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OTIMOS Técnicas Terapeuticas Sistemicas
OTIMOS Técnicas Terapeuticas Sistemicas
Marisa Verdolin
Técnicas de Meditação
Meditação na Respiração
Sentado de pernas cruzadas num lugar tranquilo, feche os olhos e fixe a atenção no fluxo do ar que entra e sai de seus pulmões.
Meditação no Som Primordial
Consiste na respiração de um som chamado primordial, que está relacionado com a hora,
a data e o lugar em que você nasceu.
Meditação Zen-Budista
Ao caminhar, conte os passos e sincronize-os com a respiração.
Meditação Raja Yoga
Sentado numa posição confortável e de olhos abertos,
mentalize aspectos positivos da natureza humana,
como os sentimentos de bondade, generosidade, compaixão e amor.
Meditação Transcendental
Não requer concentração ou contemplação;
é baseada na repetição de um som pessoal só conhecido pelo iniciado.
Meditação Cristã
Está baseada na repetição de um mantra.
O mais usado é “M A R A N A T H A” (em aramaico = “Vem, Senhor!”)
Meditação Dinâmica
Mescla elementos de várias culturas e usa dança, sons e movimentos.
Meditação Self
Tem o objetivo de disseminar práticas que levem seus praticantes
a atingir a experiência pessoal e direta com Deus.
Existem várias técnicas para se mergulhar neste estado de introspecção que é a Meditação. Qual delas é a melhor?
Não é a técnica que importa e sim a sua decisão de fazer uma mudança de postura perante a vida, pois meditação não é uma
ação, e sim um estado de espírito.
Yuri Vasconcelos
Recursos Terapêuticos na Terapia Sistêmica
Philip Barker
O terapeuta sistêmico em suas diversas possibilidades de abordagem, conta com inúmeros recursos e técnicas
para auxiliá-lo em seu trabalho. Insistimos porém no entendimento de que a utilização dos mesmos fará
sentido desde que o terapeuta encare a família, o casal ou o indivíduo do ponto de vista sistêmico.
Habilidades conversacionais podem favorecer o relacionamento humano em geral e a falta delas pode
prejudicar seriamente os relacionamentos. Muitas vezes a maior ajuda que o terapeuta pode oferecer ao
indivíduo, casal ou família, é a oportunidade de desenvolver habilidades de comunicação.
Através da atenção direcionada para o processo conversacional entre as pessoas em atendimento ( como se
comunicam) , e não necessariamente para o conteúdo de suas falas, o terapeuta interrompe uma pessoa que
fala de maneira confusa e desorientadora , salientado isto e propondo-lhe regras de comunicação claras e
objetivas.
As pessoas devem falar na primeira pessoa do singular quando dizem o que pensam.
Exemplo:
Se um marido diz: “nós sempre gostamos dos namorados da Cecília”.
O terapeuta interrompe e diz: “eu gostaria que você falasse por si mesmo; depois sua mulher poderá dizer o
que ela pensa”.
Marido: “mas nós sempre concordamos sobre essas coisas”.
Terapeuta: “talvez, mas você é o perito no que se refere ao que você sente. Fale por si apenas e deixe sua
mulher falar por ela mesma”.
Opiniões e julgamentos devem ser reconhecidos como tal, não como fatos.
Admitir perspectivas pessoais, como tal, é um passo necessário para discuti-las de maneira que permita
diferenças legítimas de opinião.
Exemplo:
Se uma mulher diz: “as pessoas não deviam querer fazer coisas sem os filhos”.
O terapeuta pode dizer: “então, você gosta de levar as crianças junto quando você
e seu marido saem?”
Mulher: “bem, sim, não é assim que todo mundo faz?”
Terapeuta: “eu não; eu gosto de sair só nós dois, de vez em quando.”
As pessoas devem-se dispor a uma atitude receptiva na conversação, escutando e entendendo os sentimentos
e motivos do outro.
Da mesma forma que uma pessoa deseja o reconhecimento da validade de seus sentimentos, ela deve
considerar que a outra pessoa também espera que seus sentimentos sejam legitimados.
Sentimento é espontâneo e por isto legítimo. Ninguém pode pretender ter controle e julgamento sobre seus
próprios sentimentos ou sobre os sentimentos do outro.
Não compete a ninguém aceitar o que o outro sente, ou admitir a adequação do
sentimento do outro; muito menos ninguém tem competência ou autoridade para
questionar a justeza ou adequação do sentimento do outro.
Seja qual for o sentimento do outro ele é legítimo; assim como o seu próprio.
Sentimento não obedece regras de adequação. Ele se manifesta internamente e
pronto. Então a habilidade de ouvir o outro e validar seus sentimentos e motivos é
preciosa para quem quer cuidar de uma relação.
Exemplo:
Um filho diz ao pai: “não me sinto à vontade na casa dos seus pais.”
O pai fica furioso e o interrompe: “eu não admito que você diga isto; meus pais são até bobos de tanto que
tentam te agradar.”
O terapeuta intervém: “ o que seu filho está dizendo é um sentimento dele; e sentimento é uma coisa que ocorre
dentro da pessoa e ninguém, nem mesmo ela própria consegue impedi-lo. Não compete a você admitir ou não
que ele se sinta assim. A única coisa que você pode fazer em relação a isto é identificar seus próprios
sentimentos em relação a isto que você ouviu dele. Deixe que ele complete seu raciocínio e depois você poderá
dizer a ele como se sentiu ouvindo-o e como entendeu o que ele disse.”
Habilidade de “Com-Versar”
Esta é uma habilidade que leva a atitudes de discussão/negociação/engajamento na relação entre as pessoas –
requer o aprendizado do verdadeiro significado do conceito conversar = é uma ação conjunta, “com o outro” –
implica em primordialmente escutar o que o outro diz e transmitir o entendimento que se teve do significado
do que foi ouvido.
Ouvir, esclarecer para entender, validar, dar razão ao outro; depois apresentar a sua versão, compreensão
sobre o mesmo fato. Ambos trocarão opiniões sobre os pontos de divergência, falando cada um de uma vez,
ajudando o outro a entender seu ponto de vista.
Finalmente, ambos vão fazer propostas de acordo sobre o que têm opinião diferente, levando em conta que
acordo é uma solução que fique boa para os dois envolvidos e não para um mais do que para o outro. As
propostas de acordo devem ser plausíveis e aceitáveis; não devem ser ambíguas e ferirem a dignidade de um
dos envolvidos.
Exemplo
Se um casal tem a tendência a “bater boca” nas sessões de terapia, insistindo em trazer múltiplos exemplos
do mesmo: de como é difícil a comunicação objetiva e efetiva entre eles, o terapeuta deve estabelecer regras
para evitar estes discussões inócuas :
que eles se sentem frente a frente;
que apenas um fale de cada vez, e ao falar olhe o outro nos olhos;
o que estiver ouvindo deve também manter seu olhar atento e interessado;
depois de ouvir, este deve expressar ao primeiro o que entendeu do que ele disse;
se houver dúvida ou mal entendido, ambos devem buscar esclarecer, sempre um ouvindo
quando o outro estiver falando.
O terapeuta deve coordenar cada um destes passos da conversação para que eles
entendam que conversar é falar “com” o outro e não “para” “por” ou “sobre” ele.
O desenvolvimento de muitas outras habilidade comunicacionais deve merecer o empenho do terapeuta:
habilidade de transformar queixas e acusações em solicitações e propostas objetivas;
habilidade para agradecer, elogiar e validar atitudes positivas ao invés de desacreditá-las e desqualificá-las por
serem diferentes das usuais;
habilidade de preservar assuntos íntimos que envolvam duas ou mais pessoas , evitando discuti-los ou nomeá-
los em público;
habilidade para aguardar o momento mais oportuno para tratar de certos assuntos de maneira construtiva;
habilidade de evitar discutir problemas e conflitos, em momentos agradáveis, de repouso, de alimentação , de
confraternização, respeitando-os e preservando-os.
Obs:
Proponho que você sugira em nosso fórum de discussões outras habilidades comunicacionais que julgar
importantes, bem como regras para facilitar seu desenvolvimento.
Marisa Verdolin
Exercícios de Desenvolvimento de Habilidades de Conversação
1 - Propor que o casal (ou família) converse sobre algum fato ocorrido entre eles seguindo o seguinte “roteiro”
(na sessão ou para casa):
- Que bom que .............(cada um vai expressar os pontos positivos, o que se aprendeu, o que valeu na
experiência vivida – o benefício)
- Que pena que.............(cada um vai expressar os pontos negativos, o que doeu, o que não evoluiu, o preço que
pagou na experiência vivida – o custo )
- Que tal se ............(cada um vai sugerir ações, atitudes, mudanças, cuidados, alternativas, etc. para que
possam lidar no futuro com desafios afins)
Inicialmente o terapeuta explica os conceitos e esclarece dúvidas com os envolvidos sobre este tema (pode dar
um texto para lerem à respeito ou pode explicar verbalmente) e depois propõe que exercitem, nas sessões e
em casa.
Crítica:
Queixa ou Acusação:
Em geral a pessoa que faz uma queixa ou uma acusação está se sentindo
sobrecarregada, incompetente, incapacitada diante de uma situação. Acusar ou
queixar é uma forma desajeitada de pedir ajuda.
O terapeuta deve incentivar as pessoas a evitarem fazer acusações diretas e
indiretas (acusar a pessoa na ausência dela, com uma terceira) e a se recusarem a
ouvir acusações sobre alguém.
Deve propor que quando elas sentirem a ”tentação” de acusar alguém, tentem refletir sobre que ajuda elas
estão necessitando, sobre o que estão se sentindo sobrecarregadas, impotentes ou incapazes.
Deve aproveitar as sessões terapêuticas para observar e ajudá-las a detectarem queixas e acusações na
comunicação entre elas.
Quando estas ocorrerem, o terapeuta deve estimular as pessoas a se questionarem sobre o que estão
precisando e fazerem o mesmo em relação ao outro.
Desvalorização das Qualidades (desqualificação):
Presumir que existem pessoas melhores que outras nos leva a atitude
presunçosa de emitir juízo de valor a respeito dos nossos semelhantes.
O resultado da adoção desta premissa é a tendência a focar nossa
atenção nas diferenças que consideramos defeitos e a ignorar as
habilidades da pessoa na medida em que convivemos com ela.
Focando nos defeitos, tratamos a pessoa como parte e não como inteiro
(ela se torna o seu defeito).
Desqualificar é uma das formas mais comuns de violência psicológica.
Tem efeito letal como o raio laser: atinge com precisão a autoestima do
outro.
Para exercitar a mudança de premissa neste sentido o terapeuta pode sugerir que as pessoas enumerem, por
escrito, qualidades dos outros e propor que conversem sobre elas no encontro terapêutico. Cada um deve
dizer ao outro as qualidades que observa nele e exemplificar citando situações em que ela pode ser observada;
pode dizer ainda como se sente em relação ao outro quando observa que este está demonstrando a tal
qualidade.
Sugerir que cada um cuide de enumerar as qualidades dos outros quando falar sobre eles com terceiros e
sempre que for oportuno, evitando nomear seus defeitos.
Necessidade de Autoafirmação (poder):
O terapeuta prescreve uma tarefa dizendo que o faz sabendo que eles não
vão executá-la.
- sistema rigidamente resistente, onde a despeito das diversas intervenções, mantém-se o mesmo padrão
relacional.
O terapeuta deve prescrever tarefas que reflitam exatamente os comportamentos enrijecidos, com a clara
intenção de eles mantenham o mesmo padrão já costumeiro de relação.
- quando o sistema demonstra a premissa “dividir para vencer” – onde os membros do sistema tem grande
habilidade de polarizar as opiniões e tirar o máximo proveito desta situação.
O terapeuta pode prescrever que o grupo se divida e defenda posições antagônicas ficando proibido chegarem
a um consenso ou acordo.
Pode-se prescrever que discutam algum tema pertinente definindo que cada um assuma determinada postura
durante a discussão (postura que já lhe seja peculiar) que dificulte a comunicação e a busca de solução para a
questão.
(a utilização do paradoxo em terapia é um grande desafio para o terapeuta e sua eficácia depende de alguns
requisitos entre os quais perícia do terapeuta, sintonia de objetivos entre ele e o cliente, conhecimento dos
“princípios básicos” para aplicação do método de acordo com a sequencia de passos, etc.)
Rituais ou Tarefas Ritualizadas
É necessário que ele tenha clareza dos objetivos a que os rituais podem servir,
para que sua prescrição faça sentido e motive a família. Muitas vezes o terapeuta
deverá criar rituais para auxiliar a família lidar com circunstâncias inusitadas e
excepcionais para ela (morte, doença, despedida, separação, nascimento,
adoção, recasamento, etc.).
Um outro meio estratégico é a prescrição de uma terapia interminável. O seu objetivo é semelhante ao de
declarar a impotência terapêutica. Os sintomas ou o problema da família são rotulados de crônicos e é dito
que há pouca probabilidade de que se possa obter uma alteração rápida para eles.
Esta prescrição está indicada sempre que falharem os esforços para conseguir que a família mude rapidamente
ou que tenha pelo menos qualquer sinal de mudança.
Com efeito, diz-se à família que terá de comparecer indefinidamente à terapia com determinados intervalos
prescritos. Esta intervenção também incorpora um elemento paradoxal.
Humor
Ver o lado cômico das coisas é muitas vezes de grande ajuda. O que se aplica à terapia familiar como a outras
atividades da vida. Uma premissa da terapia sistêmica é que “o terapeuta que leva a sério uma família tem de
ser capaz de rir e brincar com ela”. Entretanto há que ser muito cauteloso com o uso do humor pois as pessoas
já trazem consigo sofrimento suficiente e não precisam da dor e amargura de sentirem que não estão sendo
levadas à sério por um terapeuta que “brinca “ com suas queixas. A utilização do humor tem como objetivo
tornar tanto quanto seja possível, mais leve a árdua tarefa de lidar com a dor.
A utilização do humor trata-se de uma questão muito pessoal e, talvez mais ainda do que qualquer outra
estratégia terapêutica, dependerá da personalidade do terapeuta e das comunicações não verbais, para não
falar das verbais. De um modo geral, o objetivo é “rir com” e não “rir da” pessoa, casal ou família. Isto poderá
ajudar a estabelecer e manter a sintonia e também a redefinir as coisas.
O humor é uma arma terapêutica de dois gumes. Seu uso pressupõe algum entendimento do sentido de
humor da família (casal ou pessoa); sem isto nossas graças podem não ter qualquer efeito , ou mais grave, as
observações com intenção humorísticas podem ser levadas a sério. Ainda assim a despeito destas possíveis
desvantagens, o humor é uma valiosa estratégia terapêutica e vale a pena desenvolver a arte de sua
utilização.
Coro Grego
Obs: Para saber mais sobre Equipes Reflexivas > “Processos Reflexivos” – Tom Andersen – NOOS
Debate
É uma variação do Coro Grego: o grupo de consultoria sai de trás do espelho e encena um debate na presença
da família: o debate dos terapeutas a respeito de suas opiniões divergentes sobre a família possibilita que
eles troquem de nível com ela. Eles pedem que a família os ajude a resolver o dilema que têm a respeito dela,
para que assim, eles fiquem livres para ajudá-la efetivamente.
A partir de uma “metaposição” ou posição exterior, os elementos da família podem observar as lutas dos
terapeutas para resolverem as suas dificuldades. Desta perspectiva diferente conseguirão talvez encontrar
novas soluções para o seu próprio dilema.
Externalização dos Problemas
Esta técnica das Terapias Narrativas tem-se mostrado muito eficaz para ajudar as pessoas a
alcançar mudanças. O terapeuta encoraja as pessoas a objetivar e às vezes, a personificar os
problemas. Assim, as pessoas ou famílias são redefinidas como estando sob a influência da
“raiva”, “agressão” ou “desespero”, ao invés de serem rotuladas de serem agressivas ou
desesperadas . A terapia torna-se então uma questão de ajudar a pessoa a ultrapassar os
efeitos da raiva, agressividade ou desespero em si. A família vai ser ajudada a reunir seus
talentos e esforços individuais para juntos lutarem contra o “inimigo comum” que os
envolve.
Esse processo redefine os problemas que ao invés de serem encarados como inerentes a
determinadas pessoas ou a determinadas situações, tornam-se eles mesmos “uma
entidade” separada, externa às pessoas ou relação a que se atribuía o problema.
Em outras palavras: “o problema se torna o problema”.
De acordo com Michael White e Epston a externalização dos problemas:
- diminui o conflito inútil entre pessoas, incluindo as disputas sobre quem tem a
responsabilidade do problema;
- diminui o sentimento de fracasso que se desenvolve em muitas pessoas em resposta à
persistência do problema a despeito de seus esforços para resolvê-lo;
- prepara o caminho para que as pessoas cooperem , unindo-se numa luta contra o
problema e fujam da influência que ele possa ter nas suas vidas e relações;
- abre novas possibilidades para as pessoa s tomarem medidas para retirar a sua vida e
relações da esfera do problema e respectiva influência;
- liberta as pessoas para fazerem uma abordagem mais alegre, mais eficaz e com menos
stress dos problemas “muito graves”;
- apresenta alternativa de diálogo e não de monólogo sobre o problema.
Obs: para utilização desta técnica é aconselhável estudar os livros de White e Epston .
Marisa Verdolin
Narrativas Terapêuticas
O terapeuta construirá narrativas metafóricas dirigidas ás pessoas dependendo das circunstâncias do processo
terapêutico com o propósito de fazer intervenções que possibilitem a construção de uma nova realidade
sobre a experiência vivida.
Diversos modelos de cartas , declarações, diplomas e certificados podem ser escritos pelo terapeuta e
entregues as pessoas de acordo com objetivos específicos .
Exemplos:
“Certificado de Domador de monstros e Caçador de Medos” – que pode ser entregue ao pai de uma criança
que apresenta sintomas de “terror noturno” , no decorrer do processo terapêutico em que o pai assume
tarefas - prescritas terapeuticamente - de contar histórias e fazer companhia para a criança até que ela
adormeça .
Carta do terapeuta para uma adolescente que não quis comparecer à primeira sessão de terapia familiar:
“Querida Jane,
Escrevo porque não chegamos a nos encontrar na última quarta feira, às 5 h. Meu nome é Mary, trabalho há 4
anos no Instituto Leslie e tenho uma filha um pouco mais nova do que você.
Quando sua mãe telefonou dizendo que a família não viria ela disse que você se sentia mal com um ataque de
acne. Compreendo o que você sentiu – às vezes tenho erupções na cara e no pescoço .
É difícil escrever porque nem sei como você é. Se me mandar uma fotografia sua, eu te mando uma minha
também. É muito evidente que as coisas vão mal em sua família. Crescer pode ser uma coisa muito difícil hoje
em dia – acho mesmo que muito mais difícil do que antigamente. Parece que você algumas vezes tem sido
incapaz de ir à escola e não está conseguindo seguir sua vida. O que é natural que faça qualquer um sentir-se
mal. Parece-me que quando me encontrar da próxima vez com o seu pai e sua mãe, talvez você esteja
passando por outro ataque de acne e compreendo o que é ter de enfrentar as pessoas quando não se está no
seu melhor, pois isto me acontece também, muitas vezes.
Compreenderei por isto se você não quiser vir e enfrentar o seu futuro. Por outro lado, não me sinto nada bem
em falar com sua mãe e seu pai “nas suas costas”. Tenho andado pensando muito neste dilema e me surgiram
algumas ideias.
Pergunto-me o que você acharia delas:
. Será que você arranjaria um amigo para te representar na sessão –um pouco como um advogado – que viesse
em seu lugar e falasse por você?
. Se esta não fosse uma boa idéia, deixaria que sua mãe ou seu pai escolhessem um amigo deles para lhe
representar?
. Se esta também não fosse uma boa idéia, você ficaria de “plantão” junto ao telefone enquanto seus pais
estivessem aqui? Assim eu poderia telefonar se me der a impressão de que seus pais já se esqueceram do que a
gente sente quando temos a sua idade. Eu poderia assim, te pedir algumas idéias sobre o que isto te faz sentir.
Acho que conseguiu que seus pais ficassem muito preocupados com você.
Se quiser mostrar esta carta a seus pais, não faz mal, mas eu preferia que não o fizesse.
Estou planejando ver seus pais novamente no dia 3 de abril, quinta feira, as 5h.
Parece-me que você seria capaz de vir, ou talvez não; ou talvez ainda experimente uma dessas outras idéias,
mas isto é com você; eu acho.
Despeço-me agora,
Mary”
Obs: Para utilização desta técnica é aconselhável estudar os livros de White e Epston.
Marisa Verdolin
Histórias
“Histórias são sacos de mentiras que contém pérolas de verdades.”
As histórias por interferirem nos mais diversos planos de desenvolvimento humano, social, psicológico,
facilitam a consecução dos objetivos da terapia sistêmica: para se conhecer o sistema relacional, interferir
nele, introduzindo movimento criativo, para favorecer que ele se aproprie ou retome sua potencialidade de
desenvolvimento, sua dinâmica evolutiva natural.
As histórias podem ser utilizadas na terapia familiar , conjugal e individual para diferentes finalidades, entre
elas:
- para tratar temas difíceis, sem confrontar, constranger ou aumentar o nível de stress;
- possibilitar interação democrática no sistema terapeutico;
- promover interações amorosas e criativas em contextos empobrecidos e estagnados;
- estimular e encorajar a participação das pessoas no processo terapêutico;
- tornar o ambiente terapeutico mais humanizado, seguro, receptivo e calmo;
- facilitar esclarecimento de algum assunto;
- ilustrar um ponto;
- sugerir novas idéias, novas perspectivas ou alternativas de soluções ainda não cogitadas;
- substituir prescrições diretas de condutas que podem encontrar resistência;
- controlar manipulação do cliente sobre o terapeuta;
- ampliar ponto de vista sobre uma situação;
- questionar verdades absolutas e introduzir novas premissas;
- levar as pessoas a se reconhecerem nos personagens;
- redefinir, ajudar as pessoas a verem o problema de outra maneira;
- favorecer a estruturação de emoções, pensamentos, comportamentos;
- encorajar as pessoas a viverem de um modo mais flexível e criativo;
- estimular o potencial de auto cura levando-os a entrar em contato com recursos internos que não percebiam
para resolver suas questões;
- motivar;
- criar esperanças;
- dessensibilizar emoções que limitam.
Utilização de Histórias no Processo Terapêutico
Podem ser utilizadas na sessão, contadas pelo terapeuta ou lidas pelo cliente, como tarefa entre sessões,
enviadas por correio, e-mail, pós ou pré-sessão.
Existe uma diversidade de histórias a serem utilizadas, cabendo ao terapeuta selecioná-las de acordo com seus
propósitos:
- contos de fadas
- folclore e contos de tradição das mais diversas culturas (árabe, indiana, africana, brasileira, budismo, bíblia,
mitologia, sufismo e outras escolas filosóficas)
- casos do cotidiano
- anedotas, etc.
Vejam em seguida um exemplo de história que nos mostra seu valor e sua magia como recurso terapêutico .
Uma fábula sobre a fábula
Vendo que não conseguiria realizar o seu intento, ficou ainda mais triste a Verdade e afastou-se
vagarosamente do grande palácio do poderoso Harum Al-Raschid, cuja cúpula cintilava aos últimos clarões do
sol poente.
Mas...
Allah Hu Akbar! Allah Hu Akbar!
Quando Deus criou a mulher, criou também o capricho.
E foi assim, sob o aspecto da Fábula, que a Verdade conseguiu aparecer ao poderoso califa de Bagdá, o sultão
Harum Al-Raschid, Vigário de Allah e senhor do grande império muçulmano.
¹Expressão árabe que significa: “Deus é O Maior!”
Transcrito do Livro "Minha Vida Querida", de Malba Tahan - Editora Record
Entrevista de Intervenção
O processo de entrevistas as pessoas, casais e famílias pode por si só, produzir mudanças – para melhor ou
para pior. As perguntas , afirmações e as comunicações não verbais do entrevistador veiculam mensagens
capazes de produzir efeitos naqueles que estão sendo entrevistados.
Consideremos a diferença entre as perguntas:
“ que problemas trazem vocês aqui” e “que mudanças esperam que eu os ajude a alcançar?”
A primeira está orientada para o problema, e a segunda para a mudança e veicula a mensagem implícita de
que ela irá acontecer certamente.
Uma armadilha que espreita todos os que entrevistam pessoas com problemas é que se envolvam demasiado
em discussões das supostas causas. É muito raro que, de forma definitiva, se possa atribuir uma “causa” aos
problemas humanos, quanto mais não seja por as causas serem geralmente múltiplas e por interagirem entre
si de maneiras complexas. Quando se lida com famílias , estas supõem muitas vezes que a presumível “causa”
reside num determinado elemento , o que é, no mínimo, uma simplificação exagerada e grosseira ou, na pior
das hipótese, completamente errado.
Karl Tomm, terapeuta narrativo, discute o papel da ”entrevista de intervenção”.
Esta expressão se refere a uma orientação em que tudo o que o entrevistador faz ou diz, e aquilo que não faz
e não diz, é considerado uma intervenção terapêutica, não terapêutica ou antiterapêutica.
Ele diz que “é possível encarar cada pergunta do entrevistador como corporizando alguma intenção ou sendo
originária de alguma suposição.” isto implica que , logo que possível, o terapeuta precisa de uma estratégia
que o guie no que ele faz e diz a cada momento da entrevista.
Entrevista Inicial Interventiva
Na abordagem sistêmica diversos modelos de primeira entrevista podem ser utilizados como recurso
terapêutico.
Muitas modalidades de entrevista inicial incluem intervenções terapêuticas e podem influir na constituição do
sistema terapeutico. Vejamos alguns exemplos.
- Modelo de Salvador Minuchin
Condições Necessárias: sala equipada com espelho unidirecional e gravador
Características: seis tarefas, condições naturais de interação, autonomia da família, observação pelo espelho
unidirecional, gravação das discussões
Tarefas: planejar um cardápio para um almoço em família
planejar como gastar juntos 500,00
designar rótulos de culpa aos membros da família
descrever o que gosta e não gosta em cada membro familiar
descrever uma briga familiar, seu curso e sua resolução
copiar graficamente um objeto existente na sala, sem falar entre si enquanto trabalham
Observações possíveis: informações sobre estrutura e dinâmica familia
capacidade de negociação entre eles
padrões de liderança, competição, compromisso, etc
afetividade, agressividade, alianças e preferências
papéis, desempenhados e idealizados
expectativas e disposição para solucionar problemas
Pontos positivos: permite ampla observação das interações familiares, intensifica interação terapeuta/família
Pontos negativos: é muito longa, dificilmente se esgota com uma sessão
- Modelo de Ford e Herrich
Condições Necessárias: Dois entrevistadores, aparelho de vídeo tape, duração de 3 horas
Características: Seis tarefas, mais informações em menor tempo, perguntas abertas, perguntas individuais/
grupais
Tarefas: 1 - Diga quem você é.
2 - Diga o que você mais gostaria de mudar na sua família
3 - Como uma família, discutam a resposta dada à última questão e cheguem a uma conclusão
4 - Diga o que mais gostaria de mudar em você
5 - Diga o que mais gosta em você
6 - Diga quem pode assistir ao vídeo tape deste encontro familiar
Observações possíveis: O que está errado sem juízo de valor
Padrões comunicacionais
Dificuldades na comunicação
Capacidade de síntese
Desejos e fantasias individuais
Regras familiares e individuais (permitido e proibido)
Como lidam com mundo externo
Capacidade de confiar
Capacidade de agir em relação pensamento, sentimento e julgamento de valor
Pontos positivo: boa avaliação da autoestima da família; favorece feedback ; facilita habilidade de ver e ouvir
suas interações e fazer interpretações.
Ponto negativo: muito longa; perguntas abertas dificultam compreensão e participação; o vídeo tape complica
a aplicabilidade.
- Modelo de Wells e Rabiner
Condições Necessárias: Sala com acomodação para todas as pessoas da família
Características: Quatro procedimentos, estrutura aberta, perguntas abertas, perguntas adicionais,
encorajamento sistemático a todos para responderem, precipitar confrontações, recomendação,
opinião sobre recomendação
Procedimentos: 1- Queixa
2- Discordâncias
3- Visão de si e dos outros familiares
4- Opinião Profissional
Observações Possíveis: Como cada um vê o problema
Estrutura de poder da família
Coalizões
Padrão de comunicação
Áreas de conflito
Níveis de conflito
Expressão ou não das discordâncias
Necessidades não satisfeitas no sistema
Pontos Positivos: permite observação ampliada de comportamentos não verbais; permite ao entrevistador
mais liberdade de ação.
Pontos Negativos: estrutura muito aberta, objetivos muito amplos; pouco estruturada.
- Modelo de Terezinha Feres Carneiro
Tarefas: 1- Imaginar que tem que mudar da casa onde moram dentro de um mês. Planejar, agora em conjunto
como seria a mudança.
2- Quando você está fazendo alguma coisa qualquer, mas fica difícil terminar esta tarefa sozinho, o
que você faz?
3- Diga de que coisas você mais gosta?
4- Como é um dia de feriado na família?
5- Imagine que você está em casa discutindo com uma pessoa qualquer de sua família, e alguém bate
na porta.
Quando você vai atender, a pessoa com quem você estava discutindo lhe dá um empurrão.
O que você faz?
6- Cada um de vocês vai escolher uma ou várias pessoas da família, pode ser qualquer pessoa, e vai
fazer alguma coisa para mostrar a essa pessoa que gosta dela, sem dizer nenhuma palavra .
Observações Possíveis: Como família funciona, em conjunto, sob pressão externa
Dinâmica da comunicação
Papéis individuais
Regras familiares(permitido/proibido)
Semelhanças /diferenças
Como lidam com conflito
Lideranças
Integração grupal
Produção conjunta de soluções
Respeito à individualidade
Autoestima de cada membro
Capacidade de buscar ajuda sem desmerecimento
Dificuldade de buscar ajuda
Como e a quem pedem ajuda
Por que não buscam ajuda
Interação de subsistemas
Valorização da individualidade
Regras sobre tomada de decisão
Permissão/proibição da expressão da agressividade
Comunicação não verbal
Permissão/proibição do contato físico
Trocas afetivas
Processos de individuação e integração no grupo familiar
Pontos positivos: metodologia adequada à realidade brasileira; validada por estudos sistematizados; simplicidade de
aplicação.
Pontos negativos: dificuldades específicas das pessoas podem requerer mais esforço do entrevistador para a
consecução das tarefas; pode exigir longo tempo para execução de todas as tarefas.
Escultura
A “escultura” enquanto técnica de terapia familiar , foi desenvolvida por Frederick D e
colaboradores (1973). A característica essencial da escultura de família é a colocação dos seus
membros em posições e posturas que representem aspectos das relações e interações
mútuas. É possível esculpir qualquer aspecto do funcionamento familiar, por exemplo, a
proximidade, o poder, etc. A escultura familiar carece de um escultor, cuja perspectiva da
família será revelada na escultura; um monitor, nomeadamente o terapeuta, que guia e apoia
o escultor e os outros implicados no processo , e atores, geralmente os elementos da família
que representam o sistema do escultor. Também poderá haver uma “plateia”, mas em geral o
terapeuta e os membros da família é que desempenham esses papéis.
A escultura é uma técnica que facilita a participação de crianças pequenas no processo
terapêutico, é valiosa na sessão de diagnóstico, substituindo o pedido para que a família
descreva o problema, possibilita as pessoas tomarem contato com seus sentimentos, é eficaz
para ajudar a família a ultrapassar possíveis resistências à terapia e pode auxiliar o terapeuta
em situações em que ele se vê “num beco sem saída”.
O terapeuta pode sugerir a família que tentem algo diferente. Explicará a tarefa e escolhido o
escultor, pede-se aos outros membros da família que se levantem e se coloquem na posição e
postura que o escultor determinar. Esta regra deve ser colocada muito claramente pelo
terapeuta e seguida à risca pelos participantes. Na medida em que o escultor vai
determinando as posições e posturas o terapeuta vai observando o que acontece,
comentando e interpretando o que achar importante e significativo. Ao mesmo tempo dirá
que aquela é uma representação de uma Visão apenas da família e que posteriormente os
outros poderão exprimir seus pontos de vista da mesma maneira .
Uma vez completado o quadro(o que pode levar tempo de comentários e discussão) o
terapeuta pede ao escultor que entre na posição e postura adequada dentro da escultura.
O terapeuta deverá ter, dede o início, uma ideia do objetivo que a escultura de família se
destina a alcançar e da forma como se pretende ajudar a família a chegar a seus objetivos .
A escultura pode ser utilizada com os mesmo efeitos terapêuticos em atendimento a casais e
individuais.
Role Playing
Este é um “procedimento técnico” útil quando as abordagens verbais se mostraram ineficazes. Pode ser
precioso com famílias que intelectualizam, isto é, discutem a nível cognitivo e produzem ideias e explicações
intelectualizadas em vez de uma verdadeira mudança. Facilita-se a mudança ao fazer com que a família atue
cenas ou acontecimentos de sua vida. Por exemplo, ela pode ser solicitada a encenar o que acontece quando o
pai chega em casa do trabalho ou a hora das crianças irem para a cama, se estas forem ocasiões em que a
família encontre dificuldades. Se os membros da família estiverem relutantes ou hesitantes em relação ao role
playing , o terapeuta começará por uma cena simples e não ameaçadora; mas quando já se estabeleceu uma
boa sintonia, não há, geralmente dificuldades em se obter consenso quanto à sugestão.
Tal como a escultura, o role playing introduz alguma coisa da realidade familiar na sessão de terapia e
proporciona ao terapeuta o material com que trabalhar, podendo ainda ser um excelente auxiliar na entrevista
inicial e avaliação final do processo.
Gravação e Visualização de Vídeos
Trata-se do expediente de se obter autorização da família para que as sessões sejam gravadas e
posteriormente utilizar os vídeos nas sessões terapêuticas. A família poderá assistir o vídeo das sessões
inteiras ou de algumas partes escolhidas arbitrariamente, podendo ainda ser focado em pequenos trechos
que o terapeuta seleciona por seu significado especial.
Rever os vídeos permite aos membros da família observar como se fosse de fora o que se passa entre eles: o
que dizem, o tom de voz, as expressões faciais, posturas e outros componentes da comunicação não verbal.
Para famílias conscientes de um forte desejo de mudança, ver os vídeos será uma forma de definir e ajudar os
seus elementos a compreenderem como conseguirão mudar. Noutras famílias, levará à compreensão da
necessidade de mudanças. Os efeitos de ver e ouvir a si mesmos e à família num vídeo, podem ser
verdadeiramente salutares.
O terapeuta poderá ainda utilizar alguma técnicas que os equipamentos propiciam para documentar os
progresso, fazendo recortes e repetindo cenas e detalhes, mostrando às pessoas como reagem umas às outras,
etc.
Terapia de Rede
Ações Conjuntas
O terapeuta propõe que a família (ou casal) planeje, na sessão, como será o fim de semana, dividindo tarefas e
estabelecendo regras.
Na sessão seguinte eles deverão comentar como foi executar o planejamento e avaliar o efeito disto para a
relação (evitar foco em coisas negativas; priorizar o que for positivo na avaliação).
Variação de temas: planejar viagem, planejar cardápio, planejar comemoração de aniversário de filho, etc.
Outra forma é sugerir como exercício de casa que a família (ou casal) se reúna para executar alguma tarefa
conjunta. Nesta oportunidade deverão obedecer certas regras sugeridas pelo terapeuta, de acordo com as
habilidades a serem trabalhadas no sistema.
Na sessão seguinte ao cumprimento da tarefa deverão discutir o que conseguiram, que dificuldades
encontraram, que soluções criaram para elas, e tudo poderá servir como novos temas para o trabalho
terapêutico.
Listagens
Diversos jogos podem ser utilizados conforme a criatividade e os objetivos do terapeuta, nas sessões ou como
para casa para trabalhar competição e colaboração, iniciativa, comunicação, observação de habilidades
mútuas, etc., ou simplesmente para potencializar oportunidades de convivência das pessoas:
baralho, senha, dominó, dardos, tangran, queda de braço, adivinhas, pega-varetas, guerra de almofadas ou
bolinha de papel, jogos verbais, e outros.
Introdução do Lúdico e da Leveza
Por mais grave que seja a situação de uma família, casal ou pessoa
ao buscar a terapia sempre será possível e desejável que os encontros terapêuticos
possam lhes oferecer momentos de algum “conforto” para lidar com suas
questões difíceis e dolorosas.
Sugestões de formas lúdicas para abordar diversos temas e facilitar a exploração
deles no processo:
Atendimento Individual
Técnica : Bola de papel
Objetivo: Possibilitar que a pessoa lide de maneira menos racional com sentimentos, sintomas e
impedimentos vividos, favorecendo assim a elaboração dos mesmos
Indicação: Para situações em que o cliente racionalize demais suas questões e por isto não as esgote, não
aprenda com elas, tornando-as temas recorrentes nas seções, numa tendência à estagnação do processo
terapêutico
Material: Revistas velhas
Consignas: O terapeuta arranca uma folha do meio de uma revista e entrega ao cliente dizendo : “faça uma
bola bem apertada; esta bola representa o assunto que estamos trabalhando. Vou lhe dar folhas de papel e
você vai enrolar a bola em cada uma delas e vai continuar apertando de modo que a bola vá aumentando de
tamanho. Na medida em que for fazendo as camadas , irá passando para a bola de papel as energias e
emoções que estão ligadas a este assunto (nomear as questões: esta dor, esta decepção, esta incerteza, esta
dificuldade de..., etc.) . Quando sentir que passou toda a energia da situação para a bola de papel, você pode
parar.”
O terapeuta vai então passando as folhas de papel uma a uma para o cliente até que ele peça para parar.
“Leve a bola para casa e, a partir de amanhã, retire dela uma folha por dia e queime; jogue as cinzas na pia e
abra a torneira para que a água corrente as leve, de forma que a questão vá sendo consumida.”
Variação: Dependendo da questão que está sendo trabalhada, pode-se pedir que se queime uma folha a cada
semana, ou em outra frequência que ele queira.
Observação: Esta técnica só deve ser aplicada após um trabalho verbal sobre o tema e após o terapeuta
perceber e verificar que a pessoa quer realmente fechar aquela situação eliminando as emoções presentes e
relativas a ela.
É importante que fique claro para o cliente que não se trata de mágica ou brincadeira, mas um trabalho
simbólico daquilo que ele está precisando fazer ou aprender.
O terapeuta deve perguntar sobre o andamento da tarefa e dependendo dos fatos aproveitá-los como temas
de questionamentos nas sessões.
Atendimento de Casal
- O que é um casal?
- Por que um casal fica junto?
- Quais os casais felizes e infelizes que foram marcantes para você?
- Por que eles foram marcantes para você?
Depois de prontas as respostas cada um apresenta as suas e ambos comparam e conversam à respeito das
similaridades e diferenças encontradas. O terapeuta intermedia a conversação buscando otimizar o
aproveitamento do conteúdo surgido, e observando a dinâmica e padrão de diálogo do casal.
Observação Importante: Ao utilizar esta técnica o terapeuta deve estar consciente de que podem surgir
valores muito diferentes entre o casal. Se isto ocorrer, deve-se trabalhar na mesma sessão as dificuldades que
podem advir dessas diferenças, salientando que as pessoas não precisam pensar de modo igual, mas é
importante encontrar-se estratégias para aceitar e respeitar-se as diferenças mútuas e aproveitá-las como
oportunidades de crescimento.
Atendimento de Família
Consignas: “A partir desta lista , cada um selecione as características que melhor representam cada membro da
família, incluindo a si mesmo.”
Ação: Após todos preencherem a lista, o terapeuta deverá fazer uma grande no quadro ou papel grande para
avaliar as combinações.
Variações: Os itens da lista podem ser variados de acordo com o que se pretende trabalhar.
Observação: O terapeuta deve observar como se dão as escolhas das características ressaltar a quantidade de
escolhas de uma mesma característica para determinada pessoa e relacioná-la com a característica que ela
escolheu para si.
Fazer circular os conteúdos através de exemplos.
Se os participantes não estiverem de acordo entre si a respeito das escolhas será útil enfatizar a ideia de que
cada pessoa percebe conforme sua experiência pessoal e maneira de ser. Trabalha-se , então, as formas de lidar
com diferenças.
Lista para a aplicação da técnica Quem é Quem:
1 – Gosta de exercícios físicos
2 – Gosta de viajar
3 – Tem medo de pequenos animais ( aranha, barata, etc.)
4 – Toma banhos demorados
5 – Trabalha demais, inclusive em casa
6 – Sente que a família é importante
7 – É exigente
8 – Gosta de contar piadas
9 – Sempre está disposto a ajudar os outros
10 – Nunca está satisfeito
11 – Sente-se incompreendido
12 – Dá muito valor à aparência
13 – Gosta de isolamento
14 – Gosta de mandar
15 – Deixa tudo para depois
16 – Procura sempre fazer o certo
17 – É desconfiado
18 – É agressivo ou rude
19 – É idealista e gosta de justiça
20 – É indeciso
21 – Gosta de levar vantagem
22 – É melancolia
23 – Gosta de ter muita informação
24 – Gosta de ser admirado
25 – É ciumento
Psicodrama no Atendimento Sistêmico
O Jogo de areia “não é apenas um método de terapia, mas um meio criativo através do qual o conteúdo da
imaginação se torna real e visível. Além disso, proporciona ao terapeuta uma oportunidade única de observar
os processos de desenvolvimento e de cura”. Dora M. Kalff.
A definição de “Sandplay” apresentada por Dr. Martin Kalff, membro fundador da “International Society for
Sandplay Therapy” (www.isst-society.com) é a seguinte: “É um método terapêutico desenvolvido por Dora M.
Kalff, em Zollikon, Suíça, baseado nos conceitos psicológicos de C.G.Jung.
O Jogo de areia é uma forma criativa de terapia que utiliza a imaginação, “a imaginação é um extrato
concentrado de forças vivas do corpo e da alma” (C.G.Jung, Vol.XII, § 394).
É caracterizado pelo uso da areia, água e miniaturas, na criação de imagens dentro do ‘espaço livre e
protegido’ do relacionamento terapêutico, e da caixa de areia. A série de imagens fotografadas do Sandplay-
Jogo de areia cria um contínuo diálogo entre aspectos conscientes e inconscientes da psique do cliente, o qual
ativa o processo de cura e o desenvolvimento da personalidade. Este método terapêutico pode ser aplicado
com sucesso no trabalho individual com adultos e crianças”.
O Jogo de areia é um processo transformador. É um método projetivo que prescinde do verbal. Sua prática
consiste em construir cenários em uma caixa de areia, seca ou úmida, da forma que desejar, moldando a areia
ou utilizando miniaturas. As cenas simbolizam o estado psíquico.
Durante o processo psicoterapêutico com o Jogo de areia, observamos que as partes desconhecidas e não
aceitas do indivíduo são vistas objetivamente e reconhecidas como pertencendo a ele.
A caixa e o setting terapêutico tornam-se a área limítrofe onde os opostos podem se confrontar e onde os
conflitos podem ser resolvidos antes de serem levados para o mundo real. O trabalho na caixa de areia pode
permitir a expressão de conteúdos inconscientes, de modo a que eles não mais busquem se manifestar de
forma literal em nossas vidas.
Desta forma, o Jogo de areia é uma ferramenta de valor inestimável da psicologia analítica, que tem sido
utilizada na terapia sistêmica, no atendimento de famílias e casais, como recurso criativo e eficaz.*
Na psicologia existem vários métodos de trabalho, com pressupostos teóricos diferentes, porém todos eles
visam o mesmo fim: obter o bem estar daquele que sofre. Cada método utiliza-se de técnicas para conseguir
com o indivíduo, os melhores resultados. O método “Argila Espelho da Auto Expressão” é um dos recursos
terapêuticos mais atuais e eficazes, desenvolvido desde 1984 pela psicóloga Maria da Glória Cracco Bozza, em
Curitiba, Paraná. Trata-se de um recurso terapêutico que conta com esculturas de argila visando os seguintes
objetivos:
- Identificação dos Conflitos através de Metáforas;
- Resgate da Autoestima;
- Acolhimento da Criança Interior.
Sua utilização em atendimentos a famílias com crianças e adolescentes tem se constituído com um recurso
terapêutico valioso e eficaz na promoção de mudanças nos padrões interacionais no sistema familiar.
Depois que a linha do tempo estiver construída, o terapeuta pode utilizar-se dela para
trabalhar diversas questões com seu paciente. É essencial que o terapeuta esteja
atento às emoções que forem surgindo durante a construção do instrumento e trabalhe
tais sentimentos em sessão.
Durante o trabalho, é comum o paciente evocar fatos de que não lembrava mais. O
processo também ajuda a aumentar as informações sobre si mesmo porque o paciente
é estimulado a buscar dados com outras pessoas próximas ou da família. Muitas vezes
também pode acontecer dos pacientes informarem segredos de sua vida, que nunca
antes tinham trazido à terapia (talvez por vergonha; ou por pensar que não era mais
importante, por ter acontecido há muito tempo, etc.). Com o estímulo da linha da vida
o paciente acaba evocando estes acontecimentos e possibilitando que eles sejam
trabalhados em terapia quando há fatos mal resolvidos, podendo até mesmo resgatar
potencialidades esquecidas.
Pacientes desorganizados, que não conseguem fazer relatos seqüenciais
da sua história, podem se beneficiar por poder pensar na sua trajetória
de vida de forma mais clara e entender melhor a ordem dos
acontecimentos. Para o terapeuta, também se torna possível uma
maior compreensão do paciente, o que é de vital importância para o
desenrolar do processo terapêutico. Ao organizar os fatos, o paciente
adquire também uma maior noção de causa e efeito sobre o que
aconteceu em sua vida.
Ao analisar a linha da vida, terapeuta e paciente podem identificar as
estratégias que o paciente já utilizou em momentos complicados da
vida para superar dificuldades e ativar técnicas que ele mesmo possui
para enfrentar seus problemas atuais ou futuros. O paciente pode
verificar que atribuiu importância inadequada a alguns momentos ou
fatos de sua vida e tentar ressignificar tais acontecimentos, o que é
muito produtivo para o processo terapêutico. A fase atual também é
incluída na linha e é uma oportunidade de verificar como o paciente se
percebe no momento.
Por fim, a técnica pode ser concluída com uma projeção do futuro.
Podemos solicitar ao paciente que inclua na linha o que espera realizar
nos próximos anos, o que é muito importante para ele compreender
sua vida como em constante construção e dar um significado para ela. A
recente construção de seu histórico poderá facilitar esse processo, pois
o paciente terá maior consciência de suas potencialidades e limitações.
É importante assinalar que esta é uma técnica que pode ser utilizada tanto em atendimentos individuais
quanto conjugais e familiares. Até agora nossas instruções haviam sido mais direcionadas aos casos
individuais. A utilização da linha da vida com a família é muito semelhante.
Normalmente, quem constrói a linha da vida são os pais (adultos), enquanto que para a(s) criança(s) é muito
interessante ouvir e observar essa construção, pois acabam aprendendo coisas sobre a história de sua família e
de seus pais, que ainda não haviam tido a oportunidade de conhecer. Na terapia de casal, pode ser oportuno
para os parceiros relacionarem temporalmente fatos e experiências de suas vidas.
* O presente texto foi elaborado pelas alunas do Estágio Curricular de Psicologia Clínica do ano de 2007 do
DOMUS, a partir da discussão de casos vistos em supervisão, e frente à constatação de pouco material
existente sobre a técnica.
Ana Paula Magnus Salvagni, Cristina Benitez Tronco, Karina Neto Corrêa, Maíne Alves Prates, Magda Sílvia
Berté Veríssimo e Milene Vieira Lunes, e revisado pela Supervisora Nira Lopes Acquaviva.
Perguntas como Recurso Terapêutico
Marisa Verdolin
A utilização de perguntas como intervenção terapêutica não é uma “técnica” ou uma receita a ser aplicada
aleatoriamente pelo terapeuta.
Para bem utilizá-las ele dependerá de premissas, posturas e princípios que regem sua atuação na condução de
seu trabalho.
Tudo isto requer um trabalho com a pessoa do terapeuta no qual poderão ocorrer aprendizados e mudanças
paradigmáticas que lhe favoreçam a assimilação de posturas de adoção de seus próprios recursos cognitivos
para criar intervenções, para aprender a interagir circularmente, colocar a “objetividade entre parênteses” e
ter abertura para considerar os diversos lados das questões, e principalmente assumir suas escolhas dentro do
sistema terapêutico.
Significa que o terapeuta deverá estar consciente de que a tomada de decisões ,assim como o compromisso
com a mudança terapêutica, permeiam todo o processo de entrevistas ( fazer perguntas).
Antes de abordarmos a importância das perguntas no processo terapêutico sistêmico, precisamos esclarecer
alguns conceitos que fazem parte do contexto conversacional terapêutico:
Portanto, o que se espera e se propõe na Terapia Sistêmica é que se crie no sistema terapêutico o espaço para
que as pessoas escutem (ouçam com atenção e interesse o que as outras estão dizendo, busquem entender o
sentido e o significado do que está sendo dito), façam perguntas (peçam informações, busquem esclarecer,
façam indagações que favoreçam ao entendimento do que ouvem), e que se estimule o autoquestionamento
(que as pessoas levantem dúvidas a respeito de suas certezas e verdades absolutas, que elas considerem os
aspectos opostos, contraditórios e ambivalentes de suas próprias ideias).
Pois é assim que se cria um ambiente que possibilita a aprendizagem e as mudanças.
É assim que acontece o processo terapêutico transformador.
A Terapia Sistêmica pode ser definida como:
o exercício e arte de conversar
o exercício e arte de escutar
o exercício e arte de (aprender a) fazer perguntas
o exercício e arte de prestar atenção
o exercício e arte de participar
o exercício e arte de se comprometer
o exercício e arte de promover/provocar mudanças
A pergunta é a alma da Terapia Sistêmica, é o recurso terapêutico por excelência e o mais precioso para o
terapeuta.
É uma responsabilidade do terapeuta sistêmico aprender a fazer perguntas que não sejam apenas para
atender a curiosidade sobre o assunto em pauta, mas que seja ela própria uma intervenção terapêutica, um
estímulo à aprendizagem e à mudança.
A pergunta expressa a premissa terapêutica e os pressupostos
epistemológicos que fundamentam a atuação do terapeuta.
A pergunta dentro do processo terapêutico é a “diferença que faz
diferença”.
1 - Intenção
O terapeuta pode ter duas intenções com suas perguntas:
Orientar-se à respeito do sistema
Interferir no sistema
Para atender a cada uma ele terá que fazer perguntas diferentes.
As perguntas poderão ser formuladas de acordo com dois paradigmas: linear e circular
- Se a premissa do terapeuta é Linear ele tenderá a se limitar a perguntas lineares:
elas refletem a atitude reducionista
são focadas na descrição linear do problema, no que o terapeuta quer saber
dirigem-se ao “sem sentido” ou patologia do que foi dito
refletem a crença do terapeuta de estar na posição do “SABER”
terapeuta que as utiliza age como detetive buscando desvendar o mistério, separa
partes, analisa, classifica para definir o problema
Ao fazê-las o terapeuta age como um arquivista histórico ou um arqueólogo do
problema.
Observação:
As perguntas lineares são essencialmente inquisitivas.
As perguntas circulares são predominantemente exploratórias; suas
suposições orientadoras são interativas e sistêmicas:
Perguntas Descritivas Lineares
O que é “isto”?
Você percebe como “isto” que você faz provoca nela “aquilo”?
- Imaginemos que houvesse algo com que ele estivesse ressentido, mas não
quisesse dizer a você por medo de te magoar, como você poderia convencê-
lo de que é forte o suficiente para ouvi-lo dizer o que quiser dizer?
- Se houvesse uma questão mal resolvida entre vocês dois, quem estaria
mais pronto a se desculpar?
Mas principalmente a atitude que reflete a postura novo-paradigmática assumida pelo terapeuta, que inclui a
intersubjetividade na relação com o sistema, tornando-se com ele um sistema terapêutico.
Genograma
Trata-se do desenho da árvore familiar registrando informações de forma gráfica sobre os membros de uma família e
suas relações durante pelo menos três gerações.
Proporciona uma rápida Gestalt das complexas normas familiares.
Rica fonte de hipóteses sobre como um problema clínico pode estar relacionado com contexto familiar.
Pode-se observar a evolução tanto do problema quanto do contexto através dos tempos
Permite explorar a estrutura familiar de forma clara.
Eficiente resumo da história clínica.
Pode-se agregar dados a cada visita, à medida que se obtêm mais informações. Facilita ao terapeuta ter em mente os
membros da família e as normas familiares.
É uma ferramenta interpretativa, subjetiva, com a qual o terapeuta pode gerar hipóteses para outras avaliações.
O genograma é um importante instrumento de avaliação do sistema, e a cada
interação terapeuta/casal; proporciona informações tanto para a avaliação
quanto para intervenções terapêuticas.
Pode ajudar o casal a verem-se a si mesmo e ao parceiro compreendendo a
influência das famílias de origem em sua funcionalidade.
É um instrumento que pode favorecer a união das famílias.
Permite visualizar-se a família: estrutural, vincular e funcionalmente.
Busca normas de funcionamento e estruturas que continuam ou se alternam
de uma geração para outra.
Ajuda a rastear o fluxo de ansiedade através das gerações e do contexto atual. Fatos recorrentes não são
coincidências e sim estão interconectados sistemicamente. Ocorrem mais comumente nos pontos de transição
do ciclo de vida familiar. Pode-se observar: vários tipos de regras familiares; famílias separadas, fusionadas,
pouco diferenciadas; triangulações - relações instáveis entre 2 pessoas, atrai uma terceira para estabilizar o
sistema.
Ajuda a identificar triângulos, padrões repetitivos e de funcionalidade familiar.
Perspectivas: O genograma pode ser interpretado em dois aspectos ou
perspectivas: horizontalidade e verticalidade.
Solange Rosset
Indicação de Técnicas
A técnica utilizada como um instrumento mecânico não se presta senão para a
manipulação da situação terapêutica; porém quando utilizada com uma real
necessidade do momento de um indivíduo ou de um grupo, pode se
transformar numa obra de arte.
Para que ela seja realmente um instrumento terapêutico, algumas reflexões são
necessárias.