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All content following this page was uploaded by Cecília Mendonça on 22 October 2018.
Resumo: Este artigo pretende estudar o dimensionamento de estacas helicoidais. Para tal
recorreu-se às metodologias teóricas encontradas na bibliografia bem como à análise de testes
efectuados no terreno. Expõem-se os métodos de cálculo bem como os ábacos produzidos a
partir das metodologias teóricas. Verifica-se que a mesma estaca exibe capacidades últimas
bastante diferentes em função do terreno em que são aplicadas, pelo que é obrigatório um
estudo geotécnico do local de modo a fazer um dimensionamento correcto da fundação.
1. Introdução
As estacas helicoidais são usadas na construção há pelo menos 200 anos. Antigamente, as
estacas helicoidais eram uma alternativa utilizada apenas em alguns casos especiais, como o
caso dos faróis na Inglaterra onde foi registada pela primeira vez o seu uso. Os créditos desta
invenção são de Alexander Mitchell em 1833.
Fig. 1 - Farol de Maplin Sands – (de [1]) Fig. 2 - Estaca Helicoidal – (de [2])
2 II Congresso Luso-Africano de Construção Metálica Sustentável, Maputo, Moçambique
A estaca helicoidal consiste numa estaca metálica de pequeno diâmetro com pratos helicoidais
associados que ajudam a transmitir os esforços ao terreno, como se pode ver na figura 2. Estas
estacas são usadas em solos onde as camadas superiores são fracas e solos mais resistentes
aparecem a maior profundidade. Em muitas ocasiões encontram-se solos fracos que levam a
assentamentos desiguais, levando a deformações e fendilhação da estrutura.
2. Capacidade de Suporte
Os métodos mais comuns de cálculo teórico da capacidade de suporte das estacas helicoidais
baseiam-se nas tradicionais análises do estado limite, já bem conhecidas da geotecnia. São
esses os Métodos de Suporte Individual e do Cilindro de Corte (ou de Cisalhamento). Estes
métodos são usados principalmente para dimensionar o tamanho da estaca helicoidal, o
número e o tamanho dos pratos helicoidais bem como a força necessária à estaca para suportar
as cargas de cálculo. Estes métodos são utilizados em conjunto com a medição do momento
torsor na cabeça da estaca e alguns testes de carga ajudam a alcançar valores para a
capacidade de suporte com um elevado grau de confiança.
Os dois métodos apresentados na figura 3 baseiam-se na análise do estado limite, e
distinguem-se pelo espaçamento entre os pratos helicoidais. Quando os pratos estão bastante
afastados, cada hélice age de forma independente, utilizando-se o método de suporte
individual. A capacidade de suporte das estacas nesse caso é a soma da capacidade individual
de cada um dos pratos. Quando o espaçamento é mais reduzido, os pratos helicoidais vão
actuar como grupo. Nesta caso a capacidade de suporte é uma combinação da capacidade de
suporte do prato mais abaixo de todos e o esforço de corte ao longo do cilindro de corte do
terreno enquadrado entre os pratos da estaca.
Por norma, não é conhecida à partida a distância entre os pratos, visto esta depender das
caracteristicas do solo e da própria geometria da estaca, pelo que a capacidade deve ser
determinada usando os dois métodos e utilizando o valor mais baixo, chamado o valor limite.
Segundo Seider [4], o espaçamento ideal para os pratos é tal que o resultado utilizando os dois
métodos seja o mesmo.
Uma força distribuída uniforme está presente por de baixo do prato localizado a maior
profundidade, e também forças de corte à volta do solo contido entre os pratos, bem como ao
longo da estaca na zona onde não há mais pratos, e o esforço axial aplicado no topo da estaca
A capacidade de suporte limite por este método define-se pela soma das forças de corte ao
longo do cilindro com o atrito lateral ao longo da estaca e com a força de suporte exercida no
prato da base.
Pu = q ult A1 + T(n − 1)sπDAVG + αH(πd) (23)
onde A 1 é a área do prato da base, T é a força de corte do solo, H é a altura acima do primeiro
prato helicoidal, d é o diametro da estaca e (n-1)s é o comprimento de solo entre pratos.
Nas argilas T pode ser considerado igual a c u . Nas areias a parte dificil em definir a força de
corte é definir a tensão efectiva confinada ( σ′n ). Num solo compacto σ′n = K o P′o onde Ko é
o coeficiente de pressão lateral em repouso e P’o é a tensão efectiva de sobrecarga à
profundidade z e é dada por:
P′o = γz − γw hw (24)
onde ϒ é o peso próprio do solo, ϒ w é o peso próprio da água e h w é a altura da água acima da
cota z. Numa instalação ideal de uma estaca helicoidal, esta entra no solo com uma
perturbação mínima. Contudo ocorre sempre algum deslocamento lateral durante a inserção
da estaca, o que causa um aumento da tensão lateral. Mitsch e Clemence [12] mostraram que
a tensão lateral existente é proporcional à densidade inicial do solo. O coeficiente de tensão
lateral, K h é dado por:
K h = 0.09e0.08ϕ (25)
O esforço de corte T pode ser definido por:
T = K h P′o tanϕ = �0.09e0.08ϕ �(γz − γw hw )tanϕ (26)
6 II Congresso Luso-Africano de Construção Metálica Sustentável, Maputo, Moçambique
Podemos ainda ver na figura 7 a contagem SPT à profundidade máxima das estacas, para os
diferentes testes executados. Os resultados foram agrupados em duas séries. A série
representada por uma cruz, reúne as estacas de maior diâmetro (114 a 274 mm) e a
representada por quadrados pretos de menor diâmetro (73 a 89 mm).
Pode-se observar a tendência da deformação ser menor à medida que a contagem de SPT
aumenta, como era de se esperar na presença de solos mais duros/resistentes. Os testes que
aparecem para SPT=40, bem como para SPT=30 com deformações bastante elevadas, foram
realizados em solos glaciares (de Tilíto), que podem ter afectado a contagem como já referido
anteriormente.
A equação que melhor se adapta ao modelo deveria tender para infinito à medida que que a
contagem SPT se aproxima de zero, para solos fluidos; e a deformação efectiva deveria
desaparecer para valores de SPT extremamente elevados. Logo temos que a deformação
efectiva pode ser definida para estacas com diâmetros médios entre 73 e 89 mm por:
λδ
δ=N 0.37 (27)
70
onde δ é a deformação efectiva, λ δ é uma constante de ajuste que toma o valor de 110 mm e
N 70 é a contagem do SPT para um rácio de energia de 70.
Já para a série de maiores diâmetros, ignorando os 4 testes com valores muito elevados,
chegou-se à seguinte função:
λ
δ = N δ0.56 (28)
70
Neste caso λ δ toma o valor de 83 mm. Qualquer uma das funções apresenta uma variância R 2
perto dos 50%, o que é uma correlação pouco satisfatória.
I Congresso Luso-Africano de Construção Metálica Sustentável, Maputo, Moçambique 7
Percebe-se pelas variâncias apresentadas a rondar os 50% que a contagem de SPT não é
suficiente para estimar a deformação. A deformação depende de várias propriedades
mecânicas das estacas bem como geométricas (espessuras dos pratos helicoidais, diâmetro e
espessura da estaca).
Estimar o assentamento das estacas através de um programa de elementos finitos é possível e
bastante eficaz. É necessário criar um modelo onde se representa o solo por uma malha
triangular, devendo a estaca ser representada no meio do modelo. A carga é aplicada à estaca
junto à superficie do solo. A modelação em elementos finitos também se torna interessante
pela possibilidade de saber os esforços que vamos encontrar em determinada parte da peça
que estamos a dimensionar. A eficácia do modelo depende da qualidade da informação sobre
as propriedades do solo introduzidas no programa, da correcta definição das condições de
fronteira e das propriedades do material utilizado na estaca.
Para condições de fronteira é importante fixar os nós na parte de baixo do modelo tanto
horizontal como verticalmente; nos pontos limite laterais fixar só lateralmente com apoios
simples. Desde que estes pontos que foram fixados estejam a alguma distância da estaca, estas
imposições não devem ter grande influência nos resultados obtidos. A estaca desde o prato
helicoidal superior até à superficie não cruza nenhum nó, senão no topo. Quer isto dizer que o
atrito lateral é considerada nulo. No entanto entre pratos helicoidais é possivel fazer uma
malha mais apertada de modo à estaca passar em cima de nós do terreno, fixando-os juntos,
de forma a ser possível a estaca arrastar o solo à sua volta no caso do modelo do cilindro de
cisalhamento. Se se quiser simular o modelo de capacidade individual é possivel dissociar a
estaca dos nós do solo.Quando existem várias camadas de solo distintas é possivel representar
as quebras entre camadas na malha e atribuir a cada camada os valores específicos das suas
propriedades, nomeadamente o seu módulo de elasticidade E e o seu coeficiente de Poisson ν.
As equações (29) e (30) são quase iguais às expressões apresentadas para a capacidade última
de suporte. É necessário aplicar o que foi visto no capítulo 2 para ajustar os parâmetros aos
diversos tipos de solo. A capacidade de carga do solo é dada por:
q ult = cN′c + q′ N′ q + 0.5γDN′γ (31)
Se o projectista quiser ser conservador pode multiplicar o P u pelo factor λ 1 =0,87. Este factor
é para ter em conta o distúrbio das terras devido à instalação da estaca. Para solos muito
sobreconsolidados e rocha alterada é preciso ter cuidados acrescidos e é recomendado que se
recorra a testes para verificar a capacidade real ao arranque destes solos.
Também é necessário verificar a capacidade estrutural da própria estaca, para perceber se
estruturalmente tem a capacidade de arranque necessária ou não. A maioria dos fabricantes
fornecem a informação da capacidade estrutural das diversas estacas que produzem, de forma
aos projectistas poderem entrar com essa informação na concepção da infraestrutura. Todos os
valores fornecidos podem (caso seja necessário) ser obtidos em laboratório.
Fig. 10 - Rácio de Profundidade em solo seco (à esq) e solo submerso (à dir.) - Adaptado de
Perko e Rupiper [9]
10 II Congresso Luso-Africano de Construção Metálica Sustentável, Maputo, Moçambique
4. Conclusões
A mesma estaca helicoidal tem capacidades últimas de suporte diferentes consoante o local de
instalação da mesma. Assim, para além da concepção da capacidade estrutural, é preciso ter
em conta a capacidade do terreno. Foram sugeridos 2 diferentes métodos para fazer essa
estimativa. Como os conceitos em causa são teóricos, tanto se aplicam à compressão como à
tracção. É recomendado que se calcule a capacidade tanto pelo método de suporte individual,
como pelo cilindro de cisalhamento e que se considere o valor mais baixo dos dois. É
necessário cumprir a profundidade mínima de modo a que o comportamento da estaca seja de
fundação em profundidade; de outra forma, é possível que para o esforço de tracção ocorra
ruptura por superficialidade. Ter em conta ao longo de toda a concepção as particularidades
que podem ser necessárias ter em conta, como a presença de água no solo, a possibilidade de
arrastamento, de encurvadura e de efeito de grupo. Só no modelo em Elementos Finitos é tido
em conta a deformação real da estaca, o que torna esta modelação extremamente útil.
Agradecimentos
Este trabalho foi comparticipado com fundos do projecto “VHSSPOLES-Very High Strength
Steel Poles” (FEUP referência 21518) patrocinado pelo FEDER (COMPETE). Os autores
agradecem o suporte financeiro bem como a oportunidade de contribuir para o
desenvolvimento do local de testes da Metalogalva (Trofa, Portugal).
Referências
[1] Website: http://www.structuremag.org/article.aspx?articleid=489 - Creating Acceptance
for Helical Foundations, Fevereiro 2013.
[2] Website: www.vercon.com.br - Vercon Industrial: Fabricação e Montagem de
Estruturas Metálicas, Fevereiro 2013.
[3] Narasimha Rao, S.; Prasad, Y.V.S.N.; Shetty, M.D. (1991). The behavior of model
screw piles. Cohesive soils, Soils and Foundations 31(2), pp. 35-50.
[4] Seider, G. (2004). Helical Foundations: What an Engineer Needs to Know. Structure
Magazine, Vol. 11, No. 6, pp. 27-28.
[5] Terzaghi, K. (1943). Theoretical Soil Mechanics. New York, John Wiley & Sons, USA.
[6] Meyerhof, G.G. (1976). Bearing Capacity and Settlement of Pile Foundation. Journal of
Geotechnical and Geoenvironmental Engineering, Vol. 102, No. 3, pp. 195-228.
[7] Vesic, A.S. (1973). Analysis of Ultimate Loads of Shallow Foundations. ASCE Journal
of Soil Mechanics and Foundation Design, Vol. 99, No. SM1, pp. 45-73.
[8] Skempton, A.W. (1951). The Bearing Capacity of Clays. Proceedings of the Building
Research Congress, Vol. 1, pp. 180-189.
[9] Perko, H.A.; Rupiper, S. (2002). Helical Pile Engineering Handbook, Manufacturer
technical literature. Larkspur, CO; Precision Pier, USA.
[10] Parry, R.H. (1977). Estimating Bearing Capacity of Sand from SPT Values. ASCE
Journal of Geotechnical Engineering Division, Vol. 103, No. GT 9, pp. 1014-1019.
[11] Mooney, J.S.; Adamczak Jr., S.; Clemence, S.P. (1985). Uplift Capacity of Helix
Anchors in Clay and Silt; in: Uplift Behaviour of Anchor Foundations in Soil,
Proceedings of ASCE, pp. 48-72.
[12] Mitsch, M.P.; Clemence, S.P. (1985). The Uplift Capacity of Helix Anchors in Sand; in:
Uplift Behavior of Anchor Foundations in Soil. Proceedings of ASCE, pp. 26–47.
[13] Ghaly, A.M.; Clemence, S.P. (1998). Pullout Performance of Inclined Helical Screw
Anchors in Sand. Journal of Geotechnical and Geoenvironmental Engineering, Vol.
124, No. 7, pp. 617-627.