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Estudo das competências para diminuição da ansiedade no palco

Resumo: Este artigo surgiu baseado em uma experiência em educação musical na esfera
pública a nível estadual. O trabalho desenvolvido refere-se às aulas e audições de percussão
com crianças e jovens entre 07 e 24 anos de idade, na Escola de Música Anthenor Navarro
(EMAN), primeira escola de música do estado da Paraíba, voltada para a formação de
intérpretes durante o ano de 2010. O objetivo do trabalho é contribuir para a diminuição da
ansiedade da performance na percussão, a partir dos dados obtidos, desenvolvendo
posteriormente ações educativas de orientação junto aos alunos. Foram utilizados como
instrumentos de coleta de dados a pesquisa bibliográfica e documental e aplicação de
questionários. Foram aplicados 30 questionários em fase de análise dos resultados.
Palavras-chave: performance musical, competências musicais, ansiedade no palco.

Introdução

Este artigo surgiu baseado em uma experiência em educação musical na esfera pública
a nível estadual. O trabalho desenvolvido refere-se às aulas e audições de percussão com
crianças e jovens entre 07 e 24 anos de idade, na Escola de Música Anthenor Navarro
(EMAN), primeira escola de música do estado da Paraíba, voltada para a formação de
intérpretes durante o ano de 2010. O objetivo do trabalho é contribuir para a diminuição da
ansiedade da performance na percussão, a partir dos dados obtidos, desenvolvendo
posteriormente ações educativas de orientação junto aos alunos. Foram utilizados como
instrumento de coleta de dados a pesquisa bibliográfica e documental e aplicação de
questionários. Foram aplicados 30 questionários em fase de análise dos resultados.
A pesquisa surgiu a partir da constatação na prática de que os alunos apresentavam
dificuldades em suas audições muito além da transmissão musical e de questões da orientação
técnico-interpretativas que ocorrem nas aulas de instrumento. Essas dificuldades basicamente
estavam relacionadas ao controle do estado emocional apresentando ansiedade ou
nervosismo, o que em parte, prejudicavam suas apresentações. As causas relatadas diziam
respeito entre outras coisas, ao sentimento de stress da pressão da performance, à falta de
auto-confiança, ao medo do erro, às dificuldades de concentração.
Dessa forma, me propus a validar um estudo americano em João Pessoa (PB),
denominado “Estudo das sete competências” do P.h.d GREENE (2001) e, a partir dos dados
coletados e seus resultados desenvolver ações de orientação com os alunos junto à
coordenação da escola. O material chegou às minhas mãos a partir da disciplina Psicologia da
Performance do Curso de Pós-Graduação em Práticas Interpretativas em Música do Século
XX e XXI da Escola de Música da Universidade Federal do Rio Grande do Norte
(EmUFRN).

Estudo das competências

O estudo contém noventa e seis questões que não consistem em um teste. Foi
desenvolvido depois de nove anos de estudo com mais de cinco mil atletas e três mil artistas.
Como ferramenta de avaliação e de diagnóstico, o estudo delineia as tendências de
performance e não traços de personalidade, sem tomar medidas de caráter ou defeitos. Não é
um estudo de incursão ao passado, mas um olhar para o futuro. Em uma escala de cinco itens
de 1 a 5 (5= muito verdadeiro para mim, 4= mais ou menos verdadeiro para mim, 3= às
vezes/sem certeza, 2= não é muito verdadeiro para mim, 1= falso para mim), os intérpretes
responderam questões relacionadas às suas atitudes, valores e comportamento com finalidade
do auto-conhecimento.
Esta concepção baseia-se em um programa que auxilia os alunos/intérpretes a
superarem suas dificuldades no desempenho da performance. Dessa forma, o estudo mostra
que não existem milhares de fatores influenciando o resultado do desempenho mas cerca de
vinte e quatro fatores divididos em sete categorias.

Análise das competências

As sete categorias a serem identificadas e analisadas, chamadas aqui de competências,


são divididas em 1) determinação, 2) energia, 3) perspectiva, 4) coragem, 5) Foco, 6)
Equilíbrio e 7) Flexibilidade ou resiliência.
A determinação é considerada a força da intenção e consiste na soma da motivação
inerente, ou a unidade interior que impulsiona para um objetivo com o compromisso ou quão
investido se está em sua missão e a vontade de vencer que é a força interna da decisão que
pode estar relacionada com motivações externas como o desejo de dinheiro, poder ou
reconhecimento.
A energia envolve equações entre a energia ideal ou o nível em que melhor
desempenha, a energia da performance ou o nível que desempenha melhor aquela ação, a
capacidade de relaxamento e a capacidade de estimulação.
A perspectiva é como sua visão molda o resultado de seus esforços e é afetada pela
auto-confiança, ou a maneira como se sente perante si mesmo ou suas habilidades, pela
comunicação intrapessoal, ou seus comentários com você mesmo e a expectativa ou os ponto
de vista que enxerga melhor com os olhos mentais.
A coragem é a habilidade de agir, apesar do medo. Exige a capacidade de risco, que é
a atitude de tomar a iniciativa em vez da defensiva, exige a capacidade de risco frustrado que
é a quanto se pode lidar com o medo do risco desconhecido e exige capacidade de risco com
êxito, que mede o quão zelosamente se recebe as conseqüências bem sucedidas.
O foco possui quatro aspectos: a atitude, que significa a capacidade de estar aqui e
agora, com atenção para o momento presente; a intensidade que se refere ao total da energia
que empreende no objetivo em foco; a duração, que é a medida de quanto se pode sustentar
essa intensidade e a tranqüilidade mental que é a capacidade de se conseguir superar o ruído
perturbador do pensamento cognitivo.
São considerados equilibradas aquelas pessoas que demonstram estar à vontade sob
situações de pressão. O termo equilíbrio é utilizado neste caso para descrever quatro
situações: a capacidade de tomar decisões, a negociação, a presença e multitarefa.
A flexibilidade é a capacidade de reagir com adversidade e perseverança apesar dos
erros ou fracassos. Vai consistir na capacidade de se recuperar de um fracasso, na
capacidade de lutar, erguer-se e não se fazer de vítima e a tenacidade mental que é a
capacidade de triunfar.

“Pisando no palco”

Associado a identificação e análise destas sete competências, o estudo ainda em fase


de análise, evidenciou que podemos agrupar a preparação para a performance no palco em
quatro categorias: a organizacional, a artística, a psicológica e a física. Além dessa
categorização, Cardassi (1999: p. 251) afirma que a performance no palco pode ser dividida
em três etapas: antes, durante e depois do recital. Assim, durante todo o ano de 2010 foram
orientadas e sugeridas atividades com o intuito de colaborar para a uma melhor preparação e
consequentemente uma maior diminuição da ansiedade.
A preparação organizacional diz respeito a produção do recital ou da audição em si,
desde a elaboração de convites, cartazes, programa (folder), seleção de figurino para todos os
alunos, reserva do auditório para apresentação, transporte de instrumentos, estantes,
acessórios e a divulgação do evento. No caso, das audições da escola, os alunos não
participam desta etapa, embora em muitos recitais, sejam os próprios alunos que cuidem da
organização. A organização fica a cargo da coordenação da área. Este fator talvez contribua
para a diminuição da ansiedade e permita que o aluno concentre-se nas demais fases de
preparação.
A preparação artística das audições e recitais inicia-se com a escolha do repertório,
definição da ordem de execução das peças, estudo em sala de aula, estudo extra-classe, tendo
em mente os objetivos almejados.

Escolha do repertório

Uma vez que a escolha do repertório revela a intenção do intérprete e sua maneira de
pensar a música, por ex. obras de vários estilos com uma trajetória histórica, dois estilos
contrastantes, um único estilo, um único compositor. No caso dos alunos de percussão, os
alunos iniciam suas participações nas audições com peças de acordo com o conteúdo
programático e o nível de dificuldade que conseguem executar. São solicitados inicialmente
nos primeiros semestre solos simples de caixa e percussão múltipla e, posteriormente solos de
teclados (xilofone, marimba, vibrafone) de 2 e 4 baquetas e tímpanos. São sugeridos dois
recitais solo durante os seis anos de curso com instrumentação diversificada (por ex. uma
peça de caixa, uma de múltipla, uma de teclado com duas baquetas, uma de teclado com
quatro baquetas, uma de vibrafone, uma de tímpanos, sendo pelo menos uma das peças de
música brasileira).

Ordem da execução das peças

Definido o repertório, escolhe-se a ordem de execução das peças. A escolha é pessoal


e dever ser criativa, confortável e consciente da intenção, sendo recomendado aos alunos
experimentar várias possibilidades antes da definição.

Estudo em sala de aula

Todo o programa é estudado sob a orientação de um professor. O trabalho de cada


peça isoladamente é apenas uma parte da preparação artística. Sugere-se que o aluno toquer
todo o programa pelo menos uma vez ao dia para acostumar-se com a energia despendida
durante o recital, mantendo o foco de concentração.

Estudo extra-classe
O próximo passo é o estudo do programa do início ao fim, simulando a situação real
de performance, expondo-se a situações que podem ser geradoras de alguma ansiedade. Estas
situações ás vezes iniciam-se com uma apresentação para os amigos.

Objetivos

Solicita-se aos alunos que escrevam quais são os objetivos almejados ao início para
confrontá-los ao final da performance, evidenciando os pontos conquistados e os que devem
ser melhor trabalhados.
A preparação Física envolve uma boa alimentação, exercícios de relaxamento, de
respiração, exercícios físicos e esportivos além de intervalos no estudo de instrumento.

Intervalos no estudo e boa alimentação

O estudo ininterrupto no instrumento por horas é improdutivo e danoso à saúde. Além


de fazer intervalos durante o estudo do instrumento, é indicado aos alunos desenvolverem
hábitos saudáveis de alimentação, consultando se possível um profissional da área de nutrição
e praticar exercícios físicos para o seu dia-a-dia.

Exercícios físicos e esportes

Sentar-se em boa forma, manter boa postura ao instrumento, fazer aquecimentos e


alongamentos diminuem o risco de lesões físicas. A prática de esportes é altamente
recomendada, principalmente exercícios aeróbicos, como natação e caminhadas, associados a
alongamentos.

Relaxamento e respiração

Exercícios de relaxamento e o domínio da respiração diafragmática são também


importantes para a diminuição do stress para todos os instrumentistas.

Ansiedade no palco

A preparação psicológica envolve os aspectos de comportamento, atitudes e valores


que contribuirão para a diminuição da ansiedade na performance.
Ansiedade da performance

Todos os artistas um dia sentem ansiedade. Mesmo os mais experientes sentem


alguma apreensão antes de entrar no palco. A ansiedade da performance pode trazer situações
clínicas que variam de pessoa para pessoa, apresentando sintomas físicos e mentais.

Sintomas corporais e mentais

Entre os sintomas corporais da ansiedade encontrados estão: tensão muscular,


agitação, tremores, aceleração dos batimentos cardíacos, suor, ondas de calor ou frio, boca
seca, náusea, aumento do nível de adrenalina e vontade de ir constantemente ao banheiro. Os
sintomas mentais da ansiedade são os seguintes: pensamentos derrotistas, distração, falhas de
memória e sensação de pânico (Roland, 1998). Muitos intérpretes buscam receitas simples
para lidar com a ansiedade, mas a solução para esse problema só é possível através da prática
de estratégias terapêuticas, e da adaptação dessas estratégias para a experiência individual do
intérprete (Salmon, 1992)

Níveis de ansiedade

Deve-se ter consciência a ansiedade e de que ela é normal e não negá-la. Ela pode ser
transformada em fatores positivos. A ansiedade deve ser encarada como uma excitação, um
desejo de entrar no palco e tocar, transformando-a em energia da performance. Até um certo
nível, a ansiedade aumenta a habilidade de realizar tarefas, de maneira adequada e mais
rápida. A partir daí, o efeito da ansiedade é de uma perda de controle e a performance tendo a
perder a qualidade.

Jogos da performance

Para Green (1986) existem dois jogos durante a performance e nestes o controle do
pensamento é primordial. O jogo exterior, que é a música em si com seus desafios técnico
interpretativos e o jogo interior, que acontece na mente do intérprete e produz os obstáculos
mentais, como falta de concentração e nervosismo.

Diálogo interior positivo


Otimismo, habilidade e motivação fazem parte das respostas efetivas nos diálogos
interiores. A prática diária de diálogo interior positivo pode mudar a resposta mental no
tempo que precede o recital, encarando assim o desafio e estabelecendo a auto-confiança, tão
fundamental para uma performance a contento.

Aceitação do erro

Os diálogos interiores positivos podem facilitar a aceitação do erro durante a


execução. No palco, com a percepção aguçada em estado de hiper-vigilância (Salmon, 1992),
os erros parecem mais graves do que na verdade são. A aceitação do erro deve ser um
objetivo dos ensaios.

O recital é um desafio

Além da resposta mental positiva, o recital deve ser encarado como um desafio e não
como uma ameaça. A ameaça, real ou imaginária, desencadeia fatores em nosso organismo.
Se o recital é encarado como uma única chance de sucesso, a ansiedade aumenta e
compromete o nível da apresentação, mas se é encarado como parte do seu desenvolvimento
artístico a ansiedade tente a diminuir.

Concentração

A concentração deve ser outro objetivo fundamental para o bom desempenho do


músico, mantendo o foco no que realmente interessa naquele momento e afastar pensamentos
irrelevantes.

Controle do stress

Em relação ao stress, as soluções são sempre individuais, assim como a escolha de


rituais. Alguns por exemplo, preferem o isolamento, outros a companhia de amigos, as
distrações. Outra estratégia para diminuir o stress e a ansiedade é a prática de ensaios mentais
(Roland, 1998), que nada mais são do que imaginar o resultado sonoro acompanhando com as
partituras.

Execução de rituais
A execução de rituais simples nos dias que precedem a apresentação ou recital, como
ler um trecho de um livro ou escutar determinada música, tendem a gerar uma situação de
conforto devido à familiaridade e à repetição da atividade.

Conclusão

Uma vez que a pesquisa ainda está em andamento, os dados coletados estão em fase de
análise. Posteriormente às atividades orientadas, os questionários serão novamente aplicados e
comparados com os resultados iniciais.
Referências

CARDASSI, Luciane. Pisando no Palco: Prática de performance e produção de recitais, 1999.

GREEN, Barry (with W. Timothy Gallwey). The Inner Game of Music. London: Pan
Original, 1987

GREENE, don. Fight your fear and win: seven skills for performing your best under.
Pressure. NY: Broadway books, 2001;

ROLAND, David. The Confident Performer. London: Heinemann, 1998.

SALMON, Paul & MEYER, Robert. Notes From The Green Room: Coping with Stress and
Anxiety In Musical Performance. New York: Lexington Books, 1992.

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