pontos passíveis de melhoria ou de reconstrução, com vistas
ao aprimoramento pontual ou global da pesquisa.

Em situações como as de defesa de TCC, mestrado ou doutorado, a apresentação pública


do trabalho é requisito indispensável para a obtenção de um título: sem essa apresentação –

9
No entanto, observe-se que, por princípio, o texto escrito deve ser autossuficiente e, portanto, deve
apresentar todas as informações necessárias ao seu entendimento. Rigorosamente falando, se isso não
ocorrer, será sinal de que o texto não está bem escrito.
Metodologia do Trabalho Científico

que possui, portanto, caráter oficial –, seu autor não estará autorizado a portar o título que
almeja (graduado, mestre, doutor).

7.2. A seleção dos dados a serem apresentados

O sucesso de uma apresentação oral depende, eminentemente, da forma como seu


autor a preparou. Mesmo que os resultados da pesquisa sejam notórios, se a sua apresentação
for ruim, a impressão dos espectadores dessa apresentação poderá ser inferior à esperada.
Quanto melhor a apresentação – aliada à alta qualidade do resultado da pesquisa – melhor será
a impressão final causada pelo trabalho.

Comumente, uma apresentação oral possui um tempo de duração delimitado. É


desrespeitoso, por exemplo, em um congresso, extrapolar o tempo pré-definido para cada
apresentação. Ao fazer isso, o apresentador assume que o seu trabalho é mais importante do
que os dos demais, prejudicando-os por reduzir o tempo de suas apresentações. Ao mesmo
tempo, desrepeita a audiência, uma vez que pode estar obrigando algumas pessoas a ouvirem
algo que não é de seu interesse direto (talvez aquelas pessoas estejam naquela seção de
comunicações orais interessadas em outras comunicações que não aquela). O primeiro ponto a
ser considerado, portanto, é o planejamento da apresentação de forma a enquadrá-la em um
limite de tempo pré-estabelecido.

Quando realiza um trabalho, o pesquisador tende a imaginar que todos – absolutamente


todos – os seus dados são extremamente relevantes, devendo apresentá-los oralmente em sua
íntegra. Isso não é verdade, rigorosamente falando. Existem dados que são efetivamente
essenciais à pesquisa, e outros que são subsidiários. Muitos dados podem se repetir: a
apresentação de apenas um deles já seria suficiente para ilustrar todos os demais. O
procedimento apropriado, portanto, é selecionar os melhores e mais relevantes dados com
objetividade. Caso a audiência se interesse por conhecer os demais dados, bastará consultar o
trabalho escrito.

Para selecionar de forma apropriada os dados a serem apresentados, é interessante


traçar um esquema geral da apresentação, numa ordem lógica e gradual das informações, para
então associar a cada item da apresentação os dados que os ilustrarão. Como “dados”, aqui,
pode-se entender tanto aqueles propriamente ditos, obtidos durante uma pesquisa de campo,
por exemplo, quanto as informações de nível teórico que deverão ser apresentadas para
fundamentar a pesquisa.

No caso das informações de nível teórico, deve-se selecionar aquelas que efetivamente
tenham contribuído para a realização da pesquisa. Muitos conceitos, embora tenham sido
apresentados no texto escrito, poderão não ser mencionados na apresentação oral. Como há um
limite de tempo, é interessante ater-se exclusivamente àquelas informações que de fato
contribuam para a construção do pensamento. Pode-se assumir o referencial dos que estejam
assistindo à apresentação. Talvez ali se encontrem especialistas da área assim como pessoas
iniciadas, mas não especialistas. A seleção das informações a serem apresentadas contemplará

74 Cirineu Cecote Stein


A apresentação oral de um trabalho científico

esses dois subgrupos, permitindo que entendam com clareza a evolução do pensamento/aporte
teórico sem, necessariamente, esgotá-lo.

Um detalhe importante: caso se deseje apresentar anexos a um trabalho, é fundamental


entender que essa parte textual deve ser utilizada apenas se for realmente necessária, e não
como uma forma de aumentar o número de páginas de um trabalho ou apresentar
imagens/fotografias que, em última análise, talvez sejam totalmente desnecessárias. Em
princípio, um anexo é uma informação importante e necessária ao entendimento complementar
do texto principal, mas, por sua natureza, não cabe no corpo desse texto principal. Como
exemplo, pode-se imaginar que, para uma dada pesquisa, tenha sido elaborado um
questionário. No corpo do trabalho, provavelmente na seção dedicada à metodologia, faz-se
alusão a esse questionário (que talvez tenha servido de base para a coleta dos dados) e, na
seção destinada à análise dos dados, os resultados são discutidos. Dependendo na natureza das
questões, mesmo na metodologia, em princípio, não caberia apresentá-las. Pode-se, ao se
mencionar o questionário, remeter o leitor ao anexo tal, para que, caso o deseje, possa se
inteirar de todas as questões. Da mesma forma, se se deseja apresentar uma imagem/fotografia
em um anexo, o conteúdo apresentado deve ser ilustrativo de algo importante ao trabalho, e
não apenas uma confirmação de que o autor esteve presente em tal situação. Deve-se levar em
conta, também, a economia de informações, sem redundâncias desnecessárias. Por exemplo, se
o desejo é ilustrar uma certa disposição de alunos no espaço da sala de aula durante uma
atividade, e essa ilustração for realmente importante, uma única imagem bastará.

7.3. A disposição dos dados a serem apresentados

A organização – ou desorganização – de uma pessoa se reflete em tudo o que ela faz,


desde como os dados de sua pesquisa são computados até a forma como são apresentados
publicamente. A organização, na verdade, é um hábito que se cultiva, e nunca é tarde para
começar a desenvolvê-lo.

Quando se pensa a organização de uma apresentação – escrita ou oral, não importa –,


deve-se ter em mente que a disposição gráfica dos elementos deve ser, ela própria, um
facilitador do entendimento do conteúdo. Uma vez selecionadas as informações a serem
apresentadas, é preciso pensar a melhor forma de apresentá-las, o mais didaticamente possível,
respeitando-se a própria evolução do conteúdo; ou seja, o conteúdo deverá ser apresentado de
forma gradual, crescente, permitindo-se ao observador construir seu raciocínio em relação ao
que está sendo apresentado. Se o observador não entender uma parte da apresentação porque
a sua qualidade organizacional foi ruim, toda a apresentação poderá ser prejudicada.

Mais modernamente, as apresentações acadêmicas costumam ser feitas com o auxílio


de programas computacionais, como o MS PowerPoint. A facilidade dessa tecnologia trouxe
ganhos consideráveis, mas também algumas perdas. Sempre vale lembrar que, quando ela não
existia, os pesquisadores faziam suas apresentações com qualidade (algumas vezes também sem
qualidade...), e não se intimidavam com o fato de terem de talvez escrever em um quadro ou

Cirineu Cecote Stein 75


Metodologia do Trabalho Científico

apenas falar. Atualmente, muitos têm utilizado esses recursos visuais como suporte total às suas
apresentações e, caso haja uma queda de energia, por exemplo, não podem fazer coisa alguma.
Naturalmente, algumas imagens – como gráficos e encadeamentos complexos – podem ser
melhor aproveitados visualmente, mas nunca se pode esquecer que o importante em uma
apresentação é o seu conteúdo. A forma física de apresentação desse conteúdo é apenas um
detalhe, apenas um facilitador. Ela não pode ser mais importante do que o próprio conteúdo.
Portanto, para uma apresentação, é importante o apresentador estar prevenido em relação a
quaisquer eventualidades: se houver queda de energia, far-se-á a apresentação utilizando-se
quadro e giz; se não houver quadro e giz, far-se-á uso da linguagem oral, ordenada de forma
extremamente organizada, o que permitirá reter a atenção de todos os interessados.

Para a organização de uma boa apresentação oral, considerando-se o uso da tecnologia


de eslaides computacionais, é aconselhável considerar os seguintes pontos:

• efeitos visuais em exagero podem esconder falta de um bom conteúdo. Muitas


vezes, os expositores de um trabalho gastam grande parte do tempo destinado à
preparação de sua apresentação na escolha de recursos visuais apelativos, como
fleches10 e transições sofisticadas. Deve-se considerar também que, na maior parte
das vezes, esses recursos distraem a atenção da audiência, desfocando o ponto
principal, que é o conteúdo do trabalho. É lastimável assistir a uma apresentação
repleta de enfeites mas com abundância de falhas na descrição metodológica, com
embasamento teórico deficitário, com resultados pifiamente explorados. Vale a
pena gastar o tempo destinado à elaboração da apresentação em sua organização. O
conteúdo é o que de mais belo pode existir na apresentação de um trabalho;
• numerar todos os eslaides. Após uma apresentação, normalmente se abre espaço
para uma discussão. Caso alguém da plateia queira fazer referência a um eslaide
específico, e o apresentador queira projetá-lo para melhor ilustração, se os eslaides
não tiverem sido numerados, será muito mais trabalhoso encontrá-lo. Isso,
naturalmente, depreciará a apresentação de alguma forma;
• dividir o conteúdo entre os eslaides de modo a facilitar sua visualização. No
passado, quando se utilizavam transparências, o alto custo desse material impelia
quem o usasse a inserir a maior quantidade possível de conteúdo em uma única
lâmina. Com a tecnologia dos eslaides computacionais, não há mais a necessidade
de economizar custos, pelo menos não nesse sentido. Assim, não se deve apresentar
informação excessiva em um mesmo eslaide: essa informação poderá ser dividida
entre vários deles. Por exemplo, digamos que se queira apresentar cinco objetivos
de um trabalho. Caso se faça algum comentário sobre cada um deles, ou caso a

10
“Fleche” é a grafia que consta no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa para a forma de origem
inglesa “flash”. O Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa é o documento oficial brasileiro que
regulamenta a ortografia a ser empregada nas palavras aceitas na norma padrão. Esse Vocabulário tem
força de lei. Caso se tenha alguma dúvida se tal ou qual palavra pode ser utilizada ou não na norma
padrão brasileira, ou como ela deve ser escrita, pode-se consultar diretamente o sítio da Academia
Brasileira de Letras, mais especificamente utilizando o endereço eletrônico
http://www.academia.org.br/abl/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?sid=23. Por exemplo, as palavras “site” e
“link” não constam (pelo menos ainda) no Vocabulário; portanto, a norma padrão oficialmente ainda não
as reconhece. Por isso, preferiu-se, linhas acima, utilizar-se “sítio” e “endereço eletrônico”,
respectivamente.

76 Cirineu Cecote Stein


A apresentação oral de um trabalho científico

redação do objetivo em si seja mais longa, colocá-los todos os cinco em um único


eslaide produzirá uma poluição visual desnecessária, que apenas prejudicará a
apresentação. Melhor seria, nesse caso, apresentar dois de cada vez, ou um de cada
vez. A regra básica é não poluir o espaço visual;
• selecionar cores apropriadas para a apresentação. A primeira pergunta que deve
ser feita quando se pensam as cores a serem utilizadas na formulação de eslaides diz
respeito à cor da superfície sobre a qual serão projetados. Normalmente, é
desagradável fazer uma projeção em uma parede branca na lateral da sala, quando
todas as cadeiras estão dispostas para a frente, o que exige que a audiência vire a
cabeça para o lado ou modifique a posição das carteiras. Mesmo que haja uma
superfície branca na frente da sala, deve-se considerar que o reflexo da luz impede a
visualização adequada de algumas cores, como o amarelo, o verde-claro, o azul-
claro. O ideal é utilizar cores escuras, que, projetadas sobre uma superfície branca,
terão o seu contorno muito bem delineado, facilitando-se a sua visualização, mesmo
que haja algum reflexo. Sempre é aconselhável projetar os eslaides na superfície a
ser utilizada para analisar o efeito visual final.

Um recurso bastante interessante – a ser empregado especialmente em uma sala de


aula com quadro-negro (que, na verdade, é verde) – é projetar a imagem (gráficos,
frases etc.) de forma a permitir que se façam correções ou comentários com um
bastão de giz. Naturalmente, se se projetar a letra preta sobre o verde do quadro,
pouco será visto. A ideia, então, é formatar o texto de forma que as letras fiquem
brancas e seu entorno preto, o que as destacará mesmo sobre uma superfície muito
escura, como no exemplo a seguir11:

Caso se projete uma frase no quadro, pode-se fazer uma atividade de ensino
que solicite a reescritura de trechos. Isso permitirá o desenvolvimento do
senso crítico dos alunos de forma coletiva.

Para a apresentação de um trabalho, talvez seja útil preparar uma versão utilizando-
se esse recurso12, para a eventualidade de a projeção ter que ser feita em um
quadro comum em uma sala de aula;

• utilizar gráficos com economia. Tecnicamente, o uso de gráficos permite uma


visualização mais fácil dos dados em discussão. No entanto, é preciso selecionar o
tipo de gráfico que melhor se adequa a cada tipo de dados. Considere-se, também,
que o acúmulo de tipos diferentes de dados em um mesmo gráfico pode gerar
poluição visual, o que impedirá o entendimento claro e facilitado das informações;
• utilizar imagens com qualidade superior. Caso se deseje utilizar alguma imagem, é
necessário que a disposição visual dos elementos retratados seja adequada. É

11
Esse efeito é conseguido da seguinte forma: a) seleciona-se o trecho em sua totalidade; b) modifica-se a
cor da fonte para branco; c) substitui-se a cor do marcador de texto (ícone geralmente ao lado do ícone
em que se especifica a cor da fonte; sua cor padrão é amarelo) para preto.
12
Nesse caso, basta estabelecer a cor de fundo dos eslaides como preto e a cor da fonte como branca.

Cirineu Cecote Stein 77


Metodologia do Trabalho Científico

inconcebível, por exemplo, que se deseje ilustrar alunos em uma sala de aula e a
imagem apresente, deles, apenas as cabeças, todo o restante do espaço sendo
ocupado pelas paredes e pelo teto. Da mesma forma, não se devem apresentar
imagens “tremidas”, com foco mal feito, com qualidade visual ruim.

Não é difícil perceber que o que deve nortear a elaboração de uma apresentação é o
bom senso, acompanhado de alguma noção estética. Nesses casos, menos pode ser mais.

7.4. A postura pessoal durante uma apresentação oral

Uma apresentação oral envolve uma série de fatores. O principal deles talvez seja o
próprio apresentador, porque ele é quem dará vida à apresentação. Sua postura pessoal deverá
condizer com a situação em que está envolvido – uma apresentação acadêmica, não a animação
de uma festa.

Muitas vezes, é difícil controlar o nervosismo típico desses contextos. No entanto, deve-
se levar em consideração que, em princípio, o pesquisador é quem melhor conhece seu objeto
de estudo; logo, saberá discorrer sobre ele de forma fluente, bastando, para isso, que seu
pensamento esteja bem organizado. O próprio uso dos eslaides pode ser entendido como um
roteiro para a apresentação, o que já contribuirá significativamente para diminuir a ansiedade.

O objetivo de apresentação oral acadêmica é transmitir um conteúdo a um público


específico. A interação do pesquisador com sua audiência geralmente se consolida com a
qualidade do conteúdo apresentado, e pode ser auxiliada por alguns fatores, como o olhar
direcionado para a plateia – o que implica não ter medo de encará-la –, um tom de voz que
permita que todos da sala ouçam as informações de forma clara, um ritmo de exposição que
facilite o entendimento.

Quando questionado a respeito de algum ponto de seu trabalho, espera-se que o


pesquisador esclareça a dúvida de forma satisfatória. Isso poderá ocorrer ou não, dependendo
da profundidade com que a pesquisa tenha sido desenvolvida. De uma forma ou de outra, é
desejável que se mantenha sempre uma relação de cordialidade com a audiência e, se for o
caso, reconhecer a necessidade de maior aprofundamento temático. No entanto, caso o
comentário estabelecido pela audiência não seja de todo apropriado, o pesquisador poderá –
melhor, deverá – evidenciar a falha argumentativa de seu interlocutor, em defesa de sua
pesquisa. Sempre, naturalmente, de forma cordial.

Nunca é demais lembrar que uma apresentação acadêmica não é uma festa. Nesse
sentido, o que deve chamar a atenção da audiência é o conteúdo do trabalho sendo
apresentado, não as roupas do apresentador, não sua maquiagem.

78 Cirineu Cecote Stein


8. Considerações finais

8.1. O seu texto espelha você

Um texto não são apenas elementos gráficos dispostos em uma folha: um texto
caracteriza a própria identidade de seu autor.

Por mais forte que essa afirmativa possa parecer, de fato é possível traçar um perfil
psicológico (ainda que parcial) do autor de um texto, mesmo que se trate de um texto de
natureza científica. A forma como as frases são construídas, a organização das ideias, o cuidado
na apresentação dos dados, o esmero com a precisão das informações, além de outros pontos,
contribuem para que o leitor (experiente) perceba a personalidade daquele autor. Não se pode
desconsiderar que um texto mal apresentado – diagramação mal feita, erros de ortografia, de
regência, de concordância, falta de coesão e, principalmente, de coerência entre as informações
– sugere que seu autor é uma pessoa desorganizada, que não respeita seu próprio texto e, por
conseguinte, o leitor.

Como discutido anteriormente, as características de um gênero textual permitem que o


leitor familiarizado com ele assuma um determinado modo de leitura, reconhecendo e
interpretando os códigos utilizados. Ao deparar com um texto científico, o leitor terá a
expectativa de que todas as normas próprias desse gênero textual tenham sido seguidas. Caso o
autor não as tenha respeitado, o leitor, caso persista na leitura, encontrará uma certa
dificuldade em sua tarefa – e o esforço cognitivo que deveria ser empregado no entendimento
da proposta do trabalho terá que ser direcionado para rearranjar o texto. Quando isso ocorre, o
leitor está sendo desrespeitado. Naturalmente, haverá perda de boa vontade da parte do leitor
quanto à apreciação daquele texto.

Idealmente (e esse ideal deve ser perseguido), o texto final deverá refletir harmonia
entre suas partes, com as ideias apresentadas de forma clara, devidamente exploradas em sua
essência. Respeitando-se, naturalmente, os limites de cada etapa acadêmica (muito
provavelmente o nível de discussão verificado em um TCC de graduação não será o mesmo que
o de uma dissertação de mestrado), a discussão deve ser suficientemente aprofundada, para
que o texto não seja superficial em seu conteúdo. As informações devem ser bem selecionadas,
e dispostas de uma forma tal que o raciocínio seja conduzido de forma lógica.

Apesar de isso parecer uma tarefa que demanda muito esforço – e muitas vezes
realmente demanda –, é possível produzir um TCC de muito boa qualidade. O ponto principal
para isso talvez seja uma boa organização do trabalho e de suas partes, cumprindo cada uma
delas com determinação.
Metodologia do Trabalho Científico

8.2. O papel do orientador

O orientador, tecnicamente, é uma pessoa com maior experiência acadêmica do que a


de seu orientando. Seu papel é indicar a melhor forma de percorrer o caminho necessário à
meta final, que é a produção de um trabalho acadêmico relevante.

Muitas vezes, o orientando é uma pessoa de bastante iniciativa e de grande


independência de pensamento. Mesmo nesses casos, o orientador, baseado em sua própria
história pessoal, poderá indicar formas mais apropriadas de condução do trabalho ou de partes
dele. Um ponto crucial em qualquer pesquisa, por exemplo, é a constituição do corpus a ser
utilizado (se for o caso). Caso se escolha um corpus que não tenha sido suficientemente
pensado, suficientemente amadurecido, corre-se o risco de se ter que refazê-lo. O detalhe é
que, tendo já sido feita a coleta, gastou-se tempo, esforço físico e mental, dinheiro e
disponibilidade dos informantes. Um corpus com falhas pode gerar um grande prejuízo; por isso,
é fundamental que o orientando trabalhe em conjunto com o orientador nessa formulação, para
que haja o menor número de falhas possível.

O orientador deve acompanhar todas as etapas do trabalho, desde a seleção


bibliográfica até a redação final do texto. Não se pode imaginar, portanto, que, ao final dos
prazos estabelecidos, o orientando apresente um texto para avaliação de cujo conteúdo ou
forma de elaboração o orientador não tenha ciência. A orientação implica sugerir caminhos,
métodos, análises, formas de escritura.

No entanto, não é papel do orientador cuidar do orientando como se ele fosse um pré-
escolar. O orientando tem suas responsabilidades – e deve-se considerar que o trabalho em
desenvolvimento pertence ao orientando, não ao orientador. Não cabe ao orientador, portanto,
sempre cobrar o cumprimento das etapas, o estabelecimento de contato. Nunca se deve
esquecer, mais uma vez, que o trabalho sendo desenvolvido é responsabilidade do orientando.

8.3. Orientador não é revisor

Como já comentado, um texto mal escrito transmite péssimas impressões ao leitor. Um


trabalho produzido por qualquer acadêmico deve pelo menos ser escrito conforme as
prescrições da norma padrão. E isso não se aplica apenas a profissionais ou estudantes da área
de Letras, mas principalmente a eles.

Mesmo um autor bastante experimentado e que apresente grande domínio da norma


padrão comete desvios na primeira escritura de um texto. No entanto, nunca se deve apresentar
um texto a outros sem que se faça antes uma revisão criteriosa do que foi escrito (infelizmente,
mesmo com inúmeras revisões, quando um trabalho é publicado sempre se verifica, ainda,
algum defeito; o importante é minimizá-los ao máximo). Não se pode aceitar desculpas como
“escrevi com pressa”. Cognitivamente, a pressa não justifica esse tipo de erro. A ortografia, por
exemplo, é uma questão de internalização cognitiva: ou se sabe como escrever uma palavra ou
não se sabe. Ninguém que tenha internalizado que “exceção” se escreve com “xc” e “ç”
escreverá “esseção”, com “ss”, ainda que esteja prestes a cair de um despenhadeiro.

80 Cirineu Cecote Stein


Considerações finais

Muitas vezes, o orientando apresenta um texto ao orientador extremamente mal escrito


e o orientador se vê compelido a reelaborar todo o texto (o orientador, então, passa a ser o
autor do texto?). Isso é inadmissível. O orientando tem que assumir sua responsabilidade
quanto à qualidade do texto como um todo. O orientando deve cuidar da revisão de seu texto, e
não imaginar que seu orientador é que deverá fazer isso.

A título de reflexão: como um profissional que atuará como professor da área de Letras
não sabe redigir de forma apropriada, não conhece a própria ortografia de sua língua, da língua
que terá que ensinar em sala de aula? Não se ensina o que não se sabe.

8.4. O cumprimento dos prazos

Respeitar os prazos é condição indispensável para o bom andamento de qualquer


trabalho. Tempo é, basicamente, uma questão de disposição e de organização.

Dificilmente, na vida acadêmica, se está envolvido com um único trabalho. Normalmente


não se está desenvolvendo apenas um TCC: também há várias outras disciplinas em curso.
Admitindo-se que a vida acadêmica é um dos principais objetivos da vida de quem se envolveu
nela, é fundamental gerenciar o tempo de forma a atender a todas as necessidades. Com
organização, consegue-se fazer muito mais do que se imagina.

Imprevistos sempre ocorrem. É preciso, portanto, prevê-los. Para isso, é desejável


antecipar-se aos prazos pré-estabelecidos. Não se pode admitir, por exemplo, a desculpa de que
não havia conexão de internet para envio de um arquivo no último dia de um dado prazo, pela
simples razão de todos saberem que isso pode acontecer. Não se deixe para enviar um
documento, apresentar um atividade, o que quer que seja, no último momento. Não se participa
de um concurso público depois de os portões terem sido fechados. Não se entrega a declaração
do imposto de renda sem multa depois de concluído o prazo de envio – mesmo que o sistema
tenha estado sobrecarregado, ou não tenha existido conexão.

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Referências
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