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31 Maio 2019
Os novos requerimentos contábeis para instrumentos financeiros impactam todas as
empresas, não apenas os bancos.
Tiago Bernert
Sócio-líder de Risk Management DPP
KPMG no Brasil
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Guia Prático IFRS 17 - 09
Desreconhecimento e modificações contratuais
Determinar a base de mensuração apropriada para ativos requer mais julgamento. Além
disso, certos ativos financeiros que antes eram mensurados ao custo amortizado passam a
ser mensurados ao valor justo, sendo que nem sempre existem preços observáveis
disponíveis para sua mensuração.
A mensuração da redução no valor recuperável (impairment) dos ativos financeiros muda de
um modelo de perda de crédito incorrida para um modelo de perda de crédito esperada. Isso
significa que provisões para perdas de crédito com recebíveis e ativos contratuais podem
requerer projeções de dados econômicos futuros mais robustas.
A IFRS 9 (CPC 48) é efetiva para períodos anuais iniciados a partir de 1º de janeiro de 2018¹ e é
aplicável a empresas de todos os setores. A IFRS 9 (CPC 48) introduz mudanças importantes para
a maior parte das empresas. Se de um lado o impacto da norma sobre as instituições
financeiras tem sido altamente divulgado, de outro lado, o impacto sobre as empresas não
financeiras não tem recebido a mesma atenção. Em nosso artigo IFRS and US GAAP long awaited
changes to hedge accounting apresentamos uma reflexão sobre os impactos dos novos
requisitos relacionados à contabilidade de hedge. Neste artigo, concentramo-nos nas questões
relacionadas à classificação, mensuração e impairment, que são pertinentes para empresas não
financeiras.
A IFRS 9 (CPC 48) é uma norma contábil abrangente, que exige uma combinação de julgamento
por parte da administração e de cálculos complexos, que podem exigir uma intensa mudança de
modelo nos processos chave, envolvendo diversas funções dentro da organização. Como parte
do processo de atualização das rotinas contábeis para classificação, mensuração e impairment
de ativos financeiros, as empresas também devem considerar a disponibilidade de dados,
divulgações adicionais e outros processos financeiros a partir da data da adoção inicial. Isso
geralmente implica também uma atualização sistêmica. É preciso que as empresas não
financeiras considerem as seguintes ações, dentre outras:
Classificação e mensuração
A nova norma altera a maneira como os ativos financeiros são classificados no balanço
patrimonial e estabelece as seguintes categorias:
Para investimentos em instrumentos de dívida, a IFRS 9 (CPC 48) introduz uma análise de duas
etapas para determinar a categoria apropriada para sua classificação e mensuração.
Observação KPMG
A aplicação mais recorrente do valor justo como base de mensuração na aplicação da IFRS 9
(CPC 48) em comparação com a IAS 39 (CPC 38) é o maior desafio operacional para empresas
que possuem carteiras de títulos de dívida e/ou títulos patrimoniais. Historicamente, as
empresas não financeiras nem sempre tem processos estabelecidos para determinar o valor
justo de títulos não negociados. Essas empresas terão possivelmente que criar novos
processos e capturar novos dados para aplicar a mensuração do valor justo de acordo com a
IFRS 13 Mensuração do Valor Justo
(CPC 46).
Avaliações anteriores sobre derivativos embutidos em ativos financeiros também precisam ser
revistas. De acordo com a IAS 39 (CPC 38), um derivativo embutido era separado do contrato
principal quando as características econômicas e riscos do derivativo embutido não estavam
altamente relacionados aos do contrato principal. Ao contrário da IAS 39 (CPC 38), os derivativos
embutidos cujo contrato principal é um ativo financeiro não são separados do contrato
principal de acordo com a IFRS 9 (CPC 48). Ao invés disso, o contrato inteiro, composto pelo
contrato principal e pelos derivativos embutidos, é avaliado como uma única unidade de
contabilização. Na maioria dos casos, isso significa que ele não atende ao critério de Somente
P&J e, portanto, é mensurado ao VJR como um todo.
Agora, de acordo com a IFRS 9 (CPC 48), o título conversível é avaliado como uma unidade de
contabilização única. Como os termos contratuais do instrumento não dão origem apenas a
pagamentos de principal e juros sobre o valor principal do título, ele não atende ao critério de
“somente P&J” e é mensurado ao VJR.
Nas empresas não financeiras muitos ativos financeiros podem ser impactados pela IFRS 9 (CPC
48).
• Recebíveis de arrendamento
Abordagem geral
Abordagem simplificada
Matriz de provisão
Usando os dados históricos é possível determinar a taxa pela qual os devedores passam para
uma categoria com maior risco de inadimplência ao longo do tempo e, em seguida, usando a
multiplicação de matrizes, determinar uma taxa de perda para cada categoria de inadimplência.
As taxas de perda histórica identificadas devem ser ajustadas para refletir as condições atuais e
também as condições econômicas futuras ao longo da vida remanescente dos recebíveis
comerciais, utilizando para isto projeções “razoáveis e suportáveis”. Estas taxas de perda são
então aplicadas ao saldo de contas a receber em aberto, por categoria de inadimplência, para
determinar a provisão para perdas de crédito esperadas.
Essa abordagem pode parecer semelhante ao que já é feito na maioria das empresas quando
calculam suas provisões para perdas de crédito conforme IAS 39 (CPC 38). No entanto, a IFRS 9
(CPC 48) requer que as taxas de perda reflitam informações relevantes, razoáveis e suportáveis
sobre as expectativas futuras que influenciam a perda esperada. Desta maneira, as provisões
para perdas de crédito estimadas segundo a IFRS 9 (CPC 48) tendem a ser maiores do que a
abordagem de perda incorrida anteriormente utilizada.
perdas
esperadas
A matriz de provisão é uma maneira eficaz de estimar perdas de crédito esperadas de maneira
consiste período a período. Ela tende a ser bastante útil para empresas com um alto volume de
vendas e, portanto, saldo relevante de recebíveis comerciais. No entanto, as empresas devem
agrupar de maneira apropriada os recebíveis comerciais com base em características de risco
de crédito (por exemplo, geografia ou rating de crédito devedor) e determinar taxas de perda
para cada grupo.
Entretanto, este método pode não ser apropriado para empresas com padrões de receita
altamente sazonais, sendo necessário recorrer a outros métodos. Isso ocorre porque os
recebíveis comerciais podem não seguir um padrão ou podem atingir um volume muito acima
da média em determinados momentos durante o ano fiscal. O uso de uma matriz de provisão
em tais casos poderia resultar em taxas de perda que não são adequadas para a mensuração de
perdas de crédito esperadas.
Os ativos no escopo do impairment da IFRS 9 (CPC 48) que tinham uma provisão zero de perda
de crédito de acordo com a IAS 39 (CPC 38) porque não haviam apresentado "evidência objetiva
de perda" podem ter alguma provisão de acordo com a IFRS 9 (CPC 48). Esta é uma mudança
importante porque a inexistência de um histórico de perdas não pode ser usada como a única
base para concluir que a perda de crédito esperada para um ativo financeiro mensurado pelo
custo amortizado é zero.
Para considerações relacionadas a US GAAP, leia nossa publicação IFRS compared to US GAAP.
Autores
1. A IFRS 9 Instrumentos Financeiros (CPC 48) é efetiva para períodos anuais iniciados após 1º
de janeiro de 2018. As empresas podem optar por adiar a aplicação do novo modelo de hedge
accounting até que o projeto de macro hedge do IASB esteja completo. As seguradoras podem
optar por adotar a IFRS 9 (CPC 48) em sua totalidade até que a IFRS 17 Contratos de Seguro seja
efetiva.
As informações aqui contidas são de natureza geral e não têm a intenção de abordar as
circunstâncias de qualquer indivíduo ou entidade em particular. Embora nos esforcemos para
fornecer informações precisas e oportunas, não podemos garantir que tais informações sejam
precisas na data em que são recebidas ou que continuarão a ser precisas no futuro. Ninguém
deve agir com base nessas informações sem o devido aconselhamento profissional após uma
análise aprofundada da situação específica.
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