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Contabilidade Bancária (COSIF) – Mitos e Verdades

Prof. Eric Barreto fala sobre contabilidade bancária, Plano COSIF e tendências na
regulamentação desse setor.

Fonte:
http://m2msaber.com.br/blog/contabilidade-bancaria-cosif-mitos-e-verdades

19/01/2015

Você já ouviu falar que, na contabilidade bancária, tudo é invertido? Desta forma, onde
há um débito na contabilidade de entidades não financeiras, haveria um crédito na
contabilidade bancária... Grande bobagem. As instituições financeiras, tanto no Brasil
como em outros mercados, utilizam-se de padrões contábeis bastante similares,
muitas vezes idênticos, àqueles usados pelas empresas.
O que leva alguns profissionais a pensar que a contabilidade bancária inverte
conceitos contábeis são fatores de negócio, já que os bancos e as empresas tomam
posições opostas nas transações financeiras. Por exemplo, quando uma empresa
toma um empréstimo, ela assume uma obrigação, que na contabilidade é um passivo.
Para o banco, o empréstimo concedido representa um direito de receber o principal e
os juros cobrados na operação, ou seja, o empréstimo concedido é um ativo do banco.
Os juros cobrados do cliente, para o banco, representam receitas, enquanto para a
empresa tomadora representam despesas. Perceba que o conceito contábil é
exatamente igual, porém, o banco e a empresa tomadora estão em pontas opostas da
transação financeira.
Um outro exemplo comum é a conta de depósitos de uma empresa. Para ela, essa
conta representa disponibilidade de recursos, um direito que ela pode reclamar
quando precisar aplicar esses valores em outro investimento. Conceitualmente, essa
conta corrente é um ativo da empresa depositante. Do lado do banco, as contas de
depósitos representam a obrigação que a instituição financeira tem de restituir o
cliente que reclamar esses saldos, logo, o banco tem um passivo.
É claro que, se existe uma matéria, e até mesmo um específico curso de contabilidade
bancária, é porque existem particularidades que diferenciam esta de outras
contabilidades.
No Brasil, a contabilidade societária tem como base a Lei das Sociedades Anônimas
(Lei 6.404/76), que em 2007 foi alterada pela Lei 11.638. A contabilidade praticada
pelos bancos nunca foi tão diferente da praticada pelas empresas, porém, os riscos
específicos do negócio muitas vezes conduzem a práticas singulares de classificação,
mensuração, evidenciação e provisão para créditos de liquidação duvidosa.
Em 1978, o Conselho Monetário Nacional (CMN) delegou ao Banco Central do Brasil
(BACEN) a competência de expedir normas contábeis. Assim, em 1987, o BACEN
editou a Circular 1.273, criando o famoso Plano COSIF, o Plano Contábil das
Instituições do Sistema Financeiro Nacional.
O COSIF contém regras específicas para a classificação e mensuração de títulos e
valores mobiliários, de derivativos, de operações de créditos, depósitos e outras.
Obviamente, o foco maior são os instrumentos financeiros.
Uma dúvida comum: a Lei 11.638/07 trouxe o padrão internacional de contabilidade
para o Brasil a partir do ano de 2010. Como ficam as instituições financeiras e o
COSIF com essa internacionalização da contabilidade?
Em 2006, o BACEN foi pioneiro ao publicar o Comunicado 14.259, informando
procedimentos no âmbito do Banco Central do Brasil que culminariam na adoção das
normas internacionais de contabilidade emitidas pelo IASB (IFRS) pelas instituições
financeiras e demais instituições por ele autorizadas a funcionar. A crise internacional
de 2008 e revisões nas normas internacionais fizeram o BACEN rever seu plano
original, publicando a Resolução 3.786/09. O BACEN utilizou-se da Lei 4.595/64, que
coloca sua normatização acima de outras entidades e leis em uma hierarquia de
atendimento para, de certa forma, desprezar parte da Lei 11.638/07. A Resolução
3.786/09 restringiu a internacionalização da contabilidade às demonstrações anuais
consolidadas, e somente para as instituições constituídas sob a forma de companhia
aberta ou que fossem obrigadas a constituir comitê de auditoria. Assim, até hoje o
Plano COSIF não é 100% aderente aos pronunciamentos do IASB, causando dúvidas
e algumas incoerências.
No âmbito internacional, em 2014 foi publicada a IFRS 9, com os novos procedimentos
de mensuração e classificação de instrumentos financeiros. A norma ainda não foi
traduzida pelo Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC), mas sabemos que sua
aplicação é obrigatória a partir de períodos iniciados em 1º de janeiro de 2018. Com
isso, espera-se que o COSIF incorpore os princípios do IFRS, e que antes disso, o
BACEN normatize e prepare as instituições financeiras para essa nova transição.

A norma IFRS 9 já foi


"traduzida" pelo CPC,
equivalente ao CPC 48, cuja
obrigatoriedade para
empresas não financeiras
entrou em vigor em
jan/2018, contudo, ainda não
é obrigatória para as
instituições financeiras.

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