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SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE CIÊNCIAS INTEGRADAS

DA UNAERP GUARUJÁ
Neurogênese e reabilitação: breve atualização
Mônica Silvia Rodrigues de Oliveira
Professora do Curso de Fisioterapia
Universidade de Ribeirão Preto – campus Guarujá
monica.silvia@r7.com
Cleber Alexandre de Oliveira
Professor do Curso de Fisioterapia
Universidade Camilo Castelo Branco
cleber.fisio@yahoo.com.br
Este simpósio tem o apoio da Fundação Eduardo Lee
Resumo
Atualmente sabe-se que o processo de neurogênese (formação de novos
neurônios) ocorre no cérebro adulto de várias espécies. Estudos têm
mostrado que este processo pode ser influenciado por uma gama de
estímulos. Nessa breve atualização, a relação entre a neurogênese e a
reabilitação será evidenciada.
Palavras-chave: cérebro, neurogênese e reabilitação
Seção 1 - Curso de Fisioterapia – Meio Ambiente
Apresentação oral
1. Introdução
Entre o final do século XIX e o começo do século XX, pesquisadores
interessados no estudo do processo de desenvolvimento do sistema nervoso
central (SNC), relataram que o cérebro permaneceria fixo após o
nascimento.1-2 Nesta fase, a frase de RamoNe Cajal, ganhador do Nobel de
medicina de 1906, ficou bastante conhecida ao relatar “que as vias
neuronais no SNC dos adultos são fixas e imutáveis; todas as células
deverão morrer e não ocorrerá regeneração. Talvez, no futuro, a ciência
mude esta lei”.3 Assim sendo, na metade do século XX, estudos
experimentais sugeriram um processo de divisão celular no cérebro de ratos
após o nascimento,4-6 no entanto não estava elucidado se esta divisão
acarretaria em diferenciação para neurônios e células gliais. Em seguida,
Altman, observou a formação de novos neurônios em estruturas cerebrais,
como o giro dentado de animais jovens e adultos e denominou-os de
“microneurônios”, pois eram células com axônios curtos, envolvidos com os
processos de aprendizagem e memória, porém estes resultados foram
ignorados.7-10 Kaplan mostrou que estas células possuíam características de
neurônios, com o surgimento da microscopia eletrônica,.11Mas apenas na
década de 90, que o avanço do estudo da neurogênese ocorreu, devido ao
desenvolvimento de uma substância sintético, chamada BrdU, um marcador
de células em proliferação (fase S da mitose).11
Neste sentido, o processo de neurogênese no SNC de adultos passou a
ser relatado em muitas espécies incluindo a humana.12-19 Existem áreas de
localização das células progenitoras capazes de gerar novos neurônios
durante a fase adulta.19-20 Essas áreas incluem a zona subventricular dos
ventrículos laterais (ZSV) e a zona subgranular do giro dentado (ZSG) da
formação hipocampal. Estudos experimentais realizados em roedores
mostram que as células progenitoras da ZSV migram para o bulbo olfatório e
após, migram em direção às camadas celulares, onde se diferenciam em
neurônios, interneurônios, astrócitos e oligodendrócitos.21 As células
granulares do giro dentado do hipocampo são as que apresentam a
propriedade de neurogênese pós-natal.7,18 A produção de novas células foi
estimada em 1 neurônio/2000 células granulares existentes, ou seja: em um
camundongo de 3 meses são produzidas centenas de células por dia. No rato
adulto, as células progenitoras se encontram na ZSG do giro dentado,
proliferando e migrando continuamente para a camada de células
granulares22-23, as quais desenvolvem morfologia típica desta região24,
expressam marcadores de diferenciação neuronal23 e estendem seus axônios
para a via de fibras musgosas, que se projeta para a região CA3 do
hipocampo.25
2 . Fatores que influenciam a neurogênese
Estudos têm mostrado que o processo de neurogênese (formação de
novos neurônios) no SNC adulto é estimulado de várias maneiras. Debassio
et al. (1995) demonstraram em estudo experimental que a desnutrição na
fase intra-uterina causado por déficit de proteína, alterou a neurogênese
após o nascimento no giro dentado da formação hipocampal, a qual não foi
recuperada após o nascimento mesmo com a reabilitação nutricional.26-27
Kempermann et al. (1997), mostraram um aumento da neurogênese na
mesma região cerebral de animais que vivem em ambientes enriquecidos.22
Inicialmente, um estudo utilizando o modelo experimental de epilepsia
induzida pela pilocarpina, foi observado um aumento sustentado de divisão
mitótica na ZSG, após o episódio inicial de status epilepticus28-30. Em outro
estudo experimental, Liu et al relataram um aumento de até cinco vezes
desta proliferação durante um período de 9 a 12 dias após isquemia
transitória.31 A influência hormonal na neurogênese também foi verificada.
Tanapat et al demonstraram que o aumento fisiológico de estrogênio do ciclo
estral de ratas adultas estimula a produção de células granulares na região
do giro dentado32. Van Praag et al., demonstrou um aumento da proliferação
no giro dentado de animais submetidos ao exercício físico.33 Por outro lado,
uma diminuição da proliferação celular na mesma região do hipocampo foi
observada em um modelo experimental de diabetes.34 Uma diminuição da
neurogênese na região do giro dentado foi observada num modelo
experimental de isquemia, que utilizou o ácido acetilsalicílico como forma de
tratamento.35 Em outro estudo utilizando a administração de etanol, Nixon e
Crews demonstraram uma redução da neurogênese no giro dentado de
ratos.36 Uma redução da neurogênese também foi observada em animais,
causada pela por processo de inflamação.37 Todavia, em pacientes com
Doença de Alzheimer foi observado um aumento da proliferação celular na
formação hipocampal.38
A depressão também tem sido associada à neurogênese. Em um estudo
de imagem foi mostrado uma diminuição do volume hipocampal de mulheres
idosas com depressão, comparado a mulheres idosas sem a patologia, o que
foi associado a uma neurotoxicidade mediada pelo estresse, através da
liberação de glicocorticóide em excesso. Em seguida, este mesmo grupo
relatou a presença de atrofia hipocampal nos pacientes com depressão
relacionando com o período de duração da doença e não da idade. Mais
recentemente, estudos experimentais têm associado que o estresse no
período pré-natal promove a redução da neurogênese hipocampal na fase
adulta . 39
3. Reabilitação e neurogênese
O aprendizado motor é um campo de estudo que explora os processos
cognitivos associados com a prática ou experiência que leva a habilidade
motora melhorada. Existe um consenso na literatura sobre o fato de que
tarefas motoras induzem mudanças plásticas e dinâmicas no SNC e que as
conexões neurais podem ser remodeladas pelas nossas experiências e
também durante o aprendizado.40 Os profissionais de reabilitação têm
ampliado seu conhecimento dos princípios do aprendizado motor e como
resultado têm modificado o modo pelo qual estruturam a prática dos
pacientes e fornecem feedback. Historicamente, a formação hipocampal tem
sido relacionada com os processos de memória e aprendizagem.39
Atualmente, sabe-se que esta estrutura cerebral sofre influência de diversos
estímulos que acarretam em alteração do processo de neurogênese. Do ponto
de vista clínico, o exercício é uma ferramenta eficaz no tratamento e
reabilitação de diversas patologias e sua influência na neurogênese tem sido
descrita. Van Praag et al., mostraram que o exercício físico aumenta a
proliferação celular na região do giro dentado em animais.41 Nesse sentido,
as bases da reabilitação motora e funcional poderiam estar amplamente
envolvidas com este processo, estimulando de maneira positiva a formação
hipocampal, contribuindo assim para a reabilitação não apenas motora ou
funcional mas também do sistema nervoso e do indivíduo como um todo.

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