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Álgebra Linear - Transformação linear

Antonio Cândido Faleiros

Universidade Federal do ABC

Santo André, SP

2021
2
Sumário

1 Transformação linear 5
1.1 Transformação linear e bases . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
1.2 Transformações Lineares na Geometria . . . . . . . . . . . . . . 21
1.3 Núcleo e imagem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
1.4 Composição . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
1.5 Isomorsmo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
1.6 Matriz de uma transformação linear . . . . . . . . . . . . . . . . 56
1.7 Matriz da transformação composta . . . . . . . . . . . . . . . . 70
1.8 Matriz da transformação inversa . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75
1.9 Determinante de um operador linear . . . . . . . . . . . . . . . 77

Professor Antonio Cândido Faleiros


4 SUMÁRIO

Prezados alunos, sejam bem-vindos.

Pegue seu celular, computador ou tablet,

lápis, papel e borracha.

Anote, esboce, faça diagramas, pense, interprete.

Ah... e se tiver alguma dúvida, pergunte.

É assim que se estuda.

Professor Antonio Cândido Faleiros


Capítulo 1
Transformação linear

Sejam V e W espaços vetoriais.


Uma função
T :V →W

é chamada de aplicação ou transformação de V em W. Chamamos de


operador
T :V →V

Exemplo. 1.

T : R2 → R denida por T (x, y) = xy + 3x

2.

S : R2 → R3 denida por S(x, y) = ( x + y, 2xy, x2 − y 2 )

3.
L : R2 → R2 denida por L (x, y) = ( 3x − 5y, 2x )


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6 Transformação linear

Adição e multiplicação por um escalar

T :V →W e L : V → W.

A adição das transformações T e L resulta

T +L:V →W denida por (T + L)(v) = T (v) + L(v).

A multiplicação por um escalar c

cT : V → W denida por (c T )(v) = c T (v).

A transformação T + L é chamada de soma de T com L.


A transformação c T é o produto de c por T.

Exemplo. Se

T (x, y) = (2x − y, x + y, 2y) e L(x, y) = (3y, x − 2y, x).


Então

(T + L)(x, y) = T (x, y) + L(x, y) = (2x − y, x + y, 2y) + (3y, x − 2y, x)


(T + L)(x, y) = (2x + 2y, 2x − y, x + 2y)
e

(5L)(x, y) = 5L(x, y) = 5(3y, x − 2y, x) = (15y, 5x − 10y, 5x).




Denição 1.1 Sejam V e W espaços vetoriais denidos sobre um mesmo


corpo K.
Uma transformação T : V → W é linear se, para todo v1 e v2 em V e
todo escalar c em K,

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1. T (v1 + v2 ) = T (v1 ) + T (v2 ) e

2. T (c v1 ) = c T (v1 ).

A transformação linear T : V → V recebe o nome de operador linear.

A transformação nula é linear

0:V →W , 0(v) = 0 para todo v em V

O operador identidade é linear

i:V →V , i(v) = v, para todo v em V.

Exemplo. A transformação

T : R2 → R denida por T (x, y) = 2x − 3y

é linear pois

T ( (x, y) + (a, b) ) = T (x + a, y + b)
= 2(x + a) − 3(y + b)
= (2x − 3y) + (2a − 3b)
= T (x, y) + T (a, b).

T ( c(x, y) ) = T (cx, cy) = 2(cx) − 3(cy)


= c(2x − 3y) = cT (x, y),

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8 Transformação linear

Exemplo. Não são lineares:


1.
T : R2 → R denida por T (x, y) = xy

não é linear pois

2T (1, 1) = 2 × 1 × 1 = 2
T (2(1, 1)) = T (2, 2) = 2 × 2 = 4

2T (1, 1) 6= T (2(1, 1))

2. Quando n > 1, o determinante

det : Mn×n → R

não é uma transformação linear uma vez que

det(5A) = 5n det(A) 6= 5 det(A).

Teorema 1.2 Sejam V e W espaços vetoriais sobre o mesmo corpo K.


Uma transformação T : V → W é linear se, e só se, para todo par c1 , c2
de escalares e todo par v1 , v2 de vetores em V,

T (c1 v1 + c2 v2 ) = c1 T (v1 ) + c2 T (v2 ) .

Exemplo. Seja A uma matriz real m × n.


A transformação T que leva matrizes coluna n×1 em matrizes coluna m×1,
denida por

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T (X) = AX é linear.

De fato, se b e c forem números reais, se X, Y forem matrizes coluna,

T (bX + cY ) = A(bX + cY ) = A(bX) + A(cY )


= b(AX) + c(AY ) = bT (X) + cT (Y )

o que prova a linearidade de T. 

Exemplo. A derivada é um operador linear.


Sejam f (x) e g(x) forem duas funções reais denidas e deriváveis no inter-
valo aberto a < x < b.
Denote
df df
Df (x) = (x) e Df =
dx dx

Para todo k1 e k2 reais,

D(k1 f + k2 g)(x) = k1 Df (x) + k2 Dg(x),

para todo x no intervalo a < x < b. Logo, vale a igualdade entre funções

D(k1 f + k2 g) = k1 Df + k2 Dg,

A derivada leva a função f em C 1 (a, b) na função Df em C 0 (a, b). 

Exemplo. A integral indenida


Z x
f (t)dt = F (x)
a

é uma transformação linear pois

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10 Transformação linear
Z x Z x Z x
(k1 f + k2 g)(t)dt = k1 f (t)dt + k2 g(t)dt
a a a

De acordo com o Teorema Fundamental do Cálculo,


Z x
d
f (t) dt = f (x).
dx a

Exemplo. A integral denida


Z b
f (t)dt
a

é uma transformação linear. 

Exemplo. O operador T que leva a função polinomial p na função poli-


nomial T (p) denida em todo x real por

T (p)(x) = p(x + 1)

é linear. 

Propriedades das transformações lineares

Teorema 1.3 Seja T : V → W é uma transformação linear.


1.
T (0) = 0.

2. Sendo ci escalares e vi vetores de V, então

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11

T (c1 v1 + · · · + ck vk ) = c1 T (v1 ) + · · · + ck T (vk )

ou
k
! k
X X
T ci v i = ci T (vi )
i=1 i=1

Exemplo. A transformação T do R2 em R denida por

T (x, y) = 5 + x + 2y não é linear pois T (0, 0) = 5.

Exemplo. A transformação S do R2 no R2 denida por

T (x, y) = (1 + x, 2 + y) não é linear pois T (0, 0) = (1, 2).

Exemplo. O operador T denido no espaço vetorial das matrizes 2 × 2,


denido por
   
a b 2a + c + 1 c − 7a
T =
c d c + 4d 5b − a + 3
não é linear pois
   
0 0 1 0
T =
0 0 0 3


Exemplo. A transformação T : R2 → R denida por

T (x, y) = x2 + y

leva o (0, 0) do R2 no 0 de R.

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12 Transformação linear

Entretanto, T não é linear. Para v = (1, 3),

2T (v) = 2T (1, 3) = 2(12 + 3) = 8


T (2v) = T ( 2(1, 3) ) = T (2, 6) = 22 + 6 = 10

2T (v) 6= T (2v)


Exemplo. A transformação L do R2 em R, denida por

L(x, y) = xy ,

leva o (0, 0) do R2 no 0 de R. Mas não é linear. 

1.1 Transformação linear e bases


Sejam V e W espaços vetoriais sobre um mesmo corpo K.
Considere uma transformação linear

T :V →W

e uma base de V
B = {v1 , . . . , vn }

Podemos decompor um vetor v de V na base B

v = x1 v 1 + · · · + xn v n .

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1.1 Transformação linear e bases 13

onde x1 , . . . , xn são as coordenadas de v na base B.


Da linearidade de T,

T (v) = T (x1 v1 + · · · + xn vn ) = x1 T (v1 ) + · · · + xn T (vn ).

Que lições tiramos desta igualdade?

ˆ Primeira lição: Basta conhecer os valores de uma transformação linear T


nos vetores de uma base B de V, para calcular o valor de T em qualquer
vetor v de V.

ˆ Segunda lição: O conjunto

{ T (v1 ), . . . , T (vn ) }

gera a imagem de T

ima(T ) = { T (v) : v ∈ V }

Exemplo. Seja V um espaço vetorial real de dimensão três e

B = {v1 , v2 , v3 }

uma base de V.

Seja
T :V →R
uma transformação linear para a qual

T (v1 ) = 3, T (v2 ) = 2, T (v3 ) = 1.

Para o vetor

v = −2v1 + 5v2 + 4v3 ,

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14 Transformação linear

temos

T (v) = T (−2v1 + 5v2 + 4v3 ) = −2T (v1 ) + 5T (v2 ) + 4T (v3 )


= −2 × 3 + 5 × 2 + 4 × 1 = 8.

Quando
v = x v 1 + y v2 + z v3
for um vetor qualquer de V, então

T (v) = T (xv1 + yv2 + zv3 ) = xT (v1 ) + yT (v2 ) + zT (v3 ) = 3x + 2y + 1z.

Exemplo. Considere a base

B = {v1 , v2 , v3 }

do R3 onde

v1 = (1, 1, 1), v2 = (1, 1, 0) e v3 = (1, 0, 0).

Seja
T : R3 → R2
uma transformação linear

T (v1 ) = (1, 0), T (v2 ) = (2, 1), T (v3 ) = (3, −2).

Vamos calcular
T (x, y, z)

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1.1 Transformação linear e bases 15

1. Fazemos a decomposição

(x, y, z) = a(1, 1, 1) + b(1, 1, 0) + c(1, 0, 0),

Tal igualdade vetorial corresponde a três igualdades escalares

a + b + c = x,
a + b = y,
a = z.

Resolvendo este sistema linear para a, b, c, obtemos

a = z, b = y − z, c = x − y,

o que nos permite escrever

(x, y, z) = z(1, 1, 1) + (y − z)(1, 1, 0) + (x − y)(1, 0, 0).

Para calcular T (x, y, z), usamos sua linearidade

T (x, y, z) = zT (1, 1, 1) + (y − z)T (1, 1, 0) + (x − y)T (1, 0, 0)


= z(1, 0) + (y − z)(2, 1) + (x − y)(3, −2).

Efetuando as contas, obtemos

T (x, y, z) = ( 3x − y − z, 3y − 2x − z ).

Forma geral das transformações lineares do R2 em R

Seja T : R2 → R uma transformação linear. Basta conhecer

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16 Transformação linear

T (1, 0) = a e T (0, 1) = b ,

para calcular T em qualquer par (x, y) do R2

T (x, y) = T (x(1, 0) + y(0, 1)) = xT (1, 0) + yT (0, 1) = a x + b y.

Esta é a forma geral das transformações lineares do R2 em R :

T (x, y) = a x + b y,

onde a e b são números reais.

Exemplo. As transformações do R2 em R denidas por

T1 (x, y) = 0,
T2 (x, y) = 3x − y,
T3 (x, y) = 7y,

são lineares.

Não são lineares

T4 (x, y) = 5,
T5 (x, y) = 2 + x + y,
T6 (x, y) = x2 + 3y,

pois não possuem a forma geral

T (x, y) = ax + by.

Em T4 e T5 a imagem do (0, 0) é diferente do zero.


Em T6 , temos T6 (0, 0) = 0 mas não é linear por causa do termo x2 . 

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1.1 Transformação linear e bases 17

Forma geral das transformações lineares do R3 em R

Seja B = {e1 , e2 , e3 } a base canônica do R3 , isto é,

e1 = (1, 0, 0),
e2 = (0, 1, 0),
e3 = (0, 0, 1),

Considere uma transformação linear

T : R3 → R

Toda n−nupla de números reais pode ser decomposta na base canônica

(x1 , x2 , x3 ) = x1 (1, 0, 0) + x2 (0, 1, 0) + x3 (0, 0, 1)


= x1 e 1 + x2 e 2 + x 3 e 3

Da linearidade de T,

T (x1 , x2 , x3 ) = x1 T (e1 ) + x2 T (e2 ) + x3 T (e3 ).

Denominando

T (e1 ) = a1 , T (e2 ) = a2 , T (e3 ) = a3 ,

obtemos
T (x1 , x2 , x3 ) = a1 x1 + a2 x2 + a3 x3 .

Esta é a forma geral das transformações lineares do R3 em R.

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18 Transformação linear

Exemplo. Escrevendo

T (x, y, z) = a1 x + a2 y + a3 z ,

são lineares

L1 (x, y, z) = x + y − 5z,
L2 (x, y, z) = 3x + 5z,
L3 (x, y, z) = 0.

Não são lineares

S1 (x, y, z) = x2 − 2z,
S2 (x, y, z) = 2x + sen y + z 2 ,
S3 (x, y, z) = 2y + z + 1,

Forma geral das transformações lineares do R2 em R2

Toda transformação linear

T : R2 → R2

é da forma
T (x, y) = ( T1 (x, y), T2 (x, y) )
onde T1 e T2 são transformações lineares do R2 em R

T1 (x, y) = a x + b y
T2 (x, y) = c x + d y

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1.1 Transformação linear e bases 19

Exemplo. São lineares

L(x, y) = (0, 0),


T (x, y) = (5x + 8y, 0),
S(x, y) = (2x, x + 4y)

Não são lineares

F (x, y) = ( F1 (x, y), F2 (x, y) ) = ( 1 + x, y ),


G(x, y) = ( G1 (x, y), G2 (x, y) ) = (−2x + y, xy ).

A F não é linear pois F1 (x, y) = 1 + x não é linear.


A G não é linear pois G2 (x, y) = xy não é linear. 

Forma geral das transformações lineares do Rn em Rp

Uma transformação linear

T : Rn → Rp

possui a forma geral

T (x) = ( T1 (x), . . . , Tp (x) )

onde Ti são transformações lineares de Rn em R.

Exemplo. A transformação T : R2 → R4 denida por

T (x, y) = ( T1 (x, y), T2 (x, y), T3 (x, y), T4 (x, y) )

onde

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20 Transformação linear

T1 (x, y) = 2x + 6y
T2 (x, y) = 5x
T3 (x, y) = x − 7y
T4 (x, y) = −x + 3y

é linear pois T1 , T2 , T3 e T4 são transformações lineares de R2 em R. 

Forma geral das transformações de Mn×1 (R) para Mm×1 (R)

Considere as matrizes coluna de tamanho n × 1




x1
     
1 0 0
 x2 
 0
 1   0
. 
  
 ..  , C1 =  .  , C2 =  ..  , . . . , Cn =  ..
 
X= .
    
   ..   .   . 
xn 0 0 1

O conjunto
{ C1 , C2 , . . . , Cn }

é a base canônica do espaço vetorial das matrizes coluna reais n × 1.


Observe
X = x1 C 1 + x2 C 2 + · · · + xn C n .

Seja T : Mn×1 → Mm×1 a transformação linear tal que

T (C1 ) = A1 , T (C2 ) = A2 , . . . , T (Cn ) = An

temos
T (X) = x1 A1 + x2 A2 + · · · + xn An = AX,
onde A é uma matriz m × n cujas colunas são A1 , A2 , . . . , An .

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1.2 Transformações Lineares na Geometria 21

Conclusão: Toda transformação linear

T : Mn×1 → Mm×1

que leva matrizes coluna n × 1 em matrizes coluna m × 1 é da forma

T (X) = AX,

onde A é uma matriz m × n. Uma transformação deste tipo é chamada de


multiplicação por A.

Exemplo. Seja
 
2 1 0
A=
1 0 3
A transformação T, que leva matrizes 3 × 1 em matrizes 2 × 1, denida por

T (X) = AX

é linear.

Vamos escrever T de modo mais explícito,


   
x   x  
2 1 0 2x + y
T  y  =  y = .
1 0 3 x + 3z
z z

1.2 Transformações Lineares na Geometria


Projeções ortogonais no plano

As projeções ortogonais são operadores lineares.

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22 Transformação linear

O operador linear
P1 (x, y) = (x, 0)

projeta o ponto (x, y) no ponto (x, 0) do eixo x.


O operador linear
P2 (x, y) = (0, y)

projeta o ponto (x, y) no ponto (0, y) do eixo y.

Reexões no plano

O operador
T1 (x, y) = (x, −y)
reete o ponto (x, y) no eixo x do R2 .
O operador
T2 (x, y) = (−x, y)
reete o ponto (x, y) no eixo y do R2 .
O operador
T3 (x, y) = (y, x)
reete o ponto (x, y) na reta x = y do R2 .

Rotações no plano

Seja θ um número real.


O operador linear T : R2 → R2 denido nos elementos da base canônica do
R2 por

T (1, 0) = (cos θ, sen θ) e T (0, 1) = (− sen θ, cos θ),

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1.2 Transformações Lineares na Geometria 23

gira o ponto (x, y) de um ângulo θ em torno da origem.


A rotação acontece no sentido anti-horário quando θ > 0 e no sentido
horário quando θ < 0.
Num par (x, y) qualquer do R2 ,

T (x, y) = T (x(1, 0) + y(0, 1))


= xT (1, 0) + yT (0, 1)
= x(cos θ, sen θ) + y(− sen θ, cos θ)
= ( x cos θ − y sen θ, x sen θ + y cos θ )
= (r, s),

temos

r = x cos θ − y sen θ,
s = x sen θ + y cos θ,

Podemos escrever essas duas igualdades na forma matricial


    
r cos θ − sen θ x
= .
s sen θ cos θ y

Projeções ortogonais no espaço

As projeções ortogonais são operadores lineares.


Os operadores lineares

T1 (x, y, z) = (0, y, z)
T2 (x, y, z) = (x, 0, z)
T3 (x, y, z) = (x, y, 0)

projetam ortogonalmente o ponto (x, y, z) no plano yz do R3 , no plano xz

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24 Transformação linear

do R3 e no plano xy do R3 , respectivamente.
Os operadores lineares

L1 (x, y, z) = (x, 0, 0)
L2 (x, y, z) = (0, y, 0)
L3 (x, y, z) = (0, 0, z)

projetam ortogonalmente o ponto (x, y, z) no eixo x do R3 , no eixo y do


R3 e no eixo z do R3 , respectivamente.

Reexões no espaço

Na geometria espacial, as reexões são operadores lineares.


Os operadores lineares

T1 (x, y, z) = (−x, y, z)
T2 (x, y, z) = (x, −y, z)
T3 (x, y, z) = (x, y, −z)

reetem o ponto (x, y, z) no plano yz do R3 , no plano xz do R3 e no plano


xy do R3 , respectivamente.

Rotações no espaço

Na geometria espacial, as rotações em torno de retas que passam pela


origem, são operadores lineares.

1. O operador

T (x, y, z) = ( x , y cos θ − z sen θ , y sen θ + z cos θ )

gira o ponto (x, y, z) de um ângulo θ em torno do eixo x.

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1.2 Transformações Lineares na Geometria 25

Quando θ > 0, esta rotação acontece no sentido anti-horário quando se


olha para o plano yz a partir do semi-espaço x > 0.

Chamando
T (x, y, z) = (r, s, t)

temos
(r, s, t) = (x , y cos θ − z sen θ , y sen θ + z cos θ).

Esta igualdade vetorial nos leva à igualdade matricial


    
r 1 0 0 x
 s  =  0 cos θ − sen θ   y  .
t 0 sen θ cos θ z

2. O operador

T (x, y, z) = ( x cos θ + z sen θ , y , −x sen θ + z cos θ )

gira o ponto (x, y, z) de um ângulo θ em torno do eixo y.

Quando θ > 0, esta rotação acontece no sentido anti-horário quando se


olha para o plano zx a partir do semi-espaço y > 0.

A igualdade vetorial

(r, s, t) = T (x, y, z) = (x cos θ + z sen θ , y , −x sen θ + z cos θ),

pode ser escrita na forma matricial

    
r cos θ 0 sen θ x
 s = 0 1 0   y .
t − sen θ 0 cos θ z

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26 Transformação linear

3. O operador

T (x, y, z) = (x cos θ − y sen θ, x sen θ + y cos θ, z)


gira o ponto (x, y, z) de um ângulo θ em torno do eixo z.

Quando θ > 0, esta rotação acontece no sentido anti-horário quando se


olha para o plano xy a partir do semi-espaço z > 0.

A igualdade vetorial

(r, s, t) = T (x, y, z) = (x cos θ − y sen θ, x sen θ + y cos θ, z),


pode ser escrita na forma matricial

    
r cos θ − sen θ 0 x
 s  =  sen θ cos θ 0   y  .
t 0 0 1 z

Dilatações e contrações
Seja k ≥ 0 um número real.
O operador linear denido sobre o Rn por

T (x) = k x,
é chamado de homotetia de razão k.
Quando 0 ≤ k < 1 a homotetia recebe o nome de contração e, quando k
> 1, recebe o nome de dilatação.
Contração no R2 com razão 1/2

1
T (x, y) = (x, y)
2

Dilatação no R2 com razão 2

L(x, y) = 2(x, y)

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1.3 Núcleo e imagem 27

1.3 Núcleo e imagem


Seja T : V → W uma transformação linear.
O conjunto
ima(T ) = { T (v) ∈ W : v ∈ V }

é chamado de imagem de T.
O conjunto
nuc(T ) = { v ∈ V : T (v) = 0 }

é chamado de núcleo de T.

Teorema 1.4 A ima(T ) é um subespaço vetorial de W.

Prova. Se T (v1 ) e T (v2 ) pertencem à ima(T ) e c1 , c2 são escalares,

c1 T (v1 ) + c2 T (v2 ) = T (c1 v1 + c2 v2 ).

Esta igualdade mostra que c1 T (v1 ) + c2 T (v2 ) pertence à imagem de T. 

Teorema 1.5 O nuc(T ) é um subespaço vetorial de V.

Prova. Se v1 e v2 pertencem ao nuc(T ), T (v1 ) = 0 e T (v2 ) = 0. Para dois


escalares c1 e c2 , se verica

T (c1 v1 + c2 v2 ) = c1 T (v1 ) + c2 T (v2 ) = c1 0 + c2 0 = 0.

Esta igualdade mostra que c1 v1 + c2 v2 pertence ao núcleo de T. 

A dimensão da ima(T ) é chamada de posto de T

pos(T ) = dim ima(T )

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28 Transformação linear

A dimensão do nuc(T ) é chamada de nulidade de T

nul(T ) = dim nuc(T )

Exemplo. Vamos determinar uma base do núcleo e uma base da imagem


da transformação linear
T : R4 → R3
denida por

T (w, x, y, z) = ( w − 2x − 2y + z, 2w − 3x − 4y + z, −w + x + 2y ).

1. A imagem de T é o conjunto

T (w, x, y, z) ∈ R3 : (w, x, y, z) ∈ R4

ima(T ) = .

Os pontos da imagem de T são da forma

T (w, x, y, z) = ( w − 2x − 2y + z, 2w − 3x − 4y + z, −w + x + 2y )
= w(1, 2, −1) + x(−2, −3, 1) + y(−2, −4, 2) + z(1, 1, 0)

onde se vê claramente que a imagem de T é gerada pelo conjunto

G = { (1, 2, −1) , (−2, −3, 1) , (−2, −4, 2) , (1, 1, 0) } ,

que é linearmente dependente.

Para obter uma base de ima(T ) a partir de G, basta dispor seus vetores ao
longo das colunas de uma matriz que denominamos A.
Abaixo apresentamos A e R, sua forma escalonada reduzida.
   
1 −2 −2 1 1 0 −2 −1
A=  2 −3 −4 1  R= 0
 1 0 −1  . (a)
−1 1 2 0 0 0 0 0

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1.3 Núcleo e imagem 29

As duas primeiras colunas de R formam uma base do EC(R).


As duas primeiras colunas de A formam uma base do EC(A).
Uma base da ima(T ) é

B1 = { (1, 2, −1), (−2, −3, 1) }

pos(T ) = dim ima(T ) = 2.

Neste exemplo,
pos(T ) = pos(A) = pos(R).

Nota: O pos(R) é igual ao número de pivôs em R que é igual ao número


de incógnitas dependentes em
RX = 0.

2. O núcleo de T é o conjunto

nuc(T ) = { (w, x, y, z) ∈ R4 : T (w, x, y, z) = (0, 0, 0) }

formado pelas quadras ordenadas (w, x, y, z) tais que

(w − 2x − 2y + z, 2w − 3x − 4y + z, −w + x + 2y) = (0, 0, 0).

Para o vetor da esquerda ser igual ao vetor da direita nesta igualdade, é preciso
que
 
  w  
1 −2 −2 1  0
x   
ou

AX = 0  2 −3 −4 1 
  = 0
y 
−1 1 2 0 0
z

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30 Transformação linear

Ao escalonar a matriz dos coecientes, obtemos


 
 w
  
1 0 −2 −1  0
x   
ou

RX = 0  0 1 0 −1 
  = 0
y 
0 0 0 0 0
z

Incógnitas dependentes: w, x.
Incógnitas livres: y, z.
Explicitando as incógnitas dependentes em RX = 0 obtemos

w = 2y + z e x = z.

O núcleo de T é formado pelas quadras (w, x, y, z) da forma

( w, x, y, z ) = ( 2y + z, z, y, z) = y(2, 0, 1, 0) + z(1, 1, 0, 1)

onde y e z são livres. O conjunto

B2 = { (2, 0, 1, 0), (1, 1, 0, 1) }

gera o núcleo de T e é linearmente independente. Isto garante que B2 é uma


base do núcleo de T o que implica em

nul(T ) = dim nuc(T ) = 2.

Nota: Cada incógnita livre em RX = 0 dá origem a um vetor da base do


núcleo de T.
Vemos no exemplo que

nul(T ) = nul(A) = nul(R).

O pos(R) é igual ao número de incógnitas dependentes em RX = 0.

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1.3 Núcleo e imagem 31

A nul(R) é igual ao número de incógnitas livres em RX = 0.


Ao adicioná-las obtemos 4, que é o número de colunas de R, exatamente a
dimensão do domínio de T.
Conclusão,
pos(T ) + nul(T ) = 4 = dim R4 .


Esta relação entre as dimensões da imagem, do núcleo e do domínio de uma


transformação linear T, vale para toda transformação linear, o que dá origem
ao teorema seguinte.

Teorema 1.6 Seja T : V → W uma transformação linear. Quando V possui


dimensão nita,
dim ima(T ) + dim nuc(T ) = dim(V )
ou

pos(T ) + nul(T ) = dim(V ).

Exercício 1.7 Seja T : R3 → R3 a transformação linear

T (x, y, z) = ( x − 2y, y + z, 2x − y + 3z ).

1. Determine uma base da ima(T ) e o pos(T ).

Exemplo. 2. Determine uma base do nuc(T ) e a nul(T ). 

Exercício 1.8 Considere o operador linear T : R5 → R3 denido por

T (v, w, x, y, z) = ( v − w + y, 2v − 2w + x + 2y − z, w − v + x − 2z ).

1. Determine uma base da ima(T ) e o pos(T ).

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32 Transformação linear

Exemplo. 2. Determine uma base do nuc(T ) e a nul(T ). 

Exercício 1.9 Seja A uma matriz real de tamanho m × n. Considere a trans-


formação linear
T (X) = AX,
que leva uma matriz coluna X com n linhas numa matriz coluna AX com m
linhas.

Exemplo. 1. Mostre que nuc(T ) = nuc(A).


2. Mostre que

ima(T ) = EC(A) e pos(T ) = pos(A).

Exercício 1.10 Abaixo, R é uma forma escalonada de A,


   
1 −2 −3 −2 1 1 −2 −3 −2 1
 1 −1 −4 −1 −2   0 1 −1 1 −3 
A=  , R= 
 1 0 −5 0 −5   0 0 0 0 0 
−2 3 7 3 1 0 0 0 0 0

Nota-se que

pos(A) = pos(R) = 2 e nul(A) = nul(R) = 3.

Considere a transformação linear T que leva matrizes coluna X com 5 linhas


em matrizes coluna T (X) = AX com 4 linhas.
Sabemos que

ima(T ) = EC(A) ⇒ pos(T ) = pos(A) = pos(R) = 2


nuc(T ) = nuc(A) ⇒ nul(T ) = nul(A) = nul(R) = 3.

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1.4 Composição 33

1. Determine uma base da ima(T ).


2. Determine uma base do nuc(T ).

1.4 Composição
Sejam

L:U →V e T :V →W

duas transformações entre os espaços vetoriais.


A transformação
T ◦L:U →W

denida por
T ◦ L(u) = T ( L(u) )

é denominada composta de L com T.


A operação que leva L e T na composta T ◦ L é chamada de composição
de transformações.
Ao compor um operador T : V → V com o operador identidade id : V →
V, obtemos o próprio T
T ◦ id = id ◦ T = T.

A composição não é uma operação comutativa.

Exemplo. Considere as transformações lineares

L(x, y) = ( 3x, −2y ),


T (x, y) = ( x + y, 2x − y ).

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34 Transformação linear

Calculemos as composições

L ◦ T (x, y) = L(T (x, y)) = L(x + y, 2x − y)


= ( 3(x + y), −2(2x − y) )
= ( 3x + 3y, −4x + 2y ).

T ◦ L(x, y) = T (L(x, y)) = T ( 3x, −2y )


= ( 3x − 2y, 6x + 2y ).

Embora faça sentido calcular L ◦ T e T ◦ L, os resultados são diferentes. 

Quando
T ◦ L = L ◦ T,

diremos que as transformações T e L comutam.

Exemplo. Os operadores lineares sobre o R2

L(x, y) = (−x, y) e T (x, y) = (x, −y)

comutam pois

L ◦ T (x, y) = L(x, −y) = (−x, −y)


e

T ◦ L(x, y) = T (−x, y) = (−x, −y),


mostrando que L ◦ T = T ◦ L. Pensando em termos geométricos, perceba que
L é uma reexão no eixo y e T uma reexão no eixo x. 

Exemplo. Os operadores lineares

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1.4 Composição 35

T (x, y) = (y, x) e L (x, y) = (x, 0)

não comutam pois

L ◦ T (x, y) = L( T (x, y) ) = L (y, x) = (y, 0)

T ◦ L (x, y) = T ( L (x, y) ) = T (x, 0) = (0, x)




Exercício 1.11 Determine a composição T ◦ L das transformações lineares

L(x, y) = ( y, x + y, 2y ) e T (x, y, z) = 2x + y − z.

e verique que ela é linear.

Teorema 1.12 A composta de duas transformações lineares é linear.

Prova. Se T e L forem lineares,

T ◦ L(c1 u1 + c2 u2 ) = T ( L(c1 u1 + c2 u2 ) )
= T ( c1 L(u1 ) + c2 L(u2 ) )
= c1 T ( L(u1 ) ) + c2 T ( L(u2 ) )
= c1 T ◦ L(u1 ) + c2 T ◦ L(u2 )

o que prova a linearidade da composta.

Na primeira igualdade usamos a denição de composição. Na segunda


igualdade usamos a linearidade de L. Na terceira a linearidade de T. Na quarta
igualdade, a denição de composição. 

A composição de funções é uma operação associativa

(T3 ◦ T2 ) ◦ T1 = T3 ◦ (T2 ◦ T1 )

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36 Transformação linear

e podemos denotar as transformações acima por

T3 ◦ T2 ◦ T1

sem os parênteses.

Exemplo. Denotemos por P (R) o espaço vetorial das funções polinomiais


reais com domínio em R.
Considere as transformações lineares L e T que levam funções polinomiais
em funções polinomiais. Sendo p uma função polinomial, L(p) e T (p) são
funções polinomiais denidas, em cada número real x, por

L(p)(x) = x p(x) e T (p)(x) = p(1 + 2x).

Vamos calcular a composição T ◦L. Esta função leva uma função polinomial
p na função polinomial T ◦ L(p) que, aplicada num número real x, resulta em

T ◦ L(p)(x) = T (L(p))(x) = L(p)(1 + 2x) = (1 + 2x)p(1 + 2x).

Vamos calcular L ◦ T aplicada numa função polinomial p, resulta em outra


função polinomial L ◦ T (p) que, aplicada num número real x, resulta em

L ◦ T (p)(x) = L(T (p))(x) = x T (p)(x) = x p(1 + 2x).

Estes cálculos mostram que a composição não é uma operação comutativa pois

T ◦ L(p)(x) − L ◦ T (p)(x) = (1 + x) p(1 + 2x)


para todo x real e

T ◦ L(p) 6= L ◦ T (p) para toda função polinomial p

T ◦ L 6= L ◦ T.

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1.4 Composição 37

Sugerimos ao leitor que calcule T ◦ L(p)(x) e L ◦ T (p)(x) quando p for a


função polinomial p(x) = 2x − 3x2 . 

Sejam f e g funções reais com domínio e contradomínio e R. O produto f g


das funções f com g é aquela que, aplicada num número real x, fornece

(f g)(x) = f (x) g(x).

Exemplo. Neste exemplo, todas as funções pertencem ao espaço vetorial


C ∞ (R) das funções reais com domínio em R, cujas derivadas de todas as ordens
são contínuas.
Vamos denotar por i a função identidade (i(x) = x).
Consideremos os operadores

T (f ) = i f e L(f ) = f 0 ,

onde i f é o produto da função identidade pela função f e f 0 é a derivada de


f.
Vamos mostrar que T e L não comutam.
Vamos calcular T (f ) e L(f ) em um número real x

T (f )(x) = (i f )(x) = i(x)f (x) = xf (x),


L(f )(x) = f 0 (x).

Quando f é a função
f (x) = sen(x),
calculamos

T (f )(x) = xf (x) = x sen(x)


L(f )(x) = f 0 (x) = cos(x).

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38 Transformação linear

Os operadores T e L são lineares.


Para vericar esta armação, tome dois números reais quaisquer c1 , c2 e
duas função quaisquer f1 , f2 . Então

T (c1 f1 + c2 f2 ) = i(c1 f1 + c2 f2 ) = c1 (i f1 ) + c2 (i f2 ) = c1 T (f1 ) + c2 T (f2 )


L(c1 f1 + c2 f2 ) = (c1 f1 + c2 f2 )0 = c1 f1 0 + c2 f2 0 = c1 L(f1 ) + c2 L(f2 )

Vamos calcular a derivada de T (f )

T (f )0 = (i f )0 = i0 f + i f 0 = f + i f 0 ,

pois i0 (x) = 1 para todo x real.


Vamos mostrar que os operadores T e L não comutam, isto é,

T ◦ L 6= L ◦ T.

Calculando as duas composições, segue

T ◦ L(f ) = T (L(f )) = T (f 0 ) = i f 0
L ◦ T (f ) = L(T (f )) = T (f )0 = (i f )0 = f + i f 0

onde se vê claramente que

L ◦ T (f ) = T ◦ L(f ) + f

e os operadores T e L não comutam. 

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1.5 Isomorsmo 39

1.5 Isomorsmo
As transformações são funções entre espaços vetoriais e para elas se aplicam os
conceitos de função injetora, sobrejetora, bijetora e inversa. Vamos recordar
esses conceitos.

Denição 1.13 Considere a transformação T : V → W.


1. T é sobrejetora quando sua imagem for igual a W

ima(T ) = {T (v) : v ∈ V } = W

Isto signica que cada vetor w em W é imagem de pelo menos um vetor v


em V
T (v) = w.

2. T é injetora quando leva vetores distintos de V em vetores distintos de


W.
Isto signica que:
(a) se v1 6= v2 , então T (v1 ) 6= T (v2 )
ou que
(b) se T (v1 ) = T (v2 ). então v1 = v2 .
3. T é bijetora quando for sobrejetora e injetora.
Isto signica: cada vetor w em W é imagem de um único vetor v em V

T (v) = w.

Exemplo. Vamos mostrar que a transformação T : R2 → R3 denida por

T (x, y) = ( x + y, −x + y, x + 2y )

é injetora mas não é sobrejetora.

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40 Transformação linear

1. Vamos mostrar que T não é sobrejetora.


Vamos vericar quais ternos ordenados (a, b, c) do R3 estão na imagem de
T.
Seja (x, y) tal que

T (x, y) = (a, b, c)
( x + y, −x + y, x + 2y ) = (a, b, c)

que pode ser escrita na forma matricial equivalente


   
1 1   a
 −1 1  x =  b  .
y
1 2 c

Abaixo apresentamos a equação escalonada obtida pelo método de Gauss


   
1 1   a
 0 2  x = a+b . (1.1)
y
0 0 2c − b − 3a

Esta equação possui solução apenas quando

2c − b − 3a = 0.

Apenas os ternos (a, b, c) do R3 que satisfazem à relação acima estão na


imagem de T
e a transformação não é sobrejetora.
2. Vamos mostrar que T é injetora.
Quando (a, b, c) está na imagem de T, a relação
b = 2c − 3a

é satisfeita e a equação (a) ca assim

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1.5 Isomorsmo 41
   
1 1   a
 0 2  x =  2c − 2a  . (b)
y
0 0 0

Para cada a e b, esta equação possui uma única solução em x e y, uma vez que
não há incógnita livre.
Para cada (a, b, c) na imagem de T, existe um único par (x, y) tal que

T (x, y) = (a, b, c).

Portanto, T é injetora.
3. Vamos determinar o (x, y) que é levado por T em (a, b, c).
A solução de (b) em x e y é

x = 2a − c e y = c − a.

Quando (a, b, c) pertence à imagem de T, vale a relação e

T ( 2a − c, c − a ) = (a, b, c).

Exemplo. Vamos mostrar que a transformação T : R3 → R2 denida por

T (x, y, z) = (x + y + z, x + 2y + 2z)

é sobrejetora mas não é injetora.

Se um par ordenado (a, b) do R2 estiver na imagem de T,

T (x, y, z) = (a, b)
(x + y + z, x + 2y + 2z) = (a, b).

Esta igualdade vetorial resulta na igualdade matricial

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42 Transformação linear
 
  x  
1 1 1  y = a .
1 2 2 b
z

Escalonando esta equação chegamos em

 
  x  
1 1 1  y = a
,
0 1 1 b−a
z

que possui solução para todo par ordenado (a, b), mostrando que T é sobreje-
tora.
Por outro lado, z é incógnita livre e isto signica que, dado (a, b), existe
uma innidade de ternos ordenados (x, y, z) para os quais T (x, y, z) = (a, b),
provando que T não é injetora.
Resolvendo a equação matricial em x, y e z, obtemos

x = 2a − b,
y = b − a − z,

onde z é livre. Para todo z real,

T (2a − b, b − a − z, z) = (a, b).

Para cada valor de z, o terno ordenado

(2a − b, b − a − z, z) é levado por T em (a, b)

A transformação T não é injetora. 

Exemplo. Vamos mostrar que a transformação linear T : R3 → R3 denida


por
T (x, y, z) = ( x − y − z, x − 2z, x − y )
é bijetora.

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1.5 Isomorsmo 43

1. Quando (a, b, c) está na imagem de T, existe (x, y, z) para o qual

T (x, y, z) = (a, b, c),


( x − y − z, x − 2z, x − y ) = (a, b, c)

Esta igualdade vetorial corresponde à igualdade matricial


    
1 −1 −1 x a
 1 0 −2   y  =  b  (a)
1 −1 0 z c
que escalonada resulta em

    
1 −1 −1 x a
 0 1 −1   y  =  b − a  (b)
0 0 1 z c−a

Esta equação é consistente para todo (a, b, c) e não possui incógnita livre.
Para cada (a, b, c), existe um único (x, y, z) para o qual
T (x, y, z) = (a, b, c).

Isto mostra que T é bijetora.


A solução de (b) em x, y e z é

x = −2a + b + 2c,
y = −2a + b + c, (c)
z = c − a.

Sendo T bijetora, ela possui inversa T −1

T (x, y, z) = (a, b, c), então T −1 (a, b, c) = (x, y, z).

Assim,

T −1 (a, b, c) = (−2a + b + 2c, −2a + b + c, −a + c),

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44 Transformação linear

que também é linear e bijetora. 

Exercício 1.14 Mostre que a transformação linear T : R2 → R3 denida por

T (x, y) = (x + y, x − y, 2y).

não é sobrejetora mas é injetora.

Exercício 1.15 Mostre que o operador linear T : R2 → R2 , denido em todo


(x, y) do R2 por
T (x, y) = ( x + y, x + 2y)
é bijetor.

Mostre que sua inversa é

T −1 (a, b) = (2a − b, b − a) ,

e observe que ela também é linear e bijetora.

Denição 1.16 Uma transformação T : V → W linear e bijetora é chamada


de isomorsmo de V em W.
Quando existir um isomorsmo entre V e W, diremos que estes espaços
são isomorfos.

Teorema 1.17 A inversa de um isomorsmo também é um isomorsmo.

Prova. Quando uma transformação T : V → W é bijetora, sua inversa


T −1
: W → V também é bijetora.
Vamos provar que a inversa de uma transformação linear e bijetora é linear.
A cada w em W existe uma único v em V tal que

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1.5 Isomorsmo 45

T (v) = w e T −1 (w) = v

Tome dois vetores v1 e v2 e suas imagens w1 = T (v1 ) e w2 = T (v2 ).


Para dois escalares c1 e c2 quaisquer,

T (c1 v1 + c2 v2 ) = c1 T (v1 ) + c2 T (v2 ) = c1 w1 + c2 w2

de onde obtemos

T −1 (c1 w1 + c2 w2 ) = c1 v1 + c2 v2 = c1 T −1 (w1 ) + c2 T −1 (w2 )

o que prova a linearidade de T −1 . 

A composição de isomorsmos é um isomorsmo, como se enuncia a seguir.

Teorema 1.18 Se

L:U →V e T :V →W

forem isomorsmos, então a composta T ◦ L : U → W é um isomorsmo e

(T ◦ L)−1 = L−1 ◦ T −1 .

Prova. A prova de que T ◦L é um isomorsmo é imediata pois a composição


de funções bijetoras é uma função bijetora e a composição de funções lineares
é linear.
Para provar que a inversa de T ◦L é L−1 ◦T −1 , basta efetuar as composições

(L−1 ◦ T −1 ) ◦ (T ◦ L) = L−1 ◦ (T −1 ◦ T ) ◦ L = L−1 ◦ iV ◦ L = L−1 ◦ L = iU ,

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46 Transformação linear

(T ◦ L) ◦ (L−1 ◦ T −1 ) = T ◦ (L ◦ L−1 ) ◦ T −1 = T ◦ iV ◦ T −1 = T ◦ T −1 = iW

onde iU , iV e iW são as transformações identidade em U, V e W. Logo,


L−1 ◦ T −1 é a inversa de T ◦ L. 

A composição de três ou mais isomorsmos é um isomorsmo.


Se for possível compor os isomorsmos R, S e T,

(R ◦ S ◦ T )−1 = T −1 ◦ S −1 ◦ R−1 .

O próximo teorema pode ser útil na vericação da injetividade de uma


transformação linear.

Teorema 1.19 Uma transformação linear T : V → W é injetora se, e só se,

T (v) = 0 implicar em v = 0.

Prova. 1. Vamos supor que T é injetora. Sendo T linear, sabe-se que


T (0) = 0. Se houver v tal que T (v) = 0. A injetividade de T implica em
v = 0.
2. Suponha que T (v) = 0 implica em v = 0. Sejam v1 e v2 vetores tais que
T (v1 ) = T (v2 ) . Da linearidade de T segue que T (v1 − v2 ) = T (v1 ) − T (v2 )
= 0 o que implica em v1 − v2 = 0 ou v1 = v2 , provando que T é injetora. 

Exemplo. Seja A uma matriz real quadrada n × n.


Considere a transformação linear

T (X) = AX,

que leva uma matriz coluna X de tamanho n × 1 na matriz coluna AX de


tamanho n × 1.
A transformação T é um isomorsmo se, e só se, A for inversível.

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1.5 Isomorsmo 47

1. Se T for um isomorsmo, então é injetora. Neste caso,


T (X) = AX = 0 implica em X = 0.
Como a única solução de AX = 0 é X = 0, concluímos que A é inversível.
2. Quando A for inversível, a equação AX = B possui uma única solução
dada por
X = A−1 B,
para toda matriz coluna B de tamanho n × 1.
Isto signica que toda matriz coluna B de tamanho n × 1 está na imagem
de T que, portanto, T é sobrejetora.
Além disso, quando A é inversível e AX = 0, então X = 0. Logo, T (X) = 0
implica em X = 0, provando que T é injetora.
Sendo sobrejetora e injetora, T é um isomorsmo.
A transformação inversa de T (X) = AX é denida por

T −1 (Y ) = A−1 Y.


Teorema 1.20 Sejam V e W espaços vetoriais de dimensão nita e n =


dim(V ).
Seja B = {v1 , . . . , vn } uma base de V.
Seja T : V → W uma transformação linear.
1. T é injetora se, e só se, {T (v1 ), . . . , T (vn )} possuir n vetores distintos
e for LI. Neste caso,
dim(W ) ≥ n = dim(V ).

2. T é sobrejetora se, e só se, {T (v1 ), . . . , T (vn )} gera W e, neste caso,

dim(W ) ≤ n = dim(V ).

3. T é bijetora (isomorsmo) se, e só se, {T (v1 ), . . . , T (vn )} for base de


W e
dim(V ) = dim(W ).

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48 Transformação linear

Prova. Prova do item 1. Se T for injetora, sejam x1 , . . . , xn escalares tais


que
x1 T (v1 ) + · · · + xn T (vn ) = 0.
Da linearidade e injetividade de T,

T (x1 v1 + · · · + xn vn ) = 0 ⇒ x1 v1 + · · · + xn vn = 0.

Da independência linear de B, x1 = 0, . . . , xn = 0, provando a indepen-


dência linear de
{T (v1 ), . . . , T (vn )}.

Fica por conta do leitor a prova de que, se este conjunto foi LI a transfor-
mação T é injetora. Basta provar que, se T (v) = 0, então v = 0.
Uma vez que W possui um conjunto linearmente independente com n ve-
tores,
dim(W ) ≥ n = dim(V ).

Prova do item 2. Se T for sobrejetora, para qualquer w em W, existe v em


V tal que
w = T (v).

Como B é base de V, existem escalares y1 , . . . , yn tais que v = y1 v1 + · · ·


+ yn vn e

w = T (v) = T (y1 v1 + · · · + yn vn ) = y1 T (v1 ) + · · · + yn T (vn ),

mostrando que {T (v1 ), . . . , T (vn )} gera W.


Não é difícil vericar que, se o conjunto {T (v1 ), . . . , T (vn )} gera W, então
T é sobrejetora.
Como W possui um conjunto gerador com n vetores, então

Professor Antonio Cândido Faleiros


1.5 Isomorsmo 49

dim(W ) ≤ n = dim(V ).

Prova do item 3. Quando T é bijetora, ela é injetora e sobrejetora.


Os itens anteriores garantem que isto ocorre se, e só se, {T (v1 ), . . . , T (vn )}
é uma base de W.
Como W possui uma base com n vetores, dim(W ) = n = dim(V ). 

Corolário 1.21 Sejam V e W dois espaços vetoriais sobre um mesmo corpo,


ambos com dimensão nita.
Os espaços V e W são isomorfos se, e só se, dim V = dim W.
Todo isomorsmo T : V → W leva uma base

{v1 , . . . , vn }

de V numa base
{T (v1 ), . . . , T (vn )}

de W.

Exemplo. Seja B = { e1 , e2 , e3 } uma base do R3 .


1. Considere uma transformação linear

T : R3 → R4 .

Ela é injetora se, e só se, o conjunto

{ T (e1 ), T (e2 ), T (e3 ) }

for linearmente independente. O conjunto de vetores acima não gera o R4 ,


que possui dimensão 4. Logo, T não é sobrejetora.

Professor Antonio Cândido Faleiros


50 Transformação linear

2. Considere uma transformação linear

L : R3 → R2 .

Ela é sobrejetora se, e só se, o conjunto

{ L(e1 ), L(e2 ), L(e3 ) }

gerar o R2 . Este conjunto não é linearmente independente pois R2 possui


dimensão 2. Logo, L não é injetora. 

Isomorsmo entre o Rn e espaço vetoriais de dimensão n

Seja
B = {v1 , . . . , vn }
uma base de um espaço vetorial real V de dimensão n nita.

A transformação linear T : V → Rn denida em B por

T (v1 ) = (1, 0, 0, . . . , 0) = e1
T (v2 ) = (0, 1, 0, . . . , 0) = e2
···

que leva os vetores da base B nos vetores da base canônica

C = {e1 , . . . , en }

do Rn é um isomorsmo de V em Rn .
Se
v = x1 v 1 + x2 v 2 + · · · + xn v n

Professor Antonio Cândido Faleiros


1.5 Isomorsmo 51

então

T (v) = x1 T (v1 ) + x2 T (v2 ) + · · · + xn T (vn )


= x1 e1 + x2 e2 + · · · + xn en
= (x1 , x2 , . . . , xn )

Este isomorsmo permite identicar o vetor

v = x 1 v 1 + x2 v 2 + · · · + xn v n

em V com o seu vetor de coordenadas

(x1 , . . . , xn )

que está no Rn .
Esta é a razão pela qual o Rn é um espaço vetorial importante. Trabalhar
no Rn é simples e ele é isomorfo a todo espaço vetorial de dimensão n.
Se dois espaços vetoriais forem isomorfos, toda propriedade de um se trans-
fere para o outro pelo isomorsmo. Uma propriedade que dois espaços isomor-
fos compartilham é a dimensão.
Quando houver um isomorsmo que não depende de uma escolha das bases,
diremos que o isomorsmo é canônico e que os dois espaços são canonica-
mente isomorfos.
Sob o ponto de vista da Álgebra Linear, dois espaços canonicamente iso-
morfos são indistinguíveis.
Tudo o que existir ou for feito em um, pode ser transportado ao outro,
através do isomorsmo.
São canonicamente isomorfos ao Rn , o espaço das matrizes linha reais com
n colunas e o espaço das matrizes coluna reais com n linhas. Os isomorsmos
canônicos são fornecidos pelas correspondências

   T
(x1 , . . . , xn ) ↔ x1 · · · xn ↔ x1 · · · xn .

Professor Antonio Cândido Faleiros


52 Transformação linear

O espaço Pn (R), das funções polinomiais reais de grau menor ou igual a n,


é canonicamente isomorfo ao Rn+1 .
O isomorsmo canônico entre eles é fornecido pela correspondência

(a0 , a1 , . . . , an ) ↔ p(x) = a0 + a1 x + · · · + an xn .

Vamos explorar este isomorsmo canônico entre espaços para resolver al-
guns exercícios.

Exemplo. Vamos determinar uma base para o espaço das funções polino-
miais de P3 (R) gerado por

{ p1 , p2 , p3 , p4 }

onde, para todo x real,

p1 (x) = 1 + 2x − 3x2 + x3 , p2 (x) = −1 − 1x + 4x2 − 5x3 ,


p3 (x) = 1 + 3x − 2x2 − 3x3 , p4 (x) = −1 + 6x2 − 7x3 .

As funções polinomiais envolvidas pertencem a P3 (R) que possui dimensão


4.
Vamos transferir o problema para o R4 .
Nesta transferência de P3 (R) para o R4 , usamos o isomorsmo que leva a
função polinomial
p(x) = a + bx + cx2 + dx3
na quadra ordenada

(a, b, c, d).

Desta forma associamos aos polinômios

Professor Antonio Cândido Faleiros


1.5 Isomorsmo 53

p1 (x) = 1 + 2x − 3x2 + x3 , p2 (x) = −1 − 1x + 4x2 − 5x3 ,


p3 (x) = 1 + 3x − 2x2 − 3x3 , p4 (x) = −1 + 6x2 − 7x3 .

as quadras ordenadas

v1 = (1, 2, −3, 1), v2 = (−1, −1, 4, −5)


v3 = (1, 3, −2, −3), v4 = (−1, 0, 6, −7).

Consideremos o subespaço vetorial do R4 gerado por

G = {v1 , v2 , v3 , v4 }.

Para obter uma base deste espaço, basta colocar seus vetores nas linhas de
uma matriz A e escalonar para obter R.
   
1 2 −3 1 1 2 −3 1
 −1 −1 4 −5   0 1 1 −4 
A=  , R= .
 1 3 −2 −3   0 0 1 2 
−1 0 6 −7 0 0 0 0

As três primeiras linhas de R é uma base do seu espaço linha.


Como EL(A) = EL(R), estas três primeiras linhas também é uma base do
EL(A). de R e
O conjunto B = {w1 , w2 , w3 }, onde

w1 = (1, 2, −3, 1), w2 = (0, 1, 1, −4), w3 = (0, 0, 1, 2),

é uma base do espaço gerado por G.


Agora vamos retornar ao espaço P3 (R), usando o isomorsmo inverso,
aquele que associa cada quadra (a, b, c, d) à função polinomial

p(x) = a + bx + cx2 + dx3 .

Professor Antonio Cândido Faleiros


54 Transformação linear

Mediante esta correspondência, uma base para o espaço gerado pelas fun-
ções polinomiais p1 , p2 , p3 , p4 é o conjunto {q1 , q2 , q3 } onde, para todo x real,

q1 (x) = 1 + 2x − 3x2 + x3 , q2 (x) = x + x2 − 4x3 , q3 (x) = x2 + 2x3 .




No exemplo que acabamos de resolver, nem todas as funções polinomiais


pertencem ao conjunto gerador.
Se desejarmos uma base formada por funções pertencentes ao conjunto ge-
rador, podemos proceder como no próximo exemplo, onde colocamos os vetores
do Rn nas colunas de uma matriz.

Exemplo. Vamos determinar uma base do espaço gerado pelas funções


polinomiais
{ p1 , p2 , p3 , p4 , p5 }
onde, para todo x real,

p1 (x) = 1 + 2x + x2 , p2 (x) = 1 + x + 2x2 ,


p3 (x) = −4 − 5x − 7x2 , p4 (x) = −1 + x − 4x2 ,
p5 (x) = 2 + 3x + 4x2 .

Queremos que a base seja formada por funções polinomiais do conjunto


gerador.
Como as funções polinomiais estão todas em P2 (R), cuja dimensão é 3,
usaremos o isomorsmo

p(x) = a + bx + cx2 → (a, b, c)

Através desse isomorsmo, as funções polinomiais p1 , p2 , p3 , p4 , p5 são


levadas nos vetores do conjunto

G = { (1, 2, 1), (1, 1, 2), (−4, −5, −7), (−1, 1, −4), (2, 3, 4) }.

Professor Antonio Cândido Faleiros


1.5 Isomorsmo 55

Para determinar uma base do espaço gerado por G formada exclusivamente


por vetores de G, colocamos seus vetores nas colunas de uma matriz A e a
escalonamos para obter R.
   
1 1 −4 −1 2 1 1 −4 −1 2
A= 2 1 −5 1 3 , R= 0 1 −3 −3 1 .
1 2 −7 −4 4 0 0 0 0 1

Como as colunas 1, 2 e 5 de R formam uma base do espaço coluna de R,


as colunas 1, 2 e 5 de A formam uma base do espaço coluna de A.
Uma base do espaço gerado por G é formada pelo seu primeiro, segundo e
quinto vetor
B = { (1, 2, 1), (1, 1, 2), (2, 3, 4) }.

Precisamos voltar ao espaço das funções polinomiais substituindo cada


terno (a, b, c) pela função polinomial p(x) = a + bx + cx2 .
O conjunto {p1 , p2 , p5 } é uma base do espaço gerado por p1 , p2 , p3 , p4 , p5 .
Como o espaço gerado por {p1 , p2 , p5 } possui dimensão 3, ele é todo o
P2 (R). 

Teorema 1.22 Sejam V e W dois espaços vetoriais sobre um mesmo corpo,


ambos com dimensão nita n.
Seja T : V → W uma transformação linear.
1. Se T for injetora, então T é um isomorsmo.
2. Se T for sobrejetora, então T é um isomorsmo.

Prova. Seja B1 = {v1 , . . . , vn } uma base de V e B2 = {T (v1 ) . . . , T (vn )}


um conjunto de vetores de W.
1. Sendo T injetora, B2 é linearmente independente. Como W possui
dimensão n, B2 é base de W. Como T leva os vetores da base B1 em vetores
da base B2 , concluímos que T é um isomorsmo.

Professor Antonio Cândido Faleiros


56 Transformação linear

2. Sendo T sobrejetora, B2 gera W e possui no máximo n vetores distintos


(ainda não excluímos a possibilidade de T (vi ) = T (vj ) para algum i diferente
de j). Como a dimensão de W é n, o conjunto gerador não pode ter menos do
que n vetores distintos. Portanto, B2 possui exatamente n vetores distintos e
gera W, sendo assim uma base de W. Como T leva os vetores da base B1 em
vetores da base B2 , concluimos que T é um isomorsmo. 

Exercício 1.23 Verique quais transformações lineares abaixo são sobrejeto-


ras, quais são injetoras e quais são bijetoras.
1. T : R2 → R2 denida por T (x, y) = (2x − y, x + 3y).
2. T : R3 → R3 denida por T (x, y, z) = (x, y, 0).
3. T : M3×1 (R) → M2×1 (R) denida por T (X) = AX, onde
 
3 3 7
A= .
2 3 5

1.6 Matriz de uma transformação linear


Sejam V e W dois espaços vetoriais com dimensão nita, denidos sobre o
mesmo corpo.
Seja B = {v1 , . . . , vn } uma base de V e B 0 = {w1 , . . . , wm } uma base de
W.
Seja T : V → W uma transformação linear.
Os vetores T (v1 ), . . . , T (vn ) estão em W e podem ser decompostos numa
combinação linear de vetores da base B 0

T (v1 ) = a11 w1 + a21 w2 + · · · + am1 wm ,


T (v2 ) = a12 w1 + a22 w2 + · · · + am2 wm ,
..
.
T (vn ) = a1n w1 + a2n w2 + · · · + amn wm .

Professor Antonio Cândido Faleiros


1.6 Matriz de uma transformação linear 57

A matriz
 
a11 a21 · · · a1n
 a21 a22 · · · a2n 
[T ]BB 0 =  .. .. . . .. ,
 
 . . . . 
am1 am2 · · · amn

onde as colunas são as matrizes de coordenadas de T (v1 ), T (v2 ), . . . , T (vn ),


é denominada matriz de T nas bases B e B 0 .
Quando T : V → V for um operador linear e B 0 = B, a matriz [T ]BB , é
chamada de matriz de T na base B e pode ser denotada por [T ]B .

Exemplo. Seja i : V → V o operador identidade

i(v) = v, para todo v em V.


Se B = {v1 , . . . , vn } for uma base de V, a matriz [i]BB é a matriz identidade,
uma vez que

i(v1 ) = v1 = 1v1 + 0v2 + · · · + 0vn ,


i(v2 ) = v2 = 0v1 + 1v2 + · · · + 0vn ,
···
i(vn ) = vn = 0v1 + 0v2 + · · · + 1vn .

Então
[i]B = I.


A matriz de uma transformação linear T : Rn → Rm nas bases canônicas


do Rn e do Rm é chamada matriz canônica de T.

Exemplo. Considere a transformação linear T : R3 → R2 denida por

T (x, y, z) = ( 3x − 7y + 4z, 5x + 2y − 8z).

Tome as bases canônicas

C = {(1, 0, 0), (0, 1, 0), (0, 1, 0)} do R3

Professor Antonio Cândido Faleiros


58 Transformação linear

e
C 0 = {(1, 0), (0, 1)} do R2

Da denição de T,

T (1, 0, 0) = (3, 5) = 3(1, 0) + 5(0, 1) ,


T (0, 1, 0) = (−7, 2) = −7(1, 0) + 2(0, 1) ,
T (0, 0, 1) = (4, −8) = 4(1, 0) − 8(0, 1) .

A matriz canônica de T é

 
3 −7 4
[T ]CC 0 = .
5 2 −8

Exemplo. Considere a transformação linear T : R2 → R3 denida por

T (x, y) = ( x − y, 3x + 2y, y ).

Considere as bases B e B 0 do R2 e do R3 , respectivamente,

B = {(1, −1), (−2, 1)} e B 0 = {(1, 0, 0), (1, 1, 0), (1, 1, 1)}

Vamos determinar a matriz de T nas bases B e B 0 .


Precisamos calcular T nos vetores da base B e decompor os resultados na
base B 0

T (1, −1) = (2, 1, −1) = a11 (1, 0, 0) + a21 (1, 1, 0) + a31 (1, 1, 1) ,
T (−2, 1) = (−3, −4, 1) = a12 (1, 0, 0) + a22 (1, 1, 0) + a32 (1, 1, 1) .

Estas duas igualdades vetoriais podem ser colocadas na forma matricial

Professor Antonio Cândido Faleiros


1.6 Matriz de uma transformação linear 59
    
1 1 1 a11 a12 2 −3
 0 1 1   a21 a22  =  1 −4 
0 0 1 a31 a32 −1 1

A matriz [aij ] é a matriz procurada [T ]BB 0 . Vamos determiná-la usando o


método de Gauss-Jordan, que resulta no seguinte algoritmo:
Quando A é inversível, existem matrizes elementares

E1 , . . . , Ek

tais que

I = Ek · · · E1 A ⇒ A−1 = Ek · · · E1
Se queremos determinar B tal que AB = C, então

AB = C ⇒ B = A−1 C ⇒ B = Ek · · · E1 C

Iniciamos com a matriz ampliada

[A|C]

e aplicamos operações elementares a esta matriz

[ Ek · · · E1 A | Ek · · · E1 C ]

até chegar à matriz identidade no lugar em que estava A.

Quando isto acontece, onde estava C, camos com B = A−1 C

[I |B]

A matriz ampliada para nossa equação em B = [T ]BB 0 é


 
1 1 1 2 −3
 0 1 1 1 −4 
0 0 1 −1 1

Professor Antonio Cândido Faleiros


60 Transformação linear

Aplicamos a ela sucessivas operações elementares até obter sua forma es-
calonada reduzida
 
1 0 0 1 1
 0 1 0 2 −5 
0 0 1 −1 1

A matriz do lado direito é


   
a11 a12 1 1
[T ]BB 0 =  a21 a22  =  2 −5  .
a31 a32 −1 1

Exemplo. Seja T : R3 → R2 a transformação linear denida por

T (x, y, z) = ( x + y, 2x − z ).

Considere as bases B e B 0 do R3 e do R2 , respectivamente,

B = {(1, 1, 0), (0, 1, 0), (0, 1, 1)} e B 0 = {(1, 1), (0, 1)}

Vamos calcular a matriz de T nas bases B e B 0 .


Precisamos calcular T nos vetores da bases B e decompor os resultados nos
vetores da base B 0

T (1, 1, 0) = (2, 2) = a11 (1, 1) + a21 (0, 1) ,


T (0, 1, 0) = (1, 0) = a12 (1, 1) + a22 (0, 1) ,
T (0, 1, 1) = (1, −1) = a13 (1, 1) + a23 (0, 1) .

Estas igualdades vetoriais podem ser colocadas na forma matricial


    
1 0 a11 a12 a13 2 1 1
=
1 1 a21 a22 a23 2 0 −1

Professor Antonio Cândido Faleiros


1.6 Matriz de uma transformação linear 61

Para determinar a matriz [aij ]2×3 escalonando a matriz completa

 
1 0 2 1 1
1 1 2 0 −1

até chegar à sua forma escalonada reduzida

 
1 0 2 1 1
.
0 1 0 −1 −2

A matriz de T nas bases B e B 0 é

   
a11 a12 a13 2 1 1
[T ]BB 0 = = .
a21 a22 a23 0 −1 −2

Exemplo. Considere o espaço vetorial Pn (R) das funções polinomiais reais


com grau menor ou igual a n.
Seja
T : P1 (R) → P2 (R)

a transformação linear que leva uma função polinomial p na função polino-


mial T (p), denida em todo número real x por

T (p)(x) = (1 + x) p(x − 3).

Considere as funções polinomiais p0 , p1 , p2 , denidas por

p0 (x) = 1, p1 (x) = x, p2 (x) = x2 .

Professor Antonio Cândido Faleiros


62 Transformação linear

O conjunto B = {p0 , p1 } é a base canônica de P1 (R) e o conjunto B 0 =


{p0 , p1 , p2 } é a base canônica de P2 (R).
Vamos calcular a matriz de T nas bases B e B 0 .
Iniciamos com o cálculo de T (p0 ) e T (p1 ) em função de p0 , p1 e p2 . Para
todo x real,

T (p0 )(x) = (1 + x) p0 (x − 3) = 1 + x = p0 (x) + p1 (x)


T (p1 )(x) = (1 + x) p1 (x − 3) = (1 + x)(x − 3)
= −3 − 2x + x2 = −3p0 (x) − 2p1 (x) + p2 (x)

de onde seguem as igualdades entre funções polinomiais

T (p0 ) = p0 + p1 ,
T (p1 ) = −3p0 − 2p1 + p2 .

A matriz de T nas bases B e B 0 é


 
1 −3
[T ]BB 0 =  1 −2  .
0 1

Exemplo. Considere a base B do R2 , onde

B = { (2, 1), (−1, 2) }

Seja T o operador linear do R2 no R2 cuja matriz na base B é


 
1 3
[T ]B = .
−1 −2

Professor Antonio Cândido Faleiros


1.6 Matriz de uma transformação linear 63

Vamos determinar T (x, y).


Usando a denição de matriz de uma transformação linear T numa base
B,

T (2, 1) = 1(2, 1) − (−1, 2) = (3, −1)


T (−1, 2) = 3(2, 1) − 2(−1, 2) = (8, −1)

Vamos decompor o par (x, y) numa combinação linear dos vetores da base
B
(x, y) = a(2, 1) + b(−1, 2).

O vetor da esquerda é igual ao vetor da direita se


    
2 −1 a x
=
1 2 b y

Resolvendo esta equação matricial para a e b, obtemos

1 1
a = (2x + y) , b = (2y − x) ,
5 5

e assim,
1 1
(x, y) = (2x + y) (2, 1) + (2y − x) (−1, 2).
5 5

Usando esta decomposição e a linearidade de T, obtemos

1 1
T (x, y) = (2x + y)T (2, 1) + (2y − x)T (−1, 2)
5 5
1 1
= (2x + y)(3, −1) + (2y − x)(8, −1).
5 5

Efetuando das contas e simplicando,

Professor Antonio Cândido Faleiros


64 Transformação linear

1
T (x, y) = (−2x + 19y, −x − 3y).
5


O próximo teorema relaciona a matriz da transformação linear T nas bases


B e B 0 com as matrizes das coordenadas de v na base B e de T (v) na base
B0.

Teorema 1.24 Sejam V e W espaços vetoriais, ambos com dimensão nita


e denidos sobre o mesmo corpo.
Seja B uma base de V e B 0 uma base de W.
Seja T : V → W uma transformação linear.
Para um vetor v em V, vale a relação

[T (v)]B 0 = [T ]BB 0 [v]B

onde [T ]BB 0 é a matriz de T nas bases B e B 0 ,


[v]B é a matriz de coordenadas de v na base B e
[T (v)]B 0 é a matriz de coordenadas de T (v) na base B 0 .

Prova. Seja B = {v1 , . . . , vn } uma base de V e B 0 = {w1 , . . . , wm } uma


base de W. Escrevendo v e T (v) como combinações lineares dos vetores das
bases B e B 0 , segue

n m
e
X X
v= xj v j T (v) = yi wi ,
j=1 i=1

de onde extraímos as matrizes das coordenadas de v na base B e de T (v) na


base B 0
   
x1 y1
 ..   .. 
[v]B =  .  e [T (v)]B 0 =  . 
   
xn ym

Sendo

Professor Antonio Cândido Faleiros


1.6 Matriz de uma transformação linear 65
 
a11 ··· a1n
.. ... .. 
. . 

[T ]BB 0 = 
am1 · · ·
 
amn

a matriz de T nas bases B e B 0 , então

m
para
X
T (vj ) = aij wi , j = 1, 2, . . . , n.
i=1

Usando a linearidade de T,

n
! n n m m n
!
X X X X X X
T (v) = T xj v j = xj T (vj ) = xj aij wi = aij xj wi .
j=1 j=1 j=1 i=1 i=1 j=1

Ao mesmo tempo,
m
X
T (v) = yi wi .
i=1

e, pela unicidade da decomposição de T (v) na base B2 , se conclui que

n
para
X
yi = aij xj , i = 1, 2, . . . , m.
j=1

Estas m igualdades escalares correspondem à igualdade matricial

[T (v)]B 0 = [T ]BB 0 [v]B .

Exemplo. Consideremos as bases B e B 0 do R2 e do R3 , respectivamente,

B = { (2, 1), (1, 2) } e B 0 = { (1, 0, −1), (0, 1, 0), (1, 2, 0) }

Professor Antonio Cândido Faleiros


66 Transformação linear

Seja T : R2 → R3 a transformação linear cuja matriz [T ]BB 0 nas bases B e


B0 é
 
−1 0
[T ]BB 0 =  −3 2  .
2 1

A partir desses dados é possível calcular T (x, y) num par ordenado (x, y)
qualquer do R2 .
Vamos calcular [(x, y)]B . Se

(x, y) = a(2, 1) + b(1, 2),

cuja solução para a e b é

1 1
a = (2x − y) e b = (2y − x),
3 3

Daí,
 
1 2x − y
[(x, y)]B =
3 2y − x

De acordo como teorema anterior,



−1 0  
1 2x − y
[T (x, y)]B 0 = [T ]BB 0 [(x, y)]B = −3 2
 
3 2y − x
2 1
Efetuando o produto,

 
y − 2x
1
[T (x, y)]B 0 =  7y − 8x 
3
3x
e chegamos a

1 1
T (x, y) = (y − 2x) (1, 0, −1) + (7y − 8x) (0, 1, 0) + x (1, 2, 0).
3 3
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1.6 Matriz de uma transformação linear 67

Efetuando as contas e simplicando, chegamos em

1
T (x, y) = (x + y, −2x + 7y, 2x − y).
3


Exemplo. Em lugar de usar a fórmula

[T (v)]B 0 = [T ]BB 0 [v]B ,

podemos usar [T ]BB 0 para calcular o valor de T nos vetores da base B. Para
calcular T (v), basta decompor v na base B e usar a linearidade de T.
Vamos usar este caminho para resolver este exemplo.
Considere as bases
B = { (1, 0, 0), (1, 1, 0), (0, 1, 1) }

do R3 e
B 0 = { (1, 0), (2, 1) }
do R2 .
Seja T : R3 → R2 a transformação linear cuja matriz nas bases B e B 0 é
 
1 2 −1
[T ]BB 0 = .
3 −1 1

Vamos calcular T (x, y, z). Da denição de [T ]BB 0 , obtemos

T (1, 0, 0) = 1(1, 0) + 3(2, 1) = (7, 3),


T (1, 1, 0) = 2(1, 0) − 1(2, 1) = (0, −1),
T (0, 1, 1) = −1(1, 0) + 1(2, 1) = (1, 1).

Como conhecemos T (1, 0, 0), T (1, 1, 0), T (0, 1, 1), basta decompor (x, y, z)
na base B.

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68 Transformação linear

Escrevemos (x, y, z) numa combinação dos vetores da base B

(x, y, z) = a(1, 0, 0) + b(1, 1, 0) + c(0, 1, 1).

que pode ser escrito na forma de uma equação matricial


    
1 1 0 a x
 0 1 1  b  =  y .
0 0 1 c z

cuja solução em a, b, c é

a = x − y + z, b = y − z, c = z.

Substituindo na decomposição de (x, y, z) na base B, podemos escrever

(x, y, z) = (x − y + z) (1, 0, 0) + (y − z) (1, 1, 0) + z (0, 1, 1).

Usando a linearidade de T, chegamos à expressão desejada

T (x, y, z) = (x − y + z)T (1, 0, 0) + (y − z)T (1, 1, 0) + zT (0, 1, 1)


= (x − y + z)(7, 3) + (y − z)(0, −1) + z(1, 1)

que, ao simplicar, resulta em

T (x, y, z) = (7x − 7y + 8z, 3x − 4y + 5z).

Exemplo. Considere o espaço vetorial P2 (R) das funções polinomiais reais


com domínio em R e grau menor ou igual a 2.

Professor Antonio Cândido Faleiros


1.6 Matriz de uma transformação linear 69

Seja B = {p0 , p1 , p2 } a base de P2 (R) onde

p0 (x) = 1, p1 (x) = x, p2 (x) = x2

para todo x real.


Seja T : P2 (R) → P2 (R) um operador linear cuja matriz na base B é
 
1 2 4
[T ]B =  0 −1 −4  .
0 0 1

Pede-se para determinar a função polinomial T (p), onde p é uma função


polinomial qualquer em P2 (R).
Da denição de [T ] , segue

T (p0 ) = p0 ,
T (p1 ) = 2p0 − p1 ,
T (p2 ) = 4p0 − 4p1 + p2 ,

Sendo p a função polinomial p(x) = a + bx + cx2 ,

p(x) = ap0 (x) + bp1 (x) + cp2 (x) = (ap0 + bp1 + cp2 )(x)

e obtemos a decomposição de p na base B

p = ap0 + bp1 + cp2

A linearidade de T nos permite escrever

T (p) = aT (p0 ) + bT (p1 ) + cT (p3 )


= ap0 + b(2p0 − p1 ) + c(4p0 − 4p1 + p2 )
= (a + 2b + 4c)p0 + (−b − 4c)p1 + cp2

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70 Transformação linear

Esta é a resposta à questão proposta.


Todavia, vamos seguir um pouco adiante e calcular T (p)(x).
Para todo x real,

T (p)(x) = (a + 2b + 4c)p0 (x) + (−b − 4c)p1 (x) + cp2 (x)


= (a + 2b + 4c) + (−b − 4c)x + cx2
= a + b(2 − x) + c(2 − x)2

ou

T (p)(x) = p(2 − x).

Ao aplicar T em p obtemos outra função polinomial T (p) cujo valor num


número real x é o valor da função polinomial p no ponto (2 − x). 

Exercício 1.25 Considere as bases B = { (1, 3), (1, 2)} e B 0 = { (1, 0), (1, 1) }
do R2 .
Seja T : R2 → R2 a transformação linear denida por

T (x, y) = (3x − 2y, 6x − 5y).

Tome o par ordenado v = (3, 4).


(a) Calcule [T ]BB 0 , [v]B e [T (v)]B0 .
(b) Verique que o produto [T ]BB 0 [v]B é igual a [T (v)]B0 .

1.7 Matriz da transformação composta


Teorema 1.26 Considere três espaços vetoriais V, W e U, denidos sobre o
mesmo corpo e todos com dimensão nita.
Considere que B, B 0 e B 00 são bases de V, W e U, respectivamente.

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1.7 Matriz da transformação composta 71

Para as transformações lineares

e
L T
V −→ W W −→ U

podemos denir a composta

T ◦L
V −→ U
e vale a relação

[T ◦ L]BB 00 = [T ]B 0 B 00 [L]BB 0 .

Prova. Considere as bases de V, W e U

B = {v1 , . . . , vn },
B 0 = {w1 , . . . , wm },
B 00 = {u1 , . . . , up },

Como L(vj ) pertence a W, pode ser decomposto na base B 0 .


Como T (wk ) e T ◦ L(vj ) pertencem a U, podem ser decompostos na base
00
B

m
para
X
L(vj ) = akj wk j = 1, . . . , n
k=1
p
para
X
T (wk ) = bik ui k = 1, . . . , m
i=1
p
para
X
T ◦ L(vj ) = cij ui j = 1, . . . , n
i=1

O índice da soma aparece duas vezes.


Vamos notação de Einstein e escrever as somas sem usar o símbolo de
somatório

Professor Antonio Cândido Faleiros


72 Transformação linear

L(vj ) = akj wk , j = 1, . . . , n
T (wk ) = bik ui , k = 1, . . . , m
T ◦ L(vj ) = cij ui , j = 1, . . . , n

De acordo com a denição de matriz de uma transformação linear,

[L]BB 0 = [akj ] [T ]B 0 B 00 = [bik ] e [T ◦ L]BB 00 = [cij ] .

Começando com o cálculo da composta T ◦ L em vj , chegamos a

T ◦ L(vj ) = T (L(vj )) = T (akj wk ) = akj T (wk )


= akj bik ui = bik akj ui .

Sabendo que

T ◦ L(vj ) = cij ui ,
pela unicidade da decomposição de um vetor numa base, obtemos

p
X
cij = bik akj = bik akj
k=1

para i = 1, . . . , p e j = 1, . . . , n. Por conveniência, voltamos a usar o símbolo


de somatório na expressão do lado direito.
Estas p × n igualdades escalares nos levam à igualdade matricial

[T ◦ L]BB 00 = [T ]B 0 B 00 [L]BB 0 .

Exemplo. Considere as transformações lineares L : R2 → R2 e T : R2 →


R denidas por
3

L(x, y) = ( x, x + 2y ), T (x, y) = ( x + y, −y, 2x + 3y ).

Consideremos as bases

Professor Antonio Cândido Faleiros


1.7 Matriz da transformação composta 73

B = { (1, 1), (1, 0) } e B 0 = { (1, 0), (0, 1) } do R2

e a base

B 00 = { (0, 0, 1), (0, 1, 1), (1, 1, 1) } do R3 .


Usando a denição de L calculamos

L(1, 1) = (1, 3) = 1(1, 0) + 3(0, 1)


L(1, 0) = (1, 1) = 1(1, 0) + 1(0, 1)

a partir de onde obtemos


 
1 1
[L]BB 0 =
3 1
Aplicando T aos vetores da base B 0 obtemos

T (1, 0) = (1, 0, 2) = a11 (0, 0, 1) + a21 (0, 1, 1) + a31 (1, 1, 1)


T (0, 1) = (1, −1, 3) = a12 (0, 0, 1) + a22 (0, 1, 1) + a32 (1, 1, 1)

Estas duas igualdades vetoriais são satisfeitas se, e só se, for satisfeita a igual-
dade matricial
    
0 0 1 a11 a12 1 1
 0 1 1   a21 a22  =  0 −1 
1 1 1 a31 a32 2 3

cuja solução é a matriz de T nas bases B 0 e B 00

   
a11 a12 2 4
[T ]B 0 B 00 =  a21 a22  =  −1 −2 
a31 a32 1 1

A matriz da transformação composta

T ◦ L(x, y) = T (L(x, y)) = T (x, x + 2y) = (2x + 2y, −x − 2y, 5x − 6y)

nas bases B e B 00 é dada pelo produto

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74 Transformação linear
 
2 4  
1 1
[T ◦ L]BB 00 = [T ]B 0 B 00 [L]BB 0 =  −1 −2 
3 1
1 1
ou
 
14 6
[T ◦ L]BB 00 =  −7 −3 
4 2
O leitor pode vericar que

T ◦ L(1, 1) = 14(0, 0, 1) − 7(0, 1, 1) + 4(1, 1, 1)


T ◦ L(1, 0) = 6(0, 0, 1) − 3(0, 1, 1) + 2(1, 1, 1)

Composição de três transformações lineares

Na composição de três transformações lineares,

L : V1 → V2 , S : V2 → V3 , T : V3 → V4 ,

vale a associatividade

(T ◦ S) ◦ L = T ◦ (S ◦ L) = T ◦ S ◦ L,

Sendo B, B 0 , B 00 e B 000 bases de V1 , V2 , V3 e V4 , respectivamente,

[T ◦ S ◦ L]BB 000 = [(T ◦ S) ◦ L]BB 000 = [T ◦ S]B 0 B 000 [L]BB 0 = [T ]B 00 B 000 [S]B 0 B 00 [L]BB 0 .

Oberve a formação das fórmulas acima. Encontre seu método mnemônico


preferido para memorizá-las.

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1.8 Matriz da transformação inversa 75

Exercício 1.27 Consideremos três operadores lineares Q, R e S de R3 em


R3 , onde

Q(x, y, z) = ( x − y , x + y , z ),
R(x, y, z) = (−x, y, −z),
S(x, y, z) = (y, x, 0).

Seja T a composta
T = S ◦ R ◦ Q.
Denote por [Q] , [R] , [S] e [T ] as matrizes canônicas dos respectivos operadores
em relação à base canônica.
(a) Mostre que
     
1 −1 0 −1 0 0 0 1 0
[Q] =  1 1 0  , [R] =  0 1 0  , [S] =  1 0 0  .
0 0 1 0 0 −1 0 0 0
e  
1 1 0
[T ] =  −1 1 0 .
0 0 0
(b) Verique a igualdade
[T ] = [S] [R] [Q]

1.8 Matriz da transformação inversa


Teorema 1.28 Considere os espaços vetoriais V e W denidos sobre o mesmo
corpo e ambos com dimensão nita n.
Seja B uma base de V e B 0 uma base de W.
Uma transformação linear

T :V →W

é um isomorsmo se, e só se, a matriz de T nas bases B e B 0 for inversível.

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76 Transformação linear

Além disto, sendo T −1 : W → V o isomorsmo inverso de T, vale a igual-


dade
[T −1 ]B 0 B = ([T ]BB 0 )−1

Prova. 1. Partindo da hipótese de que T é um isomorsmo, ele possui


inversa T −1 : W → V e

T −1 ◦ T = iV : V → V,

onde iV é o operador identidade em V.


Pelo que cou provado anteriormente,

[T −1 ]B 0 B [T ]BB 0 = T −1 ◦ T BB = [iV ]BB .


 

Como [iV ]BB é a matriz identidade, concluímos que as matrizes [T −1 ]B 0 B e


[T ]BB 0 são inversíveis e que uma é a inversa da outra

[T −1 ]B 0 B = ([T ]BB 0 )−1 .

2. Quando a matriz [T ]BB 0 é inversível, então pode-se provar que T leva


a base B = { v1 , . . . , vn } na base B 0 = { T (v1 ), . . . , T (vn ) } . Portanto, T é
um isomorsmo. 

Exemplo. Considere o operador linear T : R3 → R3 denido por

T (x, y, z) = ( 6x + 4y − z, 2x + y, x − y + z )

cuja matriz na base canônica é

 
6 4 −1
[T ] =  2 1 0 .
1 −1 1

Esta matriz é inversível e sua inversa é

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1.9 Determinante de um operador linear 77
 
1 −3 1
[T ]−1 =  −2 7 −2  .
−3 10 −2

Se escrevermos

T (x, y, z) = (a, b, c) ⇒ T −1 (a, b, c) = (x, y, z)

e, em relação à base canônica C do R3 ,

 −1
T (a, b, c) C = T −1 C [(a, b, c)]C
  

ou
    
x 1 −3 1 a
 y  =  −2 7 −2   b 
z −3 10 −2 c
Portanto,

T −1 (a, b, c) = ( a − 3b + c, −2a + 7b − 2c, −3a + 10b − 2c ).

1.9 Determinante de um operador linear


Duas matrizes reais A e B, quadradas e de mesmo tamanho, são semelhantes
quando existir uma matriz inversível P para a qual

A = P BP −1 .

Observe que AP = P B e P −1 AP = B

B = QAQ−1

onde Q = P −1 .

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78 Transformação linear

Quando A e B são semelhantes, ambas possuem o mesmo determinante,


pois

det(A) = det(P BP −1 )
= det(P ) det(B) det(P −1 )
(1) (2)
= det(P ) det(P −1 ) det(B) = det(B)

O produto de matrizes não é comutativo. Todavia, determinantes de ma-


trizes são números reais, onde o produto comuta. Na igualdade (1) usamos a
comutatividade do produto de determinantes. Para escrever a igualdade (2),
lembramos que

det(P ) det(P −1 ) = det(P P −1 ) = det(I) = 1.

Vamos mostrar que as matrizes de um operador linear em bases distintas


são semelhantes.

Teorema 1.29 Seja V um espaço vetorial de dimensão nita.


Sejam B e B 0 duas bases de V e MBB 0 a matriz de transição da base B
para a base B 0 .
Seja
T :V →V
um operador linear, [T ]B a matriz de T na base B e [T ]B0 a matriz de T na
base B 0 .
Então
[T ]B 0 MBB 0 = MBB 0 [T ]B ,
ou

[T ]B 0 = MBB 0 [T ]B (MBB 0 )−1 ,

isto é, [T ]B e [T ]B0 são semelhantes.

Professor Antonio Cândido Faleiros


1.9 Determinante de um operador linear 79

Prova. Sejam

B = {v1 , . . . , vn } e B 0 = {v10 , . . . , vn0 }

as duas bases de V.

Podemos decompor os vetores de V tanto na base B quanto na base B 0 .


Logo, existem números reais xij , aij , bij , com i e j percorrendo os inteiros
1, 2, . . . , n e para os quais

vj = xij vi0 , T (vj ) = aij vi , T (vj0 ) = bij vi0 .

Nas igualdades acima usamos a notação de Einstein para o somatório.


O índice que se repete na soma é chamado índice mudo.
Podemos substitui-lo por outra letra

xij wi = x1j w1 + x2j w2 + · · · + xnj wn = xkj wk

por exemplo. As matrizes

MBB 0 = [xij ] , [T ]B = [aij ] , [T ]B 0 = [bij ]

são, respectivamente, a matriz de transição de B para B 0 , a matriz de T


na base B e a matriz de T na base B 0 .
Por um lado,

T (vj ) = akj vk = akj xik vi0 = xik akj vi0

e, por outro,

T (vj ) = T (xkj vk0 ) = xkj T (vk0 ) = xkj bik vi0 = bik xkj vi0 .

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80 Transformação linear

Pela unicidade da decomposição de um vetor numa base, segue

xik akj = bik xkj ,

igualdade válida para i e j iguais a 1, . . . , n.


Como o índice k se repete nos produtos acima, há uma soma em k do lado
esquerdo e outra do lado direito da igualdade acima.

Temos n2 igualdades escalares pois i e j são inteiros entre 1 e n.


Essas n2 igualdades escalares nos levam a uma única igualdade matricial

MBB 0 [T ]B = [T ]B 0 MBB 0 .

O teorema está provado uma vez que a matriz de transição MBB 0 é inver-
sível. 

Como as matrizes [T ]B e [T ]B 0 são semelhantes, seus determinantes são


iguais
det([T ]B ) = det([T ]B 0 ).

Esta igualdade enseja a denição do determinante de um operador


linear T : V → V como sendo o determinante de sua matriz em uma base
qualquer.

Denição 1.30 Seja T : V → V um operador linear. O determinante de T


é denido por
det(T ) = det([T ])
onde [T ] é a matriz do operador linear T numa base qualquer de V.

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1.9 Determinante de um operador linear 81

Como T é um isomorsmo se, e só se, sua matriz [T ] for inversível e esta,


por sua vez, é inversível se, e só se, det [T ] 6= 0, podemos enunciar

Teorema 1.31 Um operador linear T : V → V é um isomorsmo se, e só se,


det(T ) 6= 0.

Exemplo. Vamos ilustrar a independência do determinante em relação à


escolha da base.
Considere duas bases B = {(1, 0), (0, 1)} e B 0 = {(1, 1), (1, 2)} do R2 .
Observe que B é a base canônica do R2 .
Seja T : R2 → R2 o operador linear denido por

T (x, y) = (x + y, −2x + 4y).

Vamos calcular [T ]B e [T ]B 0 , as matrizes de T nas bases B e B 0 , respecti-


vamente. De

T (1, 0) = (1, −2) = 1(1, 0) − 2(0, 1) ,


T (0, 1) = (1, 4) = 1(1, 0) + 4(0, 1) ,

extraímos a matriz canônica de T


 
1 1
[T ]B = e det ([T ]B ) = 6.
−2 4

Da decomposição

T (1, 1) = (2, 2) = 2(1, 1) + 0(1, 2) ,


T (1, 2) = (3, 6) = 0(1, 1) + 3(1, 2) ,

obtemos a matriz de T na base B 0

Professor Antonio Cândido Faleiros


82 Transformação linear
 
2 0
[T ]B 0 = e det ([T ]B 0 ) = 6.
0 3

O determinante das matrizes de T tanto na base B quanto na base B 0 são


iguais a 6.
O determinante da matriz de T não muda quando mudamos a base.
Por denição, det(T ) = 6.
Como este determinante é diferente de zero, T é um isomorsmo. 

Exemplo. A matriz canônica do operador linear T : R2 → R2 , denido


por
T (x, y) = (3x + 2y, −x + 7y),
é
 
3 2
[T ] = .
−1 7

O determinante de T é, por denição, o determinante da sua matriz

det(T ) = det ([T ]) = 21 + 2 = 23.

Como o det(T ) é diferente de zero, T é um isomorsmo. 

Professor Antonio Cândido Faleiros

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