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Disciplina: Filosofia Política

Prof. Dr. Francisco Pereira de Sousa

Aluno: Alisson Gomes de Almeida

Curso de Filosofia - 5º período

A QUESTÃO DA LIBERDADE EM HEGEL NA FILOSOFIA DO DIREITO

O texto a seguir buscará de modo suscinto apresentar a questão da liberdade sob uma perspectiva
introdutória aos Princípios da Filosofia do Direito, de autoria do filósofo alemão Friedrich Hegel [1770
-1831]; obra de caráter monumental que aborda a ideia de liberdade como princípio fundamental
que lançará as bases para a criação do Estado Moderno. Para isso, utilizaremos como fonte de
pesquisa e fio condutor, as definições dos conceitos de liberdade em Hegel expostas ao longo do
semestre letivo 2021.1, durante aula realizada em ambiente virtual ministrada pelo prof. Dr.
Francisco Pereira, docente titular do curso de Filosofia da Universidade Federal de Alagoas.

De modo claro e objetivo, o prof. Dr, Francisco Pereira nos apresenta a parte introdutória da obra
de Hegel, momento em que o filósofo se refere a liberdade como sendo uma “consciência de
vontade livre”, que irá se determinar de três formas diferentes, que trataremos adiante. Por
enquanto, se faz necessário saber que o conceito de liberdade em Hegel é de caráter dialético, cujo
terceiro momento de sua reflexão é voltado propriamente à forma em que o filósofo compreende a
liberdade ou a vontade livre em sua obra.

Hegel discutirá primeiramente com Kant, mas também com outras formas de compreender a
liberdade como abstração (como pensamento) no decorrer da história da filosofia em geral, expondo
o conceito de liberdade determinada, adentrando a discussão a respeito da forma liberal de se
compreender a liberdade e, por fim, a forma especificamente hegeliana que articula esses dois
momentos numa só concepção conceitual.

Se na Fenomenologia do Espírito Hegel trata a consciência como desejo, na introdução aos


Princípio da Filosofia do Direito o filósofo a concebe como vontade. Vontade essa que é livre pois,
a liberdade do indivíduo não é mais determinada pela sua vontade particular, mas por uma vontade
universal.
Para Hegel, somente quando a vontade é determinada pela universalidade é que ela é
verdadeiramente livre. É na Fenomenologia do Espírito que o filósofo demonstra como se dá esse
processo de educação (Bildung) da consciência, quando essa supera a sua relação de puro desejo
em relação a outra consciência de si por meio do trabalho, como bem expõe o professor.

É somente no período pós revolucionário (Revolução Francesa, 1789-1799), que o antigo escravo
deixará a servidão tornando-se o burguês moderno. Esse passará a construir o mundo como
expressão da sua própria vontade que agora é livre, deixando de conduzir a vida segundo o antigo
processo da dialética do senhor e do escravo. Isso só é possível por ter passado pelo processo de
educação (Bildung), onde a sua consciência através da disciplina do trabalho sofre um processo de
formação, tornando-o livre na figura do burguês no mundo ocidental.

O novo burguês passará a construir o mundo que agora é a sua própria imagem em todos os
sentidos, do ponto de vista das instituições, daquilo que Hegel chama de “espírito de eticidade”.
Portanto, o espírito objetivo e as construções objetivas dessa subjetividade, passam a representar
a expressão dessa nova figura que é o burguês.

Dessa forma a Fenomenologia do Espírito, do ponto de vista histórico, eleva essa consciência que
agora passa por esse processo de Bildung até chegar ao saber universal a partir do ponto de vista
fenomenológico histórico que passamos a ter todo esse desenvolvimento da consciência.

Nos Princípios da Filosofia do Direito teremos esse momento de sistematização dessa consciência
que constrói o mundo e se reconcilia vendo-se nele, através daquilo que Hegel chama de “espírito
objetivo”, ou seja, a produção objetiva e positivada desses espíritos subjetivos. Para isso,
precisamos saber como se dá esse processo da constituição da vontade, que é verdadeiramente
livre e assim descrita na Filosofia do Direito de Hegel.

O primeiro passo é entender que o pensamento carece de vontade para se objetivar pois, a
liberdade enquanto pensamento é somente potencialidade e possibilidade, ela só se realizará no
mundo por meio da vontade. A vontade é a faculdade ou a instância de determinação da ação,
sendo a expressão prática do pensamento para Hegel e, por ser potencialmente livre, por estar
comigo mesmo, a vontade também o é. Qualquer comportamento ou ação tem início no
pensamento, mas é por meio da ação da vontade que este se realiza. No pensamento hegeliano,
teoria e prática, pensamento e realidade não se dissociam. O teórico está essencialmente incluído
no prático fazendo parte de uma mesma totalidade.

Desse modo a liberdade em Hegel inclui o teórico e o prático e não apenas o prático como é por
vezes tematizado, além disso, ela possui modos diferentes de determinação como veremos a
seguir.
Inicialmente a liberdade é abstrata e indeterminada pois, parte da vontade livre que está consigo
mesma na forma de puro pensamento, isto é, não possui nenhuma determinação particular que a
diferencie de sua universalidade abstrata. Nesta universalidade abstrata, a vontade não está
definida por nenhum objeto externo, permanecendo enclausurada na abstração do pensamento,
não sendo, portanto, realmente livre, necessitando ser traduzida como realidade.

No segundo momento, como liberdade determinada, a liberdade se dará por meio da ação da
vontade no plano da finitude. A vontade passa a ser determinada pela particularidade, vontade
natural, imediata ou arbitrária, definida por Hegel como livre arbítrio. Para Hegel, se os momentos
anteriores permanecem cindidos, a vontade não possui a sua verdadeira liberdade. Logo, a
universalidade e a particularidade só terão liberdade verdadeira como momentos de uma mesma
unidade, a saber, a singularidade ou individualidade, sendo o universal concreto ou universalidade
restaurada a partir da particularidade.

Prosseguindo no pensamento de Hegel a partir da Filosofia do Direito, o ilustre professor nos


demonstra que, num primeiro momento o filósofo irá tratar a liberdade como abstrata e
indeterminada na forma do puro pensamento em que o indivíduo pensa que é livre porque ele pensa.
Para melhor ilustrar essa concepção negativa de liberdade, o professor traz a luz de sua narrativa
o exemplo que Hegel utiliza em seus escritos sobre o imperador romano Marco Aurélio e o escravo
Epiteto; um senhor e o outro escravo, em que o escravo considera-se livre porque pensa. Hegel irá
criticar esse tipo de liberdade que não possui determinações exteriores que manifestem a sua
liberdade pois, o indivíduo estando na prisão e livre por sê-lo em pensamento não é efetivamente
livre.

Então, a liberdade da vontade enquanto puro pensamento de si mesma ou pura indeterminação, é


apenas uma vontade pura, idêntica ao próprio pensamento com infinitas possibilidades de
manifestação objetiva.

No terceiro momento, o conceito de liberdade idealizado por Hegel é puramente dialético, sendo a
liberdade determinada pela universalidade como liberdade concreta ou racional em que o mundo é,
enfim, a realização mais alta do princípio da vontade. Assim depreende-se que:

Este mundo é, enfim, a realização mais alta do princípio da vontade. A vontade realiza a
liberdade quando ela mesma se dá seu próprio conteúdo. Este conteúdo, portanto, não
depende mais de algo dado, mas de um conteúdo posto pela própria vontade. A vontade quer
positivamente a negatividade da sua liberdade universal, ou seja, quer uma organização
racional/universal da liberdade, quer a liberdade numa comunidade livre. (SOUSA, 2019, p.
39)
Portanto, a liberdade concreta ou racional parte da vontade que se dá o seu próprio conteúdo,
negando a sua liberdade universal, sendo finalmente traduzida na realidade objetiva através das
realizações do espírito objetivo no mundo da eticidade.

Referências:

SOUSA, Francisco Pereira de. Hegel e a Representação Política. 2 ed. Goiânia: Editora Philos, 2019

Youtube: A Liberdade na Filosofia do Direito de Hegel (Introdução) - https://www.youtube.com/watch?v=Ull9dQ2fFCQ

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