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Resumo alargado – Outubro 2016

David Silva

Formulations for Gypsum Production


David Silva
Instituto Superior Técnico, Universidade de Lisboa

Resumo: O gesso é um dos mais antigos materiais usados para construção. Sendo um material
poroso, absorve, tendencialmente, grandes quantidades de água, quando em contacto com esta. A
absorção de água por parte do gesso é prejudicial, uma vez que se traduz numa perda da sua
resistência mecânica. De modo a contrariar este efeito, emulsões contendo cera são, comumente,
adicionadas à pasta de gesso, no processo de produção de blocos de gesso, melhorando a sua
propriedade de repelência de água. O objectivo inicial deste projecto é a obtenção de
dispersões/emulsões que, adicionadas ao gesso, o tornem repelente de água. Ao longo do projecto, foi
sendo revelada a importância de diversas variáveis no processo de produção de blocos de gesso. A
análise da influência destes parâmetros assumiu, então, uma relevância significativa no presente
estudo.
Foram também testados aditivos com a intenção de promover uma melhoria no escoamento da
pasta de gesso, propriedade de grande importância que determina a maior ou menor facilidade de
manuseamento durante a aplicação.
Sumarizando, neste projecto foram obtidas diversas emulsões dentro da categoria de repelentes de
água e, após a análise da influência de diferentes variáveis, o método de produção de blocos de gesso
foi melhorado. Como trabalho futuro, sugere-se o uso destas emulsões repelentes de água na
optimização deste mesmo método, com vista a reduzir a quantidade de aditivo requerido para a
obtenção de resultados exigidos.

Palavras Chave: gesso, emulsão, absorção de água, escoamento, variáveis do método.

INTRODUÇÃO Portland, conferindo também uma vantagem do


O gesso natural, composto essencialmente ponto de vista ambiental [1].
por sulfato de cálcio hidratado, é um mineral Mais recentemente, o gesso tem sido
comum em rochas sedimentares [1]. O gesso aplicado como regulador do tempo de
sintético é semelhante ao gesso natural, tanto endurecimento do cimento Portland, mas
do ponto de vista químico como da sua forma também como fertilizante e no melhoramento
cristalina. A principal diferença entre ambos dos solos. Ainda assim, a mais moderna e
reside no seu estado físico, dependendo da sua proeminente aplicação consiste na produção de
origem e processo de síntese. placas de gesso em larga escala.
Ao longo dos anos, o gesso natural tem sido Contudo, esta aplicação comporta algumas
amplamente usado como material de limitações. Quando absorve água, o gesso
construção, devido à sua excelente resistência pode perder até 50% da sua resistência
ao fogo, estética e ao seu baixo custo. Durante mecânica, valor consideravelmente superior ao
o seu processo industrial de produção do de outros materiais. Isto deve-se à elevada
gesso, são geradas baixas emissões de dióxido
de carbono, se comparado com o cimento

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solubilidade do gesso em água e à sua grande Adicionalmente, foi estudada a influência


porosidade. de diferentes variáveis operacionais, durante
do processo de produção dos blocos de gesso.

BACKGROUND
Grande parte das aplicações para o gesso
são baseadas no facto de este poder ser
calcinado a temperaturas razoavelmente
baixas. Este processo resulta na formação de
sulfato de cálcio semi-hidratado numa primeira
Figura 1 – Variação do esforço de compressão com
a absorção de água do gesso. [1] etapa de calcinação ou sulfato de cálcio
desidratado numa fase mais avançada.
Actualmente, os dois maiores métodos Frequentemente, o processo de produção de
comerciais de tornar as placas de gesso placas/blocos de gesso não envolve a
resistentes à água são a incorporação de ceras formação de sulfato de cálcio desidratado.
de parafina ou siloxanos [2]. A desidratação do sulfato de cálcio envolve,
Além da capacidade de repelir água, então, a exposição a crescentes temperaturas,
existem outras propriedades que é importante com perda de água passo a passo.
conferir ao gesso, para tornar viável a sua Insoluble
Dihydrate Hemihydrate
Anhydrite
aplicação como material de construção. CaSO4.2H2O CaSO4.(1/2)H2O
CaSO4 (insol.)
Phase I Phase II
Phase III
Exemplos disso são a capacidade de
Figura 2 – Passos de desidratação de Sulfato de
escoamento – que permite moldar o gesso
Cálcio.
durante a sua aplicação – e o tempo de
A re-hidratação do hemihidrato e do sulfato
endurecimento, definido como o tempo que
de cálcio anidro refere-se à sua dissolução em
medeia entre a disposição da pasta de gesso e
água. No primeiro caso, a dissolução ocorre
o seu endurecimento considerável.
rapidamente, enquanto para a anidrite este é
Posto isto, são apresentados neste relatório
um processo lento.
os resultados da preparação de diferentes
No processo de produção de blocos/placas
emulsões e subsequente aplicação à pasta de
de gesso, o dihidrato é aquecido com o intuito
gesso, durante a produção de blocos de gesso.
de calcinar e remover parte da água de
As referidas emulsões têm como base
cristalização, originando o sulfato de cálcio
parafina, cera de lenhite e carvão mineral,
semi-hidratado. Este é posteriormente
álcool polivinílico (PVA) e aditivos
misturado com alguns aditivos e água, por
convencionalmente utilizados em emulsões,
forma a obter uma pasta com propriedades
como emulsificantes que potenciam a formação
reológicas adequadas ao seu manuseamento.
da emulsão e estabilizadores que ajudam a
O gesso assume então novamente a forma de
estabilizar a emulsão [3]. Foi ainda
dihidrato, sendo o excesso de água removido
contemplado o uso de ceras alternativas e de
através do processo de secagem num forno [2].
copolímeros de acetato-vinilo de etileno (EVA).
De modo a ultrapassar os problemas
causados pela absorção de água por parte do

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gesso, com consequente deterioração das suas


propriedades mecânicas, componentes
hidrofóbicos são adicionados à pasta de gesso.
Emulsões fazem parte de uma classe
genérica de sistemas bifásicos denominados
de coloides. Coloide é a mistura na qual uma
substância é dispersada ao longo de outra, ao
nível microscópico. Pode ser caracterizada pelo Figura 3 – Matriz de gesso contendo aditivo de cera
seu tamanho de partícula, desde a mais (esquerda) ou siloxano (direita)

pequena, dispersão, até à maior, na qual a fase Embora ambos os materiais cumpram a

dispersa já se encontra totalmente solvatada e mesma tarefa, os seus mecanismos de

o sistema é considerado homogéneo [6]. No resistência relativamente à água são

caso específico das emulsões, as duas fases, significativamente diferentes. A cera é não-

contínua e dispersa, encontram-se no estado reactiva e produz um efeito bloqueador na

líquido. As emulsões são instáveis e, como tal, matriz de gesso, prevenindo a penetração das

não se forma espontaneamente. Para formar moléculas de água. Por outro lado, os siloxanos

uma emulsão é necessário fornecer energia usam um complexo mecanismo reactivo para a

através da homogeneização ou agitação [4]. Ao criação de uma fina camada monomolecular

longo do tempo, as emulsões tendem a reverter em torno das paredes e dos poros da matriz de

ao estado inicial que contempla as duas fases. gesso.

Por esse motivo, para prevenir a coalescência


da fase dispersa, um agente dispersante deve MATERIAIS E MÉTODOS USADOS

estar presente [8]. Este é definido pela sua


tendência de adsorver nas superfícies e I. TESTE DE ABSORÇÃO DE ÁGUA

interfaces [7]. De modo a avaliar a performance de cada

Tal como mencionado anteriormente, os formulação, em termos de repelência de água,

dois principais agentes usados com vista à foi seguido um método que incorporava a

obtenção de repelência de água são as ceras emulsão durante a preparação de blocos de

de parafina e siloxanos. gesso. Primeiramente, 63,8 g de emulsão são

Habitualmente, a combinação de ceras de misturados em 683,1 g de água, até uma

lenhite ou carvão mineral e parafinas é usada. obtenção de uma fase homogénea. De

As ceras são fundidas e misturadas com água seguida, adiciona-se 1036,2 g de gesso,

quente em meio alcalino. Após a mistura ser agitando vigorosamente durante 1 minuto. A

sujeita ao processo de homogeneização e pasta de gesso formada é então disposta num

rápido arrefecimento, as partículas de cera molde preparado para preparar uma série de 4

solidificam, formando uma fina dispersão. blocos. Após a solidificação da pasta, as placas

O método através de siloxanos é mais metálicas do molde são removidas e os blocos

complexo, envolvendo ocorrência de reacções são secos num forno a 80ºC durante as

químicas durante o processo de fabrico das primeiras 2 horas e a 40ºC durante 5 dias. No

placas/blocos de gesso. final, retirar os blocos do forno e deixar à

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temperatura ambiente durante 30 minutos. O hidrólise de 98,8% e um peso molecular médio


peso inicial dos blocos é registado antes de compreendido entre 31000 e 50000 – contendo
estes serem submersos em água. Finalmente, emulsificantes e estabilizadores.
é verificado o peso dos blocos após 2 horas, A preparação das emulsões consistia,
através de uma balança analítica, e calculada a primariamente, em juntar todas as ceras num
absorção de água (WU) segundo a equação 1. recipiente, aquecendo até estas se
No final, é considerado o valor médio obtido encontrarem totalmente derretidas. Em
pelos 4 blocos de cada série. paralelo, os restantes componentes eram
( Peso após 2 horas − Peso inicial ) adicionados à água, sob agitação forte, noutro
WU após 2 horas = Eq.1
Peso inicial recipiente, até obtenção de uma fase aquosa
homogénea. De seguida, as duas fases,
orgânica e aquosa, eram misturadas no reactor
II. TESTE DE ESCOAMENTO
do homogeneizador, mantendo uma agitação
De forma a obter uma medida da
vigorosa e a temperatura entre 10 a 15ºC acima
capacidade de escoamento que cada emulsão
do ponto de fusão das ceras utilizadas. A
confere à pasta de gesso, misturou-se, até
mistura era então alimentada ao
formação de uma fase homogénea, numa
homogeneizador, durante 4 minutos e 15
garrafa de plástico de 500 mL, 207,24 g de
segundos, e sujeita a uma pressão de 200 bar.
gesso,136,62 g de água e 12,70 g de emulsão.
Por fim, esta era bruscamente arrefecida, num
Seguidamente, a pasta de gesso formada era
sistema de arrefecimento integrado, e recolhida
disposta numa placa metálica com 7,3º de
numa garrafa de plástico de 1 litro.
inclinação. No final do escoamento, era medido
De modo a obter um controlo da experiência
o comprimento atingido pela pasta de gesso.
e uma medida comparativa entre emulsões
testadas em dias diferentes, ou seja, em
III. PREPARAÇÃO DE EMULSÕES
condições eventualmente diferentes, dois
Dado que um dos principais objectivos deste
produtos comerciais foram definidos como
projecto reside na avaliação da performance de
referência.
vários aditivos em termos de repelência de
água, diferentes emulsões foram formuladas e
• Quantidade de Dispersante A
aplicadas a blocos de gesso.
Foi avaliado o efeito da adição de diferentes
Devido a questões relacionadas com a
quantidades de dispersante na absorção de
propriedade intelectual (IP), o nome de muitos
água por parte dos blocos de gesso e na
dos compostos usados nas formulações foram
capacidade de escoamento da pasta de gesso.
ocultados e substituídos por termos mais
Para tal, diferentes quantidades de Dispersante
genéricos.
A – um ácido naftaleno sulfónico condensado
O corrente estudo contemplou a mistura
com formaldeído – foram adicionadas à fase
entre parafinas refinadas, com um ponto de
aquosa durante a preparação das emulsões. O
fusão de 68 a 70ºC, e parafinas brutas, com
impacto da variação da quantidade de
ponto de fusão abrangido entre 50 e 70ºC. Os
Dispersante A foi testado em duas formulações
restantes componentes provinham de uma
base.
solução aquosa de PVA – com um grau de

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emulsões 195, 196 e 197, respectivamente. Foi


Tabela 1 – Teor de Dispersante A nas emulsões considerado para o efeito um PVA comercial,
182 a 186.
Celvol 107, contendo um grau de hidrólise de
# % Dispersante A
98,0 a 98,8% e com uma viscosidade de 5,5 a
182 1,00%
183 1,98% 6,6 cP para uma solução aquosa com uma
184 2,94% concentração mássica de 4%.
185 0,99%
186 1,97%
187 2,92% • Copolímeros de EVA
Várias emulsões contemplando diferentes
• Ceras Polares Alternativas copolímeros de EVA foram formuladas. Este
Devido à corrente escassez de ceras de estudou visou comparar a performance EVA’s
lenhite e carvão mineral, foi estudada a com diferentes características, tais como o teor
viabilidade do uso de diferentes ceras polares de VA, ponto de fusão (PF) e melt index (MI).
como alternativa. A Cera Polar A é um Em simultâneo, foi reduzida, para 80%, a
hidrocarboneto com um ponto de fusão de quantidade de emulsão adicionada durante a
96ºC, que compatibiliza ceras polares e preparação da pasta de gesso.
apolares e aditivos, devido aos seus segmentos Tabela 3 – Emulsões com diferentes copolímeros
polares e apolares. A Cera Polar B trata-se de EVA.
um éter polivinílico, com um ponto de fusão VA PF MI
# EVA
entre 47 e 51ºC. Foi também testada a Cera (%) (ºC) (g/10min)
189 Polar Wax C 18 74 450-550
Polar C, contendo copolímeros de etileno e 202 Copolymer A 18 88 135-175
acetato vinílico. O seu ponto de fusão é de 203 Copolymer B 28 66 370-470
204 Copolymer C 18 88 2,5
74ºC. Por fim, foram também consideradas a
205 Copolymer D 28 75 6,0
Cera Polar D, um copolímero de etileno com
elevada viscosidade, e a Cera Polar E, uma ANÁLISE DE RESULTADOS
resina de poliamida bastante viscosa, com um Foi avaliada a performance das emulsões
ponto de amolecimento de 118ºC. formuladas em termos de absorção de água e
Tabela 2 – Emulsões com diferentes ceras polares. capacidade de escoamento. Os resultados
# Cera Polar obtidos para o estudo da influência da variação
183 A
da quantidade de Dispersante A são
188 B
189 C apresentados como exemplo do tratamento de
190 D
dados efectuado em cada teste.
192 E

• Quantidade de PVA • Quantidade de Dispersante A

Esta bateria de testes propôs-se a estudar o O estudo da avaliação do impacto da

efeito gerado pela redução do teor de PVA na quantidade de Dispersante A na absorção de

emulsão na absorção de água por parte dos água por parte dos blocos de gesso foi

blocos de gesso. A quantidade de PVA conduzido durante dois dias distintos: as

presente nas emulsões 183, 188 e 189 foi emulsões 182 e 184 foram testadas num dia e

reduzida para metade, dando origem às a emulsão 183 em outro. De qualquer forma,

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ambas as experiências foram acompanhadas Figura 4 – Absorção de água para as emulsões 182,

da mesma referência. Dito isto, as três 183 e 184.

emulsões testadas obtiveram resultados 40.0


bastante interessantes em termos de absorção

Length (cm)
30.0
de água, ao situarem-se na categoria H1. Face
20.0
à referência, a absorção de água das emulsões
182, 183 e 184 foi de -17%, -7% e +12%. Ao 10.0

comparar o resultado de cada emulsão com a 0.0


182 183 184
referência, foi notório que o aumento da
quantidade de Dispersante A teve um efeito Reference
negativo, aumentando a taxa de absorção de Figura 5 – Escoamento para as emulsões 182, 183 e
água. Apesar de este componente conferir uma 184.
acção dispersiva à emulsão, melhorando a
homogeneidade entre as fases orgânica e O mesmo estudo foi aplicado a uma
aquosa, o Dispersante A não é caracterizado formulação base diferente, contemplando as
por ser um agente surface-active. Outro emulsões 185, 186 e 187. Relativamente a
aspecto relevante prende-se com o facto de a estas três emulsões, apesar de todas
referência ter assumido uma discrepância, de apresentarem valores de absorção de água
um dia para o outro, ao variar a taxa de interessantes (2,35%, 2,09% e 2,12%,
absorção de água de 1,81% para 2,52%. Este respectivamente), não foi possível identificar
dado vem atestar a importância da inclusão uma tendência nítida acerca do efeito na
deste elemento comparativo no decurso das absorção de água. O mesmo se verificou após
experiências. execução do teste de escoamento. A
Foi também testada o impacto da informação disponível na ficha técnica do
quantidade de Dispersante A na capacidade de Dispersante A sugere que o efeito dispersivo
escoamento da pasta de gesso. Os resultados deste componente é apenas visível se a
permitem concluir que o aumento do teor de quantidade óptima for adicionada. Como tal, de
Dispersante A se traduz num aumento da modo a obter uma tendência mais clara e
capacidade de escoamento, pois o seu conclusões mais efectivas, é recomendado que
potencial dispersivo provoca a redução da este teste seja efectuado numa gama diferente
viscosidade da pasta de gesso. de quantidade de Dispersante A.

3.00%
Water Uptake (%)

2.50% • Ceras Polares Alternativas


2.00% Foi avaliado a viabilidade do uso de ceras
1.50%
polares, em alternativa às ceras de lenhite e
1.00%
carvão mineral. Através da análise dos
0.50%
0.00% resultados, é de destacar o facto de todas as
182 183 184 emulsões testadas terem obtido valores de
Reference absorção de água que as colocam na categoria
H1. Ainda assim, os resultados obtidos para a

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emulsão 188 e 189 demarcaram-se das de copolímeros de EVA com um melt index
restantes, ao obter valores de absorção de desta ordem de grandeza.
água de 1,42% e 1,39%, respectivamente, ou Relativamente à análise das restantes,
seja, aproximadamente metade dos resultados verificou-se que a emulsão com um teor
obtidos para a referência comercial usada e superior de acetato vinílico (VA) demonstrou
para as restantes emulsões. uma melhor performance em termos de
Estes resultados revelam que a absorção de água. Isto deve-se ao facto de
incorporação de éter polivinílico, com um ponto elevados teores de VA determinarem a criação
de fusão entre 47 e 51ºC, e/ou o uso de de uma barreira mais vincando, selando o poro
copolímeros de etileno e acetato vinílico são da matriz do gesso com mais resistência.
alternativas viáveis e potenciais substitutos da Foi ainda possível concluir que a diminuição
cera de lenhite e carvão mineral. da quantidade de emulsão adicionada para
80% da quantidade original teve um efeito
• Quantidade de PVA extremamente negativo: a emulsão 189
Os resultados obtidos nesta série de testes aumentou a taxa de aborção de água de 1,39%
demonstraram que a redução significativa da para 6,01%.
quantidade de PVA presente na emulsão pode
afectar negativamente a performance em ESTUDO DE VARIÁVEIS DO PROCESSO
termos de absorção de água por parte dos Durante a execução dos vários ensaios, foi
blocos de gesso. Ainda assim, o facto de a sendo notada alguma inconsistência nos
emulsão contendo a Cera Polar A não ter sido resultados obtidos. O aumento da quantidade
afectada, bem como o facto de a referência ter de Dispersante A, mantendo a restante
melhorado consideravelmente o valor de composição, levou a um aumento da absorção
absorção de água, indica que uma análise mais de água para as emulsões 182 a 184. No
profunda acerca das variáveis do processo de entanto, este comportamento não foi observado
fabrico dos blocos de gesso é recomendável. para as emulsões 185 a 187. Além disso, os
valores obtidos para blocos da mesma série
• Copolímeros de EVA apresentaram valores discrepantes, traduzidos
Várias emulsões contemplando diferentes num desvio padrão elevado. Por fim, a
copolímeros de EVA foram testadas. referência usada teve flutuações de mais de
Não foi possível formular as emulsões 204 e 50% no valor da absorção de água.
205, uma vez que estas solidificaram durante a Assim sendo, de forma a justificar as
passagem pelo sistema de arrefecimento referidas incongruências, de modo a preservar
integrado do homogeneizador. Estas emulsões o rigor científico e de melhorar o conhecimento
continham compolímeros de EVA com um melt das variáveis que desempenham o papel
index consideravelmente mais baixo que as importante no processo de produção de blocos
restantes, o que levou a uma diminuição da de gesso foi efectuada a análise de alguns dos
solubilidade e a um aumento significativo da parâmetros. O tratamento de dados efectuado
viscosidade. Como tal, é desaconselhado o uso para a variável tempo entre agitação e
secagem é apresentado como exemplo.

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• Tempo entre agitação e secagem Tabela 5 – Condições usadas durante o ensaio.

Nesta experiência, os blocos foram Tempo de secagem 18h


mantidos à temperatura ambiente durante
Temperatura de secagem 70ºC
diferentes períodos de tempo, desde o início da
agitação da pasta de gesso até à colocação dos Tempo entre secagem e avaliação 4h

blocos no interior do forno. Os outros Rácio Gesso/Água 1,2


parâmetros a serem testados foram mantidos
Emulsão 209
constantes durante esta experiência.
Quantidade adicionada (g) 41,47
Tabela 4 – Condições usadas durante o ensaio.

Tempo de secagem 46h


A Figura 7 ilustra os resultados obtidos.
Temperatura de secagem 70ºC
50.00%

Water Uptake (%)


Tempo entre secagem e avaliação 1h 40.00%

Rácio Gesso/Água 1,2 30.00%


20.00%
Emulsão 196
10.00%
Quantidade adicionada (g) 41,47
0.00%
1h 4h 24h 47h
Os resultados obtidos são apresentados na Uptake 1h Uptake 2h
Figura 6.
É possível concluir que o tempo desde a
40.00% agitação da pasta de gesso até ao início da
Water Uptake (%)

30.00% secagem dos blocos é um parâmetro crítico


para a capacidade de repelência de água que
20.00%
os blocos de gesso apresentam: quanto menor
10.00%
o tempo de espera entre agitação e o início da
0.00% secagem, maior a absorção de água. Para
2h 3h 4h
Uptake 1h Uptake 2h tempos inferiores a 4 horas este parâmetro
torna-se crítico; tempos superiores a 24 horas
Figura 6 – Absorção de água para diferentes tempos
não trazem qualquer benefício. É recomendado
entre agitação e secagem
o estudo do comportamento entre 4 e 24 horas,

De modo a confirmar os resultados obtidos de modo a definir o tempo óptimo para a

e estender a gama testada, foi efectuado um operação.

novo ensaio. • Tempo entre secagem e avaliação


Foi avaliado o impacto do tempo que medeia
entre o final da secagem dos blocos e o início
do teste de absorção de água. Os blocos foram
mantidos à temperatura ambiente durante este
período. Foram efectuados dois ensaios, o
primeiro com uma emulsão à base de cera e o
segundo usando um siloxano comercial.

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Os resultados demonstraram que este também diminui. Contudo, é necessário ter em


parâmetro tem influência directa na taxa de conta que rácios demasiado altos tornarão
absorção de água. Para ambos os tipos de inoperacionais as condições de manuseamento
aditivo, quanto maior o tempo entre secagem e da pasta de gesso. Como tal, é recomendável
avaliação, maior a capacidade de repelência de encontrar um equilíbrio para esta variável do
água conferida aos blocos de gesso. processo.
• Tempo de secagem
Nesta experiência, os blocos foram CONCLUSÕES
submetidos a diferentes tempos de secagem. Este projecto teve como principal objectivo o
Uma vez mais duas séries de ensaios foram desenvolvimento de formulações de emulsões
efectuadas, com resultados congruentes. que tornem o gesso repelente de água. Para tal,
Tempos de secagem mais longos reflectiram foi efectuada a produção laboratorial de blocos
valores de absorção de água mais elevados. de gesso para avaliação da performance
Durante a secagem é requerida a remoção do comparativa, recorrendo a um sistema iterativo
excesso de água presente no bloco, devendo de reformulação, baseado nos resultados
ser deixada apenas a quantidade experimentais.
estequiométrica necessária para formar o Os testes de absorção de água foram
dihidrato (2 moléculas de água por molécula de efectuados por diferença de peso, após
sulfato de cálcio). Se o tempo de secagem for submergir blocos de gesso num banho de
demasiado prolongado, parte da água água, durante 2 horas. De acordo com a norma
necessária para manter o dihidrato começa a EN520, 5% de absorção de água é considerada
ser removida. Os resultados apontaram que a uma boa performance, enquadrando-se na
partir das 68 de secagem, este efeito começou categoria H1.
a manifestar-se de forma mais drástica. De modo geral, foi possível concluir que as
• Rácio Gesso / Água emulsões de cera asseguram uma eficaz
Duas séries de testes foram efectuadas, repelência de água, uma vez que a categoria
usando dois tipos de aditivos distintos – H1 foi atingida para várias das formulações
emulsão à base de cera e siloxano – fazendo testadas.
variar a proporção entre a quantidade de gesso O estudo da influência da quantidade de um
e a quantidade de água. Aumentando o rácio ácido naftaleno sulfónico condensado com
gesso/água, os valores de absorção de água formaldeído, usado como dispersante, revelou
diminuiriam para ambos os aditivos. O aumento uma tendência negativa na absorção de água à
deste rácio leva a que sejam criados mais medida que a sua quantidade aumentava. Por
núcleos de cristalização do dihidrato por outro lado, demonstrou uma tendência positiva
unidade de volume, reduzindo assim os no que à capacidade de escoamento diz
espaços disponíveis para as moléculas de água respeito. Ainda assim, o estudo não foi
penetrarem entre os cristais de dihidrato. Deste inteiramente conclusivo, dado que o ensaio
modo, após o processo de secagem, a seguinte não comprovou esta tendência.
porosidade do bloco é mais reduzida e, A incorporação de éteres polivinílicos e de
consequentemente, a absorção de água copolímeros de etileno e acetato vinílico

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manifestaram resultados bastante promissores, apresentado, dado não fazer parte do âmbito e
no entanto a sua capacidade de escoamento dos objectivos que se encontravam mais
deverá ser melhorada de modo a facilitar a sua direccionados para o desenvolvimento de um
utilização. Hidrocarbonetos que compatibilizem produto comercial que atinga os critérios de
segmentos polares apolares também performance requeridos.
demonstraram ser uma alternativa viável. Por
outro lado, ceras de copolímeros de etileno e REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
resinas de poliamida não são recomendados, 1. Kuntze, R. A.,The Chemistry and
dados os seus fracos resultados, quer do ponto Technology of Gypsum, ASTM Special
de vista de absorção de água, quer de Technical Publication, 1984.
escoamento. 2. Mahoney, D. M., Miller, D. P., Adams, M.
Relativamente aos copolímeros de EVA R., Surgi, M. R. and Lyons, C.,
testados, os de baixo melt index não são Environmental, Health and Safety
praticáveis, sendo que os de teor de VA de 28% Considerations for Common Moisture
atingiram melhores resultados que os de 18% Resistant Additive Technologies in
de teor de VA. Gypsum Wallboard Production. Henry
Ao longo do projecto, foram sendo White Paper, October 2010.
encontradas inconsistências nos resultados. 3. Borenstein L., Water-resistant gypsum
Foi então conduzido um estudo acerca de compositions and emulsion form making
algumas das variáveis do processo e respectivo same, Patent US5437722 A, Bakor Inc,
impacto na repelência de água por parte dos August 1, 1995.
blocos de gesso. 4. Holmberg, K., Jönsson, B., Kronberg, B.
Após analisar a influência de cada variável, and Lindman, B, Surfactants and Polymers
foi possível concluir que: 1) quanto mais in Aqueous Solution, John Wiley & Sons,
elevado o tempo entre agitação e secagem, Ltd., 2002, p.1-3 and p.141-143.
menor a absorção de água; 2) tempos de 5. Kinkade, W. A., Mccleary, R. E., Method
secagem mais prolongados resultam em for making ultrafine calcium sulfate
performance mais fracas em termos de dehydrate crystals, Patent US3262799 A,
absorção de água; 3) quanto mais elevado o United States Gypsum Co, July 26, 1966.
rácio gesso/água presente na mistura, menor a 6. Shinoda, K., Friberg, S., Emulsions and
absorção de água; 4) tempo entre secagem e Solubilization; John Wiley & Sons, New
avaliação mais longo conduz a melhores York, U.S.A., 1986.
resultados. 7. Bennett, H., Industrial Waxes Volume 1:
Finalmente, é de referir que perceber, a um Natural & Synthetic Waxes; Chemical
nível molecular, o fenómeno resultante da Publishing Company, 1975.
adição de cada um dos compostos aqui 8. Bennett, H., Bishop Jr., J. L., Wulfinghoff,
estudados às emulsões de parafina, para M. F., Practical Emulsions Volume 1:
justificar o efeito observado nos resultados Materials and Equipment; Chemical
apresentados, foi possivelmente a maior falha Publishing Company, Inc., New York,
deste projecto. Esse estudo não foi U.S.A., 1968.

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