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ESTRUTURA CONCEITUAL

EXERCÍCIOS

1. A firma de auditoria KPMG comenta em seu site:

Publicada em 24 de julho pelo IASB (Comitê de Normas Internacionais de


Contabilidade), a mais recente versão da nova norma contábil sobre
instrumentos financeiros – IFRS 9 – terá impacto massivo sobre a forma como
instituições financeiras classificam e mensuram as perdas esperadas em suas
carteiras de empréstimos e recebíveis. A nova regra contém orientações
alteradas sobre a classificação e mensuração de ativos financeiros, incluindo
um novo modelo de provisão para créditos de liquidação duvidosa baseada nas
perdas esperadas, além de complementar os novos requisitos gerais de
contabilidade de hedge publicados em 2013.

A nova norma é obrigatória a partir de 1º de janeiro de 2018, mas pode ser


adotada antecipadamente em IFRS. (...)

Antes da emissão da norma IFRS 9, a norma anterior (IAS 39) determinava que o
reconhecimentos de perdas com créditos (valores a receber de clientes) fosse feito
dentro do chamado “modelo de perdas incorridas”, em que o “gatilho” para se começar
a reconhecer perdas estimadas com créditos de liquidação duvidosa eram os
chamados eventos de perda, por exemplo, o atraso do cliente no pagamento de
parcela do crédito.

Entretanto, a crise financeira de 2008 trouxe a percepção do mercado financeiro de


que esse modelo, em que é necessário haver um evento de perda (como o atraso)
para dar início ao reconhecimento de eventuais perdas, produzia demonstrações
financeiras menos úteis, dado que traduziam as perdas estimadas “tarde demais”.

Foi nesse contexto que o normatizador contábil, o IASB, desenvolveu um modelo que
passou a ser denominado de modelo de “perdas esperadas”, em que não há a
necessidade de que um evento de perda ocorra para que se reconheçam perdas. A
metodologia prevista na norma IFRS 9 realiza estimativas de perdas esperadas de
crédito considerando o tempo de vida do contrato, baseadas em modelos estatísticos
e projeção de cenários econômicos, que permitem que as instituições reconheçam de
maneira mais tempestivas as estimativas de perdas com créditos de liquidação
duvidosa. Isso significa que um valor a receber pode, e provavelmente terá, uma perda
estimada reconhecida antes mesmo que esse crédito apresente algum sinal de ser um
crédito problemático, ou seja, as operações de crédito possuem uma probabilidade de
perda desde a sua contratação.

Suponha que o banco XYZ adotou antecipadamente a IFRS 9, inclusive os princípios


de reconhecimento de perdas estimadas com créditos de liquidação duvidosa
(PECLD), substituindo o que era denominado de modelo de “perdas incorridas” pelo
novo modelo de “perdas esperadas”. Ao fazê-lo, o banco teve um aumento
significativo nas PECLD no ano de adoção comparativamente ao ano anterior (assuma
que não era requerido que as demonstrações financeiras do ano anterior fossem
refeitas com base no novo modelo). Ao divulgar suas demonstrações financeiras
reconhecendo essas perdas, observou-se um impacto negativo proporcional no valor
das ações desse banco no mercado de ações.

Nos termos da Estrutura Conceitual do IASB, e utilizando exclusivamente as


informações oferecidas no enunciado desta questão, identifique e explique a relação
entre duas características qualitativas da Estrutura Conceitual e o modelo de
reconhecimento de perdas esperadas da IFRS 9. Adicionalmente, também à luz das
características qualitativas da informação contábil estabelecidas na Estrutura
Conceitual, avalie a premissa que foi assumida de que as demonstrações financeiras
do passado não foram reapresentadas/ajustadas à nova política contábil de
reconhecimento de perdas esperadas em substituição à política de reconhecimento de
perdas incorridas.

SOLUÇÃO PROPOSTA

Ao se analisar o novo modelo de reconhecimento de perdas com créditos de


liquidação duvidosa (o modelo de perda esperada), é possível observar correlação
com três características qualitativas definidas na Estrutura Conceitual, sendo duas
delas fundamentais e uma de melhoria.

RELEVÂNCIA (CARACTERÍSTICA FUNDAMENTAL)

O modelo de perdas esperadas se conecta à característica da RELEVÂNCIA na


medida em que esse modelo permite o reconhecimento de perdas embasando-se na
probabilidade de perda de um crédito desde seu nascimento e tem, portanto, melhor
capacidade de prever os impactos sobre os fluxos de caixa de créditos que não serão
realizados no futuro na forma de entradas de caixa. Esse maior poder preditivo dos
fluxos de caixa futuro está diretamente relacionado com a definição de relevância na
Estrutura Conceitual, que determina que a informação é relevante quando possui valor
preditivo ou confirmatório, ou ambos.

REPRESENTAÇÃO FIDEDIGNA (CARACTERÍSTICA FUNDAMENTAL)

Ao conceder crédito a um cliente, a entidade credora avalia o risco de crédito dessa


operação e naturalmente já considera, inclusive no encargo financeiro que cobrará, a
probabilidade de perda inerente àquele cliente ao qual está concedendo crédito.
Portanto, o modelo de perdas esperadas faz trazer para a contabilidade as
expectativas de negócio que estão presentes na tomada de decisão de conceder
crédito desde seu nascimento e, dessa forma, o modelo permite representar de forma
mais fidedigna a essência econômica da transação, ao tratar da operação de forma
mais completa e sem viés.
TEMPESTIVIDADE (CARACTERÍSTICA DE MELHORIA)

Como comentado no enunciado do exercício, o modelo anterior tinha como “defeito”


informar perdas “tarde demais”. Nesse sentido, o modelo atual, que comparativamente
ao anterior, informa as perdas “mais cedo”, tem a virtude de disponibilizar informações
aos tomadores de decisões a tempo para que sejam capazes de influenciar suas
decisões, ou seja, é um modelo mais tempestivo. Isso implica que as perdas do ano
em que a norma é adotada não são comparáveis com as perdas reconhecidas em
períodos anteriores à adoção, posto que foram estimadas por meio de modelos
diferentes. Há, portanto, nessa forma de adoção, sem aplicação retrospectiva, perda
na COMPARABILIDADE, que é uma característica qualitativa de melhoria.

Finalmente, vale ressaltar que o caso apresentado no enunciado do exercício não


guarda relação direta com as seguintes características:

 conservadorismo (que sequer é uma característica qualitativa)


 verificabilidade
 compreensibilidade
 prudência – não é característica qualitativa
 essência sobre a forma – não é característica qualitativa
 manutenção do capital – não é característica qualitativa
2. A Cia X é uma empresa produtora de madeira. No final do ano X1, a administração
da Companhia firmou um contrato para a venda, em 31 de dezembro de X5, de
uma quantidade significativa e especificada de madeira, por um preço fixo. As
madeiras possuem preço de mercado.

Pergunta: ao longo do contrato (a prazo para vender uma determinada quantidade de


madeira, a um preço fixo especificado) a Cia X deve reconhecer um ativo ou um
passivo (como definidos na Estrutura Conceitual)? Identifique as características dos
elementos que são, ou não, atendidas.

SOLUÇÃO PROPOSTA

Ambas as possibilidades são possíveis.

Se o preço de mercado da madeira aumentar (ou diminuir), então, o contrato concede


à Cia X o direito contratual (ou a obrigação) de vender a madeira por uma quantidade
maior que (ou menor que) seu preço de mercado atual. Em outras palavras, se o preço
de mercado da madeira cair, o contrato é um recurso que deve resultar na Cia X
receber mais do que o preço de mercado atual por sua madeira (ou seja, representa
um ativo porque há um recurso, há o controle sobre esse recurso – o contrato – e há
expectativa de benefício futuro). Alternativamente, se o preço de mercado da madeira
aumentar, o contrato obriga a Cia X a vender a madeira por menos do que o preço de
mercado atual para sua madeira (ou seja, representa um passivo porque há uma
obrigação de entregar recursos de maneira potencialmente desfavorável à Cia X).

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