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HEGEL E O REALISMO

JURÍDICO
G. W. F. Hegel (1770-1831) é um dos principais autores para a Filosofia do Direito,
cuja obra consiste na crítica tanto das teorias jusnaturalistas baseadas no contrato
social quanto da concepção kantiana de moralidade. Para Hegel, ambas concepções
são estágios prévios ao momento superior da racionalidade que é o Estado. “O Estado
aparece no contexto da Filosofia do Direito hegeliana como um elemento primordial
da formação dos direitos. Nesse sentido, o Estado é a manifestação também do
Espírito, nele estando imersas as noções de moralidade e de liberdade, e é assim que
pode cumprir sua missão racional” (Bittar; Almeida, 2012, p. 393).
A compreensão filosófica do Direito, segundo Hegel, valoriza o processo histórico
como constitutivo das formações sociais e econômicas determinantes para a elaboração
das estruturas jurídicas de uma Nação e, neste sentido, suas ideias correspondem às
teses da Escola Histórica Alemã, precursora do Realismo Jurídico.
A Escola Histórica Alemã
 O principal expoente da Escola Histórica Alemã foi Carl Friedrich von
Savigny que escreveu Da Vocação do nosso tempo para a legislação e
jurisprudência (Vom Beruf unserer Zeit für Gesetzgebung und
Rechtswissenschaft) contra o projeto de codificação do direito defendido em
1814 por Thibaut em Sobre a necessidade de um Direito civil geral para a
Alemanha. Quando os exércitos da França revolucionária ocuparam parte da
Alemanha, difundiram o Código de Napoleão que adotava o princípio de
“igualdade formal” de todos os cidadãos, havendo, com efeito, um
movimento que propugnava a criação de um direito único e codificado para
toda a Alemanha.
 Para a Escola Histórica o sentimento da tradição “significa a reavaliação de
uma forma particular de produção jurídica, isto é, de costume, visto que as
normas consuetudinárias são a expressão de uma tradição. O costume é um
direito que nasce diretamente do povo e que exprime o sentimento do
espírito do povo (Volksgeist)”, BOBBIO, Norberto. O Positivismo Jurídico.
São Paulo: Ícone, 1995, p. 52.
A identidade entre o real e o racional
 A proposição “o real é o racional, o racional é real” é o fundamento da
filosofia hegeliana, uma vez que para o filósofo alemão a Razão não é
apriorística, como deduzia Kant, mas é histórica, de modo que o seu
método é dialético, entendendo o processo histórico como a manifestação
da racionalidade, da Razão, na realidade objetiva, no mundo objetivo,
corporificados nas formas sociais da família, da sociedade civil e do
Estado.
 “Kant deduziu sua filosofia do a priori, Hegel não terá deduzido sua
filosofia de um princípio geral, mas da própria realidade. A filosofia
hegeliana, ao elevar ao mesmo patamar, realidade e racionalidade, faz cair
por terra toda a dicotomia que o mundo moderno havia elevado às últimas
consequências, entre sujeito e objeto. (...) Se Kant assentou seu mundo
ético no dever-ser, que é o reino ideal tirado dos imperativos categóricos, a
priori, Hegel procederá diferentemente. Sua teoria assenta-se sobre o ser,
sobre o real, e o real é racional” (Mascaro, 2002, p. 75)
A filosofia do Direito de Hegel
 “A filosofia do Direito de Hegel, conforme sua própria obra Linhas
Fundamentais da Filosofia do Direito, divide-se em três partes
fundamentais: a do direito da individualidade (o direito abstrato), a do
direito como moralidade (Moralität) e a do direito como eticidade
(Sittlichkeit). “A primeira parte diz respeito ao indivíduo, cujo cerne
principal é a propriedade. A segunda parte diz respeito ao mundo da
moralidade. Esse momento é o da vontade individual que busca o bem. Essa
vontade, no entanto, não basta para o Direito, ao contrário de Kant, para
quem o Direito é o reino da boa vontade” (Mascaro, 2002, p. 81).
 A terceira parte se refere à Eticidade, compreendida como a consciência
ético-jurídica do povo, momento em que as vontades individuais
manifestam no plano da realidade objetiva o momento superior da
racionalidade que é o Estado, entendido não como meio para a obtenção de
interesses particulares, com pensavam os contratualistas, mas como um fim
em si mesmo, autárquico.
Estado e sociedade civil para Hegel
 “A consubstanciação do justo e do racional no Estado e não no indivíduo nem
na sociedade civil, faz com que Hegel rompa com toda a tradição da filosofia
política e jurídica moderna. (...) A perspectiva do Estado em Hegel não é, pois,
de um ente resultante do acordo de vontades individuais. A sociedade civil,
para Hegel, é essencialmente a esfera privada burguesa” (Mascaro, 2002, p.
85).
 “Com a crise do modelo jusnaturalista, os atributos ‘político’ e ‘civil’,
originariamente coincidentes, derivando respectivamente do grego pólis e do
latim civitas, tendem a se distinguir: o sujeito social se duplica na figura do
cidadão privado ou civil burguês (Bürger) e na do cidadão propriamente dito;
e a sociedade como sociedade civil se separa do Estado como Estado
político”, BOBBIO, Norberto. Sociedade e Estado na Filosofia Política
Moderna. São Paulo: Brasiliense, 1991.
 A concepção hegeliana de Estado retoma, de certo modo, a compreensão
aristotélica da pólis como uma totalidade orgânica.

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