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XIII JORNADA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO – JEPEX 2013 – UFRPE: Recife, 09 a 13 de dezembro.

AVALIAÇÃO DOS REFLEXOS EXTENSOR RADIAL DO CARPO


E TIBIAL CRANIAL EM GATOS

Eduardo Alberto Tudury1 , Marcella Luiz de Figueiredo2, Thaiza Helena Tavares Fernandes2 Bruno Martins Araújo2,
Marília de Albuquerque Bonelli2, Amanda Camilo Silva2, Camila Cardoso Diogo3

Introdução
Reflexos são respostas biológicas involuntárias úteis ao organismo. O arco reflexo é uma resposta básica após um
estímulo, e é por meio de suas várias modalidades (reflexos espinhais, reflexos dos nervos cranianos) que o exame
neurológico é efetivado. A estimulação dos reflexos espinhais pode fornecer muitas informações, como por exemplo, se
existem ou não lesões em neurônio motor inferior ou superior, e sua localização na medula espinhal ou até mesmo no
encéfalo (Borges et al., 1997; Mendes et al., 2007).
Nos animais domésticos, os reflexos frequentemente testados nos membros torácicos são o extensor radial do carpo, o
bíceps braquial, o tríceps braquial e o flexor, e nos membros pélvicos, o patelar, o tibial cranial, o gastrocnêmio, o
ciático e o flexor (Borges et al, 1997; Mendes et al., 2007).
Para realização do teste do reflexo extensor radial do carpo, coloca-se o animal em decúbito lateral com o membro
relaxado e sustentado pelo cotovelo, com a flexão do carpo mantida. O músculo extensor radial do carpo é percutido
com um plexor, imediatamente distal ao cotovelo. A resposta normal é a extensão do carpo. Este reflexo é mediado pelo
nervo radial e testa os segmentos C7-T1[2] da medula espinhal (Braund, 1994). Torna-se diminuído ou ausente em
lesões desses segmentos da medula espinhal e/ou no nervo radial ou raízes nervosas do mesmo existentes no plexo
braquial, podendo estar aumentado em casos de lesões craniais ao segmento C7 da medula espinhal (Arias & Stopiglia,
1997a; Thomas, 2000; Lorenz & Kornegay, 2006).
Para induzir o reflexo tibial cranial, com o animal em decúbito lateral, percute-se o ventre do músculo de mesmo
nome, imediatamente distal à epífise proximal da tíbia, obtendo como resposta a flexão do tarso (Braund, 1994; Lorenz
& Kornegay, 2006). É mediado pelo ramo fibular do nervo ciático, originando-se nos segmentos medulares, L6-L7(S1)
(Braund, 1994), L6-L7 (Lorenz & Kornegay, 2006; Fernández e Bernardini, 2010). Torna-se deprimido ou ausente em
lesões desses segmentos da medula espinhal, e raízes nervosas ou os nervos ciático e peroneal, podendo se tornar
hiperativa nas lesões craniais à L6 (Webb, 1999; Forterre et al., 2007; Suraniti et al., 2008).
Objetivou-se avaliar e quantificar a resposta ao teste do reflexo extensor radial do carpo e tibial cranial em gatos,
antes e após o bloqueio anestésico do plexo braquial e plexo lombossacral, evidenciando depender ou não do arco
reflexo miotático.

Material e métodos
Foram utilizados 56 gatos, sem distinção de raça e sexo, com idade variando entre 8 meses e 4 anos, provenientes da
rotina do Hospital Veterinário da UFRPE, que iam ser submetidos a cirurgias eletivas de castração e que não
apresentavam respostas anormais ao exame neurológico. Foram divididos em dois grupos, onde no grupo A foi
realizado o teste do reflexo tibial cranial em ambos os membros pélvicos, formado por 27 animais; e no grupo B foi
realizado o teste do reflexo extensor radial do carpo em um dos membros torácicos, formado por 29 animais.
Nos dois grupos os reflexos eram testados com um plexímetro antes da indução anestésica, para verificar a presença e
qualidade dos mesmos. O protocolo anestésico consistiu de 2mg/kg de tramadol, 1mg/kg de xilazina e 10mg/kg
quetamina administrados pela via intramuscular. No grupo A, após a indução anestésica o reflexo tibial cranial, o flexor
e o patelar eram testados, e após 15minutos do bloqueio anestésico com lidocaína a 2%, através da via epidural
(0,22mL/kg) esses mesmos reflexos eram novamente testados. A eficácia do bloqueio era confirmada pela ausência do
reflexo patelar e flexor. No grupo B, o bloqueio do plexo braquial era realizado com o auxílio do
eletroneuroestimulador. Após a indução anestésica e após 15 minutos do bloqueio com lidocaína a 2% (3,5mg/kg
diluída em solução fisiológica a 0,9% e igual volume) os reflexos flexor e extensor radial do carpo eram testados.
Os resultados do estímulo desses reflexos eram classificados de acordo com a qualidade em ausente (0), diminuído
(+1), normal (+2) e aumentado (+3), e analisados pelo teste não paramétrico de Wilcoxon em relação à presença dos
mesmos antes e depois do bloqueio anestésico.
Esta pesquisa foi aprovada pela Comissão de Ética no uso de animais com a licença n°056/2012 protocolo
n°23082.018974/2012.
1
Professor associado Associado III do Departamento de Medicina Veterinária (DMV) da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE). Rua
Dom Manuel de Medeiros, s/n. Dois Irmãos, Recife – PE . E-mail: eat@dmv.ufrpe.br
2
Doutorandos do Programa de Pós-graduação em Ciência Veterinária da UFRPE
3
Mestranda do Programa de Pós-graduação em Ciência Veterinária da UFRPE
Apoio financeiro: CAPES
XIII JORNADA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO – JEPEX 2013 – UFRPE: Recife, 09 a 13 de dezembro.

Resultados e Discussão
Como a pesquisa foi realizada com animais da espécie felina, a comparação da presença dos reflexos antes e após o
bloqueio anestésico, foi realizada após a indução anestésica e não antes, pois pelo instinto normal dos gatos, após a
indução, se teriam resultados mais confiáveis. Segundo Braund&Sharp (2007), o animal deve estar relaxado para se ter
resposta reflexa adequada, quando contido o paciente pode ficar tensos e/ou excitados, interferindo nas respostas.
Em relação à qualidade dos reflexos do grupo A antes da realização do bloqueio 14,81% dos animais apresentaram
o reflexo tibial cranial diminuído e 85,19% normal, enquanto que após o bloqueio 25,93% apresentou diminuído e
74,07% normal (tabela 1). No grupo B 55,17% apresentou o reflexo extensor radial do carpo diminuído e 44,83%
normal, antes do bloqueio do plexo braquial. Após o bloqueio, 68,96% apresentou o reflexo diminuído e 27,59%
normal (tabela 2). Frente às respostas diminuídas desses reflexos antes do bloqueio anestésico, e se tratando de animais
que não apresentavam disfunção neurológica, pode-se concordar com De Lahunta & Glass (2009) quando citam que a
ausência dos reflexos extensor radial do carpo e do tibial cranial, pode ser irrelevante, pois estes reflexos podem não
estar presente em todos os animais sadios. Sendo para ele os únicos reflexos confiáveis no membro torácico: o flexor, e
no pélvico o flexor e o patelar. Tendo que discordar de Oliver (1983) e Lorenz e Kornegay (2006) que citam que o
extensor radial do carpo é o reflexo mais previsível.
Em todos os animais de ambos os grupos, os reflexos, estando normais ou diminuídos, permaneceram presentes após
o bloqueio anestésico, com a exceção de um animal (3,45%), cujo reflexo extensor radial do carpo se tornou ausente.
Diante da presença do reflexo em 96,55% dos animais desse grupo é provável que a execução da percussão no músculo
para o desencadeamento do reflexo não tenha sido bem executada, já que é um reflexo de difícil execução e
interpretação segundo Garibaldi (2003) e Braund & Sharp (2007).
Diferente do que foi relatado em bezerros por Borges et al. (1997), e em cordeiros por Mendes et al. (2007), onde o
reflexo extensor radial do carpo é um reflexo confiável para ser testado nessas espécies, este trabalho ressalta que esse
reflexo não é apropriado para avaliação neurológica na espécie felina, concordando com Braund & Sharp (2007), De
Lahunta & Glass (2009) e Tudury et al (2012).
Em relação à presença dos reflexos antes e após o bloqueio anestésico, o resultado estatístico em ambos os grupos,
não foi significativo tendo P=0,013 com nível de significância de 1%. Ou seja, em todos os animais estes reflexos,
diferentemente dos outros, permaneceram mesmo após o bloqueio do nervo responsável pelo reflexo. Isso nos leva a
acreditar que os reflexos extensor radial do carpo e o tibial cranial não dependem só de um arco reflexo, podendo não
ser respostas por reflexos miotáticos, sendo talvez apenas uma resposta muscular.
A permanência dos reflexos extensor radial do carpo e o tibial cranial em animais com severas lesões dos nervos
radial e ciático, em membros amputados e em animais com lesões nos segmentos medulares correspondentes aos
reflexos, onde deveriam estar diminuídas ou ausentes, já foi relatada em cães (Tudury et al., 2012) pelos autores deste
trabalho. A permanência desses reflexos após os bloqueios justifica, neste caso em gatos, não utiliza-los na sua
avaliação neurologica.
Frente aos resultados da pesquisa conclui-se que os reflexos extensor radial do carpo e o tibial cranial podem não ser
reflexos miotáticos, não dependendo do arco reflexo para ocorrerem. Sendo assim, seriam reflexos não confiáveis para o
exame neurológico de gatos.

Agradecimentos
A CAPES, pela bolsa oferecida, que me ajudou na realização desta pesquisa. .

Referências
Arias, M. V. B.; Stopiglia, A. J. Avulsão do plexo braquial em cães -1. Aspectos clínicos e neurológicos. Ciência rural.
v.27, n.1, p.75-80, 1997.

Borges, A.S.; Sapatera, A.C.; Mendes, L.C.N. Avaliação dos reflexos espinhais em bezerros. Ciência Rural, v.27, n.4, p.
613-617, 1997.

Braund, K. G. Neurological examination. IN:__. Clinical Syndromes in Veterinary Neurology. 2 ed. St. Louis: Mosby,
1994. Cap.1, p.1-36.

Braund, K. G.; Sharp, N. J. H. Exame e localização neurológicos. In: Slatter, D. Manual de cirurgia de pequenos
animais. 3. ed. São Paulo: Manole, 2007. Cap. 74, p. 1092-1108.

DeLahunta, A.; Glass, E. Lower motor neuron: spinal nerve, general somatic efferent system. In: ___. Veterinary
neuroanatomy and clinical neurology. 3. ed. St. Louis, Missouri: Saunders Elsevier, 2009. Cap.5, p. 77-133.
XIII JORNADA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO – JEPEX 2013 – UFRPE: Recife, 09 a 13 de dezembro.

Fernández, V.L.; Bernardini, M. Neuroanatomia. In:__. Neurologia em Cães e Gatos. 1 ed., São Paulo: MedVet, 2010.
Cap. 1, p.1-42.

Forterre, F; Tomek, A.; Rytz, U. Brunnberg, L.; Jaggy, A.; Spreng, D. Iatrogenic sciatic nerve injury in eighteen dogs
and nine cats (1997–2006), Veterinary surgery. v. 36, p. 464–471, 2007.

Garibaldi, L. Exame neurológico. In: Pellegrino, F. C.; Suraniti, A.; Garibaldi, L. Síndromes Neurológicas em Cães e
Gatos. São Paulo: Interbook, 2003. Cap.3, p.40-79.

Lorenz, M.D.; Kornegay, J.N. Localização das Lesões no Sistema Nervoso. In:__. Neurologia Veterinária. 4 ed. São
Paulo: Manole, 2006. Cap.2, p.45- 74.

Mendes, L.C.N.; Nogueira, G.M.; Borges, A.S.; Peiró, J.R.; Feitosa, F.L.F. Avaliação do reflexos espinhais em
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OLIVER, J.E. Neurologic Examinations. IN:OLIVER, J.E.; LORENZ, M.D. Handbook of Veterinary Neurologic
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SuranitI, A. P.; Gilardoni, L. R. ; Rama Llal, M. G.; Echevarría, M.; Marcondes, M. Hypothyroid associated
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Thomas, W. B. Initial assessment of patients whit neurologic dysfunction. Veterinary Clinics of North America: Small
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Webb, A. A. Intradural spinal arachnoid cyst in a dog. Canine Veterynary Journal, v. 40, p. 588-589, 1999.

Tabela 1. Frequência e qualidade das respostas obtidas para o reflexo tibial cranial em gatos antes a após o
bloqueio anestésico.

Qualidade Reflexo tibial cranial


antes % (n) após % (n)
0 0 (0) 0 (0)
+1 14,81 (8) 25,93 (14)
+2 85,19 (46) 74,07 (40)
+3 0 (0) 0 (0)
0 (ausente), +1 (diminuído), +2 (normal), +3 (aumentado)

Tabela 2. Frequência e qualidade das respostas obtidas para o reflexo extensor carpo radial em gatos antes a
após o bloqueio anestésico.

Qualidade Reflexo extensor carpo radial


antes % (n) após % (n)
0 0 (0) 3,45 (1)
+1 55,17 (16) 68,96 (20)
+2 44,83 (13) 27,59 (8)
+3 0 (0) 0 (0)
0 (ausente), +1 (diminuído), +2 (normal), +3 (aumentado)

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