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Importância do Livro

Capitães da areia estabelece uma analogia entre a aventura que é narrada e a


mensagem política que se pretende transmitir ao leitor. Possui com isso, um
sentido didático que é próprio do tipo de literatura que o romance representa:
aquele que é voltado para o trabalho de conscientização política. No âmbito da
literatura, Jorge Amado foi um dos primeiros a abordar a questão dos menores de
rua de uma perspectiva social e não simplesmente policial.
Período histórico
Quando o romance foi publicado, em 1937, autoridades baianas queimaram
exemplares em praça pública. O episódio dá o tom do clima político da época, com
o início da ditadura getulista do Estado Novo a repressão começava a mostrar as
suas garras.

ANÁLISE
O livro se inscreve na categoria do romance de aventuras, com a narrativa
estruturada em uma sucessão de episódios vividos pelo bando de garotos, que
vão desde ações criminosas, como roubos a residências, até a recuperação de
uma imagem de candomblé apreendida pela polícia.
Muito do livro faz pensar em Peter Pan, personagem de J. M. Barrie. O armazém
em Salvador é uma espécie de Terra do Nunca, onde só vivem meninos
abandonados, e o líder é homônimo: Peter = Pedro. Pode-se propor ainda a
semelhança com Robin Hood, que roubava dos ricos (as casas chiques de
Salvador) para distribuir entre os pobres (os próprios membros do bando).
Pedro Bala possui muito do herói romântico: valentia, coragem e capacidade de se
sacrificar pelo grupo. Mas talvez fosse melhor vê-lo como mais um anti-herói da
nossa literatura, já que se dedica a crimes, chegando em uma passagem do
romance a estuprar uma garota. Outra marca forte do modelo romântico é a figura
de Dora, tanto por sua concepção idealizada, quanto pelo final triste da morte.
Porém, de mãos dadas com a ficção está a realidade baiana, evidenciada em
traços como o preconceito das elites para com os meninos, as greves de
trabalhadores, a ação repressora da força policial e, elemento bastante realçado
na obra, o sincretismo religioso, que mistura referências católicas a ritos afro-
brasileiros. O esforço de conscientização do leitor é evidente na obra de Jorge
Amado, sendo conduzido com a perícia de um grande contador de histórias,
criador de narrativas envolventes.
Os adultos participam da narrativa, divididos em dois grupos bem distintos. De um
lado, aqueles que rejeitam os meninos: as beatas, os policiais e todos aqueles
ligados aos espaços repressivos do reformatório e do orfanato. De outro lado, os
cúmplices, como o amigo capoeirista Querido-de-Deus, o padre João Pedro e
Don’Aninha, mãe-de-santo.
A simpatia do narrador pelos Capitães da Areia é bastante evidente. Ele os vê
como vítimas de uma sociedade injusta, aproximando-os da condição de
marginalizados, na qual se identificam com as classes trabalhadoras. O resultado
dessa aproximação é sugerido pela trajetória do líder Pedro Bala: conforme
cresce, toma consciência da realidade à sua volta, terminando por integrar-se à
luta política. Menino órfão, Pedro encontra uma família na revolução socialista –
ideal político do autor e explícito no livro.

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