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Korg KR-100S Keytar elegante com síntese poderosa

& AFINS
Ano 3 - Número 21 - Janeiro 2016

PianOrquestra
www.teclaseafins.com.br

Claudio Dauelsberg fala sobre


o grupo instrumental que
vem surpreendendo o mundo

Software DAW E mais


Gratuito Kontakt: aprenda como samplear
Vox Continental: o rei dos órgãos combo
Opções para quem quer Palco: a estrutura do tecladista
equipar o home studio com Alma de Blues: improvisação
pouco investimento Arranjo exclusivo: “I Got You (I Feel Good)”

Kai Schumacher De erudito contemporâneo a punk rock


EDITORIAL

& AFINS
Ano 3 - N° 21 - Janeiro 2016
Feliz Ano Novo! Na
Publisher verdade, o que desejamos
Nilton Corazza é felicidade sempre, já que,
publisher@teclaseafins.com.br
a cada reveillon, os votos se
Gerente Financeiro renovam. O que esperamos
Regina Sobral de um ano que se inicia,
financeiro@teclaseafins.com.br
no entanto, são novidades.
Editor e jornalista responsável Pode ser algo que mude
Nilton Corazza (MTb 43.958) nossa rotina como o
prêmio da Megasena da
Colaboraram nesta edição:
Alex Saba, Alexandre Porto, Eloy Fritsch, Virada. Ou, quem sabe, um
Eneias Bittencourt, Jobert Gaigher, novo emprego. Na pior das hipóteses, as sonhadas férias
José Osório de Souza, Maurício Pedrosa, de verão. Começamos este novo ano com uma edição
Rosana Giosa, Turi Collura, Wagner Cappia
dedicada à novidade. Inspirados pela realização do
Diagramação Festival Rc4, no Rio de Janeiro, dedicado à música erudita
Sergio Coletti contemporânea, trazemos dois destaques do evento,
arte@teclaseafins.com.br que se caracterizam pela forma incomum como encaram
Foto da capa o piano. Nossa matéria de capa traz uma entrevista com
Divulgação Claudio Dauelsberg, idealizador do PianOrquestra, que
fala um pouco mais sobre os detalhes do grupo e dos
Publicidade/anúncios
comercial@teclaseafins.com.br
caminhos abertos por esse projeto. Conversamos também
com Kai Schumacher, pianista alemão que também encara
Contato seu instrumento como ferramenta de trabalho, apta a
contato@teclaseafins.com.br oferecer muito mais do que costumam tirar dela. Esta
Sugestões de pauta edição também marca a estreia de uma coluna que tem
redacao@teclaseafins.com.br sido solicitada por vários leitores, dedicada ao software
Kontakt, conhecido de todos aqueles que trabalham
Desenvolvido por
Blue Note Consultoria e Comunicação
com samples. E que tal conhecer o que há disponível
www.bluenotecomunicacao.com.br gratuitamente em termos de software DAW? Um review
com o keytar Korg KR-100S e uma matéria sobre o rei dos
Os artigos e materiais assinados são de responsabilidade
de seus autores. É permitida a reprodução dos conteúdos órgãos combo, o lendário Vox Continental, fazem conjunto
publicados aqui desde que fonte e autores sejam citados e o com uma aula especial sobre a estrutura necessária para
material seja enviado para nossos arquivos. A revista não se
responsabiliza pelo conteúdo dos anúncios publicados. um tecladista no palco. E, além disso tudo, nossa equipe
de colaboradores traz tudo sobre harmonia, arranjo,
acordeon, blues, lançamentos, curiosidades e muita,
muita novidade! Boa leitura!

Nilton Corazza
Rua Nossa Senhora da Saúde, 287/34
Publisher
Jardim Previdência - São Paulo - SP
CEP 04159-000
Telefone:2016
4 / janeiro +55 (11) 3807-0626 teclas & afins
VOCE EM TECLAS E AFINS 6
NESTA EDIÇÃO
O espaço exclusivo dos leitores 44 sintese
Software DAW gratuito
INTERFACE 8 Por Eloy Fritsch
As notícias mais quentes do
universo das teclas 49 acordeon sem limites
Flavio Alves
retrato 12 Por Eneias Bittencourt
Kai Schumacher
O destruidor 52 kontakt
Como samplear
Vitrine 18 Por Edwaldo Venturieri
Novidades do mercado
54 palco
review 20 Hands on!
Korg RK-100S Por Wagner Cappia
Por Cristiano Ribeiro
57 harmonia e improvisacao
materia de capa 24 O estudo da harmonia na música
PianOrquestra popular e suas vertentes
A dez mãos Por Turi Collura

memória 34 60 alma de blues


Vox Continental Improvisação
Por Jobert Gaigher Por Maurício Pedrosa

livre pensar 40 62 arranjo comentado


From The Dark Side of The Moon Soul em piano-solo
Por Alex Saba Por Rosana Giosa

teclas & afins dezembro 2015 / 5


vOCE em teclas & afins

Vamos nos conectar?


Linda matéria! Estou muito feliz. Disparado a melhor
entrevista que já dei na minha vida. Teclas & Afins teve
uma sensibilidade e uma dedicação ao abordar a minha
trajetória que nunca ninguém chegou perto. Muito
obrigado ! (Mú Carvalho, por e-mail)
Esse cara é bom demais! (Maria Clara Zincone, em nossa
página no Facebook)
Que capa linda! (Glauci Lene, em nossa página no
Facebook)
Elisa na revista! Que maravilha! (André Mello, em nossa
página no Facebook)
Adorei a matéria com o Mu e a entrevista com a Elisa
Wiermann ;) (Patrick Wichrowski, em nossa página no Facebook)
Revista top! (Samuel Lopes Pereira, em nossa página no Facebook)
R.: Ficamos sempre muito felizes quando uma matéria repercute tão bem. E mais ainda quando
o entrevistado tem história e conhecimento para compartilhar. Mú Carvalho é um exemplo de
profissional talentoso, competente e honesto. E muito “gente-fina”!

Mostre todo seu talento!


Não importa o instrumento: piano, órgão, teclado, sintetizadores, acordeon, cravo e
todos os outros têm espaço garantido em nossa revista. Mas tem que ser de teclas!
Como participar:
1. Grave um vídeo de sua performance.
2. Faça o upload desse vídeo para um canal no Youtube ou para um servidor de
transferência de arquivos como Sendspace.com, WeTransfer.com ou WeSend.pt.
3. Envie o link, acompanhado de release e foto para o endereço contato@teclaseafins.com.br
4. A cada edição, escolheremos um artista para figurar nas páginas de Teclas & Afins, com
direito a entrevista e publicação de release e contato.

Teclas & Afins quer conhecer melhor você, saber sua


opinião e manter comunicação constante, trocando
experiências e informações. E suas mensagens podem
ser publicadas aqui! Para isso, acesse, curta, compartilhe
e siga nossas páginas nas redes sociais clicando nos ícones acima. Se preferir, envie críticas, comentários
e sugestões para o e-mail contato@teclaseafins.com.br

6 / janeiro 2016 teclas & afins


vOCE em teclas & afins

Olá. Assino a revista e acompanho todas as edições. Queria saber se tem como comprar
uma versão física. (Dudu Montezuma, em nossa página no Facebook)
Qual o valor para assinar a revista impressa? (Jackson, por e-mail)
R.: Agradecemos as mensagens e a fidelidade, Dudu e Jackson. Teclas & Afins é digital e elaborada
para tirar proveito de todas as vantagens dessa plataforma. Mas em breve teremos novidades!
Obrigado! Vocês têm feito a diferença. São grande fonte de conhecimento e pesquisa e têm
alimentado os sonhos de muitas pessoas que amam música e acreditam nela. Ótimo 2016
a todos os amigos! (Luis Marcos, por e-mail)
Senhores, sou músico amador e pretendo continuar a receber a revista e seus e-mails, muito
úteis para mim. Aproveito a ocasião para desejar a todos da revista um próspero ano de
2016. Grato. (Antonio José Regginato, por e-mail)
R.: Agradecemos as mensagens, das quais estas são uma pequena amostra, e aproveitamos para
reiterar a todos os leitores nossos votos de um 2016 de muito sucesso em todas as áreas.
Ótimo review! Como pianista, fico até pensando em trocar meu equipamento atual... Será
que vale a pena? Sou apaixonado por um piano Kawai, mais é muito difícil encontrar aqui
no Brasil. Onde posso comprar? (Marcelo Francisco, no review do piano digital Kawai MP7, em
nosso canal do Youtube)
R.: Os instrumentos Kawai são importados para o Brasil pela Pianofatura Paulista. Entre em contato
com a empresa e pelo telefone (11) 3973.7900 ou no endereço www.piano.com.br/fale-conosco.

teclas & afins janeiro 2016 / 7


INTERFACE

ENTRE HANÓI E CEARÁ


O pianista, compositor e arranjador Ricardo Bacelar lançou seu segundo álbum-
solo e primeiro disco ao vivo, o CD e DVD instrumental “Concerto para Moviola”.
Após tocar por muitos anos no Hanói Hanói, famoso grupo dos anos 80, Bacelar
largou a música e decidiu seguir carreira como advogado quando a banda deu suas
atividades por encerradas, na década de 1990. A música havia ficado em segundo
plano para o pianista, até que recebeu um convite para se apresentar no Festival de
Jazz e Blues de Guaramiranga, no Ceará – Estado onde mora. “Pensei em um show de
jazz ensolarado, com muitas influências da música dos anos 80”, afirma. No trabalho,
Bacelar interpreta obras de Chico Buarque, Egberto Gismonti, Chick Corea e outros.
“Eu quis fazer um disco que eu mesmo quisesse comprar numa loja”, completa.

8 / janeiRo 2016 teclas & afins


interface

Novo CD
O pianista e compositor Tomás Improta
comemora 45 anos de carreira lançando
seu oitavo disco solo. A Volta de Alice traz,
entre as onze faixas, músicas autorais,
em parceria e releituras de temas
consagrados, com Improta se revezando
ao piano acústico e elétrico, sintetizadores
e escaleta, através de vários ritmos. Tomás
cercou-se de músicos do mais alto nível
como o trombonista Raul de Souza e do
saxofonista Marcelo Martins, que assina os
arranjos ao lado de Tomás e do guitarrista
Carlos Pontual, também produtor musical
do CD. Participam ainda músicos de
renome como Jessé Sadoc e José Arimatéia
(trumpetes), Aldivas Aires (trombone),
Alberto Continentino (baixo acústico),
Domenico Lancelotti (bateria), João Viana
(bateria) e Marco Lobo (percussão), entre
outros. Para adquirir o CD, clique aqui!

teclas & afins janeiRo 2016 / 9


interface
Computer Orchestra

QUE A FORÇA
A pianista russa Sonya Belousova fez um
vídeo em homenagem ao lançamento
de Star Wars Episódio VII: O Despertar

ESTEJA COM VOCÊ


da Força, com direção do cineasta
Tom Grey. A dupla Belousova e Grey é
responsável pelo canal PlayerPiano
no Youtube, que já fez uma
releitura de várias outras
trilhas como Doctor Who,
Super Mario Bros e Game
of Thrones. No vídeo, o
piano ganhou a cara da
nave Millenium Falcon
do Han Solo, do R2D2
e até uma temática que
lembra o interior da nave de
Darth Vader. O vídeo lançado
no dia 10 de dezembro já tem
mais de 600 mil visualizações.

24 horas no ar

Uma das mais ouvidas no Mundo!


Várias vertentes com qualidade!
Programas ao vivo - Humor - Esportes - Entrevistas - Entretenimento - Participação do ouvinte

10 / janeiRo 2016 teclas & afins


INTERFACE
Conheça as publicações da

Homenagem
Juninho Carelli, tecladista da banda
SOM & ARTE
E D I T O R A

INICIAÇÃO AO PIANO POPULAR


NOTURNALL, disponibilizou um vídeo Volumes 1 e 2
em seu canal oficial no YouTube em LANÇ
AMEN Inéditos na
homenagem à Lemmy Kilmister, ex-líder TO área do piano
do Motörhead que faleceu no último dia popular, são
28 de dezembro . Carelli interpretou “Ace livros dirigidos
a adultos ou
of Spades”, clássico da banda, prestando crianças que
tributo a este que foi um dos maiores queiram iniciar
gênios do heavy metal em todo o mundo. seus estudos de
piano de forma
agradável e
consistente.

MÉTODO DE ARRANJO PARA


PIANO POPULAR
Volumes 1, 2 e 3
Ensinam o aluno
a criar seus
próprios arranjos.

REPERTÓRIO PARA PIANO


POPULAR
Volumes 1, 2 e 3

Trazem 14
arranjos prontos
em cada
volume para
desenvolvimento
da leitura das
duas claves (Sol e
Fá) e análise dos
arranjos.

Visite nosso site para conhecer melhor


os 3 Métodos e os 3 Repertórios

www.editorasomearte.com.br
teclas & afins Contato: rosana@editorasomearte.com.br
janeiRo 2016 / 11
retrato por nilton corazza

Kai Schumacher:
de clássico contemporâneo a punk rock

© Divulgação

12 / janeiRO 2016 teclas & afins


retrato

O destruidor
Rompendo barreiras entre estilos, o
pianista Kai Schumacher explora as
possibilidades sonoras do piano acústico
em projetos inusitados

Seja na música ou na história, alemães da nova geração e em projetos, no mínimo


sabem como construir sólidas estruturas. inusitados. Em Querida, eu sou realmente
E também como rompê-las. O pianista inútil para você - 12 Variações sem Amanda
Kai Schumacher é um exemplo disso. Um Palmer, Schumacher trabalhou com 12
dos principais integrantes de uma nova compositores que escreveram, cada um,
corrente estética que defende derrubar uma variação sobre um tema composto
as barreiras entre os diferentes estilos, por ele. Em cooperação com a Duisburg
o pianista alemão funde música clássica Philharmonic, desenvolve novas formas
contemporânea, techno, rock, sound bits e para a apresentação de concertos,
jazz com piano acústico, instrumentos de misturando seu repertório de piano clássico
brinquedo e eletrônica. O músico explora e contemporâneo, com eletrônica e rock,
elementos do Dadaísmo e da pista de também com instalações de luz e vídeo
dança, da avant-garde e da cultura pop, formando uma performance musical e visual
processando remixes analógicos em que que atrai o público mais jovem e críticos
o piano se transforma ora em instrumento mais velhos igualmente.
de percussão preparado, ora como objeto Kai Schumacher estará no Brasil em janeiro,
de efeitos mecânicos. como uma das atrações do Festival Rc4,
O repertório de Schumacher dá especial evento de música erudita de vanguarda,
ênfase à música contemporânea americana e, antes da viagem, conversou com nossa
para piano, mas são indeléveis as marcas reportagem sobre sua visão de música e
deixadas pela formação clássica e a atuação outras curiosidades.
em bandas de rock e trabalhos na noite.
Seu CD de maior sucesso, Transcriptions, Qual é o conceito de projeto Insomnia?
homenageia os “heróis de sua infância”, Por que o subtítulo “uma experiência de
como System of a Down, Portishead, concerto audiovisual para ‘’ Planetários”?
Megadeth, Nirvana e outros. Insomnia é meu álbum-solo atual que
Além de inúmeras apresentações e apresenta música noturna de vários
estreias europeias, ele trabalha em compositores americanos dos séculos 20
estreita colaboração com compositores e 21. É uma espécie de álbum conceitual,

teclas & afins janeiro 2016 / 13


retrato

como uma odisséia noturna - calma e estranho, absolutamente. Acredito que


pacífica, por um lado, mas também muito muitos pianistas estão focados apenas em
perturbadora e misteriosa por outro. Para uma direção particular, e esse é um tipo
enfatizar todas esses diferentes estados de especialização pela qual sou muito
de espírito noturnos, tive a idéia de crítico. Comecei a tocar piano clássico com
adicionar algum conteúdo visual para as a idade de cinco anos, mas, mais tarde,
performances ao vivo, mas de uma maneira sempre estive interessado em outro tipo
especial: haverá um show de vídeo, que de música, não importa se punk rock,
preenche uma abóboda, produzido em música eletrônica ou algum material
4k especialmente adaptado para a música contemporâneo sofisticado. Então, nunca
e exclusivamente para apresentação tive quaisquer limitações musicais. Eu
em planetários . Para esta nova série de apenas colecionei o que pude e tentei fazer
concertos, que se inicia na Alemanha em minha própria música. E nunca imaginei
fevereiro de 2016, também trabalhamos que o piano deve ser considerado com um
com um sistema surround 3D que nos dá inadequado respeito “clássico”. Ele tem sido
a possibilidade de dividir a música em sempre um instrumento para mim, não um
até sessenta canais diferentes e criar um santuário.
ambiente sonoro muito original.
Apesar desse approach, você não
Qual é a sua concepção sobre o piano e é o compositor das obras, mas o
por que você o usa de forma tão diferente intérprete, em seu próprio estilo. O que
da maioria dos pianistas? o afasta da composição? Considera suas
O piano é um instrumento polivalente. performances como composições?
Ele pode ser usado em muitos gêneros Bem, me considero um pianista, mas
diferentes e nunca será um elemento também um arranjador. Mas muitos dos

14 / janeiRO 2016 teclas & afins


retrato

arranjos que escrevi para mim evoluíram


para longe dos originais, de muitas
maneiras diferentes. Assim, gostaria de
descrever meu trabalho como uma espécie
de remix pianístico, e não uma transcrição
no sentido tradicional. Mas gosto da
idéia de uma composição como obra de
arte acabada, então mantenho as partes
improvisadas de minhas performances
reduzidas ao mínimo. Se você trabalha com
elementos eletrônicos fixos, por exemplo,
o computador é como um parceiro digital
rigoroso de música de câmara. Você
geralmente não tem a chance de improvisar
porque tudo tem que estar sincronizado
com muita precisão. Além disso, acredito
que há tanta boa música que ainda não
foi descoberta. O que estou fazendo como
artista no palco é recompor essa música
para uma dramaturgia convincente. Por
isso, a partir desse ponto de vista, minhas
performances são composições de alguma
forma. recital. Acredito que há um ponto comum
na história da música, a canção. A canção é
Porque utiliza o piano para essas a maneira mais simples de expressar seus
sonoridades diferentes em vez de utilizar sentimentos. E não importa se é um hino de
sintetizadores ou algo assim? igreja, uma canção política ou uma melodia
Usar um sintetizador é a maneira mais fácil de jazz ou rock. A canção é a forma de
de criar sons diferentes. E com tudo o que os arte que sobreviveu aos séculos e sempre
modernos sintetizadores digitais oferecem, estará lá. É o menor denominador comum
todo mundo é capaz de construir paisagens na música e, por isso, é a possibilidade
sonoras de fantasia em poucos minutos. de derrubar os muros entre o chamado
Acredito que seja muito mais interessante clássico, o contemporâneo e a música pop.
explorar o piano de cauda para além das 88
teclas em busca de uma nova qualidade de Em seu trabalho denominado Classic
sonoridade. E um piano de cauda no palco Minimalism, há obras de Cage e Cowell.
parece muito mais elegante e “estiloso” que Obviamente esses compositores e
um monte de sintetizadores. outros lhe servem de inspiração para
suas performances. Em que cada um lhe
Como é misturar Mozart e Rage Against influenciou?
The Machine em um mesmo trabalho? Henry Cowell é, provavelmente, um dos
Não misturo isso na mesma peça de compositores mais subestimados de todos
música, mas no mesmo programa de os tempos. Cem anos atrás, ele já estava

teclas & afins janeiro 2016 / 15


retrato

Que tipo de prepração um músico deve


ter para performances como as suas?
Na verdade, eu não trabalho com nada
fixo. Prefiro uma espécie de “preparação
ao vivo”, usando os dedos para criar alguns
efeitos de filtro de corte ou harmônicos,
então me sinto mais flexível. Mas é claro
que uso ferramentas diferentes, às vezes,
como palhetas, várias baquetas ou mesmo
pequenos vibradores de bolso. Para minha
transcrição de “Spiders”, do System Of A
Down, queria imitar uma orquestra de
bandolins para sublinhar o gesto folclórico
escondido na música. Então trabalhei com
leves correntes de metal sobre as cordas
na faixa intermediária do piano. Isso
produz um ataque nervoso e áspero, como
trêmolos rápidos em bandolins.

Como as plateias têm recebido seu


trabalho? Qual você considera que é seu
público?
Especialmente nos primeiros shows, com
experimentando clústers e técnicas nas o programa do meu álbum Transcriptions,
cordas do piano, e estava totalmente foi emocionante ver como o público
à frente do tempo em sua expressão reagiria. Quando você vai a um concerto
musical. Acredito que ele foi o primeiro de piano clássico você não esperar ouvir
que considerou o piano de cauda como um músicas de bandas como The Prodigy
monstro de som de 4 metros quadrados ou Slayer... E provavelmente 98% da
utilizado como dispositivo mecânico audiência clássica nunca deve ter ouvido
para produzir efeitos sonoros. Essa falar dessas bandas antes. Mas depois
abordagem musical de usar o piano como de um tempo, percebi que havia mais
um instrumento melódico, harmônico e mais pessoas que vêm para os shows,
e percussivo ao mesmo tempo ainda é só porque eu toco essas peças. E é uma
uma grande influência para mim. Cowell situação estranha, mas um grande elogio
também foi um dos professores de John quando uma mulher de 70 anos vem
Cage, assim pode-se ver muito claramente depois do show me dizer que a peça que
de onde Cage teve sua idéia de piano ela mais gostou foi uma canção de Rage
preparado. O que aprecio na música de Against the Machine. Acredito também
Cage é sua manipulação com ruídos, bem que o público que vem aos meus shows é
como com o silêncio. Sua estética da uma boa mistura dos caras clássicos, mais
música é muito espiritual e transcendente, velhos em sua maioria, com pessoas mais
realmente fora deste mundo. jovens musicalmente, com base na cultura

16 / janeiRO 2016 teclas & afins


retrato

pop. A pior coisa que pode acontecer a algumas técnicas nas quais eu nunca
um artista é o público responder com havia pensado para criar efeitos sonoros
indiferença. Uma vez, apresentei um surpreendentes. Estou muito curioso
concerto com o meu programa Insomnia para finalmente encontrá-los!
e havia uma jovem indo embora durante
o intervalo porque a música era muito Que compositores brasileiros fazem parte
perturbadora para ela, me disse mais de sua biblioteca de referências?
tarde. Mas me senti totalmente aprovado Quando eu era um jovem estudante,
pela reação dela. Prefiro algo como isso ganhei algum dinheiro com a reprodução
muito mais do que apenas os aplausos de músicas de jazz em bares e restaurantes.
educados obrigatórios, porque a música Então, na verdade, o primeiro compositor
deve sempre desbloquear emoções, não brasileiro que tinha que tocar era Antonio
importa se boas ou ruins. Carlos Jobim. Em meu primeiro show, eu
estava um pouco nervoso... Eu tinha algo
Apesar do uso diferenciado do piano, em torno de 15 anos e nunca tinha tocado
sua música é tonal, com acentos de jazz antes! Quando eu comecei a música
romantismo e impressionismo. Isso é “Wave”, de Jobim, havia uma senhora
herança de sua formação acadêmica? brasileira sentado no bar, que cantou
Não. Eu realmente acredito que a espontâneamente junto comigo. O público
tonalidade, pelo menos, é uma herança estava enlouquecendo e, de repente, o gelo
da minha formação como músico de rock, se quebrou. Então, quando penso sobre
que foi minha principal influência quando música brasileira, ainda tenho essa noite
comecei a escrever minhas próprias em particular em minha mente.
transcrições para piano. E quanto mais eu
volto em meu repertório para piano, mais
eu percebo que é a simplicidade que me
atrai. Ainda tenho meus problemas com o
romantismo alemão tardio, por exemplo,
onde existe uma modulação após a outra e
a música raramente atinge um ponto. Mas,
então, olho para o primeiro “Gnossienne”
de Erik Satie: há o mundo inteiro em apenas
dois acordes tonais.

O grupo PianOrquestra, do Brasil,


liderado por Claudio Dauelsberg, também
realiza um trabalho de exploração das
possibilidades sonoras do piano. Conhece
o trabalho do grupo?
Vi alguns de seus clipes no YouTube. O que
NA REDE
eles fazem é uma forma muito original
de lidar com o piano. É absolutamente
inspirador ver que ainda existem

teclas & afins janeiro 2016 / 17


VITRINE Toque nos produtos para acessar vídeos, informações e muito mais!

Roland XPS-30
Roland Brasil – www.roland.com.br

O sintetizador XPS-30, da
Roland, traz os recursos do
popular XPS-10 e adiciona
aprimoramentos como a
memória com o dobro da
capacidade. O instrumento
traz 61 teclas sensíveis ao
toque e oferece 128 vozes
de polifonia máxima e 16 partes multitimbrais. Entre os 1.400 sons de fábrica, com
35 kits de bateria e 28 performances, o equipamento traz desde pianos acústicos e
elétricos a instrumentos regionais, além da possibilidade de expansão das formas de
onda internas e de importação de amostras. Oito Pads para acionar os samples e sons
armazenados na memória USB, entrada de microfone com Reverb dedicado, Vocoder,
efeitos e Auto Pitch para performances vocais e sequenciador de padrões de oito
trilhas com gravação ininterrupta e interface de Áudio/MIDI via USB e modo DAW
Control para controlar softwares de gravação completam o conjunto de recursos.

Grand Hybrid GP-500BP


Casio – www.casioteclados.com.br
O novo CASIO CELVIANO Grand Hybrid GP-500BP coloca nas mãos de pianistas
35 timbres e 256 notas de polifonia, metrônomo, 17 afinações pré-definidas,
equalizador gráfico de três bandas, transposição e controle de afinação, além de três
pedais com reconhecimento contínuo e efeito de meio pedal. O instrumento tem
entre suas principais características a reprodução do som de três lendários pianos
acústicos, denominados simplesmente Berlin
Grand, Hamburg Grand e Vienna Grand. O som
do Berlin Grand foi desenvolvido em colaboração
com a C. Bechstein. O CELVIANO Grand Hybrid
oferece o novo teclado Natural Grand Hammer
Action, feito com teclas de madeira em todo
o comprimento. O novo mecanismo incorpora
martelos reais que seguem o mesmo caminho de
movimento que um piano de cauda de concerto
e inclui três sensores que capturam a expressão
das teclas do músico com precisão. Cinco níveis
de sensibilidade adaptam o instrumento à
necessidade dos músicos.

18 / janeiro 2016 teclas & afins


VITRINE

Jerry Lee Lewis


Sua Própria História
Rick Bragg
Edições Ideal
Preço de capa: R$ 47,90
A história do mais louco e perigoso dos roqueiros pioneiros é
narrada na íntegra pela primeira vez. Dos campos e barragens
da Louisiana até a fama internacional, Jerry Lee Lewis
dividiu palcos com Johnny Cash e Chuck Berry, viajou em
turnê com Buddy Holly e emparelhou seu Cadillac com
Elvis pelas ruas de Memphis. Sua música era estridente,
exuberante, astuciosamente sexual e sua voz se apoiava
na força motora de seu piano. Sua personalidade e seu estilo
de se apresentar mudaram o mundo: martelava as teclas como uma
locomotiva, para então chutar o banco do piano, subir no instrumento e dominar
a plateia. Decidido a roubar a coroa de Elvis Presley, parecia irrefreável até que a notícia de
seu casamento com a prima de 13 anos vazou durante sua primeira turnê britânica e quase
acabou com sua carreira. Neste livro, o ganhador do Prêmio Pulitzer Rick Bragg recupera essa
história iluminada pelo profundo conhecimento que o jornalista tem do espírito americano.

TODA A INFORMAÇÃO QUE VOCÊ QUER...


E NÃO TINHA ONDE ENCONTRAR!

teclas & afins


VIOLAO +
A revista digital dos instrumentos de cordas

www.violaomais.com.br setembro
janeiro 2015
2016 / 19
REVIEW Por cristiano ribeiro

Korg RK-100S
O Keytar elegante
traz ótimos timbres e
síntese poderosa, tudo
para repetir o sucesso
de seu antecessor

20 / janeiro 2016 teclas & afins


REVIEW

Tocar teclados em uma banda, no


sentido do contato com o público, pode
ser frustrante para alguns. O instrumento
dá ao músico pouca mobilidade, e o deixa
preso a uma estante. Para piorar, quem vê
o tecladista de frente não tem uma visão
que favoreça o trabalho do instrumentista:
a melhor parte - que é ver o painel do Conexões: conjunto na lateral facilita mobilidade
instrumento, com seus botões, knobs, luzes,
teclas, e as mãos tocando - fica escondida do muito leve ou pesado -, na medida certa.
público, a não ser que se incline os teclados São 37 teclas sensíveis ao toque, um pouco
de modo inverso (o que é muito debatido), menores que as do modelo anterior, dois
ou se toque totalmente de lado para que controles ribbon, um curto, no braço, e outro
uma pequena parte da plateia possa ver que percorre toda extensão do teclado.
sua ação. Telões ajudam um pouco, e até Mas o melhor de tudo foi que colocaram
alguns músicos colocam espelhos no palco timbres. E que timbres! O RK-100S recebeu
para que as pessoas possam ver os teclados um sistema de geração de som MMT
e tecladistas em ação. Obviamente muitos (Multiple Modeling Technology). Sim, ele
tecladistas não se contentam com isso. Os possui uma síntese hibrida que permite
mais extrovertidos querem ir para a frente usar ondas geradas por síntese subtrativa
do palco, ter contato com o público e V.A. (virtual analógic) ou amostras PCM,
mostrar seu potencial artístico. ou então conjugar as duas formas de
Pensando nisso foi desenvolvido o conceito síntese. Dois filtros, vocoder, processador
Keytar. Como o nome já diz, uma mistura de efeitos e arpeggiator: temos aí um
de teclado e guitarra. Oferece mobilidade sintetizador poderoso.
ao instrumentista e agilidade nos solos, O banco PCM vem com algumas das
apesar da limitação em usar as duas mãos amostras clássicas da Korg. Foi bem legal
para tocar pianos e órgãos. O primeiro encontrar timbres como os M1 piano, M1
Keytar lançado foi o Moog Liberation, nos Organ e M1 Bell. Ele tem dois osciladores.
anos 80, e de lá pra cá outros fabricantes O Oscilador 1 traz Saw, Pulse, Triangle,
adotaram esse conceito. Sine, Formant, Noise, PCM/DWGS e Audio
A Korg lançou seu primeiro RK-100 em
1984. Na época, ele era apenas controlador,
com corpo em madeira, quatro cores e 41
teclas sem sensibilidade ao toque. E fez
muito sucesso. O modelo foi relançado
recentemente com o nome RK-100S e várias
mudanças. O primeiro ponto positivo foi
que mantiveram o corpo em madeira.
Nota-se que procuraram manter o design
original e as cores branca, vermelha e
preta. O instrumento está mais compacto
e leve. O teclado tem peso agradável - nem Jean-Michel Jarre: espelhos no palco

teclas & afins janeiro 2016 / 21


REVIEW

In. Oscilador 2, Saw, Pulse, Triangle, Sine.


O primeiro trabalha nos modos Waveform,
Cross, Unison, Vpm, e o segundo, nos
modos Ring, Sync, Ring+Sync.
Todas formas de onda são muito bem
geradas produzindo um som forte e
presente por toda extensão do teclado.
No modo PCM/DWGS do Oscilador 1, é
possível acessar as amostras PCM e usar
uma das ondas do Oscilador 2, criando,
desse modo, um misto de PCM e V.A.
O RK-100S traz dois filtros. O Filtro 1 pode
ser configurado para -24 dB/oct LPF, -12
dB/oct LPF, HPF, BPF e Thru. O Filtro 2, por
sua vez, funciona como LPF, HPF e BPF. Os
filtros trabalham no modo single, serial,
parallel e individual.
No AMP, temos em Wave Shape os modos
Drive, Decimator, Hardclip, Oct Saw, Multi
Tri, Multi Sin, Sub Osc Saw, Sub Osc Squ,
Sub Osc Tri, Sub Osc Sin, Level Boost. Todos
Painel: econômico, para performances
com opção PreFilter1 ou PreAmp. O teclado
ainda traz dois LFOs com os tradicionais com bons efeitos e bom arpeggiator.
Saw, Square, Triangle, S&H e Ramdom. O Um vocoder de 16 bandas também está
processador de efeitos tem dois Master disponível e seu uso faz a polifonia cair
Effects e equalizador de duas bandas. para quatro notas.
O painel do RK-100S é resumido, adequado
Recursos para um instrumento para performances
O RK-100S é multitimbral, com até dois ao vivo. Apesar de ter um belo sintetizador
timbres em layer, split ou multi, e oferece embutido, não há controles como knobs e
polifonia de até oito vozes, o que está de sliders para edição de timbres em tempo
bom tamanho para um Keytar sintetizador. real. Apenas ao ribbon maior se pode
O resultado disso são timbres encorpados, atribuir controle de parâmetros de filtro
muito bem construídos, cheios de texturas, (além do bend e de executar escalas
previamente selecionadas). Para se ter
acesso a todos parâmetros de edição dos
timbres, é necessário utilizar o software PC
Editor via computador. O RK-100S realmente
foi desenhado para a performance ao
vivo, portanto tudo deve ser previamente
editado antes de subir ao palco.
Em seu painel, ele possui uma pequena
Controles: bem localizados e ergonômicos alavanca com movimento crescente

22 / janeiro 2016 teclas & afins


REVIEW

e decrescente para acessar seus 200


bancos. Para facilitar a navegação, há
oito botões aos quais se pode endereçar
timbres favoritos. Esses mesmos botões
funcionam como um led indicador
de performance ou como luzes para
indicar o funcionamento e andamento
do arpeggio. Mais à esquerda, se vê
mais quatro botões: Tap tempo, ARP
(arpeggiator on\off ), Short Ribbon (para
selecionar no ribbon pequeno a função
bend ou modulation) e Shift (botão
de deslocamento para produzir mais
algumas funções quando usados em Conclusão
conjunto com outros botões). No braço, O RK-100S é um Keytar bonito, elegante,
dois botões acionam o oitavador e outros com peso confortável, vocoder e ótimos
dois atribuem funções para o ribbon timbres com síntese poderosa, além de um
maior. O teclado também funciona a grande controle ribbon que torna muito
pilha, possui entrada USB para conectar mais divertida a performance no teclado.
a um computador e entrada para áudio Está no caminho certo para repetir o
externo ou mic. sucesso de seu antecessor.

Korg RK-100S Preço sugerido: R$3.499,00 *


Importador: Pride Music
Informações técnicas (www.pridemusic.com.br)
Dimensões: 830 x 262 x 71 mm
Peso: 3.4 kg (incluindo pilhas)
Acessórios: manual de usuário, correia, Soft Case,
pilhas alcalinas AA (para verificar a operação)
Opcionais: Adaptador AC

Pontos fortes
• Controle Ribbon grande permitindo maior controle
• Síntese poderosa com timbres muito bons
• Peso ideal graças ao corpo de madeira

Pontos fracos
• Teclas pequenas
• Poderia endereçar mais parâmetros ao Ribbon grande
para compensar a falta de mais controles em tempo real
* Preço sujeito a alteração sem aviso prévio

teclas & afins janeiro 2016 / 23


A dez
materia de capa por nilton corazza

mãos

24 / janeirO 2016 teclas & afins


materia de capa

Aclamado pela crítica


especializada como um dos
grupos mais inovadores do atual
cenário da música instrumental
brasileira, o PianOrquestra se
destaca pela originalidade e
qualidade com um trabalho que
envolve quatro pianistas, uma
percussionista e o protagonista:
um piano preparado

Com luvas, baquetas, palhetas de violão, expandir a comunicação com plateias de


fios de náilon, sandálias de borracha, todas as faixas etárias. O grupo explora
peças de metal, madeira, tecido e plástico, o sincronismo que envolve dez mãos
o PianOrquestra explora as infinitas tocando simultaneamente durante a
possibilidades de timbres e sonoridades performance. A execução acontece por
produzidos pelo piano, transformando o todas as partes do instrumento, como
instrumento em uma orquestra. o interior e a parte inferior da caixa do
O trabalho idealizado pelo pianista e piano, alé, obviamente, das teclas. Os
Mestre em Piano Claudio Dauelsberg é timbres variam de acordo com os objetos
fruto de uma pesquisa iniciada com alunos inseridos, especialmente construídos para
da Universidade Federal do Rio de Janeiro, as sonoridades desejadas.
com base nas técnicas de piano preparado Formado atualmente pelas pianistas
e piano expandido popularizadas por Marina Spoladore, Priscila Azevedo e
John Cage no início do século. As técnicas Anne Amberget, e pela percussionista
são aplicadas de maneira lúdica e criativa, Masako Tanaka, o grupo segue liderado
resultando num trabalho pioneiro na por seu criador, com quem conversamos
música popular brasileira, visando para saber detalhes sobre o trabalho.

teclas & afins janeiro 2016 / 25


materia de capa

Como você define o PianOrquestra? Quando subimos no palco, falei para as


O PianOrquestra já passou por três meninas: “Respirem fundo e vamos fazer
gerações diferentes. E foi bem além como o que sabemos, com o que conquistamos.
projeto do que o inicialmente planejado. É algo que ninguém no mundo faz e é
É curioso ele ter nascido em ambiente isso que eles querem ver”. E foi lindo.
praticamente universitário e diante de uma Acabamos dando três bis, mais do que o
circunstância que é bem brasileira: a falta Volodos que é um dos dez mais do mundo,
de pianos. A gente tem que ser criativo. Há que tocou na noite anterior (risos). Foi
muitos alunos para atender e isso acaba muito interessante. Então, que a gente
gerando ideias. Obviamente dentro disso percebe hoje, é que o PianOrquestra nos
há um trabalho de altíssima pesquisa. leva a lugares que talvez não iríamos
Todas as integrantes do PianOrquestra tem como pianistas. Esse coletivo mostra um
mestrado, caminhando para o doutorado caminho importante, que o mundo está
em Música. E há muita pesquisa por trás. interessado em ver.
Acabamos de vir do maior festival de piano
da Europa (Festival Internacional de Piano A união de linguagens do PianOrquestra
La Roque D’Anthéron), onde só tocam os afasta o grupo do conceito tradicional de
grandes nomes da música clássica, com recital? Isso chama a atenção do público
3.500 pessoas em um teatro no meio de tanto no Brasil quanto lá fora?
um parque floral... É interessante porque Há uma preocupação em relação à
o único brasileiro que havia tocado lá comunicação com o público. Há a
foi Nelson Freire, um dos dez maiores preocupação de que haja esse contato
pianistas do mundo. E o PianOrquestra de forma que o público possa interagir e
acabou se apresentando nesse palco. participar, pela música, pelos estímulos

© Brigitte Lacombe

26 / janeirO 2016 teclas & afins


materia de capa

visuais, efeitos sonoros, dança... Essa


variação é feita com esse objetivo: ter
o público conosco. E a gente percebe
que isso comunica bem muitas vezes,
com a família inteira. Certa época, o
governador nos chamou para tocar em
todas as escolas da Zona Oeste do Rio
de Janeiro. Isso é interessante, mais do
que um pianista com um piano. Isso
funciona como instrumento educativo,
apresentado em todas as áreas, com todo
Claudio Dauelsberg: idealizador do projeto
o estímulo visual. As crianças ficam mais
ligadas. O PianOrquestra mexe com alta função dos mais velhos é procurar fazer
performance, são ótimos pianistas, mas o encontro no meio do caminho, ajudar
que trabalham também com o coletivo e a nova geração que chega com um
que souberam dividir as 88 teclas (risos). potencial imenso de velocidade e vontade
Acredito que misturar é uma necessidade de interagir. Eles não se importam em
hoje. Temos uma geração “Y”, vamos abandonar a individualidade deles em
colocar assim, que nasceu dentro de um prol de uma coletividade. Enfim, existem
ambiente de conectividade. Eles têm um novos anseios de uma geração que está
anseio diferente. Não é natural para eles chegando ao mercado e busca por coisas
entrar em um teatro e criar a experiência diferentes. O PianOrquestra é um pouco
da profundidade, de uma imersão disso tudo. É um projeto que nasceu, único
profunda. Eles têm certa dificuldade com no mundo. Fomos criando literatura para
isso. Nós temos que orientar essa geração ele, possibilidades. Hoje vemos outras
“Y” nessa direção. Eles já foram criados em iniciativas acontecendo nessa área, com
um ambiente muito superficial, porque estilos diferentes, mas ficamos felizes que
há muita informação chegando o tempo esse modelo está ai.
todo, então eles têm, naturalmente, esse
impulso para conectar, intermediar...Tudo Esse modelo abre mais possibilidade de
tem que ser em altíssima velocidade. Há espaços para apresentações?
uma tendência de mudança na forma de Isso é interessante. O PianOrquestra levou a
se perceber a cultura muito em função gente, por exemplo, para o Concertgbouw,
dessa nova geração que está chegando que é o maior teatro da Europa. Para chegar
à universidade agora, ascendendo de um até o piano leva quase dois minutos (risos).
ambiente conectivo. Isso afeta todas as Para um pianista, isso é engraçado. Entrar
áreas, como o vinho, o esporte, os livros, no palco e chegar até ao piano parece com
a música. É uma mutação, real. Cabe a um jogador de futebol quando vai para a
nós - e isso pode até ser entendido como disputa de pênaltis (risos). O PianOrquestra
uma guerra entre o velho e o novo, mas chama a atenção. E isso é interessante.
não é - ajudar em experiências mais Ele não passa despercebido. Alguns
divertidas em busca da profundidade. gostam muito do fato de ser diferente, e
Ou seja, nesse embate de gerações, a isso nos tem ajudado a chegar a lugares

teclas & afins janeiro 2016 / 27


materia de capa

que nem imaginávamos. Fizemos o La fomos desenvolver isso dentro do piano


Roque D’Anthéron, fizemos um festival para fazer os diferentes sons percussivos.
em Belfast, uma gravação para a BBC de Estudamos a fundo as cirandas. Um coco
Londres, o Vancouver Jazz Festival, então,
também foi feito. Exploramos todas as
temos um histórico bem bacana. Fizemos partes internas do piano compondo
uma turnê agora pela América do Sul, a sobre elas, procurando fazer melodias e
inauguração do teatro Nescafé... ritmos consistentes que juntem a beleza,
a ludicidade e o movimento dos ritmos
O PianOrquestra se apoia bastante em brasileiros. Com isso, desenvolvemos um
ritmos brasileiros e em repertório mais baião e, agora, um frevo, que está fazendo
moderno. Esse é um diferencial? o maior sucesso nesse último DVD, o “Pia
A gente acha importante. O PianOrquestra No Frevo”, que a Priscila trouxe pra nós.
tem uma marca brasileira. Ele é um
produto criado no Brasil. Fizemos um Quem chega ao grupo tem que compor?
samba no piano, mas chamamos um Ele passa por esse teste (risos). É uma
mestre de percussão e fizemos aulas com brincadeira, mas é bom porque acaba
ele para entender como é a evolução desenvolvendo. Sempre há a pressão “ai
de uma escola de samba. A partir daí, meu Deus, será que está bom isto aqui?”.

28 / janeirO 2016 teclas & afins


materia de capa

Mas vamos trabalhando, trocando ideias preparação com Mariana Baltar, com todo
e, às vezes com um mínimo de orientação, um trabalho cenográfico, de movimento,
conseguimos desenvolver um trabalho porque o pianista é treinado para tocar,
muito bacana. O frevo ficou muito levantar e agradecer. Ele está dentro
legal, está explorando bem as mãos. Há daquele vocabulário. No PianOrquestra,
passagens muito rápidas e aquela dança há o trabalho do movimento. É preciso se
das mãos, uma verdadeira coreografia. E deslocar, então, é preciso saber como fazer
é muito divertido, é alto astral. Acredito isso. Por exemplo, para tocar nas cordas,
que o apoio de todo mundo pensando em não se deve encostar as mãos nelas para
algumas situações e soluções também faz não oxidarem. Há esse cuidado. Então,
parte do processo criativo. Muitas vezes, coloca-se uma luva, para proteger. Às vezes,
as soluções são encontradas ali no próprio é preciso sair, tirar a luva e tocar nas teclas.
ensaio, porque requer adaptação. Afinal, Mas o espaço de tempo é muito pequeno
é uma orquestra de um instrumento só, e a luva muito apertada, porque é do tipo
então o espaço tem que ser combinado: cirúrgica. Nem sempre se consegue tirar
“tenho que tocar esse Sol, mas você tem aquilo rápido. Muitas vezes, a pianista não
que tocar esse mesmo Sol um segundo conseguia tirar e entrava tocando piano
depois, então vou sair para a direita, você com a luva. E tocar com a luva já é mais
vem num movimento pela esquerda...”. difícil. Na hora de tirar, ela ficava um pouco
Tem que estar tudo combinado. agoniada e isso passava para o público.
Ela tentava esconder a luva atrás do piano.
Quando há uma troca de integrante, o Aí, a Mariana veio com outra proposta:
que isso exige? “tem que mostrar tudo, assumir. Levanta
É sempre um desafio. Calculo pelo menos essa mão e vai tirando um dedo por vez!”.
uns seis meses para assimilar tudo, se for um Ficou até bonito de se ver. Enquanto uma
trabalho intenso, ou um ano em um trabalho pianista está tocando, ela está lá, com a
mais espaçado. Primeiramente, tem que mão para cima e uma luva branca que
estudar as músicas individualmente, aparece bastante, tirando plasticamente
como no piano. Depois entender o roteiro cada dedo, com gesto feminino. A Mariana
do concerto, porque a partitura é um aproveitou os elementos do PianOrquestra
pouco diferente. Há a partitura das notas e transformou em uma grande coreografia.
e um roteiro: “vou tocar agora aqui, tenho
dois segundos para descer e tocar a parte
de percussão embaixo do piano, então
tenho que sair correndo”. E esse correndo
é plástico, há uma coreografia também
(risos). “Daí, tenho que estar, em menos
de dois segundos, aqui, fazendo um efeito
dentro da caixa do piano, com batidinhas
nas cordas”. Esse roteiro é um desafio. É
pegar a partitura como um todo: o que
tem que tocar, onde em que momento, e
que movimentos vai fazer. Fizemos uma

teclas & afins janeiro 2016 / 29


materia de capa

Como é feita a escolha do repertório? a orquestração dentro do piano. Acabou


Como são mais de dez anos de estrada, rendendo uma música querida do público
o repertório já foi feito por diversas (Lucy In The Sky With Diamonds), que
motivações. No início, a preocupação do ele reconhece e gosta. Ficou divertido.
primeiro DVD era mostrar que aquilo era Também fomos convidados para fazer um
possível. Em 2003, 2004, o pessoal não evento em homenagem a John Cage e foi
acreditava. Quando você falava nisso, as o momento de mergulhar na obra desse
pessoas ficavam surpresas. Por ser um compositor. Fizemos uma grande parte das
coletivo, imaginavam que ia ser uma sonatas. Precisamos estudar a preparação
grande bagunça, ou realmente estavam do piano proposta por Cage, que é um
se surpreendendo, “nunca pensei, nunca trabalho muito difícil, muito mais que tocar
imaginei...”. No primeiro repertório, a sonata. A preparação do PianOrquestra
estávamos mesmo querendo provar é leve. A do Cage, não. Fizemos algumas
que não estávamos malucos, mostrar sonatas de outros compositores, como
um pouco da consistência da pesquisa. Ligetti, por exemplo. Então, expandimos o
Também tínhamos a preocupação de repertório também para a área da música
mostrar isso dentro do âmbito da música erudita contemporânea.
brasileira, então tem samba, pagode,
som de cavaquinho dentro do piano. O Como é a preparação do piano?
primeiro DVD tinha um pouco essa busca As pessoas perguntam se destruímos o
por sonoridades brasileiras extraídas do piano... Não destruímos! Tudo é feito com
piano com uma fórmula nova. Há o som muito cuidado, muito zelo. Quando há
de uma rabeca, por exemplo, feito com uma percussão mais alta, o pessoal acha
linhas de pesca. Depois, tivemos uma que estamos “surrando” o instrumento.
encomenda do João Marcos Coelho, para Na verdade, não. Há vários microfones
fazer um evento em homenagem aos colocados dentro da caixa do piano.
Beatles. Fizemos algumas músicas do É um trabalho muito bem cuidado. A
grupo dentro dessa formação, explorando microfonação é feita por setor, para que

30 / janeirO 2016 teclas & afins


materia de capa

se possam amplificar áreas que não tem necessários, como elásticos para fazer os
muita sonoridade, como as baquetinhas contrabaixos. Esse material todo vai na
que produzem um som muito mais baixo mala e fazemos um revezamento para
do que quando se toca o piano com as o início da preparação: quem está mais
teclas. Quando se toca uma percussão disposto, quem vai chegar mais cedo no
embaixo do piano, é preciso compensar teatro... Dois de nós começam a avançar
um pouco. Há uma preocupação muito na preparação, etiquetando todos os
grande. Ninguém seria louco de colocar abafadores, porque, quando se toca dentro
um instrumento valioso em casa para do piano, naquele mar de duzentas cordas,
estudo e colocá-lo em risco. Temos até não se sabe onde está o Do, o Ré... Então,
cartas de fabricantes atestando que não etiquetamos os 88 abafadores com o nome
danificamos o instrumento. Nossa forma das notas. A produtora leva o conteúdo
de preparação é leve. visual, que é projetado por ela. O técnico
de som do PianOrquestra, Rafael Galo, é
Quanto tempo é necessário? mais uma mão do grupo. Ele não só opera
Quando o PianOrquestra começo, o som, mas mixa em tempo real. Não há
pediamos 8 horas. Hoje, fazemos em retorno de palco, então o técnico é nosso
duas horas. Como a preparação é muito ouvido dentro da plateia. O que fazemos
específica, não se consegue terceirizar. é tocar acusticamente, sem nenhuma
E tentamos manter uma equipe enxuta. amplificação para nós. O negócio é ouvir o
Então, nossa produtora, Marie Linhares, que estamos fazendo. É um instrumento só
é responsável por providenciar a parte e todo mundo está perto. O técnico então
dos equipamentos que está faltando. é uma pessoa em quem temos que confiar
Sempre temos uma mala com os objetos cem por cento. Ele está há mais de 8 anos

teclas & afins janeiro 2016 / 31


materia de capa

conosco. Conversamos muito, para não as sonoridades mais graves. Em tudo isso
deixar determinada parte mais metálica, ficamos na mão do técnico.
cuidado com isso, com aquilo, até chegar
a um consenso quanto à sonoridade. Quem faz os arranjos?
De qualquer forma, cada piano tem sua No início, praticamente fiz boa parte do
estrutura e sonoridade, e também há trabalho. A medida em que as integrantes
a acústica do lugar. Há locais em que a vão avançando e ganhando autonomia,
acústica funciona para sons percussivos participam cada vez mais. Temos abertura
maravilhosamente bem. Em outros, não. para conversar, dar sugestões, sofisticar.
Isso é mais um desafio na passagem de Existe autonomia para criações coletivas.
som. Há acústicas que tem reverb longo, Às vezes, estamos brincando na passagem
então é necessário tomar cuidado com de som e surgem ideias ali mesmo.

NA REDE

32 / janeirO 2016 teclas & afins


memoria POR jobert gaigher

O som dos anos 60!


O vermelho genuíno! O órgão rebelde! O
combo dos céus! O rei dos combos! Fica
difícil encontrar uma frase de efeito única
para apresentar com justiça essa máquina
com mais de 50 anos de palco e que
continua ativa até hoje: o Vox Continental

34 / dezemBRo 2015 teclas & afins


memoria

A vida dos tecladistas pioneiros do rock and e interruptor de sinais elétricos. É um


roll não foi nada fácil. Até a década de 1960, semicondutor eletrônico que atua como
vários artistas e bandas de rock utilizavam oscilador, amplificador, comutador ou
pianos acústicos e órgãos Hammond no retificador, sendo um ótimo substituto
estúdio. Mas, na hora de ir para o palco, para as válvulas. O uso de transistores em
a coisa se complicava. Os pianos eram substituição às válvulas como componentes
pesados, desafinavam e eram extremamente para amplificadores, fez que o tamanho dos
difíceis de serem amplificados corretamente dispositivos eletrônicos fossem reduzidos
para serem ouvidos claramente no meio significativamente, e além de gastar muito
das guitarras elétricas e das baterias em menos energia para operar, eram muito
performances ao vivo. mais resistentes ao choque, e portanto,
É claro que o todo-poderoso Hammond B3 melhores para colocar na estrada. E o
estava disponível, mas era caro e igualmente melhor de tudo, eram mais baratos.
pesado e complicado de colocar na estrada. Seguindo a regra, os primeiros órgãos
No inicio da década de 1960, já havia modelos transistorizados foram construídos
de órgãos Hammond “semi-portáteis” como pensados para o entretenimento doméstico,
o M-3, que, apesar de mais leve do que um B3, mas rapidamente os roqueiros começaram
ainda continuava monstruoso. A Hammond a se interessar em levá-los para o palco. Os
estava agarrada à ideia de utilização de primeiros modelos não estavam realmente
tonewheels como geradores de som, que pensados para suportar a vida dura na
é basicamente um conjunto de rodas estrada, e perto das guitarras e baterias da
metálicas girando em frente a captadores época, pareciam mais brinquedo de criança
eletromagnéticos, uma por nota. Sem entrar do que instrumentos de bandas de rock.
em detalhes, imagine esse monte de rodas Então, no início da década de 1960, a empresa
(normalmente 96), um motor para girá-las Inglesa JMI - que estava gozando de enorme
e um monte de captadores e o resultado sucesso com seus amplificadores VOX -
não pode ser outro senão um instrumento enxergou uma oportunidade e resolveu
extremamente pesado. Mas eis que, então, voltar às suas origens como fabricante
surgiu o TRANSISTOR, e de repente, tudo de órgãos, começando a trabalhar no
começou a mudar. desenvolvimento de um novo modelo
de órgão baseado em transistores para
O transistor substituir os pesados órgãos tonewheel
O transístor foi inventado em 1947 nos
Laboratórios da Bell Telephone, por John
Bardeen e Walter Houser Brattain, e foi o
componente fundamental para a revolução
da eletrônica que se desencadeou
sobretudo na década de 1960. A descoberta
foi tão significativa, que a equipe
responsável pelo seu desenvolvimento
ganhou o prêmio Nobel de Física em 1956.
O transistor é um componente eletrônico
utilizado principalmente como amplificador

teclas & afins dezemBRO 2015 / 35


memoria POR jobert gaigher

altas, era perfeito para solos rápidos e


destacados. Uma das peculiaridades do
Vox é o comportamento original dos dois
drawbars da direita. O Vox original possui
seis drawbars. Os quatro primeiros, na cor
laranja, funcionam de maneira semelhante
aos drawbars de tons dos Hammonds. Já os
dois drawbars vermelhos da direita, atuam
fazendo um corte geral de graves e agudos
no timbre final. Em um órgão Hammond,
cada drawbar gera um tom separadamente,
que é identificado com uma indicação em
polegadas, uma terminologia que vem
dos órgãos de tubo. Ao puxar um drawbar,
em turnês de bandas de pop e rock. se aumenta o volume de cada um desses
A Vox, notoriamente uma das principais tons em passos graduais de 0 (sem som)
fabricantes de amplificadores, começou a a 8 (volume máximo). E empurrando um
vida como “The Jennings Organ Company”, drawbar, se diminui o volume do tom
e fabricava órgãos para o uso doméstico e correspondente a esse drawbar. O controle
em igrejas. Em 1957, foram incorporadas geral de corte de grave e agudo dá um
como “Jennings Musical Industries”, ou controle muito útil e instantâneo para o
JMI. O nome “Vox” começou a ser utilizado organista timbrar um som mais estridente
nos amplificadores em 1958, e em 1962 foi nos solos, e mais gordo nas harmonias.
lançado o Vox Continental, certamente o Havia duas versões do Vox: o original com
órgão combo de maior sucesso de todos quatro oitavas - o Vox Continental- e o
os tempos. topo de linha com dual-manual - o Vox
Super Continental. Seu teclado com cores
O Vox Continental invertidas, sua estante cromada de design
O Vox Continental é simplesmente o rei elegante e futurístico e um acabamento
dos órgãos combo. O instrumento possuía impecável em vermelho pareciam perfeitos
uma interface bastante semelhante à para os recentes televisores em cores de
de um órgão Hammond (incluindo os então. Sim, o Vox Continental é vermelho,
drawbars e sets de vibrato), mas utilizava e não por acaso os Farfisas eram também
uma tecnologia completamente distinta. vermelhos e, hoje, os Nords são vermelhos.
Isso permitiu um instrumento mais O Vox é o vermelho original.
adequado para as demandas das bandas O VOX Continental tornou-se, de imediato,
da época: muito mais leve, relativamente um enorme sucesso e parte integrante do
acessível, elegante, robusto, fácil de som dos anos 60. Um dos usuários mais
amplificar, e podia ser parcialmente famosos do instrumento é Ray Manzarek
desmontado e embalado em sua própria da banda The Doors: é impossível imaginar
caixa para facilitar o transporte. o som do grupo sem o VOX Continental.
Conhecido pelo seu timbre rouco e No final da década de 1960, Ray Manzarek
brilhante mesmo nas regiões mais acabou trocado o seu velho Vox original

36 / dezemBRo 2015 teclas & afins


memoria

utilizado nos primeiros álbuns por um


Gibson G-101. O Vox já não aguentava a
vida dura da estrada e acabava quebrando
constantemente, exigindo reparos de
última hora. Mesmo assim, periodicamente
o tecladista acabava voltando para o Vox em
alguns concertos especiais. Há uma longa
lista de outros usuários que ajudaram a
tornar este instrumento um clássico. Como
PARA OUVIR
Um dos solos prediletos em um Vox
era um teclado razoavelmente acessível,
Continental é o executado pelo tecladista
o Vox logo chegou às mãos de inúmeras
Alan Price, da banda The Animals,
bandas de garagem e, durante a década
em“House of the Rising Sun”, de w1964.
de 1960, foi utilizado em muitos singles de
Ouça também:
sucesso. É provavelmente o órgão combo
The Doors
mais popular e mais presente nos grandes
“Light My Fire” e “The Crystal Ship”
concertos históricos do rock e do pop.
The Dave Clark Five
Um fato curioso, é que havia muitas
“Because”
bandas durante as décadas de 1960
The Rivieras
e1970, sobretudo no Brasil, que pareciam
“California Sun”
estar utilizando um Vox Combo, mas na
The Zombies
verdade usavam outro teclado vermelho
“Woman”
vintage muito popular na mesma época,
The Beatles
o italiano Farfisa. Introduzido em 1965,
“I’m Down”
esse instrumento era ainda mais barato e
Question Mark and The Mysterians
mais compacto que o Vox, e antes do final
“96 Tears”
da década, apareceram dezenas de outras
The Monkees
marcas de órgãos “combo” no mercado.
“I’m a Believer”
Os primeiros modelos do Vox pretendiam
Paul Revere and The Raiders
imitar o som de um Hammond, mas o
“Hungry”
timbre metálico e estridente desses órgãos
The Blues Magoos
acabou resultando em um novo som, com
“(We Ain’t Got) Nothin’ Yet”
personalidade própria e que se tornaria
The Four Seasons
instantaneamente identificável como um
“Working My Way Back to You”
som genuíno dos anos rebeldes. Com o
Bob Dylan
tempo, o inverso começou a acontecer:
“If You Gotta Go, Go Now” e “Absolutely
alguns músicos que não tinham acesso ao
Sweet Marie”
Vox tentavam simular o som dele utilizando
The Sir Douglas Quintet
o velho Hammond. Uma dessas histórias
“The Rains Came” e “Mendocino”
famosas é relatada justamente aqui no
The Velvet Underground
Brasil, com o organista de Roberto Carlos, o
“Sister Ray”
famoso Lafayette. Conforme diz a lenda, e
Iron Butterfly
o próprio confirma em entrevista, o estúdio
“In-A-Gadda-Da-Vida”
da CBS tinha um Hammond B3 e um Farfisa,

teclas & afins dezemBRO 2015 / 37


memoria POR jobert gaigher

e com as configurações dos drawbars (ou


registros no caso do Farfisa) combinadas
com efeitos de estúdio, tentavam simular
o som mais rock and roll do Vox. “Era um
Hammond, modelo B3, com uma caixa
Leslie”, conta Lafayette. “A CBS também
tinha um órgão Farfisa, mas eu não gostava
muito. Eu achava o Farfisa muito estridente,
mas alguma coisa a gente fez com ele,
para dar um efeito diferente. Devo muito
aquele som do órgão aos técnicos da CBS,
especialmente o Jairo Pires, que depois
virou produtor, e Eugênio de Carvalho,
que mais tarde trabalhou na Globo. Eles
melhoravam muito o som do órgão, Vox Super Continental: dual manual
botavam um tipo de eco que tinha lá na
CBS, muito bom. Quando eu dava aquelas sintetizadores mais sofisticados, igualmente
puxadas, dava um efeito … Eles davam portáteis e ainda mais acessíveis, como o
ao órgão, além do som bonito que já tem, Moog, os órgãos VOX acabaram caindo em
uma equalização, um eco assim diferente. desuso e foram literalmente abandonados
Aquilo tudo ajudou a fazer aquele som, a no fundo dos porões de vários estúdios.
sair aquele timbre legal”, conclui*. Abandonados, mas não esquecidos. Embora
eliminados da produção no início de 1970,
Dos anos 60 para cá até hoje continua sendo “figura fácil” nos
Durante a década de 1960, praticamente palcos internacionais, e permanece na
todas as bandas de rock - do pop ao lista dos órgãos combo mais procurados
progressivo, do soul ao hard rock, e claro, e desejados do mercado. Nas décadas de
a jovem guarda no Brasil - tinham que ter 1980 e 1990, foram ressuscitados para criar
um organista. E não eram apenas para o som “retrô” de grupos como Stereolab,
serem coadjuvantes: o órgão geralmente The Fleshtones e The Soup Dragons. O Vox
assumia um papel de destaque em várias é sem dúvida um dos principais atores na
canções e álbuns inteiros. Nesta época história da música pop e rock do século XX,
há quase tantos grandes solos de órgãos e merece um lugar de destaque no panteão
como solos de guitarra. E a maioria deles foi dos instrumentos de teclas.
executada ou em um Vox, ou em um Farfisa,
ou em um Hammond. O início da década *Fonte: LAFAYETTE, A ENTREVISTA - FERNANDO
de 1970, com a introdução de teclados e ROSA E RICARDO KOTHE - 2/4/2004

Jobert Gaigher
Músico, compositor, educador musical, produtor cultural, blogueiro e consultor de marketing para os mercados de
áudio e música, é especialista da linha NORD no Brasil desde 2008. Entre os anos de 2001 a 2003 foi gerente técnico
da Quanta Service, e então mudou-se para Londres, participando de várias gravações em estúdio e performances ao
vivo em festivais e eventos no Reino Unido, Espanha e Itália. Em 2008 retornou ao Brasil, quando idealizou e passou
a coordenar o Sistema e-SOM para a Quanta Educacional, sistema multimídia para aulas de educação musical que
foi pré-qualificado pelo MEC e incluso no Guia Nacional de Tecnologias Educacionais. www.jobert.info

38 / dezemBRo 2015 teclas & afins


livre pensar POR ALEX SABA

From the dark


side of the moon

40 / janeiro
junho 2014
2016 teclas & afins
livre pensar

Quando chega o fim do ano é hora de fazer uma


retrospectiva, ver o que aconteceu de bom, relembrar
os bons momentos e.... Não costumo ir por esse
caminho. Essas retrospectivas não adiantam
muito e as da televisão só lembram as desgraças
e catástrofes. Por tanto, vou olhar para a frente...
Olhando para trás!

A capa de Dark Side of The Moon é conhecida única coisa que tinha como certa é que
por todo o mundo. Não tenho medo dessa queria um repertório mais forte, que
afirmação porque é um dos discos mais trouxesse paixão e grandiosidade. Seu
manjados já lançado. A “novidade” (entre empresário, Steven Saporta, entrou em
aspas mesmo porque já rola por algum contato com o produtor David Warner
tempo aqui na rede) é uma cantora ter a com a idéia de fazer um disco de covers,
ousadia de fazer um cover desse clássico. mas Warner teve uma ideia mais ousada:
Acabando com o suspense - se é que houve reinterpretar um único disco clássico,
algum - vou comentar sobre um disco do começo ao fim. O projeto, desafiador
quase não lançado, porque afinal estamos por si só, ganhou um peso ainda maior
fechando um ciclo e começando outro e quando Warner e Fahl escolheram o disco
a novidade pode ser apenas a velharia de a ser recriado, nada menos que The Dark
ontem ou vice-versa. Mas a verdade é que Side Of The Moon, a obra máxima do Pink
entra ano e sai ano, no fundo somos nós Floyd, que passou nada menos que 14
que mudamos. anos consecutivos na lista de 200 discos
Cover é uma palavra que me causa arrepios mais vendidos da Billboard e é o quinto
e muita alergia (leia esta coluna na quinta disco mais vendido de todos os tempos.
edição de Teclas & Afins). Não gosto quando A princípio, Mary assustou-se com a
fazem recriações perfeitas, cópias exatas. ambição do produtor: “Ele (o disco) é
Gosto das inexatas. E mais: não vejo sentido como o Cálice Sagrado, uma obra de arte
em um artista não interpretar uma obra à danada de boa, muito mais que o produto
sua maneira. Claro que o público em geral de uma época” - declarou.”
gosta e se o público gosta, sempre há um Dito isso, você está situado na história
artista disposto a dar o que o público quer. do disco. Então, vamos nos aprofundar
Felizmente não foi o caso da Mary Fahl. mais um pouco. O trabalho é totalmente
inesperado, principalmente por ser fruto de
Mary Fahl apenas três pessoas: a cantora Mary Fahl,
Em uma pesquisa que você mesmo pode o produtor David Warner e o guitarrista e
fazer por aí, você vai encontrar o seguinte: tecladista Mark Doyle. Contam por aí que
“Depois de dois discos solo (um EP e um os três compartilhavam certa desilusão
CD completo) abaixo de sua capacidade, com os caminhos da música pop e profunda
a vocalista Mary Fahl, na minha opinião, admiração pelo disco de Pink Floyd. Eles
a alma do October Project, estava mais entraram no estúdio de Doyle para gravar
perdida que pum (sic) em bombacha. A “Us And Them” e o resultado inicial foi tão

teclas & afins janeiro


junho 2014
2016 / 41
livre pensar

bom que resolveram iniciar o projeto. fazer boas versões de grandes músicas.
O álbum Existem bandas tributo do Pink Floyd
O que tem de interessante nessa para isso, mas se nós conseguíssemos
recriação é que fica longe dos covers reinventar a intenção por nós mesmos,
“Xerox” habituais. Acho que é difícil então teríamos a chance de redescobrir
imaginar como o álbum de uma cantora, alguma coisa que pudesse ter nova vida
acompanhada por um só músico pode por si só”.
mostrar o talento dela, não desrespeitar “Speak to me” começa com a percussão
as músicas que todos conhecem e ficar fazendo as batidas do coração e a voz de
bom, principalmente um disco que é Mary em várias camadas reproduzindo
metade instrumental. Doyle teve uma o original e preparando a entrada de
saída genial. Ele transformou a voz de “Breathe”. Entram então ótimas guitarras
Mary em mais um instrumento. Lembram de Doyle e a característica frase original de
do solo de voz (que sempre menciono Gilmour preparando um clima “dark” para
como o orgasmo mais longo já gravado a entrada do vozeirão de Mary, que canta
em disco) em “The Great Gig In The Sky” inicialmente sem acompanhamento. A
com a impressionante Clare Torry? Pois música ganhou muito ao ser despida
é, não dava pra copiar aquilo nota por de toda instrumentação, com a bela
nota. Em vez disso, optaram por algo que melodia original ficando bem destacada.
se assemelha a um lamento xamânico. “On The Run” abre com um vocalize de
Realmente é difícil de imaginar, mas aí Mary brincando no estéreo e uma figura
reside toda a sabedoria e a beleza desse repetida de guitarra, seguida de efeitos,
disco. Como Werner explica: “Nenhum de como uma guitarra invertida e um
nós estava interessado em simplesmente baixão sintetizado bem diferente, além
de piano e bateria. Cá entre nós, mais
interessante do que a original. Diversos
“despertadores” anunciam “Time”. Um
clima etéreo opõe-se ao que havia sido
ouvido até então. O baixo de Waters é de
certa forma recriado, mas a voz de Mary é
muito mais um lamento do que a voz quase
angelical de Gilmour. Com muito respeito
e delicadeza, a voz dá espaço a um lindo
solo de guitarras (são pelo menos três),
para depois retomar à melodia cantada,
com backings do próprio Doyle.
Depois dessas, vem a já comentada “The
Great Gig In The Sky”, cujo grande mérito
é afastar-se da original no que ela tinha de
mais marcante, o longo vocalize. Grande
expectativa para essa faixa que não é nem
um pouco decepcionante, pelo contrário.

42 / janeiro
junho 2014
2016 teclas & afins
livre pensar

Fica claro que estamos diante da recriação truque, ao traçar uma segunda melodia.
de um clássico. Exatamente por isso as Quando acabei de ouvir esse disco, não
percussões orientais não surpreendem sabia o que dizer. Havia um misto de
quando iniciam “Money”. Mary confere um muitas emoções. Se Dark Side Of The
tom jocoso à sua voz e fica incrivelmente Moon é um cálice sagrado, como a própria
interessante com o que Doyle faz lá por Mary se referiu, o que ela e seus dois
trás: uma incrível cortina de guitarras e parceiros conseguiram fazer aqui traça
um bom solo de harmônica. “Us and Them” uma linha divisória definitiva. Todos os
que, como você já sabe, foi a primeira outros tributos que já ouvi, inclusive um
gravada e por muitos anos a minha favorita, ótimo, integralmente feito só por vozes,
é lenta. Um violão dá dicas da melodia. mostraram-se muito aquém deste aqui.
Aqui novamente Mary canta praticamente Se eu tinha um turbilhão de emoções e
à capela e outra vez a melodia ganha com a sensação de estar ouvindo Dark Side
isso. Essa música perdeu aquele clima de Of The Moon pela primeira vez, havia
baladinha que escondia o grande tema uma pergunta: porque algo tão incrível
que realmente é. O solo de sax original demorou tanto tempo para ser lançado
foi substituído por outro lindo vocalize oficialmente?
de Mary, que canta um pouco além do Posso imaginar muita coisa, mas a
seu registro mais confortável. “Any Colour verdade é mais prosaica. A gravadora
You Like” se beneficia da capacidade de original sucumbiu em um processo de
Doyle em criar climas a partir de poucas reestruturação e abandonou o projeto. O
notas, que é o que ele faz ao piano empresário de Mary e todos os envolvidos
elétrico aqui. Muitas vozes de Mary se se esforçaram para achar outro selo para
sucedem em camadas até um refrão onde lançar esse disco fantástico. Finalmente
as vozes foram visivelmente trabalhadas ele está aqui, entre nós.
em estúdio. Tudo isso quase como uma
introdução para a incrivelmente simples
“Brain Damage”. Sempre toquei essa
música mais de uma vez, mesmo nos
tempos do LP, mas aqui dá para ouvi-
la muitas vezes. Está excepcional. Não
teve grandes mudanças, mas a voz de
Mary transmite uma dor que com certeza
estava nos planos de Roger Waters, mas
inexistente no álbum original por conta
das limitações vocais do compositor.
“Eclipse” já abre chorando. Doyle se
encarrega de “chorar” na guitarra. Mary
começa a recitar a letra, com sua voz
duplicada em camadas. Instrumentação
simples e clássica: guitarra, baixo, bateria
e cordas. Nas cordas é que reside o sutil

teclas & afins janeiro


junho 2014
2016 / 43
SINTESE POR ELOY FRITSCH

Software
DAW gratuito
Com a variedade de novos instrumentos virtuais produzidos
e disponibilizados via download, o produtor musical que
equipou um Home Studio físico consegue completar seu
arsenal de instrumentos e bibliotecas sonoras via software

Os sistemas de computador utilizados relevantes para usuários com pouco poder


para a produção musical estão mais de investimento estão os baixos valores e
baratos e acessíveis ao músico. Hoje em a possibilidade de obter recursos gratuitos
dia, é possível equipar um Home Studio para o estúdio virtual. Existem pelo menos
com pouco investimento. Atualmente, três opções para realizar a produção musical
o produtor musical tem a opção de usar utilizando software DAW gratuito.
ou não o sintetizador físico e o hardware
externo. Já quem está iniciando no mundo Pacote fechado
da produção musical encontra muitos A primeira opção é adquirir uma interface
atrativos para manter seu foco em DAWs e de áudio que inclua o software DAW.
instrumentos virtuais. Entre os atrativos mais Ou seja, para gravar e reproduzir áudio

Lexicon Alpha e Steinberg Cubase LE Avid MBox e Pro Tools Express

44 / janeiRo 2016 teclas & afins


sintese

Reaper: compatível com plug-ins VST e VSTi

e mensagens MIDI, o usuário que ainda gratuito, como o Arduor para sistema
não dispõe de uma interface de áudio Mac OS X, ou então, um software na
pode optar por comprar uma interface versão de validação, como o Reaper
pagando pelo hardware e recebendo o que é compatível com plugins VST
software incluído no pacote. Atualmente, de síntese e processamento e VSTi de
por exemplo, a interface Lexicon Alpha instrumentos virtuais.
vem com o software Steinberg Cubase LE,
e a interface Avid MBox, com o Pro Tools Online
Express. Se por um lado parece ser um A terceira opção é utilizar uma DAW
bom negócio comprar a interface de áudio gratuita online. Neste caso, o trabalho
e receber o programa de computador, de produção é realizado via internet.
por outro lado, ocorre que, normalmente, Um dos sistemas mais conhecidos é o
essas versões de software DAW possuem audiotool.com. O audiotool.com apre-
funções e quantidade de trilhas de gravação senta um ambiente virtual e modular de
limitadas em relação às versões originais. produção musical em que os vários instru-
mentos e equipamentos de áudio virtuais
De graça são conectados por cabos. Os desenvol-
A segunda opção é utilizar um software vedores pensaram em uma maneira user-

Ardour: DAW gratuita para Mac OS X Audiotool.com: ambiente de produção musical

teclas & afins janeiro 2016 / 45


SINTESE

friendly para os produtores iniciantes uti-


lizarem o sistema, fornecendo vídeo aulas
e presets para os vários instrumentos. O
ambiente disponibiliza 250 mil amostras
digitais de áudio e 50 mil presets para os
vários instrumentos e equipamentos.
Após criar uma conta, o músico usuário
pode construir seu próprio esquema
de conexões de instrumentos virtuais
de modo que melhor se adeque à sua
Beatbox 8: simulação da Roland TR-808
proposta musical. As produções podem
ser registradas em áudio e, depois,
disponibilizadas no site do audiotool.com
sob a forma de um álbum para que outras
pessoas tenham acesso às composições.
Entre as categorias de instrumentos
virtuais, há sequenciadores e drum
machines como Beatbox8 (simulação do
Roland TR-808 disponível no ambiente
do audiotool.com), Beatbox9, Bassline
e Machiniste (instrumento virtual que
permite sequenciar padrões para criar
loops, melodias e riffs).
Machiniste: padrões para loops, melodias e riffs. Entre os sintetizadores, estão disponíveis
o Heisenberg e o Pulverisateur. O
audiotool.com também oferece mixers
como o Centroid e o Minimixer. Na
categoria efeitos, disponibiliza vários
pedais virtuais (Stomp Box), equalizador
gráfico e o Rasselbock, um dispositivo
com sete efeitos roteáveis.
O Pulverisateur é um sintetizador
polifônico com três osciladores, gerador
de ruído, filtro, um canal de entrada de
áudio, envelope de amplitude, envelope
de filtro e LFO.

Pulverisateur: sintetizador polifônico com três osciladores

Eloy F. Fritsch
Tecladista do grupo de rock progressivo Apocalypse, compositor e professor de música do Instituto de Artes da
UFRGS onde coordena o Centro de Música Eletrônica. Lançou 11 álbuns de música instrumental tocando sintetiza-
dores, realizou trilhas sonoras para cinema, teatro e televisão.

46 / janeiRo 2016 teclas & afins


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acordeon sem limites Eneias Bittencourt

Aprender e ensinar
Destaque no cenário artístico do Sul do País, Flavio Alves
é acordeonista e atua no segmento festivo, onde ganhou
evidência como integrante de grandes bandas de baile como
Garotos de Ouro e, também, com participações em gravações

A coluna desta edição inicia o ano de 2016em sua volta. Creio que essa energia do
entrevistando o músico instrumentista acordeon também tenha me contagiado
Flavio Alves, uma das evidências no e me tornado um apaixonado por esse
cenário artístico do Sul do País. instrumento que tem sinônimo de festa
e alegria. Ao final da festa, seu Benedito
Onde você nasceu e se criou? disse ao meu pai: “compre uma gaita para
Nasci na cidade de Toledo no estado este menino, pois ele vai ser gaiteiro”. E
do Paraná, mas aos dois anos de idade assim foi. Como eu frequentava o CTG e
minha família migrou para o Estado do também fazia parte das invernadas de
Rio Grande do Sul, para a grande Porto
Alegre, mais precisamente para cidade
de Cachoeirinha, onde vivi por mais de
20 anos. Desta maneira adquiri o jeito de
viver dos gaúchos e seus costumes.

Com quantos anos de idade você


despertou para a música e para o
acordeon?
Fui criado em uma família que sempre
foi apaixonada por música. Por isso,
desde criança, já estava em contato
com ela através dos discos que meu
pai colecionava e das festas que eram
realizadas na minha casa. Mas o interesse
pelo acordeon veio quando eu tinha uns
10 anos de idade. Em uma ocasião dessas
festivas, meu pai trouxe um senhor
chamado Benedito para tocar em um
almoço. Aquele momento foi único na
minha vida, pois puxei um banquinho e
fiquei ali admirando esse senhor tocar e
ver as pessoas entusiasmadas e alegres Flavio Alves: tradição gaúcha

teclas & afins janeiRO 2016 / 49


acordeon sem limites

Escola de Acordeon: dedicação exclusiva ao instrumento


dança, essa foi a porta de entrada para gaiteiro de invernada de dança nos CTGs.
fazer da música, mais precisamente do Em seguida vieram os grupos de baile de
acordeon, um trabalho. Por volta dos 13 música gaúcha: de 1996 até 1998, Eco do
anos, meu pai decidiu que eu deveria Minuano e Bonitinho; de 1998 a 2005,
estudar acordeon, aprender de maneira os Garotos de Ouro, momento esse que
correta. Ao longo do tempo tive vários considero importante em minha trajetória,
mestres, inclusive Eneias Bittencourt. pois foram três discos de ouro e um de
Mais tarde, tive o privilégio de estudar platina conquistados ao longo desses 7
com o renomado professor Oscar dos anos em que fui gaiteiro do grupo. Na
Reis, que é considerado uma referência sequência, estive ao lado do cantor Luiz
na didática de nosso instrumento. Cláudio, no seu grupo Tribo da Vaneira,
de 2005 até 2007. Em seguida, de 2007
Quais foram suas influências? a 2009 também fiz parte do conhecido
Por ter me criado no RS e nos CTGs, tive grupo Candieiro. Hoje faço parte da
contato direto com a música de baile, banda residente de uma das maiores casa
portanto Albino Manique, Edson Dutra e de baile do sul do país, o Clube Maré Alta.
os Irmãos Bertussi foram minhas primeiras Ao decorrer desses anos tive a honra de
vertentes. gravar 12 CDs e quatro DVDs e colecionar
inúmeras participações.
E como foi sua trajetória até aqui?
Iniciei minha vida profissional como É verdade que em Palhoça, sua atual

50 /janeiRO 2016 teclas & afins


residência, você fundou uma escola o rádio que se ouve dez músicas. No
para acordeon? mínimo sete seguem a mesma linha de
Sim, é verdade. Se chama “Escola do arranjo para o acordeon.
Acordeon” e dedica-se exclusivamente ao
ensino desse instrumento. O projeto está Qual sua perspectiva daqui para frente
completando um ano e hoje contamos em relação à sua carreira?
com mais de 60 alunos. Para nossa Creio que estou vivendo minha melhor
alegria, está prosperando cada vez mais. fase, a fase da maturidade. Pretendo seguir
A ideia surgiu da necessidade que os com o projeto da Escola do Acordeon
acordeonistas estão tendo de aprimorar e transformá-la em um grande centro
seus conhecimentos. Com a crescente de aprendizado do nosso instrumento.
demanda e a busca por profissionais Paralelamente, estou em fase final de meu
qualificados, a Escola do Acordeon vem primeiro disco solo, do qual os amigos vão
ao encontro desta tendência. poder sentir pela minha música um pouco
da informação que pude juntar ao longo
De mais ou menos uma década para cá, dos meus anos de trabalho. Ainda em meio
com o surgimento de “novos gêneros”, a tudo isso, estou coordenando um projeto
parece que o acordeon alcançou um que estará no mercado a partir de maio
lugar de destaque ainda mais relevante de 2016 que é um quarteto de acordeon
aqui no Brasil. Como você vê isso? de música gaúcha. Por tudo isso, minhas
Vejo de maneira muito positiva! Tivemos perspectivas são as melhores possíveis.
uma abrangência gigantesca no que diz
respeito ao campo de trabalho para os Qual mensagem deixa para nossos
acordeonistas profissionais. Os mesmos, leitores?
quando preparados, estão tendo mais Digo sempre a todos os músicos, mas em
opções para desempenhar sua função. especial aos meus colegas acordeonistas:
Ao mesmo tempo é preciso ter muita busquem se aperfeiçoar, estudem, cuide de
cautela, pois, com a popularização dos sua música, principalmente se for ela que te
gêneros e a necessidade de produção de põe o pão na mesa. Reserve um tempo pra
obras em larga escala, estamos perdendo você e o seu instrumento. Sejam humildes
muito a qualidade das músicas. Digo para aprender e ensinar a quem necessita.
isto sobretudo nos arranjos, são músicas Creio que este seja o caminho.
vazias sem contexto... Claro que temos
muitas exceções de artistas que primam
por canções de bom gosto e belos arranjos
de acordeon, mas a grande maioria não
está tendo esta preocupação. Basta ligar

Eneias Bittencourt
Gaúcho, é escritor e editor de material didático e luthier de acordeon. Atuou como músico profissional,
arranjador e produtor musical. Dedica-se a desenvolver soluções didáticas e técnicas para acordeon. Em
2007 lançou seu primeiro livro, “Acordeon sem Limites”, que dá início à retomada da produção didática
para acordeon no Brasil, então estagnada por mais de 20 anos. É proprietário do primeiro site dedicado
a aulas online para acordeon no Brasil.
aprendacordeon@hotmail.com - www.aprendacordeon.com.br - eneiasbittencourt@ig.com.br

teclas & afins janeiRO 2016 / 51


Kontakt POR Edwaldo Venturieri

Como samplear
Para quem gosta da ideia de carregar qualquer áudio para
dentro do Kontakt, a fim de editá-lo, segue um breve tutorial

O software Kontakt (PC/Mac), da empresa Uma das maneiras para “carregar” um


alemã Native Instruments, foi criado em som a partir de sua biblioteca original,
2002 e desde então é líder absoluto em após a correta instalação do software,
seu segmento. Basicamente, permite é ir à aba “Libraries” do “Browser” e
tocar os sons de um instrumento real em escolher algum instrumento/som em
um computador, com a possibilidade de “Instruments”. Para carregar qualquer
modificar sua síntese sonora, igual é feito, som, basta ir á “Files > Load ...”.
por exemplo, com os osciladores de qualquer
teclado sintetizador, mas obviamente Criação
qualquer áudio pode ser “carregado” para Bom, mas isto é fácil. O que vamos fazer é
dentro desse “sampler”. construir nosso próprio “patch”. Acessando
o comando “Files > New instruments” (A)
criaremos um instrumento vazio utilizando
um modelo pré-definido (“template”). No
instrumento que aparecer (Figura 1), vamos
clicar no botão com a imagem de uma chave
inglesa (B) para entrarmos no modo de
edição. Abriremos o “Mapping Editor” (C).
Podemos, então , utilizando a seção “Files”
do “Browser” (D), navegar até a pasta onde
estão nossas amostras de sons.
Clique com o botão direito do “mouse” na
amostra (E), que poderá estar no formato
Figura 1: Native Instruments Kontakt 4 “.wav” (outros formatos são aceitos,
mas “.mp3” não), segure e arraste para
dentro de alguma nota no “Mapping
Editor” (F). Pronto! É só fazer o teste
tocando/clicando na nota que recebeu a
amostra. Se preferir, utilizando a função
“Key Range” (G), é possível expandir a
abrangência dessa amostra, servindo
para várias outras notas vizinhas (H).
E se quisermos criar nossa própria amostra
sonora a partir de um instrumento virtual?
Se temos um VI* muito pesado para
Figura 2: Sonar X3 execução ao vivo, esta é uma excelente

52 /janeiRO 2016 teclas & afins


Kontakt

opção. Analisando um teclado sintetizador,


pode-se notar que em alguns sons existe
apenas uma amostra sonora para todo o
“patch”. Isso é possível alterando a afinação
(“pitch”) de um “sample”. É claro que alguns
sons são construídos com mais de uma
amostra (“sample”), como, por exemplo, Figura 3: Sony Sound Forge Pro 11
duas amostras por cada oitava, ou um piano
com 88 “samples” (um para cada nota) etc.
Utilizando o software DAW MIDI de sua
preferência (no exemplo é o Sonar, mas
Cubase e ProTools, também são bem-
vindos), vamos iniciar um novo projeto e
inserir o VI** . Neste exemplo, o “Synthogy
Ivory”. No “Piano Roll”, vamos criar um Dó
por oito segundos na velocidade 100, e
exportar esse áudio. Pronto! Já temos nosso
primeiro “sample”. Figura 4: Mapping Editor do Kontakt
Agora (Figura 2), vamos fazer de uma
maneira mais automática, criando “samples” abra o arquivo de áudio que acabamos de
para C#, E, G e Bb para cada uma das cinco exportar/criar. Acesse o comando “Tools
oitavas que são geralmente utilizadas em > Auto Region...” e utilize a função “Build
um teclado - ou seja, 20 “samples” ao todo - regions using the current tempo”* para
que serão utilizados futuramente para meio marcar automaticamente o início dos vários
tom acima e abaixo no Kontakt (lembra trechos de áudio. Em seguida, execute o
da função “Key Range”?). Repare que cada comando “Tools > Extract Regions...” para
nota terá duração de quatro compassos exportar essas regiões, criando assim
(A), separadas por um compasso vazio várias amostras de áudio, correspondentes
de duração (B) e o projeto estará com o a cada nota sampleada. (Figura 3) Ao fim
tempo (“bpm”) em 120 (C). Também existe do processo, com os ajustes necessários,
um compasso em branco no final de tudo teremos como resultado no Kontakt, algo
(D). Exporte o projeto (convertendo-o parecido com a Figura 4.
para áudio) de preferência em tempo real Aguardo sugestões para juntos conhe-
(ouvindo a execução de cada nota) e sem a cermos um pouco mais sobre o Kontakt.
inserção de efeitos (como reverb). Bons sons!
Teremos então como resultado um áudio de
*VI: do inglês “Virtual Instruments”
3m20s com o som de todas as 20 notas (oito ** “Measures” e “Beats” terão valores
diferentes de acordo com a quantidade
segundos cada (E)) separadas por um silêncio de notas que foram sampleadas. Neste
projeto, o valor de “Measures” foi 4, e “Beats”
de dois segundos entre elas. Utilizando também 4, pois foram sampleadas 20 notas
(apesar da imagem mostrar apenas duas

um software como o “Sony Sound Forge”, oitavas sampleadas).

Edwaldo Venturieri
Pianista, tecladista, graduado em música pela Universidade Federal de Minas Gerais. Graduado também em
Ciência da Computação, sendo servidor público concursado em Belém do Pará, daí a paixão pela informática.
venturieri@hotmail.com

teclas & afins janeiRO 2016 / 53


PALCO POR WAGNER CAPPIA

Hands on!
A estrutura necessária para um tecladista no palco pode ser
extremamente eficiente e fácil de configurar, mas a lógica e
a qualidade dos equipamentos é primordial para garantir a
qualidade e a eficácia

Bem-vindos à nossa coluna em 2016! Que Studiologic para a mesma função). De


tenhamos um ótimo ano com muita música software, usaremos Brainspawn Forte,
e muitos palcos! Nas edições anteriores Cakewalk Sonar e outros, para apresentar
apresentamos dicas e a lógica de como as funcionalidades e possibilidades
um tecladista consegue subir ao palco independentemente do produto escolhido.
com qualidade, controle e sem precisar
vender a alma para construir seu setup, Conectando equipamentos via USB
ainda mais em tempos de crise! A partir de O laptop utilizado, como a grande maioria
agora, vamos colocar as mãos na massa e dos disponíveis no mercado, possui três
apresentar uma serie de tutoriais para tirar portas USB, no meu caso duas delas USB
o máximo proveito de seu equipamento! 3.0 e uma USB 2.0. Para localizar as portas
A primeira coisa que precisamos é lembrar e USB 3.0 em seu laptop, observe a entrada
definir algumas coisas: para esta série, está física. As portas USB 3.0 são azuis. Embora
sendo usado um laptop rodando Windows não seja um padrão absoluto no mercado
7, 64bits (32bits irá funcionar exatamente apresentar a porta com esta cor, a maioria
da mesma forma), processador Intel Core i3 dos laptops já adota essa especificação.
de 2.4GHz, 4Gb de RAM e 200Gb de disco. O mesmo vale para os cabos USB 3.0, ou
Não é uma supermáquina, concorda? seja, são apresentados, na maioria dos
Vamos utilizar uma interface de áudio casos, com seus conectores azuis. O que
FastTrack Pro - que atualmente é distribuída muda entre as versões das portas USB é,
pela AVID, mas que originalmente basicamente, a velocidade de transmissão
era vendida pela M-AUDIO - e um e recepção de informações, embora
controlador MIDI Novation Launchkey mantenham o padrão entre as versões.
61 (eventualmente um Korg X50 ou um Enquanto uma porta USB 2.0 tem uma taxa

Conexões: USB 2.0, USB 3.0 e MIDI

54 /janeiRO 2016 teclas & afins


PALCO

de transferência de dados em 480Mb/s


(Megabits por segundo), algo equivalente
a 60MB (Megabytes) por segundo, a USB
3.0 opera a taxas de 4,8 Gb/s (gigabits por
segundo), equivalente a cerca de 600MB
(Megabytes) por segundo, uma diferença
bem considerável. Alternativamente, vamos
utilizar conexões MIDI originais, mas estas
vêm sendo substituídas gradualmente por
portas USB e sendo suprimidas em vários
equipamentos disponíveis no mercado.
Outra forma de saber exatamente o Everest Ultimate Edition Lavalys.
hardware disponível em seu laptop é
com o uso de produtos como o excelente Claro que, para que tudo funcione, todos
AIDA64 (http://www.lavalys.com/) que os drivers (interface de áudio, controlador
apresenta um mapa completo de todos os etc.) devem estar instalados para que a
componentes do computador, incluindo as comunicação aconteça adequadamente.
portas USB e suas versões disponíveis. Apesar da maioria dos dispositivos USB
Agora que já conhecemos as portas USB serem “plug and play”, no caso do áudio isso
disponíveis, vamos priorizar a maior carga não é exatamente uma verdade. Portanto,
para as USB 3.0 (azuis), conectando nela a acesse o site do fabricante do seu produto
interface de áudio, que necessita de maior e busque sempre o driver mais atual para
disponibilidade e velocidade de troca de trabalhar com seu equipamento.
informações com o laptop. O controlador, Vale observar que, no esquema abaixo,
nesse caso, pode ser ligado na outra USB não foram indicadas as ligações elétricas.
3.0 ou na USB 2.0. Ambas serão suficientes Na verdade, excetuando-se o laptop,
para o nosso propósito. que deve estar ligado a uma fonte de

Esquema de conexões

teclas & afins janeiRO 2016 / 55


PALCO

energia (tomada), tanto a interface quanto


o controlador MIDI são alimentados
eletricamente pelo próprio cabo USB
que os conecta, e isso vale para qualquer
dispositivo USB, seja ele USB 1.0, USB 2.0
ou USB 3.0.
Outro ponto é a saída de áudio. Esta pode
ser um fone de ouvido, útil para testes e
montagem dos setups ou um conjunto de
caixas de som. Dependendo do caso, essas
saídas são enviadas para uma mesa de som
que as direciona para as caixas de som de
forma independente ou para um P.A. no
palco. Geralmente, conectamos um par de
cabos TS (também conhecidos como P10
mono), porque as saídas da interface são
mono, uma para o lado esquerdo e uma para
Conector TS (P10 mono)
o lado direito. As duas saídas devidamente
conectadas podem produzir um som colocar o segundo controlador nessa porta
com efeito estéreo ao final. Atualmente, sem problema algum. Existem alguns
não faz sentido operar teclados e outros produtos que expandem as portas USB,
dispositivos de áudio, com todo o poder mas deve-se pesquisar adequadamente
sonoro que estes disponibilizam, em mono as opções disponíveis para que a perda de
(utilizando somente uma das saídas). velocidade não prejudique o desempenho
Como se pode observar, as conexões dos equipamentos. Ou seja, HUB USB “de
entre os equipamentos é feita de forma camelô” não é uma opção.
relativamente simples para um setup Na próxima edição veremos a parte lógica
desse tamanho, utilizando apenas um da estrutura em funcionamento: o software.
controlador. Pode-se adicionar mais um Traremos um tutorial de como configurar
controlador ou workstation ligado à todos os elementos, além de estabelecer
estrutura. Lembre-se de que, no nosso caso, efetivamente a comunicação MIDI entre os
existem três portas USB, portanto, podemos equipamentos de forma eficiente. Até lá!

Wagner Cappia
Iniciou seus estudos em piano clássico em 1982, com formação pelo Conservatório Dramático Musical
de São Paulo. É sócio-diretor do Conservatório Ever Dream (Instituto Musical Ever Dream), tecladista,
compositor e arranjador da banda Eve Desire e sócio-proprietário e responsável técnico do estúdio
YourTrack. Músico envolvido na cena metal, procura misturas de estilos que vão desde sua origem natural
na música erudita até a música contemporânea, mesclando elementos clássicos e de ambiente em suas
composições. Especialista em tecnologia musical, performance ao vivo para tecladistas, coaching para
bandas, professor de piano, teclado e áudio.
www.cappia.com.br - www.evedesire.com - www.institutomusicaleverdream.com

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HARMONIA E IMPROVISACAO por turi collura

O estudo da harmonia
na música popular e suas
vertentes
O que é a harmonia? Trata-se de conhecer os diferentes
acordes e ser capaz de tocá-los? Ou seria, talvez, a arte
de encadeá-los? Não é uma série de regras que é preciso
memorizar e aplicar? Quando se fazem erros de harmonia?
É possível aprender a compor no estilo de algum autor de
que gostamos? Existe ainda alguma coisa a ser inventada
dentro da harmonia ou tudo já foi dito?

Ao nos propormos a estudar harmonia, sãotradicional - aquela que se estuda nos


muitas as questões iniciais que podemos conservatórios - e o que acontece no âmbito
nos colocar. De fato, o seu mundo é vasto
do que chamamos de “música popular”.
e multifacetado. Talvez seria interessante
Trata-se de um âmbito bastante amplo, que
constatar primeiramente que o termo vai do Blues ao Rock, da Bossa Nova ao Jazz,
harmonia cobre diferentes noções que, com
do Pop ao Choro, ao Samba, e por aí vai.
frequência, se confundem e se entrelaçam.
Já que cada manifestação musical possui
Como disciplina, o estudo da harmonia sesuas características, é possível encontrar
insere no âmbito da teoria musical. Seu uma matriz comum, uma ferramenta que
conhecimento nos serve para várias coisas:
possa dar conta de entendermos “todos”
harmonizar, re-harmonizar, fazer arranjos,
os fenômenos?
improvisar, compor, analisar, etc. No sentido
Entendo o estudo da harmonia como o
moderno, a harmonia é a organização pilar fundamental em que se baseia todo
da música em relação a seus acordes, o estudo da música. Se é verdade que o
suas formações, seus encadeamentos, arranjo, a composição, a improvisação,
as relações que estabelecem uns com os a re-harmonização se baseiam em seu
outros, suas funções, os momentos nos conhecimento, é de se observar que até a
quais eles se colocam. performance se apoia em seu estudo.
Outra coisa importante é a necessidade de
O estudo da harmonia no âmbito popular realizarmos um estudo que seja, ao mesmo
Ao começarmos o estudo da harmonia no tempo, teórico e prático. Isso implica a
âmbito da música popular, observamos realização de exercícios, mas também
que o seu campo é o resultado de um um esforço para fortalecermos nossa
sincretismo entre a prática da harmonia experiência auditiva. Pensemos nisso:

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HARMONIA E IMPROVISACAO

a música existe porque a ouvimos, não Uma questão importante é a de não nos
porque lemos sobre suas características. limitarmos ao estudo de uma série de
regras harmônicas rígidas e sem expressão.
Uma proposta para o estudo É importante que, a partir dos estudos
A harmonia engloba muitas noções feitos, possamos desenvolver capacidades
interligadas entre si e que dependem umas pessoais de expressão artística. Por que,
das outras. A harmonia não é algo estático. afinal, estudamos harmonia?
Ela está ligada aos movimentos de sons no Sabendo sempre que qualquer tentativa de
tempo, bem como ao contexto musical. categorização acaba limitando o fenômeno
Esse é um dos aspectos que a torna abstrata como um todo, e em conformidade
e difícil de definir. com a ideia de que existe sempre uma
Como apresentar todas as noções constante interação entre essas diferentes
harmônicas? Qual ordem e qual lógica para abordagens, podemos delimitar quatro
detalhá-las? Existe um único caminho a grandes perspectivas:
percorrer? A experiência acumulada, como • A perspectiva vertical (verticalidade),
professor e como músico e compositor, que considera os materiais harmônicos –
me demonstrou que vários caminhos são que chamamos comumente de acordes.
possíveis, cada um tendo vantagens e Um acorde forma uma “unidade vertical”
desvantagens. Todos contêm uma parte de no tempo. Nessa perspectiva, estudamos
absoluto ou de arbitrário. a formação do acorde, as notas de tensão

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HARMONIA E IMPROVISACAO

que ele pode adquirir, sua densidade que a perspectiva vertical, linear e tonal
harmônica. não cessaram de evoluir. A perspectiva
• A perspectiva tonal (tonalidade), que histórica ajuda a entender as diferenças
considera o movimento dos acordes no de estilos e gêneros e a compreender
tempo dentro de um conjunto de acordes. como evoluiu a linguagem harmônica no
Essa abordagem se foca no encadeamento tempo. Desprovida das continuidades
dos acordes e em suas funções. e descontinuidades da história e dos
• A perspectiva linear (horizontalidade), estilos, a harmonia torna-se rapidamente
que considera a relação entre os acordes um sistema fechado e rígido, limitando-
e as escalas e, também, o movimento das se a “receitas de cozinha” ou erguendo
vozes dos acordes de um ponto de vista um estilo musical a dogma.
melódico. Há movimentos dos diferentes
sons que constituem um acorde em No curso de harmonia online do
direção aos sons do acorde seguinte. site Terra da Música, trabalhamos
Podemos pensar, por exemplo, no com essas perspectivas “multi,”
movimento das notas numa “resolução mas essa ideia não é apenas
de trítono”. Fazem parte igualmente da nossa. Em seu livro La partition
perspectiva linear as notas de passagem, intérieure, Jaques Siron propõe reflexões
que não fazem parte dos acordes, parecidas. Já, livros como os produzidos
mas que conectam uns aos outros. A pelo Berklee College of Music possuem
perspectiva linear, ainda, é próxima ao uma proposta mais direcionada e unívoca
que, na harmonia tradicional, se chama (talvez apenas limitada ao lado pragmático
de contraponto. do estudo?). O campo de estudo é vasto,
• A perspectiva histórica, que considera como já dissemos, cabe a cada um de nós
uma outra dimensão do tempo – aquela a escolha de suas fontes de estudo. Talvez
da história. A perspectiva histórica está seja mesmo importante darmos uma
situada em um outro plano diferente olhada às várias partes que constituem
das outras perspectivas, pois ela as esse mundo maravilhoso, para abrirmos os
atravessa. Se, de fato, a harmonia é algo nossos horizontes musicais. Bons estudos
que mudou no tempo, isso comporta a todos.

Turi Collura
Pianista, compositor, atua como educador musical e palestrante em instituições e festivais de música pelo
Brasil. Autor dos métodos “Rítmica e Levadas Brasileiras Para o Piano” e “Piano Bossa Nova”, tem se dedicado
ao estudo do piano brasileiro. É autor, também, do método “Improvisação: práticas criativas para a composição
melódica”, publicado pela Irmãos Vitale. Em 2012, seu CD autoral “Interferências” foi publicado no Japão. Seu
segundo CD faz uma releitura moderna de algumas composições do sambista Noel Rosa. Entre outras atividades,
Turi é Coordenador Pedagógico do site www.terradamusica.com.br onde ministra os cursos online de “Piano
Blues & Boogie”, “Improvisação e Composição Melódica”, “Harmonia Aplicada à Música Popular” e “Linguagem
e Percepção Musical”.
www.turicollura.com - www.terradamusica.com.br

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alma de blues POR mauricio pedrosa

Improvisação
A improvisação tem um papel de suma importância não
apenas no blues, mas também no jazz e em outros estilos.
É por meio dela que os músicos mostram suas habilidades
técnicas e criativas e desenvolvem seu estilo pessoal, sua
marca registrada

Pelos improvisos - e não apenas pela seqüência; utilize saltos, para evitar que
voz - reconhecemos quem está tocando, a linha fique entediante. Use toda a ex-
bastando, às vezes, ouvir apenas algumas tensão do teclado. A seguir, utilize ter-
poucas notas. Neste improviso, bem cinas e quintinas; combine-as de várias
simples, poderemos aplicar a trick scale, maneiras. Quando estiver em C, use bas-
formada a partir da escala blues menor. tante a nota Dó; quando estiver em F use
Com exceção do turnaround, em todo o bastante a nota Fá; e assim por diante.
improviso são utilizadas apenas as seis Você pode, inclusive, iniciar o compasso
notas da escala blues menor. com a tônica. Não sobrecarregue o im-
Não se deve esperar um improviso proviso tocando muitas notas o tempo
maravilhoso logo de início. Familiarize-se todo: utilize pausas, fortíssimos e pianís-
com essas notas, com a maneira como elas simos, para o solo ficar com mais dinâmi-
interagem, suas variações e combinações, ca. E não se esqueça de manter o padrão
para que, pouco a pouco, você possa se rítmico do shuffle na mão esquerda, com
desenvolver e criar grandes solos. andamento firme e tocando de maneira
Algumas sugestões: comece, primeira- alegre e confiante, pois o blues não é só
mente, utilizando semínimas, mas não em tristeza. Divirta-se!

“Blues C Minor Solo”

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alma de blues

Mauricio Pedrosa
Tecladista, vocalista, compositor e produtor. Foi integrante das principais bandas do cenário do rock
brasileiro, como Ursa Maior, Made in Brazil, Walter Franco e Rita Lee & Tutti-Frutti. Nos anos 80 emplacou
um sucesso nacional - “Só Delírio” - com a banda de pop rock Telex. Acompanhou artistas internacionais
como Pepeu Gomes, Mathew Robinson, Lil’ Ray Neal, Charlie Love, Tom Hunter, Nuno Mindelis, entre
outros. Em 2001, participou do Festival Internacional de Jazz de Montreal.
www.reverbnation.com/mauriciopedrosa

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arranjo comentado por rosana giosa

Soul em piano-
solo
“I Feel Good” é talvez a mais conhecida e importante
canção de James Brown, conhecido como “Mr. Dynamite”
e um dos responsáveis pela evolução do Rhythm & Blues
para o Soul e o Funk

O Soul (do inglês “alma”) surgiu do Rhythm & Blues e do Gospel, entre os negros nos
EUA, nas décadas de 1950 e 1960. É uma canção dançante, com ritmos que assimilamos
facilmente, reforçados pelas palmas, com melodias emotivas e ornamentadas, espaço para
improvisações e efeitos sonoros dos instrumentos de metais que são característicos desse
gênero.
“I Feel Good” é uma das músicas mais representativas desse repertório e talvez a mais
conhecida e importante canção de James Brown. Foi lançada no premiado álbum “Out of
Sight” com o nome “I Got You”, em 1965. Ele foi o principal impulsionador da evolução do
Gospel e do Rhythm & Blues para o Soul e o Funk, além de outros gêneros como o Rock, o
Jazz, o Reggae, Disco e Hip-Hop. Conhecido como “Mr. Dynamite”, voz e presença cênica
eram suas marcas registradas.
Nascido na Geórgia, nos Estados Unidos, Brown teve uma vida difícil com envolvimento em
drogas, prisões e internações. Apesar disso, nada o impediu que se transformasse em uma
lenda do Soul e do Blues e que fosse reconhecido como uma das figuras mais influentes
da música do século 20. Faleceu aos 73 anos, em 25 de dezembro de 2006.

O arranjo
Para uma música tão rítmica, o acompanhamento escolhido para este arranjo foi
basicamente o walking-bass (baixo caminhante), já que ele caminha em semínimas todo o
tempo e, dessa forma, dá um movimento interessante ao arranjo. Sua estrutura harmônica
é a de um Blues em Ré maior.
A1: o tema está exposto de forma simples, apenas com a melodia e o walking-bass;
A2: A melodia agora agrega outra nota em intervalos de 6ª e, a partir do compasso 14, há
um contracanto no quarto tempo imitando as respostas dos metais que estão na gravação;
Ponte: quatro compassos fazem uma preparação para a entrada da parte B;
B: a melodia está preenchida com acordes para acompanhar o clima crescente dessa parte;
A3: novamente o tema está exposto de forma mais preenchida, como na parte A2, e
caminha para a Coda;
Coda: um motivo melódico e rítmico do próprio tema se apresenta três vezes, dobrando a
melodia, alternando regiões diferentes e finalizando com um acorde em trêmulo.

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arranjo comentado

Arranjo: Rosana Giosa


“I Got You (I Feel Good)”
James Brown

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arranjo comentado

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arranjo comentado

Rosana Giosa
Pianista de formação popular e erudita, vive uma intensa relação com a música dividindo seu trabalho entre
apresentações, composições, aulas e publicações para piano popular. Pela sua Editora Som&Arte lançou três
segmentos de livros: Iniciação para piano 1, 2 e 3; Método de Arranjo para Piano Popular 1, 2 e 3; e Repertório para
Piano Popular 1, 2 e 3. Com seu TriOficial e outros músicos convidados lançou o CD Casa Amarela, com composições
autorais. É professora de piano há vários anos e desse trabalho resultou a gravação de nove CDs com seus alunos: três
CDs coletivos com a participação de músicos profissionais e seis CDs-solo.
Contato: rosana@editorasomearte.com.br

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