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Lucio, 40 anos, foi internado após tentativa de suicídio.

Quando você vai


entrevistá-lo percebe que ele encontra-se alheio a tudo à sua volta. Nada desperta seu
interesse. É necessário repetir as perguntas, por vezes é preciso chamá-lo pelo nome
para que ele ouça o que está sendo perguntado. Você percebe que a anamnese o
está fazendo sofrer ainda mais, sendo assim, por respeito ao estado dele resolve não
perguntar mais nada e somente ficar ao seu lado. Quando ele percebe, pergunta:
“você não vai ficar me enchendo de perguntas?” Você responde que não, que vai ficar
ali com ele, mas que se ele decidir voltar ao leito, não tem problema. Ele agradece, diz
“outro dia falo com você” (SIC) e volta para seu leito. Após uma melhora ele procura
você e pergunta: “posso falar sobre umas coisas?” Você responde que sim e ele diz
“No dia do batismo do meu filho eu tive um sonho, com um acontecimento real de
minha infância. Quando eu tinha 11 anos meu irmão mais novo nasceu e meu pai,
irritado com o choro dele, arrancou-o do colo da minha mãe e disse que iria jogá-lo no
fogo. O pessoal da fazenda tinha passado o dia marcando gado e os ferros ainda
estavam na fogueira, fui atrás do meu pai e ele ficou ainda mais enfurecido, jogou o
bebê no chão, mas minha mãe conseguiu pegá-lo; com um ferro de marcar gado
queimou minhas costas, nós nunca reagíamos à violência dele, mas naquele dia eu
revidei, passei uma rasteira nele, joguei ele na fogueira e bati com toda minha força
com o ferro em brasa na cabeça dele ... (faz uma pausa) até hoje não sei se matei
meu pai. Minha mãe nos reuniu e fugimos. Depois desse sonho acordei muito
cansado, esse cansaço foi aumentando cada vez mais, pedi férias no trabalho, porém
não adiantou, percebi que estava piorando, parei de frequentar também as aulas do
Doutorado, hoje fico o dia todo olhando pela janela ... (faz uma pausa) eu acabei de
ser pai, meu filho tem três meses, não consigo chegar perto dele ... (faz uma longa
pausa) tenho medo, ouço o ajudante do diabo mandando eu me jogar pela janela, ele
queima minhas costas com o tridente dele; no dia que eu tentei me matar foi porque
percebi que o próprio diabo tinha chegado, senti um cheiro horrível de enxofre e carne
podre que se espalhou pelo apartamento todo, eu sei o que ele quer, quer que eu
mate meu filho, não farei isso nunca, morrendo é a certeza absoluta de que meu filho
vai viver ...” (SIC). Esta conversa se prolonga e você percebe que ele recorda-se de
eventos de sua vida pregressa e atual, marcados por muita tristeza, ele repete muitas
vezes que se sente sem saída ...
O paciente foi levado ao pronto socorro psiquiátrico pelo Resgate, pois estava
trancado no porão de sua casa há três dias. Não sabe informar data. Foi preciso
acionar o Corpo de Bombeiros, pois o paciente, que é serralheiro, soldou a porta do
porão pelo lado de dentro para que ninguém entrasse. O paciente é encontrado
extremamente agitado e justificando sua atitude, pois: “Toda vez que eu pegava o
telefone escutava um barulho esquisito que desaparecia assim que eu iniciava minhas
conversas, tenho certeza que existia uma escuta no meu telefone, sei que estão me
espionando para descobrir minha identidade secreta” SIC. Conforme vai fazendo seu
relato mostra-se muito assustado com qualquer movimento ou ruído, sendo preciso
repetir sempre as perguntas que lhe são feitas. Após a alta hospitalar você o entrevista
no Ambulatório de Saúde Mental. Ele diz chamar-se Anderson, ter 30 anos e ser
casado. Está contando dados de sua infância. Recorda-se de um amigo que sua mãe
não gostava: “sabe, esse meu amigo roubava e minha mãe citava um provérbio
popular: me digas com quem andas e te direis quem és”. Você pergunta a ele qual é
seu entendimento disso. Ele responde: “é verdade, se você andar com um ladrão, é
porque dentro de você também deve existir ‘um ladrão. ’ ”

Você atende um paciente que diz chamar-se Rubens e que tem 18 anos. Vem
para a consulta com a queixa de que há alguns meses começou a notar que algo
estava diferente em seu corpo, percebeu que sua cabeça está grande e
desproporcional em relação a seu corpo. Há um mês vem apresentando modificações
de comportamento, diz que as pessoas estão rindo dele, fazendo piadas, “é só eu
chegar ao escritório e as pessoas começam a fazer grupinhos para rir e comentar a
respeito da minha cabeça” SIC. Não tem ido trabalhar e nem vai para a faculdade.
Coloca que, às vezes, passa horas somente olhando-se no espelho e que em outros
momentos, fica experimentando formas diferentes de penteados, na tentativa de
“disfarçar minha grande cabeça, tenho escutado uns estalos dentro do meu cérebro, o
barulho é bem lá dento às vezes eu escuto baixinho, mas de uns tempos pra cá o
barulho é cada vez maior, parece osso raspando, não sei explicar direito que barulho é
esse, será que minha cabeça vai ficar ainda maior?” SIC. Você ao entrevistá-lo nota
que ele relata um excesso de episódios ocorridos ao longo de sua vida. Rubens
apresenta ideias suicidas. Como conduta, decide-se interná-lo, pois corre risco de
morte. No exame físico detecta-se que os diâmetros cranianos estão dentro da
normalidade.

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