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RESUMO
Buscar-se-á, neste artigo, a fim de depreender o significado do conceito de “consciência de
si”, analisar a subseção “A consciência de si” da seção “Fenomenologia do Espírito" da
“Enciclopédia das Ciências Filosóficas (1830): A Filosofia do Espírito”, em especial, do §424
ao §437. Além do que, explicitar sucintamente como a noção hegeliana de consciência de si
nos permite entender e explicar este momento vivenciado nos âmbitos político (bolsonarismo)
e pandêmico (Covid-19) no Brasil. Neste sentido, na perspectiva de Hegel, a consciência de si
é expressa pela fórmula “EU=EU" que explicita a identidade entre a consciência e seu objeto
e, portanto, desemboca numa determinada idealidade, na medida em que tal formulação
possibilita expor os princípios da razão, bem como os princípios da liberdade. Portanto,
apreende-se através deste conceito três desdobramentos, a saber: idealidade; razão; e,
liberdade - na qual se faz de grande valia para a compreensão dos estados político e
pandêmico vivenciados pelos brasileiros da camada mais baixa da estratificação social,
indistintamente. Não obstante, o presente artigo está estruturado em: “Considerações
iniciais”; segundo, “O estatuto da “consciência de si”, segundo Hegel”; e, por fim,
“Considerações finais”.
ABSTRACT
In this article, to understand the meaning of the concept of “self-consciousness”, we will
analyze the subsection “Self-consciousness” of the “Phenomenology of the Spirit” section of
the “Encyclopedia of Philosophical Sciences (1830): The Philosophy of the Spirit” from §424
to §437. In addition, briefly explaining how the Hegelian notion of self-awareness allows us
to understand and explain this moment experienced in the political (bolsonarism) and
pandemic (Covid-19) spheres in Brazil. In this sense, in Hegel's perspective, self-
consciousness is expressed by the formula "I=I" that explains the identity between
consciousness and its object and, therefore, leads to a certain ideality, insofar as such a
formulation makes it possible to expose the principles of reason, as well as the principles of
1 Graduando em Filosofia pela UNESP/FFC. Bolsista PIBIC/CNPq/REITORIA. e-mail:
alexandre.tuma@unesp.br
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freedom. Therefore, through this concept three developments are apprehended, namely:
ideality; reason; and freedom - in which it is of great value to understand the political and
pandemic states experienced by Brazilians from the lowest strata of social stratification,
without distinction. Nevertheless, this article is structured in: “Initial considerations”; second,
“The statute of “self-consciousness”, according to Hegel”; and, finally, “Final
considerations”.
Keywords: Consciousness. Encyclopedia. Hegel.
1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS
O presente artigo tem por objetivo explicitar o significado do conceito hegeliano de
“consciência de si”, a partir da subseção “A consciência de si” da seção “Fenomenologia do
Espírito”, da obra Enciclopédia das Ciências Filosóficas (1830): A Filosofia do Espírito, em
especial, do §424 ao §437. Não obstante, explicitaremos sucintamente como o significado do
conceito hegeliano de consciência de si nos permite entender e explicar o momento
vivenciado nos âmbitos político (bolsonarismo) e pandêmico (Covid-19) no Brasil.
Com isso, para Hegel, a consciência de si é expressa pela fórmula “EU=EU", que
explicita a identidade entre a consciência e o seu objeto e, portanto, desemboca numa
determinada idealidade, na medida em que tal formulação possibilita expor os princípios da
razão, bem como os princípios da liberdade. Deste modo, apreende-se através do conceito de
consciência de si, três desdobramentos, a saber: idealidade; razão; e, liberdade (na qual se faz
de grande valia para a compreensão dos estados político e pandêmico, vivenciados pelos
brasileiros, indistintamente).
2 Cf. KONDER, L. Hegel: a razão quase enlouquecida. Rio de Janeiro: Campus, 1991.
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redige A Vida de Jesus. Nesta obra, em específico, Hegel concebia um Jesus bem mais
próximo de Kant; do Kant da segunda crítica, da Crítica da Razão Prática. A título de
observação, nos escritos juvenis de Hegel, percebe-se a apropriação e preocupação com a
religião - na qual nunca abandonara em vida3.
Destarte, por “estatuto”, entenda-se algum tipo de texto contendo regras, no ímpeto
de regulamentar e funcionar algo (seja organização, empresa, coletividade, sociedade etc.).
Isto posto, o título deste artigo finda-se no regulamento, elaborado, explicitado e
demonstrado por Hegel do conceito de “consciência de si”. Outrossim, por “regra”, entenda-
se o desenvolvimento sistemático do referido conceito. Doravante, a título de
5 Conforme Konder (1991), no livro, Hegel: a razão quase enlouquecida (publicada pela editora
Campus) afirma: “Uma questão teórica delicada que se apresentava a Hegel, na época, consistia em
combinar adequadamente a fé cristã em que fora criado (e que jamais abandonaria, ao longo de sua
vida) com aquilo que havia de válido no Iluminismo, no movimento das “luzes” intelectuais que
haviam preparado o processo da Revolução Francesa”.
6 Acerca do aspecto político do pensamento de Hegel, ver Novelli (2006).
7 Conforme Hegel (1995, §1, p.39): “A filosofia não tem a vantagem, de que gozam as outras
ciências, de poder pressupor seus objetos como imediatamente dados pela representação; e também
como já admitido o método do conhecer – para começar e para ir adiante. Em primeiro lugar, a
filosofia tem, de fato, seus objetos em comum com a religião. As duas têm a verdade por seu objeto,
decerto no sentido mais alto: no sentido de que Deus é a verdade, e só ele é a verdade. Além disso,
ambas tratam do âmbito do finito, da natureza e do espírito humano; de sua relação recíproca, e de sua
relação com Deus, enquanto sua verdade. Por isso a filosofia bem pode, e mesmo deve, pressupor uma
familiaridade com seus objetos, como aliás um interesse por eles; já pelo motivo de que a consciência
faz para si no tempo representações dos objetos, antes de (fazer) conceitos deles, o espírito pensante
só por meio do representar e voltando-se para ele [é que] avança até o conhecer e o conceber
pensantes” (HEGEL, 1995, §1, p.39).
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Dito isto, na obra já referida, Hegel enuncia que o verdadeiro se faz para a
consciência como algo outro nela mesma (HEGEL, 2002, §166, p.135). Posto isto, a
consciência só pode ser consciência e, por conseguinte, verdadeira, quando se basta a si
mesma. Adiante, o “em-si” deste desenvolvimento, conforme Hegel (2002), faz com que o
objeto se revele somente para um outro. Além do que, a consciência e a consciência de si
são o mesmo. É com a consciência de si que se entra na “terra prática da verdade” (HEGEL,
2002, §167, p.135). Mais do que isso: “Mas de fato, porém, a consciência-de-si é a reflexão,
a partir do ser do mundo sensível e percebido; é essencialmente o retorno a partir do ser-
Outro” (HEGEL, 2002, §167, p.136). A consciência de si, portanto, exprime-se pelo fato de
ser a unidade infinita das diferenças no âmbito da reflexão, do mundo sensível e percebido,
do próprio retorno e do retorno ao ser-outro. Neste sentido, a consciência de si assume dois
momentos: primeiro, o momento do imediato; e segundo, o momento do universal. Em
linhas gerais, o primeiro momento assume a figura do imediato, do ser; o segundo momento,
por sua vez, assume todos os momentos como já suprassumidos.
Logo, quando este primeiro “Eu” – nós -, nos defrontamos com situações dos tipos
político, com o bolsonarismo, e, pandêmico, com a Covid-19, reconhecemo-nos nestes
objetos, no sentido de que o bolsonarismo e a pandemia constituem este outro. Além do
mais, a partir da compreensão deste outro, a certeza (determinação imediata dos momentos
político e pandêmico) torna-se verdade, no sentido de trazer à tona todas as mediações que
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estão subjacentes a estes dois âmbitos. A verdade (Wahre), deste modo, aparece, agora,
como reflexão redobrada, na qual confluem-se duas consciências-de-si11. Particularmente,
“[...] quando a consciência-de-si é o objeto, é tanto Eu quanto objeto” (HEGEL, 2002, §177,
p.142). Posto isto, a consciência-de-si explicita-se por ser o conceito de espírito 12, isto é:
“[...] Eu que é Nós, Nós que é Eu13”. A consciência, bem como a consciência-de-si afasta
todo o tipo de sensibilidade, fazendo adentrar o aparecer no dia o espiritual da presença 14
(Verdade). Na Enciclopédia das Ciências Filosóficas (1830): A Filosofia do Espírito, o
conceito de espírito é desenvolvido através de três momentos, a saber: primeiro, consciência;
segundo, consciência de si; e terceiro, unidade da consciência com a consciência de si.
11 Conforme Hegel, (2002. §176, p.141): “[...] A consciência-de-si é um objeto para a consciência,
objeto que põe em si mesmo seu ser-outro, ou a diferença de-nada, e nisso é independente”.
12 Cf. HEGEL, 2002, §177, p.142, grifo do autor.
13 No original: “[...] Ich, das Wir, und Wir, das Ich ist” (HEGEL, 1970, p.145).
14 Concebo que o aparecer no dia o espiritual da presença seja a Verdade. Sendo assim, a Verdade
para Hegel é o Espírito Absoluto, na qual as autoconsciências se encontram no interior dela.
15 Conforme François Châtelet (1995, p.69): “[...] Ele saberá o que é, compreenderá como e por que
veio a ser isso que ele vive e pratica cotidianamente; e, em vez de se lamentar dessa ou daquele
compromisso empírico, terá o poder de decidir o que deve fazer empiricamente para que cesse sua
discordância”.
16 Conforme François Châtelet (1995, p.74): “[...] Sem dúvida acontece de as transições dialéticas
serem um pouco forçadas: ainda assim, o discurso hegeliano nos obriga a compreender como a
consciência, transforma em consciência de si, se faz Razão assim que percebe que nela se realiza essa
universalidade que torna iguais, pelo menos em direito, a visão do sujeito e a posição do objeto”.
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abstrata, pura idealidade. Assim a consciência de si é sem realidade; pois ela mesma, que é
objeto de si, não é tal objeto, já que não há diferença alguma dela consigo mesma” (HEGEL,
1995, §424, p.195, grifo nosso).
17 Conforme Hegel (2010, §257, p.229): “O Estado é a efetividade da ideia ética, - o espírito ético
enquanto vontade substancial manifesta, nítida a si mesma, que se pensa e se sabe e realiza o que sabe
e na medida em que sabe. No costume, ele [o Estado] tem sua existência imediata e, na
autoconsciência do singular, no saber e na atividade do mesmo, a sua existência mediada, assim como
essa, mediante a disposição de espírito nele [no Estado], como sua essência, seu fim e seu produto de
sua atividade, tem sua liberdade substancial”.
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outro, só se realiza de maneira unilateral” (HEGEL, 1995, v.3, §433, p.204). À vista disso, a
liberdade não está envolta no nascimento (como os gregos e romanos pensavam), mas na
consciência de si racional.
inicialmente encarada sob sua forma a mais modesta, como desejo, mas o
seu desenvolvimento mostrará o que tal desejo implica e como ele nos
conduz às formas superiores da consciência prática, que se opõe ao mundo
e a si mesmo enquanto ser do mundo (HYPPOLITE, 1999, p.160).
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Como se viu, a consciência de si desenvolve o seu trajeto partindo do “aqui” e
“agora”, culminando no final de seu desenvolvimento a universalidade, a Razão. Dito isto,
Hegel pretendeu explicitar, explicar e demonstrar a trajetória da experiência da consciência de
si imediata até a consciência de si universal. Desta forma, pretendeu- se expor, mesmo que de
modo breve, a exposição conceitual-enciclopédica de consciência de si. Além do que,
delineado alguns pontos da vida de Hegel, no ímpeto de situar o leitor, viu-se necessário
exprimir o que se entende por fenomenologia, em particular, o que se entende por
fenomenologia dentro do escopo da exposição enciclopédica de Hegel. Por conseguinte,
urgiu-se a necessidade de trazer como amparo crítico à esta investigação os filósofos Nicolai
Hartmann (1983), Jean Hyppolite (1999), Jean-François Kervégan (2008), entre outros.
Posto isto, percebemos que a fenomenologia pode ser compreendida através de três
segmentos: primeiro, consciência; segundo, razão; e terceiro, espírito. Neste sentido, Hegel se
mostrou como uma das peças fundamentais para a dissolução dos nossos problemas em geral.
Não é à toa que Jean-François Kervégan (2008) endossa: “[...] Sua obra é, em todo caso,
dessas que desenharam a paisagem do pensamento contemporâneo” (KERVÉGAN, 2008,
p.15). Consequentemente, o pensamento hegeliano pode auxiliar, especificamente, no
enfrentamento dos atuais estados vivenciados pelos brasileiros: o bolsonarismo (no âmbito
político) e a Covid-19 (no âmbito pandêmico).
burguesia começa com sua existência” (MARX; ENGELS, 2018, p.51). Referente a este
argumento, a luta dos proletários brasileiros fundamenta-se na sobrevivência (conservação da
vida) perante a este cenário caótico (político e sanitário), bem como, fundamenta-se na luta
pelo reconhecimento e na superação da relação dialética do senhor e escravo, isto é, da
superação da qualidade de servos perante as vontades de um presidente genocida e totalitário
– onde tais vontades estão subsidiadas na perpetuação dos privilégios e/ou privilegiados.
Vale-se, deste modo, que os proletários brasileiros consigam, através de seu próprio
conhecimento (e resistência), alcançar não uma liberdade abstrata (vazia de conteúdo), mas
uma liberdade efetiva, donde todos possam usufruir de uma vida igualitária e justa.
Por fim, na medida que não há um regime que assegure a vontade geral, isto é, a
vontade substancial manifesta (HEGEL, 2010, §257, p.229), a política e seus desdobramentos
demonstra ser, portanto, um regime genocida e totalitário. Deste modo, Hegel, através do
conceito de “consciência de si” demonstra afirmar a vida, no sentido de enfrentar e superar os
antagonismos da vontade singular e egoísta, buscando, em seus contrários, a superação de
todo e qualquer tipo de imediaticidade.
REFERÊNCIAS
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