Você está na página 1de 3

VIAGENS NA MINHA TERRA

Garrett recebeu um convite para fazer uma viagem e para a relatar num folhetim de jornal, o que faz
com que este texto tenha marcas de um texto jornalístico (nomeadamente uma crónica):

 Preocupação com a atualidade;


 Fala diretamente com o leitor;
 Uso da 1º pessoa;
 Técnica do suspense (com a introdução da novela);
 Capítulos curtos.

“Viagens na minha terra”


Junta dois subgéneros narrativo:

 Crónica da viagem;
 Ficção (novela).
 O relato de uma viagem real (de Lisboa a Santarém);
 Uma novela (narração da história de Joaninha, uma narrativa encaixada).
 Viagens “interiores”: reflexões, digressões e divagações.

A viagem real desenvolve-se de Lisboa a Santarém, o espaço físico percorrido vai sendo descrito
criticamente, tendo em conta os sentimentos e pensamentos que desperta no narrador-autor.

II. Viagem literária

Reflexões sobre a leitura

Diálogo com outros textos e autores:

 Dom Quixote de La mancha


 Os Lusíadas
 Menina e Moça

Novela encaixada – Menina dos Rouxinóis

Personagens da história:

 A avó de Joaninha, «a velha cega»;


 Frei Dinis (frade e pai de Carlos);
 Carlos (primo de Joaninha; o idealista que perderá a sua integridade pessoal);
 Os amores de Carlos: Laura, Georgina, Júlia e Joaninha.

III. Viagem mental-simbólica

As digressões condicionam a velocidade narrativa.

O texto assemelha-se ao barco do início da viagem: não está «ansioso de correr»; é um barco «sério
e sisudo». (Capítulo I).
CAPÍTULO I

O livro começa com o narrador a contar sobre a sua vontade de partir em viagem de Lisboa a
Santarém. Chegando ao destino, o narrador começa a ter comentários através da observação de uma
janela.
“De como o autor deste erudito livro se resolveu a viajar na sua terra, depois de ter viajados no seu
quarto”

Tom satírico

PERSONAGENS
Narrador: Considera serem os agentes da mudança do país: o povo e a aristocracia esclarecida.

 É um liberal, que participou ativamente na guerra civil e na transição de regime partidário


do Liberalismo, e denúncia o seu fracasso, dado que o domínio dos Frades foi substituído
pelo dos Barões e que nação se destrói por causa do materialismo dominante. Contudo o
narrador mantém os seus ideais e acredita na regeneração de Portugal.
 Vai avaliando criticamente a obra em construção, os seus méritos e deméritos, e as suas
próprias competências enquanto escritor.
 Tem, simbólica e metaforicamente, um duplo em Carlos, o protagonista da novela,
identificando-se com ele em traços de caráter e de percurso existencial, mas dele se
diferenciando por não ter renunciado aos seus ideais.

Carlos:

 Carlos é o herói romântico: trata-se uma figura de exceção, marcada pela intensidade e
instabilidade afetiva;
 O seu trajeto existencial que foi definido pelo destino, mas também pelo seu caráter
inconstante que faz alternar entre solicitações e apelos opostos - verdade/mentira,
pureza/sensualidade, natureza/sociedade;
 Tornando-se narrador da sua própria existência, a carta que escreve a Joaninha ilustra a
vertente confessionalista do romantismo e analisa a psicologia de uma personagem que é
produto do seu contexto.

A relação com o Vale de Santarém, lugar equivalente ao Éden, define o estatuto e a existência dos
dois primos: Carlos abandona o paraíso e o seu caráter é corrompido, transformando-se no homem
social caracterizado pela inconstância; Joaninha mantém-se no Vale, dominado no seu caráter a
estabilidade - dos afetos e dos valores. Se Carlos se torna o homem social, Joaninha simboliza a
própria natureza, na sua essência primordial e com os seus valores originais positivos; os seus olhos
verdes representam metonimicamente essa ligação. Carlos exemplifica o progresso social português,
dado que evolui do idealismo (espiritualismo) para o materialismo; por outro lado, é a vivência
social, deformadora e corruptora, que o desvia do seu ser e destino naturais.

 Joaninha:

 Na sequência da descrição deslumbrada do Vale de Santarém, Joaninha vai surgindo como o


ideal romântico da mulher anjo;
 Em comunhão com a natureza idealizada, Joaninha representa a espiritualidade, a
serenidade, a beleza, a pureza e a felicidade;
 A confissão do Carlos leva Joaninha à loucura e à morte;
 Relaciona-se metonimicamente com o espaço natural: os atributos da beleza, da pureza, da
inocência, da simplicidade aplicam-se quer a Joaninha quer à natureza.

Você também pode gostar