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DIMENSIONAMENTO DE ESTACAS HELICOIDAIS PARA FUNDAÇÕES DE


PAINEIS FOTOVOLTAICOS

Conference Paper · March 2013

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Cecília Mendonça Rui Barros


SENER Ingeniería y Sistemas University of Porto
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DIMENSIONAMENTO DE ESTACAS HELICOIDAIS PARA
FUNDAÇÕES DE PAINEIS FOTOVOLTAICOS

Cecília Mendonça e Rui Carneiro de Barros

Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto

Resumo: Este artigo pretende estudar o dimensionamento de estacas helicoidais. Para tal
recorreu-se às metodologias teóricas encontradas na bibliografia bem como à análise de testes
efectuados no terreno. Expõem-se os métodos de cálculo bem como os ábacos produzidos a
partir das metodologias teóricas. Verifica-se que a mesma estaca exibe capacidades últimas
bastante diferentes em função do terreno em que são aplicadas, pelo que é obrigatório um
estudo geotécnico do local de modo a fazer um dimensionamento correcto da fundação.

1. Introdução
As estacas helicoidais são usadas na construção há pelo menos 200 anos. Antigamente, as
estacas helicoidais eram uma alternativa utilizada apenas em alguns casos especiais, como o
caso dos faróis na Inglaterra onde foi registada pela primeira vez o seu uso. Os créditos desta
invenção são de Alexander Mitchell em 1833.

Fig. 1 - Farol de Maplin Sands – (de [1]) Fig. 2 - Estaca Helicoidal – (de [2])
2 II Congresso Luso-Africano de Construção Metálica Sustentável, Maputo, Moçambique

A estaca helicoidal consiste numa estaca metálica de pequeno diâmetro com pratos helicoidais
associados que ajudam a transmitir os esforços ao terreno, como se pode ver na figura 2. Estas
estacas são usadas em solos onde as camadas superiores são fracas e solos mais resistentes
aparecem a maior profundidade. Em muitas ocasiões encontram-se solos fracos que levam a
assentamentos desiguais, levando a deformações e fendilhação da estrutura.

Durante o carregamento as forças são trasmitidas ao solo, logo a capacidade de suporte de


uma estaca, não depende só da sua resistência e rigidez estrutural, mas também da capacidade
portante do terreno. Segundo Narashima et al [3] a capacidade última de uma estaca é
dependente do ângulo interno de atrito, ϕ; do factor ou coeficiente de atrito, α; do peso
próprio do solo, ϒ; e da resistência não drenada do solo, c u .

2. Capacidade de Suporte
Os métodos mais comuns de cálculo teórico da capacidade de suporte das estacas helicoidais
baseiam-se nas tradicionais análises do estado limite, já bem conhecidas da geotecnia. São
esses os Métodos de Suporte Individual e do Cilindro de Corte (ou de Cisalhamento). Estes
métodos são usados principalmente para dimensionar o tamanho da estaca helicoidal, o
número e o tamanho dos pratos helicoidais bem como a força necessária à estaca para suportar
as cargas de cálculo. Estes métodos são utilizados em conjunto com a medição do momento
torsor na cabeça da estaca e alguns testes de carga ajudam a alcançar valores para a
capacidade de suporte com um elevado grau de confiança.
Os dois métodos apresentados na figura 3 baseiam-se na análise do estado limite, e
distinguem-se pelo espaçamento entre os pratos helicoidais. Quando os pratos estão bastante
afastados, cada hélice age de forma independente, utilizando-se o método de suporte
individual. A capacidade de suporte das estacas nesse caso é a soma da capacidade individual
de cada um dos pratos. Quando o espaçamento é mais reduzido, os pratos helicoidais vão
actuar como grupo. Nesta caso a capacidade de suporte é uma combinação da capacidade de
suporte do prato mais abaixo de todos e o esforço de corte ao longo do cilindro de corte do
terreno enquadrado entre os pratos da estaca.
Por norma, não é conhecida à partida a distância entre os pratos, visto esta depender das
caracteristicas do solo e da própria geometria da estaca, pelo que a capacidade deve ser
determinada usando os dois métodos e utilizando o valor mais baixo, chamado o valor limite.
Segundo Seider [4], o espaçamento ideal para os pratos é tal que o resultado utilizando os dois
métodos seja o mesmo.

2.1. Método de Suporte Individual


O mecanismo de ruptura no método de suporte individual consiste em cada um dos pratos
individuais mobilizarem o solo. O diagrama de corpo livre é apresentado na figura 4 onde está
representada a distribuição de esforços adequada a este modo. Uma distribuição uniforme de
pressão é representada por de baixo de cada prato helicoidal. O atrito lateral é considerado ao
longo da estaca. É aplicado um esforço axial N à estaca no seu topo. A capacidade de suporte
última para uma estaca com n pratos helicoidais de diametro d é dado por:
Pu = ∑n q ult An + αH(πd) (1)
onde q ult é a capacidade de carga, A n é a área do prato helicoidal n, α é o coeficiente de atrito
lateral entre o solo e a estaca, e H é o comprimento da estaca acima do prato a maior
profundidade. A capacidade de carga para elementos circulares pode ser dada pela conhecida
fórmula de Terzaghi [5]:
q ult = 1.3cNc + q′ Nq + 0.3γBNγ (2)
I Congresso Luso-Africano de Construção Metálica Sustentável, Maputo, Moçambique 3

onde Nc, Nq e Nϒ são parâmetros adimensionais chamdos de factores de capacidade de carga


e dependem apenas do ângulo de atrito do solo, φ; c é a coesão do solo, q’ representa a tensão
efectiva vertical ao nivel da base do elemento; ϒ é o peso volúmico representando a
contribuição do peso da massa do solo deslocada e B é a largura do elemento de suporte.

Fig. 3 - Modelos de ruptura de estacas Fig. 4 – Diagrama de corpo livre do método


helicoidais de suporte individual

Os três parâmetros adimensionais aumentam exponencialmente com o ângulo de atrito interno


do solo. Meyerhof [6] modificou a fórmula de Terzaghi dada na equação (2) para ter em conta
o formato do elemento de suporte e a sua profundidade. A capacidade de carga passou a ser
dada por:
q ult = cNc sc dc + q′ Nq sq dq + 0.5BNγ sγ dγ (3)
onde s c ,s q ,s ϒ são factores correctivos para ter em conta a forma da fundação e d c , d q e d ϒ são
factores de profundidade. Meyerhof também redimensionou os parâmetros adimensionais
dados agora pelas equações (4), (5) e (6).
ϕ
Nq = eπ∙tanϕ tan2 �45 + 2 � (4)
Nc = �Nq − 2�cotϕ (5)
Nγ = �Nq − 1�tan(1.4ϕ) (6)
Os factores de forma e profundidade foram aperfeiçoados por Hansen e Vesic [7] e são dados
pelas seguintes expressões:
Nq B
sc = 1 + N L
(8)
c
B
sq = 1 + L tanϕ (9)
B
sγ = 1 − 0.4 L (10)
dc = 1 + 0.4K (11)
dγ = 1 (12)
H
K = arctan �B� (13)
4 II Congresso Luso-Africano de Construção Metálica Sustentável, Maputo, Moçambique

onde L é o comprimento do elemento de fundação, K é um factor de escala e φ é o ângulo de


atrito interno do solo.
Existem ainda mais factores correctivos determinados por Vesic para ter em conta a
inclinação das forças ou da base das fundações, que não são tidos em conta para fundações
profundas. Para além dessas simplificações é ainda possível simplificar mais para o caso das
estacas helicoidais: B e L são iguais ao diâmetro do prato helicoidal. Como o comprimento da
estaca costuma ser muito superior ao diâmetro dos pratos temos que H/B toma valores
bastante elevados, o que faz com que K se aproxime de π/2. Se K H e B tomam valores
constantes, todos os factores construtivos de forma e profundidade vêm só em função do
ângulo interno de atrito φ.
Para ter em conta o peso da estaca, e o peso do solo sobre os pratos helicoidais, a tensão
efectiva vertical, q’, é subtraida do segundo termo da equação. A equação simplificada para
estacas helicoidais pode ser dada por:
q ult = cN′c + q′ (N′ q − 1) + 0.5γDN′γ (14)
Para as argilass onde φ=0 temos que N’ c =10, N’ q =1 e N’ ϒ =0. No entanto Skempton [8]
demonstrou que para fundações profundas o valor de N’ c =9. Adoptam-se nestas condições
análises em tensões totais pelo que a coesão assume o valor da resistência não drenada do solo
(c=c u ); o maciço é considerado como material puramente coesivo e as pressões neutras são
ignoradas. A expressão para a capacidade de carga sob condições não drenadas é dada por:
q ult = 9cu (15)
Combinando a equação (15) com cu = λSPT N55 a capacidade de carga pode ser calculada em
função do teste de penetração. Acrescentando uma correcção ao racio de energia do SPT de
55 para 70 temos que:
q ult = 11λSPT N70 (16)
Para se calcular a capacidade de suporte última da estaca basta subtituir a equação (16) ou a
(14) na equação (1). De forma conservativa pode-se ignorar o atrito lateral entre solo e estaca.
Para as areias (c=0) o primeiro termo da equação (14) é nulo e o terceiro termo toma valores
tão pequenos para fundações profundas que podem ser desprezados. Nesse caso temos que:
q ult = q′�N′q − 1� (17)
A equação (17) pode sobrestimar o valor da capacidade de carga uma vez que q’ aumenta
linearmente com a profundida. Para determinar a profundidade crítica, ou seja obter o valor
limite da capacidade, determinou-se por regressão linear (Perko e Rupiper [9]) que a
profundidade crítica é duas vezes a média dos diametros dos pratos helicoidais.
q ult = 2DAVG γ�N′q − 1� (18)
Em alternativa, Parry [10] sugere a seguinte expressão relacionada com o SPT:
q ult = 5λSPT N55 = 12λSPT N70 (19)
Há ainda a possibilidade da estaca se suportar em rocha “bedrock”. A capacidade de suporte
de uma estaca em rocha sã pode ser determinada a partir dos valores do RQD (“Rock Quality
Designation”) que é um sistema de classificação indicativo da qualidade de maciços rochosos,
definido a partir de sondagens realizadas com recuperação contínua de amostra.
∑(Comprimento de Rocha intacta>10𝑐𝑚)
RQD = Comprimento de toda a amostra
(20)
Para determinar a capacidade de suporte com base no RQD sabe-se que:
q u = q peak (RQD2 ) (21)
Os valores de q peak devem ser obtidos em laboratório ou estimados a partir de tabelas. Rochas
fortemente alteradas podem comportar-se mais como um solo do que como uma rocha e o seu
comportamento pode ser descrito por:
q ult = 13λSPT N70 (22)
I Congresso Luso-Africano de Construção Metálica Sustentável, Maputo, Moçambique 5

2.2. Método do Cilindro de Cisalhamento


O método de suporte individual não é muitas vezes o método crítico. Mooney et al. [11]
recomendam o uso do método do Cilindro de Cisalhamento (ou de Corte) para estimar a
capacidade da estaca quando as estacas têm mais do que um prato helicoidal. Neste método
todo o volume de terra compreendido entre os pratos helicoidais é mobilizado. O diagrama de
corpo livre deste método é exibido na figura 5.

Fig. 4 - Diagrama de Corpo Livre, no Método do Cilindro de Cisalhamento

Uma força distribuída uniforme está presente por de baixo do prato localizado a maior
profundidade, e também forças de corte à volta do solo contido entre os pratos, bem como ao
longo da estaca na zona onde não há mais pratos, e o esforço axial aplicado no topo da estaca
A capacidade de suporte limite por este método define-se pela soma das forças de corte ao
longo do cilindro com o atrito lateral ao longo da estaca e com a força de suporte exercida no
prato da base.
Pu = q ult A1 + T(n − 1)sπDAVG + αH(πd) (23)
onde A 1 é a área do prato da base, T é a força de corte do solo, H é a altura acima do primeiro
prato helicoidal, d é o diametro da estaca e (n-1)s é o comprimento de solo entre pratos.
Nas argilas T pode ser considerado igual a c u . Nas areias a parte dificil em definir a força de
corte é definir a tensão efectiva confinada ( σ′n ). Num solo compacto σ′n = K o P′o onde Ko é
o coeficiente de pressão lateral em repouso e P’o é a tensão efectiva de sobrecarga à
profundidade z e é dada por:
P′o = γz − γw hw (24)
onde ϒ é o peso próprio do solo, ϒ w é o peso próprio da água e h w é a altura da água acima da
cota z. Numa instalação ideal de uma estaca helicoidal, esta entra no solo com uma
perturbação mínima. Contudo ocorre sempre algum deslocamento lateral durante a inserção
da estaca, o que causa um aumento da tensão lateral. Mitsch e Clemence [12] mostraram que
a tensão lateral existente é proporcional à densidade inicial do solo. O coeficiente de tensão
lateral, K h é dado por:
K h = 0.09e0.08ϕ (25)
O esforço de corte T pode ser definido por:
T = K h P′o tanϕ = �0.09e0.08ϕ �(γz − γw hw )tanϕ (26)
6 II Congresso Luso-Africano de Construção Metálica Sustentável, Maputo, Moçambique

2.3. Deformação da estaca


Os dois métodos abordados em 2.1 e 2.2 lidam exclusivamente com a força. Sabe-se que
utilizando um factor de segurança de 2 as deformações apresentadas são aceitáveis num
material de suporte competente. Define-se como material de suporte competente como aquele
que assegura ter uma contagem em SPT superior a 20. As deformações das estacas nessas
condições são da ordem dos 13 a 25 mm ou menos quando sob o carregamento de projecto.
A deformação efectiva é definida como a deformação total menos a deformação elástica da
estaca. Segundo Perko e Rupiper [9] a média da deformação efectiva média medida em 120
testes foi de 28 mm (figuras 6 e 7), e a maioria dos testes que exibiram deformações elevadas
ocorreram em solos macios. Se a capacidade de teste fosse dividida pelo factor de segurança,
as deformações segundo cargas permitidas seria menos de metade, dado o comportamento não
linear da maioria das estacas helicoidais.

Fig. 6 - Deformação efectiva no teste de Fig. 7 - Testes de deformações em estacas


carregamento das estacas helicoidais – (de [9]) helicoidais carregadas – adaptado de [9]

Podemos ainda ver na figura 7 a contagem SPT à profundidade máxima das estacas, para os
diferentes testes executados. Os resultados foram agrupados em duas séries. A série
representada por uma cruz, reúne as estacas de maior diâmetro (114 a 274 mm) e a
representada por quadrados pretos de menor diâmetro (73 a 89 mm).
Pode-se observar a tendência da deformação ser menor à medida que a contagem de SPT
aumenta, como era de se esperar na presença de solos mais duros/resistentes. Os testes que
aparecem para SPT=40, bem como para SPT=30 com deformações bastante elevadas, foram
realizados em solos glaciares (de Tilíto), que podem ter afectado a contagem como já referido
anteriormente.
A equação que melhor se adapta ao modelo deveria tender para infinito à medida que que a
contagem SPT se aproxima de zero, para solos fluidos; e a deformação efectiva deveria
desaparecer para valores de SPT extremamente elevados. Logo temos que a deformação
efectiva pode ser definida para estacas com diâmetros médios entre 73 e 89 mm por:
λδ
δ=N 0.37 (27)
70

onde δ é a deformação efectiva, λ δ é uma constante de ajuste que toma o valor de 110 mm e
N 70 é a contagem do SPT para um rácio de energia de 70.
Já para a série de maiores diâmetros, ignorando os 4 testes com valores muito elevados,
chegou-se à seguinte função:
λ
δ = N δ0.56 (28)
70

Neste caso λ δ toma o valor de 83 mm. Qualquer uma das funções apresenta uma variância R 2
perto dos 50%, o que é uma correlação pouco satisfatória.
I Congresso Luso-Africano de Construção Metálica Sustentável, Maputo, Moçambique 7

Percebe-se pelas variâncias apresentadas a rondar os 50% que a contagem de SPT não é
suficiente para estimar a deformação. A deformação depende de várias propriedades
mecânicas das estacas bem como geométricas (espessuras dos pratos helicoidais, diâmetro e
espessura da estaca).
Estimar o assentamento das estacas através de um programa de elementos finitos é possível e
bastante eficaz. É necessário criar um modelo onde se representa o solo por uma malha
triangular, devendo a estaca ser representada no meio do modelo. A carga é aplicada à estaca
junto à superficie do solo. A modelação em elementos finitos também se torna interessante
pela possibilidade de saber os esforços que vamos encontrar em determinada parte da peça
que estamos a dimensionar. A eficácia do modelo depende da qualidade da informação sobre
as propriedades do solo introduzidas no programa, da correcta definição das condições de
fronteira e das propriedades do material utilizado na estaca.
Para condições de fronteira é importante fixar os nós na parte de baixo do modelo tanto
horizontal como verticalmente; nos pontos limite laterais fixar só lateralmente com apoios
simples. Desde que estes pontos que foram fixados estejam a alguma distância da estaca, estas
imposições não devem ter grande influência nos resultados obtidos. A estaca desde o prato
helicoidal superior até à superficie não cruza nenhum nó, senão no topo. Quer isto dizer que o
atrito lateral é considerada nulo. No entanto entre pratos helicoidais é possivel fazer uma
malha mais apertada de modo à estaca passar em cima de nós do terreno, fixando-os juntos,
de forma a ser possível a estaca arrastar o solo à sua volta no caso do modelo do cilindro de
cisalhamento. Se se quiser simular o modelo de capacidade individual é possivel dissociar a
estaca dos nós do solo.Quando existem várias camadas de solo distintas é possivel representar
as quebras entre camadas na malha e atribuir a cada camada os valores específicos das suas
propriedades, nomeadamente o seu módulo de elasticidade E e o seu coeficiente de Poisson ν.

3. Capacidade de Arranque (Tracção)


Quase todos os métodos teóricos explanados no capítulo 2 também se aplicam no estudo da
capacidade de arranque de estacas helicoidais bem enterradas – que funcionam à tracção
como âncoras.
3.1. Capacidade Teórica de Arranque
Segundo Ghaly e Clemence [13] a capacidade à tracção da âncora helicoidal pode ser
determinada pelos mesmo métodos que a capacidade de suporte, se se garantir que as estacas
estão enterradas o suficiente de modo a garantir o comportamento esperado.
O rácio de espaçamento é definido pelo espaçamento entre pratos helicoidais a dividir pelo
diâmetro médio dos pratos. Uma estaca com um rácio de 1.5 apresenta um cilindro de
cisalhamento bem definido, enquanto que um rácio de 4.6 já apresenta um comportamento
individual. Na figura 8 apresenta-se o diagrama de corpo livre dos dois métodos.
No caso do método de capacidade individual existe uma força uniforme distribuida em cima
de cada prato helicoidal; no método do cilindro de cisalhamento existe uma força uniforme
distribuida em cima do prato superior e atrito lateral ao longo do cilindro de cisalhamento.
Para o método de suporte individual a Força de Arranque última é dada por:
Pu = ∑n q ult An + αHeff (πd) (29)
onde q ult é a capacidade de suporte, A n é a área do prato n, α é o atrito lateral entre o solo e a
estaca, H eff é a altura efectiva e d é o diâmetro da estaca.
Para o método do cilindro de cisalhamento a Força de Arranque última é dada por:
Pu = q ult AT + T(n − 1)sπDAVG + αHeff (πd) (30)
onde A T é a área do prato superior, T é o esforço de corte e (n-1)s é o comprimento do solo
entre pratos helicoidais. Todos os outros parâmetros foram definidos anteriormente.
8 II Congresso Luso-Africano de Construção Metálica Sustentável, Maputo, Moçambique

Fig. 8 - Diagrama de Corpo Livre - Método de Suporte Individual (à esq.) e


Método do Cilindro de Cisalhamento (à dir.)

As equações (29) e (30) são quase iguais às expressões apresentadas para a capacidade última
de suporte. É necessário aplicar o que foi visto no capítulo 2 para ajustar os parâmetros aos
diversos tipos de solo. A capacidade de carga do solo é dada por:
q ult = cN′c + q′ N′ q + 0.5γDN′γ (31)
Se o projectista quiser ser conservador pode multiplicar o P u pelo factor λ 1 =0,87. Este factor
é para ter em conta o distúrbio das terras devido à instalação da estaca. Para solos muito
sobreconsolidados e rocha alterada é preciso ter cuidados acrescidos e é recomendado que se
recorra a testes para verificar a capacidade real ao arranque destes solos.
Também é necessário verificar a capacidade estrutural da própria estaca, para perceber se
estruturalmente tem a capacidade de arranque necessária ou não. A maioria dos fabricantes
fornecem a informação da capacidade estrutural das diversas estacas que produzem, de forma
aos projectistas poderem entrar com essa informação na concepção da infraestrutura. Todos os
valores fornecidos podem (caso seja necessário) ser obtidos em laboratório.

3.2. Profundidade Mínima


A profundidade mínima é muito importante visto que todos os cálculos e conceitos teóricos
abordados até aqui partem do pressuposto que a estaca terá um comportamento próprio de um
modo de ruptura ocorrendo em profundidade. O modo de ruptura superficial ocorre quando os
pratos helicoidais estão demasiado perto da superficie ou demasiado perto dos limites de
ruptura activos. O modo é definido pelo cisalhamento do cone de terra por cima do prato
helicoidal superior, como se pode ver na figura 9.
Para evitar que o modo de ruptura superficial aconteça, o prato helicoidal superior tem que
estar enterrado o suficiente ou atrás o suficiente da zona activa do solo. A profundidade
mínima tem que ser tal que o peso do cone do solo sobre o prato seja suficiente. Para formular
a equação assume-se que o cone se forma com um angulo de 45º em cima do prato helicoidal
e é dado por:
1
W = 3 π�H 3 γs − hw 3 γw � (32)
onde H é a altura do prato superior até à superficie, ϒ s é o peso próprio do solo, h w é a altura
da água a partir do prato helicoidal superior e ϒ w é o peso próprio da água.
I Congresso Luso-Africano de Construção Metálica Sustentável, Maputo, Moçambique 9

Figura 9 - Exemplo de estacas superficiais

Esta abordagem é conservativa porque assume um vértice no prato helicoidal superior.


Desprezando o atrito lateral e considerando a contribuição apenas do prato helicoidal superior,
a força de arranque última pode ser dada por:
π
Pu = q ult �4 DT 2 � (33)
onde q ult pode ser estimado através do SPT utilizando a tabela 1.

Tabela 1 - Correlação entre a contagem do SPT e a capacidade de suporte


Capacidade de Suporte
Solo Equação
[kPa/Pancadas/30cm]
Argila q ult = 11 λSPT N70 68 N 70
Areias q ult = 12 λSPT N70 74 N 70
Rocha alterada q ult = 13 λSPT N70 81 N 70

Comparando a figura 10 (à esquerda e à direita) é possível verificar que o rácio de


profundidade aumenta cerca de 20% de um caso para o outro. É que a água para além de
reduzir o peso próprio efectivo do solo ainda reduz o atrito lateral do solo à volta da estaca e
dos pratos helicoidais. Em áreas em que se antecipa que o nível freático oscile bastante
comparativamente com a profundidade da estaca, uma análise da tensão efectiva é mais
apropriado para determinar a capacidade de suporte do que a contagem do SPT,
especialmente se essa contagem for realizada na época mais seca.

Fig. 10 - Rácio de Profundidade em solo seco (à esq) e solo submerso (à dir.) - Adaptado de
Perko e Rupiper [9]
10 II Congresso Luso-Africano de Construção Metálica Sustentável, Maputo, Moçambique

4. Conclusões
A mesma estaca helicoidal tem capacidades últimas de suporte diferentes consoante o local de
instalação da mesma. Assim, para além da concepção da capacidade estrutural, é preciso ter
em conta a capacidade do terreno. Foram sugeridos 2 diferentes métodos para fazer essa
estimativa. Como os conceitos em causa são teóricos, tanto se aplicam à compressão como à
tracção. É recomendado que se calcule a capacidade tanto pelo método de suporte individual,
como pelo cilindro de cisalhamento e que se considere o valor mais baixo dos dois. É
necessário cumprir a profundidade mínima de modo a que o comportamento da estaca seja de
fundação em profundidade; de outra forma, é possível que para o esforço de tracção ocorra
ruptura por superficialidade. Ter em conta ao longo de toda a concepção as particularidades
que podem ser necessárias ter em conta, como a presença de água no solo, a possibilidade de
arrastamento, de encurvadura e de efeito de grupo. Só no modelo em Elementos Finitos é tido
em conta a deformação real da estaca, o que torna esta modelação extremamente útil.

Agradecimentos
Este trabalho foi comparticipado com fundos do projecto “VHSSPOLES-Very High Strength
Steel Poles” (FEUP referência 21518) patrocinado pelo FEDER (COMPETE). Os autores
agradecem o suporte financeiro bem como a oportunidade de contribuir para o
desenvolvimento do local de testes da Metalogalva (Trofa, Portugal).

Referências
[1] Website: http://www.structuremag.org/article.aspx?articleid=489 - Creating Acceptance
for Helical Foundations, Fevereiro 2013.
[2] Website: www.vercon.com.br - Vercon Industrial: Fabricação e Montagem de
Estruturas Metálicas, Fevereiro 2013.
[3] Narasimha Rao, S.; Prasad, Y.V.S.N.; Shetty, M.D. (1991). The behavior of model
screw piles. Cohesive soils, Soils and Foundations 31(2), pp. 35-50.
[4] Seider, G. (2004). Helical Foundations: What an Engineer Needs to Know. Structure
Magazine, Vol. 11, No. 6, pp. 27-28.
[5] Terzaghi, K. (1943). Theoretical Soil Mechanics. New York, John Wiley & Sons, USA.
[6] Meyerhof, G.G. (1976). Bearing Capacity and Settlement of Pile Foundation. Journal of
Geotechnical and Geoenvironmental Engineering, Vol. 102, No. 3, pp. 195-228.
[7] Vesic, A.S. (1973). Analysis of Ultimate Loads of Shallow Foundations. ASCE Journal
of Soil Mechanics and Foundation Design, Vol. 99, No. SM1, pp. 45-73.
[8] Skempton, A.W. (1951). The Bearing Capacity of Clays. Proceedings of the Building
Research Congress, Vol. 1, pp. 180-189.
[9] Perko, H.A.; Rupiper, S. (2002). Helical Pile Engineering Handbook, Manufacturer
technical literature. Larkspur, CO; Precision Pier, USA.
[10] Parry, R.H. (1977). Estimating Bearing Capacity of Sand from SPT Values. ASCE
Journal of Geotechnical Engineering Division, Vol. 103, No. GT 9, pp. 1014-1019.
[11] Mooney, J.S.; Adamczak Jr., S.; Clemence, S.P. (1985). Uplift Capacity of Helix
Anchors in Clay and Silt; in: Uplift Behaviour of Anchor Foundations in Soil,
Proceedings of ASCE, pp. 48-72.
[12] Mitsch, M.P.; Clemence, S.P. (1985). The Uplift Capacity of Helix Anchors in Sand; in:
Uplift Behavior of Anchor Foundations in Soil. Proceedings of ASCE, pp. 26–47.
[13] Ghaly, A.M.; Clemence, S.P. (1998). Pullout Performance of Inclined Helical Screw
Anchors in Sand. Journal of Geotechnical and Geoenvironmental Engineering, Vol.
124, No. 7, pp. 617-627.

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