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ARTIGO ORIGINAL

Efeito da natação na regeneração do nervo ciático


após neurotmese experimental.
Effect of swimming in sciatic nerve regeneration after experimental neurotmesis.

Deniele Bezerra Lós1; Ivson Bezerra da Silva2; Kamilla Dinah Santos de Lira3; Rodrigo Fragoso de
Andrade4; Sílvia Regina Arruda de Moraes5*;

RESUMO ABSTRACT
Introdução: Lesões em nervos periféricos podem Introduction: Injuries in peripheral nerves can
comprometer irreversivelmente a funcionalidade do irreversibly impair the functionality of the affected
membro acometido. Objetivo: Avaliar o efeito da limb. Objective: To evaluate the effect of
natação sobre a regeneração do nervo ciático após swimming in water on the sciatic nerve
lesão por neurotmese experimental. Metodologia: regeneration after injury by neurotmesis.
Foram utilizados 14 ratos machos (Wistar) Methodology: It was used 14 male rats (Wistar)
divididos em Grupo Controle (GC, n=4), Grupo separated in Control Group (GC, n = 4), Group
Lesão Sem Natação (GLSN, n=5) e Grupo Lesão Swimming without Injury (GLSN, n = 5),
Natação (GLN, n=5). Completados 60 dias, o grupo Swimming Injury Group (GLN, n = 5). After 60
GLN foi adaptado ao meio aquático, durante 5 dias, days, the GLN was adapted to the water for 5 days,
em tempo crescente de atividade na água. Os increasing time of activity in the water. GLN and
grupos GLN e GLSN foram submetidos à GLSN underwent neurotmesis sciatic nerve of the
neurotmese do nervo ciático da pata direita. right foot. After 48 hours on the injury, the GLN
Transcorridas 48 horas após a lesão, o grupo GLN was subjected to a protocol of swimming lasting 30
foi submetido a um protocolo de natação com minutes, 5 times a week, for 28 days. At the same
duração de 30 minutos, 5 vezes por semana, time, the GLSN was underwent to water stress.
durante 28 dias. Obedecendo ao mesmo período de After 120 days, was performed in all animals, the
tempo, o grupo GLSN foi submetido a um estresse collection of the sciatic nerve for
aquático. Aos 120 dias de vida, foi realizada, em histomorphometric analysis. Statistical analysis was
todos os animais, a coleta do nervo ciático para performed using the ANOVA and Tukey´s post-hoc
análise histomorfométrica. A análise estatística foi test expressed as mean ± standard deviation, using
realizada através do teste ANOVA e o pós-teste de 5% level of significance. Results: Was identify an
Tukey expresso em média ± desvio padrão, equivalent number of myelin fibers in the GLN and
utilizando nível de significância de 5%. GLSN, but lower than the GC. There was an
Resultados: Foi verificado um número equivalente increase in the number of newly formed vessels in
de fibras mielínicas no GLN e GLSN, porém GLN, compared to the GC and the GLSN.
inferiores ao GC. Houve aumento no número de Conclusion: The exercise protocol used in this
vasos neoformados no GLN, em relação ao GC e ao study suggests an increase in neovascularization in
GLSN. Conclusão: O protocolo de natação the nerve injured of the animals without
utilizado neste estudo promoveu um aumento na compromising the regenerative process.
neovascularização do nervo em animais lesionados,
sem comprometer o processo regenerativo. Key words: Peripheral Nerve Injury, Vasa
Nervorum, Sciatic Nerve, Peripheral Nervous
Descritores: Traumatismos dos Nervos Periféricos, System, Nerve Regeneration.
Vasa Nervorum, Nervo Ciático, Sistema Nervoso
Periférico, Regeneração Nervosa.
1
Fisioterapeuta; Doutoranda pelo Programa de Biotecnologia/RENORBIO-UFPE, Recife.
2
Fisioterapeuta; Doutor pelo Programa de Ciências Morfofuncionais-USP. 3Prof. Adjunto do
Departamento de Fisioterapia-UFC, Ceará; 4Doutor em Neuropsiquiatria e Ciências do Comportamento
– UFPE. 5*Profª. Associada do Departamento de Anatomia-UFPE; Doutora em Ciências
Morfofuncionais – USP.
* Autor correspondente: e-mail: sramoraes@gmail.com

Recebido em: 23-06-2015


Aprovado em: 16-02-2016
Efeito da natação na regeneração nervosa

INTRODUÇÃO avaliaram a associação de neurotmese e


A regeneração nervosa periférica é exercício, apenas investigaram os
um assunto de bastante interesse no meio resultados obtidos sobre a musculatura
científico em virtude dos distúrbios desnervada, não avaliando, portanto, os
motores e sensitivos decorrentes do resultados dessa intervenção na estrutura
acometimento desta estrutura. As lesões nervosa lesionada (3).
dos nervos periféricos repercutem Tendo em vista a carência e
negativamente na realização das atividades divergências das informações sobre o
de vida diária de um indivíduo, tema, o presente estudo teve por objetivo
ocasionando transtornos que podem avaliar o efeito do exercício aquático na
comprometer também as atividades fase aguda da regeneração do nervo
laborais do mesmo, gerando custos à periférico após lesão por neurotmese.
sociedade (1).
Assim, tanto o ambiente que METODOLOGIA
envolve o nervo lesionado quanto os A amostra foi constituída por 14
métodos que potencializem a regeneração, ratos albinos, da linhagem Wistar,
quando aplicados em tempo hábil, podem provenientes da colônia de criação do
ser determinantes para o crescimento biotério do Departamento de Nutrição da
axonal, reduzindo a perda funcional do Universidade Federal de Pernambuco –
músculo desnervado (2,3). UFPE. Os animais foram alojados em
Uma forma de reparo cirúrgico que gaiolas plásticas de propileno (49 x 34 x 16
vem sendo utilizada em estudos cm) e mantidos no biotério de
experimentais de secção nervosa completa experimentação do Departamento de
é a técnica de tubulização (4,5). Esta Anatomia da UFPE, sob temperatura de 23
consiste na aproximação dos cotos do  2 C, com ciclo invertido de luz (19 às 7
nervo periférico seccionado, podendo ser h) e escuridão (7 às 19 h), com livre acesso
otimizada pela adição de fatores à ração e água filtrada.
neurotróficos dentro do tubo, maximizando O presente estudo foi aprovado pela
o processo regenerativo (4,6). Comissão de Ética em Experimentação
Além dos procedimentos Animal da Universidade Federal de
cirúrgicos, buscas contínuas têm sido Pernambuco (Ofício nº 359/11 – Processo
realizadas na tentativa de encontrar meios nº 23076.048891/2010-87).
não invasivos que maximizem o processo
regenerativo do nervo periférico, dentre Grupos Experimentais
eles a realização de exercício aquático Os animais foram distribuídos
(7,8). aleatoriamente em três grupos
Entretanto, ainda são muito experimentais: Grupo Controle (GC, n=4),
escassos os estudos acerca da utilização do que corresponde ao grupo que não sofreu
meio aquático no tratamento de lesão nenhuma intervenção cirúrgica ou
nervosa periférica e, mesmo estes, utilizam exercício de natação; Grupo Lesão Sem
protocolos de exercício físico diferentes, Natação (GLSN, n=5), composto por
chegando a resultados divergentes, o que animais que sofreram lesão nervosa
torna difícil concluir sobre a eficácia da periférica e tiveram apenas o contato com
utilização de exercício na água durante o uma pequena lâmina de água para
processo de regeneração nervosa (9–11). reproduzir o estresse da água; Grupo
Outro aspecto a ser destacado é que Lesão-Natação (GLN, n=5), composto por
grande parte dos estudos analisaram o animais que após sofrerem lesão nervosa
efeito do exercício aquático sobre a periférica, foram submetidos à prática de
regeneração do nervo em lesão por exercício de nado livre.
esmagamento (12,13) e os estudos que

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Procedimento Cirúrgico um termostato, nadando por 30 minutos ao


Ao atingirem a idade de 60 dias, os dia, 5 vezes por semana, ao longo de 60
animais foram pré-anestesiados com dias.
atropina (0,044 mg/Kg), 10 minutos antes Os animais do GLSN foram
de serem anestesiados com uma solução de colocados em contato com uma pequena
xilazina a 2% (Rompun® – Bayer) e coluna de água (5cm), o suficiente para
quetamina (Ketalar®) na proporção de 1:1, deixar as patas em contato com a água,
por via intramuscular, em uma quantidade promovendo o estresse aquático, pelo
de 0,2 ml da solução para cada 100 g de mesmo período de tempo que o GLN foi
peso do animal. Em seguida, realizou-se submetido.
uma incisão cutânea na região posterior da Após esses procedimentos, os
coxa para que os músculos glúteos máximo animais do GLN e GLSN foram
e médio e os isquiotibiais pudessem ser parcialmente enxugados com toalha de
rebatidos, expondo o nervo ciático. A lesão algodão seca e transferidos para uma
nervosa realizada ocorreu a uma distância câmara de aquecimento para secagem dos
de 1 cm proximal à bifurcação do nervo. O pelos antes de retornarem ao biotério. Os
defeito foi imediatamente reconstituído animais do GC permaneceram todo o
com um tubo de polietileno (comprimento tempo do experimento em suas gaiolas.
médio: 9 mm e diâmetro médio: 2,3 mm)
preenchido com solução de matrigel Processamento e Análise dos Dados
(MatrigelTM BD Biosiensce) (33%) e Os animais foram anestesiados
salina, ficando os cotos neurais separados sessenta dias após a lesão nervosa,
por uma distância de 5 mm. O epineuro foi seguindo os mesmos padrões utilizados no
suturado a um ponto situado a 2 mm de procedimento cirúrgico inicial, e foi
distância da extremidade do tubo. As realizada a coleta do fragmento nervoso
extremidades do nervo foram neoformado, presente no interior do tubo
completamente introduzidas no interior do de polietileno.
lúmen do tubo a fim de produzir um O fragmento do nervo ciático foi
compartimento fechado (14). pré-fixado por gotejamento de 1 ml de
solução Karnowisky (glutaldeído 2,5%,
Protocolo de Natação paraformaldeído 4% e 0,1 M tampão
Este estudo adotou o protocolo de cacodilato de sódio, pH = 7,4) 1 minuto
Nunes e Mello (3), com modificação no antes da coleta do nervo e pós-fixado com
tempo de realização do exercício, que teve tetróxido de ósmio 1%.
duração de 30 minutos e realização de O material foi processado e
estresse aquático nos animais grupo emblocado em resina Epóxi. Foram
controle. Os animais do GLN passaram por realizados cortes histológicos semi-finos
um período de adaptação ao meio aquático (0,5 µm de espessura), transversais ao
durante cinco dias, antes da intervenção comprimento do fragmento nervoso e
cirúrgica. Nos três primeiros dias, os corados com solução de azul de toluidina
animais nadaram por 10, 20 e 30 minutos, 1% para a análise histomorfométrica.
respectivamente, mantendo uma duração Os cortes foram analisados através
de 30 minutos nos dois dias restantes. de um microscópio óptico (Olympus –
Transcorridas 48 horas após a lesão BX50, aumento de 1000x) conectado a
experimental, os animais do GLN foram uma vídeo-câmera (Samsung – SHC-410
colocados em um tanque com dimensões NAD) e a um computador contendo o
de 60 x 50 x 40 cm (Comprimento x software TV Tuner Application para
Diâmetro x Profundidade), contendo uma captura das imagens. Foram utilizados os
coluna de 30 cm de água aquecida em programas Mesurim Pro 0.8 para contagem
temperatura de 32 ± 1ºC, controlada por do número de fibras e vasos sanguíneos e

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ImageJ para mensuração dos diâmetros das


fibras mielínicas e dos diâmetros axonais
para, em seguida, ser calculada
indiretamente a variável espessura da
bainha de mielina.

Análise Estatística
A análise dos dados foi realizada
através do programa PASW Statistics 18,
utilizando o teste de Kolmogorov-Smirnov
para verificar a normalidade das variáveis
em estudo. Em seguida, foi utilizado o Figura 1. Fotomicrografia de fibras mielínicas
teste de ANOVA oneway e o pós-teste de (cabeça de seta) e vasos (seta) do nervo
Tukey para verificar entre quais amostras ciático: GC (Grupo Controle), GLN (Grupo
G e GLSN (Grupo Lesão Sem
Lesão Natação)
houve diferença. Os resultados foram
L
Natação). Cortes transversais semi-finos (0,5
expressos em média ± desvio padrão, G
µm). Coloração:
N Azul de Toluidina, 400x.
utilizando nível de significância de 5%. L
A análise histomorfométrica
GL
revelou que o padrão de regeneração dasN
RESULTADOS N
fibras mielínicas foi similiar entre os
Foi observado na coleta, em todos
animais dos dois grupos submetidos à
os animais dos GLSN e GLN, a presença
secção total do nervo ciático (GLSN e
de um fragmento regenerado unindo
GLN), apresentando menores diâmetros das
novamente os cotos proximal e distal do fibras mielínicas (p<0,01) e espessura da
nervo ciático transeccionado, no interior do bainha de mielina em relação ao GC (p<0,01).
tubo guia de polietileno. Assim, nos três Contudo, o GLSN apresentou menor
grupos estudados, as fibras nervosas dimensão no parâmetro diâmetro axonal
demonstram uma disposição uniforme e
em relação ao controle, enquanto que o
direcionadas em um único sentido ao corte
transversal (Figura 1). GLN teve valores similares ao GC. (Tabela
1).
Tabela 1. Quantificação das fibras mielínicas e vasa nervorum nos diferentes grupos experimentais
apresentados em valores médios ± desvio padrão.
Grupo Fibras Vasos sanguíneos Ø axonal Ø das fibras Espessura
Experimental mielínicas (µm) (µm) da mielina
(µm)
GC 8370 ± 701 53 ± 11 4.54 ± 1.42 7.44 ± 1.39 1.45 ± 0.22
GLSN 5820 ± 712a 47 ± 6 2.96 ± 0.22a 4.16 ± 0.33a 0.60 ± 0.09a
GLN 5512 ± 575a 74 ± 10a,b 3.35 ± 0.31 4.75 ± 0.47a 0.70 ± 0.08a
Ø = Diâmetro; GC = Grupo Controle; GLSN = Grupo Lesão Sem Natação; GLN = Grupo Lesão
Natação. aDifere do GC, bDifere do GLSN. Valores expressos em média ± desvio-padrão, utilizando o
Anova, pós-teste Tukey, p<0,05.
Por outro lado, com relação a Enquanto que o grupo lesionado
quantificação dos vasos sanguíneos que não foi submetido ao protocolo de
intraneurais, em cada grupo experimental, natação não teve aumento na formação
foi verificado que o grupo GLN teve uma angiogênica, apresentando quantitativo de
angiogênese potencializada, apresentando vasa nervorum semelhante ao GC (Tabela
valor médio do número absoluto de vasa 1).
nervorum superior ao encontrado no GC e DISCUSSÃO
também no GLSN. A neurotmese é a injúria traumática
mais severa que pode ocorrer ao sistema

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nervoso periférico. Além da lesão por exercício físico de natação, aplicado


descontinuidade, o nervo sofre uma imediatamente após a tubulização dos
perturbação fisiológica, impossibilitando fragmentos nervosos (3), também não
que ocorra uma regeneração espontânea interferiu negativamente no processo de
suficiente para restaurar a função do regeneração axonal, uma vez que não
membro desnervado (8,15). foram observadas diferenças no número de
Dessa forma, o reparo cirúrgico fibras regeneradas para os dois grupos
torna-se uma prática indispensável para lesionados, associado ou não à natação,
esse tipo de lesão, assim como a utilização nem tampouco desorganização na
de recursos terapêuticos concomitante ao disposição das fibras no interior do nervo.
período de reparação do tecido nervoso Utilizando um protocolo
(8,16). Entretanto, a prática clínica da semelhante de exercício em meio aquático,
fisioterapia carece de um consenso sobre outro estudo de lesão nervosa por
os efeitos e benefícios da hidroterapia no esmagamento do nervo ciático, verificou
período pós-operatório, a fim de que a natação proporcionou um efeito
potencializar a regeneração ou minimizar positivo na recuperação do diâmetro dos
complicações como edema, atrofia axônios, não sendo observado o mesmo
muscular, neuromas, comprometimento efeito para o diâmetro das fibras nervosas e
circulatório, perda de mobilidade articular espessura da bainha de mielina (13).
e de força muscular (7,8,16,17). Considerando que o nosso estudo investiga
Já foi constatado uma lesão nervosa mais severa,
experimentalmente que o exercício de verificamos que mesmo assim, o axônio
natação sem sobrecarga evita danos à regenerou de forma satisfatória com o
bainha de mielina, servindo como exercício aquático, diferentemente do
prevenção ou tratamento de grupo lesionado sem esta intervenção.
comprometimento nervoso por diabetes, Nunes e Mello (3), cujo protocolo
promovendo aumento da espessura da de exercício foi adotado nesse estudo,
bainha de mielina em nervo periférico (18). embora tenham realizado lesão nervosa
Na lesão nervosa traumática, é experimental por neurotmese, não
essencial que o período de reinervação analisaram a estrutura nervosa e sim a
esteja associado à reabilitação sensório- musculatura desnervada, de forma que, nos
motora do membro acometido e, nesse animais submetidos ao exercício aquático,
sentido, a terapia em meio aquático pode foi observado melhora no aporte e
ser um bom coadjuvante nesse processo, utilização de glicose pela musculatura
por se valer dos efeitos da água aquecida desnervada, bem como sua resposta a
para reduzir contraturas articulares e insulina. Associando estes aos achados do
eliminar os efeitos da gravidade durante a nosso estudo, podemos considerar o
fase inicial da recuperação motora (16). benefício à musculatura desnervada
A realização de intervenção na fase proporcionado pelo natação, sem
aguda e tardia da regeneração pós- comprometer o processo de regeneração
axonotmese, com exercícios de nado livre, das fibras nervosas.
demonstrou não haver diferença na Há, contudo, uma grande escassez
resposta regenerativa, independente do de trabalhos que analisem os efeitos do
período em que foi iniciado o exercício (9). exercício aquático na regeneração de lesão
Entretanto, não há relatos na literatura completa de nervo periférico, de modo que
sobre os resultados desse tipo de os nossos resultados não puderam ser
intervenção na regeneração da lesão confrontados com os de estudos
nervosa completa. semelhantes, revelando a importância de se
No presente estudo utilizando-se realizar novas pesquisas acerca dos
um modelo de lesão por neurotmese, o mecanismos de recuperação dessa injúria

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que é classificada como sendo a mais CONCLUSÃO


severa ao tecido nervoso periférico (8,16). Os resultados deste estudo sugerem
Neste estudo, não foi possível que a intervenção precoce em meio
determinar se a natação promoveu aquático, após reparo cirúrgico de uma
maturação axonal no segmento lesão nervosa periférica completa, não
comprometido, contudo, as imagens dos compromete o processo regenerativo das
fragmentos nervosos regenerados fibras nervosas e estimula a
demonstraram disposição unidirecional das neovascularização fisiológica da vasa
fibras nervosas no interior do nervo, nervorum.
indicando que os animais dos grupos GLN
e GLSN tiveram crescimento axonal bem REFERÊNCIAS
orientado, provavelmente em decorrência 1. Mendes RM, Arnaut AC, Barbosa RI,
da atuação de fatores neurotróficos, Elui VMC, Fonseca MDCR. Efeitos de
imprescindível para o retorno da condução um protocolo de reeducação sensorial
nervosa (16), sugerindo que a prática de da mão: estudo de caso. Fisioter e
natação nesse estágio da regeneração não Pesqui. 2008;15(4):397–401.
desfavoreceu a reestruturação do tecido 2. Ilha J, Araujo RT, Malysz T, Hermel
nervoso. EES, Rigon P, Xavier LL, et al.
O processo regenerativo segue uma Endurance and resistance exercise
programação de ações coordenadas, training programs elicit specific effects
imediatamente após a injúria. O on sciatic nerve regeneration after
crescimento do novo broto axonal deve experimental traumatic lesion in rats.
ocorrer através dos troncos nervosos Neurorehabil Neural Repair.
degenerados, até atingir o segmento distal 2008;22(4):355–66.
do nervo. Contudo, para que isso ocorra, é 3. Nunes WMS, Mello AMR de.
necessário um microambiente favorável Metabolismo glicídico em ratos
para suprir a demanda metabólica e dar submetidos à desnervação do músculo
suporte adequado ao grande número de esquelético e ao exercício de natação.
axônios regenerados. Por esse motivo, as Rev Bras Med do Esporte.
etapas desse processo são diretamente 2009;15(1):42–5.
dependentes da microcirculação nervosa, 4. Cartarozzi L, Spejo A, Ferreira RJ,
conhecida como vasa nervorum (19). Barraviera B, Duek E, Carvalho J, et al.
Foi verificado por Pachioni e cols. Mesenchymal stem cells engrafted in a
(20), em lesão por axoniotmese, que a fibrin scaffold stimulate Schwann cell
intensidade de lesão dos vasos intraneurais reactivity and axonal regeneration
e a formação de hematoma endoneural são following sciatic nerve tubulization.
diretamente relacionadas ao aumento da Brain Res Bull Bull.
carga de esmagamento neural, fator este 2015;Mar.(112):14–24.
que pode interferir no processo 5. Zhang P, An S, Wang G, Wang Y,
regenerativo. Chen B, Wang Z, et al. Pain
O estado isquêmico iniciado a partir assessment of biological conduit small
de uma lesão promove a liberação de gap tubulization in rat sciatic nerve
fatores angiogênicos, que irão conduzir a multilation model. J Peking Univ Hear
angiogênese de modo proporcional ao Sci. 2013;45(5):675–8.
bloqueio da perfusão (21). É possível que o 6. Sénès FM, Catena N, Sénès J. Use of
exercício aquático realizado neste estudo tubulization (nerve conduits) in
tenha estimulado a liberação de fatores repairing nerve defects in children.
angiogênicos, desencadeando o aumento Indian J Orthop. 2013;49(5):554–60.
neovascular verificado no segmento 7. Bond TJ, Lundy J. Physical therapy
regenerado. following peripheral nerve surgeries.

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recuperação funcional nervosa em um 2):89–96.
modelo de defeito agudo em nervo

AGRADECIMENTOS
À prestatividade e disponibilidade de todos do Laboratório de Microscopia do Centro
de Tecnologia Estratégicas do Nordeste (CETENE) e do Departamento de Cirurgia
Experimental – UFPE.

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