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Nome completo: Laís Melo Queiroz

Disciplina: Literatura Brasileira: Poética e Prosa II

Resenha crítica: Vó, a senhora é lésbica?

A lesbianidade na literatura brasileira

No conto, Vó a senhora é lésbica? pertencente ao livro Amora de Natalia


Borges Polesso, ganhador do prêmio jabuti em 2016, temos a história de Joana
e Taís (duas meninas que fazem letras e se conhecessem na faculdade) além
de tia Carolina e vó Clarissa (mulheres mais velhas, que se envolvem em um
relacionamento até então turbulento). A narrativa se constrói a partir de uma
pergunta feita por Joaquim (primo de Joana) acerca da lesbianidade de sua
avó, o que gera uma tensão na personagem de Joana, devido a enfrentar
dificuldades em comentar sobre sua sexualidade com sua família.

Durante o conto, apresentado na perspectiva de Joana, percebemos dilemas


enfrentados por mulheres lésbicas de diferentes gerações, onde se localiza
uma angústia não superada com relação a como os Outros (família, sociedade
etc.) reagiriam a exposição/ manifestação de sua subjetividade. Presente em
trechos como: “A vergonha estava na minha cara e me denunciava antes
mesmo da delação. Apertei os olhos e contraí o peito, esperando o tiro”
(POLESSO,2015, p.16) após a pergunta feita pelo primo e a crença de Joana
de que ele contaria sobre a sua sexualidade naquele momento.

Além disso, Natalia também aborda conflitos ligados a mulheres lésbicas mais
velhas, representadas por Clarissa e Carolina, tendo a última se afastado da
família durante um tempo (parando de visitá-las) e deixando a Vó Clarissa em
um estado deprimente, apresentado da seguinte forma: “depois daquela tarde,
as visitas começaram a rarear e minha vó se entristeceu de um jeito que doía
ver”. (POLESSO, 2015, p.38-39) Demonstrando que mesmo depois de velhas,
e com capacidade financeira/ estrutural de viverem juntas, ainda sim, existiriam
empecilhos em desenvolver seu relacionamento enquanto casal.
A reflexão apresentada na dissertação de Carolinne Taveira de Melo da
universidade estadual da paraíba (UEPB) sobre o âmbito público / privado
explicitado nos contos de amora, escancara um paradoxo enfrentado por
mulheres lésbicas, em conseguirem encontrar espaços para serem quem são e
utilizarem do isolamento para não sofrerem violências ou opressões, o que
segundo a autora:

Além disso, notamos nas personagens, presentes nas


narrativas de Polesso, a presença da privacidade, talvez lida
como uma espécie de privilégio. Mas, paradoxalmente, essa
privacidade (âmbito privado) é vivida, em algumas narrativas,
em ambientes públicos (banheiro, biblioteca, por exemplo). E
ainda mais: a privacidade de tais personagens faz delas reféns
do medo, da possibilidade de serem “descobertas” pelos seus
familiares e do que lhes pode acontecer (TAVEIRA
CAROLINNE, 2021, p.102)

E que são nestes espaços as linhas de fuga para a sua existência a


autoexpressão:
Nas narrativas anteriores, analisadas no primeiro capítulo,
discorremos a respeito do devir-lésbico, partindo do conceito de
Deleuze e Guattari (2012), chamando atenção para as linhas
de fuga encontradas (e criadas) pelas personagens para se
fazerem existir, configurando, assim, a margem como uma
possibilidade potencial de ser o que desejam ser. (TAVEIRA
CAROLINNE, 2021, p. 102)

Ademais, a forma com que Polesso situa os leitores do conto dentro de


diferentes possibilidades (ou não) de expressão da sexualidade, exprimem uma
reflexão acerca das diferentes lutas e conflitos vivenciados por mulheres
lésbicas, dependendo do contexto e geração que elas estejam inseridas,
apontada a partir de um transe vivido por Joana. Neste momento, a mesma
imagina cenas em que tanto ela e Tais, quanto Clarissa e Carolina vivenciam
momentos de intimidade, e após ele, se dá conta de que provavelmente sua
avó nunca experienciou nada daquilo, diferentemente dela:
“Me ocorreu que nunca tivessem dançado, nem bebido juntas, ou sim. Pensei
na naturalidade com que Taís e eu levávamos a nossa história.” (POLESSO,
2015, p.20)
Vale ressaltar que Polesso contribui e adiciona de maneira valorosa para a
literatura lésbica (ou sáfica) brasileira, que atravessa uma invisibilidade e
distorção de seus significados. O blog Blogueiras Feministas publicou um texto
intitulado “(in) visibilidades lésbicas e a literatura” denunciando a ausência de
mulheres lésbicas como autoras de histórias que abordem suas vivencias, e
escancarando que a maioria dos romances brasileiros são escritos por
homens. (72,7%) Constatando a importância de Amora não só como obra
literária, mas também na contribuição do protagonismo de mulheres lésbicas
como produtoras de conhecimento.
Referências

NATÁLIA BORGES POLESSO. Amora : contos. Porto Alegre: Não Editora,


2016.

‌ A, W.; ALVES, S. UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA CENTRO DE


D
EDUCAÇÃO DEPARTAMENTO DE LETRAS E ARTES PROGRAMA DE
PÓS-GRADUAÇÃO EM LITERATURA E INTERCULTURALIDADE
CAROLINNE TAVEIRA DE MELO O DEVIR LÉSBICO NA LITERATURA
BRASILEIRA: ENTRE A TRADIÇÃO E A. Disponível em:
<https://tede.bc.uepb.edu.br/jspui/bitstream/tede/3723/2/DISSERTA
%c3%87%c3%83O%20-%20CAROLINNE%20TAVEIRA%20DE
%20MELO.pdf>. Acesso em: 25 out. 2023.

BLOGFEM, P. P. (In)Visibilidades lésbicas e a literatura. Disponível em:


<https://blogueirasfeministas.com/2013/08/29/invisibilidades-lesbicas-e-a-
literatura/>. Acesso em: 25 out. 2023.

Vista do Reflexões acerca da lesbianidade: a literatura como um espaço


de (re)existência da subjetividade lésbica na contemporaneidade.
Disponível em: <https://periodicos.ufs.br/historiar/article/view/12648/9498>.
Acesso em: 25 out. 2023.

Vista do Narrativas de mulheres e da lesbianidade: discursos do “outro


lugar”. Disponível em:
<https://www.revistas.usp.br/criacaoecritica/article/view/139758/139438>.
Acesso em: 25 out. 2023.

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