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Terra o grande obstáculo na

urbanização da sociedade
brasileira.

Resenha por :
Marcos Boeira Lucas
Luiza Marques Dahmer
Ufsm campus Cachoeira do sul
Disciplina: Fundamentos do urbanismo
Docente: Juliana Lang Pádua

MARICATO, Ermínia. A terra é um nó na sociedade Brasileira... Também nas cidades.


Revista Vozes nº6 ano 1993.

Fazer uma reflexão sobre como é e como se forma a ocupação dos espaços urbanos
empurrando a população menos favorecida para as ocupações irregulares ao mesmo
tempo que o poder público pouco ou nada faz para mudar esse cenário, esse é o
cenário exposto no texto de Maricato.
Ermínia começa com uma dedicatória a João Pedro Stedile, conhecido como líder do
movimento dos sem-terra, que havia sido processado pelo então presidente Fernando
Henrique Cardoso por ter incitado a invasão de imóveis urbanos ociosos.
A autora inicia seu texto argumentando que a invasão de terras não se trata de algo
com viés político com foco em enfrentar a lei, mas sim isso é um processo que para ela
é um reflexo da urbanização brasileira, entretanto é constantemente ignorado pela
sociedade brasileira que vê o movimento com algo ilegal
A autora discorre também sobre alguns aspectos importantes da urbanização
brasileira, onde a industrialização ocorreu através de salários baixos, e
consequentemente o operário não tendo possibilidade de arcar com uma habitação
para si dentro do mercado formal, o que acaba empurrando esse trabalhador para as
formas de habitação ilegal como cortiços, favelas, loteamentos irregulares etc. Naquele
momento em que a autora discorria sobre o assunto cerca de 60% das famílias de São
Paulo viviam nestas condições.
Condição esta que se tornava cada vez mais latente e intensificada com os
investimentos no setor imobiliário como o BNH (Banco Nacional da Habitação)
empresa pública voltada ao financiamento de empreendimentos imobiliários, mas que
beneficiava somente famílias com renda maior que 10 salários-mínimos, não
favorecendo a classe trabalhadora que mais precisava de habitação digna.
Além dos baixos salários, os investimentos públicos cada vez mais são ligados aos
interesses privados, pois grandes proprietários articulam e influenciam diretamente
nas decisões de governos e prefeituras, e assim as obras publicas deixam de ter como
prioridade o bem comum, passando a favorecer quem menos precisa.
As obras viárias por exemplo cada vez mais valorizam espaços que já eram valorizados
e que estão sob o comando de uma classe influenciadora e dominante.
Outro grande aspecto é a arbitrariedade na aplicação da lei, apesar de os
assentamentos ilegais serem indesejados, as ações para coibir eles só são tomadas se
eles estiverem em áreas valorizadas e de interesse. Quando estes assentamentos ou
invasões ocorrem na periferia longe do contato da classe dominante essa ilegalidade e
tolerada sem nenhum programa de melhoria para estas habitações, ao mesmo tempo
que os instrumentos que garantem a execução da responsabilidade social da
propriedade não são aplicados.
O IPTU progressivo não e cobrado, facilitando a ilegalidade dos proprietários urbanos, a
lei é aplicada conforme a circunstância tendo como contexto uma sociedade baseada
nos favores e privilégios.
Essa exclusão territorial do processo de urbanização tem fortes consequências
ambientais e de segurança, pois acontecem em áreas de mananciais, próximas a
represas que acarretam no desmatamento e poluição das aguas, pelo fato destas
ocupações não terem saneamento básico por exemplo, outro fator que se destaca são
os índices de violência muito altos.
Diante desta perspectiva, constantemente a imprensa condena os habitantes destes
assentamentos, colocando-os ou como inimigos do meio ambiente ou como perigosos,
para Maricato essa e uma visão distorcida que mostra claramente como a sociedade
ignora essa realidade e dificilmente entende que isso é o resultado próprio sistema que
ela alimenta.
Ao final do texto a autora contextualiza as eleições da prefeitura de são Paulo em 1998,
no qual todos os projetos voltados a habitação foram substituídos por obras viárias em
bairros ricos da cidade.
A construção de espaços notórios e visíveis é o que realmente importa ao poder
público, mais do que solucionar graves problemas que atingem uma parcela enorme da
população, a autora faz uma citação a David Harvey e Jean Baudrillard nesses
argumentos, lembrando que vivemos na era do simulacro.
Por fim ela termina o texto com uma proposta de que os urbanistas devem exigir mais
atenção e desenvolvimento de indicadores sociais e urbanísticos em contraposição as
imagens “para consumo”. A imprensa possui um papel primordial nessa inversão de
valores na medida em que podem contar o outro ponto de vista menos parcial e mais
completo e racional.
Todavia podemos concluir que a democratização da moradia no brasil é possível desde
que sejam superados grandes obstáculos como terra urbanizada cada vez mais escassa
e financiamento, que hoje são inacessíveis para grande parte da população brasileira,
esse é o grande desafio da politica urbana no Brasil, ainda que hoje possamos ver que
algumas iniciativas como o programa Minha Casa Minha Vida estão trilhando esse
caminho ainda há muito a ser feito para que esse acesso seja efetivamente
democrático.

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